• Nenhum resultado encontrado

O ser e o ter: camponeses, práticas tecnológicas e políticas (um estudo em Lagoa Seca-Paraíba).

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O ser e o ter: camponeses, práticas tecnológicas e políticas (um estudo em Lagoa Seca-Paraíba)."

Copied!
203
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE HUMANIDADES

MESTRADO EM SOCIOLOGIA RURAL

O SER E O T E R : CAMPONESES, PRÁTICAS TECNOLÓGICAS E POLÍTICAS

(um estudo em Lagoa Seca - Paraíba)

GEOVANI JACÓ DE FREITAS

\MPINA GRANDE - PARAÍBA

1 9 9 3

(2)

U N I V E R S I D A D E F E D E R A L DA PARAÍBA CENTRO DE HUMANIDADES

MESTRADO EM SOCIOLOGIA RURAL

O S E R E O T E R : CAMPONESES, P R A T I C A S TECNOLÓGICAS E P O L I T I C A S (usa e s t u d o em L a g o a Seca-Paraíba)

G e o v a n i Jacó de F r e i t a s

CAMPINA GRANDE-PARAIBA A g o s t o de 1993

(3)

Dedico e s t e trabalhe à minha mãe, e s s e vulcão de mulher, e a Teleca, p a r c e i r a de tan-tos refrões...

(4)

U N I V E R S I D A D E FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE HUMANIDADES

MESTRADO EM SOCIOLOGIA RURAL

O S E R E O T E R : CAMPONESES, P R A T I C A S TECNOLÓGICAS E P O L I T I C A S (ura e s t u d o em L a g o a Seca-Paraíba) Dissertação a p r e s e n t a d a a o c u r s o de M e s t r a d o em S o c i o l o g i a , com área de concentração em S o c i o l o g i a R u r a l d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d a Paraíba, em c u m p r i m e n t o às exigências p a r a ob-tenção do G r a u de M e s t r e . B a n c a e x a m i n a d o r a : D r a . J o s e f a Saleté B a r b o s a C a v a l c a n t i ( U F P E ) - O r i e n t a d o r a D r a . G h i s l a i n e Duque ( U F P B ) P r o f . I v a n d r o d a C o s t a S a l e s ( O f i c i n a do S a b e r ) A l u n o : G e o v a n i Jacó de F r e i t a s

CAMPINA GRANDE - PARAÍBA A g o s t o de 1993

(5)
(6)

B I B L I O T E C A - UF P/u i CAMHJf V I . ATOS - PB. 1 AGRADECIMENTOS A t o d o s o s t r a b a l h a d o r e s r u r a i s do município de L a g o a S e -ca-Paraíba. Em e s p e c i a l , a N e l s o n A n a c l e t o , N e l s o n F e r r e i r a , L e d a G e r t r u d e s , N o a l d o , R o s a , J o s e f a , C a b r a l , E d n a l d o e t a n t o s o u t r o s , h o j e b a t a l h a n d o p o r um j e i t o d e c e n t e de s e r m o s t o d o s cidadãos, f o r a e d e n t r o do s i n d i c a t o . Tem s i d o um privilégio c o n v i v e r com e l e s .

A m i n h a o r i e n t a d o r a , p r o f e s s o r a J o s e f a S a l e t e B a r b o s a C a v a l c a n t i , a quem s o u p r o f u n d a m e n t e g r a t o p e l a s contribuições i m p o r t a n t e s d u r a n t e t o d o o p e r c u r s o do m e s t r a d o . T r a b a l h a r com e l a s i g n i -f i c o u v i a b i l i z a r um p r o c e s s o de construção de s a b e r acadêmico v i v i d o de f o r m a c o o p e r a d a , amena e democrática. Aos p r o f e s s o r e s G h i s l a i n e Duque e I v a n d r o da C o s t a S a l e s que a c e i t a r a m c o n t r i b u i r com s e u s o l h a r e s e reflexões p a r a que o s i g n i f i c a d o d e s t a m o n o g r a f i a s e a m p l i a s s e .

Meu c a r i n h o t o d o e s p e c i a l a T e l e c a , m i n h a p a r c e i r a , p e l o c a r i n h o e força que me d e d i c o u , além d a s v a l i o s a s observações que contribuíram em p r o f u n d i d a d e p a r a a versão f i n a l d e s t e t r a b a l h o .

