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SISTEMA PENITENCIÁRIO FEMININO

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Academic year: 2022

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Volume 9, Outubro de 2019. 1 SISTEMA PENITENCIÁRIO FEMININO

Bruna Centeno Giulia Espinoza Isabella Borin

Thaís Lima

“Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa, soluçando nas trevas, entre as grades do calabouço olhando imensidades. Mares, estrelas, tardes, natureza”.

(Graciliano Ramos)

RESUMO: O presente artigo aborda o debate referente ao sistema penitenciário feminino com enfoque no Brasil, pondo em pauta não só as reais condições institucionais nas quais estas mulheres estão inseridas como também as divergências de funcionamento entre presídios masculinos e femininos. Para atingir tal propósito, utilizou-se referências bibliográficas voltadas para a análise crítica diante desse falho sistema carcerário o qual apresenta mais de 40.000 apenadas. Ademais, este estudo objetiva detalhar suas vivências e cotidiano nesses ambientes que, frequentemente, acabam sendo desumanos. Aspira-se que com a discussão em torno do assunto abordado, a visibilidade da atual situação das mulheres encarceradas no Brasil seja devidamente alcançada e futuramente melhorias sejam feitas para reverter o atual quadro das detentas.

PALAVRAS-CHAVE: presídio feminino, ressocialização, cárcere.

ABSTRACT: The article concerns about the discussion that refers to the female prison system, focusing on Brazil, putting questions on the table, such as the real institucional conditions which women are involved in and the diferences between the systematic of male and female prisons. Aiming to reach the proposition, it was used references focusing on the critical analyze front of this flawed prison system, which has more than 40,000 detainees. Moreover, this study aims to detail their experiences and daily life in these environments that often end up being inhumane. It is intended that with the discussion around the subject addressed, the visibility of the current situation of women incarcerated in Brazil is duly achieved and future improvements are made to reverse the current framework of the detainees.

KEYWORDS: female prison, resocialization, prison.

1 INTRODUÇÃO

A existência de uma Constituição é definida desde seu princípio para criar e estabelecer padrões comportamentais entre os seres humanos, ainda que o conjunto de normas não tenha anulado as delinquências e infrações que ocorrem na sociedade. Com a chegada dos tempos modernos, em especial, com a Declaração dos Direitos Humanos, instituída no ano de 1948, criou-se uma falsa percepção de uma sociedade mais justa na qual questões ligadas à segurança e à liberdade tornaram-se, a princípio, imprescindíveis ao pleno funcionamento da sociedade liberal.

Nas últimas décadas, intensificaram-se os estudos voltados para a análise dos organismos de controle social criados pelo Estado liberal e sua consequente normalização da vida. Dentre esses estudiosos destaca-se o filósofo Michel Foucault, que diferentemente das disciplinas aplicadas anteriormente que visavam governar o

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indivíduo, utiliza o método da biopolítica focando na gestão da população como um todo.

Sua pesquisa aborda que o modo de encarceramento e reclusão, para com os infratores dessas leis, são muito mais punitivas do que reformatórias, ou seja, castigam mas não realizam mudanças efetivas o suficiente no apenado para que o mesmo tenha possibilidade de ir em busca do conceito primordial proposto por esse sistema, a reinserção na sociedade.

No passado, as mulheres eram somente mães e donas de casa afastadas da esfera social, porém, com o tempo, a realidade mudou. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (2018), as mulheres representam hoje no Brasil 5% (29.453) da população carcerária. Apesar de serem minoria, o sistema que antigamente já não era o mais competente precisou realizar transformações de base para comporta-las, sendo este o principal tema a ser abordado neste trabalho. Assim, o papel da mulher na sociedade se pluraliza, abrangendo outros ambientes antes pouco prováveis.

Evidentemente essa mudança acarreta em outras, ameaçando o pensamento patriarcal que rotula desde o início das civilizações.

Por fim, este artigo foi realizado objetivando entender o modo como esse sistema se adaptou à inserção das mulheres nesses regimes de cárcere, tendo que lidar com as diferenças sociais e biológicas do gênero. Além disso, a análise do trabalho recai sobre a maneira como essas mudanças incidiram sobre as mulheres infratoras no que tange aos seus direitos e sua saúde, sabendo que estão incluídas numa sociedade essencialmente patriarcal e sexista.

2 COMO FUNCIONA O SISTEMA PENITENCIÁRIO FEMININO

2.1 DO CONVENTO AO CÁRCERE

É perceptível o quanto os mais diversos meios - sejam eles através da manipulação de dados na internet, câmeras, leis, etc - estão interligados aos mecanismos institucionais de coerção, com a finalidade de tornar os comportamentos individuais previsíveis. Com as leis é possível controlar a conduta da sociedade e punir as delinquências (que são os desvios dessas leis). Porém, esse controle social nunca tem total êxito, já que nenhuma comunidade possui meios capazes de assegurar a não violação das normas vigentes. Sobretudo quando se trata da segurança da população, os desvios acontecem mais facilmente, tendo o Estado que recorrer ao isolamento, permanente ou temporário, dos infratores perante a sociedade.

