• Nenhum resultado encontrado

História vol.36

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "História vol.36"

Copied!
22
0
0

Texto

(1)

A CONSTRUÇÃO DE

DIFERENÇAS:

O poeta e professor régio Manuel Inácio da Silva Alvarenga (1749-1814), assim como outros estudantes luso-americanos de sua geração, adquiriu formação ilustrada nos bancos da Uni-versidade de Coimbra, em meio à reforma dos estudos na instituição em 1772, a qual objetiva-va melhor formar seus alunos para exercerem com eiciência seus ofícios em benefício do Império português. Atentando para segmentos de sua obra poética, de sua trajetória e de sua livraria, o presente artigo procura compreender as possibilidades e os limites para que o letrado luso-americano irmasse sua condição de iel vassalo da monarquia portuguesa.

Palavras-chave: Manuel Inácio da Silva Alva-renga (1749-1814); Ilustração Luso-americana; Livrarias.

RESUMO

The construction of diferences: Silva Alvarenga (1749-1814) and the limits of his condition as Your Majesty´s faithful vassal

Gustavo Henrique

TUNA

Global Editora

gustavo_tuna@yahoo.com.br

The poet and regius teacher Manuel Inácio da Silva Alvarenga (1749-1814), as well as other Luso-American students of his generation, acquired enlightened background at Coimbra University, at the time of the renewal of the studies in the institution, in 1772, that aimed to improve the students in order to work better for the beneit of the Portuguese Empire. Consid-ering part of his poetique oeuvre, his trajetory and his library, the present article aims to com-prehend the possibilities and the limits available for the man of letters to reinforce his condition of faithful vassal of the Portuguese monarchy.

Keywords: Manuel Inácio da Silva Alvarenga (1749-1814); Luso-American Enlightenment; Private libraries.

ABSTRACT

(2)

S

ilva Alvarenga fez parte de uma geração de homens nascidos na América portu-guesa do século XVIII que se identiicaram de formas distintas – porém, com seme-lhanças entre si – com o ideário ilustrado português da segunda metade do século XVIII. Enquanto Alvarenga Peixoto, Basílio da Gama e Claudio Manuel da Costa icaram conhecidos por seu envolvimento na Inconidência Mineira, Silva Alvarenga foi alvo de des-coniança no Rio de Janeiro num episódio que icou celebrizado como Conjuração do Rio de Janeiro ou Inconidência Carioca. Muito já se escreveu com o objetivo de circunscrever algumas ações de Silva Alvarenga e considerar parte de sua obra poética como sendo o gérmen de um nativismo que visava à independência política do país, como amostras do nascimento de uma brasilidade (CALMON, 1959, p. 1339; CANDIDO, 2006, p. 180; SANTOS, 1992, p. 23).

Procurando entender a ação e a obra do poeta por outro prisma, pretende-se aqui averiguar de que formas sua obra, passagens de sua trajetória em Portugal e na América portuguesa e também o universo amplo de leituras disponíveis em sua livraria indiciaram a construção de diferenciações entre a condição do americano e a do habitante do Reino.

Nascido em Vila Rica, em 1749, o mulato Manuel Inácio da Silva Alvarenga cursou o Seminário de Nossa Senhora da Boa Morte, em Mariana, em 1766, partindo posteriormente para Portugal, mais especiicamente para a Universidade de Coimbra, a im de ingressar em seu curso de Cânones. Neste período, a universidade seria o destino de muitos estudan-tes do ultramar, entre eles muitos oriundos de Minas Gerais, que se dirigiam para o Reino (VALADARES, 2004). O jovem estudante teve a oportunidade de vivenciar um momento ímpar da Universidade de Coimbra, que passaria por uma ampla reforma curricular em 1772 (RODRIGUES, 2007, p. 729-735). Esta Reforma, conduzida de perto pelo Marquês de Pombal, visava tornar o ensino na universidade mais efetivo para o funcionalismo régio e para a máquina governamental de todo o Império português.

Após a expulsão dos jesuítas do Reino, em 1759, a Reforma do Ensino dos Estudos menores planiicada em 1759, a meta em Coimbra era tornar o conhecimento cientíico em Portugal mais próximo do que se praticava em outros cantos da Europa. Para tanto, em 1772, seriam fundadas em Coimbra as Faculdades de Filosoia e de Matemática, bem como seria reformulado o curso da já existente Faculdade de Medicina.1 Os cursos de Cânones e

de Leis, destinados à formação de homens que integrariam órgãos administrativos do Im-pério, advogados e membros de tribunais eclesiásticos, teriam seus currículos amplamente reformulados.

(3)

por-tuguesa (BRIGOLA, 2003). Tais transformações no interior da Universidade ocorreram de acordo com os propósitos da Coroa, cuja ação sobre os rumos da instituição era decisiva. O Estado seria a instância responsável pela direção do processo que implicaria em sele-cionar, transmitir e aplicar os saberes considerados úteis ao Império (ARAÚJO, 2014, p. 46).

A passagem de Silva Alvarenga pelos bancos de Coimbra coincide exatamente com este período de viragem no ensino da Universidade. No livro de matrículas da Universida-de, tem-se o registro que o jovem estudante matriculou-se primeiramente em Instituta, em 1768.2 Nesta fase pré-Reforma, seus estudos na Faculdade de Cânones prosseguiram

até julho de 1771, conforme é possível atestar pelo livro de atos e graus do ano letivo 1770/1771.3 A Universidade teria seu funcionamento interrompido em 25 de setembro de

1771, por ordem do Marquês de Pombal, com vistas à implementação da Reforma dos es-tudos ao longo daquele ano.4 Seguindo as determinações da Universidade pós-Reforma,

Silva Alvarenga reiniciaria os estudos na instituição em 1772 matriculando-se no segundo ano do curso jurídico, que seria comum para legistas e canonistas.5 No ano seguinte,

con-forme a nova estrutura curricular, Silva Alvarenga retomaria os estudos no terceiro ano da Faculdade de Cânones (ACTAS..., 1983, p. 14-15). Nos livros de atos e graus consta o assen-to que registra o exame de formatura do jovem luso-americano na Faculdade de Cânones, em 10 de junho de 1776, dado que demonstra ter o estudante permanecido um total de 8 anos ligado à Universidade de Coimbra.6

Integração e distanciamento na metrópole

Uma das primeiras composições poéticas de Silva Alvarenga, intitulada “À mocidade portuguesa”, convoca as Luzes a adentrarem com força no Império. Ainda que publicado somente em 1782, quando seu autor já se encontrava no Rio de Janeiro, o poema é vinca-do pela atmosfera de renovação vinca-dos saberes planiicavinca-dos durante o reinavinca-do de D. José I, sob o comando do Marquês de Pombal, o que indicia sua escrita ter ocorrido à época em que Silva Alvarenga se encontrava em Portugal.7 Os versos da ode sinalizam que o

(4)

Im-pério português, atividades capitaneadas pela Real Mesa Censória fundada em 1768, con-tariam com a participação ativa de membros de ordens religiosas em seus quadros. Como deixa entrever a estrofe supracitada do poema de Silva Alvarenga, a ação doutrinadora da Igreja acabaria sendo uma força estruturante no processo de consolidação e expansão do Império português.

