HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL: UMA PROPOSTA PARA INTEGRAR A HISTÓRIA DA QUÍMICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL: UMA PROPOSTA PARA INTEGRAR A HISTÓRIA DA QUÍMICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Isabella M. Oliveira (IC)¹, Eliete Braga (FM)², Leonardo K. Kanashiro³, Vitor A.

Rezende⁴, Viviani A. Lima (PQ)⁵, Wiler Anselmo (IC)⁶

1,2,3,4,5,6Universidade Federal de Uberlândia/Instituto de Química/²Escola Estadual Messias Pedreiro

1isabellamouraeoliveira@hotmail.com; ²elietebragga@gmail.com; ³kenjikanashiro@hotmail.com

4vitor.alves18@hotmail.com; ⁵vivialveslima@gmail.com; ⁶wileranselmo@hotmail.com

Linha de trabalho: História, Filosofia ou Sociologia das ciências

Resumo

Uma estratégia raramente utilizada no ensino de Química e sobre a qual pouco se fala nos livros didáticos, é relativa à apresentação da História da Química. A maioria dos alunos, apesar de estudarem essa ciência, desconhecem sua história, o seu surgimento, e como se envolve em nossas vidas, por exemplo, em filmes, animações, brincadeiras e nas “Sagas Literárias”. Esse trabalho tem como objetivo relatar a experiência vivida por bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, PIBID/UFU, em uma atividade realizada na Educação Básica de uma escola da rede pública de Uberlândia, cujo tema exposto foi a “História da Química”, no qual se abordou os conteúdos: da Alquimia à Química, a construção da pedra filosofal, a transformação de metais inferiores em outros e a produção do elixir da vida.

Palavras-chave: PIBID, Educação Básica, Harry Potter.

INTRODUÇÃO

De modo geral, os alunos apresentam a disciplina de Química como uma das mais difíceis de compreender, visto que suas leis e teorias são abstratas (CAVALHEIRO, 2014).

Diante disso, a falta de contextualização nos conteúdos da disciplina pode resultar nas dificuldades encontradas pelos estudantes. De acordo com Galvão (2006), a Ciência e a Literatura possuem linguagens próprias que se amplificam quando colocadas em interação devido aos diferentes tipos de abordagem que a leitura permite fazer, além de estarem ligadas ao dia a dia dos alunos, proporcionando um conhecimento amplo e não fragmentado. Assim, constata-se a importância da atividade desenvolvida, buscando inserir a História, Filosofia ou Sociologia da ciência (HFSC) na Educação Básica, de maneira que se utilize como instrumento o livro Harry Potter e Pedra Filosofal de J.K. Rowling.

A Literatura – poética, jornalística, romancista, acadêmica, entre outras – pode ser uma ferramenta de mediação para contextualizar conteúdos envolvendo a HFSC na educação básica

RELATO DE EXPERIÊNCIA

HFSC

(PIROLA, 2010). Na obra escolhida, Harry Potter e a Pedra Filosofal, há uma narrativa simples que proporciona a compreensão de uma dimensão sensorial significante, a qual permite ao aluno relacionar o mundo fictício às informações reais, o que o induz a estabelecer as relações lógicas de maneira instintiva, de modo que facilite o processo de ensino-aprendizagem (PIROLA, 2010 apud Carvalho, 1998). Segundo Farias,

as histórias são importantes porque ensinam; educam; ampliam o conhecimento; provocam reflexões pessoais e coletivas; despertam sentimentos adormecidos; comovem; propiciam momentos de ludicidade;

alimentam a cognição, o espírito e a alma; transmitem valores; recriam a memória; ativam a imaginação; aliviam as dores do coração, auxiliando na transformação pessoal e na cura dos ferimentos psíquicos; mantêm viva a tradição e expandem a linguagem, enriquecendo o vocabulário. Elas permitem, ainda, extrapolar os limites da compreensão lógica sobre o mundo, rompendo, assim, com o nosso modelo de educação escolar. (FARIAS, 2006, p.30)

O presente trabalho foi realizado em uma Escola Estadual de Uberlândia, no final do ano letivo de 2016, e contou com a presença de aproximadamente 120 alunos do segundo ano do Ensino Médio. A apresentação foi desenvolvida em dois turnos – matutino e vespertino – com média de 4 horas no total, divididas entre 5 apresentações dos bolsistas do subprojeto PIBID – UFU.

