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A PASTORAL HOSPITALAR REALIZADA PELA ASSOCIAÇÃO PARANAENSE DE CULTURA (APC): A BUSCA DE HUMANIZAÇÃO NO CUIDADO COM A VIDA

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A PASTORAL HOSPITALAR REALIZADA PELA ASSOCIAÇÃO PARANAENSE DE CULTURA (APC): A BUSCA DE HUMANIZAÇÃO NO CUIDADO COM A VIDA

Luiz Carlos Gerent Junior1 Waldir Souza2

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar a Pastoral Hospitalar desenvolvida pela Associação Paranaense de Cultura, sob o olhar da bioética, enquanto processo humanizador e sua relação com os cuidados paliativos. Tendo em vista o cuidado integral do doente e do sofredor, a Pastoral Hospitalar realiza um trabalho de edificação espiritual, que também abarca corpo e psique, zelando assim, pelo bem-estar físico, mental e social dos pacientes hospitalizados, familiares e funcionários. Neste contexto, onde as relações se estreitam, foi possível identificar pontos positivos e pontos a iluminar, tanto do processo de humanização quanto nos cuidados paliativos. Sendo assim, e com vistas à promoção humana, foram realizadas algumas propostas de melhoria no serviço prestado, tanto pelos agentes de pastoral, como na própria organização hospitalar, em relação ao processo humanizador e aos cuidados paliativos, da referida rede de hospitais. Quer-se com isto, alimentar uma discussão a respeito do processo humanizador e dos cuidados paliativos, sob o olhar da bioética e do evangelho, para, por fim, beneficiar aquele que mais precisa, ou seja, o doente e o sofredor.

Palavras-chave: Pastoral Hospitalar. Processo Humanizador. Cuidados Paliativos. Saúde.

Bioética.

INTRODUÇÃO

O avanço científico, cada dia mais, estabelece modelos tecnicistas, não apenas nas

áreas ligadas diretamente a tecnologia, mas, também, nas relações interpessoais.

No universo da saúde, onde as relações humanas se estreitam, este modelo pode ser devastador, carecendo, desta forma, de uma reflexão ética que conduza a uma ação humanizadora e integradora. A introdução destas técnicas é evidente e irreversível, mas possui um caráter ambivalente. Elas permitem a cura e resultados nunca antes alcançados.

1

Graduando do Curso de: Bacharelado em Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. E-mail: lcgerent@sanepar.com.br.

2

Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor do PPG em teologia da PUCPR (linha de pesquisa: teologia e sociedade. Projetos de pesquisa: 1º Teologia moral e Biotecnociência. Estudo dos seus impasses e alternativas; 2º A Bioética na perspectiva da Pastoral da Saúde). Professor de antropologia teológica, bioética e teologia moral no Bacharelado em teologia da PUCPR. Professor de Temas de Teologia e Bioética e Questões Fundamentais de Teologia do Mestrado em Teologia da PUCPR e membro do Comitê de Ética e Pesquisa no Uso de Animais da PUCPR. E-mail: waldir.souza@pucpr.br.

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“Contudo, a tecnificação da assistência pode degenerar em um colonialismo tecnocrático do mundo da assistência” (TORRALBA ROSELLÓ, 2009, p. 24).

Siqueira (2000) e Cassel (1991) indicam que:

Há um cansaço na cultura contemporânea em relação a uma medicina que reduz o ser humano meramente à sua dimensão biológica orgânica. O ser humano é muito mais do que sua materialidade biológica. Poderíamos dizer que este cansaço provocou uma crise da medicina técnico-científica e que favoreceu o nascimento de um novo modelo, do paradigma biopsicossocial e espiritual (BERTACHINI, PESSINI, 2011, p. 283).

“Além da especialização das disciplinas e da massificação e burocratização da assistência, vivemos em um contexto social e cultural no qual os fenômenos de instrumentalização da pessoa humana são mais frequentes do que se desejaria” (TORRALBA ROSELLÓ, 2009, p. 23).

Neste contexto, o olhar da bioética e deste trabalho é justamente buscar caminhar, ao menos um pouco, na direção de uma discussão e na construção de consensos sobre os limites e objetivos da pesquisa científica que envolve seres humanos, missão da bioética, dessa forma valorizando a vida humana em suas três dimensões: corpo, psique e espírito e zelando assim, pelo bem-estar físico, mental e social do ser humano.

