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Reabilitação Neurofuncional do paciente com Acidente Vascular Cerebral AVC. Movimentar se é viver! Terapia do Movimento. Tema:

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Terapia do Movimento

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Reabilitação Neurofuncional do paciente com Acidente Vascular Cerebral ­ AVC

Terapia do Movimento | | Etiquetas: Artigos, Todos

Anatomia

Os Acidentes Vasculares Cerebrais são usualmente causados por anormalidades

na circulação. No entanto as variações anatômicas são frequentes, e o território que recebe o suprimento  de  sangue  de  uma  dada  artéria  não  é  de  todo  previsível;  como  resultado,  as síndromes  dos  acidentes  vasculares  encefálicos  podem  não  se  correlacionar  bem  com  a localização da lesão vascular. Exames de imagem são apropriados para fornecer informações precisas sobre cada paciente individualmente. Pela Clínica que o paciente apresenta é possível determinar a localização vascular do Acidente Vascular Cerebral.

Artéria Cerebral Anterior

Hemiparesia contralateral, mais acentuada no membro inferior  Perda sensorial contralateral  

Alterações do funcionamento esfincteriano anal e vesical  

Manifestações mentais, que são mais nítidas e estáveis se o AVC for bilateral  Alterações do comportamento, se o AVC do lobo frontal for intenso.

Artéria Cerebral Média

Afasia (quando o hemisfério dominante é lesado);

Hemiplegia e/ou hemiparesia contralateral, mais acentuada na face e membro superior;

Hemianópsia homônima;

Hemihipostesia;

Apraxia;

Alexia.

Artéria Cerebral Posterior Síndromes sensoriais talâmicos;

Alterações de memória (lesão bilateral);

Hemianópsia homônima;

Síndrome de Anton;

Cegueira cortical, provocada por lesão bilateral dos lobos occipitais associada à agnosia;

Dislexia sem agrafia;

Hemiplegia fugaz;

Ataxia.

Artéria Carótida Interna 

Hemiplegia contralateral com hemipostesia e afasia (quando o hemisfério cerebral dominante é lesado);

Isquemia retiniana com obnubilação ou perda da visão no olho homolateral;

Inconsciência no momento da oclusão;

Nota:  40%  dos  doentes  com  oclusão  da  artéria  têm,  antes  do  AVC  definitivo,  ataques isquêmicos transitórios.

Artéria Basilar

Hemiplegia contralateral ou tetraplegia;

Paralisia facial;

Disartria e disfagia;

Síndrome de Hormes homolateral;

Perda de consciência e presença de vertigem. 

Artéria Vertebrobasilar

Sinais  de  lesão  de  nervos  cranianos  e  de  conexões  cerebelares  homolaterais  com  sinais sensitivos e motores nos membros contralaterais;

Síndrome de Weber (lesão localizada nos pedúnculos cerebrais);

Paralisia homolateral do nervo óculo­motor comum;

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Tema:

"A nossa natureza está no movimento, o repouso completo é a morte." Blaise Pascal

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Hemiplegia contralateral.

Fonte: IPAF, 2007.

Patogênese do AVC 

As vasculopatias cerebrais assumem quatro formas principais: a trombótica, embólica, lacunar e hemorrágica. Cada qual com a sua etiologia, prognóstico e terapêutica.

AVC Isquêmico Trombótico

São  os  mais  comuns,  correspondem  a  40%  de  todas  as  vasculopatias.  Geralmente  devido  a estenose  ou  oclusão  aterosclerótica  de  um  grande  vaso,  especialmente  a  artéria  carótida  ou cerebral média. Ocorre quando a formação de um coágulo superpõe a um estreitamento gradual do vaso ou a alterações no revestimento luminal do vaso.

A Aterioesclerose afeta basicamente as artérias intracranianas e extracranianas de maior porte e  causa  hiperplasia  e  fibrose  na  região  subíntima,  com  formação  de  uma  placa.  As  placas reduzem a luz dos vasos e promovem adesão plaquetária com conseqüente trombose vascular.

Outras  causas  de  trombose  incluem  vasculite,  dissecção,  policitemia  e  estados  de hipercoagulabilidade.  Causas  menos  comum  incluem  doenças  infecciosas,  como  a  Sífilis  e  a Triquinose, que geram uma lesão na parede vascular.

Os sinais e sintomas de AVC trombótico costumam se desenvolver gradualmente ao longo de minutos  a  horas  e  podem  apresentar  uma  gravidade  oscilante,  ou  seja,  melhoras  e  pioras  do quadro  durante  esse  período.  Ao  serem  questionados,  os  pacientes  com  frequência  relatam problemas  semelhantes,  porém  transitórios,  ocorridos  no  passado  e  que  sugerem  um  Ataque Isquêmico  Transitório  na  mesma  distribuição  vascular.  A  gravidade  do  quadro  vai  depender principalmente  da  presença  de  uma  rede  de  colaterais  capaz  de  manter  algum  fluxo  para  a região.

AVC Isquêmico Embólico

Correspondem a 30% dos Acidentes Vasculares Cerebrais. Na embolia, o material intravascular de origem proximal é liberado e passa a ocluir um vaso distal. Ao contrário do AVC trombótico, não  existe  doença  intrínseca  no  vaso  ocluído.  Portanto,  os  êmbolos  são  menos  aderentes  e têm  uma  tendência  maior  a  se  fragmentar  e  a  se  deslocar  distalmente  do  que  os  coágulos secundários à trombose. As fontes mais comuns de êmbolos são o coração e os grandes vasos (aorta, carótidas e artérias vertebrais). 

