• Nenhum resultado encontrado

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO RELATÓRIO TÉCNICO. Palavras-chave: Líder; Orçamento Participativo Digital; Volta Redonda; Políticas Públicas.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO RELATÓRIO TÉCNICO. Palavras-chave: Líder; Orçamento Participativo Digital; Volta Redonda; Políticas Públicas."

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

1

Influência das associações de moradores nas políticas públicas no município de Volta Redonda

Jorge Manoel Galocha – jorge.galocha@uol.com.br – UFF/ICHS

Resumo

O tema desenvolvido neste trabalho tem como objetivo investigar a causa da baixa participação cidadã no Orçamento Participativo - OP no município de Volta Redonda-RJ para buscar maior mobilização comunitária, melhorar a representação dos moradores, influenciar nas decisões governamentais e ampliar os serviços públicos ofertados. A metodologia é a de observação direta e pesquisa de campo de abordagem qualitativa por meio de entrevistas semiestruturadas, além da pesquisa documental para descobrir o problema ocorrido quando presidente da associação de moradores local entre os anos de 2016 e 2017, bem como descobrir junto a outros pares, com a mesma experiência, possíveis outros diagnósticos para o problema. O desenvolvimento da pesquisa limita-se às associações de moradores e lideranças e passa pela segurança das questões devido os atores serem experientes na função para um tema que é relevante, oportuno e fácil de obter informações. O retorno da investigação poderá contribuir para o processo de cooperação entre líder local/cidadão/poder público. O resultado que se espera será compreender o problema e propor alternativas para uma melhor participação dos moradores.

Palavras-chave: Líder; Orçamento Participativo Digital; Volta Redonda; Políticas Públicas.

1 - Introdução

No exercício do cargo eletivo de presidente de associação de moradores do bairro pode-se perceber que a falta de parceria entre a associação e o poder público prejudica o desenvolvimento da sociedade local pelo não entendimento dos problemas sociais e suas consequências.

Wampler (2011, p. 44) afirma, baseado na sua própria percepção de eficácia de mudanças efetivas, que “as lideranças comunitárias têm vários canais que podem demandar mudanças políticas.” Ou seja, para o desenvolvimento da sociedade, principalmente da comunidade local, os líderes locais são veículos de mudanças importantes nas políticas públicas.

Sampaio (2018) lembra que qualquer agrupamento social ao canalizar ações coletivas ou congregar indivíduos pode ter êxito ou fracasso a partir do conflito que se

(2)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

2 discutiu. Nas políticas públicas o interesse é tanto do governo em atender as demandas dos cidadãos quanto dos moradores em ver atendidos as suas reivindicações, e neste caso, os conflitos devem ser minimizados.

Uma associação de moradores é uma instituição prevista no Código Civil Brasileiro no Art. 54, inciso I, e é regido por estatuto onde deve dispor os fins a que se destina. Tem como objetivo fim, detalhado e determinado pelo estatuto da entidade, representar os moradores diante do poder público ou fora dele.

O problema em foco deste estudo tem como objetivo descobrir a baixa participação dos moradores locais no Orçamento Participativo Digital – OPDigital/2017 - da cidade de Volta Redonda demonstrada através do quantitativo de presenças registradas nas Atas das Assembleias que foram disponibilizadas para pesquisa pela Prefeitura para mobilizar a comunidade no intuito de sensibilizar o poder público, um assunto de grande importância para a comunidade. Diante disto se faz necessário o estudo para investigar a causa deste problema e propor uma possível solução para sanar a falha/desinteresse dos moradores pela baixa participação que não atenderam as chamadas para participação, no caso do Orçamento Participativo Digital – OPDigital - da cidade no ano de 2017.

O estudo limita-se às associações de moradores e na sua liderança. O método adotado é a observação direta para levantamento dos possíveis diagnósticos que foram submetidos a líderes que vivenciaram o mesmo processo do OPDigital, além de um plano de Ação para trabalhar nas causas.

2 – Apresentação do Caso

O objeto deste estudo envolve a Administração Pública, a política pública Orçamento Participativo Digital e as Associações de Moradores.

