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Capitães, comendadores, negociantes : A primeira geração de charqueadores de Pelotas e a sua elite ( ) Jonas Moreira Vargas *

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Academic year: 2021

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“Capitães, comendadores, negociantes”:

A primeira geração de charqueadores de Pelotas e a sua elite (1790-1835)

Jonas Moreira Vargas*

RESUMO: Ao longo das primeiras décadas do século XIX, o município de Pelotas tornou-se

o principal produtor de charque do Império do Brasil, atraindo um grande número de investidores que, além de montarem um importante núcleo fabril, tornaram-se a elite mais rica do extremo sul. O presente artigo analisa como um pequeno grupo entre estes primeiros charqueadores ocupou o topo da hierarquia social local distinguindo-se dos demais empresários. Os mesmos concentravam recursos materiais e imateriais diversos, com destaque para as comendas honoríficas, as patentes de oficias de milícias, além da sua capacidade em atuar no comércio marítimo. Outra característica importante do grupo foram os seus estreitos vínculos de parentesco.

Palavras-chave: Elites – Comércio atlântico – Colonial tardio

ABSTRACT: Throughout the first decades of the nineteenth century, the city of Pelotas has

become the leading producer of beef jerky Empire of Brazil, attracting a large number of investors who, in addition to putting up a major manufacturing center, became the richest elite extreme south. This article examines how a small group among these early charqueadores occupied the top of the local social hierarchy distinguishing itself from other entrepreneurs. They focused many material and immaterial resources, highlighting the honorific commendations, patents militia officers, in addition to its ability to act in maritime trade. Another important feature of the group were their close ties of kinship.

Keywords: Elites – Atlantic trade – Late colonial

O charque ou carne-seca foi um importante alimento na dieta dos escravos das plantations e das populações livres pobres do Brasil. Durante boa parte do século XVIII ele era fabricado, principalmente, no norte da colônia. No entanto, como consequência das duras secas que afetaram as capitanias do Piauí e do Ceará, entre as décadas de 1770 e 1790, a freguesia de São Francisco de Paula (que, em 1835, passou a ser chamada de Pelotas) tornou-

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Doutor em História Social (PPGHIS-UFRJ); Pós-doutorando (Bolsista PNPD-Capes) do PPG-História da UFRGS.

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se a principal produtora de charque da América portuguesa vindo a abastecer parte dos mercados antes atendidos por aquelas duas regiões. Se em 1787 as exportações rio-grandenses do produto totalizaram 117 mil arrobas, em 1793 elas ultrapassaram as 400 mil e, em 1797 as 500 mil arrobas.Na década de 1800, a capitania exportou uma média anual de 820 mil arrobas, das quais maisda metade tiveram como destino Salvador e Recife (OSÓRIO, 2007).Conforme Caio Prado Júnior, ao comentar a intensa produção do charque rio-grandense no período, “excluído o rush do ouro, não se assistiraainda na colônia a tamanho desdobramento de atividades” (PRADO JR, 1977, p. 103).

Tal fenômeno foi fruto do investimento de comerciantes que viram no declínio econômico cearense/piauiense uma oportunidade de novos negócios. O Rio Grande do Sul ainda era uma jovem capitania, com vastas pastagens povoadas por poucos homens e muitos bovinos. Além disso, Pelotas ficava bastante próxima do porto de Rio Grande, onde a produção podia ser rapidamente escoada. As primeiras “oficinas” devem ter sido instaladas na década de 1780, apresentando uma grande precariedade. Mas na virada do século, é provável que a maior envergadura dos negócios tenham possibilitado os comerciantes de importarem mais escravos africanos, dando início a um importante crescimento daquela economia e atraindo um notável número de pessoas de diferentes lugares. Se em 1822 havia 18 charqueadas nas margens do arroio Pelotas e do rio São Gonçalo, em 1835 existiam aproximadamente 35 estabelecimentos. O presente artigo busca demonstrar como um pequeno grupo de empresários alçou-se à condição de elite entre os charqueadores a partir da concentração de alguns recursos materiais e imateriais caros àquela sociedade.

Pelotas: uma cidade negra

Nos primeiros anos de funcionamento das charqueadas, Pelotas não era nada mais do que um mero povoado sob a jurisdição da vila de Rio Grande. No entanto, no início do século XIX, as margens dos rios São Gonçalo e Pelotas já estavam pontilhadas por galpões de charquear rodeados de ranchos, estâncias e vendas de beira de estrada. Nas primeiras estatísticas do início do século XIX, organizadas em 1805, já era possível perceber que aquela aldeia havia crescido, contribuindo para que a freguesia de Rio Grande, da qual ela fazia parte, compusesse quase ¼ da população total da capitania.1 Esta freguesia reunia 10.168

1

Ofício de 30.09.1806. AHU-ACL-CU-019, Cx. 11, Doc. 669 (Projeto Resgate). A capitania era composta por 14 freguesias. Sua população total era de 41.023 pessoas, das quais 13.800 eram escravos e 2.502 libertos.

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habitantes, dos quais 3.295 eram escravos, 351 eram libertos e 57 eram índios. A população classificada como branca reunia 3.497 homens e 3.008 mulheres, totalizando 64% das pessoas.2 Não é possível saber o percentual de moradores livres e escravos que pertenciam tanto à vila de Rio Grande quanto ao povoado que viria a ser Pelotas, mas é muito provável que uma parte considerável daquela escravaria (ela somava 23,9 % dos cativos de toda a capitania) estivesse trabalhando nas charqueadas.3

Em 1814, tem-se a primeira estimativa tratando exclusivamente da população de Pelotas – elevada à condição de freguesia cerca de dois anos antes. Na ocasião, a localidade apresentou 1.226 escravos numa população de 2.419 habitantes, ou seja, 50,7% da população era cativa. Contudo, quase 20 anosdepois, este contingente quase quintuplicou atingindo 5.623 escravos, que perfaziam 51,7% dos recenseados no ano de 1833. Portanto, as décadas de 1810 e 1820 apresentaram uma intensa entrada de africanos destinados principalmente ao trabalho nas charqueadas. Este fluxo de cativos, não apenas para Pelotas como também para a capitania, acompanhou os ritmos do tráfico atlântico no porto do Rio de Janeiro, cuja entrada de navios negreiros acentuou-se bastante entre 1809 e 1825 (FLORENTINO, 2010).4Às vésperas da Guerra dos Farrapos (1835-1845) cerca de 36% da população pelotense foi classificada como branca, o que revela a marca da escravidão na sociedade local.5

Além de terem sido montadas numa época de intenso fluxo de escravos para a América portuguesa, as charqueadas pelotenses, em sua fase de arranque inicial, puderam contar com outros fatores socioeconômicos. Com a vinda da família real para a colônia e a consequente política expansionista levada a cabo durante o período joanino, os vastos campos da Banda Oriental foram alvo de investidas militares, na qual muitos rio-grandenses estebeleceram-se com estâncias de criação e alguns milhões de cabeças de gado vacum foram saqueadas e deslocadas para as charqueadaspelotenses, favorecendo os negócios com o charque.De acordo com Saint-Hilaire, até o início da década de 1820 cerca de 1 milhão de bovinos haviam sido saqueados (SAINT-HILAIRE, 2002, p. 107-108). No entanto, escrevendo uma década depois, Arsene Isabelle considerou que o total do gado trazido da

2

Os recém-nascidos somavam 556 e os mortos 183. Ambos os grupos não foram contabilizados entre o “Total da Povoação”.