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A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) além de marcar o fim do Antigo Regime e o início da idade contemporânea, acaba dando uma falsa percepção de uma sociedade mais justa. Isso porque aborda a liberdade, a segurança e a resistência à opressão como sendo direitos indispensáveis a todos.

Entretanto, o filósofo Michel Foucault (2014) diz que o poder parece gentil mas não é. Existe um senso comum que entende as prisões e sistemas punitivos atuais como modelos mais humanos de aplicação da justiça, contrastando com os métodos antigos de exposição pública tal como o enforcamento. Antigamente, a pessoa enforcada era alvo de empatia e compaixão pelo sofrimento ao qual estava submetida, podendo até mesmo gerar rebeliões e protestos contra o sistema. Hoje, com um sistema prisional, tudo ocorre no privado, atrás de portas fechadas, fazendo-nos resistir ao poder do Estado.

Dessa forma, impede que a sociedade lute contra a opressão do sistema, visto que sem saber o que ocorre dentro das penitenciárias, fica mais difícil reivindicar por direitos e preparar manifestações contrárias ao governo.

Agora, se deixar de lado as formas de castigo que foram sendo aplicadas ao longo dos tempos, percebe-se uma recorrência no que diz respeito ao único objetivo de

“vigiar e punir”. Por mais que o Estado tente passar a ideia de que a imagem é corrigir e mudar o indivíduo, sabe-se que o resultado são prisioneiros que, na maioria das vezes, depois de cumprir sua “pena”, continuam praticando o crime ou, caso parem de praticá- lo, fazem por temor da punição e não pela assimilação de seu valor moral.

Tal cenário tende a agravar-se com o fato de que o machismo está enraizado em nossa sociedade e cerca as mulheres nas mais diversas questões. Se considerarmos a sociedade patriarcal machista, não causa espanto o quanto o mesmo influenciou as punições femininas no passado. O espaço disponibilizado para a punição das mulheres infratoras (adultério e prostituição) eram conventos a fim de receberem orientação religiosa de freiras que estavam preparadas para esse fim. É nítido o quanto o patriarcalismo formou a base desse sistema normativo-punitivo que tanto fragiliza e precariza a questão feminina.

Lá, deveriam se reintegrar a um ambiente doméstico ao qual deveriam pertencer. Eram treinadas para cozinhar, lavar louça, lavar e passar roupa, costurar, a servir e, basicamente, todas as outras tarefas que uma exemplar dona de casa deveria ser submetida a fazer. Ou seja, deveriam corrigir suas posturas e comportamentos femininos, a fim de enquadrarem-se nos moldes da sociedade patriarcal.

Anos se passaram desde as perspectivas anteriormente citadas acerca das mulheres e das primeiras observações de Foucault (2014) sobre o sistema penitenciário,

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mas poucas mudanças significativas ocorreram. No primeiro quesito, ainda que com um pensamento machista enraizado na sociedade, a modificação se dá com as mulheres sendo mandadas para presídios e não mais conventos. Já as ideias do filósofo, apesar do intuito de castigar e punir por meio da prisão ter se mantido, as consequências dessa autoridade, hoje, se alteraram.

Antes, essa forma de aprisionar assustava e abalava aqueles que haviam sido condenados, fazendo com que a maioria não cometesse o mesmo erro novamente.

Atualmente, é apenas mais uma forma de se rebelarem dentro de um país desigual (na saúde, na educação, etc) justamente por terem consciência de que cada vez mais, não há a devida aplicação das leis no Brasil. Sendo assim, a justiça falha totalmente.

2.2 A PRISÃO COMO MECANISMO DE PUNIÇÃO E NÃO DE REINSERÇÃO

O presídio surge com a premissa de formar e utilizar indivíduos submissos antes mesmo de se tornar um modo de punição para atos criminosos, como Foucault (2014) assim classifica. Seguindo esse raciocínio, a prisão torna-se um meio de castigar, de modo que não somente prive os indivíduos da liberdade, como também os mantêm diversas vezes em péssimas condições no dia a dia. No caso das mulheres, esse castigo se dá desde a falta de materiais básicos de higiene (como por exemplo o absorvente) até a limitação de visitação dos filhos menores de 12 anos de idade, ou seja, a real obrigação destas instituições de modificar o indivíduo, incentivando-os a respeitar o regulamento, não acontece.

O papel da prisão é não somente aplicar a pena a cada indivíduo, mas também conhecer e coletar dados sobre cada um, para que, assim, se possa oferecer formas de trabalho capazes de tornar a pena também um momento de reflexão sobre seus atos e então criar meios de transformação para esse indivíduo, impedindo que retorne à prisão futuramente. Porém, baseado no que foi dito anteriormente, é sabido que essa forma de pensar fica apenas na teoria.

