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Proteção ao Meio Ambiente e Sustentabilidade

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Academic year: 2022

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Proteção ao Meio Ambiente

e Sustentabilidade

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1. Introdução 4

Bioética Ambiental 5

2. Construindo a Justiça Ambiental 9

História do Movimento por Justiça Ambiental 10

3. Ecofilosofia 15

4. Ética e Valores 18

5. O Pensamento Ecológico 21

Corredores Ecológicos 21

Agroecologia 24

Ecotécnicas 24

A Casa e o Ambiente 26

6. Indicadores para Medir a Eficiência das Ações Ambientais 29

Desenvolvimento Sustentável 32

O princípio 32

A Evolução do Pensamento 33

Os Desafios que Devemos Enfrentar 38

Conclusão 40

7. Referências Bibliográficas 42

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PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

1. Introdução

Fonte: realizartepalestras.com.br1

sforçamos-nos para oferecer um material condizente com a graduação daqueles que se candida- taram a esta especialização, procu- rando referências atualizadas, em- bora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso.

As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, opiniões e bases in- telectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos educacionais, mas deixamos claro que não há in- tenção de fazer apologia a esta ou

1 Retirado em realizartepalestras.com.br

aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento cien- tífico, testado e provado pelos pes- quisadores. Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois te- mos consciência que nada está pronto e acabado e com certeza crí- ticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar nosso trabalho.

Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distân- cia, vocês são livres para estudar da

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melhor forma que possam organi- zar-se, lembrando que: aprender sempre, refletir sobre a própria ex- periência se somam e que a educa- ção é demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação dos nossos/ seus alunos. A gestão do meio ambiente que envolve não somente os recur- sos naturais bem como toda uma rede de relações entre os seres vivos, é um instrumento de melhoria da qualidade de vida, a partir da forma- ção de cidadãos conscientes de sua participação local no contexto de conservação ambiental global.

Para ela, o desafio do gestor que também é um educador ambien- tal é com o futuro da vida, já que tem o intuito de formar uma atitude eco- lógica nas pessoas. Um dos propósi- tos desse gestor/educador é a visão socioambiental, que afirma que o meio ambiente é um espaço de rela- ções culturais, sociais e naturais.

Em 1988, a Constituição Fede- ral e a Constituição de alguns Esta- dos da Federação, declararam a ga- rantia a todos do direito ao meio am- biente ecologicamente equilibrado em que a educação ambiental está calcada.

Em 1994 foi criado o PRONEA – Programa Nacional de Educação Ambiental e em 27 de abril de 1999, foi instituída a Política Nacional de Educação Ambiental, estabelecendo

as linhas de atuação formal e não formal, para promover ações que es- timulem a visão crítica e a postura pró-ativa por todos os setores da so- ciedade.

Dentre outros objetivos, o curso de Educação Ambiental volta- se à capacitação de profissionais para as práticas relacionadas à pre- servação ambiental, o que inclui a ética como veremos ao longo desta apostila. Ressaltamos que este ma- terial trata-se de uma reunião do pensamento de vários autores que entendemos serem os mais impor- tantes para a disciplina. Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de redação ci- entífica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico. Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final da apostila encontrarão nas referências consul- tadas e utilizadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar os conheci- mentos.

Bioética Ambiental

Para Carvalho, Pessini e Cam- pos Júnior (2006), o termo bioética com o sentido de ―[...] obrigações éticas não apenas com o homem, mas com todos os seres vivos‖, se- gundo Engel (2004) foi usada pela primeira vez em trabalho publicado em 1927, por Fritz Jahr que definia o

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PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE termo bioética como ―a emergência

de obrigações éticas não apenas com o homem, mas a todos os seres vi- vos‖.

Westphal (2006 apud Carva- lho, Pessino e Campos Junior, 2006), afirma que a Bioética foi cri- ada para designar a relação entre a vida humana, vegetal e animal em sentido amplo, colocando toda a bi- osfera como tema de sua preocupa- ção, assim como Lovelock em sua hi- pótese Gaia.

Justamente devido o tópico discorrer sobre a bioética voltada para o meio ambiente, precisamos entender conceitos preliminares como ecologia!

A ecologia é uma ciência que tem contribuído para os debates so- ciais, éticos, políticos e econômicos nas sociedades devido aos diversos problemas ambientais que acome- tem o Planeta Terra, alguns citados abaixo:

 Buraco na camada de ozônio;

As mudanças climáticas;

 Aquecimento global;

 Agravamento das catástrofes naturais.

Essas alterações do meio am- biente provocam conflitos em dife- rentes regiões, possibilitando a pro- liferação de inúmeras doenças, a perda de habitats por diferentes po- pulações e consequentemente a ex-

tinção e/ou migração de espécies de seres vivos. Há também alterações dos ciclos de chuvas com impactos econômicos na agricultura e pecuá- ria, entre outros.

Assim, a Bioética ambiental surgiu para se pensar as relações ho- mem- natureza no século XXI.

Lembremos que o termo eco- logia — do grego, óikos = morada;

lógos = estudo, ou seja, estudo sobre a casa — foi criado pelo biólogo Ernst Haeckel, em 1866 (HAECKEL, 1870).

Essas alterações do meio am- biente provocam conflitos em dife- rentes regiões, possibilitando a pro- liferação de inúmeras doenças, a perda de habitats por diferentes po- pulações e consequentemente a ex- tinção e/ou migração de espécies de seres vivos. Há também alterações dos ciclos de chuvas com impactos econômicos na agricultura e pecuá- ria, entre outros.

Assim, a Bioética ambiental surgiu para se pensar as relações ho- mem- natureza no século XXI.

Lembremos que o termo eco- logia — do grego, óikos = morada;

lógos = estudo, ou seja, estudo sobre a casa — foi criado pelo biólogo Ernst Haeckel, em 1866 (HAECKEL, 1870). Seu significado — ciência que investiga a inter-relação entre os se- res vivos em um dado espaço geo-

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gráfico (sua casa) — está intima- mente relacionado às questões am- bientais.

Em 1870, Haeckel refinou a definição do termo proposto por ele mesmo, conferindo uma amplitude maior, ao considerar a ecologia como um conjunto de conhecimen- tos referente à economia da natu- reza, a qual compreende o estudo de todas as inter-relações complexas denominadas por Darwin como as condições de luta pela existência (HAECKEL, 1870).

Segundo Ricklefs (2003), a ecologia é o ramo da ciência que es- tuda o ambiente natural e as rela- ções dos organismos entre si e com os seus arredores.

A definição acima representa não só uma flexibilidade da termino- logia, mas principalmente um avanço do ponto de vista das inter- cessões que podem ser observadas nos estudos ecológicos, as quais, hoje ultrapassam os aspectos unica- mente ecológicos, alcançando as fronteiras de outros saberes, tais como os da Ética e da Bioética (BOFF, 2002).

O entendimento sobre o funci- onamento dos ecossistemas e as al- terações antrópicas sobre o meio ambiente é necessário para as toma- das de decisões políticas e econômi- cas, com o intuito de minimizar os impactos ambientais, as catástrofes

naturais e os problemas de saúde pública que estão interligados ao uso desregrado do ambiente.

Assim surge a bioética ambi- ental - reflexão ética sobre os seres vivos e o ambiente – com a marcante preocupação ecológica, capaz de mi- nimizar a deterioração das relações homem / natureza – compreen- dendo que antes o homem que pre- judicava o planeta Terra hoje preo- cupa com a perpetuação da espécie humana e de sua qualidade de vida (POTTER, 1970).

A associação entre a Bioética e Ecologia torna os cidadãos mais conscientes, atuando de forma res- ponsável com o ambiente e possibi- litando que a Terra permaneça habi- tável e sustentável para as gerações presentes e futuras.