A E v a n i l d o B a r b o s a e Sônia M a r i n h o , p a r c e i r o s de t r a b a l h o , a o s q u a i s devo m e t a d e d e s t a t e s e , p e l o p e s o da importância d e s u a s contribuições e presença ao l o n g o da p e s q u i s a de campo e s e u s d e s -d o b r a m e n t o s .

A L u c i n h a , m i n h a irmã, p e l a s u a presença c o n s t a n t e e a m i g a que me acompanhou d u r a n t e t o d a a trajetória do m e s t r a d o e da e l a b o

(7)

ração i n i c i a l da t e s e . Com e l a , a p r e n d i um pouco da s a b e d o r i a e d a paciência artesãs, f u n d a m e n t a i s p a r a a finalização de uma t e s e .

A p r o f a . C r i s t i n a M a r i n , p e l a s a s t u t a s observações metodo-lógicas que f i c a r a m p e r m a n e n t e m e n t e p r e s e n t e s d u r a n t e a construção da p e s q u i s a de campo e n a organização e análise d o s d a d o s c o l e t a d o s .

A N e l l y C a v a l c a n t i , e n e r g i a que e s t e v e p r e s e n t e d e s d e a s i n c e r t e z a s da elaboração do p r o j e t o de e s t u d o p a r a o exame de s e l e ção no m e s t r a d o a o s momentos m a i s profícuos e i n t e l e c t u a l m e n t e p r o -d u t i v o s -d e n t r o e f o r a -d e l e .

A N e v e s O l i v e i r a e Dona R i t a , p e l o c a l o r do c a r i n h o e do a c o n c h e g o que t r a n s b o r d o u n a minha v i d a e me t r a n s f o r m o u em f i l h o , em irmão, em n e t o . . . e que me t o r n o u f o r t e p a r a d a r c o n t a de t a n t o s d e s a f i o s , e n t r e o s q u a i s , e s t e t r a b a l h o .

A família V i e i r a Nóbrega - c a p i t a n e a d a p o r S e u C h i c o e Do-n a R i t a - , que a v i d a p r e s e Do-n t e o u - m e em CampiDo-na G r a Do-n d e - P a r a i b a , com m a i s um p a i , uma mãe e , p o r c o n t a , uma d e z e n a de irmãos(ãs). Sem

e l e s , e s t e t r a b a l h o t e r i a saído m a i s difícil.

Aos c o l e g a s d a EMATER-PB, em e s p e c i a l a o s que compõem a e q u i p e do Escritório de L a g o a S e c a - P B . , p e l a s t a n t a s inquietações e a n s i e d a d e s p a r t i l h a d a s .

Ao SEDUP, Serviço de Educação P o p u l a r , em Guarabira-Paraí-b a , p e l o s momentos p r i v i l e g i a d o s que t i v e m o s e n q u a n t o p r o f i s s i o n a i s , numa e t a p a h i s t o r i c a m e n t e s i g n i f i c a t i v a p a r a a organização d o s t r a

(8)

-b a l h a d o r e s r u r a i s d a Paraí-ba.

Aos p a r t i c i p a n t e s da UNIPOG, U n i v e r s i d a d e P o p u l a r de ' Guar a b i Guar a ( 1 9 8 3 1 9 8 7 ) , em e s p e c i a l , ' ' a M a Guar i a ValéGuaria R e z e n d e , c u i a c o n -tribuição deu-me a s p r i m e i r a s noções de métodos e t e o r i a científi-c a s .

A e q u i p e do CENTRAC - C e n t r o de Ação C u l t u r a l - C a m p i n a G r a n d e - P B . , q u e , s e d u z i d a p e l o s e n t i m e n t o de atração e repulsão, d e u f o r t e s contribuições m a t e r i a l e i n t e l e c t u a l ao p r o c e s s o d a p e s q u i s a e s e u s d e s d o b r a m e n t o s no âmbito da organização dos t r a b a l h a d o r e s r u -r a i s da -região.

Ao Pólo de Renovação S i n d i c a l R u r a l da B o r b o r e m a , m o t i v a -ção que me animou d u r a n t e t o d o o d e s e n v o l v i m e n t o d e s t e t r a b a l h o .

A FASE - Federação de Órgãos p a r a a Assistência S o c i a l e E d u c a c i o n a l , em e s p e c i a l , à inserção de A l a g o a s , p e l o p r o f u n d o c a r i -nho e compreensão que me d i s p e n s a r a m d u r a n t e boa p a r t e da elaboração d e s t e t r a b a l h o . Sem i s t o , não t e r i a alcançado êxito.

