CURSO DE FORMAÇÃO EM DISLEXIA
FERNANDO NORIO ARITA CHEFE DA DISCIPLINA DE NEUROPEDIATRIA
O CÉREBRO E SUAS FUNÇÕES
I. FUNÇÕES CEREBRAIS
II. NEUROPLASTICIDADE
DESENVOLVIMENTO CEREBRAL - FUNÇÕES NEURONAIS
•
Evolução complexa, única e excepcional do cérebro humano
- base do desenvolvimento da cultura, ciência e tecnologia humanas
• Capacidade extraordinária dos neurônios de interagir com o ambiente,
com nossas próprias atividades e pensamentos,
de coletar e armazenar novas informações,
para produzir mudanças no comportamento.
• Funções podem ser modificadas por informações sensoriais,
experiência e treino
• Funções podem ser modificadas em resposta a insultos cerebrais
dendritos núcleo Corpo celular axônio mielina Terminações axonais
CURSO DE FORMAÇÃO EM DISLEXIA
O CÉREBRO E SUAS FUNÇÕES
I. FUNÇÕES CEREBRAIS
Estrutura anatômica e funcional complexa do cérebro
Funcionamento cerebral adequado depende de:
• Organização estrutural e sináptica cerebral diferenciada
• Síntese de neurotransmissores
• Aporte nutrientes: fundamental para o funcionamento celular
As funções cerebrais não estão confinadas e fixas a certas regiões do sistema nervoso. FUNÇÕES CEREBRAIS
ESTRUTURA FUNCIONAL DO ENCÉFALO
HEMISFÉRIO ESQUERDO
• Controla o lado direito do corpo • Pensamento analítico e seqüencial • Linguagem
• Compreensão, abstração e raciocínio • Aritmética, leitura, escrita
• Habilidade para nomear objetos
HEMISFÉRIO DIREITO
• Controla o lado esquerdo do corpo
• Processamento holístico de entradas multi-sensoriais • Responsável por habilidades mais abstratas
• Criatividade
• Habilidade viso-espacial
• Memória armazenada em modos auditivo, visual e espacial • Discriminação de cores
LOBO FRONTAL
• Localizado na parte anterior do cérebro
• Funções cognitivas superiores ocorrem nessa área
LOBO FRONTAL
FUNÇÕES
• Alerta • Atenção e concentração • Memória • Cognição • Motivação • Julgamento • Raciocínio• Movimentos voluntários – área motora primária
• Linguagem expressiva
• Memória para hábitos e atividades motoras • Controle emocional e de impulsos
• Associações de palavras
• Habilidade para seguir instruções
• Tomadas de decisão
• Personalidade
Centro de julgamento, raciocínio, personalidade, motivação, inibição de impulsos. Controle emocional, habilidades sociais, linguagem expressiva
• Incapacidade para focar tarefas • Prejuízo de memória recente
• Dificuldade para solucionar problemas
• Incapacidade para planejar sequência de tarefas • Mudanças no comportamento social
• Incapacidade para linguagem expressiva • Perda da flexibilidade do pensamento • Alterações de humor
• Perseverações
• Mudanças de personalidade • Perda da espontaneidade
• Perda de movimentos simples
LOBO FRONTAL
LOBO PARIETAL
• Localizado logo após o frontal, atrás do sulco central • Orientação espacial
• Recebimento e processamento de informações de sensibilidade (dor, calor, frio, pressão, tamanho, forma, textura)
LOBO PARIETAL
• Atenção visual
• Percepção de relações espaciais
• Reconhecimento de faces
• Movimentos voluntários objetivos • Manipulação de objetos
• Integração das aferencias sensitivas
• Escrita e fluência verbal
• Incapacidade de focar atenção visual • Incapacidade para nomear objetos
• Dificuldades para distinguir direita e esquerda • Dificuldades de escrita
• Dificuldades de leitura
• Dificuldade para desenhar objetos • Dificuldades com matemática
• Negligência corporal ou do espaço ao redor
• Dificuldades de coordenação visual e manual
FUNÇÕES
LOBO OCCIPITAL
• Localizado na parte posterior do cérebro
LOBO OCCIPITAL