As  fontes  cardíacas  de  êmbolos  incluem  vegetações  valvulares,  trombos  murais,  êmbolos originados por Fibrilação Atrial, êmbolos paradoxais (devidos a CIA ou CIV) ou tumor cardíaco.

Êmbolos  artério­arteriais  costumam  ocorrer  quando  um  agregado  de  plaquetas  e  fibrina  é deslocado de uma região estenótica estreita ou de uma placa aterioesclerótica em um grande vaso.  Causas  menos  comuns  de  êmbolos  incluem  Miocardiopatias  Dilatadas,  êmbolos gordurosos e partículas embolizadas por injeções de drogas intravenosas.

Os  Acidentes  Vasculares  Cerebrais  de  origem  cardíaca,  em  geral,  têm  duas  tendências importantes:

Tendem a ser mais graves (maior volume de infarto);

Tendem à hemorragia (podendo ocorrer em até 71% dos casos).

O AVC de origem embólica ocorre de modo súbito e não há tendência para que haja sintomas pregressos.

AVC Isquêmico Lacunar

Correspondem  a  20%  dos  casos.  Estes  são  infartos  muito  pequenos,  geralmente  com  menos de  um  centímetro  cúbico  de  tamanho,  que  ocorrem  somente  onde  arteríolas  perfurantes  se ramificam  diretamente  de  grandes  vasos.  Esta  anatomia  vascular  distintiva  ocorre  nas profundezas  do  cérebro,  na  região  dos  gânglios  da  base,  cápsula  interna  e  tronco  cerebral.

Portanto estas são as regiões onde se desenvolvem as lacunas.

Os  pequenos  ramos  penetrantes  das  artérias  cerebrais  podem  ficar  ocluídos  e  os  infartos resultantes  podem  ser  tão  pequenos  ou  localizados  de  tal  maneira  de  modo  a  não  causarem qualquer sintoma. O tecido amolecido que é removido deixa uma pequena cavidade ou lacuna.

Esses acidentes vasculares podem originar síndromes clínicas típicas, com uma pequena zona de isquemia confinada ao território de um único vaso. Essas síndromes são consideradas como refletindo o acometimento arterial dos vasos que penetram em regiões profundas do cérebro e do  tronco  arterial  para  suprir  estruturas  como  a  cápsula  interna,  gânglios  da  base,  tálamo, corona radiata e regiões paramedianas do tronco cerebral.

Os danos arteriais são geralmente consequentes ao Diabete Mellitus ou HAS de longa duração.

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"Terapia do Movimento: Reabilitação Neurofuncional do paciente com Acidente Vascular Cerebral ­ AVC" 53 mins ago

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Causas  raras  incluem  estenose  do  tronco  da  artéria  Cerebral  Média  ou  microembolias  aos territórios  de  troncos  de  artérias  penetrantes.  O  início  do  quadro  costuma  ser  abrupto  e raramente  tem  caráter  progressivo,  apresentando­se  com  quadro  de  hemiparesia  motora  pura, síndrome sensorial pura, hemiparesia em destros sem alteração da fala ou hemiparesia atáxica.

Acidente vascular cerebral hemorrágico

É a manifestação mais grave de AVC, com mortalidade de até 50% em 30 dias e ocorrem em uma  população  mais  jovem  de  pacientes.  A  hemorragia  decorre  da  ruptura  de  um  vaso  em qualquer  ponto  da  cavidade  craniana.  As  hemorragias  intracranianas  são  classificadas  de acordo  com  a  localização  (extradural,  subdural,  subaracnóide,  intracerebral,  intraventricular),  a natureza  do  vaso  rompido  (arterial,  capilar,  venoso)  ou  a  causa  (primaria  ou  espontânea, secundária  ou  provocada).  Os  dois  principais  subtipos  de  AVC  hemorrágicos  são  as Hemorragias Intracerebrais e as Hemorragias Subaracnóides.

a) Hemorragias Intracerebrais

Nas hemorragias intracerebrais, o sangramento ocorre diretamente no parênquima cerebral. Uma idade  mais  avançada  e  uma  história  de  AVC  prévio  são  os  principais  fatores  de  risco  para  o desenvolvimento  de  uma  HIC.  A  HAS  foi  apontada  como  causa  de  enfraquecimento  nas paredes  de  arteríolas  e  na  formação  de  microaneurismas  (microaneurismas  de  Charcot­

Bouchard).  Em  pacientes  idosos,  não­hipertensos,  com  hemorragias  lobares  recorrentes,  a Amiloidose  foi  apontada  como  causa  importante.  Outras  causas  incluem  Malformações Arteriovenosas,  Aneurismas,  Doença  de  Moya­moya,  distúrbios  hemorrágicos  ou anticoagulação, traumatismos, tumores, Angioma Cavernoso e uso excessivo de drogas ilícitas.

Nas  discrasias  sangüíneas  (por  exemplo,  Leucemia  Aguda,  Anemia  Aplásica,  Policitemia, Púrpura Trombocitopênica e Escorbuto), as hemorragias podem ser múltiplas e volumosas.

O  sangue  arterial  irrompe  sobre  pressão  e  destrói  ou  desloca  o  tecido  cerebral.  Quando  o paciente sobrevive a uma hemorragia cerebral, o sangue e o tecido necrosado são removidos por fagócitos. O tecido cerebral destruído é parcialmente substituído por tecido conectivo, glia e vasos sangüíneos neoformados, deixando uma cavidade encolhida e cheia de líquido. Os locais mais afetados são o putâmen, caudado, ponte, cerebelo, tálamo ou substância branca profunda.