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2. Construindo a Justiça Ambiental

Fonte: agenciasertao.com2

justiça ambiental nasce da luta da sociedade civil contra a apropriação desigual dos recursos ambientais, o que joga a maior carga dos danos ambientais do desenvol- vimento nas populações marginali- zadas e vulneráveis. Por conse- guinte, a reivindicação de justiça ambiental é também por justiça so- cial. O movimento por justiça ambi- ental tem sua origem nos anos 1980, nos movimento por direitos civis de grupos negros norte-americanos mobilizados contra a contaminação ambiental de suas áreas de moradia.

No Brasil, um dos primeiros atos nesta direção foi a formação da Rede Brasileira por Justiça Ambiental.

Seu documento de referência é a De-

2 Retirado em agenciasertao.com

claração Final do Colóquio Interna- cional Sobre Justiça Ambiental, Tra- balho e Cidadania, realizado em Ni- terói (RJ), em setembro de 2001.

Como destaca a Declaração, no Brasil, trabalhadores e população em geral estão expostos continua- mente a riscos ambientais, vivendo muitas vezes próximo ou em áreas contaminadas por resíduos tóxicos, sobre gasodutos e sob linhas de transmissão de eletricidade, ou ca- rentes de saneamento básico e ame- açadas por desmoronamentos e en- chentes. Os grupos sociais de menor renda, em geral, são os que têm me- nor acesso ao ar puro, à água potá- vel, ao saneamento básico e à segu- rança fundiária. As dinâmicas eco-

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PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE nômicas geram um processo de ex-

clusão territorial e social, que nas ci- dades leva à periferização de popu- lações e, no campo, ao trabalho pre- carizado ou ao êxodo para os gran- des centros urbanos. A Rede atua mediando a denúncia de casos de in- justiça ambiental e facilitando a ar- ticulação de movimentos sociais em torno da luta:

a) Para que nenhum grupo so- cial, étnico, racial ou de classe su- porte uma parcela desproporcional das consequências ambientais nega- tivas de operações econômicas, de decisões de políticas e de programas federais, estaduais e locais, assim como da ausência ou omissão de tais políticas;

b) Pelo acesso justo e equitativo, direto e indireto, aos recursos ambi- entais do país;

c) Pelo amplo acesso às informa- ções relevantes sobre o uso dos re- cursos ambientais e a destinação de rejeitos, e a localização de fontes de riscos

d) Ambientais, bem como aos processos democráticos e participa- tivos na definição de políticas, pla- nos, programas e projetos que lhes dizem respeito.

História do Movimento por Justiça Ambiental

O Movimento de Justiça Am- biental constituiu-se nos EUA, nos

anos 1980, fruto de uma articulação criativa entre lutas de caráter social, territorial, ambiental e de direitos civis. Já a partir do final dos anos 1960, redefiniu-se em termos ambi- entais um conjunto de embates con- tra as condições inadequadas de sa- neamento, de contaminação quí- mica de locais de moradia e trabalho e disposição indevida de lixo tóxico e perigoso.

Nos anos 1970, sindicatos pre- ocupados com saúde ocupacional, grupos ambientalistas e organiza- ções de minorias étnicas articula- ram-se para elaborar em suas pautas respectivas o que entendiam por questões ambientais urbanas.

Alguns estudos apontavam já a distribuição espacialmente desigual da poluição, segundo a raça das po- pulações a ela mais expostas, sem, no entanto, que se tenha conseguido mudar a agenda pública.

Em 1976-77, diversas negocia- ções foram realizadas tentando montar coalizões destinadas a fazer entrar na pauta das entidades ambi- entalistas tradicionais o combate à localização de lixo tóxico e perigoso predominantemente em áreas de concentração residencial de popula- ção negra.

A constituição de um movi- mento afirmou-se a partir de experi- ência concreta de luta inaugurada em Afton, no condado de Warren, na

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Carolina do Norte, em 1982. Ao to- marem conhecimento da iminente contaminação da rede de abasteci- mento de água da cidade caso fosse nela instalado um depósito de poli- clorinato de bifenil, os habitantes do condado organizaram protestos ma- ciços, deitando-se diante dos cami- nhões que para lá traziam a perigosa carga. Com a percepção de que o cri- tério racial estava fortemente pre- sente na escolha da localização do depósito daquela carga tóxica, a luta radicalizou-se, resultando na prisão de 500 pessoas. A população de Af- ton era composta de 84% de negros;

o condado de Warren, de 64% e o es- tado da Carolina do Norte, de 24%

(HARTLEY, 1995, p. 278).

Face a tais evidências, estreita- ram-se as convergências entre o mo- vimento dos direitos civis e dos di- reitos ambientais.

Nascido de lutas de base con- tra iniquidades ambientais a nível local, o movimento culminou ele- vando a justiça ambiental à condição de questão central na luta pelos di- reitos civis. Ao mesmo tempo, ele in- duziu a incorporação da desigual- dade ambiental na agenda do movi- mento ambientalista tradicional.

Como o conhecimento cientí- fico é correntemente evocado em es- tratégias de redução das políticas ambientais a meras soluções técni-

cas, o movimento de justiça ambien- tal estruturou suas estratégias de re- sistência recorrendo de forma ino- vadora à própria produção de co- nhecimento. Notadamente, o movi- mento recorreu aos resultados da pesquisa multidisciplinar que pro- moveu sobre as condições da desi- gualdade ambiental no país. Mo- mento crucial desta experiência foi a pesquisa encomendada em 1987 pela Comissão de Justiça Racial da United Church of Christ, que mos- trou que a composição racial de uma comunidade é a variável mais apta a explicar a existência ou inexistência de depósitos de rejeitos perigosos de origem comercial em uma área (LAITURI; KIRBY, 1994, p. 125)

Evidenciou-se, então, que a proporção de residentes que perten- cem a minorias étnicas em comuni- dades que abrigam depósitos de re- síduos perigosos é igual ao dobro da proporção de minorias nas comuni- dades desprovidas de tais instala- ções.

O fator raça revelou-se mais fortemente correlacionado com a distribuição locacional dos rejeitos perigosos do que o próprio fator baixa renda.

Portanto, embora os fatores raça e classe de renda tenham se mostrado fortemente interligados, a raça apresentou-se como um indica-

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PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE dor mais potente da coincidência en-

tre os locais onde as pessoas vivem e onde os resíduos tóxicos são deposi- tados.

Foi a partir desta pesquisa que o reverendo Benjamin Chavis cu- nhou a expressão racismo ambiental para designar a imposição despro- porcional – intencional ou não – de rejeitos perigosos às comunidades de cor (PINDERHUGHES, 1996, p.

241).

Dentre os fatores explicativos de tal fato, alinham-se a disponibili- dade de terras baratas em comuni- dades de minorias e suas vizinhan- ças, a falta de oposição da população local, por fraqueza organizativa e ca- rência de recursos políticos das co- munidades de minorias, a falta de mobilidade espacial das minorias em razão de discriminação residen- cial e, por fim, a sub-representação das minorias nas agências governa- mentais responsáveis por decisões de localização dos rejeitos. Ou seja, fez- se evidente que forças de mer- cado e práticas discriminatórias das agências governamentais concor- rem de forma articulada para a pro- dução das desigualdades ambien- tais.

A partir de 1987, as organiza- ções de base começaram a discutir mais intensamente as ligações entre raça, pobreza e poluição, e pesquisa-

dores iniciaram estudos sobre as li- gações entre problemas ambientais e injustiça social, procurando elabo- rar os instrumentos de uma Avalia- ção de Equidade Ambiental que pro- curava introduzir variáveis sociais nos tradicionais estudos de avalia- ção de impacto.