O sistema penitenciário surge, segundo Foucault apud Benelli (2014), antes mesmo de ser aplicado para as detenções penais. Constituiu-se fora do aparelho judiciário, quando se elaboraram, por todo o corpo social, os processos para repartir os indivíduos, “formando em torno deles um aparelho completo de observação, registro e anotações, produzindo sobre eles um saber que se acumula e se centraliza” (p. 68).

O Brasil já é o quarto país que mais encarcera no mundo e, mesmo assim, convive com taxas de criminalidade muito altas que não tendem a diminuir entre os

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presos. Na verdade, essas se mantêm estáveis ou até aumentam, apresentando em contrapartida enormes taxas de reincidência (70%, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, 2015) entre esses indivíduos.

Os dados podem ser explicados observando-se a atmosfera criada pelo sistema.

Os detentos são inseridos em instalações superlotadas incapazes de atender adequadamente às necessidades vitais do corpo humano, sejam elas relacionadas ao sono (sem camas confortáveis para dormir) ou a higiene (falta de produtos básicos).

Somado a isso, a violência dentro dos próprios presídios já constitui um ambiente hostil, agravado pela concentração de detentos em um mesmo espaço.

Geralmente, misturados independente do crime, convivem com grandes e pequenos infratores. Portanto, Foucault (2014) afirma que o local pode acabar fabricando delinquentes em potencial, por conta dos métodos e técnicas aplicados.

A legislação tenta, de um lado, garantir a dignidade e a humanidade da execução da pena, tornando expressa a extensão de direitos constitucionais aos presos e, de outro, assegurar as condições para a sua reintegração social. Porém, entre os estudiosos da área, é quase consensual que o sistema não é capaz de ressocializar os indivíduos.

Por esse motivo, as prisões, hoje, muitas vezes são vistas como a “escola do crime”, por colocar indivíduos que cometeram pequenos delitos juntamente com grandes infratores. Com o machismo estrutural existente, sabemos que espaços como esses podem ser hostis e perigosos para mulheres. Com isso, antigamente, já se faziam necessárias instituições prisionais distintas pelo sexo, devido ao perigo e também à diferença nos tratamentos.

2.3 DIFERENÇAS ENTRE O SISTEMA PNITENCIÁRIO FEMININO E O MASCULINO

No Brasil, ainda é possível encontrar presídios mistos, os quais apresentam um alto índice de estupro e tensão sexual. Em razão disso, através da Lei de Execução Penal (lei 7.210/84), foi prevista a separação de presídios em masculino e feminino, mas vale lembrar que mesmo com esta lei, ainda há unidades prisionais com ambos os gêneros.

Segundo pesquisa realizada em 2018 pelo Banco Nacional de Monitoramento de Presos (BNMP), existem 602.217 presidiários, sendo mais de 570 mil homens e mais de 29 mil mulheres.

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As mulheres apenadas, por serem uma minoria no sistema prisional, acabam sendo vítimas da marginalização, já que as políticas públicas voltadas para esse grupo são pouco impactantes no que tange a estrutura dos presídios e ao atendimento às demandas elementares. É possível perceber esse descaso em diversos estados brasileiros. Um exemplo disso é o Rio Grande do Sul, onde

[...] em 2008, na lista dos pertences pessoais que podiam entrar para os presos através de suas famílias, constam somente cuecas (nada de calcinhas ou soutiens).Não constavam absorventes e outros itens pessoais voltados às necessidades femininas na lista [...].

(CERNEKA, 2009, p.3)

Dessa forma, surge a seguinte questão: porque o Estado marginaliza tanto essas mulheres? Simples, o sistema penal no Brasil e no mundo foi criado por homens e para homens. Além desse descaso, também é possível observar uma grande diferença no que se refere ao isolamento na cadeia. Para as mulheres, o abandono é total. Muitas delas não recebem visitas de cônjuges e familiares. Logo, segundo o escritor e médico Drauzio Varella (2017), 80% das detentas têm comportamento homossexual devido principalmente a essa falta de atenção e cuidado. Em contrapartida, para os homens, a situação é oposta pois, esses sempre têm alguém para visitá-los.

Embora sejam parcialmente diferentes, os presídios feminino e masculino se igualam no que diz respeito a falta de humanização do Sistema Penitenciário. Para o Sistema, os detentos são vistos como sujeitos desprovidos de direitos. Porém, essa é ainda uma longa discussão que perpassa os muros da instituição.

2.4 A FALTA DE HUMANIZAÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO

Ao que consta na já citada Lei de Execução Penal n° 7.210, de 11 de julho de 1984, Art. 10º e 11°.

A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade.

Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso. [...] A assistência será: I - material; II - à saúde; III - jurídica; IV - educacional; V - social; VI - religiosa. (Lei de execução Penal, 1984.)

Conquanto, a realidade acerca do Sistema Penitenciário não condiz com o que institui a lei citada. O Estado possui o dever constitucional de garantir a efetivação das leis presentes na Constituição, mas não cumpre com o requerido pela legislação, visto que o próprio fere a dignidade da população em cárcere.