As hemorragias dos gânglios da base freqüentemente se estendem de modo a afetar a cápsula interna  e  por  vezes  se  rompem  no  ventrículo  lateral  e  disseminam­se  através  do  sistema ventricular até o espaço subaracnóide. 

O  quadro  clínico  é  determinado  pela  localização  e  tamanho  do  hematoma.  Ele  se  caracteriza por cefaléia, vômitos e evolução de sinais focais motores ou sensoriais de minutos a horas. A consciência por vezes se altera desde o início, sendo esta freqüentemente uma característica proeminente nas primeiras 24 a 48 horas nos hematomas moderados e grandes. O diagnóstico e  a  localização  são  facilmente  estabelecidos  pela  TC,  que  mostra  a  elevada  densidade  do sangue agudo.

b) Hemorragias Subaracnóides

A  Hemorragia  Subaracnóide  (HSA)  tem  a  metade  da  freqüência  da  HIC.  Na  HSA,  o  sangue extravasa de um vaso arterial para o espaço subaracnóide. O sangue de uma artéria rompida é liberado com uma pressão quase equivalente à pressão arterial sistêmica, ao contrário da HIC, onde a ruptura arteriolar ocorre mais gradualmente e com pressões menores. A súbita liberação de  sangue  sob  pressão  leva  a  um  traumatismo  celular  direto,  bem  como  rápido  aumento  da pressão intracraniana.

Ela é causada mais comumente pelo vazamento de sangue a partir de um aneurisma cerebral.

Os aneurismas se distribuem por locais diferentes em toda base do cérebro, especialmente na origem ou nas bifurcações das artérias no Polígono de Willis. Outras causas secundárias que podem  ocasionar  hemorragias  subaracnóides  incluem  malformações  arteriovenosas,  distúrbios hemorrágicos  ou  anticoagulação,  traumatismos,  Amiloidose  e  Trombose  do  Seio  Central.  Os sinais  e  sintomas  incluem  início  abrupto  de  uma  forte  cefaléia,  vômitos,  alterações  da consciência e coma; essas alterações ocorrem freqüentemente na ausência de sinais focais de localização.

A  HSA  afeta  pacientes  mais  jovens  e  mulheres  mais  freqüentemente  que  os  homens.

Hipertensão  Arterial  Sistêmica,  o  uso  de  anticoncepcionais  orais  e  tabagismo  são  alguns  dos fatores de risco para esse tipo de AVC. A mortalidade é elevada, podendo chegar até 70% nos quadros  mais  graves.  Entre  os  que  sobrevivem  novos  sangramentos  imediatamente subseqüentes  e  déficits  neurológicos  isquêmicos  tardios  por  vasoespasmo  podem  ocasionar uma grave morbidade.

Alterações das Funções Motoras e Alterações do Tônus

Inicialmente  após  AVC,  o  paciente  apresenta  flacidez  e  plegia,  ou  seja,  diminuição  do  tônus muscular. O estado de flacidez pode perdurar por horas ou dias. Ainda que a hipotonia possa persistir,  é  frequente  ser  seguida  pelo  aparecimento  de  quadro  de  hipertonia.  Neste  quadro

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verifica­se  o  aumento  da  resistência  ao  movimento  passivo,  sendo  isto  típico  dos  padrões espásticos.

A  espasticidade  produz  características  típicas  como  as  posturas  anormais  e  os  movimentos estereotipados. A distribuição anormal do tônus é variável, sendo normalmente mais intensa em certos  padrões  que  envolvem  os  músculos  anti­gravíticos  do  hemicorpo  afetado, nomeadamente,  os  flexores  do  membro  superior  e  os  extensores  do  membro  inferior.  Um hemiplégico  pode  apresentar  padrões  anormais  de  movimento  ou  sinérgicos  devido  ao  tônus anormal,  déficits  sensoriais  e  perda  das  reações  de  equilíbrio.  Existem  dois  tipos  de  padrões anormais (sinergias), sendo eles o padrão de flexão e o padrão de extensão.

As  sinergias  estereotipadas  de  movimento  de  hemiplégico  podem  ser  observadas  no  quadro abaixo:

Sinergia Flexora na Extremidade Superior  Flexão de punho e dedos

Flexão de cotovelo Supinação de antebraço Rotação externa do ombro Abdução do ombro

Retração/elevação da escapula

Sinergia Flexora na Extremidade Inferior  Extensão do hálux

Dorsi­flexão e eversão do tornozelo Flexão do joelho

Flexão do quadril

Abdução e rotação externa do quadril

Sinergia Extensora na Extremidade Superior  Extensão de punho e dedos

Extensão de cotovelo Pronação do antebraço Rotação interna do ombro Protração da escapula 

Sinergia Extensora na Extremidade Inferior Flexão dos artelhos

Planti­flexão e inversão do tornozelo Extensão do joelho

Extensão do quadril

Adução e rotação interna do quadril

Reações Associadas

As  reações  associadas  definem­se  como  respostas  automáticas  anormais  estereotipadas  dos membros  afetados  resultantes  de  uma  ação  ocorrida  em  qualquer  parte  do  corpo,  por estimulação  reflexa  ou  voluntária  (ex.:  tossir,  espirrar,  esforço),  inibindo  a  função.  Estas reações podem ocorrer quando o indivíduo se esforça para realizar uma tarefa difícil ou quando está ansioso. Quando realiza uma tarefa, como por exemplo, o vestir, as reações associadas poderão ser observadas no braço e perna afetadas.

