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FEC 25 anos: Qual o papel das sociedades civis no desenvolvimento internacional? Iremos lembrar 2015 como um ano chave no setor do desenvolvimento?

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FEC 25 anos: Qual o papel das sociedades civis

no desenvolvimento internacional?

Lisboa, 19 de novembro de 2015

Iremos lembrar 2015 como um ano chave no setor do desenvolvimento?

A agenda global do desenvolvimento define este ano como um marco. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabeleceram um novo conjunto de objetivos que são tanto mais inclusivos – atingindo todos os países – como mais ambiciosos que os seus antecessores, os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, envolvendo temáticas ambientais e novos atores na área do desenvolvimento.

Em julho, a Conferência de Financiamento para o Desenvolvimento, que teve lugar em Addis Abeba reuniu representantes políticos de alto nível para debater o financiamento para a implementação da Agenda de Desenvolvimento Pós-2015. A Cimeira do Clima das Nações Unidas irá oferecer, em dezembro em Paris, uma oportunidade renovada para uma forte mobilização de um movimento global para a mudança, com vista ao combate contra as alterações climáticas. Finalmente, o Ano Europeu para o Desenvolvimento em curso espera não apenas aumentar a consciencialização, como comprometer os cidadãos nas questões de desenvolvimento nas suas vidas diárias.

Dada a oportunidade e urgência de uma tomada de consciência profunda, o Papa Francisco veio marcar esta agenda com a publicação, em junho, da Encíclica –Laudato Si – Sobre o Cuidado da Casa Comum–, marcando presença na Cimeira da ONU em Setembro e lembrando que o –urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral1

1 Francisco, Papa, Laudato Si, Sobre o cuidado da Casa Comum, nº 13, 2015

DESENVOLVIMENTO

REPENSAR O

COOPERAÇÃO

REINVENTAR A

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Mas por trás desta agenda global para o desenvolvimento, irão as pessoas que enfrentam a pobreza e a falta de oportunidades nas suas vidas lembrar 2015 como um tempo de mudança? Irão as sociedades civis, em todo o globo, fazer eco das vozes das pessoas e defender os seus, os nossos direitos? Citando Ban Ki-moon, Secretário Geral das Nações Unidas, iremos ser capazes de viver de acordo com o desafio de não deixar ninguém para trás?

Num contexto de rápida mudança e incerto, este é um desafio para todos. As sociedades civis não são exceção e devem desempenhar um papel de liderança.

Um contexto de mudança

A década passada assistiu a mudanças dramáticas no contexto internacional com um impacto direto no desenvolvimento global. Desde 2008, e em resultado da crise financeira e de significativas mudanças económicas em muitos países da OCDE, verificaram-se impactos em todo o mundo, não apenas no âmbito económico, mas também de forma notória no âmbito da segurança alimentar, da educação, da saúde, bem como no investimento social ou ambiental.

Além disso, o contexto político internacional está também a mudar. Novas forças políticas

estão a emergir numa tendência que se afigura global. Estes novos poderes estão a questionar os regulamentos internacionais, desafiando o sistema das Nações Unidas; as instituições de financiamento internacional; e acordos na eficácia da ajuda e comércio internacional. A influência destes novos atores está a ser sentida, não apenas na área política, mas em todo o mundo, em diferentes continentes e na esfera do Desenvolvimento. As alterações climáticas e a sobre-exploração de recursos naturais não são mais uma

questão apenas técnica, mas uma questão relativa aos paradigmas de desenvolvimento que requere uma ação decisiva. As alterações climáticas estão relacionadas com os nossos estilos de vida, questionam os paradigmas do desenvolvimento e evidenciam a influência do setor privado sobre a tomada de decisões políticas. Por outro lado, o crescimento das desigualdades sociais aos níveis nacionais, regionais e globais geram injustiça social e têm um forte impacto negativo no Desenvolvimento. Em simultâneo, a desigualdade nos rendimentos da classe média, em países de rendimento médio e elevado, está a levantar a questão se as agências de desenvolvimento internacional deveriam enfrentar a pobreza nos seus próprios países.

No entanto, combater as desigualdades sociais não significa apenas lutar pela redução da pobreza, mas simultaneamente lidar com o consumo excessivo. As mudanças nos

padrões de desigualdade e de consumo são desafios cada vez mais comuns à escala global e que questionam a divisão Norte-Sul desafiando-nos a perspetivas partilhadas.