Outra discussão que deve ser realizada é quanto ao valor natural da vida humana, seja para o crente seja para o não crente. Este valor passa pela dignidade e pelos direitos humanos, que possuem valor absoluto, em si mesmos. É o que podemos perceber na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em seu preâmbulo afirma: “Os direitos humanos são a expressão direta da dignidade da pessoa humana, a obrigação dos Estados de assegurarem o respeito que decorre do próprio reconhecimento dessa dignidade” (UNESCO, 1948). O mesmo documento ainda afirma que: “o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo” (UNESCO, 1948). Percebemos assim, que a dignidade, concedida e praticada por todos, é o cerne de uma ação para a conquista de um mundo livre, justo e pacífico, pois “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade” (UNESCO, 1948). Esta definição deve permear, como afirma Barchifontaine (2010, p. 45), todas as relações sociais, econômicas e culturais, conferindo, dessa forma, ordem e harmonia às comunidades humanas. Assim, a dignidade humana, é a aceitação, do próprio homem em pertencer ao gênero humano, e assim confrontar sua vida com a de toda a humanidade.

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No âmbito da saúde, a dignidade está relacionada com reconhecer no outro, na sua integralidade e especificidade, um valor infinito. Para o crente este valor está enraizado na própria criação a imagem e semelhança divina (Gn 1,26-28), como expressa no documento conciliar:

O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador (GS, n. 19).

E, ainda o Catecismo da Igreja Católica, em seu artigo 357, assegura que:

Por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas uma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com o seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor, que ninguém mais pode dar em seu lugar (CIC, n. 357).

Também Cristo é fundamento desta mesma dignidade. Jesus é a chave para entender o desígnio do amor do Pai para com o homem, pois revela a dignidade da criatura e a torna ainda maior, torna a humanidade sua irmã, filha adotiva do mesmo Pai. “A benevolência e a misericórdia, que inspiram o agir de Deus e oferecem a sua chave de interpretação, tornam-se tão próximas do homem a ponto de assumir os traços do homem Jesus, o Verbo feito carne” (CDSI, n. 28).

Entretanto, é preciso notar, que esta dignidade não é apenas espiritual, ela abrange a pessoa inteira. “O Filho de Deus, no mistério da Encarnação, confirmou a dignidade do corpo e da alma, constitutivos do ser humano. Cristo não desdenhou a corporeidade humana, mas revelou plenamente o seu significado e valor” (DP, n. 2008), e ainda:

O homem, por sua própria condição corporal, sintetiza em si os elementos do mundo material, que nele assim atinge sua plenitude e apresenta livremente ao Criador uma voz de louvor. Não é, portanto, lícito ao homem desprezar a vida corporal; ao contrário, deve estimar e honrar seu corpo, porque criado por Deus e destinado à ressurreição no último dia (GS, n.14).

Assim, por Jesus Cristo, “corpo e alma do crente participam desde já da dignidade de ser ‘de Cristo’, daí a exigência do respeito para com seu próprio corpo, mas também para com o de outrem, particularmente quando este sofre” (CIC, n. 1004). Desse modo, “A defesa e a promoção da dignidade da pessoa humana nos foram confiadas pelo Criador. Em todas as circunstâncias da história, os homens e as mulheres são rigorosamente responsáveis e obrigados a esse dever” (SRS, n. 47). Por isso a regra de ouro, que se encontra em Mateus 7,12, se encaixa tão bem nesta temática: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles”.

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Diante de tudo isto, o presente artigo nasce de um projeto de iniciação cientifica, já concluído, intitulado: “A pastoral hospitalar desenvolvida pela Associação Paranaense de Cultura (APC) na perspectiva da bioética”, que parte de um projeto maior: “A bioética na perspectiva da pastoral da saúde”. O projeto de iniciação científica procurou acompanhar os agentes de pastoral no seu trabalho, que é atuar junto aos pacientes dos hospitais da rede Aliança Saúde, a citar: hospital Cajuru, Santa Casa de Misericórdia e Nossa Senhora da Luz, compartilhando experiências, dialogando e sendo sinal de da presença salvadora de Cristo nestes ambientes. Este projeto ainda buscou relatar as atividades desta pastoral em relação ao processo humanizador e aos cuidados paliativos. Para tanto, a metodologia aplicada foi à qualitativa e por vezes a aplicação do método quantitativo exploratório. Serão as conclusões destes encontros, aliadas a algumas leituras, que darão suporte ao texto produzido aqui. Na busca de fomentar uma ação conjunta e integradora, em prol de um processo mais humanizador, este trabalho refletirá o caráter prático da ação humanizadora e dos cuidados paliativos da pastoral hospitalar supracitada, ressaltando elementos positivos e pontos a iluminar neste processo.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Cuidado humanizador e integral