Ao C u r s o de M e s t r a d o em S o c i o l o g i a da U n i v e r s i d a d e F e d e r a l da Paraíba, p e l o s momentos p r i v i l e g i a d o s de reflexão e a p r o f u n d a m e n -t o i n -t e l e c -t u a i s que -t e m p r o p i c i a d o .

Ao D e p a r t a m e n t o de Ciências S o c i a i s da U n i v e r s i d a d e F e d e -r a l de A l a g o a s , ao q u a l e s t o u v i n c u l a d o at-ravés do Núcleo de Políti-c a s PúbliPolíti-cas e P o d e r L o Políti-c a l , p o r t e r - m e p r o p i Políti-c i a d o o tempo nePolíti-cessário p a r a a finalização d e s t e t r a b a l h o .

(9)

jSiBCTbrr « — Ê * * ^ \ ; y ~ A ~ UFTSTI —-——^ií~2ATn<i * i A CAPES, p e l o a p o i o i n s t i t u c i o n a l e finaneèl^iSr^-^Siej me p o s s i b i l i t o u r e a l i z a r o c u r s o de m e s t r a d o em s o c i o l o g i a e o s t r a b a -l h o s de p e s q u i s a em campo. A E r i s v a l d o V e r d i n o , p e l a digitação e r e t o q u e s f i n a i s d e s -t e -t r a b a l h o .

(10)

KE S U M O :

E s t e e s t u d o a n a l i s a a organização do t r a b a l h o n a s u n i d a d e s de produção dos p r o d u t o r e s de e c o n o m i a f a m i l i a r do município de L a -goa S e c a - Paraíba, a p a r t i r do s e u modo de s e n t i r , p e n s a r e a g i r , e as práticas tecnológicas d e s s e p r o c e s s o , e n t e n d i d a s e n q u a n t o práti-c a s o r i e n t a d o r a s do f a z e r práti-c o t i d i a n o d e s s e s p r o d u t o r e s .

A. análise a q u i e m p r e e n d i d a n o s r e v e l a a importância da o r ganização do t r a b a l h o f a m i l i a r e n q u a n t o e i x o que f u n d a m e n t a o s e n t i -do -do S E R e -do T E R da dinâmica c a m p o n e s a , através -do q u a l a s d e m a i s práticas, i n c l u s i v e a s práticas tecnológicas, s e r e v e s t e m de s i g n i -f i c a d o s que l h e estão o r g a n i c a m e n t e v i n c u l a d a s .

E s s a s práticas tecnológicas, p o r s u a v e z , são i n c o r p o r a -d a s , n e g a -d a s ou r e c r i a -d a s p e l o s a g r i c u l t o r e s e s t u -d a -d o s , a p a r t i r -de critérios a v a l i a t i v o s r e l a c i o n a d o s à preservação d a t e r r a e à r e -produção econômica e s o c i a l da u n i d a d e f a m i l i a r .

T a i s práticas, quando e x p r e s s a d a s a p a r t i r d a lógica c o t i d i a n a do g r u p o e s t u d a d o , têm s e constituído em estratégias de s o b r e vivência que são construídas, não sem ambigüidades e tensões, i n s e -r i d a s n a p-róp-ria i d i o s s i n c -r a s i a do pequeno p -r o d u t o -r .

P o r f i m , e s t e e s t u d o a p o n t a p a r a o s d e s a f i o s a s e r e m e n -f r e n t a d o s p e l o m o v i m e n t o s i n d i c a l no s e n t i d o de a c u m u l a r discussões e i n c o r p o r a r ao conteúdo de s u a s ações estratégicas o caráter polít i c o com que s e r e v e s polít e a quespolítão d a polít e c n o l o g i a no p r o c e s s o de p r o -dução c a m p o n e s a . 0 g r u p o r e f e r e n c i a l de i n f o r m a n t e s d a p e s q u i s a de campo f o r a m o s a g r i c u l t o r e s o r g a n i z a d o s em t o r n o da oposição s i n d i c a l r u -r a l de L a g o a Seca-Pa-raíba, com o s q u a i s -r e a l i z a m o s um p -r o c e s s o de p e s q u i s a p a r t i c i p a n t e que o r i e n t o u t o d a s a s a t i v i d a d e s de i n v e s t i g a -ção d a r e a l i d a d e d o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s c o n s i d e r a d o s e s u a s ações em t o r n o do r e s g a t e do p a p e l político do s e u s i n d i c a t o . U F P B - B I B L I O T E C A |