• Percepção visual • Aferências visuais
• Percepção e reconhecimento de palavras (leitura)
• Movimentos dos olhos
• Distúrbios visuais
• Dificuldade para localizar objetos no ambiente • Agnosia para cores
• Produção de alucinações
• Incapacidade para reconhecer palavras • Dificuldades para leitura e escrita
• Agnosia de movimento
• Dificuldade para reconhecer desenhos
DISFUNÇÃO FUNÇÕES
LOBO TEMPORAL
• Localizado ao lado dos lobos frontal e parietal • Audição, música e linguagem receptiva
• Centro para os sentidos de olfação, gustação • Compreensão da linguagem
• Aquisição da memória
• Memória para eventos não-verbais • Recuperação de informações
• Algumas percepções visuais • Categorização de objetos • Comportamento
• Afasia de Wernick – dificuldade para compreender palavras faladas • Perda de memória de curto prazo
• Interferência na memória de longo prazo
• Dificuldades para visualizar e reconhecer objetos • Incapacidade para categorizar objetos
• Aumento do comportamento agressivo, agitação, irritabilidade • Aumento ou diminuição do comportamento sexual
• Dificuldade para reconhecimento de faces (prosopanosia)
• Lesão no lobo direito pode provocar fala persistente
LOBO TEMPORAL
Cerebelo Visão Compreensão da linguagem Sensibilidade Habilidades motoras Associações Corpo caloso Audição Memória Olfação
Movimentos oculares voluntários Produção da linguagem motora
Controle emocional, função executiva, inibição, julgamento
HEMISFÉRIOS CEREBRAIS
ESTRUTURA DE 100 BILHÕES DE NEURÔNIOS
CONEXÕES INTRAHEMISFÉRICAS
FUNÇÕES CEREBRAIS – ESTRUTURA E FUNÇÃO
Dinâmica funcional complexa Conectividade complexa
Mapear o cérebro humano é o grande desafio do século XXI
Decifrar as vias neurais envolvidas nas funções cerebrais e comportamento
CONECTOMAS – CONEXÕES CEREBRAIS
Conectoma – mapa das conexões entre os neurônios cerebrais
Cérebro humano contém pelo menos 1010 neurônios unidos
CURSO DE FORMAÇÃO EM DISLEXIA
O CÉREBRO E SUAS FUNÇÕES
NEUROPLASTICIDADE (PLASTICIDADE CEREBRAL)
Capacidade de adaptação e de se reorganizar do
sistema nervoso, especialmente dos neurônios, às
mudanças nas condições do ambiente, que ocorrem no
dia-a-dia dos indivíduos, assim como, na recuperação
após uma lesão
, através da formação de novas
conexões ao longo da vida
Característica marcante e constante da
função neuronal
NEURÔNIO
•
O neurônio é a célula mais complexa do organismo
• Desenvolvimento neuronal depende de
fatores genéticos e ambientais
• Neurônios estão continuamente se adaptando
• Desenvolvimento neuronal confunde-se com plasticidade cerebral
Mecanismos celulares semelhantes
PLASTICIDADE CEREBRAL
• Plasticidade adaptativa
• Distúrbio da plasticidade –
defeitos de sinalização
• Distúrbio da plasticidade –
defeito de transcrição
PLASTICIDADE CEREBRAL
•
Varia com a idade do indivíduo
• Conceito fundamental na Pediatria e Neurologia Pediátrica
• É a fase mais ativa, vai até a adolescência
• Criança :
capacidade aumentada para aprender e memorizar
Facilidade para um segundo idioma
Para instrumentos musicais, esportes
Capacidade extraordinária de recuperação lesional
PLASTICIDADE CEREBRAL
PLASTICIDADE ADAPTATIVA
REFINAMENTO DE CONEXÕES SINÁPTICAS
• Base da plasticidade é a reorganização sináptica
• Densidade sináptica aos 2 anos é o dobro da idade adulta
• O cérebro imaturo está mais apto
• Refinamento atividade-dependente e podagem sináptica
•
Superprodução sináptica aos 2 a • Redução gradativa até 16 aPLASTICIDADE ADAPTATIVA
Hipocampo ratos Cérebro pianista
Córtex motor ratos
LINGUAGEM CELULAR
COMO AS CÉLULAS FUNCIONAM?