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É frequente presídios apresentarem problemas como superlotação, alimentação de baixa qualidade, higiene precária e assistência médica insuficiente. Ademais, é presente toda forma de violência, seja ela verbal ou física, a qual não envolve somente os detentos, como também funcionários do Estado os quais deveriam conferir segurança ao presídio e para presidiários.

Ainda que a taxa de mulheres presidiárias seja essencialmente menor que a de homens, o Sistema Penitenciário feminino tende a ser mais precário e menos digno, em relação ao masculino. Além de toda estrutura falha, algumas especificidades requeridas pelas mulheres não são atendidas nos presídios, incluindo questões básicas ligadas a higiene, como por exemplo, a indisponibilidade de absorventes femininos no cotidiano.

Também, é recorrente casos em que as mulheres presas ingressam grávidas ou engravidam no próprio presídio, em casos de sistemas mistos. O auxílio a estas mulheres é falho, a medida em que essas necessitam de assistência médica, tal como atendimento pré-natal, escolta até o hospital, e um ambiente seguro e saudável para o recém- nascido. Todavia, o Estado reconhece esses fatores como custos, desumanizando e afetando a dignidade das presidiárias.

A carência de assistência e recursos básicos para estas mulheres ultrapassam os casos citados acima. Isso decorre da discriminação de gênero, que surge além dos presídios e irrefutavelmente contamina estes ambientes de maneira exacerbante. A reinserção dessas mulheres na sociedade e no mercado de trabalho é de extrema precarização, visto que não há uma visão humanizada e digna frente a elas, tanto pelo Estado quanto pela população geral.

Em um questionário realizado em presídios femininos em 2012, pela Pastoral Carcerária e pelo Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC), em razão do Dia Internacional da Mulher, foram feitos os seguintes questionamentos a mais de duas mil presidiárias: “Quem são vocês?” e “O que vocês querem?”. A síntese das respostas foram: Queremos liberdade, queremos que a sociedade, quando a gente sair daqui, dê emprego e não que recrimine; “Queremos olhar para frente e não para trás”; “Queremos nossos direitos, acesso à saúde e processos mais rápidos”.

É inegável a alarmante falta de humanização e dignidade que permeia o sistema penitenciário brasileiro, com ênfase na população carcerária feminina. Em decorrência de toda discriminação presente, as mulheres apenadas são diretamente afetadas, sendo marginalizadas pelo próprio Estado, as quais detém posse de poucos recursos os quais são intitulados como direito para qualquer ser humano.

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Volume 9, Outubro de 2019. 8 3 DIREITO DAS MULHERES APENADAS

3.1 FILHOS MENORES EM REGIME FECHADO

O Sistema Penitenciário Feminino possui cerca de 662 mulheres grávidas ou que estão amamentando seus filhos, segundo levantamento divulgado em 2018 pelo Conselho Nacional de Justiça. O parto das detentas é realizado em hospitais públicos e nenhum familiar pode acompanhá-lo, sendo somente permitida a entrada de uma agente carcerária. É importante ressaltar a Lei 13.434 sancionada em 2017, “que veda o uso de algemas em mulheres grávidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério imediato.” Essa lei altera o artigo 292 do Código de Processo Penal.

Junto a isso, a Lei de Execução Penal 7.210/84 assegura para as mulheres gestantes acompanhamento médico no pré-natal e no pós-parto. Porém, na prática, a lei não é aplicada devidamente. Observa-se acomodações em situações precárias e com poucos recursos para atender um recém-nascido, e também a ausência de ginecologistas e obstetras nas instituições prisionais. Em pesquisa realizada em 34 estabelecimentos penais pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no ano de 2018, 58,82% dos presídios contavam com berçários e, destes, apenas cinco possuíam assistência pediátrica para atendimento às crianças.

No Brasil, é permitido que o filho fique somente até os seis meses de idade com a mãe. Contudo, alguns presídios transgridem essa lei, permitindo que a criança fique mais tempo. Após a separação de ambos, algum membro da família da detenta tem que estar disposto a cuidar da criança, caso contrário, o menor é encaminhado para um abrigo, onde pode ser adotado. Na mesma pesquisa mencionada anteriormente, consta que 50% dos presídios permitem a presença dos recém-nascidos até os seis meses de idade, enquanto que em 11% das unidades, as crianças podem ficar com as mães até completarem 2 anos.

Para alguns especialistas, o fato de a criança permanecer com a mãe até os dois anos de idade tem como pontos positivos o vínculo materno, a amamentação, o melhor desenvolvimento da criança, entre outros. Contudo, a separação tardia possui alguns aspectos negativos, pois, a criança quando mantida nas instituições prisionais, tem a sua liberdade e direitos violados; certos especialistas acreditam que essas crianças não cometeram nenhum crime para merecer estar em tal ambiente impróprio para o desenvolvimento humano.