3

Os escravos estavam divididos em 125 pardos, 94 pardas, 2.280 pretos e 796 pretas. Os libertos em 127 pardos, 131 pardas, 31 pretos e 62 pretas.

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No período de expansão do tráfico (1809-1824), Berute verificou um índice de 95% de africanos importados, sendo 19% ladinos (BERUTE, 2006, p. 51).

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Banda Oriental para o Rio Grande do Sul havia alcançado a cifra de 4 milhões de reses (ISABELLE, 2006, p. 187-188). Não é difícil imaginar que nestes anos as tropas de novilhos saqueadas baratearam imensamente os custos de produção, propiciando o mencionado boom da economia charqueadora que marcou o período considerado. Portanto, tratava-se de um contexto no qual a mão de obra, as pastagens e o gado eram comprados a baixos preços e, muitas vezes, os dois últimos também eram adquiridos por formas não mercantis.6

Assim como em todas as regiões do Brasil, boa parte da população cativa de Pelotas estava concentrada nas mãos de poucos senhores que formavam parte considerável da elite local. Contabilizando o número de escravos arrolados nos inventários post-mortem do município entre 1800 e 1835, verifiquei que os proprietários com 50 ou mais cativos, apesar de representarem somente 5,4% dos inventariados, eram donos de 33,6% dos escravos. A partir da Tabela 1 também é possível perceber que mais de 40% dos donos de escravos em Pelotas eram proprietários de pequenos plantéis (de 1 a 4 cativos). Portanto, assim como em outras regiões do Brasil, apesar da concentração verificada, a posse de cativos estava disseminada por todos os setores da sociedade.

Tabela 1 – Estrutura de posse de escravos em Pelotas a partir dos inventários

post-mortem (1800-1835) Plantéis Inventários N. % Escravos N. % 1 a 4 77 41,1 184 7,4 5 a 19 78 41,7 743 29,6 20 a 49 22 11,8 738 29,4 50 a 99 07 3,8 447 17,8 Mais de 100 03 1,6 397 15,8 Total 187 100,0 2.509 100,0

Fonte: a partir de PESSI (2010).

A posse de cativos pode servir como ponto de partida para definir a primeira elite charqueadora em Pelotas. Sabe-se que o tamanho do plantel de escravos no espaço agrário brasileiro do oitocentos estava bastante relacionado com a posição dos seus proprietários nas hierarquias socioeconômicas locais (LUNA; KLEIN, 2005, p. 138). Dos 20 maiores escravistas pelotenses inventariados entre 1800 e 1835 (possuidores de 35 ou mais cativos)

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pelo menos 15 eram proprietários de charqueada. A média de escravos por charqueador(localizada nos inventários post-mortem entre 1810 e 1835) era pouco mais de 60, sendo que alguns proprietários possuíam mais de 150 escravos. Analisando um grande número de inventários post-mortem em toda a capitania entre 1765 e 1825, Helen Osório percebeu que a elite econômica era predominantemente formada pelos comerciantes-charqueadores, ou seja, ao lado de alguns estancieiros, eles eram os maiores escravistas da região sul. Contudo, este grupo estava hierarquizado internamente e para se compreender melhor os fatores que ajudavam a definir a posição socioeconômica destes proprietários é necessário atentar para outras questões.

A primeira geração de charqueadores pelotenses e a sua elite

Como Helen Osório já demonstrou, a elite mercantil estabelecida em Rio Grande, no último quarto do setecentos, era proveniente de diferentes lugares do Império português. Além disso, muitos deles inverteram seus ganhos mercantis na montagem das primeiras charqueadas da região (OSÓRIO, 2007). Neste sentido, não causa surpresa que boa parte dos charqueadores desta primeira geração possuía origens semelhantes. Pesquisando em diferentes fontes foi possível verificar a presença de pelo menos 62 charqueadores em Pelotas entre os anos 1790 e 1835.7Localizei a informação da naturalidade dos mesmos para 48 deles (77,5%).8 Destes, 23 eram nascidos na América portuguesa, 22 em Portugal, 2 na Colônia de Sacramento e 1 na Espanha. Dos luso-brasileiros, 3 eram mineiros, sendo um de Diamantina e outro de Mariana, 2 eram do Rio de Janeiro e 1 era de Recife. Os demais eram nascidos na capitania sul-rio-grandense. Entre os reinóis, a metade era formada por minhotos,3 vieram de Lisboa e 2 de Coimbra.Apenas 1charqueador era proveniente das Ilhas. A predominância dos minhotos num grupo com forte caráter mercantil foi comum na época, como atestaram outros autores.9 Portanto, eram homens de diferentes locais do Império português e um nascido na

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A listagem foi elaborada a partir de uma relação de charqueadores descrita por João Simões Lopes Neto nos anos 1920 e reproduzida por MARQUES (1987, p. 99-102). A partir dela busquei complementar a lista localizando todos os proprietários que possuíam charqueadas em seus inventários post-mortem (abertos somente em Pelotas). Acrescentei outros nomes a partir das contribuições de outros autores, como GUTIERREZ (1993), OSÓRIO (2007) eARRIADA (1994). Muitos tiveram seu patrimônio inventariado somente depois de 1835 e outros não tiveram seus bens inventariados. É provável que tenham havido mais charqueadores, pois as primeiras fábricas eram muito rudimentares, podendo serem construídas e desmanchadas com poucos custos. Para maiores detalhes ver VARGAS (2013).

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As informações foram coletadas nos testamentos, em genealogias e publicações relacionadas à história de Pelotas (VARGAS, 2013).

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Espanha. Trata-se de um perfil um tanto distinto dos saladeiristas de Montevideu e Buenos Aires, uma vez que nenhum estrangeiro de língua inglesa ou francesa foi proprietário de uma charqueada pelotense no período, algo muito comum entre os empresáriosdas duas cidades platinas (VARGAS, 2013).