A proposta teve por finalidade a interação dos bolsistas na relação ensino- aprendizagem do aluno, auxiliando-o na construção do conhecimento social e histórico, além de instigar e facilitar a compreensão do mundo em que vive, correlacionando os conteúdos de História, Língua Portuguesa, Artes, Sociologia, Filosofia e Química.

Detalhamento da Atividade

Foram realizadas reuniões prévias que envolveram a coordenadora do PIBID-Química UFU, a supervisora do projeto e os cincos bolsistas envolvidos, para discutir a temática e se a aplicação seria viável aos alunos e à escola. Em concordância unânime, mais encontros foram programados para elaboração e execução da atividade.

No primeiro instante, houve um debate sobre as principais obras literárias que poderiam englobar o conteúdo de Química e sua relevância na comunidade escolar. Dessa forma, foram selecionadas quatro sagas literárias: As crônicas de Gelo e Fogo; Anjos e Demônios; Percy Jackson e Harry Potter.

No segundo momento, foi montado no pátio da escola, durante o intervalo, um stand com as obras literárias. Os bolsistas ficaram encarregados de divulgar o trabalho a ser realizado,

o qual era voltado aos alunos e à comunidade escolar, além de efetuar as inscrições dos interessados para estimar a quantidade de estudantes e organizar a abordagem do projeto.

Com as fichas de inscrição em mãos e, então, ouvidas as sugestões dos alunos, foi realizada uma segunda reunião – terceiro momento – junto à supervisora, para elaboração e divisão do projeto. Cada bolsista ficou encarregado da pesquisa, análise e apresentação de uma das obras literárias anteriormente apontadas e suas respectivas contribuições em conceitos químicos. No entanto, o presente relato apresenta apenas a experiência vivenciada pela bolsista que ficou encarregada da análise de Harry Potter e a Pedra Filosofal.

Por fim, ocorreu a apresentação da obra – quarto momento – para os alunos inscritos no projeto. Nesta leitura, são citadas figuras, símbolos, aspectos alquímicos e ocultistas, além de referências a alquimistas famosos. O próprio título do livro já apresenta o termo “Pedra Filosofal”, uma das principais ambições da Alquimia antiga e seus difusores. Pois existia uma forte hipótese de que este poderoso objeto poderia ampliar os poderes do alquimista e ainda ser a fonte do elixir da longa vida, que, segundo os princípios alquímicos, prolongaria a vida de quem o ingerisse. Conforme Goldfarb (1987), os alquímicos, ao retirarem a essência dos metais auríferos, também poderiam utilizá-la para a transformação de outros metais em ouro. Na obra, quando se cita o conceito de “Pedra Filosofal”, o nome do alquimista Nicolau Flamel é, então, citado pela primeira vez dentre as várias outras citações no decorrer do livro, o qual traz um capítulo com o seu nome. Portanto, nesse trecho, discutiu-se sobre a pedra filosofal e sobre o referido alquimista.

“Foi quando Hermione hesitada lembra-se de um livro e vai buscá-lo, e diz finalmente ter encontrado o que procurava:“ - Eu sabia! Eu sabia! - Nicolau Flamel – sussurrou ela teatralmente - é, ao que se sabe, a única pessoa que produziu a Pedra Filosofal. Ela empurrou o livro para os dois, que leram: “O antigo estudo da Alquimia preocupava-se com a produção da pedra filosofal, uma substância lendária com poderes fantásticos”. A pedra pode transformar qualquer metal em ouro puro. Produz também o elixir da longa vida, que torna quem o bebe imortal. Falou-se muito da pedra filosofal, durante séculos, mas a única pedra que existe presentemente pertence ao Sr. Nicolau Flamel, o famoso alquimista e amante da ópera. “O Sr. Flamel que comemorou o seu sexcentésimo quinto aniversário no ano passado, leva uma vida tranqüila em Devon, com sua mulher Perenelle (seiscentos e cinqüenta e oito anos)”.(ROWLING, 2000, p. 189 e 190, grifo nosso).