Também durante sua estada em Portugal, mais exatamente em 1774, o jovem poeta publicaria O Desertor, que se conigura na história de Gonçalo, estudante da Universidade de Coimbra que abandona os estudos após a Reforma da Universidade de 1772 em razão das novas exigências do ensino coimbrão reformado. O poema versa sobre as peripécias de Gonçalo que, junto a outros estudantes da instituição coimbrã, decide refugiar-se na cidade de Mioselha, onde mora um de seus tios, no ito de escapar do novo e rigoroso ambiente de ensino que a Reforma da Universidade estabelecera.

Dentro do gênero herói-cômico, o desenrolar da viagem de Gonçalo e seus amigos até Mioselha é versado de maneira jocosa, ao dispor, num mesmo enredo, a covardia da atitude de recusa dos jovens estudantes em permanecer na reformada instituição e os ín-imos obstáculos que eles, guiados pela “Ignorância”, enfrentam “bravamente” para chegar à tranquila cidade onde encontrariam a paz, longe dos bancos universitários conimbricen-ses. Como bem aponta Ronald Polito, o poema acaba realizando uma defesa da Reforma da Universidade implementada em 1772 sem, contudo, expor seus pormenores (POLITO, 2003, p. 30). A maior parte dele concentra-se na tarefa de satirizar burlescamente a postura estudantil de laxidão perante o conhecimento, procedimento já praticado por outros auto-res portugueses do século XVIII (FURTADO, 2001, p. 223). Com este poema, Silva Alvarenga sacramentaria sua entrada para o círculo de artistas protegidos por Pombal, movimento que havia sido facilitado por outro homem nascido na capitania de Minas Gerais, o poeta Basílio da Gama (SOUZA E SILVA, 1864, p. 39-42).

(5)

bom gosto nas letras, Silva Alvarenga se confrontava com a Arcádia Lusitana, agremiação literária fundada em Portugal, em 1756, que teve entre seus expoentes Antonio Diniz da Cruz e Silva (BRAGA, 1899, p. 626-632). Este, por sua vez, escreveria um poema cheio de ferocidade em referência à Epístola de Silva Alvarenga:

Quem é este animal, que galopando/ Em torno d´essa fétida lagoa/ (Diz Apollo a Thalia) o Pindo atroa/ Com zurros nossa musica turbando? / E dos Vates as cinzas não perdoa,/ Com coices suas cinzas violando? / Então Apollo torna à Ninfa rindo:/ É Palmireno, que eu mudei em burro,/ Em pena de incensar o vão Termindo

(CRUZ; SILVA, 1807, p. 277).

Com este caso de ataque com direito à réplica, é possível supor ter existido uma at-mosfera de disputa entre escritores do Reino e do ultramar. A disputa entre Silva Alvarenga e Cruz e Silva, por sinal, teria continuação e ganharia contornos mais drásticos para o poeta luso-americano. Mais tarde, em 1794, quando Silva Alvarenga é preso por causa de seu protagonismo na Sociedade Literária do Rio de Janeiro, Cruz e Silva é o Desembarga-dor-Chanceler da Relação encarregado de conduzir o processo de devassa, tarefa que já exercera 5 anos antes, na Inconidência Mineira.

(6)

1775, p. 5). Assim, percebe-se que nas últimas criações do poeta antes de seu retorno à América portuguesa, mais especiicamente ao Rio de Janeiro, foram reforçados os seus laços com o propósito reformista pombalino, o qual projetava alterações nas esferas da política, da justiça, economia e da educação tanto para o reino como para o ultramar.

As dissensões no retorno do americano

No Rio de Janeiro, capital do Vice-Reino do Estado Brasil, Silva Alvarenga pôde desfru-tar de uma das ambiências intelectuais mais ativas do território luso-americano, ainda que ela guardasse suas especiicidades e limites difíceis de expandir para as mesmas dimensões do que se veriicara em solo metropolitano. Se em Portugal as mudanças no plano da educação e da cultura eram lentas, na colônia estas alterações eram ainda menos intensas. Exercendo no Rio de Janeiro a cadeira de professor régio de Retórica e de Poética, a partir de 1782, notaria os descompassos entre ser um letrado na metrópole e na colônia.

De todo modo, é lícito airmar que ao chegar no Rio de Janeiro, em 1776, Silva Alva-renga presenciou os três últimos anos de funcionamento da Academia Cientíica do Rio de Janeiro, fundada no Rio de Janeiro pelo marquês de Lavradio, em 1771. Composta sobretu-do por médicos, cirurgiões, farmacêuticos e engenheiros, a agremiação procurou fomen-tar a experimentação cientíica e o aperfeiçoamento de técnicas que majorassem a produ-ção colonial a partir de gêneros cultivados na colônia. Três de seus membros – Ildefonso José da Costa Abreu, Joaquim José de Ataíde e Gonçalo Muzzi – seriam, posteriormente, responsáveis pela redação dos estatutos oiciais da Sociedade Literária do Rio de Janeiro, fundada em 1786.

Os resultados dos trabalhos da agremiação criada durante o vice-reinado do Marquês de Lavradio acabariam sendo tímidas e prejudicadas pela falta de um apoio mais sistemáti-co por parte do vice-rei. Ainda assim, diante da falta de uma instituição universitária na sistemáti- co-lônia, academias como essa se coniguravam como os espaços mais relevantes nos quais importantes homens de letras da sociedade colonial, ao lado de seus afazeres proissionais cotidianos, se reuniam para intercâmbio de conhecimentos, geralmente sob a proteção de algum governante (KANTOR, 2004, p. 249; KURY, 2004).

Em 1783, Silva Alvarenga recita um poema no Passeio Público do Rio de Janeiro inti-tulado “O bosque da Arcádia”, por ocasião da inauguração de um busto em homenagem à rainha D. Maria I. No poema, Silva Alvarenga projeta o desejo de D. José I, pai de D. Maria I, como se o monarca estivesse a prescrever a atenção que ela deveria ter para com os nascidos na América portuguesa:

(7)

Nesta estrofe, sublinha-se a atenção que deveria ser dada aos súditos da América por-tuguesa, atenção que Silva Alvarenga recebera de D. José e que desejava que fosse reno-vada por sua sucessora, a rainha D. Maria I. Ao mesmo tempo que o poeta mineiro tece um poema em homenagem à rainha para sacramentar sua idelidade à Coroa, manifesta anseio por obter maior consideração no ito de sentir-se um efetivo habitante – parte integrante – do Império português.

Procurando manter aceso o conhecimento apreendido em Portugal e coerente com a vivência e a difusão de saberes ilustrados, o poeta se engajou, no ano de 1790, na reati-vação dos trabalhos da Sociedade Literária do Rio de Janeiro, fundada em 1786, durante o vice-reinado de Luís de Vasconcelos e Sousa. Em 1785, portanto um ano antes da fun-dação da agremiação, Silva Alvarenga publicaria a Apotheosis poética – Ao Ilustríssimo e Excelentíssimo Luís de Vasconcelos e Sousa, Vice-Rei e Capitão general de mar e Terra do Brasil. Tal pendor do vice-rei para apoiar as atividades intelectuais que os letrados coloniais desejam promover é por ele versado nesta composição lírica: “Os justos prêmios de êmula Virtude/ Da vossa mão excitem/ Ao nobre, ao generoso, ao fraco e rude;/ As Artes venturo-sas ressuscitem;/ E achando em Vós um ínclito Mecenas,/ Nada invejem de Roma, nem de Atenas” (ALVARENGA, [1785]/2005, p. 7).