Neste novo tipo de avaliação, a pesquisa participativa envolveria como coprodutores do conheci- mento os próprios grupos sociais ambientalmente em desvantagem, viabilizando uma apropriada inte- gração analítica entre processos bio- físicos e processos sociais. Procu- rava-se postular, assim, que aquilo que os trabalhadores, grupos étnicos e comunidades residenciais sabem sobre seus ambientes deve ser visto como parte do conhecimento rele- vante para a elaboração não discri- minatória das políticas ambientais.

Mudanças se fizeram então sentir ao nível do próprio Estado.

Pressionado pelo Congressional Black Caucus, em 1990, a Environ- mental Protection Agency do go- verno dos EUA criou um grupo de trabalho para estudar o risco ambi- ental em comunidades de baixa renda. Dois anos mais tarde, este grupo concluiria que havia falta de dados para uma discussão da rela- ção entre equidade e meio ambiente, e reconhecia que os dados disponí-

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veis apontavam tendências pertur- badoras, sugerindo, por esta razão, maior participação das comunida- des de baixa renda e minorias no processo decisório relativo às políti- cas ambientais.

Em 1991, os 600 delegados presentes à I Cúpula Nacional de Li- deranças Ambientalistas de Povos de Cor aprovaram os 17 Princípios da Justiça Ambiental, estabelecendo uma agenda nacional para redese- nhar a política ambiental dos EUA de modo a incorporar a pauta das minorias – comunidades amerín- dias, latinas, afro- americanas e asio-americanas – tentando mudar o eixo de gravidade da atividade am- bientalista nos EUA (BRADEN, 1994, p. 10).

O movimento de justiça ambi- ental consolidou-se, assim, como uma rede multicultural e multirra- cial nacional, e mais recentemente internacional (seis representantes do movimento dos EUA e das Filipi- nas estiveram no Rio de Janeiro em 1998, desenvolvendo contatos com ONGs, como o Ibase, e grupos aca- dêmicos, como o IPPUR/UFRJ), ar- ticulando entidades de direitos civis, grupos comunitários, organizações de trabalhadores, igrejas e intelectu- ais no enfrentamento do racismo ambiental como uma forma de ra- cismo institucional, buscando fun-

dir direitos civis e preocupações am- bientais em uma mesma agenda e avançando na superação de vinte anos de dissociação e suspeita entre ambientalistas e movimento negro.

A luta pelo reconhecimento da desigualdade ambiental nos EUA tem constituído um passo impor- tante para a contestação do modelo de desenvolvimento. O lema do mo- vimento tem sido poluição tóxica para ninguém, e não simplesmente o de deslocar a poluição de lugar ou exportar a injustiça ambiental para os países onde os trabalhadores es- tejam menos organizados. Trata-se de discutir a pauta da chamada tran- sição justa, de modo que a luta con- tra a poluição desigual não destrua simplesmente o emprego dos traba- lhadores das indústrias poluentes ou penalize as populações dos países menos industrializados para onde as transnacionais tenderiam a transfe- rir suas fábricas sujas. O movimento de justiça ambiental vem procu- rando, assim, se internacionalizar para construir uma resistência glo- bal às dimensões globais da reestru- turação espacial da poluição (ACSELRAD, 2006).

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3. Ecofilosofia

Fonte: www.annurtv.com3

conhecimento é um processo dinâmico que não cessa, pois é movido pela própria curiosidade do homem em saber mais. Apesar de inúmeras perguntas já terem sido respondidas, muitas dúvidas perma- necem e aguçam a curiosidade de fi- lósofos e cientistas.

No passado, o conhecimento tinha uma abordagem mais univer- salista, pois vários filósofos eram médicos, artistas, matemáticos, físi- cos ou cosmólogos. O saber não era fragmentado como temos hoje, e a Filosofia da Natureza mantinha to- das as disciplinas integradas e traba- lhando juntas. Desde os séculos VI e VII (a.C.), pensadores gregos como

3 Retirado em www.annurtv.com

Heráclito e Parmênides eram consi- derados filósofos da natureza, pois tinham interesse em descobrir o princípio fundamental que criou o universo e toda a vida animal, vege- tal e mineral contida no planeta.

Na história da filosofia, eles também são conhecidos como os fi- lósofos pré- socráticos, pois viveram antes do nascimento de Sócrates, mestre de Platão. Os antigos filóso- fos da natureza queriam descobrir a mecânica do universo, de que ele era feito, como foi criado e qual seria a sua finalidade. Atualmente os sabe- res são claramente divididos, com seus campos de ação bem delimita- dos, produzindo conhecimento por

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PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE meio de discursos específicos, como

a matemática, a física ou a biologia.

Nesse aspecto, o ressurgimento da Filosofia da Natureza chega em um momento muito importante, pois a ideia é estabelecer um diálogo que possa provocar uma nova interação de todas essas disciplinas. As ques- tões atuais são muito complexas, e a integração dos vários campos do sa- ber poderá resolver alguns proble- mas que dificilmente serão solucio- nados de uma maneira particular ou isolada.

Segundo Gonçalves (2001), a ecofilosofia propõe reavaliar a rela- ção do homem com a natureza, para a partir daí repensar valores práticos que possam ser revertidos em bene- fício do meio ambiente. O ecofiló- sofo tenta deslocar o objeto clássico da filosofia, que é o pensamento so- bre o homem e suas produções, para a natureza. Essa proposta, na ver- dade, retoma o projeto original dos filósofos gregos pré-socráticos, co- nhecidos como filósofos da natu- reza, que pensavam a physis (mundo físico) e o logos (pensamento, razão) numa mesma esfera. Para eles, fazer filosofia era fazer filosofia da natu- reza.

A ecofilosofia seria a parte prá- tica da filosofia da natureza, como a ética é a parte prática da filosofia.

Aborda as relações entre a filosofia e a ciência, e surgiu pela falta à cultura

brasileira de um pensamento ecoló- gico que sustente a prática de res- peito à natureza.

O surgimento da ecofilosofia ou ecoética surgiu na Alemanha quando os ecofilósofos criticavam a forte tendência do pensamento filo- sófico ao antropocentrismo (a ati- tude ou teoria que tem o homem como referencial único).

A filosofia, desde o início, foi construída sobre o pressuposto da superioridade do homem em relação à natureza. Então os movimentos ecológicos representam a tentativa de desfazer um hábito, uma forma de pensar e de agir, que privilegia o homem em detrimento da natureza.

Tem a importância de tentar rever- ter esse quadro atual, de uma pre- tensão de superioridade do ser hu- mano em relação à natureza.

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4. Ética e Valores

Fonte: conhecimentocientifico.r7.com4

atual deterioração dos siste- mas que mantém a vida na Terra ocorre, ao menos em parte, pela compreensão inadequada de nossa dependência em relação à esses sistemas, e por nossa não aceitação da responsabilidade sobre consequências futuras dessa dete- rioração. Tendemos a atribuir um valor relativamente baixo à natu- reza, aos recursos naturais e ao futuro.

O mundo natural nos provê de muitos benefícios, os quais toma- mos de graça. Além, de outros

4 Retirado em conhecimentocientifico.r7.com

valores, natureza e recursos naturais dão condições à vida vegetal e animal, fornecem a diversidade genética e proveem valores econô- micos, recreativos, científicos, histó- ricos, estéticos e religiosos. A natureza é um verdadeiro estoque de materiais essenciais para nossa vida diária - ela nos provê alimentos, vestimentas, abrigo, além de uma variedade de produtos para o comércio e indústria. Nosso sistema econômico e, por fim, nossa sobrevivência na Terra depende dos recursos naturais.