Perda do mecanismo de controlo postural

O  mecanismo  de  controlo  postural  é  a  base  para  a  realização  dos  movimentos  voluntários normais  especializados.  Este  mecanismo  consiste  num  grande  número  e  variedade  de respostas  motoras  automáticas,  adquiridas  na  infância,  e  que  são  desenvolvidas  durante  os primeiros  três  anos  de  vida.  É  constituído  por  três  grupos  de  reações  posturais  automáticas, sendo  estas  as  reações  de  retificação;  reações  de  equilíbrio  e  as  reações  de  extensão protetora.

Reações de retificação: são respostas automáticas que mantém a posição normal da cabeça no espaço, bem como o alinhamento postural da cabeça e pescoço com o tronco, e do tronco com  os  membros.  Estas  reações  dão  ao  indivíduo  um  dos  elementos  mais  importantes  da mobilidade funcional, que é a noção de rotação dentro do eixo do corpo.

Reações  de  Equilíbrio:  são  respostas  automáticas  a  alterações  de  postura  e  movimento, complexas e integradas, com o objetivo de recuperar o equilíbrio perturbado.

Reações de Extensão Protetora: são reações automáticas que são ativadas quando o centro de gravidade é deslocado para fora da base de sustentação, e quando as reações de equilíbrio e

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de retificação se mostram insuficientes.

Num  indivíduo  que  tenha  sofrido  um  AVC  as  reações  posturais  automáticas  descritas  não funcionam no hemicorpo afetado, o que impede o indivíduo de usar uma variedade de padrões normais de postura e de movimento, essenciais para a realização de atividades funcionais tais como as transferências, o rolar, o sentar, o manter a posição de pé, o andar e a realização de atividades da vida diária.

Alterações da função sensorial

As  alterações  sensoriais  mais  frequentes  e  observáveis  nos  casos  de  lesão  neurológicas  do hemicorpo, são os déficits sensoriais superficiais, proprioceptivos e visuais. A diminuição e ou abolição da sensibilidade superficial (táctil, térmica e dolorosa), contribui para o aparecimento de disfunções perceptivas (alterações da imagem corporal, negligência unilateral), e para o risco de auto lesões.

A  diminuição  da  sensibilidade  proprioceptiva  (postural  e  vibratória)  contribui  para  a  perda  da capacidade para executar movimentos eficientes e controlados, para a diminuição da sensação e noção de posição e de movimento, impedindo e diminuindo novas aprendizagens motoras no hemicorpo afetado.

São  bastante  comuns  em  indivíduos  que  sofreram  um  AVC  distúrbios  do  campo  visual (diminuição  da  acuidade  visual,  hemianopsia  e  diplogia).  O  distúrbio  visual  mais  comum  é  a hemianopsia homónima (cegueira da metade nasal de um dos olhos e da metade temporal do outro  olho).  É  um  déficit  visual  que  contribui  para  a  diminuição  do  nível  de  consciência  e/ou diminuição da noção do hemicorpo afetado.

Alterações da função perceptiva

Após  a  ocorrência  de  AVC  poderá  estar  presentes  alguns  déficit  perceptivos.  O  seu  tipo  e extensão  vão  depender  do  local  da  lesão.  As  lesões  do  hemisfério  não  dominante  (para  a maioria  dos  indivíduos  o  hemisfério  direito)  produzem  distúrbios  da  percepção.  Os  distúrbios podem ser em nível da figura de fundo, posição no espaço, constância da forma, percepção da profundidade, relações espaciais e orientação topográfica. A apraxia e a agnosia são outros dos distúrbios frequentes em indivíduos que sofreram um AVC.

A apraxia consiste na incapacidade para programar uma sequência de movimentos, apesar das funções motoras e sensoriais estarem aparentemente conservada. A apraxia pode manifestar­

se de varias formas, sendo estas, a apraxia ideomotora (gestos); a apraxia ideativa (tarefa); a apraxia do vestir (incapacidade para efetuar as tarefas funcionais do ato de vestir) e a apraxia construtiva (incapacidade para construir modelos a duas ou três dimensões).

A agnosia consiste na incapacidade de reconhecer objetos familiares de uso pessoal, e de lhe dar  uma  função,  ainda  que  os  órgãos  sensoriais  não  estejam  lesados.  Poderão  igualmente surgir  alterações  em  nível  da  imagem  e  esquema  corporal,  onde  se  incluem  a  negligência unilateral e falhas na discriminação esquerdo­direita.

Alterações da comunicação

Os  problemas  da  comunicação  são  frequentes  nos  indivíduos  que  sofreram  um  AVC,  por obstrução  da  artéria  cerebral  média  no  hemisfério  esquerdo.  A  afasia  é  uma  perturbação  da linguagem que resulta de uma lesão cerebral, localizada nas estruturas que se supõe estarem envolvidas no processo da linguagem. Existem vários quadros clínicos das afasias, pelo que se passa a classificá­los no quadro abaixo (quadro 2).

Os indivíduos com lesão no hemicorpo esquerdo e direito diferem amplamente nos seus efeitos comportamentais. Os indivíduos com lesão do hemicorpo direito, tem um comportamento lento,

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são  muito  cuidadosos,  incertos  e  inseguros,  logo,  ao  desempenharem  tarefas  estes  se apresentam  ansiosos  e  hesitantes,  exigindo  frequentemente  “feedback”  e  apoio.  Eles  também tendem a ser realistas na avaliação dos próprios problemas.

A labilidade emocional é geralmente encontrada nos casos de hemiplegia. O indivíduo apresenta emoções  instáveis,  sendo  capaz  de  inibir  a  expressão  das  emoções  espontâneas,  que rapidamente alteram o seu comportamento emocional sem qualquer razão aparente.