O vice-rei acabaria entrando para a historiograia como protetor da Sociedade Literária do Rio de Janeiro. É digna de nota a especial atenção que ele concedeu ao desenvolvimen-to dos saberes cientíicos na América portuguesa, acompanhando de perdesenvolvimen-to a organização de um espaço destinado à preservação e estudo de material relacionado à História Natural no Passeio Público, na cidade do Rio de Janeiro. Contudo, não se tem notícia durante os períodos de funcionamento da Sociedade Literária acerca de efetivos gestos de amparo e incentivo de Vasconcelos e Sousa à agremiação. Ainda assim, até onde se sabe, não houve oposição aos seus trabalhos até 1790, ano em que se encerra seu vice-reinado.

Após algum tempo em atividade, a Sociedade esmorecera e não receberia gesto pes-soalmente autônomo de apoio por parte do vice-rei que o sucede, D. José Luís de Castro, o Conde de Rezende, visando sua reativação. Silva Alvarenga tomou a frente da Socieda-de, alugando uma casa de dois andares na rua do Cano (atualmente Sete de Setembro) morando no andar de cima e reservando o inferior para as reuniões da Sociedade e seus pertences (AUTOS..., 2002, p. 197).

Juntamente com Mariano José Pereira da Fonseca, marquês de Maricá, retomou as atividades da academia, mantendo com isso na capital do Vice-Reino do Estado do Brasil um espaço no qual letrados compartilhavam informações e também recepcionavam ho-mens de ciência formados em Portugal e em outras nações europeias que submeteriam seus trabalhos para a avaliação da Sociedade.8 Tal ambiente dinâmico de intercâmbio de

(8)

poder monárquico e à Igreja Católica, dando ensejo à abertura de um processo de devassa em dezembro de 1794 (AUTOS..., 2002, p. 70).

Ao longo do processo de devassa, Silva Alvarenga foi conduzido à inquirição por nove oportunidades. Numa delas, destaca-se a irmeza pela qual o poeta visualiza o trabalho da Sociedade Literária. A constituição da agremiação era vislumbrada por seus membros como uma espécie de missão civilizadora, lançando mão aqui da apropriada percepção de Anita Correia Lima de Almeida (ALMEIDA, 2011, p. 183). A fundação e a manutenção da instituição são por Silva Alvarenga justiicadas dentro da motivação de promoção do co-nhecimento cuja inalidade é apresentada como a de atender

[...] o interesse público, pois que, sendo a maior parte dos seus sócios médicos, pelas ditas conferências adiantavam as suas luzes e se dispunham para com mais acerto curarem os enfermos, além de outros conhecimentos sobre os diversos reinos da natureza que nas mesmas conferências adquiriam os seus sócios e de que poderia vir a resultar utilidade ao público (AUTOS..., 2002, p. 195).

Em outra ocasião de suas inquirições, o poeta, ao ser acusado de abordar em conver-sas de forma leviana matérias relacionadas a “religião e política”, convida as autoridades que conduzem o processo a averiguarem “seus papéis”, referindo-se aos seus escritos, assina-lando que neles certamente elas encontrariam “muitos elogios não só aos Vice-Reis deste Estado, mas aos nossos clementíssimos soberanos, nos quais respira o amor dos príncipes, da pátria e da nação” (AUTOS..., 2002, p. 198-199). Cumpre registrar que o sentido empre-gado na oportunidade ao termo “pátria” corresponderia à totalidade do Império português. Faz-se necessário, contudo, registrar o emprego do termo em outros contextos.

Em um poema escrito por ocasião de seu retorno à América portuguesa, Silva Alva-renga recorre ao mesmo termo numa acepção diferente, utilizando-o como referência ao seu território de nascimento. Trata-se especiicamente do poema O templo de Netuno, o qual se apresenta como uma composição dirigida a Basílio da Gama, colega ultramarino que permaneceria na metrópole após o retorno de Silva Alvarenga à América portuguesa cujo nome arcádico era Termindo Sipilio: “Amor, o puro Amor do pátrio ninho/ Há muito que me acena e roga ao fado/ Que eu sulque o campo azul do deus marinho” (ALVAREN-GA, [1777]/2005, p. 49). O poema tem como pano de fundo o retorno de Silva Alvarenga à América portuguesa após oito anos como estudante em Coimbra. Segundo o que se tem notícia, seu embarque rumo ao Rio de Janeiro teria se dado em 1776 e O templo de Netuno

(9)

Sob este ângulo, o reinado de D. Maria I conigurava-se num período de reposicio-namento das peças de xadrez do tabuleiro político português, o que leva Silva Alvarenga a versar sobre sua idelidade à nova monarca no poema lírico A gruta americana: “Ide, sinceros votos,/ ide e levai ao Trono Lusitano/ Destes climas remotos,/ Que habita o forte e adusto Americano,/ A pura Gratidão e a lealdade,/ O Amor, o Sangue e a Própria Liberdade” (ALVARENGA, [1779]/2005, p. 58). Neste que é um dos primeiros poemas de Silva Alvarenga tingido com referências de paisagens da América portuguesa, o estabelecimento de uma ligação com a rainha recém-empossada conigura-se num gesto fundamental para a con-quista de um olhar diferenciado de sua parte, visto que a publicação de um poema com tal menção permitiria que sua condição iel de súdito real icasse expressamente registrada.

No período em que esteve preso e submetido a inquirições, numa delas Silva Alva-renga comentara que o Conde de Resende, acerca da Sociedade Literária, “entrara a dar demonstrações de que a mesma se restabelecesse” e “expressamente falara com ele... para o dito im” (AUTOS..., 2002, p. 194). A falta de apoio por parte do Conde de Resende e, mais do que isso, sua ordem para que a mesma fosse fechada, ao se considerar a forma-ção recebida por Silva Alvarenga e sua disposiforma-ção para promover o progresso dos saberes, aguçava sua percepção a respeito da existência de sensíveis diferenças entre a dinâmica cultural da metrópole e da colônia. Enquanto em Portugal a Academia Real das Ciências de Lisboa, fundada em 1779 sob os auspícios da rainha D. Maria I, recebia consideráveis incentivos para sua produção e sua respectiva divulgação, no espaço luso-americano o que se veriicava era a asixia dos já raros recantos nos quais os saberes eram difundidos.9

Além do desestímulo ao desenvolvimento de um ambiente propício às agremiações de cariz acadêmico, Silva Alvarenga deparou-se no Rio de Janeiro com diiculdades con-sideráveis com o sistema de ensino, no cargo de professor régio que ocupava. Insatisfeito com o que acreditava ser um descaso com o ensino régio na colônia, o poeta luso-ame-ricano enviaria, junto com outro professor, João Marques Pinto, ocupante da cadeira de Grego no Rio de Janeiro, representações em 1787 e 1793 endereçadas à D. Maria I.10

Ne-las, izeram referência não somente à precariedade de condições para darem auNe-las, como também acusaram os vice-reis de estimularem os seus alunos a abandonarem suas aulas e irem para seminários, locais de ensino de onde não eram recrutados para tomarem parte em tropas ou corpos auxiliares, enquanto os alunos das aulas régias eram muitas vezes convocados para o serviço militar da capitania. Na primeira representação, eles denun-ciam a atitude perpetrada por religiosos de recolherem seus alunos, dissuadindo-os de frequentarem suas aulas e atraindo-os para as deles. Silva Alvarenga e João Marques Pinto alegam que tais “Religiosos beneditinos, e de Santo Antônio” atentavam contra as leis régias em vigor ao ensinarem a estes alunos “a ilosoia peripatética já proibida pelas leis como inútil e prejudicial ao progresso das ciências”.11 Tal prática provocaria um inconformismo

(10)

de postos no sistema das aulas régias. Na cidade do Rio de Janeiro, registram-se casos de religiosos assumindo cadeiras de Primeiras Letras e de Gramática Latina em ins do século XVIII (TUNA, 2009, p. 80-81). Tal situação era comum em outras capitanias, entre elas a de Minas Gerais, e utilizada como forma de complementar as rendas exíguas advindas do pagamento das côngruas por parte do Estado, pagamento este que muitas vezes não se efetivava (FONSECA, 2010, p. 77).