Volta Redonda é uma cidade do Estado do Rio de Janeiro localizada na mesorregião geográfica Sul Fluminense e microrregião geográfica do Vale do Paraíba Fluminense abrigando em seu território de 182,105 km² uma população estimada de 271.998 pessoas em 2018, perfazendo em 2010 uma densidade média de 1.412,75 hab/km2 e IDHM de 0,771, com receitas realizadas de R$ 869,3 milhões em 2017 e PIB per capita de R$ 39.679,43 em 2016, segundo o IBGE.

(3)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

3 Na política pública Orçamento Participativo Digital, Figueiredo (2014, p. 16) ensina que “O OP Digital é um processo que permite a participação dos cidadãos na determinação da política monetária, e, consequentemente, no direcionamento dos recursos públicos, em um ambiente virtual.”

As Associações de Moradores são entidades civis representativas dos moradores dos bairros, cuja presidência e diretoria são eleitos para exercerem a liderança por determinado período de anos; podem variar de tamanho, como número de diretorias; estrutura, como sede física; espaços de convivência com salões de festas; além de espaços reservados para trabalho de escritório com computadores para atendimento aos moradores associados, incluindo depósitos. O modelo de organização deve ser de modo a não infringir o Código Civil Brasileiro no que diz respeito ao formato do estatuto e funcionamento da sociedade civil.

Atualmente a cidade de Volta Redonda é dividida em 52 bairros oficiais, segundo o IBGE, e dentre os bairros existem 47 associações de moradores ativas junto à prefeitura, as quais registraram atas das assembleias dos moradores para a política pública OPDigital/2017.

Este trabalho tem como objetivo descobrir a baixa participação dos moradores dos bairros na política pública Orçamento Participativo Digital para melhorar a mobilização e sensibilizar o poder público.

2.1 – Diagnóstico

A vivência diária como líder da comunidade pode-se observar a baixa participação e baixo entrosamento entre os moradores locais e o poder público na cobrança e conquista de melhores serviços públicos. No caso da política pública OPDigital/2017, as observações em campo foram submetidas e limitada a outros líderes de associações através de entrevistas semiestruturadas como possíveis diagnósticos, e tentar descobrir outros diagnósticos mais abrangentes para a baixa participação popular na referida política pública.

Na amostragem dos bairros de Volta Redonda mostra, entre os 47, os mais significativos que realizaram assembleias no ano de 2017 para o Orçamento Participativo Digital – OPDigital. Para delimitar as entrevistas foram entrevistados 3 líderes, os quais conseguiram reunir maior presença nas assembleias dentre a quantidade aproximada de moradores, isto é, número de moradores aproximados versus maior participação. A letra A e

(4)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

4 letra A’ correspondem ao quantitativo de residentes aproximados. Assim, entre os bairros Candelária do líder A e Aero Club do líder A’ de quantitativos de residentes próximos, 1559 e 1714, respectivamente, optou-se por entrevistar o líder A que reuniu maior participação com 35 presentes na assembleia e descartado o líder A’ que reuniu apenas 5 presentes na assembleia. O mesmo critério adotado para os bairros Açude I do líder B e Siderlândia do líder B’ e para os bairros Santo Agostinho do líder C e Retiro do líder C’.

A Tabela 1 mostra os elementos envolvidos na escolha dos líderes a serem entrevistados.

Tabela 1 – Porcentual da População dos bairros mais significativos

Participantes % Bairro Nº de partic. População Relação

3,33 Pinto da Serra 23 691

2,25 Siderópolis 47 2.085

2,25 Candelária 35 1.559 A

0,93 Açude I 85 9.137 B

0,40 Santo Agostinho 104 26.194 C

0,29 Aero Clube 5 1.714 A'

0,19 Siderlândia 17 9.130 B'

0,17 Vila Mury 15 8.703

0,12 Retiro 34 28.550 C'

0,05 São Luiz 3 6.274

Fonte: elaborado pelo autor com base nas Atas das Assembleias do OPDigital de Volta Redonda no ano de 2017 e quantidade populacional com base do IBGE 2010 estimada para 2017.