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Muitas detentas não mantêm uma relação materna com seus filhos após a separação, assim, muitos acabam as vendo como parentes mais distantes. Ademais, o abandono é constante na vida dessas mulheres, sendo este materno ou conjugal.

3.2 VISITAS ÍNTIMAS NOS ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS FEMININOS

No Brasil, é permitido que o(a) detento(a) receba visitas, em dias determinados, de familiares, cônjuge, amigos. Ademais, também é permitido visitas de cunho sexual, as chamadas visitas íntimas. Para falar a respeito delas, é importante uma breve contextualização sobre o sistema prisional em termos de indicadores da população carcerária. No Rio Grande do Sul, por exemplo, temos atualmente 41.776 presos recolhidos no Estado. Desses, 2.149 são mulheres, representando em torno de 5% do total de presos. Das mulheres presas, 868 cumprem pena em regime fechado, 568 cumprem pena em regime semiaberto e 713 são presas provisórias, ou seja, ainda sem sentença condenatória ou absolutória.

No Rio Grande do Sul, as maiores Casas prisionais exclusivas para recolhimento de presas mulheres, em Regime Fechado ou Provisórias, são a Penitenciária Feminina de Guaíba com aproximadamente 400 presas (destas, 28 recebem visita íntima regularmente), a Penitenciária Feminina Madre Pelletier em Porto Alegre, com aproximadamente 300 mulheres (destas, 24 recebem visitas íntimas regularmente) e a Penitenciária Feminina de Torres, com aproximadamente 100 mulheres recolhidas. Estas concentram quase 40% do total de detentas no estado.

A configuração física de determinados estabelecimentos prisionais torna mais difícil ou raras as visitas íntimas. É o caso de alguns presídios no interior do RS que abrigam tanto homens como mulheres. Estas, sendo em menor número, ficam restritas a 1 ou 2 celas separadas das masculinas, inviabilizando muitas vezes as visitas íntimas.

Com relação às três casas prisionais femininas citadas acima, há celas exclusivas para as visitas íntimas, separadas das Galerias onde estão as demais presas. Na Penitenciária Madre Pelletier e na Penitenciária de Torres, há 2 celas para este fim em cada estabelecimento. Já na Penitenciária de Guaíba há 12 celas específicas para esse tipo de visita.

As visitas íntimas são agendadas nestes locais, sempre para um sábado ou domingo, de acordo com os dias em que as respectivas presas têm visitas. Exemplo: A Galeria “A” tem visitas nas quartas e sábados, já as presas da Galeria “B” tem visitas nas quintas-feiras e nos domingos.

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Volume 9, Outubro de 2019. 10 Nas casas prisionais femininas, sempre que autorizado judicialmente, a SUSEPE (Superintendência dos Serviços Penitenciários) libera a visita de crianças em 1 ou 2 sábados ou em 1 ou 2 domingos de cada mês. Nos dias em que há crianças visitando, não é autorizada qualquer visita íntima, mesmo que seja em ambientes diferentes de onde as crianças estarão.

A visita íntima é pré-agendada por solicitação da presa, que procura a Chefe de Segurança da Casa prisional, a Assistente Social ou a Psicóloga e solicita a reserva da cela para a visita. As celas para encontros íntimos ficam a disposição da presa por 1 hora em cada encontro e o(a) respectivo(a) visitante, já deve estar previamente cadastrado(a) como visita oficial, com a devida carteirinha de visitante. A Faixa etária das presas que recebem visitas íntimas é de 21 anos até 60 anos de idade.

Tendo em vista esses dados e mesmo com os inúmeros avanços no que diz respeito à forma como a mulher é tratada no sistema judiciário, ainda há muito o que avançar nos presídios no que diz respeito aos direitos sexuais femininos. Já que é habitual pensar na mulher como aquela que cuida do lar e da família, existe uma quebra de paradigma quando ela não o faz, e uma ruptura ainda maior quando segue um caminho totalmente oposto: o crime. Nessa lógica, conceder visitas íntimas às presidiárias seria como um “prêmio”, o que seguindo o raciocínio anterior, é um absurdo, visto que não cumpriu aquilo que foi socialmente imposto a ela.

De acordo com Drauzio Varella (2017), a visita íntima não se trata apenas da satisfação sexual da mulher e sim da manutenção de laços familiares, já que uma vez que a detenta não recebe visita íntima, o laço dela com o marido/namorado se perde completamente. Entretanto, apesar da importância de garantir a intimidade das mulheres apenadas, o autor comenta que a principal diferença entre presos homens e mulheres, é o abandono. O homem que vai preso sempre tem uma mulher para visitá-lo: namorada, amante, esposa, mãe e etc. Já a mulher presa é totalmente abandonada.

3.3 A SAÚDE DAS MULHERES ENCARCERADAS

O sistema penitenciário feminino no Brasil, além de uma estrutura precarizada resultante da ineficiência pública, possui grandes problemas em relação aos serviços específicos de saúde para a mulher presa. Seja na falta de médicos especializados ou até na falta de equipamentos, existe um amplo déficit de acesso à saúde e à assistência médica que atenda a realidade dessas mulheres.