A diversidade de locais de procedência e as suas respectivas redes de relações para com agentes de fora da capitania foram fundamentais na montagem do complexo charqueador escravista em Pelotas. A inserção dos charqueadores em tais redes mercantisviabilizava um melhor acesso ao tráfico atlântico, ao comércio marítimo, aos espaços de poder político e redes de informações e favores, de amplo ou curto alcance, dependendo dos indivíduos com quem os mesmos vinculavam-se. Neste sentido, o fato de um complexo fabril escravista ter sido montado por comerciantes de diferentes localidades é revelador do nível de interação social e de conexão mercantil em que os mesmos estavam inseridos. Em suma, o complexo charqueador em Pelotas, assim como no Prata, foi resultado do investimento particular de alguns negociantes imperiais – na definição de João Fragoso (2002) – com capitais financeiros e relacionais suficientes para tal intento.10

Como já foi dito, dos 20 maiores escravistas pelotenses inventariados entre 1800 e 1835 pelo menos 15 eram proprietários de charqueada. Estes 15 charqueadores, apesar de comporem somente 8% dos inventariados, concentravam 41% dos escravos e apresentaram um plantel médio de 69 cativos. Dentre os mesmos, José da Costa Santos foi o maior proprietário com 172 escravos e José Pinto Martins o menor com 35.Além disso, as fortunas de alguns ultrapassavam os 50 contos de réis, que, no período, era uma faixa de riqueza considerável e comparável à boa parte dos comerciantes de grosso trato do Rio de Janeiro – a elite econômica do Brasil no período (VARGAS, 2013).

O fato de muitos deles serem originários de outras regiões e de atuarem como comerciantes os colocava no interior de uma ampla rede de relações sociais e mercantis com importante significado naquele contexto local. Portanto, apesar de compartilharem dos valores escravistas, monárquicos e católicos do Império português, estes primeiros charqueadores traziam conhecimentos, padrões culturais e experiências distintas para o interior da comunidade pelotense. Um exemplo disso pode ser dado na trajetória do charqueador José Pinto Martins. Natural do Porto, José era filho de um cavador de poços pertencente a uma

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Helen Osório percebeu que boa parte dos agentes que compunham as primeiras gerações de comerciantes no Rio Grande eram formadas por mercadores oriundos do Rio Janeiro (OSÓRIO, 2007).

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família de lavradores da freguesia de Mexomil, no Porto. Migrou para o Ceará, onde, na companhia de outros 3 irmãos, encabeçou os negócios de charque e comércio em Aracati por muitos anos (VIEIRA JR, 2009).11 Nos fins da década de 1780, Pinto Martins encontrava-se como negociante em Recife, e menos de 10 anos depois, já estava em Pelotas, fabricando charque. Mesmo residindo no sul do Brasil por mais de 30 anos, suas redes de relações pessoais com o nordeste mantiveram-se vivas. Em seu testamento, Pinto Martins deixou 200$000 para a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, em Pernambuco, da qual ele fazia parte, pedindo para que fossem rezadas “missas pelas almas dos falecidos irmãos terceiros da dita ordem”. Isto demonstra que, além das conexões mercantis com Recife, Pinto Martins continuou mantendo relações de caráter pessoal e afetivo na mesma cidade, para onde havia recentemente remetido um brigue carregado de charque, conforme uma conta no seu próprio inventário.12

Outro caso pode ser dado na trajetória de Domingos José de Almeida. Nascido em Diamantina, na capitania das Minas Gerais, Domingos encontrava-se realizando negócios na Corte, quando partiu para o Rio Grande onde planejara comprar uma tropa de mulas. Chegando no sul, acabou ficando por aquelas terras.13 Por meio do matrimônio inseriu-se numa das famílias de charqueadores mais poderosas de Pelotas, ondeele próprio erigiu uma charqueada próxima à fábrica do seu sogro. De acordo com Carla Menegat, quando Domingos foi vereador na Câmara de Pelotas, usava exemplos da administração municipal em Minas Gerais para defender suas propostas (MENEGAT, 2010). Outro caso pode ser dado na trajetória do espanhol Domingos Rodrigues que, uma vez estabelecido em Pelotas, ergueu sua charqueada e alcançou riqueza e prestígio notáveis. Seus dois filhos, nascidos no Rio Grande do Sul, dividiram-se entre os negócios no Uruguai e no Rio de Janeiro (VARGAS, 2013).

Pelo fato do Rio ser o principal porto da América portuguesa, os olhares e projetos destes comerciantes e charqueadores rio-grandenses estavam sempre atentos aos seus fluxos mercantis (OSÓRIO, 2007; BERUTE, 2011). Com a vinda da família real, em 1808, e o estabelecimento da Corte na mesma cidade, esta proeminência tomou proporções políticas e

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Habilitação de Familiares, maço. 157, doc. 1267. Direção Geral de Arquivos. Torre do Tombo (Lisboa). 12

Inventário de José Pinto Martins, n. 354, m. 15, Rio Grande, 1º cartório de órfãos e provedoria, 1832 (APERS).

13

Carta de Domingos para o presidente da Província Joaquim Antão Fernandes Leão, Pelotas, 07.12.1859. Anais do AHRS. Porto Alegre: Corag, v. 3, 1978, p. 154.

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administrativas ainda maiores. Os comerciantes de grosso trato do Rio de Janeiro atuavam em setores-chave da economia colonial, como a exportação de açúcar e café, o abastecimento de alimentos e o tráfico atlântico, entre outros. Como o Rio Grande do Sul não participava diretamente do comércio com os portos da África e, até 1808, nem com outros portos do Atlântico norte, os charqueadores tiveram que estabelecer relações mercantis com agentes externos ao porto sulino. Neste sentido, a formação de circuitos mercantis eivados de relações sociais, de clientelas e redes de reciprocidade entre agentes de diferentes regiões foi comum na época e tornou-se fundamental para o funcionamento do mercado colonial e o desenvolvimento das próprias elites coloniais no interior do Império português (FRAGOSO; FLORENTINO, 2001).

Pode-se dizer que ao se estabelecerem na extremadura da América portuguesa, os comerciantes e charqueadores buscavam reproduzir o mesmo comportamento das suas regiões de origem, além de investir o capital mercantil na produção, mas sem deixar de desprender-se das práticas e conexões mercantis externas. No entanto, nem todos os charqueadores eram comerciantes e somente uma minoria conseguia atuar em ambos os ramos de atividades com sucesso. Uma análise mais profunda das atividades econômicas realizadas pelos charqueadores desta primeira geração revela uma significativa presença de alguns deles no alto comércio. Pesquisando os inventários post-mortem dos 62 charqueadores atuantes na época, elenquei somente aqueles que tiveram seus bens avaliados antes de 1850, totalizando 28 documentos. Destes 28, pelo menos 7 possuíam embarcações de longo curso, como sumacas, bergantins e brigues (alguns em sociedade com outros comerciantes) (VARGAS, 2013).