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Que Desenvolvimento? Que tipo de cooperação?

O modelo ou modelos subjacentes de desenvolvimento serão cada vez mais desafiados e questionados na próxima década. Por um lado, alguns países e forças motrizes económicas

irão continuar a exportar um modelo de desenvolvimento baseado no capitalismo e numa economia de consumo impulsionadora. Em simultâneo, os limites ambientais para o crescimento irão fazer-se sentir cada vez mais. Certos movimentos sociais e países irão exigir uma mudança no sentido de um diferente modelo de desenvolvimento que englobe dimensões económicas e sociais, associadas a um desenvolvimento sustentável.

As necessidades, as soluções e os atores estão também a mudar e a mudar rapidamente. Os modelos do setor privado estão a tornar-se cada vez mais influentes com programas

e consórcios de grande escala a apresentarem soluções técnicas para questões de desenvolvimento e questionando a esfera da ajuda internacional. A agenda de segurança

está também a ganhar uma crescente influência política e impacto nos media. Esta é

frequentemente reativa e tenta responder aos medos e inseguranças das sociedades, conduzindo a que as fronteiras, entre a ajuda (nomeadamente a ajuda humanitária) e a segurança, estejam a tornar-se cada vez mais permeáveis. Corre-se o risco de procurar encontrar –soluções simples’ para problemas complexos, que cruzam questões de natureza política, económica, cultural, religiosa e migratória, com poderes e interesses públicos e privados.

Mas mais importante do que questionar a arquitetura ou a estrutura da ajuda para o desenvolvimento, é cada vez mais necessário voltar às questões fundamentais, tais como:

que Desenvolvimento aspiramos e que tipo de cooperação estamos a promover?

O Papa Francisco na Encíclica Laudato Si afirma que – um mundo interdependente não significa unicamente compreender que as consequências danosas dos estilos de vida, produção e consumo afetam todos, mas principalmente procurar que as soluções sejam propostas de uma perspetiva global e não apenas para defesa dos interesses de alguns países”2 incluindo uma reflexão responsável “sobre o sentido da economia e dos seus

objetivos para corrigir as suas disfunções e deturpações3”.

A realidade mostra-nos que existe uma necessidade fundamental de mudança de paradigma. A FEC (enquanto membro de uma ampla rede de agências4) acredita que

a procura de alternativas para o Desenvolvimento ‘engloba uma nova narrativa de bem-estar humano integrada na criação, com respeito pela igualdade de género, fundamentada na solidariedade e com uma economia ao serviço da sociedade que

2 Francisco, Papa, Laudato Si, Sobre o cuidado da Casa Comum, nº 164, 2015 3 Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 9: AAS 102, 2010

4 A CIDSE é uma aliança internacional de Agências Católicas que trabalham juntas para a justiça social. http://

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respeite limites e os recursos naturais do planeta’5. Os elementos chave que sustentam

esta visão incluem: uma repartição mais justa e equitativa dos recursos, associada a um respeito pelos limites dos recursos naturais; sistemas de governação nos quais as relações de poder e as regras democráticas e globais permitam o florescimento de alternativas locais; economias baseadas no bem comum e que promovam atores diversificados e estruturas descentralizadas.

Que modelos de desenvolvimento vencerão, ou que compromissos entre diferentes abordagens de desenvolvimento poderão ser alcançados, será cada vez mais decisivo para o futuro das sociedades.

Qual o papel para as sociedades civis e para as ONG internacionais?

A procura de modelos alternativos, para os modelos dominantes, está de regresso à agenda política e social. As sociedades civis têm tido um papel preponderante enquanto catalisadores e líderes nestes processos de questionamento e desenvolvimento de novas propostas inovadoras para um Desenvolvimento mais sustentável.

Com um forte conhecimento das realidades sociais, uma profunda ancoragem junto das comunidades e com legitimidade para ser a voz das periferias, a sociedade civil e também ONGs internacionais têm tido a capacidade de fazer a ponte entre os desafios locais e as políticas globais. As sociedades civis têm conseguido não apenas denunciar, alertar ou educar mas também mobilizar e empoderar cidadãos e fazer sentar à mesma mesa do diálogo e do debate político e social protagonistas de realidades que dificilmente se cruzam em outros contextos. A flexibilidade, rapidez de reação, compromisso com valores e comunidades ou ainda a inovação social são outras das características que fazem da sociedade civil um ator cada vez mais relevante nas sociedades atuais.