Além do contexto histórico da alquimia, foram abordados, na explanação da bolsista, assuntos atuais, como fissão, fusão nuclear e acelerador de partículas. Além do mais, foram

correlacionados os métodos utilizados pelos alquimistas na transformação do ouro e os processos empregados pelos cientistas na atualidade. Também, fez-se uma analogia entre as vidrarias utilizadas por Flamel na destilação e as encontradas hoje. Apesar de sete séculos de diferença, as semelhanças perduram.

Análise e Discussão do Relato

Ao avaliar o presente trabalho, foi possível perceber que a leitura de materiais extracurriculares é um instrumento essencial para o processo de ensino-aprendizagem, pois estimula a participação do leitor dentro desse contexto. Dessa forma, o entendimento do estudante deixa de depender somente de sua aptidão para decifrar sinais, e passa a depender de sua capacidade para dar sentido a eles, compreendê-los (PIROLA, 2010).

A utilização do livro de J.K Rowling constituiu-se em uma metodologia diferenciada no ambiente escolar, e exemplificou a inserção da atividade interdisciplinar como meio sensibilizador aos alunos. Além disso, possibilitou uma aproximação da Química em relação à dinâmica com a qual os jovens estão acostumados, apresentando alternativas à compreensão do mundo. Possibilitou também, aos bolsistas, a vivência, enquanto futuros professores, da elaboração e execução de uma atividade no meio escolar. E verificou-se o quanto a participação na mediação dos conceitos de Química presentes no livro foi relevante ao trabalho, pois, de acordo com CARRERA, o aluno, por si só, não consegue se apropriar dos conteúdos se não estiver direcionado pelo professor.

O público alvo heterogêneo, encontrado na Educação Básica, promoveu a percepção de ensino-aprendizagem, e possibilitou aos bolsistas recorrerem às diversas metodologias estudadas ao longo do curso. Ademais, foi possível perceber um retorno maior dos alunos na compreensão e nas nas discussões conceituais, como na comparação realizada entre a transmutação dos metais e a fissão e fusão nuclear.

Considerações

A obra literária despertou interesse por promover melhor compreensão dos conceitos de Química, além de estar relacionada ao contexto dos lecionandos. A interdisciplinaridade foi outro ponto que despertou o interesse dos discentes. Dessa forma, a proposta lúdica de estudo proporcionou uma vivência diferenciada e rica em conceitos, além de apurar os conhecimentos dos alunos ao enriquecer as condições de atuação do futuro licenciando.

Referências

CAVALHEIRO, Maria Thereza. A literatura contextualizada e interdisciplinar no ensino de química na educação de jovens e adultos, Paraná. v. Volume 1, 2014, p. 1-17, 2014.

Disponível em:

<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2 014_ufpr_qui_artigo_maria_thereza_cavalheiro.pdf> Acesso em: 07 abr. 2017.

CARRERA, V. M.; ARROIO, A. Filmes comerciais no Ensino de Ciências: tendências no ENPEC entre 1997 e 2009. Atas do VIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, Campinas, 2011.

GALVÃO, Cecília. Ciência na Literatura e Literatura na Ciência. Interacções, Lisboa, v. 02, n.

03, p.32-51, 2006. Disponível em: <http://revistas.rcaap.pt/interaccoes/article/view/305/261>.

Acesso em: 16 abr. 2017.

GOLDFARB, A. M. A. Da química a alquimia. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 1987.

PIROLA, NA. org. Ensino de ciências e matemática, IV: temas de investigação [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 244 p. ISBN 978-85-7983-081- 5. Available from SciELO Books. Disponível em:<

http://books.scielo.org/id/bpkng/pdf/pirola-9788579830815-09.pdf>

ROWLING, Joanne K. Harry Potter e a pedra filosofal. tradução de Lia Wyler. -Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

SANDES, Hyran Ferreira. O papel da educação na formação do cidadão brasileiro.

Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 22 set. 2012. Disponível em:

<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.39463&seo=1>. Acesso em: 16 abr.

2017.