Contudo, os inventários post-mortem não são suficientes para dar conta deste tipo de pesquisa, pois, muitas vezes, os charqueadores faleciam numa idade mais avançada de suas vidas, quando já haviam abandonado as atividades mercantis, buscando uma condição econômica mais segura – algo comum entre os comerciantes da época (FRAGOSO, 1998). Portanto, é necessário buscar mais vestígios da sua atuação mercantil em outras fontes. Nas escrituras públicas de compra e venda realizadas em Rio Grande entre 1808 e 1845, por exemplo, 7 charqueadores aparecem negociando embarcações marítimas (alguns mais de uma vez e 5 deles não são os mesmos que localizei nos inventários), indicando que atuavam no

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comércio marítimo.14 Cruzando os nomes dos charqueadores com o rol de comerciantes da capitania, organizado por Manoel Magalhães do seu Almanackda Vila de Porto Alegre de 1808, percebe-se que 16 deles estavam presentes na listagem (MAGALHÃES, 1980). Rastreando os nomes de todos os charqueadores nos livros de matrículas da Real Junta de Comércio da Corte, entre 1808 e 1835, também foi possível verificar a presença de 10 deles entre os matriculados como “negociantes de grosso trato” nas praças mercantis do Rio Grande do Sul.15

Cruzando todas estas listagens (os inventariados com embarcações, os que negociaram-nas a partir das escrituras, os listados no Almanack e os matriculados na Corte), é possível considerar que, dos 62 charqueadores desta primeira geração, um grupo entorno de 21 charqueadores (33,8%), pode ser analisado de uma forma distinta dos demais no que se refere as suas atividades mercantis, pois tiveram uma relação mais próxima com o comércio marítimo de longo curso, seja atuando diretamente nestas atividades por meio de suas embarcações, seja atuando na exportação e importação consignada a partir dos armazéns do porto de Rio Grande. O fato de atuarem no comércio está por trás da sua posição superior na hierarquia social, uma vez que era o capital mercantil que viabilizava a montagem do complexo charqueador. Além do mais, ao carregarem a carne-seca dos charqueadores menos ricos e intermediarem a importação de escravos, mercadorias diversas e sal, eles potencializavam ainda mais a sua capacidade de obter lucros através do comércio(VARGAS, 2013).16

Tal atividade comercial foi fundamental para definir posições no interior desta hierarquia social local.Conforme Berute (2011), que pesquisou profundamente o corpo mercantil rio-grandense na primeira metade do oitocentos, os negociantes de grosso trato da capitania atuavam em diferentes setores do alto comércio. Analisando as listagens elaboradas pelo autor, também localizei alguns charqueadores pelotenses entre os membros daquela elite mercantil, atuando principalmente na importação de sal e de escravos e na exportação de gêneros como o charque e os couros. Com exceção de alguns poucos, a grande maioria dos

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Livros de notas do 2º Tabelionato de Rio Grande (1808 a 1850) - APERS. Agradeço a Gabriel Berute tanto pela busca nominal em seu Banco de Dados quanto pelo fornecimento destas informações.

15

Matrícula dos Negociantes de grosso trato e seus Guarda Livros e Caixeiros. Real Junta do Comércio,

Agricultura, Fábricas e Navegação. Códice 170 (volumes 1, 2 e 3). Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. 16

O índice de 33,8% está ligeiramente acima do que identifiquei em minha Tese de Doutorado, pois, para o presente artigo, incorporei os dados do Almanack de 1808. Este aumento reforça ainda mais o meu argumento no que diz respeito ao notável vínculo dos charqueadores pelotenses com as atividades mercantis marítimas, o que se refletia noconsiderável patrimônio dos mesmos (VARGAS, 2013, capítulo 3).

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charqueadores, caso o quisesse, não possuía cabedais para atuar no tráfico atlântico diretamente com a África. Portanto, o papel dos rio-grandenses estava reservado à consignação e revenda dos cativos a partir do porto de Rio Grande.

Examinando os dados fornecidos por Berute foi possível perceber que pelo menos 24 dos 62 charqueadores envolveram-se nesta rede mercantil registrando escravos nos livros de siza como compradores e vendedores. No total, estes indivíduos registraram 286 cativos entre 1812 e 1822.17 Um exemplo desde comércio de consignação pode ser dado no caso do charqueador Miguel da Cunha Pereira. Conforme Berute (2011, p. 91-92), em janeiro de 1815, ele foi consignatário de duas embarcações vindas do Rio de Janeiro. O bergantim Águia Volante lhe trouxe 26 escravos, 6.000 tijolos de barro e 2.000 telhas e a sumaca Boa Fé, 10 escravos e 18.000 tijolos de barro. No mês seguinte, o charqueador José da Costa Santos foi consignatário da carga da sumaca Estrela, vinda do Rio com 81 escravos, 30 sacas com arroz, 48 sacos de açúcar, 600 alqueires de sal, entre outras mercadorias. Estas duas transações de cativos não foram registrados nos livros de siza, o que indica que a participação dos charqueadores como intermediários nesse comércio era muito maior, visto o reduzido período abarcado pelos mencionados livros e os sub-registros desta fonte.

Além disso, segundo Berute (2011), Miguel da Cunha Pereira também negociou escravos com o interior da capitania, entre os anos de 1813 e 1819. Portanto, é provável que fizesse parte de uma rede de atravessadores constituída desde a chegada dos escravos nos portos do Rio, Recife e Salvador até a sua negociação em Pelotas e nos municípios do interior e que os charqueadores envolvidos com o comércio marítimo de mercadorias estivessem inseridos no interior destas mesmas cadeias de relações.18 Além disso, apesar de a maioria ter recebido cativos por meio de consignações, alguns charqueadores parecem ter trazido escravos nas viagens de retorno dos seus próprios navios, quando do desembarque de charque nos portos do Rio, Bahia e Pernambuco. Em 1839, Domingos José de Almeida, por exemplo, teve o seu Brigue Leal apreendido “por ser encontrado com pretos africanos a bordo para o comércio de escravos” (MONQUELAT, 2009, p. 52).