2.2 – Orçamento Participativo adotado

O prefeito da cidade de Volta Redonda, o Senhor Samuca Silva, inovou e, de uma forma inédita na cidade do aço, pôs em prática o Orçamento Participativo em conjunto – o tradicional e digital – o que foi considerado somente como Orçamento Participativo Digital. O Orçamento Participativo presencial foi realizado através de assembleias dos moradores onde puderam indicar as obras e melhorias no bairro e a outra parte votando as prioridades dentre as escolhidas, mas desta vez de forma digital com a adoção das tecnologias da informação e da comunicação (TIC). O governo colocou à disposição dos munícipes um site específico para votação das prioridades entre as demandas listadas nas assembleias com os moradores de cada

(5)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

5 um dos 47 bairros que aderiram às assembleias com envolvimento de 1430 participantes presentes. O formato desta votação virtual pode-se colocar à disposição de todos os moradores para votarem individualmente a prioridade escolhida, ampliando assim a oportunidade de maior participação. Findo essas etapas, realizou-se o I Fórum do OPDigital para outras explicações e onde se pôde eleger um titular e um suplente para representar cada um dos 12 setores da cidade (agrupamento de bairros) entre os presidentes de associação de moradores para acompanhamento do Orçamento Participativo a ser executado em 2018.

2.3 – Entrevistando os líderes

As entrevistas para tratar o problema e submeter os possíveis diagnósticos observados em campo com formato de texto descritivo com auxílio de questionários para visitar os presidentes de associação de moradores selecionados, os quais conseguiram reunir maior número de presenças nas assembleias para o OPDigital/2017, os mais representativos para contribuir com suas experiências na maior mobilização dos moradores, ou seja, os líderes dos bairros Candelária, Açude I e Santo Agostinho, e descartados os menos representativos da relação contrária. Estes presidentes de associações de moradores eleitos para liderarem a comunidade a cada período de anos de acordo com um estatuto que obedece a legislação são representantes legítimos dos moradores diante do poder público ou fora dele. Associações estas que podem variar de número de diretores e tamanho da sede física para receberem os moradores para reuniões ou para lazer.

As respostas às questões visando o processo do OPDigital/2017 para buscar a mobilização e influenciar na política pública seguem de acordo com a Tabela 2.

Tabela 2 – Respostas dos Líderes A, B e C

QUESTÕES / Perspectivas Líder 25% 50% 75% 100%

Conhecimento da comunidade/comportamento

A

B

C

Conhecimento do bairro/instalações públicas

A

B

C

Comunicação visando o processo do OPDigital

A

B

C

(6)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

6 Interesse dos moradores

A

B

C

Disponibilidade de tempo/dedicação por semana

A

B

C

Recursos humanos para promover a comunidade

A

B

C

Recursos financeiros/materiais para alavancar a comunidade

A

B

C

Houve interferência política interna?

A

B

C

Apoio dos moradores no processo ajudaria?

A

B

C

Seu conhecimento do processo ajudaria?

A

B

C

Houve interferência política externa?

A

B

C

Fonte: elaborado pelo autor

Na entrevista, cuja questão: Conhecimento da comunidade/comportamento da mesma, o líder A respondeu que conhece a sua comunidade e seu comportamento em 50%, enquanto os líderes B e C responderam em 75%; na questão: Conhecimento do bairro/instalações públicas, as respostas foram diferentes, mas maior do que 50%; na questão:

Comunicação visando o OPDigital entre a comunidade, os líderes A e B disseram conseguir atingir 50% dos moradores, enquanto o líder C atingiu 75%; na questão: Interesse dos moradores, os líderes A e B disseram que 50% dos moradores mostraram interesse, enquanto o líder C foi de 75%; na questão: Disponibilidade de tempo/dedicação por semana, o líder A só atingiu 25% do tempo necessário, enquanto o líder B a dedicação foi exclusiva, e o líder C só podia se dedicar em 50% da necessidade de tempo; na questão: Recursos humanos para promover a comunidade, os líderes A e B só dispunham de 25% do necessário, enquanto o líder C contava com o apoio dos 100% dos diretores da associação e apoio da comunidade; na