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Entre as questões éticas relevantes aos recursos naturais encontram-se as seguintes:

 Em que extensão deveríamos distribuir os recursos da Terra e o bem estar ambiental de acordo com os princípios de igualdade, utilidade ou habitação?

 Ao se proteger recursos naturais, que equilíbrio deve haver entre autonomia indivi- dual e coerção por parte do governo?

 Em que extensão os padrões de governar o uso dos recursos naturais e a proteção am- biental devem ser antro- pocêntricos – enfatizan-do as necessidades humanas - ou egocêntricos - salientando a importância de se preservar os ecossistemas naturais?

A qualidade ambiental está cada vez mais sendo vista não apenas como um bem público, mas como uma fonte de valores econômicos e sociais. Recentes experiências como trocas da dívida por natureza confirmam que os recursos naturais podem ter valor econômico quando são protegidos ao invés de explorados; por exemplo; uma organização norte americana não lucrativa, comprou e concordou em perdoar uma dívida externa boliviana em troca de um compromisso da Bolívia em proteger 3,7 milhões de acres de

terras ameaçadas com o desma- tamento.

Então, condiz com o desenvolvimento sustentável cuidar para que as ações tomadas por indivíduos, grupos e nações não ameacem excessivamente a quali- dade de vida presente e futura de outros. A educação deve ajudar os cidadãos a perceber que suas ações e escolhas individuais, hoje, afetam a qualidade de vida presente e futura de outros, e em última instância a habitabilidade da Terra.

A atividade econômica, em particular, necessita de orientação ética; os negócios precisam começar a avaliar os impactos a longo prazo de suas ações, bem como os resultados a curto prazo.

É necessário educar mais as pessoas, e especialmente os líderes, que vejam o mundo como um todo, que estejam preocupados com a proteção da biosfera que herdaram, e que estejam comprometidos em ajudar a assegurar uma qualidade de vida aceitável às gerações futuras.

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5. O Pensamento Ecológico

Fonte: ecoplansacosplasticos.com.br5

Corredores Ecológicos

Brasil está adotando um novo modelo de conservação ambi- ental para garantir a preservação in- tegral da natureza. São os chamados corredores ecológicos, instrumento pelo qual duas áreas de preservação são interligadas por um corredor, vi- sando uma integração melhor entre os ecossistemas de diferentes áreas de conservação. Este novo conceito de preservação, através de corredo- res ecológicos, já é implementado no Canadá, Estados Unidos e Austrália.

Em cinco anos, o governo pretende criar 18 corredores ecológicos, que

5 Retirado em ecoplansacosplasticos.com.br

abrangerão a Amazônia, a Caatinga, a zona costeira, o Pantanal, a Mata Atlântica e os campos sulinos.

Existem 7 corredores prioritá- rios que englobarão grandes áreas de preservação. Os projetos podem ultrapassar as fronteiras brasileiras, como é o caso do corredor Itenez- Guaporé (em processo de imple- mentação), que abrange parte do es- tado de Rondônia e atravessa a fron- teira com a Bolívia, interligando 70 unidades de conservação e 12 áreas indígenas das bacias dos rios Gua- poré, Itenez e Mamoré. Também está sendo desenvolvido o corredor do rio Paraná, que abrange o Parque

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PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE Nacional da Foz do Iguaçu se esten-

dendo pelo território argentino.

Os corredores ecológicos pro- curam conectar as unidades de con- servação existentes, formando gran- des áreas de conservação onde os animais possam transitar livre- mente: Com o avanço dos estudos na área de biologia da conservação, no- tou-se que não era suficiente criar áreas de preservação. Havia a neces- sidade de prolongar essas áreas, e com isso, poder alcançar determina- das comunidades biológicas que se estendem para além dessas áreas. As espécies de animais precisam intera- gir, pois quando você protege so- mente um grupo de micos, como o leão-dourado, e deixa de proteger os outros grupos, estes provavelmente serão extintos, e isso diminui o po- tencial genético da espécie, que fica restrito somente ao grupo preser- vado. Com o corredor ecológico, a área protegida é ampliada, fazendo com que os animais interajam livre- mente.

Para formar um corredor, são levados em conta a preservação de espécies da fauna e flora ameaçados de extinção, a instalação de áreas protegidas para a conservação de amostras dos ecossistemas (par- ques, reservas indígenas e áreas par- ticulares de patrimônio natural) e o manejo integrado dos ecossistemas.

Um exemplo de corredor que está sendo desenvolvido com su- cesso é o projeto que abrange a Re- serva de Desenvolvimento Sustentá- vel Amanã, criada pelo governo do Amazonas, a Reserva de Desenvolvi- mento Sustentável Mamirauá e o Parque Nacional do Jaú, e outras unidades de conservação que, jun- tas, têm mais de hectares de flores- tas protegidas, uma área maior que a Suíça.

Todos os grupos envolvidos nos três projetos participam dos es- tudos para formação do corredor. O Mamirauá, por exemplo, é composto por pesquisadores, extensionistas e grupos comunitários locais traba- lhando de maneira integrada.

Cerca de 20 pesquisadores das áreas de meio ambiente, de ciências sociais e de manejo de recursos na- turais, estão baseados numa sede na cidade de Tefé- AM.

Outros 20 extensionistas nas áreas de saúde, nutrição, educação ambiental, comunicação social e ecoturismo também fazem parte do grupo. O trabalho é feito de forma participativa, na qual todos os atores sociais (ONGs, pesquisadores, co- munidades, empresários, governo, associações) envolvidos no projeto deixam a sua contribuição, com o objetivo de implementar uma solu- ção sustentável viável para o corre- dor.

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Os sete corredores prioritários são:

1. Corredor Centro-Amazônico:

inclui grandes extensões de florestas inundadas e de terra firme das ba- cias dos rios Negro e Solimões. As florestas inundadas deste corredor têm alta diversidade e muitas espé- cies endêmicas. Este corredor inclui a Reserva de Mamirauá, a Estação Ecológica de Anavilhanas, a Floresta Nacional de Tefé, o Parque Nacional do Jaú, outras 9 unidades de conser- vação e 14 áreas indígenas.

2. Corredor Norte-Amazônico:

está situado na fronteira norte do Brasil com a Colômbia e a Venezu- ela, incluindo montanhas e ecossis- temas de altitude ainda pratica- mente intocados. Este corredor in- clui o Parque Nacional do Pico da Neblina, a Floresta Nacional de Ro- raima, o Parque Estadual da Serra do Araçá e outras 17 unidades de conservação.

3. Corredor Oeste-Amazônico: é um ambiente que abriga muitas es- pécies de aves, plantas e macacos.

Este corredor provavelmente é o mais rico da

4. Amazônia em termos de diver- sidade e inclui o Parque Nacional da Serra do Divisor, a Reserva Extrati- vista Chico Mendes, a Reserva Ex- trativista do Rio Preto-Jacundá e outras 30 unidades de conservação.

5. Corredor Sul amazônico: é vi- talmente importante para proteger a fauna e a flora localizada entre os rios da margem direita (sul) do Amazonas: Tapajós, Madeira, Xingu e Tocantins. Este corredor inclui áreas localizadas nos estados do Amazonas, Pará e Maranhão, abri- gando a Floresta Nacional de Tapa- jós, o Parque Nacional da Amazônia, a Reserva Biológica de Gurupi e três outras unidades de conservação.

6. Corredor do Ecótono Sul ama- zônico (Amazônia-Cerrado): está lo- calizado nas áreas de transição entre a Amazônia e o Cerrado, ecossis- tema ameaçado pelo avanço agrope- cuário. Este corredor inclui o Parque Nacional do Araguaia, no Tocantins.