17

Códice da Fazenda (F-69). Sizas de Escravos. Rio Grande: 1812-1822 (AHRS). Agradeço novamente a Berute pela busca e transcrição referentes a este Códice. Dos 24 charqueadores, 11 foram registrados como vendedores. No entanto, conforme Berute, não fica claro se os compradores vieram a ser os proprietários dos cativos ou se os revenderiam. A hipótese da revenda é bastante plausível, sobretudo nos casos onde se comprava uma grande leva de escravos, como a realizada pelo charqueador José da Costa Santos que, em 26 de novembro de 1819, registrou 138 cativos no livro de sizas.

18

Sobre o tráfico atlântico e os traficantes ver FLORENTINO(1997), RODRIGUES (2005), GOMES; CARVALHO (2010), FERREIRA (2001, p. 341-378), ALENCASTRO (2000), BERUTE (2006).

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Entre os importadores de sal, além do mencionado José da Costa Santos, foram localizados na listagem de Berute (2011), Antônio José de Oliveira Castro, Antônio Francisco dos Anjos e João Simões Lopes.19 Certamente o número devia ser maior, embora não devesse envolver muitos outros charqueadores além do pequeno grupo citado até aqui. Estes mesmos comerciantes também deviam estar envolvidos com as exportações de charque, visto que era comum os mesmos navios que descarregavam sal retornarem com os produtos das charqueadas (SILVEIRA, 2006).20 Estas conexões mercantis também podem ser medidas a partir na análise das procurações passadas em Rio Grande. Pesquisando tais documentos, entre 1811 e 1850, Berute verificou que, em Rio Grande, foram passadas 7.745 procurações pra 2.181 pessoas diferentes. Separando somente os outorgantes que eram comerciantes (1.519 procurações ou 17,8% do grupo) ele constatou que o Rio de Janeiro concentrava 21,2% das mesmas, enquanto Santa Catarina, São Paulo, Bahia, Pernambuco e Maranhão somavam 20,6% delas. Portugal foi o destino de 5,5% das procurações e o Uruguai 0,8% delas. Um dos 10 agentes acionados em Portugal pelo comerciante Mateus da Cunha Telles foi Manuel Souza Freire & Cia, “um dos mais importantes negociantes e contratadores de Lisboa”.21

Poucos charqueadores devem ter se aventurado em viagens mais longas. Talvez o Comendador Antônio José de Oliveira Castro tenha sido o que maior sucesso obteve nestas empreitadas. Matriculado como negociante de grosso trato na Corte desde 1816, ele foi o único charqueador que esteve presente em todas as listagens organizadas por Berute (2011). Em 1848, por ocasião da morte de sua esposa, o advogado de Castro justificou a demora da avaliação dos bens do casal: “como é notório, tem a casa do suplicante muitas e diversas transações, cuja liquidação depende de notícias e informações de vários pontos não só do Império, mas ainda da Europa, para onde dirige seus navios”. Tendo em vista o volume de negócios que praticava, não causa surpresa que a avaliação dos seus bens, em 1848,

19

A listagem dos importadores de sal realizada pelo autor teve como base registros entre 1804 e 1815 e de 1834 a 1851.

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Os dados de exportação de charque e couro elencados por Berute são posteriores a 1830. Neles aparecem alguns charqueadores, mas os mesmos fogem do período de análise deste artigo.

21

Souza Freire “mantinha comércio regular com o Brasil. Sua firma era autora de diversos processos de cobranças de dívidas apresentadas ao Juízo da Índia e Mina, em Lisboa. Em geral, tinham origem em fretes e mercadorias (entre outras, açúcar, algodão, trigo, couros, tabaco, cacau e aguardente), transportadas por ele de praças como Maranhão, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro. Participava igualmente do tráfico negreiro „entre Angola e mais portos permitidos na Costa da África com qualquer porto do Brasil‟, conforme declarou, em 1821. Neste sentido, chama atenção suas transações envolvendo tabaco e aguardente, mercadorias largamente utilizadas na aquisição de escravos” (BERUTE, 2011, p. 242-243).

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apresentava o maior patrimônio e plantel de escravos de Pelotas na primeira metade do oitocentos – prova de que o capital mercantil estruturava e organizava o capital produtivo, ou seja, as bases do complexo charqueador escravista pelotense.22

O comerciante Mateus da Cunha Teles e o charqueador Antônio José de Oliveira Castro, respectivamente com 45 e 28 procurações passadas, estavam entre os 10 maiores outorgantes registrados nos livros de notas de Rio Grande analisados por Berute (2011, p. 239). Os maiores procuradores de Cunha Telles no Rio eram os irmãos João José da Cunha e Francisco José da Cunha. Este último, que também era Cavaleiro da Ordem de Cristo, era cunhado de Cunha Telles e por aí já é possível perceber que no interior destas redes mercantis os laços de parentesco eram notórios. Como diversos autores demonstraram, tais vínculos parentais funcionavam como facilitadores e colocavam importantes famílias no centro de circuítos comerciais de longa distância.23 Neste sentido,Berute (2006, p. 143) verificou a presença de rio-grandenses que, matriculados como negociantes de grosso trato no Rio, remetiam escravos para o Rio Grande do Sul. Um destes agentes foi o capitão Antônio Soares de Paiva, que também teve uma charqueada, mas destacou-se por ser “negociante de grosso trato no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, e contratador dos dízimos das carnes e couros do Rio Grande durante vários anos”. Enviando seus navios para o Rio e o nordeste, o capitão também teve sociedade na arrematação de contratos com importantes comerciantes cariocas (CARVALHO, 1937, p. 128; OSÓRIO, 2007, p. 323).

Portanto, as margens do Atlântico foram um cenário de intensos fluxos não apenas de mercadorias, como também de mercadores. Tais movimentos não se davam apenas na direção do extremo sul, mas, também, no seu sentido oposto. Com relação a isto, Afonso Graça Filho observou que durante as décadas de 1830 e 1840, o alto comércio de abastecimento na Corte teve seus principais agentes substituídos por um novo grupo de comerciantes. Segundo o autor, alguns eram rio-grandenses que migraram para o Rio atraídos por este rentável comércio, como Militão Máximo de Souza, J. J. Cunha Teles e outros. Como notou Graça Filho, Jean Batiste Debret teria percebido o início deste processo quando escreveu sobre quem eram estes novos comerciantes de carne seca na Corte: “todos parentes de correspondentes dos charqueadores, recebem diretamente sua mercadoria nas embarcações que aportam no Rio

22

Inventário de Francisca Alexandrina de Castro, n. 293, m. 21, 1848, Pelotas, 1º Cartório de órfãos e provedoria (APERS).

