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LIÇÕES DIALÓGICAS: PAULO FREIRE

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Academic year: 2021

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LIÇÕES DIALÓGICAS: PAULO FREIRE

Patricia de MELLO, Universidade Estadual do Paraná Políticas de formação de professores patriciademello@ig.com.br 1. Introdução

O projeto de extensão “Lições Dialógicas: Paulo Freire”, baseado na tese “Análise de artigos brasileiros sobre indisciplina, violência e ato infracional na escola: base SCieLO 1998-2014” se desenvolve na Universidade Estadual do Paraná e tem como objetivo principal contribuir para as relações acadêmicas e sociais trazendo um avanço teórico-prático sobre as interfaces de conflitos existentes cotidianamente. Neste contexto considera-se essencial a compreensão dos conceitos trazidos por Freire, numa perspectiva emergencial para tomadas de decisões na área social quando se fala em situações de conflito, violência e intolerância. O projeto consta de um círculo de diálogo onde serão trazidas situações de conflito, violência e intolerância do conviver para que, sendo analisados os conceitos de Freire, possa-se, a partir deles, se fundamentar o possível entendimento das relações humanas, visando mudança do quadro apresentado. As relações de conflito e violência escolares serão abordadas nas diferentes formas apresentadas pela comunidade.

2. Desenvolvimento

Este projeto de extensão constitui-se na continuação da pesquisa de tese do Programa de Doutorado em Educação, na linha Educação escolar: teorias e práticas, da Universidade Federal de São Carlos. Dedicou-se a analisar, em artigos de revistas brasileiras publicadas a partir de 1990, os conceitos de indisciplina e ato infracional que aparecem referidos a relações pedagógicas. Lancei mão de autores das áreas de direito e educação para apresentar reflexões sob o enfoque dialógico entre eles. Amparada na metodologia da análise de conteúdo proposta por Bardin (2011), com base em pesquisa bibliográfica, busquei discutir que o avanço para a melhoria das relações na escola é mais promissor quando se assume o caminho do diálogo. Assim, adotei a teoria freireana como referencial teórico do estudo.

O tema situa-se entre os mais polêmicos desde quando foi sancionado o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, segundo o qual

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crianças e adolescentes não podem mais ser considerados objetos de direito e, sim, sujeitos de direito.

A análise crítica da bibliografia, bem como o estudo identificando estratégias e táticas estabelecidas foram a meta principal para contribuir com diferentes informações aos profissionais do direito e da educação sobre as limitações e possibilidades referidas na legislação e literatura da época. Almejava propiciar novos pensamentos como meio de reconstrução social.

Do momento da defesa da dissertação, no final de 2003, para a atualidade, verificou-se aumento da violência nas escolas públicas e privadas. De acordo com o Relatório de Monitoramento Global de Educação para todos 2013/2014, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, 69 milhões de adolescentes, mundialmente, estão fora da escola, o que já é uma violência.

Uma das informações mais marcantes no documento importa nesta conclusão: um quarto dos jovens entre 15 e 24 anos em países pobres não consegue ler uma frase sequer. A mudança desse quadro exige 5,1 milhões de professores adicionais para atingir a educação secundária universal até 2030.

Para os autores, a cultura da paz visa a resolver problemas por meio de diálogo, negociação e mediação, culminando em inviabilizar guerra e violência. O combate à desigualdade, à exclusão, com respeito aos direitos de cidadania, é fator importante para almejar a construção da cultura de paz, programa lançado pela Unesco que resulta de várias pesquisas sobre violência envolvendo os jovens no Brasil.

Por todo o contexto apresentado, há que se continuar a pesquisa já realizada com o projeto “Lições dialógicas: Paulo Freire” e continuar o desenvolvimento de análises com urgência sobre a compreensão conceitual para contribuir com a atuação dos sistemas e dos profissionais da educação no espaço escolar, bem como com suas práticas pedagógicas frente à questão da indisciplina, suas causas e consequências. É uma questão de cidadania.

A tese foi organizada, além da introdução, em capítulo conceitual, dedicado a explicitar o uso dos termos disciplina, indisciplina e ato infracional, um capítulo teórico, que apresenta conceitos freireanos, com destaque para o de diálogo. Inclui resposta a questionamentos sobre a natureza da educação, das normas e leis. Procurei ainda comprovar a validade de estabelecer acordos e normas explícitas na sociedade. Seguindo a metodologia de pesquisa, descrevendo os passos sugeridos por Bardin (2011), os efetivamente realizados na tese, o capítulo de apresentação e análise dos

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Sob essa perspectiva pautamos o trabalho da tese. Para Freire (2014, p. 10): “A educação é definida como sendo um encontro entre homens [e mulheres], mediados pela palavra, a fim de dar nome ao mundo”.

Conforme Freire (2014), portanto, não há como ser gente sem a prática educativa, que leva o cidadão ao exercício democrático, pautado na liberdade de pensamento.

Isso justifica a escolha de Paulo Freire, que enfoca “possibilidades” revestidas sempre de muito amor pela educação, por todos. A existência de várias possibilidades para fazer o cumprimento do ser verdadeiro acolhe a expectativa de comprovar que o diálogo seja a verdadeira via de minimizar a situação vivenciada diariamente pelos agentes escolares. A violência é real e estampada sem rótulos. Ela acontece e preocupa muito, trazendo um quadro de desesperança que precisa ser modificado com urgência.

Paulo Freire, um dos humanistas mais importantes, vivenciou e venceu a guerra de uma das maiores violências registradas na história do Brasil, o exílio, o afastamento de um dos pensadores que poderiam ter modificado o estado da esfera “educação”. Assim Paulo Freire partiu para pensar o futuro educacional, recriar e modificar os pensamentos de outras terras.