7. Corredor Central da Mata Atlântica: contém áreas de alta di- versidade nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais e costa sul da Bahia. Abriga muitas espécies de animais e plantas da planície cos- teira. Este corredor inclui a Reserva Biológica de Sooretama, a Reserva Biológica de Linhares, a Reserva Bi- ológica de Una, o Parque Nacional de Monte Pascoal, o Parque Nacio- nal da Serra do Caparaó e outras unidades de conservação que juntas formam a maior concentração de fragmentos florestais da região.

8. Corredor Sul da Mata Atlân- tica: representa a maior concentra-

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PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE ção da Mata Atlântica contínua e, em

termos ecológicos, é o mais viável para conservação. Este corredor in- clui 27 unidades de conservação, como a Área de Proteção Ambiental da Serra do Mar, em São Paulo; a Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, em Minas Ge- rais; o Parque Nacional da Serra da Bocaina e o Parque Nacional de Ita- tiaia, no Rio de Janeiro; além da Área de Proteção Ambiental de Gua- raqueçaba, no Paraná.

Agroecologia

A agroecologia se consolida como um modelo de produção de alimentos ambientalmente saudável e economicamente viável, que res- gata o saber tradicional dos agricul- tores.

A transformação do modelo de agricultura tradicional em modelo agroecológico vem se dando em ra- zão de questões de saúde, econômi- cas e ideológicas. Devido ao uso in- discriminado de agrotóxicos, a agri- cultura tradicional tem afetado tanto a saúde dos agricultores quanto a dos consumidores, tor- nando-a economicamente insusten- tável. O modelo de desenvolvimento atual tem diversos aspectos negati- vos, dentre eles a dependência dos agricultores familiares, em relação ao uso dos herbicidas, e a ditadura

do conhecimento, que privilegia apenas o saber vindo de pesquisas universitárias e dos técnicos. Essa ditadura despreza as pesquisas de- senvolvidas pelo agricultor em sua propriedade, resultando em conhe- cimentos que podem ser repassados para outros agricultores. O processo atual deve ser mudado, pois nele também deve estar incluído o conhe- cimento produzido pelo agricultor.

A agricultura familiar é um modelo de desenvolvimento susten- tável. A população vê hoje na agri- cultura familiar uma excelente op- ção aos métodos tradicionais, por apresentar maior qualidade dos ali- mentos e por ser mais saudável, já que não se utiliza de produtos quí- micos e tóxicos para combater as pragas.

Este processo de mudança deve haver uma revalorização da vida no campo, com a criação de uma infraestrutura que atenda às necessidades dos agricultores e seus familiares. O crescimento da agroe- cologia só será possível a partir da ampla recuperação do saber tradici- onal dos agricultores.

Ecotécnicas

Podemos fazer uma boa rela- ção entre a arquitetura tradicional com as ecotécnicas e denominar de arquitetura da vida!

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Já houve um tempo em que os arquitetos pisavam a terra para ob- ter tijolos.

Segundo Carneiro (2003) a ar- quitetura próxima ao Homem, atra- vés da sensibilização e da transmis- são das ecotécnicas, é o principal ob- jetivo do Instituto Tibá, no Rio de Janeiro, onde, para se chegar às me- didas, é necessário passar pelo auto- conhecimento.

Tlayoltehuani ou, em asteca, usar o coração para tornar as coisas divinas é a palavra da vez.

Usar a intuição, o lado direito do cérebro, deixar crescer a sensa- ção, o desabrochar dos sentimentos, o fluir das percepções. Estamos fa- lando de caminhos para desenvolver a criatividade, mas também falamos de arquitetura – de bioarquitetura e de tecnologia intuitiva.

Foi a partir da reflexão sobre tlayoltehuani, que, há cerca de 15 anos, o arquiteto holandês Johan van Lengen começou um processo de reformulação de sua arquitetura.

Com formação no Canadá, após pas- sar por países como Equador, Índia, Estados Unidos e México, ele resol- veu concretizar seu sonho, de uma arquitetura voltada à vida, fundando no Brasil o Tibá – Instituto de Tec- nologia Intuitiva e Bioarquitetura.

A arquitetura próxima ao Ho- mem, através da sensibilização e da transmissão das ecotécnicas, é o

principal objetivo do Instituto Tibá, no Rio de Janeiro, onde, para se che- gar às medidas, é necessário passar pelo autoconhecimento, tendo como parceiro nesta idealização o arqui- teto brasileiro Valdo Felinto, atual coordenador executivo.

Em tupi, o nome tibá indica lu- gar onde muitas pessoas se encon- tram e ainda, bênção dos ancestrais.

Nesses 15 anos o Tibá já trabalhou com milhares de pessoas, universi- dades, organizações não governa- mentais, comunidades, instituições governamentais e organismos inter- nacionais, sempre em prol da des- construção da arquitetura baseada apenas em medidas, números e ci- fras.

Com muita ênfase na forma- ção desta nova consciência – através de workshops, cursos, consultorias, treinamentos e vivências – o Tibá foi-se tornando referência para estu- dantes e arquitetos de diferentes pa- íses do mundo.

Hoje, os representantes do Tibá trabalham bastante a convite de diversas universidades, aqui e no exterior.

São inúmeras as técnicas que não agridem o meio ambiente. Teto verde, adobes, sanitários secos, uso de energia solar ou eólica, vigas de bambu. Mas de nada adianta se as pessoas não souberem lidar com elas. Um dos equívocos é cometido

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PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE por muitos representantes da classe

política, que normalmente preferem lucrar com obras feitas com materi- ais caros. E as ecotécnicas, em geral, são muito baratas – quando não são industrializadas.

Em geral, as ecotécnicas de- vem ser utilizadas em conjunto para que se obtenha um ambiente harmo- nioso para se viver. O bason, ou sa- nitário seco, é uma das técnicas mais difundidas.

Através de um vaso sanitário com duas câmaras feitas com areia, cimento e tela plástica e um tubo de PVC para ventilação, é possível dis- por de um sanitário sem utilização de água, onde se agrupam excre- mentos que podem ser misturados ao lixo orgânico da cozinha. Sem contaminar o solo e sem deixar odo- res. Ao final de um ano, o material acumulado no fundo de uma das câ- maras está pronto, seco e inodoro para ser usado como composto ou adubo.

Os arquitetos também ensi- nam a construir o fogão solar: duas caixas de papelão, uma dentro da outra, intermediadas por isopor ou jornais.

Colocado ao sol, com uma tampa de vidro ou plástico, o novo fogão cozinha alimentos em cerca de duas horas, dependendo do gênero.

Sem uso algum de gás ou lenha. Es- tas e muitas outras ecotécnicas, como moinhos, filtros, biodigesto- res, painéis e pisos, também são re- passadas, sempre levando em conta o contexto.

Afinal, a localização, a posição, o clima da casa, seu entorno e as pes- soas que nela viverão são partes im- prescindíveis do projeto. Hoje os projetos começam de trás para a frente: por último estão as pessoas, diz Johan van Lengen. Fonte: Re- vista Senac; soluções sustentáveis, 2003.

A Casa e o Ambiente

Johan ensina, no Manual do Arquiteto Descalço, que já está na sétima edição, como se inspirar no meio ambiente para encontrar a me- lhor maneira de se construir uma casa e viver bem. Conheça algumas dicas:

 A casa deve estar sempre de acordo com o clima – uma ja- nela num lugar frio pode aque- cer o ambiente, deixando pas- sar o sol, mas se o clima for tropical seco a mesma janela pode esquentar demais o cô- modo, tornando-o insuportá- vel;

 Plantas, em terrenos em de- clive, devem seguir a forma do terreno, e não se forçar uma

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construção como se fosse em região plana;

 A distância entre as árvores e as casas regula a presença e a intensidade das brisas;

 As casas devem ser localizadas longe de fontes de contamina- ção;

 Nos lotes, as melhores áreas devem ser destinadas a locais de reunião (praças, parques, escolas, teatros etc.). É um erro lotear um terreno empar- tes iguais – é preciso prestar atenção às diferenças entre as áreas dentro do lote;

 A casa não pode estar situada nem no topo nem na base de um monte;

 Quando próximas a rios ou mares, as construções devem ser agrupadas onde a água en- tra em direção à terra;

 Em áreas de clima tropical quente, abaixo da linha do equador, a cozinha deve estar sempre voltada para o sul, para se evitar o calor do sol, que bate nas paredes do norte e do oeste;

 As salas ficam mais bem loca- lizadas voltadas para o oeste.