Tal episódio, inclusive, não seria o único embate de Silva Alvarenga com membros do clero local. Em sua primeira inquirição, o poeta chega a declarar que desconiava que sua prisão fora motivada em razão de uma sátira da qual era acusado ter sido o autor. Sil-va AlSil-varenga faria referência a alguns sonetos satíricos endereçados a um frade de nome Raimundo, os quais nega ter escrito. Tudo indica que o Frei Raimundo em questão seja Frei Raimundo Penaforte da Anunciação, o responsável por tomar a conissão de Tiraden-tes anTiraden-tes do seu enforcamento. A existência de tal conjunto de sonetos foi inicialmente propalada na historiograia por Joaquim Norberto Souza e Silva que, contudo, não expôs seus originais, tampouco apontou sua localização. Até o presente momento, não se tem notícia sobre a real existência destes versos, razão pela qual Francisco Topa recomenda cautela acerca da efetiva elaboração destes sonetos por parte de Silva Alvarenga (TOPA, 1998, p. 63). Curioso observar que Mariano José Pereira da Fonseca, um dos membros da Sociedade que também seria encarcerado e interrogado, declarou, durante uma de suas inquirições, que acreditava que a causa de sua prisão era o “ódio ou raiva” que dele tinha “um frade de Santo Antônio chamado Frei Raimundo”, que havia recomendado ao vice-rei que não tivesse medo dos franceses, mas sim dos “ilhos do Brasil” (AUTOS..., 2002, p. 240-241). Mais uma vez, a contraposição entre os nascidos no Reino e os naturais da América portuguesa esboçava-se de forma articulada.

Uma livraria12 para ler o mundo

Reunindo cerca de 1.576 volumes, a livraria de Manuel Inácio da Silva Alvarenga foi uma das maiores do período colonial, ao lado dos acervos do padre baiano Francisco Agostinho Gomes e do frei Domingos da Encarnação Pontevel, bispo de Mariana (MORAES, 2006, p. 34; VILLALTA, 1997, p. 364). Ao se debruçar sobre a livraria do poeta luso-americano, salta aos olhos em sua composição um rol de interesses que suplanta consideravelmente seus afazeres proissionais como advogado e professor régio de Retórica e Poética. Com-pêndios jurídicos em latim e de juristas italianos, espanhóis e lusitanos integram o acervo, como não poderia deixar de ser, por se tratar de uma livraria de um advogado. Igualmente, estão bem representados no acervo de Silva Alvarenga obras no campo da retórica e da poética, autores da antiguidade como Virgílio e Sófocles, assim como livros de escritores italianos como Torquato Tasso, Ludovico Ariosto e Giovanni Guarini, que exerceriam con-siderável inluência sobre os árcades luso-americanos.

(11)

séculos XVII e XVIII, que marca expressiva presença no acervo. A livraria exibe, assim, um signiicativo número de títulos que manifestam o interesse do poeta por um horizonte de temas que excedem sua prática advocatícia, sua atividade no campo do ensino e sua produção no campo literário. Neste sentido, faz-se necessário realçar a ocorrência, na lista de livros que pertenceram a Silva Alvarenga, de títulos que dissertam acerca de matérias cientíicas como a História Natural, a Farmacêutica, a Matemática e outras.

Infelizmente, não é possível reconstituir o rol de leituras efetivamente realizadas pelo poeta. No que tange a este exercício, já se encontra bem sedimentado o cuidado que o pesquisador deve ter ao analisar listas títulos de bibliotecas do período colonial para que ele não assuma que a posse de um livro seja a garantia de sua leitura (ALGRANTI, 2004, p. 90-92). Cientes deste procedimento cautelar, estudos recentes alcançaram importantes resul-tados acerca do universo cultural dos possuidores de livros, entrecruzando suas trajetórias com o campo de textos com o qual podem ter tido signiicativo contato. Ao se estudar o acervo de livros de Silva Alvarenga, o pesquisador se beneicia aqui de dois destes estudos. Em dois trabalhos acerca da atuação de alguns advogados que atuaram nas Minas Gerais Setecentistas, Álvaro de Araújo Antunes analisou com minúcia as listas das livrarias destes proissionais (ANTUNES, 2004, 2005). Ancorado na noção do historiador francês Daniel Roche, segundo a qual uma biblioteca é “estado d’alma”, Antunes vislumbra o ânimo como elemento que informa a posse de um livro por um indivíduo. Em suas palavras, “a relação dos livros que compõem uma livraria não é apenas um atestado de posse, mas também um registro, ainda que opaco, de um modo de vida, de paixões, de meios, de escolhas, de ‘ânimos’” (ANTUNES, 2005, p. 169).

Ainda que não exercesse proissionalmente trabalhos relacionados à ciência, Silva Al-varenga acolheu em seu acervo pessoal obras que indiciam uma predisposição a transitar com familiaridade entre as discussões que envolviam os saberes cientíicos, cujos cami-nhos haviam sido reorganizados no Império português após a Reforma dos Estatutos da Universidade de Coimbra, de 1772. Nesta linha, faz-se necessário frisar que, além de possuir em seu acervo o Compêndio histórico do estado da Universidade de Coimbra, de 1771, e os Estatutos da Universidade de Coimbra, de 1772, Silva Alvarenga adquiriu ao longo de sua vida publicações de cunho cientíico, em sua maioria de autoria de franceses, as quais sinalizam para sua postura de ilustrado comprometido com o alargamento dos horizontes dos saberes.13

(12)

publicada em três volumes, entre os anos de 1674 e 1675, obra de abrangência notável, a qual sinalizava para a necessidade de se conjugar a experiência humana e a razão divina para explicar as causas das criações de que se tinha notícia. Neste prisma, Malebranche consagraria seu pensamento racionalista como extremamente estruturado por um viés místico (ISRAEL, 2009, p. 549).