(7)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

7 questão: Recursos financeiros/materiais para alavancar a comunidade, o líder A contava com 50%, enquanto os líderes B e C contavam com somente 25% da necessidade que precisavam;

na questão: Houve interferência política interna? Os líderes A e C responderam que 25% dos diretores da associação aproveitaram para fazer política partidária, enquanto o líder B, respondeu ter ocorrido o problema entre os 50% dos diretores; na questão: Apoio dos moradores ajudaria no processo? Para os líderes A e B apenas 25% do apoio dos moradores ajudaria no processo, enquanto o líder C respondeu que precisou da ajuda de 75% dos moradores; na questão: Seu conhecimento do processo ajudaria? Para o líder A ajudaria em 50% da necessidade, enquanto para os líderes B e C, necessitavam de 75% de treinamento para conhecerem o processo; na questão: Houve interferência política externa? Para os líderes A e C houve interferência em somente em 25% do tempo que o processo do OPD se apresentou na comunidade, enquanto para o líder B houve mais interferência e teve dificuldade porque os políticos queriam tomar a frente dele.

3 – Referencial Teórico

Uma associação de moradores é uma entidade local, cuja presidência é eleita pelos mesmos moradores e representativa para tal missão, de acordo com um estatuto e com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Art. 5º, parágrafos XVII a XXI, é jurídica, de direito privado e sem fins lucrativos. Especificamente no parágrafo XXI orienta que “as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente”. No Código Civil no seu Art. 53 diz

“Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos, e no Art. 54, inciso I traz a exigência de um estatuto com “a denominação, os fins e a sede da associação”.

Na política pública, a partir da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 em seu Art. 165, inciso III coloca que é de inciativa do executivo ordenar o Orçamento Anual, após o Orçamento Plurianual e Diretrizes Orçamentárias, incisos I e II, respectivamente. No parágrafo 9º deste mesmo artigo inciso I orienta que a lei complementar disporá sobre a elaboração e organização em lei para o Orçamento Anual. Mais tarde a Lei

(8)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

8 Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 em seu Art. 48, inciso I é, então, regulamentado a participação popular durante o processo do orçamento.

Na política pública Orçamento Participativo Digital, Figueiredo (2014, p.16) ensina que “O OP Digital é um processo que permite a participação dos cidadãos na determinação da política monetária, e, consequentemente, no direcionamento dos recursos públicos, em um ambiente virtual.”

3.1 – Iniciativas dos governos com o Orçamento Participativo

Ao analisar a origem do Orçamento Participativo - OP para compreender a situação a ser estudada constatamos a amplitude que essa política pública atingiu. Partindo do Brasil, mais precisamente no Estado de Porto Alegre, a iniciativa atingiu o mundo e ainda mudou, tanto as percepções, quanto a política social por onde aconteceu a experiência dos governos e de instituições internacionais, além de ser reconhecido por aqueles que dela tomaram conhecimento. De acordo com os autores que estudaram o alcance da iniciativa, "Quando o orçamento participativo surgiu no Brasil, o contexto era um tanto peculiar. Em um país caracterizado por uma das maiores disparidades de distribuição de renda no mundo, os anos 1980..." (SINTOMER; HERZBERG; RÖCKE, 2012, p. 77), e em instituições como o "O Banco Mundial, que em 2000 concordou em incentivar “políticas para redução da pobreza”, está desempenhando um papel significativo na proliferação desse tipo de orçamento participativo..." (SINTOMER; HERZBERG; RÖCKE, 2012, p. 83). Na visão desses sociólogos "Pode-se argumentar que, das perspectivas política e filosófica, esse modelo é o mais estimulante, por combinar uma forte participação com impactos sobre a justiça social..."

