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OBJETO: Fundações Doação Instituição de Ensino Municipal Beneficiada Bens Móveis Inservíveis - Possibilidade

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CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA CÍVEIS FALIMENTARES, DE LIQUIDAÇÕES EXTRAJUDICIAIS,

DAS FUNDAÇÕES E DO TERCEIRO SETOR

CONSULTA N.º 21/2013 – CAOP Fundações

OBJETO: Fundações – Doação – Instituição de Ensino Municipal Beneficiada – Bens Móveis Inservíveis - Possibilidade

INTERESSADA: 1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FRANCISCO BELTRÃO

CONSULTA N. 21/2013:

1. Trata-se de consulta suscitada no dia 03 de outubro de 2013, por telefone, pela Assessora Jurídica da 1º Promotoria de Justiça da Comarca de Francisco Beltrão, Grazielle Harumi Missawa, em atuação com o d. Promotor de Justiça Dr. Roberto Tonon Junior.

Questionou a consulente sobre a plausibilidade de doação de bens pertencentes ao patrimônio da Fundação Kyrios para uma instituição de ensino, em virtude de que os objetos não possuem mais valor de mercado e mostram-se inutilizáveis à própria fundação.

É o que cumpria relatar, passo à manifestação.

2. Em primeiro lugar, importa esclarecer alguns pontos acerca da formação do patrimônio fundacional.

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Av. Mal. Deodoro. 1028 – Edifício Baracat – 4º andar – FONE: (41)

É cediço que as fundações são pessoas jurídicas formadas por intermédio de uma disposição de vontade que aparta um patrimônio para a realização de finalidades sociais claras e específicas.

Portanto, a personalidade jurídica concedida à fundação é escorada no patrimônio arrecadado, e não nos indivíduos responsáveis pela sua administração.

Uma vez que o direito atribui personalidade jurídica a esse tipo de formação patrimonial, considera-se inegável a importância jurídica das finalidades sociais, culturais e educacionais perseguidas pelas fundações, de tal modo que o velamento da fundação e, por conseqüência, de seus bens é imperativo.

Demonstrada a essencialidade dos bens fundacionais para a realização de seus intentos, confere-se, a priori, natureza de inalienabilidade do patrimônio da fundação, haja vista a destinação social atribuída no momento da instituição da entidade.

Contudo, tal inalienabilidade tem seus contornos relativizados conforme o contexto financeiro em que se encontra a fundação. Explana José Eduardo Sabo Paes, em sua obra Fundações e Entidades de Interesse Social:

“Segundo os tribunais, ‘os bens das fundações são normalmente inalienáveis, porque representam a concretização dos fins preestabelecidos pelos respectivos instituidores, não tendo os seus administradores qualidade para alterar o

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imperativo da vontade daqueles’ (RT252/661). Note-se, porém que essa inalienabilidade é simplesmente relativa, não tendo caráter absoluto.(...) A orientação jurisprudencial nesse campo manifesta-se pela relativa inalienabilidade dos bens fundacionais. Caso os mesmos sejam vendidos, exigem os tribunais a aplicação do preço na aquisição de outros bens, que deverão ficar igualmente destinados ao mesmo fim (ct RT 116/650, 138/18, 149/580, 126/127 e 242/232).”

Deve o Ministério público, destarte, examinar a necessidade, a viabilidade e a justificativa para que a alienação de bens fundacionais ocorra, ponderando-se tal medida com as atividades empreendidas e os fins a que se propõem as fundações.

No que se refere às doações em que a fundação figure como sujeito ativo, a diminuição do patrimônio fundacional é discutida, na medida em que se está diante de negócio jurídico gratuito, em que não se aufere lucro – vantagem econômica que, vale destacar, se existente, seria revertida aos objetivos da fundação, contribuindo para a sua manutenção e crescimento.

A liberalidade que circunda o negócio jurídico da doação carrega desdobramentos que, ao âmbito da Direito do Terceiro Setor, pode expor a dilapidação patrimonial de uma entidade, ou encobrir a realização de transações escusas, ocultas na forma de transação a título não oneroso.

Gustavo Assad Diniz ressalta a mínima abertura do sistema dada à possibilidade de doação de bens por fundação:

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“Não se fala aqui da doação em que a fundação está no pólo ativo, ou seja, exerce a qualidade de doadora. Aliás, o ato de doar patrimônio praticado por fundação é inadmissível, salvo se fizer parte da finalidade estatutária, e a fundação for titular de quantia patrimonial suficiente para a prática do negócio. Obviamente, o Ministério Público deve atuar ostensivamente nesses casos1”.

A par disso, o velamento promovido pelo Ministério Público, seguindo a premissa de proteção do patrimônio fundacional, em virtude do interesse social que decorre de sua correta gestão, deverá restringir ao máximo a realização de doações.