Dentro de um processo humanizador, hoje se reconhece a integralidade do cuidado da pessoa que se encontra doente ou em estado de sofrimento. A Organização Mundial da Saúde define saúde como “um estado de completo bem-estar, físico, mental e social, e não somente a ausência de doença ou de mal-estar”. Já o artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma como direito de todo ser humano “um nível de vida adequado para a saúde e o bem-estar”. Lamentavelmente, a saúde entendida desta forma, tanto quanto o bem-estar do paciente, geralmente ficam em segundo plano, frente a uma demanda de atendimento quase insuportável que aflige hospitais, tanto da rede pública como privada.

Como visto acima, a dignidade é algo inerente à pessoa humana e por isso precisa ser respeitada na sua integralidade. Diante desta integralidade, é natural ao homem ser vulnerável, pois:

A experiência da vulnerabilidade está intimamente arraigada na humanidade. O ser humano é um ser vulnerável, radicalmente vulnerável, ou seja, de sua raiz mais íntima. Vulnerabilidade significa fragilidade, precariedade. O ser humano está exposto a múltiplos perigos: o perigo de ser agredido, o perigo de fracassar, o perigo

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de morrer. Viver humanamente significa, pois, viver na vulnerabilidade (TORRALBA ROSELLÓ, 2009, p. 57).

Assim, a vulnerabilidade não atinge somente fisicamente ao ser humano, pois ele está sujeito à dor e a morte, mas também psicologicamente porque é frágil, socialmente, pois é um agente social e espiritualmente. “Sua estrutura pluridimensional, seu mundo relacional, sua vida, seu trabalho, suas ações, seu pensamento e inclusive suas fantasias são vulneráveis” (TORRALBA ROSELLÓ, 2009, p. 59).

Desta forma, e como ser vulnerável, a pessoa sofre como um todo, acometida pela dor e pelo sofrimento, seu corpo padece, sua psiquê fica desorientada e seu espírito fica com dúvidas e abalado. Torralba (2009, p. 69) nos diz: “A doença supõe uma mudança na vida da pessoa humana, uma mudança ou mutação que não se refere somente à estrutura somática do ser humano, mas também à sua integralidade”. A doença altera a vida toda da pessoa, muda sua rotina, seu lugar, o modo de olhar a vida e encarar o mundo, o modo de se olhar “altera a percepção da própria materialidade” (TORRALBA ROSELLÓ, 2009, p. 70) e ainda seu “mundo afetivo e relacional, pois a pessoa doente e suas relações interpessoais se expressam de um modo diferente” (TORRALBA ROSELLÓ, 2009, p. 70). A pessoa torna-se escrava do seu próprio corpo, quando está acostumada a ser seu dono.

Reconhecendo isto, não cabe mais, no cuidado com o paciente, o tratamento apenas do aspecto físico da dor. Como ser integral, a pessoa tem o direito também a um tratamento integral, que vise proporcionar bem-estar e qualidade de vida, pois “a pessoa humana não deve ser reduzida a uma mera entidade biológica” (BERTACHINI, PESSINI, 2011, p. 25).

Cuidados paliativos e qualidade de vida

No cuidado com a vida, outro ponto chave e muito discutido é o cuidado paliativo, como alternativa saudável de qualidade de vida para pacientes em fase terminal ou com doenças crônico-degenerativas.

A Organização Mundial da Saúde em 1990 definiu cuidado paliativo como: “o cuidado ativo total de pacientes cuja doença não responde mais ao tratamento curativo. Controle da dor e outros sintomas e problemas de ordem psicológica, social e espiritual são prioritários. O objetivo dos cuidados paliativos é proporcionar a melhor qualidade de vida para os pacientes e seus familiares” (WORLD HEALTH ORGANIZATIION, 2002). E foi mais além quando em 2002, redefiniu cuidados paliativos como “uma abordagem que aprimora a qualidade de vida dos pacientes e familiares que enfrentam problemas associados com doenças ameaçadoras da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento, por meios de

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identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual” (WORLD HEALTH ORGANIZATIION, 2002).