(11)

SUMARIO ' -J INTRODUÇÃO 0 0 1 CAPITULO I - Camponeses e T e c n o l o g i a 014 CAPITULO I I - A m e t o d o l o g i a d a p e s q u i s a 033 2 . 1 . C o n h e c i m e n t o científico e r e a l i d a d e 035 2.2. A definição do p r o b l e m a d a p e s q u i s a 039. 2.3. Técnicas de aproximação d a r e a l i d a d e 045 2.4. O p r o c e s s o de socialização do c o n h e c i m e n t o 0 5 1 2 . 4 . 1 . As estratégias de aproximação da r e a l i d a d e 054 2.4.2. A mobilização e articulação d o s n o v o s p a r t i -c i p a n t e s 056 2 . 4 . 3 . A comunicação d i f e r e n c i a d a 058 2.5. A b u s c a do c o t i d i a n o e d a experiência: 0 espaço d a p a r t i c u l a r i d a d e 062

CAPITULO I I I 0 município de L a g o a S e c a : A dinâmica da p r o dução agrícola e a caracterização dos p r o d u

-t o r e s l o c a i s G68 3 . 1 . P e q u e n o s p r o d u t o r e s v e r d u r e i r o s 075 3.2. Os p r o d u t o r e s de b a n a n a ( e l a r a n j a ) 078 3.3. P r o d u t o r e s de b a t a t i n h a 080 3.4. Os pequenos p r o d u t o r e s não e s p e c i a l i z a d o s 0 8 1 3.5. A n o v a configuração do espaço r u r a l : f o r m a s de c o n

(12)

-t r o l e e u s o d a -t e r r a 0 8 2

*

CAPITULO I V A relação e n t r e a organização do t r a b a l h o f a

-m i l i a r e a s práticas tecnológicas 0 9 8 4 . 1 . O roçado c a s e i r o e o s roçados i n d i v i d u a i s : a u n i d a -de do d i v e r s o 1 0 2 4 . 1 . 1 . C i c l o de v i d a , divisão do t r a b a l h o e u s o s de - * t e c n o l o g i a 107 4.2. 0 r e g i m e de p a r c e r i a e s u a s relações 119 4.3. 0 t r a b a l h o a s s a l a r i a d o e s e u s s i g n i f i c a d o s p a r a o g r u p o 1 2 5 4.4. 0 mutirão comunitário e a s práticas tecnológicas 132

CAPITULO V Práticas Tecnológicas como estratégias de s o b r e

-vivência: a s ambigüidades de um p r o c e s s o 1 3 8 5 . 1 . A t e c n o l o g i a e a t e r r a : P r e s e r v a r p a r a " v i v e r 1 4 1 5.2. P r o d u t o r e s e' Técnicos: o s núcleos de s a b e d o r i a , o s

silêncios, c o n f r o n t o s , dissimulações e a noção d a

l i b e r d a d e 1 5 3 5.3. A questão da experiência e d a inteligência t r a d u

-z i d a n a prática da diversificação c u l t u r a l 165

CONCLUSÕES 1 7 2

B I B L I O G R A F I A 1 8 1

(13)

V i

i . ' i ' d l Q s ^ g ;

(14)

INTRODUÇÃO:

E s t e é um e s t u d o s o b r e a relação e n t r e a s u n i d a d e s de p r o dução f a m i l i a r e t e c n o l o g i a agrícola. E s p e c i f i c a m e n t e , buscamos i n -v e s t i g a r a s práticas tecnológicas de p e q u e n o s p r o d u t o r e s do municí-p i o de L a g o a Seca-Paraíba, a municí-p a r t i r do s e u modo de s e n t i r , municí-p e n s a r e a g i r no c o t i d i a n o do s e u f a z e r . Abordamos o p r o c e s s o de construção, d a s estratégias e resistências, e n g e n d r a d o i n d i v i d u a l e c o l e t i v a m e n -t e , no âmbi-to d a relação e n -t r e a preservação da -t e r r a e n q u a n -t o m e i o de produção e v i d a , a composição da mãodeobra f a m i l i a r e a a d e q u a -ção de t a l ou q u a l prática tecnológica p a r a a reprodu-ção da u n i d a d e de produção f a m i l i a r .