Outro livro de ilósofo francês ligado à Igreja Católica presente na livraria de Silva Al-varenga é o compêndio de lógica La clef des sciences & des beaux arts: ou, La logique, de Jean Cochet, publicado em Paris, em 1750. Cumpre lembrar que os manuais de lógica mais comuns nas prateleiras dos letrados lusitanos e luso-americanos do século XVIII eram o do italiano Antonio Genovesi, e a De Re Logica, de Luis Antonio Verney, ambos recomendados para uso dos professores régios após a Reforma dos Estudos Menores de 1759 e também encontrados nas prateleiras de Silva Alvarenga.14

Antonio Genovesi, eminente ilósofo italiano nascido em 1712 e professor da Univer-sidade de Nápoles, foi autor de numerosos escritos acerca de matérias ilosóicas, econô-micas e políticas. Sua obra no campo da Lógica conquistaria considerável penetração no espaço lusitano na segunda metade do século XVIII, especialmente após ser publicada em português, em 1787.15 Luis Antonio Verney, nascido em Lisboa, em 1713, foi igura de

vira-gem do pensamento ilustrado português. Formado em Filosoia na Universidade de Évora, Verney migraria para a Itália, onde estudaria Teologia e Direito em Roma. Em 1746, em Ná-poles, viria a lume seu Verdadeiro método de estudar, texto seminal em que procura aliar a faculdade da razão e a fé católica e que teria sido a primeira relexão abertamente crítica ao modelo de ensino vigente nas escolas portuguesas (ARAÚJO, 2003, p. 55). Segundo Cabral de Moncada, tanto na carta dedicada à Lógica presente no Verdadeiro método de estudar

como em sua obra De Re Logica – título presente na livraria de Silva Alvarenga – Verney ar-gumentaria que a verdadeira lógica assentava-se na tarefa de compreender os fenômenos valendo-se do emprego da razão humana (MONCADA, 1941, p. 26-27).

Desta maneira, o livro de Cochet era mais um no campo da lógica a igurar entre as possíveis leituras do poeta luso-americano. Cochet fora personalidade de relevo no cle-ro francês durante o século XVIII, tendo sido reitor da Universidade de Paris. Seu livcle-ro foi bastante lido na Europa na segunda metade dos Setecentos, tendo sido traduzido para outros idiomas, como o italiano. É digno de destaque que Silva Alvarenga, em seu afã de sintonizar-se com os caminhos que a lógica proporcionava na resolução de matérias liga-das à ciência, tivesse, além dos compêndios usuais entre os letrados lusitanos, uma obra publicada na Europa além-Pirineus que poderia trazer métodos e referências diferentes daqueles receitados pelos manuais de lógica indicados para uso dos professores régios no Império português.

(13)

De l’origine, des loix, des arts, et des sciences; et de leurs progrès chez les anciens peuples, publicado em Paris, em 1758, em três volumes e que seria traduzido ainda no século XVIII para o inglês, italiano e alemão. O texto conigura-se numa história do mundo antigo, tanto o ocidental como o oriental que, em que pese seu propósito de ser um relato histórico racional, reairma a veracidade de milagres bíblicos mesmo nos casos em que eles contra-diziam as leis da natureza (WOLLOCH, 2007, p. 26).

O estudo da História Natural encontrava-se representado na livraria de Silva Alvarenga por uma signiicativa gama de outros autores, muitos deles franceses, que se dedicaram a um estudo sistemático e que davam central importância para o valor da experiência e da observação sem, contudo, deixar de considerar a providência divina. Reiro-me aqui, pri-meiramente, a Cours d’histoire naturelle, ou Tableau de la Nature, de autoria do abade Je-an-Baptiste-François Hennebert e de Gaspar Guillard de Beaurieu, do qual Silva Alvarenga possuía o primeiro de seus sete tomos. Publicada em Paris, em 1770, a obra faz uma minu-ciosa exposição do que se sabia até então acerca da isiologia dos seres vivos, procurando englobar o homem, os animais quadrúpedes, os pássaros, os peixes e os insetos. No campo da história natural, Silva Alvarenga conservava em sua livraria 15 volumes do Dictionnaire raisonné universel d’Histoire Naturelle, de Jean Christophe Valmont de Bomare, cuja pri-meira edição publicada em Paris, em 1764, já se mostrara um sucesso. A popularidade do livro motivaria seguidas edições, bem como motivaria seu autor a ampliá-lo. O dicionário de Bomare pretendia-se amplo. Seu escopo incluía verbetes sobre os três reinos da nature-za, os corpos celestes e de outros fenômenos da natureza. Incluía ainda um levantamento histórico de produtos medicinais extraídos da natureza para uso na medicina, nos afazeres domésticos e no meio rural e em outros ofícios.

Primeiramente, é possível conjecturar que o interesse de Silva Alvarenga por títulos deste cariz relaciona-se com seu interesse pessoal por matérias relacionadas aos ramos da História Natural e igualmente por seu anseio pessoal em acompanhar de forma proveitosa e ativa as discussões que ele travava com colegas seus letrados, seja no âmbito da Socie-dade Literária por ele reanimada seja em ocasiões exteriores a ela. Para além disso, faz-se necessário considerar o interesse pessoal de Silva Alvarenga pelos melhoramentos de uma propriedade da qual era sócio. À altura de sua prisão, em 1794, o poeta era sócio do mé-dico e colega da Sociedade Literária Jacinto José da Silva Quintão na propriedade de uma fazenda em Sarapuí, na freguesia de Santo Antônio da Jacotinga, “na qual há boa olaria”.16

Além do já aqui citado dicionário de Bomare, o poeta manteve em suas estantes livros de isiocratas de relevo publicados na França no século XVIII. Na seara propriamente dita da economia rural, a livraria de Silva Alvarenga conta com dois importantes títulos. Um deles é o volumoso trabalho do abade François Rozier intitulado Cours complet d’Agriculture Theorique, Pratique, Economique, et de Médecine rurale et vétérinaire, publicado em dez volumes entre os anos de 1781 e 1805.

(14)

de textos do escritor e economista inglês Arthur Young, nascido em 1741. Em 1759, Young tornou-se administrador de uma fazenda em Essex, na Inglaterra, onde procurou de forma experimental implantar novos métodos agrícolas, cujos resultados sintetizou primeiramen-te em Course of experimental agriculture (1770). Em suas viagens por outros países como Irlanda, País de Gales e França, Young sublinhou, além dos aspectos políticos e sociais das regiões, as diferenças entre técnicas agrícolas adotadas nas regiões visitadas. Le cultivateur anglais é a tradução para o francês de vários títulos de autoria de Young. Nesta coleção, composta por 18 volumes, Young fornece subsídios para aqueles que necessitam de co-nhecimentos práticos no campo da economia rural. Em dois deles, sob o título, Le Guide du Fermier (em português, o guia do agricultor), Young (1770) expõe um considerável rol de conhecimentos direcionados para todo aquele que tivesse a responsabilidade de gerenciar pequenas, médias e grandes propriedades agrícolas.

O ânimo de Silva Alvarenga por saberes no campo da agricultura não se resume à extensa série de livros de Arthur Young. A lista dos livros de seu acervo também registra a presença de outro livro célebre neste assunto: Lettres d’un Cultivateur Americain, do francês Michel Guillaume Jean de Crèvecoeur. Nascido em 1735, na região francesa da Normandia, Crèvecoeur migraria para os Estados Unidos, onde obtém a naturalização, ao casar-se com uma norte-americana, em 1770. Estabelecendo-se no condado de Orange no Estado de Nova Iorque e ali adquirindo uma propriedade rural, inicia uma carreira exito-sa como fazendeiro, experiência fundamental para a redação de suas cartas, escritas entre 1770 e 1778 e dirigidas a um suposto destinatário inglês. Uma das cartas mais famosas seria a segunda, na qual Crèvecoeur procura expor ao seu correspondente, na condição de europeu que se naturalizara em Nova York, o que é ser um americano. Um dos traços que marcaria o povo americano seria sua origem miscigenada: “com alegria, eles abandonaram os nomes ingleses, irlandeses, alemães, suecos, franceses, para adotar os nomes america-nos”. (CRÈVECOEUR, 1784, p. 19-20). Além de posicionar a mistura racial entre os povos como aspecto que diferencia a América da Europa, Crèvecoeur descreve o território como ideal para quem deseja, por meio de sua força de trabalho, progredir. A im de reforçar a ideia da América do Norte como um espaço de chances bem distribuídas de progresso individual, o fazendeiro ressalta que os únicos títulos lá tolerados seriam os de advogado e de mercador. E, ao explicar o que um viajante testemunharia na América do Norte, vai mais além no elogio ao que identiica como uma terra de considerável isonomia social: “Ele não verá nenhum ponto do país repartido entre um número de barões que, do alto de seus castelos denteados, concedem suas terras a seus vassalos em troca de serviços honrosos. Ele não verá nem o antigo abade, nem o mosteiro isolado” (CRÈVECOEUR, 1784, p. 29). O fazendeiro, ensaiando uma contraposição ao que testemunhara na Europa, declara não ter encontrado na América comunidades aristocráticas, cortes, reis ou domínio por parte de eclesiásticos. A relexão de Crèvecoeur postula a América como um mundo de possibilida-des abertas para aquele que possibilida-desejasse empreender com sua força de trabalho.