LINGUAGEM CELULAR
PLASTICIDADE ADAPTATIVA
MEDIADA POR CASCATAS SINALIZADORAS
Organização do SNC Planejamento genético Desenvolvimento funcional Mediação química local
PLASTICIDADE CEREBRAL
PLASTICIDADE DEPENDE DA EXCITAÇÃO
•
Balanço de vias excitatórias e inibitórias • Maioria usa o glutamato• Receptores tipo NMDA e AMPA
DISTÚRBIOS DO DESENVOLVIMENTO
COMPROMETIMENTO DOS SINALIZADORES
•
Defeito nas cascatas sinalizadoras- receptores de superfície celular, intracelular - fatores de transcrição nuclear
1.RECEPTORES DE SUPERFÍCIE – Mutações de GTPases
• Síndrome do X- frágil • Neurofibromatose tipo I • Esclerose tuberosa
SÍNDROME DO X-FRÁGIL
•
Causa mais comum de deficiência mental hereditária
• Segunda causa de deficiência mental após a S. de Down
• 4 – 6 % dos autistas tem X-frágil
• Atraso do desenvolvimento psicomotor
Deficiência mental
Dificuldades escolares
Distúrbios do comportamento
Dismorfias somáticas
SÍNDROME DO X-FRÁGIL
CARACTERÍSTICAS DISMÓRFICAS
• Sutis e tardias
• Fronte larga, proeminente
• Face alongada
• Prognatismo • Macrocefalia • Macrossomia
• Macroorquidia
• Orelhas grandes e em abano
PELO MENOS 1 DESSAS CARACTERÍSTICAS EM 80 % DOS PÓS-PÚBERES
SÍNDROME DO X-FRÁGIL
CARACTERÍSTICAS DISMÓRFICAS
• Sutis e tardias
• Fronte larga, proeminente • Face alongada
• Prognatismo • Macrocefalia • Macrossomia • Macroorquidia
• Orelhas grandes e em abano
PELO MENOS 1 DESSAS CARACTERÍSTICAS EM 80 % DOS PÓS-PÚBERES
SÍNDROME DO X-FRÁGIL
CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS E COGNITIVAS
• Comprometimento cognitivo sempre presente, variável Desde dificuldades específicas até profunda Maioria retardo moderado
Correlação com genótipo - repetições
• Mulheres heterozigotas : 34 % limítrofe ou subnormal
• Atraso no desenvolvimento da fala e linguagem • Características autísticas
• Hiperatividade com ou sem déficit de atenção • Irritabilidade
• Dispersividade
SÍNDROME DO X-FRÁGIL
GENÉTICA MOLECULAR
EXPANSÃO DE TRINUCLEOTÍDEOS CGG
REPETIÇÃO CGG NA REGIÃO 5’ UTR DO GENE FMR1
NORMAL : 6 - 50 repetições
PREMUTAÇÃO : 51 - 200
MUTAÇÃO COMPLETA : > 200 REPETIÇÕES
SÍNDROME X-FRÁGIL
PRÉ-MUTAÇÕES (51 – 200 repetições)
QUADRO CLÍNICO
:
•
Falência ovariana prematura em mulheres
(menopausa antes dos 40 anos)
• Síndrome progressiva com ataxia, tremor,
declínio cognitivo e de funções executivas
em homens > 50 anos
• Distúrbios cognitivos ou comportamentais leves
distúrbios de aprendizagem
DISTÚRBIOS DO DESENVOLVIMENTO
COMPROMETIMENTO DOS SINALIZADORES
2. DEFEITOS DE TRANSCRIÇÃO
•
Via final para codificar circuitos • Causam incapacidades graves- Deficiência de hormônio tiroidiano - S. de Rett (MECP2)
- S. de Coffin-Lowry – (RPS6KA3) - RSK2 quinase - S. de Rubinstein-Taybi – proteína ligadora do CREB
SÍNDROME DE RETT
SÍNDROME DE RETT
“Uber ein eigenartiges hirnatrophisches Syndrom bei
Hyperammoämie im kindersalter “
SÍNDROME DE RETT - RECONHECIMENTO
• Começo da história da Síndrome de Rett – 26 anos • Divulgação internacional
• Dr. A. Rett – Conferência Internacional USA, 1984 • Inicio de uma quantidade crescente e extraordinária de publicações
Autismo EUA, 1984
SÍNDROME DE RETT – ERROS DIAGNÓSTICOS
Paralisia cerebral
EXPRESSÕES FENOTÍPICAS
•
FORMA CLÁSSICA (90%)
•
Formas atípicas
1. Frustras
2. Com regressão tardia
3. Com linguagem preservada
4. Congênita
•
Variante masculina
S. DE RETT CLÁSSICA - DIAGNÓSTICO
Critérios obrigatórios
• DNPM normal até 6 meses ou mais
• Estagnação do perímetro cefálico (
3m-4a
)
• Perda da preensão voluntária (
9m-2.5a
)
• Regressão psicomotora (
9m-2.5 anos
)
• Estereotipias manuais (
1-3 anos
)
S. DE RETT CLÁSSICA - DIAGNÓSTICO
Critérios de suporte
• Distúrbios respiratórios (Apnéia, dispnéia)
• Crises epilépticas
• Espasticidade, distonia
• Distúrbios vasomotores periféricos
• Escoliose
• Pés pequenos
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• MARCADOR GENÉTICO
Gene no Cromossomo Xq28
Gene MECP2
(Xq28)
SÍNDROME DE RETT
DIAGNÓSTICO MOLECULAR
Texas Childre`s Neurological Research Center
A family in Brazil in which several girls had Rett helped researchers confine the hunt to 200 genes. The Zoghbi group analysed more than a dozen before finding the culprit, MECP2 .