23

Ver, por exemplo, RODRÍGUEZ (2005, p. 185-230), KICZA (1986), SOCOLOW (1991), SAMPAIO (2007, p. 225-264), PEDREIRA (1995), OSÓRIO (2007), FRAGOSO; FLORENTINO (2001).

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de Janeiro, pretexto de que abusam às vezes para aumentar o preço desse gênero quando ocorrem atrasos nas entregas” (GRAÇA FILHO, 1992, p. 91, 129). O próprio Irineu Evangelista de Souza, posteriormente Visconde de Mauá, foi um dos jovens rio-grandenses que migraram para a Corte neste período, estabelecendo-se como caixeiro de João Pereira de Almeida – um dos maiores comerciantes de grosso trato do Rio.24

Portanto, tais migrações não representavam uma ruptura com os seus locais de origem. Comerciantes rio-grandenses que migravam para o Rio ou o nordeste não se desconectavam de suas redes de relações anteriores e os “forasteiros” que se instalavam em Pelotas pareciam fazer o mesmo.25 O pertencimento às redes mercantis nas quais os comerciantes de grosso trato cariocas estavam inseridos trazia benefícios diversos aos charqueadores, pois, quando bem manejadas, elas potencializavam a sua posição de elite nas hierarquias sociais locais. Neste sentido, proponho que as margens do Atlântico sul, sobretudo nas suas cidades portuárias, sejam vistas também como um espaço de interação social entre negociantes imperiais, repletas de redes mercantis com conexões as mais diversas, compostas por parentes e parceiros comerciais26, e não somente como um espaço de competição entre negociantes de diferentes praças, onde o papel das mais ricas era apenas subordinar as menos ricas aos desígnios do acúmulo do capital.

Um exemplo disto pode ser dado na trajetória de Antônio Francisco dos Anjos. Natural da Colônia de Sacramento, ele deve ter migrado para o Rio Grande após a expulsão dos portugueses daquela localidade, em 1777. Nos anos 1790, instalado em Pelotas, já é possível encontrá-lo, juntamente com outros proprietários, realizando requerimentos à Coroa. Com o tempo, o charqueador tornou-se capitão-mor da localidade. Em 1808, necessitando de um atestado para ter um requerimento aprovado pela Corte do Rio de Janeiro, Anjos recebeu o auxílio de um grupo de senhores de grande respeito no Império português:

24

Sobre Mauá e o próprio Militão Máximo de Souza ver GUIMARÃES (1997). 25

Em 1827, o charqueador José da Costa Santos, natural da freguesia de Santa Rita, na cidade do Rio de Janeiro, legou em testamento bens para parentes residentes no Rio, mencionando que perdoava a dívida do seu irmão Serafim para com ele (Inventário de José da Costa Santos, n. 113, m. 9, Pelotas, 1º cartório de órfãos e ausentes, 1827 (APERS)).

26

Neste sentido, conforme Fragoso, “era extremamente difícil para uma casa comercial setecentista manter uma rede de comércio que envolvesse distantes regiões e diferentes produtos – como era o caso do tráfico atlântico de escravos – sem o recurso, as relações de reciprocidade que podia, inclusive, chegar a casamentos entre famílias de sócios. As famílias Velho, Carneiro Leão e Pereira de Almeida – residentes no Rio de Janeiro, majoritárias no comércio de africanos e nas exportações para Portugal, em princípios do oitocentos – mantinham irmãos, primos e/ou genros em Lisboa e em outras cidades do além-mar.Ao mesmo tempo, o império aparece como espaço de circulação de famílias empresariais, a exemplo da experiência dos Loureiro, portugueses com estadias e negócios no Brasil e na Índia” (FRAGOSO, 2002, p. 113-114).

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juraremos se necessário for, em como o Capitão Antônio Francisco dos Anjos morador no Rio Grande é um dos principais negociantes daquela Vila, aonde faz umas grandes charqueadas, e faz navegar um grande número de couros e carnes, não só para esta capital, mas também para a Bahia e Pernambuco. Rio de Janeiro. [rasurado] de novembro de 1808. [Assinado] João Gomes Barroso, Amaro Velho da Silva, Elias Antônio Lopes, Manoel Velho da Silva, Amaro Velho da Silva Sobrinho, Fernando Carneiro Leão, Antônio Gomes Barroso,

Joaquim Antônio Martins.27

Os sobrenomes Carneiro Leão, Gomes Barroso e Velho da Silva eram conhecidos e respeitados por qualquer comerciante marítimo do Atlântico sul. Tratavam-se de homens envolvidos no tráfico negreiro e na exportação de açúcar e que estavam inseridos em redes mercantis de longo alcance (FRAGOSO; FLORENTINO, 2001). Portanto, o capitão-mor Antônio Francisco dos Anjos era reconhecido como membro da elite local tanto pelos seus pares como pelos grandes comerciantes do Rio. Ser reconhecido e tratado como o “cacique” de sua aldeia (ou um dos líderes da mesma) era fundamental para o homem que quisesse ocupar o topo da elite de um lugar e manter tal posição.28

Contudo, como em qualquer elite local e regional, Antônio Francisco não estava sozinho e plenamente acomodado com relação a sua posição. Em 1815, o visitador D. José da Silva Coutinho considerou que os homens mais ricos da pequena freguesia eram Domingos de Castro Antiqueira, Domingos Rodrigues, Antônio Francisco dos Anjos, José Tomas da Silva, Manuel Alves de Moraes, José Pinto Martins, Antônio José Gonçalves Chaves, Joaquim José da Cruz Secco, Cipriano R. Barcellos e demais irmãos e Agostinho Nunes (MENEGAT, 2009, p. 64). Com exceção do último, os demais eram todos charqueadores. Além disso, Domingos Rodrigues, Domingos Antiqueira e José R. Barcellos estavam entre os cinco mais ricos charqueadores com fortuna inventariada na primeira metade do XIX, o que confere credibilidade ao relato do Bispo (VARGAS, 2013). Todos estes charqueadores atuavam no comércio marítimo e tinham condições de disputar influência e o poder local com Antônio Francisco dos Anjos. Mas o fato dele ser Capitão-mor da localidade revela uma importante

27

Seção de Manuscritos. Documentos Biográfios (Antônio Francisco dos Anjos) – Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

28

Às vezes estas relações mercantis podiam transformar-se em relações de amizade ou até de compadrio, como no caso de Manuel Fernandes Vieira, importante comerciante e estancieiro rio-grandense que tornou-se compadre de Anacleto Elias da Fonseca, um dos mais importante comerciantes de grosso trato do Rio de Janeiro (HAMEISTER, 2006, p. 165-166).

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distinção social que ajuda a definir melhor esta elite entre os charqueadores da primeira geração.