(SINTOMER; HERZBERG; RÖCKE, 2012, p. 101). De acordo com Teixeira et al (2006), citado por Oliveira et al (2016), a experiência de discutir o orçamento participativo começou em Vila Vela entre os anos de 1986 e 1989, mas a prática com Orçamento Participativo foi adotada de fato nos anos de 1989/1992, em Porto Alegre, um projeto político de participação democrática do Partido dos Trabalhadores. Com o sucesso conseguido, depois houve crescimento pelos municípios pelo Brasil. Para Camarin (2011), o OP é um método que pode garantir a agilidade do atendimento ao cidadão, além de congregar o compartilhamento deles com a realidade sociopolítica municipal, sendo assim um modo inteligente de envolver os

(9)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

9 cidadãos na vida da cidade. Figueiredo; Santos (2013), consideram o OP como instrumento de participação social onde o poder executivo e os cidadãos compartilham e formulam propostas orçamentárias podendo, assim, valorizar o debate e enriquecer as escolhas, favorecendo projetos e atividades de interesse da sociedade assistida. Para Wampler (2011, p. 45) que conduziu os trabalhos do OP em campo em Belo Horizonte, essa política pública teve efeito redistributivo quando foi implementado, no período de 2009-2010, quando “57% dos recursos destinados e empenhados ao programa foram gastos em bairros de alta vulnerabilidade social – os quais concentram 34% dos moradores da cidade.” O autor afirma que ao conhecer os recursos do OP, os tipos e locais dos projetos se tornam mais fácil mensurar os impactos.

3.2 – Orçamento Participativo – OPDigital

Com o advento das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC – houve um maior desenvolvimento rumo a modernização para aproximar o poder público com os munícipes. Assim, no Orçamento Participativo Digital a ação é através do uso das dessa prática pode fazer diferença. Segundo Abreu (2016, p. 797) "As novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC) aproximam as pessoas e as organizações, conectam freneticamente os indivíduos por meio do celular, da internet e de tantos outros modos.". Em suas considerações finais o mesmo autor mostra a diferença entre a ação através do uso dessas tecnologias e a ação tradicional:

Para Abreu (2016, p. 818)

...enquanto os debates nas assembleias presenciais seguem, praticamente, um mesmo tom, vivenciados por pessoas de um mesmo extrato social, o OPD rompe a barreira física, possibilitando que um morador da Zona Sul (de maior poder aquisitivo) exponha sua ideia, manifeste sua opinião e debata com um morador de uma região mais pobre, sem a necessidade de ir a um centro comunitário na periferia.

Diante de várias experiências pelo Brasil com o Orçamento Participativo, sua democratização e com a participação popular, um caso estudado, o Orçamento Participativo de Vitória da Conquista no Estado da Bahia demonstrou que houve vantagens e desvantagens na aplicação dessa política pública quanto ao comportamento dos atores. Para Robert Dahl (1981 apud NOVAIS; SANTOS, 2014) há maior participação e autonomia junto ao governo onde há hegemonia entre as pessoas. Por outro lado, em sociedades modernas há desinteresse

(10)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

10 na política pública. Além disso a experiência do governo local não teve o sucesso esperado devido a outros elementos da política pública implantada por falhas no processo de planejamento, como indefinição das prioridades, os custos, o tempo de execução, a incapacidade de fiscalização e o pouco conhecimento institucional (NOVAIS; SANTOS, 2014). Para Matkievicz (2017), o OP associado às TIC, o que resulta no OPDigital, é uma nova alternativa e favorece para a sociedade participar mais dos orçamentos, mas alerta que o Orçamento Participativo em conjunto – tradicional mais digital – se complementam e não devem ser utilizados sozinhos por ambos possuírem vantagens e desvantagens. Figueiredo (2014) estudando o OPDigital de Belo Horizonte chama a atenção para o caráter sinuoso o processo dessa modalidade, pois enquanto a população define e elege suas prioridades, alternadamente, é necessário a atuação de especialistas para resolver questões técnicas e suas especificidades em áreas de engenharia, contabilidade, direito, entre outras, enquanto o governo precisa orientar os participantes para melhorar a tomada de decisão. Nessa relação de proximidade com os cidadãos pode contribuir e ligar o OPDigital à transparência pública.