No caso concreto apresentado na consulta, a doação pretendida pela fundação teria como objeto uma série de bens inservíveis, que não mais agregariam nenhum valor de mercado.

A natureza de inservibilidade dos bens também é estudada no âmbito do Direito Administrativo, pelo qual se define que bens inservíveis são aqueles não encontram mais aplicação nas unidades que os detêm2.

Não bastasse a impossibilidade de aplicação dos bens às finalidades da fundação, descreve-se que o seu valor econômico sequer alcança patamares mínimos que permitam negociações em mercado.

1 DINIZ, Gustavo Assad. Direito das fundações privadas. 2. ed., p. 250.

2 Endereço eletrônico: <ttp://www.patrimonio.uff.br/index.php/glossario-do-patrimonio>. Acesso em 8 de outubro de 2013.

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Por conseguinte, a doação desses bens tidos como inservíveis e desprovidos de valor econômico não refletiria consequências negativas ao patrimônio da fundação. Afinal, em que pese esses bens sejam de titularidade da fundação, eles não acrescentam valor algum ao conjunto patrimonial fundacional.

Além disso, tendo apenas como base os sítios eletrônicos encontrados sobre a Fundação Kyrios, foi possível aferir que os objetivos perseguidos pela entidade envolvem projetos voltados à população carente, o que se coaduna com o propósito de doação de materiais didáticos, dentre outros, a uma escola pública municipal na própria comunidade em que se insere a fundação.

O negócio jurídico ora em debate, em comparação a uma doação realizada pela Administração, é eivado de menores formalidades. Segundo acórdão nº. 685/2004, prolatado pelo Tribunal de Contas do Mato Grosso, não existem impedimentos legais para que “a administração seja beneficiada com doações (...), desde que essas doações não tragam ônus reais indesejados e insuportáveis para a Administração Pública” 3.

A mesma diretiva é encontrada no Manual de Administração de Bens Móveis, elaborado pela Gerência do Patrimônio

3 Endereço eletrônico:

<ttp://www.tce.mt.gov.br/processo/documentoAcordao/num/155411/ano/2003>. Acessado em 8 de outubro de 2013.

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Público, da Secretaria de Estado da Gestão Administrativa do Governo do Estado do Acre.

Indica o Manual que “o recebimento de doações será autorizado pelo Gestor de cada Unidade Administrativa ou a quem o mesmo delegar, cabendo à Gerência Setorial de Patrimônio”4.

Em diretrizes emitidas pela Controladoria Geral do Município do Rio de Janeiro, também é indicado que:

“O recebimento condicional do bem doado deverá ser formalizado, identificando-se todas as características do mesmo, devendo constar declaração do doador de que aceitará, sem ônus para o Município, a devolução do bem no caso de não aceitação da doação por qualquer razão” 5.

Portanto, com lastro nas orientações acima destacadas, acreditamos que é possível a doação dos bens inservíveis da Fundação Kyrios.

Para tanto, este Centro de Apoio sugere:

4 Endereço Eletrônico http://www.florestadigital.acre.gov.br/wps/wcm/connect/21a95c0043a1ca5fb3f5bf58 119a6522/Manual+de+Administracao+de+Bens+Moveis.pdf?MOD=AJPERES. Acessado em 8 de outubro de 2013. 5 Endereço eletrônico <www.florestadigital.acre.gov.br/wps/wcm/connect/21a95c0043a1ca5fb3f5bf58119a 6522/Manual+de+Administracao+de+Bens+Moveis.pdf?MOD=AJPERES>. Acessado em 8 de outubro de 2013.

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a) a análise estatutária da Fundação Kyrios, com o condão de serem identificados os objetivos a que ela se presta, bem como se a doação de bens é compatível com os fins declarados;

b) a realização de uma avaliação dos bens indicados para doação, hábil a atestar se eles se apresentam como, de fato, inservíveis;

c) a elaboração de Termo de Doação, a ser firmado perante a Prefeitura do Município onde está situada a escola (caso a escola seja pública municipal) ou diretamente perante a administração da instituição (caso a escola seja particular). Mostra-se necessária a observação de que é aconselhável que conste no Termo de Doação que a Fazenda Municipal não ficará sujeita a nenhum encargo, bem como a quantidade e a descrição dos objetos doados.

3. Frente ao questionamento formulado e aos dados fornecidos a esta coordenadoria do Centro de Apoio Operacional das Fundações e Terceiro Setor, são esses, em tese, os esclarecimentos que se entende adequados.

Persistindo quaisquer dúvidas, poderá a solicitante encaminhar novos questionamentos.

Curitiba, 9 de outubro de 2013.

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Av. Mal. Deodoro. 1028 – Edifício Baracat – 4º andar – FONE: (41) Procuradora de Justiça – Coordenadora

Amanda Maria Ferreira dos Santos

Referências

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