Nota-se que o enfoque nas duas definições está na qualidade de vida do paciente, e que pressupõe o alívio da dor, mas também um cuidado integral deste. Não é, portanto, uma medicina paliativa, pois outros profissionais estão envolvidos neste processo.

Desta forma, o cuidado paliativo busca “assegurar aos doentes condições que os capacitem e encorajem a viver sua vida de uma forma útil, produtiva e plena, até o momento de sua morte” e ainda: “a importância da reabilitação, em termos de bem-estar físico, psíquico e espiritual, não pode ser negligenciada” (BERTACHINI, PESSINI, 2011, p. 25).

Visto isto, os cuidados paliativos devem atingir as necessidades das várias dimensões humanas: física, psíquica, social e espiritual. Para isto, deve-se se “expandir seu foco para além do controle da dor e dos sintomas físicos, para incluir abordagem psiquiátrica, psicológica, existencial e espiritual nos cuidados de final de vida e talvez em situações específicas culminar na aceitação com serenidade e paz da própria morte” (BERTACHINI, PESSINI, 2011, p. 290). “Quando os recursos humanos chegam ao fim, começa a graça e se transcende para os limites da fé” (ALIANÇA SAÚDE PUCPR-SANTA CASA, 2005, p. 30),

Para encerrar está breve aprofundamento teórico sobre cuidado paliativo e qualidade de vida, deixo duas reflexões de Bertachini e Pessini, acerca da prática médica e dos serviços de saúde.

Primeiro os autores afirmam que:

Os profissionais da saúde precisam superar o modo de ser operadores de técnicas, decifradores de exames, executores de rotinas, manuais e procedimentos, para conceder direito de cidadania a sua capacidade de sentir e aproximar-se do outro. É preciso dar espaço à lógica da cordialidade, da gentileza, do acolhimento e não só à lógica da conquista, da dominação e do uso utilitário dos outros (BERTACHINI, PESSINI, 2011, p. 67).

Tal afirmação abre espaços para outros argumentos e reflexões que não trataremos neste trabalho, como o cuidado com o próprio profissional da área da saúde, que também possui seus problemas e indagações, que muitas vezes não é valorizado e que por isto deve também receber cuidados.

Outra provocação faz referência aos serviços de saúde, desta forma:

Até mesmo os serviços de saúde estão cada vez mais preocupados com ganhos, pesquisas, tecnociências, inovações, contenção de custos, padronização de normas e procedimentos e têm se esquecido do mais valioso: as pessoas. Sejam os profissionais, sejam os pacientes. As demais preocupações são necessárias, mas sua motivação e finalidade têm de ser a pessoa, e seu objetivo é alcançar a melhor atenção em saúde para a pessoa ou a comunidade (BERTACHINI, PESSINI, 2011, p. 68).

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O cuidado espiritual

Como visto acima, a espiritualidade faz parte do todo humano. Ela é tão relevante como qualquer outra e pode ser um canal de resiliência e força para o homem. A espiritualidade “tem a ver com a busca transcendente de um sentido maior no aparente absurdo de passarmos por experiências de dor, sofrimento, perda, angústia e até mesmo medo da morte” (BERTACHINI, PESSINI, 2011, p. 268).

Diante disso, todas as religiões, cada qual a sua maneira, oferecem caminhos, salvação e respostas aos questionamentos mais profundos do ser humano:

Para as pessoas que cultivam uma fé religiosa, podem-se oferecer cuidados e respostas confortantes para estas questões existenciais. Para os que não possuem crença religiosa podemos prover conforto via solidariedade e compaixão, que amenizam os medos associados com a dor, o sofrimento e o sentimento de serem esquecidos após a morte (BERTACHINI, PESSINI, 2011, p. 292).

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A Pastoral Hospitalar

Não há como se falar de processo humanizador, sem que este processo esteja centrado na relação interpessoal. A proposta da pastoral hospitalar é justamente esta, manter contato humano com o paciente, que por vezes se encontra desamparado. “A comunicação personaliza o encontro e a leitura afetiva” (BERTACHINI, PESSINI, 2011, p. 19,27) entre as partes e exige-se também “uma especial atenção à prática de uma comunicação aberta e sensível com os pacientes, familiares e cuidadores” (BERTACHINI, PESSINI, 2011, p. 19,27). E é ela, a comunicação, o principal instrumento de trabalho da pastoral hospitalar. No mundo da saúde, a comunicação não pode ser um item opcional, ela é ponto chave de acesso paciente-família-cuidador.

