Trovadorismo
(Portugal:1189/1198-1418)
Período compreendido entre os séculos XII e XV correspondente à Idade Média, caracterizado por um sistema social denominado
feudalismo.
Três camadas rigidamente distintas marcam a
hierarquia da sociedade feudal:
Nobreza - detinha o poder sobre as terras e as pessoas que nela trabalhavam (vassalagem) Clero - extremamente rico, graças à posse de
grandes extensões territoriais
Povo - classe numericamente maior porém politicamente a menos importante
Os senhores feudais (nobres) eram proprietários dos feudos, aldeias circundadas por terras cultiváveis; nessas terras o povo trabalhava. A
terra era o índice da fortuna de um homem e era
disputada constantemente através de guerras. Para se defender os nobres contratavam
guerreiros, formando espécie de exercito, que eram
pagos em terra.
Dessa troca, surge a figura do vassalo, homem
que, ao receber o feudo, jurava fidelidade e serviço ao seu senhor e essa relação denominas-se vassalagem. A possibilidade de passagem de uma classe para
outra era praticamente impossível, pois qualquer
tentativa nesse sentido equivalia a contrariar a
O poeta da época era
chamado trovador e as poesias
eram feitas para serem cantadas, e
por isso chamadas de cantigas.
Haviam
dois
tipos:
a) lirico-amorosa: cantiga de
amor
e
cantiga
de
amigo
b) satírica: cantiga de escárnio e
Neste tipo de cantiga, o eu-lírico é mascu-lino, e ele sempre canta as qualidades de seu
amor, à quem ele trata como superior, para ele: >>ela é a suserana
>>ele é o vassalo
reproduzindo, portanto, o sistema hierárquico feudal.
Ele canta a dor de amar e não ser corres-pondido (chamada de coita), e é a sua amada a quem ele se submete, e "presta serviço", e, por isso, espera benefício (escrito ben nas trovas).
A Ribeirinha (Tradução)
No mundo não conheço ninguém igual a mim,
enquanto acontecer o que me aconteceu,
pois eu morro por vós e ai!
Minha senhora alva e rosada,
quereis que vos lembre que já vos vi na
intimidade!
Em mau dia eu me levantei
Pois vi que não sois feia!
E, minha senhora desde aquele dia, ai!
Venho sofrendo de um grande mal
enquanto vós, filha de dom Paio
Muniz, a julgar forçoso que eu lhe cubra com o
manto
pois eu, minha senhora nunca recebi de vós
Este tipo de cantiga não surgiu em
Provença, como as outras, teve suas origens
na Península Ibérica. Nela, o eu-lírico é uma
mulher (isso não quer dizer que quem a
compunha era mulher), que canta seu amor
pelo amigo (amigo = namorado) e se encontra
acompanhada
de
sua
mãe
e
amigas.
Normalmente, ela lamenta nas cantigas a
ausência do amado. Outra diferença da cantiga
de amor, é que nela não há a relação Suserano
x Vassalo, ela é uma mulher do povo.
Martim Codax* (tradução) Ondas do mar de Vigo,
acaso vistes meu amigo?
Queira Deus que ele venha cedo! Ondas do mar agitado,
caso vistes meu amado?
Queira Deus que ele venha cedo! Acaso vistes meu amigo
aquele por quem suspiro?
Queira Deus que ele venha cedo! Acaso vistes meu amado,
por quem tenho grande cuidado (preocupado) ? Queira Deus que ele venha cedo!
*Martim Codax: trovador-jogral da época de Afonsso III
As cantigas satíricas apresentam interesse sobretudo histórico. São verdadeiros documentos da vida social, principalmente da corte. Fazem ecoar as reações públicas a certos fatos políticos: revelam detalhes da vida íntima da aristocracia, dos trovados e dos jograis, trazendo até nós os mexericos e os vícios ocultos da fidalguia medieval portuguesa.
Enquanto as cantigas de escárnio utilizam a ironia e o equívoco para realizar mais indiretamente essas zombarias, as cantigas de maldizer são sátiras diretas. Daí sua maior virulência, o emprego mais frequente de palavrões (em geral os mesmos que usam até hoje) e a abordagem mais desabusada dos vícios sexuais atribuídos aos satirizados.
A diferença entre esses dois tipos de canti-ga é, portanto, apenas relativa. Frequentemente a classificação dos textos é ambígua. O próprio sig-nificado das palavras escárnio e maldizer pode deixar mais clara essa diferença entre os dois tipos de sátira:
escárnio: zombaria, menosprezo, desprezo, des-dém;
maldizer: (verbo) pragueja contra; (substantivo), maledicência, difamação.
Na cantiga de escárnio, o eu-lírico
faz uma sátira:
1º: a alguma pessoa;
2º: de forma indireta;
3º: cheia de duplos sentidos;
4º: o nome da pessoa satirizada não é
revelado.
Cantiga de escánio (Tradução) Pero Larouco
Sobre vós, senhora, eu quero dizer verdade e não já sobre o amor que tenho por vós: senhora, bem maior é vossa estupidez
do que a de quantas outras conheço no mundo tanto na feiúra quanto na maldade
não vos vence hoje senão a filha de um rei Eu não vos amo nem me perderei
Ao contrário da cantiga de escárnio,
a cantiga de maldizer traz:
1º: uma sátira direta e sem duplos
sentidos;
2º: é comum a agressão verbal à pessoa
satirizada;
3º: e muitas vezes são utilizados palavrões;
4º: o nome da pessoa satirizada pode ou
não ser revelado.
Cantiga de Maldizer Afonso Eanes de Coton
Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado, e ando maravilhado
de te não ver rebentar; pois tapo com esta minha boca, a tua boca, Marinha; e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas, os olhos e as sobrancelhas, tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono; e como o não faz nenhum, com os colhões te tapo o cu. E não rebentas, Marinha?