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DIVÓRCIO SEPARAÇÃO DE FACTO CULPA ALIMENTOS

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0631808

Relator: AMARAL FERREIRA Sessão: 20 Abril 2006

Número: RP200604200631808 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO.

Decisão: REVOGADA A SENTENÇA.

DIVÓRCIO SEPARAÇÃO DE FACTO CULPA ALIMENTOS

Sumário

Decretado o divórcio com fundamento na separação de facto, sem se ter apurado culpa de qualquer dos cônjuges na dissolução do casamento, assiste aos ex-cônjuges o direito a alimentos.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação do Porto:

I – RELATÓRIO.

1. B………. instaurou, em 08/10/2004, com apoio judiciário nas modalidades de dispensa total do pagamento de taxas de justiça e demais encargos e de

pagamento de honorários a patrono escolhido, no Tribunal Judicial da Comarca de Lousada, contra C………., a presente acção declarativa, com forma de processo ordinário, pedindo a condenação do R. a pagar-lhe, a título de alimentos definitivos, uma pensão mensal de nunca menos de 300 Euros.

Para o efeito, alegou, em síntese, para além de factos integradores da sua necessidade de alimentos e da possibilidade de o R. lhos prestar, que, tendo contraído casamento católico com este, no dia 16.08.80, segundo o regime supletivo da comunhão de adquiridos, foi, por sentença proferida no âmbito do processo de divórcio litigioso que correu termos no Tribunal da Comarca de Penafiel, decretado o divórcio entre ambos, e que, enquanto casada, sempre foi doméstica, e, não obstante após a separação, e antes de o divórcio ter sido decretado, ainda ter começado a trabalhar, entrou de baixa na pendência do processo de divórcio, devido a esgotamento nervoso de que foi acometida,

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doença de que ainda hoje padece e que a obriga a submeter-se a consultas e exames médicos frequentes e a tratamentos permanentes, com os quais despende avultadas quantias, designadamente nos medicamentos prescritos, encontrando-se desempregada sem auferir qualquer subsídio e sendo-lhe muito difícil conseguir uma actividade remunerada.

2. Contestou o R. e, para além de impugnar, parcial e motivadamente, os factos alegados pela A., nomeadamente a necessidade de alimentos e a sua possibilidade de os prestar, aduz que, tendo o divórcio sido decretado com base na separação de facto por mais de três anos consecutivos, e não se tendo apurado qual o cônjuge culpado, a lei não prevê, sem apuramento de culpas, a obrigação de prestar alimentos, concluindo pela sua absolvição do pedido.

3. Respondeu a A. reafirmando e concluindo como na petição inicial.

4. Após realização de tentativa de conciliação, que resultou infrutífera, foi proferido saneador/sentença que, julgando a acção improcedente, absolveu o R. do pedido.

5. Inconformada, dela apelou a A. rematando as respectivas alegações com as seguintes conclusões:

1ª: A Mmª Juiz a quo julgou improcedente a presente acção e absolveu o apelado do pedido, fundamentando a sua decisão no facto de o divórcio entre apelante e apelado ter sido decretado devido à ruptura da vida em comum motivada pela separação do casal, não tendo sido apurada a culpa de A. e R..

2ª: Prevê o artigo 2016 do C.C. que, em caso de divórcio litigioso, qualquer dos cônjuges tem direito a alimentos, quer seja inocente, quer seja inocente, quer haja culpa de ambos, quer mesmo o que tenha sido considerado o

principal culpado, caso o Tribunal entenda, por motivos de equidade,

conceder-lhe alimentos, tendo em conta, nesta caso, a duração do casamento e a colaboração prestada por este à economia do casal.

3ª: Estatui o artigo 2016º, nº 1, alínea c) que no caso de o divórcio ter sido decretado por mútuo consentimento, qualquer dos cônjuges tem direito a alimentos, não aferindo, assim, a culpa de qualquer um deles para que o divórcio tivesse ocorrido.

4ª: A culpa não é, assim, pressuposto negativo para atribuir o direito a alimentos aos ex-cônjuges.

5ª: Pressuposto da atribuição do direito a alimentos é a necessidade do alimentando para prover o seu sustento e a manutenção do “status quo” que tinha enquanto casado.

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6ª: O direito a alimentos é, em virtude da sua natureza extrínseca, um direito pessoal familiar, sendo, por via disso, irrenunciável, intransmissível e de carácter duradouro.

7ª: O facto de não ter sido aferida a culpa no processo de divórcio de A. e R., não impede aquela de deduzir a pretensão que formulou nos presentes autos.

8ª: Impunha-se, assim, à Mmª Juiz a quo averiguar da citada necessidade.