Num mundo de grande individualismo, incompreensão e relações superficiais, a pastoral hospitalar faz justamente o caminho oposto, para assim chegar à pessoa, e nisto reside seu valor. A valorização humana deve permear todos os processos de relacionamento, sobretudo no ambiente hospitalar, por se tratar de um local de descaracterização da pessoa humana, que se encontra fraca e por vezes, oprimida.

No trabalho da pastoral, ou seja, no cuidado espiritual do paciente, principal função da pastoral, percebe-se um grande empenho da equipe para atender cada paciente de uma forma

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diferenciada. O atendimento é feito da forma que a pessoa mais precisa, seja conversando, rezando, ou apenas escutando, podendo ser semanal, ou até mesmo diário, dependendo da necessidade do paciente. Isto demonstra um caráter humanizador, pois cada pessoa diferentemente da outra, pode se sentir mais à vontade com um determinado processo, ou até mesmo sem ele. Pode-se também receber visitas, com a supervisão da pastoral, de um conselheiro espiritual, não importando a fé que o paciente professa, desde que ele esteja a serviço do bem-estar espiritual do paciente, e seja solicitado por este.

Outro ponto a ressaltar é que o atendimento realizado pela pastoral hospitalar alcança muito mais que apenas a fé pessoal do paciente, o atendimento muitas vezes integra a pessoa novamente a sociedade, lhe revigorando a alto-estima e, sobretudo a dignidade de ser pessoa e de ser reconhecida como tal.

Com foco na vida e ensinamentos do Mestre Jesus, a Pastoral Hospitalar, “é um serviço que vai ao encontro do homem e da mulher onde quer que eles estejam, sobretudo nos momentos decisivos de sua existência” (ALIANÇA SAÚDE PUCPR-SANTA CASA, 2005, p. 28), não apenas com palavras, mas também com atitudes concretas.

A Pastoral Hospitalar funda-se na consciência de que os doentes têm muito a oferecer à humanidade. Eles não são simplesmente sujeitos passivos de nossa caridade. Eles nos ensinam e nos ajudam a viver de modo mais plenamente humano (ALIANÇA SAÚDE PUCPR-SANTA CASA, 2005, p. 29).

No cuidado com o doente e colaboradores

Acompanhado os agentes de pastoral em seu trabalho, foi possível identificar que sua atuação é de essencial importância para a saúde espiritual de pacientes, familiares e funcionários, bem como na efetiva integração e humanização dos que sofrem. Percebeu-se ainda que, orientados pela vontade de ajudar a próximo, premissa cristã e por isto também valor marista, o agente de pastoral alcança muito mais que a espiritualidade do paciente ou de quem procura por sua ajuda. Esta ação mobiliza a pessoa a um processo de estima pela própria vida, colaborando assim, também para o seu bem-estar físico, mental e social.

É importante ressaltar que a dinâmica de relacionamento entre paciente e agente de pastoral, não ocorre apenas por meio da escuta do paciente, ou de pronunciamentos de frases motivadoras. Este encontro alcança outros níveis de comunicação, pois passa pela troca de experiências que está dinamizada no próprio fato de se reconhecerem como iguais, como participantes da mesma natureza, ou por vezes, filhos de um mesmo Pai. Mas outras formas de comunicação não verbal também ocorrem nestes encontros: olhares, contato, ou a simples e eficaz presença.

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O cuidado pressupõe capacidade dialógica, pressupõe capacidade de articular palavras e de recebê-las, e, simultaneamente, requer a conversão contínua de emissor em receptor e de receptor em emissor... o processo de cuidar é um diálogo, mas não de palavras, e, sim, de presenças. No diálogo de presenças, produz-se o encontro entre dois seres humanos, que se dispõem a falarem, a mirarem-se nos olhos, a aceitarem-se mutuamente, a enriquecerem-se mutuamente (TORRALBA ROSELLÓ, 2009, p. 147).