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Volume 9, Outubro de 2019. 11 A falta de unidades médicas dentro das prisões força a detenta a buscar atendimento externo, o que exige a disponibilidade de escolta, ambulância para o deslocamento, profissionais especializados mobilizados para o atendimento e acompanhamento do paciente, além de outros recursos necessários. Cabe ressaltar que o acesso à saúde é um direito fundamental garantido por lei à todos os indivíduos.

Os presídios femininos devem dispor de produtos essenciais para a higiene pessoal todos os meses, conhecido como o “kit de higiene” que inclui absorventes, papel higiênico, escova de dente, creme dental, entre outras coisas e que, conforme já dito, não é oferecido pelo Estado para a maioria das mulheres encarceradas. Uma parcela das presas só tem acesso aos produtos de higiene por meio da família, entregue nos dias de visitação. Por conseguinte, tendo em vista que frequentemente sofrem com o abandono familiar ou de amigos ao ingressar na prisão, muitas acabam não tendo alcance algum a esses itens.

Assim, um dos métodos utilizados pelas detentas é o de negociação de produtos, que se tornam mercadorias. Funcionando como escambo, geralmente realizam uma prestação de serviço, como faxina ou costura, em troca do recebimento de algum produto de higiene.

Nas penitenciárias brasileiras, em geral, cada mulher recebe por mês dois papéis higiênicos (o que pode ser suficiente para um homem, mas jamais para uma mulher, que o usa para duas necessidades distintas) e dois pacotes com oitos absorventes cada. Em casos extremos e frequentes, provocados pela insuficiência de disponibilidade dos produtos de higiene, como absorventes, criam-se situações de constrangimento para mulheres que necessitam mensalmente desses produtos, e com toda a dificuldade de acesso e a necessidade do uso, elas acabam improvisando com miolos de pão que guardam para usar nessas situações, amassando para que fiquem no formato de um absorvente interno e inserindo dentro do órgão genital feminino, ajudando a absorver o fluxo menstrual, como reportado em diversos depoimentos de presidiárias nos últimos anos.

Apesar do crescimento apresentado pela população carcerária feminina nos últimos tempos, a justiça continua segregando esse grupo e oferecendo espaços inadequados com estruturas improvisadas e, geralmente, afastadas da cidade, influenciando diretamente nas visitas recebidas pelas presas. O difícil acesso aos estabelecimentos penitenciários resulta na ampliação do isolamento social de muitas detentas, montante esse que não recebe visitas familiares ou possui frequência menor que uma visita por mês.

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Volume 9, Outubro de 2019. 12 Em decorrência do abandono, as detentas passam a apresentar comportamentos nocivos, sendo eles agressivos e depressivos, além de diversas doenças psíquicas que são desencadeadas de maneira acentuada durante o cárcere. A realidade na qual essas mulheres estão inseridas é determinante para a exacerbação de distúrbios de saúde previamente existentes como depressão, ansiedade e, até mesmo, pensamentos suicidas.

Os dados coletados pela pesquisa efetuada por Santos et al (2017), em uma penitenciária feminina no Rio de Janeiro, expõem através de relatos das mesmas, perturbações psíquicas as quais as presidiárias sofrem:

[...] muito grito e briga o dia inteiro. [...] me faz ter medo. [...]

piorou durante a prisão. [...] fiquei mais agressiva, fico tendo visões dos mortos. Sinto que não estou normal [...] (M26). [...] tem hora que eu me acho péssima. [...] vontade de morrer, [...] parar de sofrer [...] (M3). (SANTOS et al, 2017, s/p)

Tais comportamentos e emoções são provenientes das vivências pessoais anteriores de cada uma dessas mulheres que são agravados de modo alarmante ao adentrarem nos presídios. O sistema de cárcere brasileiro apresenta grande déficit e uma grave precarização no que se refere a assistência de saúde das detentas, tanto mental como física.

A alta taxa de violência no cotidiano das prisões infere diretamente na saúde mental dessas mulheres, fazendo com que as mesmas busquem alternativas nocivas para distanciar-se temporariamente da realidade, como o uso não controlado e não supervisionado de medicamentos psicotrópicos, que são categorizados como calmantes, antidepressivos, sedativos, entre outros. Junto às condições apresentadas, existe a forte pressão psíquica a qual estão submetidas através de regras repressoras. Um exemplo disso é a falta de padrão do sono, causado por medo, ansiedade, conflitos, agitação, entre outros.

Ademais, o abandono é um dos fatores mais prejudiciais para a saúde mental das detentas. A insuficiência do sistema das visitas íntimas agrava esse quadro ou, até mesmo, a desistência por parte do visitante. Como consequência, comumente há a quebra de vínculos familiares, principalmente com os filhos, o que acentua o sentimento de abandono e a solidão entre as presidiárias. Com a saúde mental extremamente prejudicada, sem acesso à assistência médica, a reinserção dessas mulheres na sociedade torna-se penosa e quase inexistente.