Apesar deste papel e destas mais-valias um dos maiores desafios atuais para os movimentos da sociedade civil, assim como para as ONG, está relacionado com saber como potenciar o seu valor acrescentado e como ser uma voz credível, alternativa no debate atual.

Para as sociedades civis cumprirem o seu papel de empoderar as pessoas, para questionar as injustiças sociais e transformar as desigualdades que as afetam, as organizações da sociedade civil precisam de ser eficazes, sustentáveis, enraizadas e legítimas nas suas próprias sociedades. Precisam também de influenciar decisores políticos e económicos que são determinantes no que diz respeito à elaboração e implementação delegislação, políticas e práticas que impactam na vida das pessoas.

5 CIDSE workshop 9-10 Setembro de 2014, Trabalho e transformação através de um mundo justo e

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Nesta mudança de contexto, as organizações da sociedade civil também enfrentam questões profundas sobre o seu papel, propósito e legitimidade. Estas organizações

precisam também de ser capaz de desafiar os pressupostos sobre crescimento, modelos de desenvolvimento e consumo, enquanto combatem as causas estruturais de injustiça social e pobreza em diversas áreas como o acesso à educação, alterações climáticas, segurança alimentar ou direitos humanos e sociais.

Por outro lado, as organizações da sociedade civil têm de definir novas estratégias organizacionais que vão de encontro aos novos desafios do setor, tais como a crescente pressão para apresentar resultados baseados em evidência; a necessidade de avaliação de impacto; novos fluxos de financiamento; novo papel das parcerias internacionais numa sociedade civil global; ou ainda as relações com governos e setor privado. Isto requer vitalidade, inovação, energia e pensar fora da caixa.

A FEC e outras agências de desenvolvimento acreditam que, enquanto ONG, precisamos de reexaminar as nossas relações com as organizações parceiras à volta do mundo; investir numa abordagem de rede e aumentar o nosso apoio ao fortalecimento das iniciativas das pessoas e dos movimentos sociais. Ao mesmo tempo, também precisamos de revitalizar as raízes nas nossas comunidades e comprometermo-nos em debates que preocupam os nossos próprios modelos de sociedade. Parcerias institucionais, trabalho de influência política, trabalho comunitário, divulgação junto da opinião pública e financiamento devem conseguir juntar-se num conjunto coerente.

À medida que avançamos, muitas questões permanecem no centro da nossa ação. Deixando para trás a antiga divisão Norte-Sul, poderão as sociedades civis adotar um diálogo global eficaz sobre os nossos desafios comuns e as nossas responsabilidades partilhadas? Existe um papel específico para organizações de inspiração religiosa? É

responsabilidade dos movimentos sociais, ONG internacionais e redes defender alternativas e promover histórias de mudanças transformadoras, chegando também a um público mais vasto através de mensagens simples e mobilizadoras, utilizando também os media?

As pessoas aspiram cada vez mais a recuperar o controlo sobre as escolhas nas suas sociedades e a construir uma sociedade justa e sustentável. Como podem as sociedades civis denunciar claramente as injustiças e expor falsas soluções trabalhando para democratizar as tomadas de decisão e para abrir –espaços democráticos de poder cívico’?

Como podemos aumentar a nossa capacidade de influência criando espaços e redes com vista a um trabalho mais transformador e eficaz no âmbito da advocacia social?

Como podemos promover intercâmbios e partilha de aprendizagens entre comunidades, organizações e países, no que diz respeito a estratégias locais específicas, ao mesmo tempo que se tenta ampliar visões, debater políticas globais e juntar uma variedade de atores?

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Ao celebrar os seus 25 anos, a FEC gostaria que este seminário internacional impulsionasse o pensamento da sociedade civil, ONG, cidadãos, financiadores, apoiantes e governos sobre como construir um futuro sustentável com uma sociedade civil dinâmica, robusta e pertinente. Gostaríamos de debater e analisar tendências para

discernir o que o futuro reserva e como devemos ajustar estratégias, políticas e práticas a um contexto em constante mudança. Queremos partilhar boas práticas e gerar um debate que conduza à ação.

Pois acreditamos que mais do que nunca é fundamental Repensar o

Desenvolvimento e Reinventar a Cooperação.

Susana Réfega

Referências

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