Cuidar é estar a serviço de quem precisa, da necessidade do doente. Dar tratamento singular a uma pessoa singular, cuidando com compaixão, ou seja, se colocando no seu lugar. Acompanhar é caminhar junto, é o encontro de duas almas que caminham na mesma direção. Por isso o agente de pastoral deve olhar a necessidade do doente, caminhar no seu tempo, e ajuda-lo, muitas vezes a reconstituir sua história.

Pontos a iluminar

Faz-se necessário, neste momento, deixarmos algumas contribuições / sugestões, para auxiliar o serviço prestado pela Pastoral Hospitalar, pois um olhar externo pode revelar dificuldades ocultas ou mesmo salientar algumas já conhecidas.

O primeiro ponto a salientar, seria a falta de agentes e assistentes de pastoral suficientes para realizar os atendimentos, visto que a pastoral não trabalha apenas com os pacientes, mas seus membros participam ativamente em reuniões, realizam momentos de espiritualidade e confraternizações internas. Atendem espiritualmente todo o quadro de funcionários que atuam no hospital e também os familiares dos pacientes. Realizam cursos nas integrações e ensinam catequese a quem solicitar.

Outra dificuldade percebida trata-se, não somente da Pastoral Hospitalar, mas da interação entre os profissionais das diversas áreas que atuam com pacientes e familiares, sobretudo no que se refere à humanização e aos cuidados paliativos.

O comprometimento com a humanização e com os cuidados paliativos deve partir de todos, desde a diretoria até o auxiliar de serviços gerais, pois o ambiente todo será afetado por este compromisso. Todo este processo será mais dinâmico e natural, quanto mais integrada estiver à equipe que atua no hospital.

Embora a equipe central consista em um médico, um enfermeiro e um assistente social com fim de prover o cuidado necessário, faz- se necessário contar com a colaboração de uma equipe ainda maior de profissionais médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, entre outros. Para que este grupo trabalhe de forma coesa, é crucial estabelecer e partilhar metas e objetivos comuns, bem como utilizar meios rápidos e efetivos de comunicação (BERTACHINI, PESSINI, 2011, p. 26).

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Desta forma, quanto maior o empenho e a integração da equipe, mais amplo, restaurador, humanizador, integrador e dignificador, será o processo de cuidado com o paciente. Assim, as decisões e ações, seja com relação ao cuidado paliativo, seja com relação ao processo humanizador, devem abranger todos os profissionais, cada qual na sua especialidade, que se envolvem no cuidado com o paciente, pois todos são responsáveis por alcançar o mesmo objetivo: oferecer ao paciente as melhores chances de recuperação, humanização, integração, bem-estar, qualidade de vida, respeito e socialização.

O que se quer propor, após este trabalho é justamente está interação multiprofissional no cuidado com o paciente. Lembrando que o agente de pastoral pode ser uma eficaz ponte entre a família e paciente, pare que ambos também possam participar ativamente dos processos de decisões e ações que ajudem efetivamente aquele que sofre e precisa de ajuda.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho buscou-se compreender a dinâmica do processo humanizador nos Hospitais da rede Aliança Saúde, a partir de uma experiência concreta junto aos agentes de pastoral, sem com isto ter contato com os pacientes. Foram relatadas suas atividades enquanto processo humanizador e sua relação com os cuidados paliativos, tanto na ação integradora, quanto na qualidade de vida e cuidado espiritual dos pacientes e demais pessoas atendidas pela Pastoral Hospitalar.

Apresentou-se ainda, a partir da leitura das referências bibliográficas ou da simples observação seguida de reflexão, propostas de melhoria no serviço prestado, tanto pelos agentes de pastoral, como na própria organização hospitalar, em relação ao processo humanizador e aos cuidados paliativos da referida rede de hospitais. Quer-se, com isto, alimentar uma discussão a respeito do processo humanizador e dos cuidados paliativos, sob o olhar da bioética e do evangelho, para, por fim, beneficiar aquele que mais precisa, ou seja, o doente e o sofredor.

REFERÊNCIAS

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BERTACHINI, Luciana, PESSINI, Leocir. Encanto e responsabilidade no cuidado da

vida: lidando com desafios éticos em situações críticas e de final de vida. São Paulo:

Paulinas; Centro Universitário São Camilo, 2011. BIBLÍA de Jerusálem. São Paulo: Paulus, 2002.

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Referências

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