Problemas secundários e complicações das lesões neurológicas por AVC

Os  indivíduos  com  lesão  neurológica  do  hemicorpo  estão  predispostos  ao  aparecimento  de problemas  secundários  e/ou  complicações,  relacionados  com  o  seu  estado  patológico  que frequentemente, funcionam como um obstáculo à reabilitação dos mesmos.

● As complicações possíveis de um AVC incluem: 

● Pneumonia; 

● Formação de coágulos de sangue nas veias das pernas, os quais podem atingir a circulação pulmonar (artéria pulmonar), provocando uma embolia pulmonar potencialmente fatal;

● Infecção do trato respiratório;

● Incontinência urinária; 

● Obstição; 

● Para além destas complicações existem ainda alguns problemas motores, problemas estes que surgem como complicação secundária da hemiplegia: 

● Síndrome ombro­mão; 

● Ombro doloroso; 

● Subluxação do ombro; 

● Edema da mão.

Cuidados na Fase Inicial

Na fase inicial, não difere do fato de a pessoa estar no hospital ou em casa, embora seja mais provável a administração de oxigénio no hospital. Na tentativa de prevenir trombose ou êmbolo adicionais, podem administrar­se no hospital, biidroxicumarina (Dicuramol) e heparina, se houver a  certeza  de  que  se  trata  de  trombose  ou  êmbolos  cerebrais,  e  não  hemorragia  cerebral.  A utilização de anticoagulantes é objeto de controvérsia. Alguns doentes podem ser tratados com vários tipos de agentes vasodilatadores, embora ainda não esteja comprovada a eficácia desta terapêutica.

Os objetivos estão direcionados para as necessidades de sobrevivência e para a prevenção de ulterior lesão cerebral. Os cuidados, por parte do profissional de saúde, são orientados para o estado  de  inconsciência,  se  for  o  caso.  A  apreciação  neurológica  é  efetuada  a  intervalos regulares para detectar alterações no estado e o aparecimento de complicações.

Os  sinais  vitais  devem  ser  cuidadosamente  controlados,  e  o  profissional  de  saúde  deve observar se há aumento de temperatura durante os primeiros dias, diminuição da frequência do pulso  e  respiratória,  e  agravamento  do  coma,  tudo  isto  a  indicar  pressão  nos  centros  vitais  e mau prognóstico. Podem administrar­se fármacos para redução da pressão intracraniana como a dexametasona (Decadron).

Cuidados na Fase Aguda

A preocupação com os cuidados, na fase aguda, é evitar complicações a partir do AVC original, pela imobilidade e pela dependência que provoca, e pela perda de funcionamento causada por deficiências focais.

Promoção da Atividade e Mobilidade

Alguns neurologistas prescrevam a cabeceira da cama na horizontal durante vários dias, outros pensam ser mais benéfica a mobilização prematura do paciente. A cabeceira elevada depende também  do  tipo  de  AVC  sofrido,  normalmente  o  hemorrágico  é  mais  tardio,  porque  o  vaso enfraquecido  tem  mais  probabilidade  de  voltar  a  romper  se  houver  aumento  da  pressão  ou outros esforços. A manutenção da mobilidade e o impedimento da deformação articular passam

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por:  posicionamentos  dos  membros  afetados,  exercícios  de  mobilização  e  mudança  de decúbitos.

Promoção da Eliminação Vesical e Intestinal Vesical

Deve  ser  observada  e  registrada  durante  alguns  dias  após  o  AVC.  A  retenção  urinária  não  é muito comum, mas a incontinência é (explicar ao paciente que o controlo da urina vai melhorar à medida  que  o  estado  geral  melhorar,  oferecer  papagaio  após  cada  refeição  e  a  intervalos regulares).

Intestinal  –  a  incontinência  fecal  também  é  comum,  mas  também  esta  tem  tendência  a melhorar.  Alguns  doentes  desenvolvem  obstipação  e  consequentemente  fecalomas  (devem informar ao paciente para não fazerem força, de forma a não aumentarem a PIC – utilização de leite de magnésio, supositórios, enemas). Para uma boa prestação de cuidados deve conhecer­

se  os  hábitos  de  eliminação  do  doente  e  tentar  mantê­los,  tentar  que  o  doente  evacue  pelo menos de 2 em 2 dias, aumento da ingestão de fibras e de líquidos e utilização de laxantes ou enemas se prescritos.

Promoção da Cominicação

Procurar compreender o doente, pois as repetidas tentativas de se fazer entender sem sucesso são motivo de frustração; pode também tentar­se antecipar as necessidades do doente.

No caso das:

Afasias motoras – tranquilizarem o doente e explicar que tem a campainha ao lado; levá­lo a verbalizar calmamente para conseguir articular; estimulá­lo para acompanhar com gestos.

Afasia sensitiva – falar calmamente para facilitar compreensão, associar a palavra ao abjeto, falar de frente para o doente, utilizar linguagem gestual.

Afasia completa

Disartria – alteração da articulação das palavras – estimular a dizer o som várias vezes ao dia.

Reabilitação Neurofuncional após AVC

Embora  o  grau  de  recuperação  dependa  da  extensão  e  da  localização  do  AVC,  ele  é  muito influenciado  pela  qualidade  do  tratamento  recebido  no  hospital  e  em  casa.  Isso  inclui  a prevenção  e  o  tratamento  de  complicações  (perturbações  intestinais,  contraturas,  retrações, escaras,  etc.),  que  podem  aumentar  o  dano  causado  pelo  AVC.  As  primeiras  semanas imediatas  são  cruciais.  Durante  esse  período,  é  importante  estimular  e  usar  o  potencial  do próprio paciente para a sua reabilitação.