(15)

como se nota nos breves trechos aqui mencionados, elementos que poderiam agitar as mentes letradas, visto que lidos em situação colonial (NOVAIS, 2001, p. 169). Enquanto ilustrado, formado em Coimbra em pleno processo da Reforma da Universidade levada a cabo em 1772, Silva Alvarenga ansiava poder contribuir para o engrandecimento do Impé-rio de acordo com os desígnios de aperfeiçoamento e aplicabilidade dos saberes em prol da felicidade pública, vivenciados durante o período em Coimbra. Ainda que sua formação na instituição tenha se dado na Faculdade de Cânones, é crível argumentar que a atmosfera de renovação das práticas cientíicas – composta, entre outros elementos, pela vinda de professores estrangeiros à Universidade de Coimbra e pela criação de laboratórios e de outros estabelecimentos destinados ao estudo, conservação e experimentações ligadas ao mundo natural – tenha sido vislumbrada de perto pelo jovem estudante luso-americano, como indiciam algumas de suas composições poéticas e sua posterior proeminente atua-ção na reativaatua-ção da Sociedade Literária do Rio de Janeiro. Em sua primeira inquiriatua-ção da devassa de 1794, o professor régio, ao ser questionado a respeito da inalidade da Socieda-de Literária que ajudara a refundar, esclarece que “o objetivo principal era não esquecerem os seus sócios as matérias que em outros países haviam aprendido; antes, pelo contrário, adiantar os seus conhecimentos” (AUTOS..., 2002, p. 195). Assim, é lícito considerar que a leitura de um livro como o de Crèvecoeur, ao lado do acesso que tinha a textos de autores da Ilustração francesa, como o Cândido, de Voltaire, conduziria Silva Alvarenga a reletir de forma comparativa sobre suas possibilidades de inserção na sociedade colonial.17

Assim como a população gestada na América do Norte, a miscigenação racial marcara enormemente a América portuguesa e Silva Alvarenga, na condição de mulato, não pode-ria estar indiferente diante de tais realidades. O poeta certamente enfrentou resistências em Coimbra, ambiente em que, segundo Stuart Schwartz (2003, p. 251), os oriundos da América portuguesa tinham com frequência suas capacidades questionadas. Na mesma trilha, Schwartz aponta que a presença de homens de origem mestiça nas instituições por-tuguesas de educação superior era rarefeita, e, neste contexto, “a discriminação era efetiva” (SCHWARTZ, 2003, p. 250). As páginas de um livro como o de Crèvecoeur, ao vislumbrar com entusiasmo as oportunidades disponíveis aos povos da América do Norte, poderiam levar o letrado nascido em Vila Rica a aspirar melhores destinos. As lições de agricultura que o livro do fazendeiro francês fornece com suas experiências desenvolvidas na Amé-rica do Norte tinham potencial para fornecer ao poeta e professor régio subsídios para a adoção de técnicas mais avançadas que aumentassem os resultados da olaria que tinha em sociedade com Jacinto José da Silva.

(16)

âni-mos e fazer desvanecer as esperanças que concebe para o futuro” (AUTOS..., 2002, p. 323).

O empenho de Silva Alvarenga na reativação da Sociedade Literária ajusta-se ao seu propósito, relatado na devassa, de manter vivo o que os letrados aprenderam nos centros universitários estrangeiros. Tal declaração indicia, assim, uma constatação: o prognóstico incerto e em aberto do estágio dos saberes cientíicos na colônia em comparação com a metrópole demandava uma atitude que alterasse tal panorama, conforme os propósitos da Reforma da Universidade haviam preconizado e se estabelecido como parâmetro, com seu legado de aperfeiçoar o conhecimento em benefício da utilidade pública e do Império. Dentro do mesmo cenário, o desencanto ao ver que as condições de trabalho dos pro-fessores régios na colônia pouco haviam progredido mesmo após duas Reformas, o apoio meramente formal das autoridades régias aos trabalhos da Sociedade Literária somavam--se ao conhecimento que aportava pelos livros e gazetas acerca das realidades sensivel-mente diferentes que vigoravam em outras nações.

Considerações finais

Silva Alvarenga teve em sua trajetória de 65 anos de vida a passagem pela Universidade de Coimbra recém-reformada, na qual os espíritos dos estudantes eram formados para melhor servirem à sua pátria, concentrando-se em soluções que visassem ao aprimora-mento da produção econômica do Império português. Não importa a localidade dentro do espaço do Império em que estivessem, os súditos do rei eram convocados a exercer seus ofícios com máximo ainco em benefício da pátria que, dentro da expectativa real, corresponderia à totalidade do Império, para se utilizar a noção de patriotismo imperial.18

No entanto, as incongruências entre o futuro que se projetava para os habitantes letra-dos da metrópole e aquele reservado aos seus congêneres da América portuguesa é parte integrante de um processo que os conduz de maneiras diversas à percepção da crise do Império português na América (JANCSÓ; PIMENTA, 2000, p. 136). Tal situação acabaria por dar ensejo a tensões, mutações e fraturas no sentimento de patriotismo imperial entre os luso-americanos.

Vislumbrada em vários excertos da obra poética de Silva Alvarenga, a condição de iel vassalo do Rei lhe impunha, como não poderia deixar de ser, a percepção acerca de sua posição complementar no espaço imperial. Ainda assim, ao justapor a experiência de sua vida na colônia com aquilo que a Coroa projetara nominalmente para seus súditos, forma-va-se assim o contexto para a constatação de que tais distâncias seriam maiores do que as previstas. Tal jogo proporcionaria a sensação de que idelidade à Monarquia e condição americana seriam posições em permanente travejamento, num movimento potencialmen-te construtor de diferenças.

(17)

a realização de seus propósitos moldariam o âmago de tal percepção de sua condição americana. Além disso, as leituras, como as do livro do fazendeiro francês Crèvecouer, motivariam-no, juntamente com outros volumes de sua biblioteca, a sonhar com a mesma sorte dos americanos do hemisfério norte.

Referências

ACTAS das Congregações da Faculdade de Cânones (1772-1820). Coimbra: Publicações do Arquivo da Universidade de Coimbra, 1983. v. I.

ALGRANTI, Leila Mezan. Livros de devoção, atos de censura: ensaios de história do livro e da leitura na América portuguesa (1750-1821). São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2004.