O mundo poderia ser diferente, mas não dá para fugir da realidade cruel por que passam o mundo e as escolas brasileiras. Adolescentes e crianças lidam com a violência e os desentendimentos maléficos do cotidiano submetido à vontade desumanizante.

Sendo a educação cidadã objeto de embates constantes defende Freire (1979, p. 35) que a própria educação é uma atividade política e prática de liberdade. “Não há educação fora das sociedades humanas, não há homem no vazio”.

Se não há educação fora das sociedades humanas, não há sociedade sem regras que a organizem. Condições especiais devem garantir a ultrapassagem dos desafios diários. Para isso é preciso saber fazer escolhas, situação que crianças e adolescentes enfrentam diariamente, mesmo sem se darem conta. Daí a necessidade de orientá-los, o que implica empenho em ensinar a refletir sobre as opções.

Compreender o fenômeno social e as relações advindas dele pela educação implica converter a função mediadora em prática cotidiana. Vale imputar responsabilidades conjuntas, criando condições de tornar eficaz e efetiva a resolução dos conflitos existentes.

Pode-se pensar, assim, que todas as formas de comportamento tenham relação com a educação, por meio da qual os homens constroem a própria realidade.

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Freire (1979, p. 43) declara: “É também criando, recriando e decidindo que o homem deve participar destas épocas”. Para o autor, a capacidade de decidir deve ser magna. Lembra que a maior tragédia para o homem moderno vem a ser a falta de decisão, quando é dominado pela força dos mitos e comandado pela publicidade organizada; nessa posição, renuncia à sua capacidade de decidir. Para o homem poder decidir deve ter acesso à educação, direito garantido pela lei magna do Brasil. A educação tem tarefa fundamental na convivência humana.

Reafirmando a importância do estudo do diálogo como forma de amenizar os conflitos na escola e embasado na teoria freireana, este capítulo versa sobre a ampla importância do diálogo e sua principal função no grupo social.

Somente quem viveu intensamente poderia elaborar uma teoria tão integral como a de Paulo Freire, que tinha total facilidade de comunicar e também praticar o que pregava. Sua dinâmica ensinava pela práxis, amparada sempre na teoria. Apenas se tornava teoria porque havia sido praticada. Paulo Freire (2002) afirmava conseguir escrever somente o que experimentara, o que praticara.

Pelo exposto, compreende-se que a educação é pilar fundamental da convivência humana. A sociedade constitui-se de seres humanos que precisam conviver. Para isso, há necessidade de organização que exige regulação das relações entre eles. Não há como conviver sem regras de organização.

Conforme Freire (2002), a odiosidade certamente causa a indisciplina e o ato infracional dentro e no entorno da escola. A raiva retira os limites dos jovens, causando, como se vê diariamente na mídia, a violência exposta. Fala-se aqui da raiva descontrolada e desmedida, ameaça de vida social desacreditada. A raiva deve propor mudança, visando à curiosidade epistemológica, como chama Freire (2002). É necessário encaminhá-la para a submissão epistemológica. Não aos ataques com emoções que extrapolam o significado da dialogicidade.

A construção de uma realidade diferente da atual requer a observância de limites concretos, de formas de convivência em que a realidade tem que ser observada e discutida. Nas maneiras de convivência há que se construir o diálogo cotidiano, que advém da raiva, da diversidade, da especialidade e, principalmente, do respeito a todas elas, impondo gradativamente uma forma de pensar amorosa e convicta de não haver certezas de comportamentos, mas sim de atitudes pautadas de muito acompanhamento e respeito na escola. A defesa aos ataques deve ser amplamente analisada pelos especialistas na área e exposta ao diálogo intenso, promovendo o respeito ao contraditório e à ampla defesa característica do sistema educacional. O nome já diz:

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Reverenciar conceitos fechados torna impossível o formato dialógico na escola. Confundir temas também quebra critérios de diálogo, sobrepondo a estrutura convencional à necessidade de resolução de conflitos pelo diálogo.

A educação cidadã é um instrumento precioso na mudança de paradigmas, pois busca caminhos para o enfrentamento de situações decorrentes das transformações sociais. Assim é imprescindível ser efetivada a participação especificada para a cidadania, aquela que prepara o educando capaz de identificar as contradições e criticá-las, bem como disposto a participar de ações mediadoras que minimizem essas contradições.

3. Conclusões

A discussão sobre cidadania é peça fundamental neste projeto no sentido de que a educação é caminho essencial para a efetivação da cidadania. Esta se constrói com educação e participação; trata-se de uma luta contra as desigualdades e a favor da inclusão. Não é a solução para os problemas do mundo, mas significativo fundamento no contexto social. Crianças e adolescentes têm o direto de conhecer e praticar cidadania, como também o dever de respeitar o que ela impõe.

Mesmo os referidos dispositivos legais elencados serem garantias concedidas por um Estado democrático de direito, beneficiando crianças e adolescentes, não se constata efetividade na prática cotidiana. A educação deve ser um caminho para a efetivação da cidadania. O projeto “Lições dialógicas: Paulo Freire” da Universidade Estadual do Paraná visa a prática efetiva da responsabilidade e expressões para mudanças na sociedade.

Referências

BARDIN, L. Tradução: Luís Antero Reto, Augusto Pinheiro. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. 279 p.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990. Vade Mecum. São Paulo: Saraiva, 2014.

_______. Educação como prática da liberdade. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 150 p.

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_______. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática

educativa. 24 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 165 p.

_______. Pedagogia do oprimido. 35. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. 184 p. _______. Política e educação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014. 142 p.

_______. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014. 152 p.

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO GLOBAL DE EPT 2013/2014 – Ensinar e aprender:

alcançar a qualidade para todos. Disponível em:

Referências

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