Este mesmo autor lembra que houve uma queda considerável da participação popular entre a primeira edição de 2008 e a de 2011 em 86%. Oliveira (2014 apud FIGUEIREDO, 2014. p.

96) lista alguns problemas que podem ter contribuído para essa queda, como: “à não execução dos empreendimentos escolhidos em 2008; exclusão dos líderes sociais nas decisões sobre as obras candidatas; falta de informações regulares; divulgação muito próxima ao período do pleito, entre outras.”

4 – Plano de ação

Considerando as informações das entrevistas dos líderes comunitários faz-se necessário a elaboração de um plano de ação para sanar ou minimizar os problemas encontrados nas entrevistas para amparar futuros procedimentos de planejamento que facilite às associações de moradores na alocação das receitas no orçamento público para melhor atender às reais necessidades dos moradores locais tendo como consequência a melhoria da cidade e o bem-estar social, além da busca de parceria/comprometimento entre cidadãos e governos, ou um auxílio aos governos para sucessos das políticas públicas.

O plano de ação está configurado na Tabela 3.

(11)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

11 Tabela 3 – Plano de ação para a organização associação de moradores

O QUÊ POR QUÊ QUEM ONDE QUANDO COMO QUANTO

CUSTA

Conhecer a comunidade, seu

comportamento, o território do bairro e as instalações públicas

Para saber o convívio dos

moradores, a dimensão e o estado das

instalações, se precisam de

melhorias

Líder e membros

Na

comunidade

Antes da data da política pública

Visitar e conversar com os moradores

1 h/dia

Melhorar a comunicação entre a comunidade visando a política pública

Para atingir o objetivo para a mobilização dos

moradores

Líder e membros

Na

comunidade

Antes da data da política pública

Usar os canais de comunicação pessoal, como:

divulgação pela web, apresentações em reuniões etc.

1 h/dia

Despertar o interesse dos moradores e buscar o envolvimento de todos

Para atingir o objetivo para a mobilização dos

moradores

Líder e membros

Na

comunidade

Antes da data da política pública

Visitar e conversar com os moradores

1 h/dia

Aumentar o tempo de dedicação por semana visando a política pública

Para intensificar na

mobilização dos

moradores

Líder e membros

Na

comunidade

Antes da data da política pública

Controlar hora e calendário

-

Motivar e apoiar os recursos humanos para promover a comunidade

Garantir melhor amplitude dos objetivos

Líder Na

comunidade

Antes da data da política pública

Usar os canais de comunicação pessoal, como:

divulgação pela web, apresentações

1 h/dia

(12)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

12 em reuniões

etc.

Assegurar de recursos financeiros e materiais, como carro de som e outros materiais de propaganda

Garantir melhor amplitude dos objetivos

Líder e membros

Na

comunidade

Antes da data da política pública

Planejar a busca de recursos

R$ 30,00/h

Cuidar e controlar os membros da diretoria quanto ao jogo político

Para melhor trabalhar o objetivo

Líder Na

associação

Durante a política pública

Usar os canais de comunicação pessoal, como:

divulgação pela web, apresentações em reuniões etc.

1 h/dia

Buscar o conhecimento da política pública

Para atingir o objetivo com eficácia

Líder e membros

No órgão público

Durante a política pública

Ler e estudar

os subsídios 1 h/dia

Cuidar da interferência política externa na comunidade

Buscar evitar e afastar

Líder

Na

associação e na

comunidade

Durante a política pública

Usar os canais de comunicação pessoal, como:

divulgação pela web, apresentações em reuniões etc.

1 h/dia

Fonte: elaborado pelo autor

O Plano de Ação acima apresenta-se uma ferramenta de gestão de forma estruturada para corrigir o problema levantado. Como documento estabelece as ações e os procedimentos a serem trabalhadas guiando o executor ao foco das intervenções para equilibrar as prioridades sugeridas. As ações envolvem tanto o Líder sozinho quanto ele agindo em conjunto com os membros da associação (diretores) em grande parte na comunidade, e na

(13)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

13 ação temporal apenas em duas situações: antes da política pública e durante o processo da política pública.