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Volume 9, Outubro de 2019. 13 4. ACOMPANHAMENTOS PRESENTES NO SISTEMA PENITENCIÁRIO PARA A GARANTIA DA RESSOCIALIZAÇÃO

4.1 CURSOS PROFISSIONALIANTES: TRABALHOS PARA DIMINUIR A PENA

No Brasil, o direito do(a) apenado(a) de diminuir o tempo de sua sentença pode ocorrer através do trabalho, estudo ou leitura. A remição por leitura já é realizada em diversos presídios do país. Nela, o(a) preso(a) possui de 22 a 30 dias para fazer a leitura de uma obra e após finalizá-la, deve apresentar uma resenha, a qual vai ser avaliada por uma comissão organizadora. A pena é reduzida quatro dias a cada livro lido, tendo um limite de doze obras por ano.

A remição por estudo, para aqueles que estão em regime fechado ou semiaberto, pode reduzir um dia a pena a cada 12 horas de frequência escolar. Quando o(a) apenado(a) for autorizado(a) a estudar fora do estabelecimento penitenciário, o indivíduo deve mostrar um comprovante com a frequência e o aproveitamento escolar.

Já a remição por trabalho, para aqueles que estão em regime fechado ou semiaberto, garante um dia de pena a menos a cada três dias de trabalho realizado. Em 2015, foi aceito que o trabalho externo, ou seja, o trabalho não exercido dentro do ambiente penitenciário, poderá ser contado para a remição da pena. Os cursos profissionalizantes, além de reduzirem a pena, facilitam a reinserção dos(as) detentos(as) na sociedade. Neste item, será abordado somente os cursos realizados nos presídios femininos.

Em uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), o estado do Mato Grosso ofereceu a 103 detentas da Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May, em Cuiabá, cursos de Manicure e Pedicure, Operador de Micro, Atendente de Nutrição e Desenhista de Moda. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) (s/d), “o objetivo do termo de cooperação é ampliar e consolidar ações de conscientização e mobilização em defesa dos direitos da mulher, além de reduzir os índices de violência a partir de uma mudança sociocultural.” (s/p)

O Presídio Estadual Feminino de Lajeado também ofereceu à 4 detentas um curso básico profissionalizante de corte de cabelo. A iniciativa foi de um projeto

“Embelezando Rostos, Ressignificando Vidas”, o qual além de retornar a autoestima das detentas, facilita a reinserção das participantes no mercado de trabalho e na sociedade.

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Volume 9, Outubro de 2019. 14 O estado do Rio Grande do Sul possui dois Protocolos de Ação Conjunta (PAC), possibilitando que entidades públicas ou privadas ofereçam trabalho remunerado ao preso. A Penitenciária Feminina Madre Pelletier em Porto Alegre, dispõe de uma entidade que atua na reciclagem de lixo eletrônico (JG) e outra que trabalha com produtos alimentícios, especializada na fabricação e comercialização de temperos e condimentos (Temperos Direma).

Além disso, 50 detentas realizam trabalhos na cozinha, no recolhimento do lixo ou varrendo o presídio. Todas elas têm sua pena reduzida um dia a cada 3 trabalhados. É necessário ressaltar que o salário recebido em qualquer trabalho realizado pelas detentas, sejam elas do estado do RS ou outro, é depositado em uma conta bancária na qual a presa pode reservá-lo à família ou comprar produtos de seu interesse.

4.2 SISTEMA COMPARARTIVO ENTRE BRASIL E PAÍSES DE PRIMEIRO MUNDO

Segundo o filósofo francês Michel Foucault (2014), a aplicação da punição adquire, no século XIX, o estatuto de controle social, de modo que o indivíduo que cometeu o delito seja reinserido na sociedade. Essa transição decorre da produtividade industrial e comércio em grande escala, na qual as pessoas não eram remuneradas devidamente, trabalhavam exaustivamente e, muitas vezes, caso fizessem um trabalho mal feito, tinham redução em seus salários. A exemplo desse último, fica nítida a transição dos ideais de punição da sociedade hodierna. Desde então, essa ideologia de condenação manifestou caráter global, todavia cada país adequou-a em conformidade com sua constituição e governo vigente.

Um exemplo dessa ideologia é o sistema carcerário no Brasil, que efetivamente não coincide com o que institui a já citada Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984, presente na Constituição. A alta precarização das condições às quais os presídios estão submetidos interfere diretamente na reinserção dos apenados. A superlotação, a violência verbal e física, a escassez de higiene e alimentação são alguns dos aspectos que inferem na ressocialização dos detentos e detentas, demonstrando a ineficácia desse sistema no Brasil.