ALMEIDA, Anita Correia Lima de. Inconfidência no Império: Goa de 1787 e Rio de Janeiro de 1794. Rio de Janeiro: Faperj; 7 Letras, 2011.

ALMEIDA, M. Lopes de. Documentos da Reforma Pombalina (1771-1782). Coimbra: Por Ordem da Universidade, 1937. v. 1.

ALVARENGA, Manuel Inácio da Silva. No dia da inauguração da estatua equestre de El Rey Nosso Senhor. Ode. S.l.:, s. n., [1775].

ALVARENGA, Manuel Inácio da Silva. Obras poéticas: Introdução, organização e ixação de texto de Fernando Morato. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

ANDRADE, Antonio Alberto Banha de. A reforma pombalina dos estudos secundários no Brasil. São Paulo: Saraiva; Edusp, 1978.

ANTUNES, Álvaro de Araújo. Espelho de cem faces – O Universo Relacional de um advo-gado setecentista. São Paulo: Annablume, 2004.

ANTUNES, Álvaro de Araújo. Fiat Justitia: os advogados e a prática da justiça em Minas Gerais (1750-1808). 2005. 368f f. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosoia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.

ARAÚJO, Ana Cristina. A Cultura das Luzes em Portugal – Temas e Problemas. Lisboa: Livros Horizonte, 2003.

(18)

AUTOS da devassa: prisão dos letrados do Rio de Janeiro, 1794. 2. ed. Rio de Janeiro: Eduerj, 2002.

BOTO, Carlota. A dimensão iluminista da reforma pombalina dos estudos: das primeiras letras à universidade. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, v. 15, n. 44, p. 282-299, 2010.

BRAGA Teophilo. Historia da Litteratura Portugueza – A Arcádia Lusitana – Garção – Qui-ta – Figueiredo – Diniz. Porto: Lello & Irmão, 1899.

BRIGOLA, João Carlos Pires. Colecções, gabinetes e museus em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

CALMON, Pedro. História do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1959. v. IV.

CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos. Rio de Janei-ro: Ouro sobre Azul, 2006.

CRÈVECOEUR, Michel-Guillaume Jean de. Lettres d’um cultivateur américain. Paris: Chez Cuchet, 1784. Tomo 1.

CRUZ E SILVA, Antonio Diniz da. Poesias. Lisboa: Typ. Lacerdina, 1807. Tomo I.

FALCON, Francisco José Calazans. A época pombalina: política econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1982.

FONSECA, Thais Nivia de Lima e. O ensino régio na Capitania de Minas Gerais – 1772-1814. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

FURTADO, Joaci Pereira. A caligrafia dos afetos – O poema heróico-cômico árcade e a sociedade luso-americana. 2001. 237 f. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosoia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

GUERRA, François-Xavier. A nação na América Espanhola. A questão das origens. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, ano 1, n. 1, p. 9-30, 1999/2000.

ISRAEL, Jonathan I. Iluminismo Radical: A Filosoia e a construção da Modernidade, 1650-1750. Tradução de Claudio Blanc. São Paulo: Madras, 2009.

(19)

para o estudo da emergência da identidade nacional brasileira). In: MOTA, Carlos Guilher-me (Org.). Viagem incompleta: A experiência brasileira (1500-2000). Formação: histórias. 2. ed. São Paulo: Editora Senac, 2000. p. 127-175.

KANTOR, Iris. Ciência & Império: trajetórias de ilustrados lusoamericanos na segunda me-tade do século XVIII. In: LABORATÓRIO do mundo: Ideias e saberes do século XVIII. São Paulo: Imprensa Oicial do Estado; Pinacoteca do Estado, 2004. p. 245-251.

KURY, Lorelai Brilhante. Homens de ciência no Brasil: impérios coloniais e circulação de informações (1780-1810). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 11, supl. 1, p. 109-129, 2004.

MARTINS, Maria Teresa Esteves Payan. A censura literária em Portugal nos séculos XVII e XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2005.

MONCADA, Luís Cabral de. Um “iluminista” português do século XVIII: Luiz Antonio Ver-ney com um apêndice de novas cartas e documentos inéditos. Coimbra: A. Amado, 1941.

MONTEIRO, Nuno Gonçalo. D. José. Lisboa: Círculo de Leitores, 2006.

MORAES, Rubens Borba de. Livros e bibliotecas no Brasil Colonial. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos, 2006.

MORATO, Fernando (Org.). Obras poéticas: Silva Alvarenga. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

MUNTEAL FILHO, Osvaldo. Uma sinfonia para o Novo Mundo: a Academia Real das Ciên-cias de Lisboa e os caminhos da Ilustração luso-brasileira na crise do Antigo Sistema Co-lonial. 1998. 599 f. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosoia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.

NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). 7. ed. São Paulo: Hucitec, 2001.

PINTO, Manuel Serrano et al. O medico José Pinto de Azeredo (1766?-1810) e o exame químico da atmosfera do Rio de Janeiro. História, Ciência, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 617-673, set. 2005.

(20)

RODRIGUES, Manuel Augusto. A Universidade de Coimbra: Figuras e factos da sua histó-ria. Porto: Campo das Letras, 2007. v. I.

SANTOS, Afonso Carlos Marques dos. No rascunho da nação: Inconidência no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, 1992.

SCHWARTZ, Stuart B. A formação de uma identidade colonial no Brasil. In: SCHWARTZ, Stuart B. Da América portuguesa ao Brasil. Lisboa: Difel, 2003. p. 217-272.

SILVA, José Alberto Teixeira Rebelo da. A Academia Real das Ciências de Lisboa (1779-1834): ciências e hibridismo numa periferia europeia. 2015. 413 f. Tese (Doutorado em Filosoia e História das Ciências) – Universidade de Lisboa, Lisboa, 2015.

SOUZA E SILVA, Joaquim Norberto. Obras poéticas, collegidas, anotadas e precedidas do juízo crítico dos escriptores nacionaes e estrangeiros, e de uma notícia sobre o autor e suas obras acompanhadas de documentos históricos por J. Norberto de Souza Silva. Rio de Janeiro: Garnier, 1864. 2 Tomos.

TOPA, Francisco. Para uma edição crítica da obra do árcade brasileiro Silva Alvarenga: In-ventário sistemático dos seus textos e publicação de novas versões, dispersos e inéditos. Porto: Edição do Autor, 1998.

TUNA, Gustavo Henrique. Silva Alvarenga: representante das Luzes na América portugue-sa. 2009. 318 f. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosoia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

VALADARES, Virgínia Trindade. Elites mineiras setecentistas: conjugação de dois mundos. Lisboa: Colibri, 2004.

VILLALTA, Luiz Carlos. O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura. In: SOUZA, Laura de Mello e (Org.). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 331-385.

VILLALTA, Luiz Carlos. Romances e leituras proibidas no mundo luso-brasileiro. In: ABREU, Márcia (Org.). Trajetórias do romance: circulação, leitura e escrita nos séculos XVIII e XIX. Campinas: Mercado de Letras, 2008. p. 243-274.

(21)

WOLOOCH, Nathaniel. “Facts, or Conjectures”: Antoine-Yves Goguet’s Historiography.

Journal of the History of Ideas, v. 68, n. 3, p. 429-449, jul. 2007.

YOUNG, Arthur. Le Guide du Fermier. Paris: Chez J. P. Cotard, 1770. 2 v.