Dr. Huda Y. Zoghbi.
SÍNDROME DE RETT
GENÉTICA
• MARCADOR GENÉTICO
Gene no Cromossomo Xq28
Gene MECP2
(Amir et al., 1999)
(Williamson & Christodoulou, 2006)
SÍNDROME DE RETT – Biologia molecular
• MECP2 responsável pela desativação ou regulação da ação de outros genes • Mutações modificam a ação desses genes.
SÍNDROME DE RETT - FISIOPATOLOGIA
DISFUNÇÃO CELULAR
DEFEITOS DE SINALIZAÇÃO CELULAR
GENES-ALVOS
NEURÔNIOS, ENZIMAS, SUBSTÂNCIAS
DEFEITOS DE TRANSCRIÇÃO Via final para codificar circuitos • Causam incapacidades graves - S. de Rett (MeCP2)
- S. de Coffin-Lowry – RSK2 quinase
- S. de Rubinstein-Taybi – prot. ligadora do CRB
MUTAÇÕES GENÉTICAS
MECP2, CDLK5, Netrin1
Schematic of the aspects of the reading brain in the left hemisphere. The inferior frontal gyrus (yellow) and the inferior parietal area (blue) are connected by the arcuate fasciculus (green). The fusiform gyrus, which includes the visual word form area, is in red. These regions are the most commonly found to be atypical in function or structure in dyslexia.
Giro fusiforme Fascículo arqueado
Giro frontal inferior
Area parietal inferior
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DISLEXIA - NEUROBIOLOGIA
• Distúrbio da rede neuronal no hemisfério cerebral esquerdo, com alterações do desenvolvimento da substância branca.
Ativação inadequada das regiões temporoparietal, occipitotemporal e giro frontal inferior do hemisfério cerebral esquerdo
Identificação de genes : DYX1C1, DCDC2, KIAA0319, C2Orf3, MRPL19, ROBO1,.. INTERAÇÃO GÊNICA
Alterações anatômicas sutis : redução da substância cinzenta do giro temporal superior direito e do sulco temporal temporal superior esquerdo
EXAMES COMPLEMENTARES – AVALIAÇÃO DO SNC
• TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
• RESSONÂNCIA MAGNÉTICA DE CRÂNIO Para lesões estruturais
• ELETROENCEFALOGRAMA • MAPEAMENTO CEREBRAL
NEURIMAGEM NO ESTUDO DA ATIVIDADE FUNCIONAL CEREBRAL
• Plasticidade cerebral pode ser estudada através de técnicas especiais de NI •- SPECT
• PET
•- Ressonância magnética funcional • Magnetoencefalografia
RM funcional
RM funcional PET PET
Magnetoencefalografia
BIBLIOGRAFIA
01. Rosemberg S. Neuropediatria. Editora Sarvier
02. Fenichel GM – Clinical Pediatric Neurology: A signs and symptoms approach
03. Machado A, Haertel LM.- Neuroanatomia functional. Editora Atheneu.
04. Richlan F, Kronbichler M, Wimmer H. – Structural abnormalities in the dyslexic brain: A meta-analysis of voxel-based morphometry studies. Human Brain Mapping, 2013, 34:3055-65.
05. Peterson RL, Pennington BF.- Seminar: Developmental dyslexia. Lancet 2012, 379(9830):1997-2007.
06. Peterson RL, Pennington BF.- Developmental dyslexia. Annu Rev Clin Psychol 2015, 11:283-307.
07. Krafnik AJ, LynnFlowers D, LuetjeMM, et al.- An investigation into the origin of anatomical differences in dyslexia. J Neurosci 2014, 34(3):901-8.
08. Kere J.- The molecular genetics and neurobiology of developmental dyslexia as a model of a complex phenotype. Biochem Biophys Res Comm 2014, 452:236-43.
09. Price CJ.- Current themes in neuroimaging studies of reading. Brain & Language 2013, 125:131-3.