Prestígio e poder nas mãos da “grande família”

O reconhecimento da autonomia política e do papel das elites locais no governo de seus povos constituía-se num traço estrutural do Império português.29 E desta dinâmica surgiu uma prática de distribuição de mercês régias, comendas honoríficas e distinções que denotavam a posição social dos seus portadores – ainda vigentes no início do oitocentos.30 Dos 62 charqueadores, por exemplo, pelo menos 12 receberam a patente de capitão, 2 a de tenente e 1 a de coronel31 – dentre os quais estavam muitos dos mais atuantes no comércio marítimo – e outros 6 possuíam comendas honoríficas.Capitães e comendadores geralmente eram homens de prestígio social e poder de mando e, por este motivo, exerciam uma notável influência na comunidade local. Uma vez que a participação nos mercados regionais e as concessões de crédito eram atividades eivadas por relações pessoais, é possível imaginar, como demonstrou Tiago Gil (2009), o grau de influência que estes charqueadores-capitães exerciam em tais operações. Estudando o comércio de tropas entre Viamão, Curitiba e Sorocaba, o autor considerou:

“Em primeiro lugar, deve-se ter em conta a importância dos oficiais, especialmente os capitães, na economia local, como agentes econômicos diretos, comandando negócios, criações de animais, lavouras, lavras de minérios, dentre outras atividades que constituíam a base da economia regional. É certo que era uma economia relativamente pobre, secomparada, por exemplo, com os negócios desenvolvidos na Praça do Rio de Janeiro na mesma época. Mas eramestes capitães locais, à exemplo dos capitães e coronéis Carneiro Leão e Gomes Barroso, que comandavam a dinâmica econômica. No caso da rota das tropas, os capitães eram os senhores daquela pobre economia, como os do Rio de Janeiro eram de grossa aventura” (GIL, 2009, p. 227).

Neste sentido, seria um equívoco analítico buscar definir a primeira elite charqueadora somente através dos critérios mercantis mencionados anteriormente. Por este motivo, decidi incorporar no grupo de elite aqui estudado aqueles charqueadores que foram identificados em

29

Como demonstraram BOXER (2002);FRAGOSO; BICALHO; GOUVÊA (2001); MONTEIRO (2005). 30

São muitas as pesquisas que evidenciam estas práticas na América portuguesa. Ver, por exemplo, GOMES (2010); STUMPF (2009).

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algum documento com uma comenda honorífica ou patente de oficial de milícias. Portanto, somando todos os charqueadores que atuavam no comércio marítimo de longo curso (21) com os que possuíam patentes de oficial(15) e comendas honoríficas(6) tem-se 27 charqueadores (muitos acumulavam o grosso comércio com a comenda ou a patente). Se havia uma elite na primeira geração de charqueadores ela era formada por estes proprietários que compunham 43,5% do grupo. Certamente, entre estes últimos, alguns eram mais influentes do que outros, pois concentravam mais riqueza, poder e prestígio social. Eram homens como Antônio Francisco dos Anjos, Antônio José Gonçalves Chaves, José da Costa Santos, Domingos Rodrigues, Domingos de Castro Antiqueira, Antônio José de Oliveira Castro, os irmãos Cipriano e Boaventura Rodrigues Barcellos, entre outros. Eles estavam entre os maiores escravistas do grupo e os mais ricos não apenas de Pelotas, como da província inteira, eatuavam no comércio marítimo e na intermediação de compra e venda de escravos, entre outras mercadorias.

No entanto, quando se deixa de examinar somente os indivíduos e se busca verificar os graus de parentesco entre os charqueadores aqui analisados é possível verificar que a elite dentro da elite estava fortemente aparentada, formando um núcleo que além dos vínculos sociais com comerciantes de fora da província também possuía laços de parentesco com os próprios charqueadores.32Dos 27 charqueadores que ocupavam o topo da hierarquia no interior do grupo, somente 7 deles não possuíamvínculos de parentesco (consanguíneo, compadrio ou matrimonial (com familiares)) com os demais membros desta elite. Ou seja, quase 75% do grupo era parente de outro membro do próprio grupo. Em contrapartida, aqueles outros 35 charqueadores que não pertenciam ao seleto grupo de capitães, comendadores e negociantes de grosso trato, estava mais “desconectado” (sem vínculos parentais) com os demais charqueadores. Pelo menos 22 destes 35 charqueadores não apresentaram conexão parental com o grupo de elite (os 27 charqueadores). Mas 17 deles não tinham laços parentais nem mesmo com os demais charqueadores que estavam fora do grupo de elite. Portanto, os charqueadores que não compunham a elite aqui estudada estavam mais isolados em termos de parentesco se comparados com aqueles 27 charqueadores que ocupavam o topo da hierarquia social. Neste sentido, a concentração de recursos materiais e

32

Para esta análise foram utilizados os registros paroquias de casamento e batismo de Pelotas entre 1812-1825 (Arquivo do Bispado de Pelotas), inventários post-mortem e tesamentos de charqueadores, além de diversas genealogias dos mesmos. Para maiores detalhes ver VARGAS (2013).

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imateriais era acompanhada por uma concentração de vínculos parentais, forjando uma espécie de grande família que ocupava o estrato superior do grupo (VARGAS, 2013).

É possível verificar a importância de tais vínculos oferecendo exemplos deste comportamento social. O prestígio social e a riqueza do capitão Antônio Soares de Paiva, por exemplo, possibilitaram bons casamentos aos seus filhos. Um deles contraiu matrimônio com uma filha do charqueador Domingos de Castro Antiqueira. Apesar da esposa de Antiqueira ter falecido em 1829, o inventário dos bens do casal foi aberto somente em 1840. Segundo o seu advogado: “não pode o suplicante proceder prontamente nos termos do respectivo inventário, em razão de estar embaraçado com a liquidação de grandes contas que tinha em diferentes praças do Império, de cujo resultado dependia a fatura do mesmo inventário”.33

Estes negócios devem ter sido importantes e certamente estavam na base da fortuna deste charqueador.Em 1852, em seu testamento, Antiqueira, que agora já assinava como Visconde de Jaguari, mandou rezar mil missas no Rio de Janeiro “por atenção daquelas pessoas com quem tratei negócios”.34

As procurações que ele passou em 1832, deixam claro quem eram alguns dos seus parceiros comerciais no interior da província, no Rio e em Pernambuco. No entanto, um dos mais importantes estava na Bahia.35 Natural do Rio Grande, Antônio Pedroso de Albuquerque estabeleceu-se definitivamente em Salvador por conta da Revolta dos Farrapos. Conforme Pierre Verger (1981, p. 45), Albuquerque foi um dos comerciantes mais ricos da Bahia. Atuou no tráfico atlântico no nordeste e no Rio de Janeiro (FLORENTINO, 2010, p. 203), tendo sido proprietário de 20 navios. Carregava charque para o nordeste e não causa surpresa que tenha continuado mantendo relações mercantis com sua terra natal, onde sua família possuía importante prestígio em Rio Pardo.36