9ª: Ao julgar improcedente a presente acção com o fundamento invocado, sem proceder à citada averiguação, fez a Mmª Juiz a quo incorrecta interpretação e aplicação da Lei, violando nomeadamente os artigos 2016º, 2009º e 2003º do C.C..

10ª: Deve assim ser dado provimento ao presente recurso, revogada em

consequência a decisão recorrida e ordenado o prosseguimento dos autos para os seus ulteriores termos.

6. Contra-alegou o R. no sentido da improcedência da apelação.

7. Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

II. FUNDAMENTAÇÃO.

1. Os factos a considerar provados na presente apelação, para além dos que constam do presente relatório, são os seguintes, resultantes dos documentos juntos aos autos:

- A. e R. contraíram casamento católico, sem convenção antenupcial, em 16/08/1980;

- Por sentença de 8 de Abril de 2002 proferida no processo de divórcio litigioso que correu termos no .º Juízo do Tribunal de Penafiel, transitada em julgado em 3 de Maio de 2002, foi decretado o divórcio com fundamento na separação de facto por três anos consecutivos, comungando ambos o propósito de não mais restabelecer a vida em comum [artºs 1781º, al. a), e 1782º, nº 1, ambos do CCivil], sem se ter apurado se houve culpa, e de quem, na separação.

2. Tendo em consideração que o objecto dos recursos é delimitado pelas conclusões das alegações, estando vedado ao tribunal apreciar e conhecer de matérias que nelas se não encontrem incluídas, a não ser que se imponha o seu conhecimento oficioso (artºs 684º, nº 3, e 690º, nºs 1 e 3, do CPCivil), e que os recursos não visam criar decisões sobre matéria nova, sendo o seu âmbito delimitado pelo conteúdo do acto recorrido, a questão a decidir é a de saber se, decretado o divórcio com fundamento na separação de facto, sem se ter apurado culpa de qualquer dos cônjuges na dissolução do casamento,

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assiste aos ex-cônjuges o direito a alimentos.

Na sentença apelada, para julgar a acção improcedente, escreveu-se o seguinte:

“… o direito a alimentos de ex-cônjuges divorciados litigiosamente apenas se inscreve na titularidade do inocente contra oculpado, do menos culpado contra o principal culpado e de ambos no caso de igualdade de culpas.

A lei não prevê a obrigação de prestação de alimentos em relação ao ex- cônjuge no caso de divórcio com base na separação de facto sem apuramento de culpas - cfr. Ac. RL de 17/6/1999 in BMJ n° 488, pág. 403.

Ora, no caso em apreço, na respectiva acção de divórcio não foi apurada a culpa de qualquer dos cônjuges, pelo que a presente acção deve improceder, já que os alimentos peticionados não podem ser exigidos ao Réu”.

Vejamos, tendo presente que se está perante acção de alimentos definitivos instaurada após divórcio litigioso que, como resulta da respectiva sentença, foi decretado com fundamento na separação de facto por mais de três anos,

comungando ambos os cônjuges do propósito de não mais restabelecer a vida em comum [artºs 1781º, nº 1, al. a), e 1782º, ambos do Código Civil) sem se ter apurado a culpa de qualquer dos cônjuges.

Ou seja, estamos perante o denominado divórcio/constatação da ruptura do casamento, em que não se trata só, nem principalmente, do comportamento ou da condição pessoal do outro cônjuge, mas de uma situação que pode ser devida a qualquer dos cônjuges e até em maior medida ao cônjuge autor; o que importa é a existência de uma situação de ruptura do casamento, objectivamente considerada e que o divórcio deve, pura e simplesmente constatar (cfr. Pereira Coelho e Guilherme de Oliveira, Curso de Direito da Família, vol. I, pág. 609).

Para decidir se a lei confere, ou não, direito a alimentos à A., há, portanto, que recorrer ao disposto no artº 2016 do Código Civil (diploma a que pertencerão os demais preceitos legais a citar, sem outra indicação de origem).

Estabelece esse preceito legal:

“1- Têm direito a alimentos, em caso de divórcio:

a) O cônjuge não considerado culpado ou, quando haja culpa de ambos, não considerado principal culpado na sentença de divórcio, se este tiver sido decretado com fundamento no artigo 1779º ou nas alíneas a) ou b) do artigo 1781º;

b) O cônjuge réu, se o divórcio tiver sido decretado com fundamento na alínea c) do artigo 1781º;

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c) Qualquer dos cônjuges, se o divórcio tiver sido decretado por mútuo consentimento ou se, tratando-se de divórcio litigioso, ambos foram considerados igualmente culpados.

2 – Excepcionalmente, pode o tribunal, por motivos de equidade, conceder alimentos a cônjuge que a eles não teria direito, nos termos do número

anterior, considerando, em particular, a duração do casamento e a colaboração prestada por esse cônjuge à economia do casal.