N o s s a reflexão s o b r e a temática da pequena produção, p a r t e do e n t e n d i m e n t o de que a tradição m a r x i s t a , c u j a discussão a p o n t a p a r a a desintegração do c a m p e s i n a t o d e c o r r e n t e do a p r o f u n d a m e n t o d a s relações c a p i t a l i s t a s é i n s u f i c i e n t e p a r a e x p l i c a r a c o m p l e x i d a d e e e s p e c i f i c i d a d e s d a produção c a m p o n e s a . A n a l i s a m o s a p o u c a consistên-c i a d e s t a p r e m i s s a e n q u a n t o t e o r i a u n i v e r s a l i z a n t e a consistên-c e r consistên-c a do consistên- campe-s i n a t o ( C f . A b r a m o v a y , 1 9 9 0 ) . Bucampe-scamocampe-s a campe-s campe-s i m , a b o r d a r o c a m p e campe-s i n a t o e n q u a n t o relação, c u j o d e s t i n o não é s u a desintegração, mas s u a r e criação c o m b i n a d a a p r o c e s s o s de expropriação, exclusão e d i f e r e n -ciação i n t e r n a d e n t r o d a s relações m a i s a m p l a s na s o c i e d a d e . ( C f . S h a n i n , 1979 e 1 9 8 0 . ) .

Do p o n t o de v i s t a c o n c e i t u a i d a t e c n o l o g i a agrícola, b u s -camos abordá-la e n q u a n t o relação e prática tecnológicas onde estão e m b u t i d o s i n t e r e s s e s d i v e r s o s . D e s s e p o n t o de v i s t a , a relação p r o dução, difusão e incorporação p a s s a p o r um campo de c o n f l i t o s v i v i

(15)

-dos não sem tensões que s e r e f l e t e m n a s várias práticas d o s a t o r e s s o c i a i s n e l a s p r e s e n t e s . E s t a s questões estão c o n t i d a s no p r i m e i r o capítulo d e s t e t r a b a l h o - Camponeses e Tecnologia.

Tomamos p o r b a s e p a r a d e s e n v o l v e r m o s e s t e e s t u d o , o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s do município de L a g o a S e c a P B , s i t u a d o na m i c r o r região de C a m p i n a G r a n d e , p o r s e t r a t a r de um município onde p r e v a -l e c e m p r o c e s s o s p r o d u t i v o s d i f e r e n c i a d o s de exp-loração agríco-la e onde é m a r c a n t e a presença da produção f a m i l i a r . Dados do I B G E têm

i n d i c a d o que 9 4 % do t o t a l d a s p r o p r i e d a d e s r u r a i s do município c o r -r e s p o n d e m a u n i d a d e s com menos de 10 h a , o que s i g n i f i c a uma d a s m a i o r e s concentrações minifundiárias da microrregião.

Dadas e s s a s p e c u l i a r i d a d e s , o município, no c o n j u n t o d a região, r e c e b e u a ação do E s t a d o através dos p r o g r a m a s g o v e r n a m e n t a i s v o l t a d o s p a r a o s e t o r agrícola, como o P o l o n o r d e s t e e , p o s t e r i o r m e n t e , o PAPP. T a i s p r o g r a m a s não só e s t i m u l a r a m a e s p e c i a l i z a -ção da produ-ção l o c a l em p r o d u t o s v o l t a d o s p a r a o m e r c a d o i n t e r n o , como f o r t a l e c e r a m e i n t e n s i f i c a r a m a diferenciação i n t e r n a d o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s da região. E s s a s políticas g o v e r n a m e n t a i s c o n t r i -buíram p a r a t o r n a r o camponês m a i s s u b o r d i n a d o à dinâmica do m e r c a d o da produção e de m s u m o s ( C f . C a v a l c a n t i , 1 9 8 4 : 6 3 ) .