Notas

1 Em 1771, a Junta da Providência Literária realizaria um balanço da estrutura de ensino da instituição coimbrã vislumbrando planiicar suas futuras mudanças, exercício que resulta na concepção do Compêndio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra, documento que se encontra analisado em Boto (2010, p. 294-296). 2Arquivo da Universidade de Coimbra, Livro de matrículas, 1768-1769, v. 86, (IV-1a D-1-4-39), l. 400 v. 3 Arquivo da Universidade de Coimbra, Livros de Actos e Graus, 1770-1771, v. 105, (IV- 1a D-1-2-49), l. 54 v. 4 “Ordem para a suspensão dos estudos da Universidade antes da Reforma”, 25 de setembro de 1771 (ALMEIDA, 1937. v. 1, p. 1).

5 Carta de curso de Manuel Inácio da Silva Alvarenga, 1768-1776. Arquivo da Universidade de Coimbra, Cartas de curso, (IV- 2a - D-12), l. 4.

6 Arquivo da Universidade de Coimbra, Livros de Actos e Graus Grandes, 1773-1780, (IV- 1a D-2-3-2), l. 142 v. 7 A ode “À mocidade portuguesa” foi impressa pela primeira vez no volume IV da obra Miscellanea curiosa, e Proveitosa, ou Compilação tirada das melhores obras das nações estrangeiras, traduzida e ordenada por ***C. I., Lisboa: Typograia Rollandiana, 1782, p. 329-331. A identiicação da publicação foi realizada graças aos esforços do pesquisador Francisco Topa. Cf. Topa (1998, p. 34-35).

8 Consideravelmente sólidos são os indícios que apontam que o médico José Pinto de Azeredo, nascido no Rio de Janeiro e formado em Medicina em Edimburgo, na Escócia, tenha apresentado na Sociedade Literária os resultados de sua pesquisa sobre a composição do ar. Cf. Pinto et al. (2005, p. 618).

9 Um amplo e recente estudo acerca da organização da Academia das Ciências de Lisboa foi realizado por Silva (2015). Uma análise mais concentrada em explorar as relações da instituição com a América portuguesa foi conduzida por Munteal Filho (1998).

10 Ofício do professor de Língua Grega João Marques Pinto e do professor de Retórica Manoel Inácio da Silva Alvarenga na cidade do Rio de Janeiro ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar], Martinho de Melo e Castro, solicitando que ponha na presença real a carta que enviam sobre o estado lastimoso em que se encontram os estudos de Filosoia, Retórica e Língua Grega no Rio de Janeiro pela oposição dos clérigos e religiosos ao seu desenvolvimento Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1787, Arquivo Histórico Ultramarino, Avulsos do Rio de Janeiro, cx. 129, doc. 10268. e Carta do professor de Grego João Marques Pinto, e do Professor de Retórica, Manoel Inácio da Silva Alvarenga, à rainha [D. Maria I], relembrando a lei de 1772 que restaurou no reino e nas colônias as escolas de Retórica, Filosoia e Língua Grega; relatando a escassez de alunos do Rio de Janeiro, a rivalidade entre ensino religioso e leigo; a campanha de difamação feita pelos eclesiásticos contra os professores e os estudos das Humanidades. Rio de Janeiro, 28 de março de 1793, Arquivo Histórico Ultramarino, Avulsos do Rio de Janeiro, cx. 147, doc. 11365.

11 Ofício do professor de Língua Grega João Marques Pinto e do professor de Retórica Manoel Inácio da Silva Alvarenga na cidade do Rio de Janeiro ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar], Martinho de Melo e Castro, solicitando que ponha na presença real a carta que enviam sobre o estado lastimoso em que se encontram os estudos de Filosoia, Retórica e Língua Grega no Rio de Janeiro pela oposição dos clérigos e religiosos ao seu desenvolvimento Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1787, Arquivo Histórico Ultramarino, Avulsos do Rio de Janeiro, cx. 129, doc. 10268.

12 O uso do termo “livraria” para fazer referência ao conjunto de obras impressas é constantemente visto na documentação colonial para fazer referência ao conjunto de livros pertencentes a indivíduos ou a instituições religiosas ou laicas. No Vocabulario Portuguez & Latino, de Raphael Bluteau, o termo livraria traz o seguinte texto: “Lugar onde estão muitos livros em estantes. Bibliotheca. c. Fem. Cic. Vid. Livro. Raphael Bluteau. Vocabulario Portuguez & Latino. v. 5. Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1728, p. 163.

(22)

sua efetiva composição. Tal listagem analítica, que resultou na identiicação de 295 títulos, constitui-se no anexo III da tese que pode ser acessada em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-01122009-120848/ pt-br.php>.

14 Memória dos livros aconselháveis e permitidos para o Novo Método (ANDRADE, 1978, p. 186).

15 Reiro-me aqui a Instituições logicas escritas para uzo da mocidade. Por seu autor Antonio Genuense, traduzidas e addiccionadas em portuguez, por Guilherme Coelho Ferreira. Lisboa: Oicina Patr. De Francisco Luiz Ameno, 1787.

16 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, Fundo Vice-Reinado, Correspondência de diversas autoridades com vice-reis, cx. 485, pct 2.

17 Na lista de livros da biblioteca de Silva Alvarenga, constam cinco títulos de autoria de François Marie Arouet Voltaire, entre os quais seu Romans et contes, em quatro volumes. Esta obra abrigaria em um de seus volumes o conto ilosóico de cariz satírico Cândido, ou o Otimismo, publicado pela primeira vez em 1759. Segundo Luiz Carlos Villalta (2008), Voltaire destila no referido conto críticas ao colonialismo, à Inquisição portuguesa e à sacralidade da monarquia, entre outros alvos. Ver Tuna (2009, p. 296-297) e Villalta (2008, p. 245).

18 O conceito foi utilizado por François-Xavier Guerra (1999/2000) em trabalhos acerca dos sentimentos identitários na América Espanhola.

Gustavo Henrique TUNA. Doutor em História Social pela USP (2009). Gerente editorial da Global Editora. Endereço: R. Pirapitingui, 111 - Liberdade, São Paulo - SP, 01508-020.

Referências

Documentos relacionados

A variável, stock de imigração (LogIMI), apresenta um sinal positivo no modelo, o que significa que o comércio bilateral é explicado pelos residentes estrangeiros no país, para

• Analisar como são implementadas as estratégias de marketing na Universidade Luterana do Brasil - Ulbra; • Verificar como é utilizado o esporte nas estratégias de marketing da

Para devolver quantidade óssea na região posterior de maxila desenvolveu-se a técnica de eleva- ção do assoalho do seio maxilar, este procedimento envolve a colocação de

Por meio de uma pesquisa qualitativa com levantamento de dados foi possível verificar que os pesquisadores abordam diversas frentes diferentes em seus trabalhos, que passam

Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivos: verificar o efeito da aplicação de fertilizantes químico e organomineral associado ao uso da cobertura plástica e do

Devem, então, identificar-se potenciais de aproveitamento de resíduos / subprodutos da obra em outras empresas e vice-versa, incluindo o encaminhamento para

Contudo, para o sistema completo e projectando as produções hídrica e eólica niveladas através dos anos de 2009 e 2010, os índices de fiabilidade são muito bons, pelo que se pode

inequivocamente sob os efeitos da competitividade entre as empresas, exigindo que essas organizações saiam da sua zona de conforto e aprendam a lidar com os desafios que se