5 – Conclusão

O objetivo do estudo foi para verificar com a experiência de outros líderes comunitários a causa da baixa participação dos moradores dos bairros na política pública Orçamento Participativo Digital/2017 com a submissão de possíveis diagnósticos através de entrevistas semiestruturadas. As questões destaques levantadas, se para os líderes B e C o conhecimento do processo ajudaria, os líderes A e B responderam que o apoio dos moradores pouco ajudaria no processo. A conclusão deste trabalho sugere conhecer mais a política pública e não desprezar tanto o apoio comunitário, pois tanto o conhecimento das políticas públicas quanto receber apoio para implementação ajudam na comunicação e na harmonização dos moradores para elevar a participação e a mobilização, sem deixar de trabalhar as outras ações propostas. Robert Dahl (1981 apud NOVAIS; SANTOS, 2014) ensina que há maior participação e autonomia junto ao governo onde há hegemonia entre as pessoas. Outras seis questões da entrevista podem ser trabalhadas antes da política pública para antecipar a conscientização da comunidade e minimizar o possível problema de divulgação muito próxima do evento por parte dos governos, como ensina Oliveira (2014 apud FIGUEIREDO, 2014). Considerando que os três líderes entrevistados reuniram maior número de presentes nas assembleias em relação às lideranças que reuniram poucos participantes, o resultado tende a melhorar para todos.

Os resultados poderão servir aos líderes comunitários que desejarem mobilizar a comunidade e influenciarem o poder público na busca de melhorias para os bairros, seja através do Orçamento Participativo, seja em outras políticas públicas que demandam a mobilização dos moradores, como nas vacinações, no combate à Dengue, etc. Caso não coloquem em prática o plano de ação deste estudo, a participação dos moradores não será tão efetiva, ou a comunidade terá dificuldades em influenciar a Administração Pública na alocação dos recursos públicos desejados pela comunidade.

O estudo poderá ser mais bem explorado com a ampliação de mais frequência das edições do OPDigital ou outra política pública que envolvam a mobilização dos moradores, e

(14)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

14 com mais líderes pesquisados, entre outras questões como: o tipo de líder e o perfil econômico, social e maturidade, tanto dos líderes quanto dos participantes.

6 – Referências

ABREU, J. C. A. Participação democrática em ambientes digitais: o desenho institucional do orçamento participativo digital. Fundação Getúlio Vargas, Cadernos EBAPE.BR, v. 14, n. 3, Art. 8, p. 794-820. Rio de Janeiro, Jul./Set. 2016. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/cebape/v14n3/1679-3951-cebape-14-03-00794.pdf>. Acesso em:

03 nov. 2017.

BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.

Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/const/con1988/CON1988_07.05.2015/ind.asp>. Acesso em: 22 abr. 2017.

_______. Código Civil Brasileiro. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 06 mai. 2018.

_______. LEI COMPLEMENTAR Nº 101, DE 4 DE MAIO DE 2000. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp101.htm>. Acesso em 06 mai. 2018.

_______. IBGE. Cidades e Estados. Disponível em:

<https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/rj/volta-redonda.html>. Acesso em 17 abr. 2019.

_______. IBGE. Situação domiciliar da população residente na sede municipal. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/761>. Acesso em 06 mai. 2018.

_______. IBGE. Unidades Territoriais do Nível Bairro. Disponível em: <

https://sidra.ibge.gov.br/territorio#/N102/IN%20N6%203306305>. Acesso em 06 mai. 2018.

(15)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

15 CAMARIN, A. L. Comunicação pública e os interesses do cidadão: uma perspectiva de relações públicas. Trabalho de Conclusão de Curso (bacharel em Comunicação Social - habilitação em Relações Públicas) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de

Arquitetura, Artes e Comunicação, 2011. Disponível em:

<http://hdl.handle.net/11449/128207>. Acesso em 17 abr. 2019.