A motivação do indivíduo e o apoio da família e de amigos também vão determinar o grau de recuperação. Alguém que esteja motivado para realizar atividades como comer, vestir­se e lavar a  louça,  poderá  usar,  nestas  atividades,  movimentos  que  ajudarão  a  sua  recuperação.  A qualidade do cuidado e o estímulo dos familiares podem realmente fazer uma grande diferença.

Diretrizes do Tratamento

A  reabilitação  deve  ser  começada  já  nos  estágios  iniciais  do  AVC.  Entretanto,  deve­se  tomar um grande cuidado para prevenir contraturas e escaras, por meio de posicionamento correto na cama  e  atividades  para  amplitude  do  movimento  (ADM).  Assim  que  o  paciente  estiver medicamente  estável,  deve  ser  iniciado  o  tratamento  ativo.  O  tratamento  deve  ser  precoce, intensivo, para que se obtenham resultados proveitosos.

Os objetivos do tratamento são:

● Evitar o desenvolvimento de padrões anormais de movimento, resultantes de tônus muscular anormal;

●   Ensinar  o  paciente  a  não  compensar,  de  maneiras  desnecessárias  e  potencialmente perigosas,  com  o  seu  lado  não  afetado.  Nos  estágios  iniciais  da  recuperação,  se  o  indivíduo compensa com o seu lado não afetado, isso pode aumentar a espasticidade, provocar reações associadas anormais e também não estimular o uso do lado afetado.

Estágios do Programa de Reabilitação

A direção do desenvolvimento do movimento voluntário é do proximal para o distal. Por isso, o controle dos movimentos do tronco superior, do ombro, do tronco inferior e do quadril deve ser estabelecido primeiro. Todos os movimentos dos membros afetados devem ser realizados nos seguintes  estágios  progressivos:  movimento  passivo,  movimento  ativo  assistido  e  movimento ativo.

Depois  disso,  o  paciente  será  capaz  de  movimentar  seu  braço  e  sustentá­lo  no  espaço.  Se houver recuperação suficiente, poderá seguir­se o fortalecimento com exercícios de resistência.

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O progresso na reabilitação do AVC é em geral obtido por meio do trabalho com uma sequência de exercícios progressivos, que seguem de perto o padrão do desenvolvimento motor adquirido pelos bebês.

Por exemplo: rolar → sentar → ficar de pé → andar; ou rolar → ficar de bruços → se apoiar

→ ficar de gato → ficar de pé → andar.

É importante estimular o paciente a realizar todas as atividades da vida diária, para que se torne o  mais  independente  possível.  Ele  deve  aprender  a  se  vestir  e  despir,  a  se  alimentar,  a  ser independente na higiene pessoal.

O último estágio da reabilitação vais se concentrar no movimento voluntário da mão. A precisão dos movimentos da mão pode ser estabelecida quando os movimentos voluntários do ombro e do cotovelo tiverem sido restabelecidos e a mão estiver livre do padrão flexor.

Estímulos Sensoriais

É  importante  fazer  uso  de  estímulos  sensoriais,  tais  como  voz,  tato  e  visão.  Informações verbais vão ajudar o tratamento proporcionando sugestões auditivas. Os comandos dados pelo fisioterapeuta  deverem  ser  curtos  e  de  fácil  compreensão,  deixando  ao  paciente  tempo suficiente para entendê­los. Por exemplo, peça a ele para “pensar” sobre o movimento: “vamos dobrar  e  estender  seu  joelho…  observe  o  seu  joelho…  agora  me  ajude  a  fazer  isso…  sinta  o movimento”. Informação visual também é importante – por exemplo, um espelho de corpo inteiro colocado diante da pessoa vai proporcionar um estímulo sensorial.

Estabelecendo Objetivos

O tratamento deve levar em conta todos os aspectos da perda do indivíduo, e não somente as perdas motoras e sensoriais mais óbvias. O objetivo da reabilitação para o paciente que sofreu um AVC é obter o grau máximo de independência física e psicológica, devendo desenvolver um nível  de  independência  funcional,  não  somente  em  um  ambiente  abrigado,  como  um  hospital, mas  especialmente  em  casa  e  na  comunidade.  Isso  significa  que  o  “tratamento”  deve  ser realizado  em  todos  os  aspectos  do  dia­a­dia,  tornando­se  uma  parte  da  rotina  diária,  e  não realizado  como  uma  atividade  isolada  duas  ou  três  vezes  por  semana,  ou  quando  o fisioterapeuta vai à casa do paciente.

É  o  movimento  ativo  que  promove  a  recuperação  das  habilidades  funcionais.  Realizar movimentos  passivos  com  o  paciente  deitado  na  cama  durante  meses  é  um  mau  hábito.

Alguém que sofreu um AVC deve ser ajudado a executar as atividades diárias normais, mesmo que estas não sejam realizadas com perfeição.

Por exemplo:

●   Levantar­se  da  cama  pela  manha  requer  mobilidade  na  cama,  rolar  para  o  lado  afetado sentar­se com uma perna fora da cama, sair da cama e sentar­se em uma cadeira.

●   Usar  o  banheiro  em  vez  de  fazer  as  necessidades  na  cama,  ser  quase  arrastado  ou carregado  para  o  banheiro,  o  paciente  que  sofreu  o  AVC  deve  ser  ajudado,  pelo  treinador familiar, a ir ao banheiro. Desse modo, andar até o banheiro torna­se parte do “tratamento” do paciente.