Os i m p a c t o s d e s s e s p r o g r a m a s g o v e r n a m e n t a i s s o b r e a o r g a nização da produção n a região ( e p a r t i c u l a r m e n t e no município de L a -goa S e c a ) , são visíveis, ou s e j a , do p o n t o de v i s t a técnico, h o u v e um s u b s t a n c i a l a u m e n t o da produção e d a p r o d u t i v i d a d e d a s p r i n c i p a i s c u l t u r a s p r i o r i z a d a s p e l o s p r o g r a m a s . E n t r e t a n t o , a s ações d e s s a s

(16)

3 políticas g o v e r n a m e n t a i s i n t e n s i f i c a r a m a concentração de r e n d a e c a p i t a l , a diferenciação i n t e r n a d o s a g r i c u l t o r e s e o f o r t a l e c i m e n t o de uma c l a s s e média r u r a l , f i c a n d o a s s i m , l o n g e de alcançar s e u s

ob-j e t i v o s . *

A falência d e s s e s p r o g r a m a s , p o r s u a v e z , s a l v o a c r i s e e s t r u t u r a l que o s c o n t e x t u a l i z o u , pode s e r atribuída também às r e -sistências e l i m i t e s i m p o s t o s p e l o s próprios beneficiários à s u a lóg i c a hermética e pouco democrática no modo de lóg e r a r e d i f u n d i r t e c -n o l o g i a s v o l t a d a s p a r a a r e a l i d a d e da produção f a m i l i a r . Os p a c o t e s tecnológicos, p a r a d i g m a s de s i s t e m a s p r o d u t i v o s v o l t a d o s p a r a a s p r i n c i p a i s c u l t u r a s da região, l o g o f o r a m m o d i f i c a d o s e n q u a n t o lógi-c a i n s t r u m e n t a l da Assistênlógi-cia Télógi-cnilógi-ca e Extensão R u r a l , em função d a s r e s e r v a s p o s t a s p e l o s próprios p e q u e n o s p r o d u t o r e s beneficiá-r i o s .

E s t a s questões, quando t r a z i d a s ao d e b a t e de n o s s a p r o b l e -mática p r i n c i p a l - reprodução dos p e q u e n o s p r o d u t o r e s e práticas tecnológicas -, n o s deram b a s e s p a r a f o r m u l a r a s hipóteses c e n t r a i s que n o r t e a r e m r%ce . a r . . l h o . P a r t i m o s da questão de que aã assistên-c i a s d o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s r u r a i s a d e t e r m i n a d a s prátiassistên-cas teassistên-cnoló- tecnoló-g i c a s não s e e x p l i c a m p e l a oposição ao que é t r a d i c i o n a l ou moderno. C o n s i d e r a n d o a t e c n o l o g i a como um e l e m e n t o t e c n i c a m e n t e o r g a n i z a t i v o de q u a l q u e r p r o c e s s o p r o d u t i v o , p a r t i m o s do p r e s s u p o s t o que s u a i n -corporação ou s u a negação p e l o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s r u r a i s s e submet e a crisubmetérios v a l o r a submet i v o s p o r e l e s j u l g a d o s a d e q u a d o s ou i n a d e q u a dos que vão d e t e r m i n a r s u a adoção o u rejeição. T a l j u l g a m e n t o e s t a -r i a l i g a d o à manutenção do equilíb-rio da s u a u n i d a d e de p-rodução.

(17)

4 P o r o u t r o l a d o , n o s s o t r a b a l h o p a r t e da hipótese de que os p e q u e n o s p r o d u t o r e s , ao s e a p r o p r i a r e m d a s práticas tecnológicas g e r a d a s em circunstâncias e x t e r i o r e s à s u a u n i d a d e de produção,' b u s -cam redimensioná-las a s e u f a v o r , num p r o c e s s o de e n f r e n t a m e n t o e c o n f l i t o s , com a f i n a l i d a d e de s o l u c i o n a r s e u s p r i n c i p a i s d i l e m a s . I s t o tem s e r e f l e t i d o no i n t e r i o r do m o v i m e n t o s i n d i c a l r u r a l , c u j o , conteúdo de ação a i n d a é i n s u f i c i e n t e p a r a d a r c o n t a de s u a c o m p l e x i d a d e e n q u a n t o prática com s t a t u s de estratégia de l u t a e de r e a -firmação da i d e n t i d a d e c a m p o n e s a .