FIGUEIREDO, F. de C. Modelo de orçamento participativo digital no contexto da cidade estratégica. 2014. 118 f. Tese (doutorado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

Curitiba. Disponível em:

<http://www.biblioteca.pucpr.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2987>. Acesso em:

18 abr. 2019.

FIGUEIREDO, V. da S.; SANTOS, W. J. L. dos. Transparência e controle social na Administração Pública. Revista Temas de Administração Pública, UNESP, São Paulo, v. 8, n. 1, 2013. Disponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/temasadm/article/view/6327>. Acesso em: 17 abr. 2019.

MATKIEVICZ, M. Orçamento público e suas relações com a cidade digital estratégica.

2017. 172 f. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba.

Disponível em:

<http://www.biblioteca.pucpr.br/pergamum/biblioteca/img.php?arquivo=/00005f/00005f4d.p df>. Acesso em: 18 abr. 2019.

NOVAIS, F. S.; SANTOS, M. E. P. O Orçamento Participativo e a democratização da gestão pública municipal — a experiência de Vitória da Conquista (BA). Revista Administração Pública. p.797-820. Rio de Janeiro. jul./ago. 2014. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rap/v48n4/a01v48n4.pdf>. Acessado em: 03 nov. 2017.

OLIVEIRA, E. C.; LIBONATI, J. J.; FILHO, J. F. R.; SILVA, A. C. B. Um estudo sobre a utilização do Orçamento Participativo como instrumento de maior compreensibilidade dos

(16)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

16 informes contábeis pela população: O caso da Prefeitura de Maceió/AL. 20º Congresso Brasileiro de Contabilidade. Set. 2016. Fortaleza. Disponível em:

<http://www.congressocfc.org.br/hotsite/trabalhos_1/442.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2017.

SAMPAIO, P. P. P. de. A alternativa comunitária e orientada para a solução de problemas nas Políticas Públicas de Segurança a partir do modelo de participação popular. 2018. 124 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Paraná. Curitiba.

Disponível em: <https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/58616>. Acesso em: 07. Mar. 2019

SINTOMER, Y.; HERZBERG, C.; RÖCKE, A. Modelos transnacionais de participação cidadã: o caso do orçamento participativo. Sociologias. ano 14, n 30, p. 70-116. Porto

Alegre, mai./ago. 2012. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517- 45222012000200004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 03. nov. 2017.

WAMPLER, B. Efetividade das instituições participativas no Brasil: estratégias de avaliação.

Organização de Roberto Rocha C. Pires. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, v. 07,

p. 43-52. Brasília. 2011. Disponível em:

<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=10761&ca tid=162&Itemid=2>. Acesso em: 07. Mar. 2019.

Referências

Documentos relacionados

A DIRETORA GERAL DO CAMPUS CUIABÁ – BELA VISTA DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO, no uso de suas atribuições legais, conferidas

Com isso, depois de uma saída, é importan- tíssimo que o fotógrafo faça uma triagem do que pode ser descar- tado, além de catalogar as imagens já na importação dos arquivos para

Muito para além de um julgamento moral, sustentado por um ideal religioso ou por um especialista da saúde, trata-se aí, de um questionamento de si para consigo a respeito daquilo

Remoção de Cadáveres para fora do Município, por km 0,95 Remoção de ossos para outro cemitério, dentro do Município - 1º Distrito 9,00 Remoção de ossos para outro

O objetivo deste estudo é analisar a eficiência dos gastos públicos na subfunção atenção básica à saúde dos municípios do Estado de São Paulo, no ano de

Em relação ao pH a água de coco refrigerada apresentou valor de 5,05, sendo este compatível com os resultados encontrados por MACIEL (10), para a água de coco verde in natura

Moscovici (2012) vai mais além, ao afirmar que “pensamos através da linguagem e nenhum de nós está livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe são impostos por

A discussão sobre o tratamento de livros de artistas em bibliotecas não é algo que seja discutido nacionalmente, apesar de algumas instituições, como o Museu