Países como a Noruega também dispõem do mesmo objetivo, no qual a pena perante o condenado tem como finalidade a reinserção desses na sociedade. O que distingue o sistema prisional do Brasil de países como a Noruega é não só a infraestrutura e recursos oferecidos ao detento como principalmente os métodos que são utilizados. No sul de Oslo, capital da Noruega, há uma prisão situada na Ilha de Bastoey

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Volume 9, Outubro de 2019. 15 que adere ao “princípio de normalidade”: "Um dia na prisão não deve ser diferente do que seria na vida diária, tanto como seja possível", explica o diretor da penitenciária, Tom Eberhardt, à BBC (2016, s/p). Nesse mesmo estabelecimento, os detentos possuem a liberdade de usufruir do amplo espaço, que se assemelha a um vilarejo.

Localizada no sul da Noruega, a penitenciária de Halden também se destaca por sua concepção. Oferece diversas oficinas nas quais os presidiários trabalham, a fim de aumentar as chances no mercado de trabalho após cumprimento da pena. Ademais, há o incentivo de desenvolvimento da cultura, através da arte, com espaços voltados para o incremento da mesma. O sistema penal norueguês demonstra grande eficácia, visto que a reincidência criminal é 20%, considerada a menor do mundo.

A técnica utilizada pela Noruega, entretanto, não é presente na maioria dos países de primeiro mundo. Segundo Gomes (2015), os Estados Unidos, em 2011, contabilizou 2.239.751 presidiários, sendo o país que mais aprisiona no mundo. Ao lado desse dado, o índice de reincidência criminal, nos Estados Unidos, é de 76%, expondo não só a ineficiência do sistema adotado como também seu maior objetivo: conseguir mão de obra quase escrava e isolar determinados grupos. No Reino Unido, que possui o sistema carcerário semelhante ao do Brasil e dos Estados Unidos, apresenta a reincidência criminal em 46%.

Outro dado alarmante é na França, país considerado de primeiro mundo, o qual apresenta diversos presídios com superlotação, abrigando 10 mil presidiários além do limite. Ademais, constantemente suas instalações carcerárias são consideradas insalubres pela Corte Europeia dos Direitos Humanos. O governo de Emmanuel Macron, entretanto, pôs em voga um projeto que visa amenizar tal adversidade, implementando penas alternativas e humanização no cárcere, resultando em uma queda brusca nos índices de suicídio nos presídios que fora aplicado o projeto. Portanto, a eficácia da ressocialização de presidiários depende diretamente do método e da infraestrutura disponibilizados pelos diferentes países no sistema carcerário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com as rápidas transformações do papel da mulher na sociedade, percebe-se que a mesma passou a ocupar diferentes espaços e funções. Contudo, houve um aumento no número de detentas, e, com esse acréscimo, maior visibilidade da decadência e despreparo do sistema prisional brasileiro em garantir condições dignas às

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Volume 9, Outubro de 2019. 16 apenadas. O Brasil, mesmo sendo o quarto país que mais encarcera no mundo, ainda não possui uma estrutura inclusiva e eficiente para as infratoras.

O sistema oferece praticamente os mesmos direitos para ambos os sexos, porém esses não levam em conta particularidades da esfera feminina e, assim, mulheres têm seus direitos repetidamente feridos e suas necessidades físicas e biológicas ignoradas, como, por exemplo, quando não é oferecido absorventes íntimos ou outros itens de uso pessoal. Ademais, o sistema brasileiro é ineficaz no que tange ao suporte à saúde física e psíquica das detentas, pois a maioria dos presídios não possuem profissionais capacitados nas referidas áreas, inviabilizando o auxílio às detentas que necessitam desses cuidados.

Como exposto anteriormente, é possível concluir que o sistema prisional não cumpre seu objetivo primordial de correção de indivíduos infratores, alcançando altas taxas de reincidência dos transgressores nas prisões. Por ser um sistema fundamentalmente falho, não foi capaz de acompanhar as mudanças ocorridas nos últimos anos e se adaptar a essas necessidades. O sistema prisional feminino é o resultado dos processos de reinserção, ou seja, falho e ineficaz.

Em contrapartida, o sistema carcerário vigente na Noruega, apresenta taxas de 80% de reabilitação de suas criminosas, estabelecendo uma reforma significativa no caráter pessoal das encarceradas. A exemplo, o país adota um sistema pautado na reabilitação do indivíduo e não na punição, oferecendo infraestrutura suficiente para que esse seja reinserido à vida em sociedade.

Assim sendo, fica em evidência a necessidade de uma reforma estrutural nas prisões femininas no que tange aos seus direitos como indivíduos. O sistema ideal deveria garantir oportunidades de trabalho e cursos profissionalizantes durante a reclusão, pois esses dariam maiores chances de uma efetiva reabilitação das mulheres encarceradas. Por fim, cumprir com o que já lhes é garantido constitucionalmente, ou seja, respeitar suas integridades pessoais e realizar um trabalho efetivo para sua ressocialização, já seria um bom caminho para as mudanças desejadas no sistema carcerário brasileiro.

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