Em zonas frias, são as partes mais quentes da casa durante a tarde, quando os habitantes as usam mais;

 Uma boa ventilação é garan- tida construindo-se banheiro e cozinha junto a paredes que deem para jardins, pátios ou ruas (SENAC, 2011).

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6. Indicadores para Medir a Eficiência das Ações Ambientais

Fonte: riciclare.com.br6

alamos de ecologia, do papel dos seres humanos no meio ambiente, pois bem, chega-se então, ao entendimento simplificado que uma sociedade sustentável é aquela que assegura a saúde e vitalidade da vida e cultura humana do capital na- tural, para a presente e as futuras ge- rações. Neste ponto, é preciso falar do sistema de gestão ambiental que norteia e dá suporte às ações de pre- servação e educação ambiental pro- movido pelas instituições (aqui po- demos entender não somente como empresas, mas também as escolas) que tem compromisso com o meio ambiente e com as gerações futuras.

6 Retirado em riciclare.com.br

Esse sistema gerencia ambien- talmente cada empresa, e por conse- quência, minimiza os problemas ambientais dela advindos, sendo primordial a participação contínua de todos os indivíduos.

Embora se fale em instituição ou empresa formal, uma vez que esta é formada por pessoas, as ações aca- bam por extrapolar seus limites atingindo familiares, amigos, uma gama de outras pessoas. Enfim, para que a gestão ambiental seja eficaz e eficiente, são utilizados os indicado- res, instrumentos condutores que estabelecem objetivos sendo elabo- rados para simplificar, quantificar,

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analisar, avaliar e comunicar os re- sultados e as novas ações a serem to- madas. No final da explicação destes indicadores, os quais partem dos cinco fundamentos que dão susten- tação à Educação ambiental, tem-se o quadro 1, que apresenta as ações e os indicadores respectivos.

1. Sensibilização e conscientiza- ção: entende-se como o conheci- mento genérico que é transmitido aos funcionários. Trata-se, em grande parte, da divulgação dos pro- gramas e das atividades, bem como dos conceitos ambientais. É uma ação de envolvimento e motivação das pessoas. É, sem dúvida, um dos fundamentos mais importantes, pois é ―aqui que se ganha ou que se perde‖ as pessoas. Estes conheci- mentos visam despertar o interesse das pessoas, levando-as a se sensibi- lizarem pelos programas ambientais e a se conscientizarem da necessi- dade de mudarem seus comporta- mentos e valores.

2. Conhecimento e compreen- são: entende-se como conhecimento específico, geralmente para um pú- blico-alvo ou para um aspecto ambi- ental especial. Estes conhecimentos são elaborados por técnicos das áreas específicas abordadas.

3. Habilidades: entende-se como as aptidões específicas adquiridas através dos treinamentos. Não são,

necessariamente, iguais para todos os funcionários, uma vez que se re- ferem a aspectos e públicos distin- tos.

4. Participação e Ação: aqui se compreende o engajamento das pes- soas nos programas e nas ações edu- cativas. Pode-se dizer que o objetivo educativo será atingido de fato se as pessoas participarem espontanea- mente. Porém, o fato delas partici- parem de qualquer forma, às vezes até por pressão, poderá trazer resul- tados positivos, pois a repetição constante de um ato acaba gerando adaptação, e esta poderá levar a uma mudança consciente de valores e comportamentos. Sem contar, é claro, que toda ação positiva gera re- sultados também positivos para a instituição.

5. Mudança de valores e compor- tamentos: este é o conjunto de indi- cadores mais subjetivo de todos, pois dificilmente poderá ser medido numericamente – a não ser pelos re- sultados obtidos nos programas im- plantados. Além disto, não se refere apenas aquelas ações que objetivem resultados positivos para a institui- ção, mas sim, refere-se à mudança consciente de cada indivíduo, pas- sando a ter um comportamento dife- rente na sua relação indivíduo-meio ambiente e sociedade-meio ambi- ente. É aqui que realmente se pode

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atingir uma mudança na qualidade de vida das pessoas (PEREIRA, 1999).

FOnte: Adaptado de Pereira (1999, p. Fonte: Adaptado de Pereira (1999, p 151 a 155)

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Desenvolvimento Susten- tável

O texto que segue na íntegra, de autoria de Daniel Bertoli Gonçal- ves, agrônomo, mestre e doutor pela Universidade Federal de São Carlos sintetiza de maneira clara os desa- fios da geração atual em relação ao Desenvolvimento Sustentável. Redi- gido em 2005, vale a pena ler com atenção:

O conceito de desenvolvi- mento sustentável surgiu a partir dos estudos da Organização das Na- ções Unidas sobre as mudanças cli- máticas, no início da década de 1970, como uma resposta à preocu- pação da humanidade, diante da crise ambiental e social que se aba- teu sobre o mundo desde a segunda metade do século passado. Esse con- ceito, que procura conciliar a neces- sidade de desenvolvimento econô- mico da sociedade com a promoção do desenvolvimento social e com o respeito ao meio-ambiente, hoje é um tema indispensável na pauta de discussão das mais diversas organi- zações, e nos mais diferentes níveis de organização da sociedade, como nas discussões sobre o desenvolvi- mento dos municípios e das regiões, correntes no dia-a-dia de nossa soci- edade. Este texto busca apresentar a evolução do conceito desde sua cria- ção até o presente.

O princípio

O ano de 1968, segundo Ca- margo (2003), foi o primeiro sinal de grave descontentamento popular com o modelo de capitalismo indus- trial no final do seu ciclo, com a eclo- são do protesto estudantil em ca- deia, iniciado em Paris, em maio de 1968, passando por Berkeley, Berlim e Rio de Janeiro.

Aquele primeiro surto de glo- balização dos movimentos sociais, segundo a autora, apontava para mudanças radicais que iriam se es- tender a vastos domínios, influenci- ando não apenas a economia e a so- ciedade como também o próprio modelo civilizatório, com seus usos e costumes. A falsa ideia de uma evo- lução sem limites e a ingênua crença na continuidade do progresso, se constituíam no inimigo comum de todas as frentes, e a grande questão que se levantava era: Para onde va- mos?

Em meio aos movimentos es- tudantis e hippies dos anos 1960, emerge o novo ambientalismo, com objetivos e demandas bem definidos e consciente da dimensão política dos mesmos, chamando a atenção para as consequências devastadoras que um desenvolvimento sem limi- tes estava provocando.

Rompendo as muralhas da ci- dadela econômica, o ecologismo

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passa a questionar a racionalidade econômica em termos de seus pró- prios critérios. Mais concretamente, o novo debate evidencia que, frente aos diversos impasses e problemas que o desenvolvimento industrial coloca, a solução ou superação dos mesmos pode exigir não uma nova arrancada, mas a adoção de medidas restritivas ao aumento da produção econômica, o que coloca a ideia de racionalidade ecológica como o princípio balizador e limitante da ra- cionalidade econômica e do próprio desenvolvimento.