3 – (…).

4 – (…)”.

Resulta claramente do preceito em apreço que, em caso de divórcio litigioso (no caso de o divórcio ter sido decretado por mútuo consentimento, qualquer dos ex-cônjuges tem direito a alimentos), e ressalvada a hipótese de ele se basear na alteração das faculdades mentais do réu [(al. c) do artº 1781º], foi excluído o direito a alimentos ao cônjuge declarado único culpado ou principal culpado – neste sentido Pereira Coelho e G. Oliveira, obra citada, Vol. II, págs.

356 a 358, e Ac. do STJ de 24/06/1993, BMJ 428, pág. 599.

No mesmo sentido se pronuncia Inocêncio Galvão Teles no parecer publicado na CJ, Tomo II/1988, pág. 19 e segs., no qual defende que a obrigação de alimentos só impende:

“– sobre o único culpado a favor do inocente [alínea a)];

- sobre o principal culpado a favor do menos culpado [mesma alínea a)];

- sobre qualquer deles a favor do outro, se ambos forem igualmente culpados [alínea c)]”.

O mesmo autor, acrescenta:

“Por outras palavras, e vendo as coisas pelo lado inverso, o direito a alimentos apenas pertence:

- ao inocente contra o culpado;

- ao menos culpado contra o principal culpado;

- a qualquer deles contra o outro, se as culpas forem iguais.”.

E, mais à frente, escreve que um divorciado, em divórcio litigioso, não pode ser condenado a alimentos, se não tiver tido culpa. Só está sujeito a essa condenação o divorciado culpado – suposto que a sua culpa seja exclusiva ou principal ou igual à do outro.

Sendo ambos inocentes, e a nenhum sendo imputável a causa na dissolução do casamento, não pode o R. ser compelido a pagar alimentos à ex-mulher.

Só excepcionalmente, e por motivos de equidade, é que o tribunal pode

conceder alimentos a um divorciado que a eles não teria direito nos termos do

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citado nº 1, considerando, em particular, a duração do casamento e a

colaboração por aquele prestada à economia do casal, como resulta do nº 2 do mesmo artº 2016º.

Tendo sido também este o entendimento seguido na sentença recorrida,

louvando-se no acórdão nela citado, permitimo-nos dele discordar pelas razões que se aduzem.

Estudando a al. a) do nº 1 do artº 2016º, pode concluir-se que a tónica do preceito está na expressão «cônjuge não considerado culpado», isto é, o cônjuge que esteja inocente.

Ora, o cônjuge pode não ser considerado culpado, seja por declaração

expressa nesse sentido da decisão que decretou o divórcio, seja por falta de declaração de culpa, tendo sido esta última a situação que ocorreu no

processo que decretou o divórcio entre A. e R., em cuja sentença (cfr. doc. de fls. 34 a 36) se escreve o seguinte:

“Importa, finalmente, em vista do disposto no artº 1782º e 1787º do C. Civil, apreciar se houve culpa, e de quem, na separação.

O quadro factual trazido ao processo não consente qualquer conclusão:

apenas se apurou a separação sem mais”.

Em qualquer uma dessas situações, o cônjuge não vê recair, sobre si, uma declaração de ter sido havido por culpado do divórcio.

E, mandando o legislador que o juiz declare a culpa dos ex-cônjuges «quando a haja» na acção de divórcio com fundamento na separação de facto (artº 1782º, nº 2), deve concluir-se logicamente que, se o Tribunal não fez declaração de culpa terá sido porque não verificou que a houvesse.

Assim, como se afirma no Ac. do STJ de 24/06/93, BMJ 428, pág. 599, seria um contra-senso atribuir alimentos a um cônjuge declarado culpado na totalidade, como sucede no caso excepcional previsto no nº 2 do artº 2016º, ou em parte, e não os atribuir a um cônjuge não declarado como tal, neste caso por uma razão puramente formal – omissão de qualquer declaração.

Procede, pois, a apelação.

III. DECISÃO.

Pelo exposto, acordam os juízes que constituem esta Secção Cível do Tribunal da Relação do Porto em julgar procedente a apelação e, consequentemente, revogar a sentença recorrida, ordenando o prosseguimento da acção para

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apurar da existência da obrigação de alimentos e respectiva medida, caso haja lugar a ela.

*

Custas pelo apelado, sendo os honorários devidos à patrona da A. os constantes da Portaria nº 150/2002, de 19.02..

*

Porto, 20 de Abril de 2006 António do Amaral Ferreira

Deolinda Maria Fazendas Borges Varão Ana Paula Fonseca Lobo

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