●   Balance  sentado:  as  atividades  de  treinamento  são  importantes  para  a  restauração  do equilíbrio ao sentar, especialmente no estágio inicial após um AVC. Sentar­se e pegar um pente ou  um  jogo  de  cartas  colocado  sobre  uma  mesa  próxima  ao  lado  afetada  pode  conduzir  ao mesmo o objetivo. A vantagem é que essas atividades fazem parte da rotina diária.

Planejando o Progresso

Selecionar  as  atividades  que  o  paciente  pode  realizar,  assim  como  habilidades  que proporcionem  seu  progresso  em  um  nível  funcional  mais  elevado.  Pode­se,  frequentemente, fragmentar  uma  determinada  atividade  nos  movimentos  que  a  compõem.  O  paciente  será estimulado a praticar cada componente como um exercício. Nos estágios finais do tratamento, a atividade pode ser praticada por inteiro, no inicio do tratamento, para melhorar os movimentos e o controle do quadril, a ponte é uma habilidade funcional que segue esta melhora.

A Capacidade do Indivíduo

Deve­se  evitar  a  frustração  do  fracasso.  Qualquer  progresso  no  programa  deve  ser  realizado dentro  da  capacidade  do  paciente.  Por  exemplo,  o  paciente  deve  aprender  a  equilibrar­se  ou estabilizar­se em uma posição antes que seja solicitado a mover­se dessa posição.

Posicionamento Correto e Manuseio Inicial

O posicionamento correto é muito importante, especialmente no estágio agudo do AVC. O bom posicionamento vai ajudar a:

● Prevenir deformidades músculo­esqueléticas;

● Prevenir escaras;

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● Prevenir problemas circulatórios (sanguíneos e linfáticos);

●   Enviar  informações  normais  ao  cérebro,  contrastando  com  a  ausência  temporária  de informações sensoriais causada pelo AVC;

● Promover o reconhecimento e a consciência do lado afetado.

Ficar deitado na cama durante várias horas na mesma posição não é bom para o paciente que sofreu um AVC. O simples fato de mudar de posição vai proporcionar estímulos diferentes, que podem ajudar a restaurar a função sensorial. O mau posicionamento vai levar à rigidez, a uma limitação  na  amplitude  de  movimento  e  a  retrações  musculares.  Todas  essas  são  condições que pioram a incapacidade causada pelo AVC.

A posição do paciente na cama deve ser ajustada e modificada a cada duas ou três horas. As posições devem ser alternadas entre deitar de costas (supino) e deitar de lado (decúbito lateral) sobre  os  dois  lados,  e  assim  por  diante.  Dessa  maneira,  a  posição  das  articulações  e  das partes do corpo se alterará e, como resultado, estímulos diferentes serão enviados ao cérebro.

No  entanto,  o  posicionamento  não  deve  ser  aplicado  de  maneira  estrita  ou  estática.  Será  um meio para prevenir limitações articulares, e não uma fonte de outras limitações.

Nota: O posicionamento do quadril e do ombro é de fundamental importância. Ambos devem ser mantidos para frente, com a perna levemente rodada para dentro e o braço, para fora.

O  posicionamento  cuidadoso  do  corpo  deve  continuar  durante  todo  o  tratamento.  Lembre­se sempre de encarar o corpo como um todo e de posicioná­lo em conformidade com isso. Se um exercício  envolve  a  parte  superior  do  corpo,  a  posição  da  parte  inferior  deve  ser  levada  em conta, e vice­versa.

De inicio, o paciente fica posicionado passivamente.

A posição pode ser mantida com a ajuda de travesseiros macios, ou a pessoa pode ser rolada com o auxílio de lençóis ou toalhas. Evita estímulos muito fortes na pele. Um travesseiro pode ser  posicionado  de  modo  a  manter  os  tornozelos  em  uma  boa  posição  e  o  joelho  levemente dobrado (em especial quando a perna está completamente mole).

O  paciente,  então,  pode  ser  ensinado  e  ajudado  a  se  mover  e  a  manter  essas  posições  sem ajuda  e  sem  auxílio  de  apoio.  Quando  o  posicionamento  correto  é  usado  rotineiramente,  o paciente começa muito rapidamente a se posicionar da melhor forma possível.

Quando mudar uma posição, não puxe o braço segurando a mão ou punho. O braço deve ser apoiado  nos  níveis  proximal  e  distal  e  gentilmente  guiado  para  as  diferentes  posições.  O paciente finalmente precisará de menos apoio, ou será capaz de mudar sozinho de posição.

O manuseio e o posicionamento correto previnem complicações indesejadas, ajudando também a restaurar a atividade motora funcional. As diferentes atividades da vida diária transformam­se em “terapia”.

Influência da Posição no Tônus Muscular

Algumas  posições  podem  aumentar  o  tônus  muscular,  enquanto  outras  podem  diminuir  ou influenciar  o  desenvolvimento  do  padrão  do  espasmo.  Por  isso,  o  posicionamento  correto  é usado para influenciar o tônus muscular e promover a recuperação.

Assim, qualquer posição só deve ser adotada após uma avaliação cuidadosa das necessidades do  indivíduo.  Por  exemplo,  quando  é  necessário  aumentar  o  tônus  muscular  em  uma  perna flácida  usando  a  posição  supino,  o  braço  deve  ser  posicionado  com  um  cuidado  extra, especialmente se está desenvolvendo espasticidade.

Dor no Ombro no Paciente com AVC

A  dor  no  ombro  hemiplégico  é  freqüente  e  encontra­se  entre  uma  das  complicações responsáveis  pelo  alto  grau  de  incapacidade  funcional  e  sofrimento  para  o  paciente  após  o AVC5. A prevalência de dor no ombro, após esse tipo de evento, segundo a literatura, varia em entre 47% e 72%. Seu aparecimento costuma ocorrer em duas a três semanas após AVC.