Outro exemplo pode ser dado a partir do casamento do filho do Capitão-mor Antônio Francisco dos Anjos e da rede parental estabelecida a partir de então.Antônio Rafael casou-se com a filha do capitão João Francisco Vieira Braga, o pai. O filho homônimo de Vieira Braga, que também foi charqueador durante um período curto de tempo e veio a tornar-se o Conde de Piratini, casou-se com a filha do capitão Domingos Rodrigues – o charqueador mais rico do

33

Inventário de Maria Joaquina de Castro, n. 74, m. 3, Rio Grande, 1º cartório do cível, 1840 (APERS). 34

Inventário do Visconde de Jaguari, n. 348, m. 25, Pelotas, 1º cartório de órfãos e provedora, 1852 (APERS). 35

Procurações, 1º Tabelionato de Pelotas, Fundo 48, Livro 1, 19v (APERS). 36

Sobre a sua família em Rio Pardo ver LAYTANO (1979).Um dos seus irmãos, Manoel Pedroso de Albuquerque, era procurador de Antiqueira em Rio Pardo, para onde o charqueador devia remeter escravos e mercadorias diversas.

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período colonial.37 Assim como os charqueadores Antiqueira, Vieira Braga, Antônio Francisco dos Anjos e outros, o capitão Domingos Rodrigues também mantinha negócios diretamente com outros portos do Brasil. Quando faleceu, em 1819, os inventariantes esperavam uma embarcação sua retornar de Recife. Nesta ocasião, sua viúva remeteu procurações para Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, a fim de resolver os trâmites de seu inventário. Destaque para os procuradores no Rio que eram João Rodrigues Ribas e o tenente Miguel Ferreira Gomes.38 O primeiro era o seu próprio filho primogênito que estava atuando como negociante no Rio, onde investiu no comércio negreiro, conforme a listagem de traficantes organizada por Florentino (2010, p. 256). O segundo dispensa comentários. Comerciante de grosso trato no Rio, Ferreira Gomes concentrou grande parte dos carregamentos de charque remetidos para o Rio de Janeiro no período (FRAGOSO; FLORENTINO, 2001, p. 200).

A presença das relações familiares entre estes empresários algumas vezes tomava formas mais encorpadas. Os irmãos Rodrigues Barcellos, por exemplo, formavam uma verdadeira empresa familiar. Boaventura, Bernardino, Inácio, José e Cipriano, cada um deles, possuía a sua charqueada, acumulando um grande número de escravos e propriedades em Pelotas. Com o tempo foram agregando, como genros ou compadres, outros comerciantes vindos “de fora” que acabaram se tornando charqueadores, como Domingos José de Almeida e Antônio José Gonçalves Chaves, por exemplo. Uma outra família com notável influência em Pelotas era os Silveira, primeiros habitantes da localidade e proprietários das sesmarias na qual o município foi erigido. Tendo se constituído na elite da capitania na segunda metade do século XVIII (HAMEISTER, 2006), as suas herdeiras na segunda e terceira geração contraíram matrimônio com importantes comerciantes que vieram a se tornar charqueadores, como Joaquim José de Assumpção, João Simões Lopes, Antônio José de Oliveira Castro, José Antônio Moreira e Baltazar Gomes Vianna, por exemplo. Em suas terras, o português José Pinto Martins veio a se arranchar, tendo erguido a sua charqueada – uma das primeiras da localidade (VARGAS, 2013).

Tornar-se um membro destas famílias de prestígio podia oferecer diferentes vantagens aos iniciantes. Num mercado repleto de relações pessoais, podia-se conseguir sal,

37

O filho de um charqueador deixou escrito sobre Pelotas no final do setecentos: “Em toda a região, apenas se destacava da uniforme chateza o sobrado de Domingos Rodrigues, velha construção de 1784, contemporânea dos primórdios do distrito” (ARRIADA, 1995, p. 94).

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Rio Grande, fretes baratos, crédito na praça, além de proteção política em conjunturas adversas ou apoio em litígios agrários, entre outros. Ultrapassando o espaço familiar, ao pertencer às redes mercantis nas quais os ricos charqueadores ocupavam um espaço notável, também era possível obter um melhor acesso a informações referentes aos mercados dos couros, charque, sebo e sal.Portanto, pertencer à família de um rico charqueador ou estabelecer algum vínculo parental com o mesmo podia trazer enormes ganhos para um jovem investidor. Em contrapartida, era interessante aos charqueadores da elite restringir o mercado matrimonial de suas filhas aos comerciantes que agregassem tais fatores à empresa familiar. Isto explica a apreciável endogamia que mencionei anteriormente e que caracterizava o diminuto grupo que ocupava o topo desta hierarquia socioeconômica. Quando duas famílias ricas e de prestígio acabavam unindo seus filhos e filhas por casamento ou batizando os filhos dos outros, estes ganhos podiam ser potencializados, favorecendo, assim, a reprodução social da desigualdade na distribuição de recursos materiais e imateriais que caracterizava aquele universo.

Considerações finais

Portanto, este pequeno grupo de charqueadores, capitães e comendadores, além de atuar no comércio marítimo, apresentava um importante grau de parentesco entre si e estava muito bem relacionado com grandes comerciantes de outros portos brasileiros. O historiador interessado em definir melhor os diferentes estratos e cadeias de interação social entre o espaço econômico agrário centrado em comunidades locais e os espaços de poder e comércio mais centrais não pode tratar de forma homogênea as elites de um município, de uma capitania ou de uma província. Este pequeno grupo de charqueadores que atuava no comércio marítimo não possuía seu olhar voltado exclusivamente para o âmbito local. Por estabelecerem conexões com a sociedade exterior e serem reconhecidos como a elite da localidade tanto por comerciantes quanto por autoridades administrativas externas a sua aldeia, eles se legitimavam enquanto elite local e regional e, em termos analíticos, não podem ser tratados como os demais membros de sua comunidade. Desnecessário dizer que a inserção dos charqueadores mais ricos e prestigiosos nestas redes mercantis os favoreciam econômica e politicamente e isto ajudava a reproduzir a sua posição de elite na localidade, assim como a de seus familiares. Portanto, Pelotas, desde os seus primórdios, já apresentava uma riqueza,

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surpresa que elas estivessem aparentadas entre si.

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