O Clube de Roma, entidade formada por intelectuais e empresá- rios, que não eram militantes ecolo- gistas, foi uma iniciativa que surgiu das discussões a respeito da preser- vação dos recursos naturais do pla- neta Terra. Ele produziu os primei- ros estudos científicos a respeito da preservação ambiental, que foram apresentados entre 1972 e 1974, e que relacionavam quatro grandes questões que deveriam ser solucio- nadas para que se alcançasse a sus- tentabilidade: controle do cresci- mento populacional, controle do crescimento industrial, insuficiência da produção de alimentos, e o esgo- tamento dos recursos naturais (CA- MARGO, 2002). Após a publicação da obra ―Os Limites do Cresci- mento‖, pelo Clube de Roma em 1972, este conceito toma um grande

impulso no debate mundial, atin- gindo o ponto culminante na Confe- rência das Nações Unidas de Esto- colmo, naquele mesmo ano.

A partir daí, desenvolvimento e meio ambiente passam a fundir-se no conceito de ecodesenvolvimento, que no início dos anos 1980 foi su- plantado pelo conceito de desenvol- vimento sustentável, passando a ser adotado como expressão oficial nos documentos da ONU, UICN e WWF.

A Evolução do Pensamento A ideia de um novo modelo de desenvolvimento para o século XXI, compatibilizando as dimensões eco- nômica, social e ambiental, surgiu para resolver, como ponto de par- tida no plano conceitual, o velho di- lema entre crescimento econômico e redução da miséria, de um lado, e preservação ambiental de outro.

O conflito vinha, de fato, ar- rastando-se por mais de vinte anos, em hostilidade aberta contra o mo- vimento ambientalista, enquanto este, por sua vez, encarava o desen- volvimento econômico como natu- ralmente lesivo e os empresários como seus agentes mais representa- tivos (CAMARGO, et al, 2004).

Em 1987, a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvol- vimento da Organização das Nações Unidas, na Noruega, elaborou um

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documento denominado ―Nosso Futuro Comum‖ também conhecido como Relatório Brundtland, onde os governos signatários se comprome- tiam a promover o desenvolvimento econômico e social em conformi- dade com a preservação ambiental (CMMAD, 1987). Nesse relatório foi elaborada uma das definições mais difundidas do conceito: ―o desen- volvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades.

Este documento chamou a atenção do mundo sobre a necessi- dade urgente de encontrar formas de desenvolvimento econômico que se sustentassem, sem a redução dra- mática dos recursos naturais nem com danos ao meio ambiente. Defi- niu também, três princípios essenci- ais a serem cumpridos: desenvolvi- mento econômico, proteção ambi- ental e equidade social, sendo que para cumprir estas condições, se- riam indispensáveis mudanças tec- nológicas e sociais.

Este relatório foi definitivo na decisão da Assembleia Geral das Na- ções Unidas, para convocar a Confe- rência sobre o Meio Ambiente e De- senvolvimento, dada à necessidade de redefinir o conceito de desenvol- vimento, para que o desenvolvi-

mento socioeconômico fosse inclu- ído e assim a deterioração do meio ambiente fosse detida. Esta nova de- finição poderia surgir somente com uma aliança entre os países desen- volvidos e em desenvolvimento.

Tanto o Relatório Brundtland quanto os demais documentos pro- duzidos pelo Clube de Roma, sobre o Desenvolvimento Sustentável, fo- ram fortemente criticados porque creditaram a situação de insustenta- bilidade do planeta, principalmente, à condição de descontrole da popu- lação e à miséria dos países do Ter- ceiro Mundo, efetuando uma crítica muito branda à poluição ocasionada durante os últimos séculos pelos pa- íses do Primeiro Mundo.

Segundo Castro (1996), o repto imposto pelo novo ambienta- lismo ao desenvolvimento foi o pre- lúdio de um questionamento ainda mais radical: o da nova questão so- cial, amadurecida no final dos anos 1980.

A dimensão de sustentabili- dade social inerente ao conceito, não diz respeito apenas ao estabeleci- mento de limites ou restrições à per- sistência do desenvolvimento, mas implica na ultrapassagem do econô- mico: não pela rejeição da eficiência econômica e nem pela abdicação do crescimento econômico, mas pela colocação dos mesmos a serviço de

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um novo projeto societário, onde a finalidade social esteja ―justificada pelo postulado ético de solidarie- dade intrageracional e de equidade, materializada em um contrato so- cial‖ (SACHS, 1995, p. 26). É esta a abordagem de desenvolvimento so- cial que adotamos neste trabalho.

De acordo com Castro (1996), esse novo paradigma conhecido como desenvolvimento sustentável surge através de um esforço de re- conceitualização do conceito de de- senvolvimento, abalado pela crise ambiental e social.

A teoria do desenvolvimento sustentável, ou ecodesenvolvi- mento, parte do ponto em que a maior parte das teorias que procura- ram desvendar os mistérios sociais e econômicos das últimas décadas não obteve sucesso. O modelo de indus- trialização tardia ou modernização, que ocupou o cerne de diversas teo- rias nos anos 1960 e 70, é capaz de modernizar alguns setores da econo- mia, mas incapaz de oferecer um de- senvolvimento equilibrado para uma sociedade inteira.

De acordo com Brüseke (2003), a modernização, não acom- panhada da intervenção do Estado racional e das correções partindo da sociedade civil, desestrutura a com- posição social, a economia territo- rial, e seu contexto ecológico.

Emerge daí a necessidade de uma

perspectiva multidimensional, que envolva economia, ecologia e polí- tica ao mesmo tempo, como busca fazer a teoria do desenvolvimento sustentável.

Para o autor, o conceito desen- volvimento sustentável sinaliza uma alternativa às teorias e aos modelos tradicionais do desenvolvimento, desgastadas numa série infinita de frustrações.

Segundo Cavalcanti (2003), sustentabilidade significa a possibi- lidade de se obterem continuamente condições iguais ou superiores de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em dado ecossis- tema. Tal conceito equivale à ideia de manutenção de nosso sistema de suporte da vida. Basicamente, trata- se do reconhecimento do que é bio- fisicamente possível em uma pers- pectiva de longo prazo.

Para o autor, o tipo de desen- volvimento que o mundo experi- mentou nos últimos duzentos anos, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, é insustentável. O desenvolvimento econômico não re- presenta mais uma opção aberta, com possibilidades amplas para o mundo. A aceitação da ideia de de- senvolvimento sustentável indica que se fixou voluntariamente um li- mite para o progresso material, e a defesa da ideia de crescimento cons- tante não passa de uma filosofia do

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impossível. Entretanto, adotar a no- ção de desenvolvimento sustentável corresponde a seguir uma prescrição de política. O dever da ciência é ex- plicar como, de que forma, ela pode ser alcançada, quais são os cami- nhos para a sustentabilidade.

De acordo com Bezerra e Bur- sztyn (2000), a sustentabilidade emerge da crise de esgotamento das concepções de desenvolvimento, en- quadradas nas lógicas da racionali- dade econômica liberal. Uma racio- nalidade eufórica associada ao mo- vimento incessante para frente da razão, da ciência, da técnica, da in- dústria e do consumo, na qual o de- senvolvimento – uma aspiração imanente da humanidade – expur- gou de si tudo o que o contraria, ex- cluindo de si a existência das regres- sões que negam as consequências positivas do desenvolvimento.

Em 1992, 172 governos reuni- ram-se na cidade brasileira do Rio de Janeiro, para a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambi- ente e Desenvolvimento (CNU- MAD), que ficou conhecida como Conferência da Terra, um evento singular que se tornou um marco histórico para a humanidade. Os ob- jetivos fundamentais da Conferência eram conseguir um equilíbrio justo entre as necessidades econômicas, sociais e ambientais das gerações presentes e futuras e firmar as bases

para uma associação mundial entre os países desenvolvidos e em desen- volvimento, assim como entre os go- vernos e os setores da sociedade ci- vil, enfocadas na compreensão das necessidades e os interesses co- muns.