Principais Causas de Ombro Doloroso no Paciente com AVC

Mobilização  do  membro  superior  paralisado  em  torno  da  amplitude  de  movimento  (ADM).  É imperativo que se tenha cautela no manuseio do paciente pela enfermagem e acompanhantes, bem  como  no  programa  de  reabilitação.  Deve­se  promover  a  abdução  da  articulação  gleno­

umeral  com  a  adequada  rotação  externa,  pois  movimentos  de  fora  desse  padrão  tendem  a causar dor nesses pacientes.

Distrofia simpático­reflexa (DSR)

Caraterizada,  segundo  os  critérios  de  Veldman  et  al.,  pela  presença  de,  pelo  menos,  três

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sintomas  e  sinais  da  listagem  a  seguir:  sensação  de  frio  no  braço;  alteração  de  sensibilidade (amortecimento e agulhadas); pele úmida, sudoréica; edema; alterações de coloração; limitação de ADM ativa no ombro e/ou braço. Também tem sido nomeada como síndrome complexa de dor regional (SCDR), sua prevalência varia de 10%2 a 23% dos casos.

Ombro congelado e Capsulite Adesiva

Em  geral  reunidos  em  um  único  grupo,  cujo  acometimento  é  na  cápsula  que  se  apresenta fibrosada  e  inelástica  com  diminuição  do  volume  do  líquido  sinovial,  constituem  outra  causa freqüente de dor nessa topografia em virtude do comprometimento da ADM do ombro, em todas as direções, especialmente às rotações interna e externa. Tanto a artrografia como a exploração cirúrgica mostra retração capsular, especialmente ântero­inferiormente, com cartilagem articular normal.

Limitação de ADM

Fenômeno  observado  e  muito  descrito  concomitante  às  causas  de  dor  no  ombro  hemiplégico, na  grande  maioria  dos  estudos  na  literatura.  Está  associada  à  capsulite  adesiva  e/ou espasticidade, por um aumento do tônus dos adutores e rotadores internos. O uso excessivo de tipóias,  que  mantém  o  membro  em  pronação  e  adução,  facilita  o  aparecimento  de  capsulite adesiva e SCDR.

Espasticidade

Uma das causas mais importantes para o desenvolvimento de dor no ombro hemiplégico, como fator de atuação direta na limitação de ADM e no desalinhamento da articulação gleno­umeral.

Estudos  na  literatura  citam  o  uso  de  bloqueios  químicos  (fenol  ou  toxina  botulínica),  no  alívio dos quadros dolorosos no membro hemiplégico.

Lesões de partes moles

Representadas,  particularmente,  pelas  afecções  tendíneas,  cuja  prevalência  é  de  cerca  de 25%14  em  ombros  de  pacientes  com  história  de  AVC  e  seqüelas  de  perda  de  força.  As artropatias degenerativas e a rotura do manguito rotador estão presentes também em 16% no lado  normal.  A  literatura  descreve  a  fisiopatogenia  das  roturas  do  manguito  rotador  no hemiplégico  como  conseqüência  do  desalinhamento  da  articulação  gleno­umeral,  geralmente associado à degeneração articular com ou sem lesão do ligamento córaco­umeral associada à espasticidade mal­controlada.

Lesão nervosa periférica

Geralmente  localizada  no  plexo  braquial  ou  em  suas  raízes.  Ocorre  quando  o  efeito  da gravidade  sobre  o  membro  parético  distende  as  raízes  integrantes  do  plexo.  Atrofia  muscular segmentar,  contratura  tipo  “garra”  em  mãos,  retorno  neurológico  atípico  da  função  do  membro superior,  anormalidades  no  início  da  espasticidade  dos  músculos  envolvidos  e eletroneuromiografia  sugestiva  são  fortes  indicativos  para  suspeitar­se  de  lesão  nervosa periférica.

Dor central

Também  conhecida  como  dor  talâmica,  é  uma  causa  pouco  freqüente  de  dor  nos  pacientes hemiplégicos.  Sua  fisiopatologia  ainda  é  pouco  conhecida,  porém,  acredita­se  que  uma insuficiência de atividade do sistema inibidor de dor e a presença de correntes efáticas estejam envolvidas na sua origem.

Caracteriza­se  por  dor  lancinante,  como  arrancamento  e  choques,  acometendo  não  apenas  o membro deficiente, mas todo o hemicorpo afetado. Seu tratamento é complexo, baseando­se no uso de psicofármacos, anticonvulsivantes e procedimentos neurocirúrgicos.

Subluxação

Sua prevalência é bem variável: 17%5 a 75%7, nos pacientes após AVC. Essa grande variação na freqüência da subluxação decorre da variabilidade grande de critérios diagnósticos usados, sejam  eles  clínicos  ou  imagenológicos.  A  maioria  dos  trabalhos  mais  recentes  não  faz associação  significativa  entre  subluxação  e  dor,  mesmo  utilizando  diferentes  técnicas diagnósticas comparando ombro normal e o paralisado.

Segundo  esses  mesmos  estudos,  a  fisiopatogenia  da  subluxação  deve­se  ao  déficit  de  força muscular, sendo pior no membro flácido, e no logo após a instalação do icto, quando a tensão e o  estiramento  sobre  a  cápsula  e  ligamentos,  exercida  pela  gravidade,  é  maior  com  risco  de rotura do ligamento córaco­umeral.

Síndrome dolorosa miofascial (SDMF)

Definida como uma síndrome dolorosa localizada, caracterizada pela presença de pontos­gatilho (PGs).

Referências

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