Nesta Conferência, os repre- sentantes dos governos, incluindo 108 chefes de Estado e de Governo, aprovaram três acordos que deve- riam erigir a Agenda 21, a Declara- ção do Rio sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que define os direitos e as obrigações dos estados sobre os princípios básicos do meio ambiente e desenvolvimento.

É importante lembrar que não foi somente de chefes de Estado e de representantes oficiais que se cons- tituiu a Rio-92, pois foi a participa- ção da sociedade civil, de organiza- ções não governamentais de cente- nas de países, que fez do Rio a ver- dadeira ―Babilônia‖, e foi graças a eles que um importante documento deixado de lado na conferência ofi- cial, continuou vivo, passou por rea- valiações, comissões internacionais nunca antes pensadas, foi ratificada pela Unesco, e finalmente aprovado pela ONU em 2002: A Carta da Terra, um documento de importân- cia singular, equivalente à Declara- ção Universal dos Direitos Humanos para a área de Meio Ambiente, cujo preâmbulo traz os seguintes dizeres:

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Estamos diante de um mo- mento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica di- versidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no res- peito pela natureza, nos direitos hu- manos universais, na justiça econô- mica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declare- mos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futu- ras gerações (A Carta da Terra, 2004).

A Comissão sobre o Desenvol- vimento Sustentável das Nações Unidas (CDS) organizou para dez anos depois da Conferência do Rio a Conferência Mundial sobre Desen- volvimento Sustentável em Joha- nesburgo, África do Sul. Essa confe- rência reuniu chefes de Estado e de Governo, organizações não governa- mentais e empresários, que revisa-

ram e avaliaram o progresso do esta- belecimento da Agenda 21, um plano de ação mundial para promover o desenvolvimento sustentável a uma escala local, nacional, regional e in- ternacional.

A meta geral da Conferência foi revigorar o compromisso mun- dial a fim de um desenvolvimento sustentável e a cooperação Norte- Sul, além de elevar a solidariedade internacional para a execução acele- rada da Agenda 21. Um dos êxitos desta reunião foi o estabelecimento da necessidade de se criarem metas regionais e nacionais para o uso da energia renovável.

De acordo com Camargo et al (2004), em uma análise sobre os dez anos que se passaram desde a Rio- 92, muitas foram as frustrações quanto as perspectivas positivas que foram lançadas, mas muito também se avançou, e o maior ganho da úl- tima década foi o reconhecimento de que a solução para os problemas am- bientais reside na noção de ―desen- volvimento sustentável‖, tal como a havia proposto o relatório Brun- dtland em 1987, sacramentado pelas Nações Unidas em 1992. Depois de uma fase experimental e delicada, hoje podemos considerá-lo vitorioso e atribuir ao Brasil um papel impor- tante em sua consolidação como conceito operacional e pragmático

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para os países em desenvolvimento.

Os Desafios que Devemos En- frentar

Segundo Bezerra e Bursztyn (2000), em um trabalho preparató- rio para a Agenda 21 brasileira, o de- senvolvimento sustentável é um processo de aprendizagem social de longo prazo, balizado por políticas públicas orientadas por um plano nacional de desenvolvimento inter- regionalizado e intraregionalmente endógeno. As políticas de desenvol- vimento são processos de políticas públicas de Estados nacionais. Os estilos de desenvolvimento estão sustentados por políticas de Estado que, por sua vez, respaldam padrões de articulação muito determinados dos diversos segmentos sociais e econômicos com os recursos dispo- níveis na natureza.

O Estado brasileiro tem lugar nuclear na promoção e na regula- mentação de políticas nacionais de desenvolvimento sustentável. Nota- damente, na coordenação dos con- flitos sociais implicados nas diver- gências de interesses e lógicas de de- senvolvimento, entre a pluralidade de atores sociais presentes na socie- dade nacional e transnacional.

O gerenciamento das escolhas tecnológicas atreladas aos processos

produtivos é essencialmente um problema de política pública de ci- ência e tecnologia para o desenvolvi- mento sustentável.

Para os autores, podemos con- ceber o desenvolvimento sustentá- vel como uma proposta que tem em seu horizonte uma modernidade ética, e não apenas uma moderni- dade técnica (BUARQUE, 1994), pois a proposta do desenvolvimento sustentável implica incorporar o compromisso com a perenização da vida ao horizonte da intervenção transformadora do ‗mundo da ne- cessidade‘.

Se a modernidade técnica faz dos meios fins em si, a modernidade ética do princípio sustentabilidade‘

recoloca os fins como referência pri- mordial, num quadro complexo de múltiplas dimensões (econômica, ambiental, social, política, cultural, institucional, etc.).

Para Furtado (1992), o desafio que se coloca no umbral do século XXI é nada menos do que mudar o curso da civilização, deslocar o seu eixo da lógica dos meios a serviço da acumulação, num curto horizonte de tempo, para uma lógica dos fins em função do bem-estar social, do exer- cício da liberdade e da cooperação entre os povos.

Devemos nos empenhar para que essa seja a tarefa maior dentre

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as que preocuparão os homens no correr do próximo século: estabele- cer novas prioridades para a ação política em função de uma nova con- cepção do desenvolvimento, posto ao alcance de todos os povos e capaz de preservar o equilíbrio ecológico.

Essa mudança de rumo, se- gundo o mesmo autor, exige que abandonemos muitas ilusões, que exorcizemos os fantasmas de uma modernidade que nos condena a um mimetismo cultural esterilizante.

Devemos assumir nossa situação histórica e abrir caminho para o fu- turo a partir do conhecimento de nossa realidade, assumir a própria identidade.

Ainda segundo o mesmo au- tor, nesse novo quadro que se confi- gura, o destino dos povos dependerá menos das articulações dos centros de poder político e mais da dinâmica das sociedades civis. Não que o Es- tado tenda a deliquescer, conforme a utopia socialista do século XIX, mas a possibilidade de que ele seja em- polgado por minorias de espírito to- talitário se reduzirá, se a vigilância da emergente sociedade civil inter- nacional se fizer eficaz.

Para Cavalcanti (2002), a no- ção atual de desenvolvimento sus- tentável representa uma reivindica- ção do pensamento de Furtado: não é qualquer taxa de crescimento da

economia que pode ser perseguida;

há que se pensar antes naquilo que é (ecologicamente) sustentável, ou seja, possível, durável, realizável.

Quanto a isso vale mencionar o questionamento feito por Furtado em 1974:

―Por que ignorar na medição do PIB, o custo para a coletividade da destruição dos recursos naturais não renováveis, e o dos solos e flo- restas (dificilmente renováveis)?

Por que ignorar a poluição das águas e a destruição total dos peixes nos rios em que as usinas despejam seus resíduos?‖ (FURTADO, 1974).

Ramos (2003) alerta que o problema de insustentabilidade não está apenas no desenvolvimento, é preciso reconhecer que o nosso modo de vida se tornou insustentá- vel, e este é muito mais difícil de mu- dar, pois implica, como discutimos, aperfeiçoamento individual e cole- tivo, simultaneamente.

Segundo o autor, parece não haver saída: ou acreditamos que o ser humano, tal como é, pode cons- truir um mundo melhor para si, para seus semelhantes, no presente e no futuro, ou cabe reconhecer o fra- casso de nossa existência, e admitir que a busca de um desenvolvimento sustentável seja ilusória, apenas uma forma de adiar o inevitável fim.

É preciso iniciar um aprendizado in-

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