0 mote i n i c i a l da construção metodológica d e s t e t r a b a l h o b a s e o u - s e em inquietações com o o b j e t i v o de r e s p o n d e r a questões s o b r e que processos estão ocorrendo no município de Lagoa Seca que,

s e não vem alterando a e s t r u t u r a fundiária com base em minifúndios, têm f o r j a d o novos t i p o s de pequenos produtores e novos p e r f i s de a t i v i d a d e s agrícolas'%. N e s t e c o n t e x t o , a p e r g u n t a c e n t r a l f o i quem são os pequenos produtores r u r a i s do município, como e em que circunstâncias e l e s têm ingressado no processo produtivo e que papel têm assumido as práticas tecnológicas nessa organização? A t e n t a t i v a

de r e s p o n d e r a uma caracterização d a s p e q u e n o s p r o d u t o r e s r u r a i s no c o n t e x t o da dinâmica i n t e r n a d a s transformações l o c a i s está c o n t i d a no capítulo I I I - 0 município de Lagoa Seca: a dinâmica da produção

agrícola e a caracterização dos produtores l o c a i s .

Do p o n t o de v i s t a metodológico, n o s s a p e r s p e c t i v a v o l t o u - s e

p a r a c o m p r e e n d e r o caráter d e s s a s transformações a p a r t i r do c o t i d i a n o d e s s e s p e q u e n o s p r o d u t o r e s e de s u a definição no c o n t e x t o d e s s a s mudanças.

(18)

A p e s q u i s a de campo o c o r r e u a p a r t i r da opção que f i z e m o s p e l o g r u p o de oposição^ s i n d i c a l r u r a l l o c a l , e n q u a n t o g r u p o de t r a b a l h o r e f e r e n c i a l . Nos p r i m e i r o s c o n t a t o s de campo, r e a l i z a d o s em j a n e i r o de 1 9 9 0 , n o s d e f r o n t a m o s com a história v i v a d a s l u t a s e resistências dos p e q u e n o s p r o d u t o r e s l o c a i s , p r e s e n t e s no d i s c u r s o e na memória, e n a s práticas c o t i d i a n a s de c a d a um.

As práticas políticas d e s s e s , em r e s p o s t a às transformações n a a g r i c u l t u r a do município, têm d e m o n s t r a d o a força de s u a ação, f a c e a o s l i m i t e s i m p o s t o s a s u a sobrevivência, como p r o d u t o r e s e como c a t e g o r i a s o c i a l política. Na década de 6 0 , a i n d a v i n c u l a d o s a o S i n d i c a t o d o s T r a b a l h a d o r e s R u r a i s de Campina G r a n d e ( f u n d a d o em 1 9 6 3 ) , j u n t a r a m - s e às l u t a s p a r a a fundação do S i n d i c a t o e às estratégias de ação d a s L i g a s Camponesas que s e e s t e n d e r a m de Sapé à Microrregião do A g r e s t e da B o r b o r e m a ( C f . B a r b o s a e N o v a e s ,

1 9 8 8 : 1 4 ) .

Com o g o l p e de 1 9 6 4 , a c o n s e q u e n t e intervenção no s i n d i c a t o em 1967 e a emancipação política do Município de L a g o a S e c a , no mesmo a n o , f o i f u n d a d a a d e l e g a c i a s i n d i c a l , embora a i n d a d e p e n d e n t e do S i n d i c a t o dos T r a b a l h a d o r e s R u r a i s de Campina G r a n d e . A p r i n c i p a l f r e n t e de atuação da d e l e g a c i a e r a em d e f e s a da p o s s e d a t e r r a , mediando c o n f l i t o s ( e n t r e p o s s e i r o s e proprietários) a d v i n d o s p r i n c i p a l m e n t e d o s p r o b l e m a s c a u s a d o s p e l a expansão da área u r b a n a do município. E s s a d e l e g a c i a t e v e m e l h o r atuação que o S i n d i c a t o d o s T r a b a l h a d o r e s R u r a i s de C a m p i n a G r a n d e , na opinião de um e x - d e l e g a d o s i n d i c a l , n o s s o i n f o r m a n t e .

(19)

6 Já em 1 9 7 1 , e s s a d e l e g a c i a s i n d i c a l f o i t r a n s f o r m a d a em s i n d i c a t o , numa p e r s p e c t i v a a s s i s t e n c i a l i s t a , dada a n e c e s s i d a d e de instalação de um ambulatório médico p a r a o s t r a b a l h a d o r e s r u r a i s , sob influência da i g r e j a católica. E n t r e t a n t o , o s m o t i v o s burocráticos permeavam estratégias políticas de organização da c a t e g o r i a . As forças políticas s e p o l a r i z a r a m ; p o r um l a d o , u n i r a m - s e " , o p r e f e i t o e o s i n d i c a t o d o s T r a b a l h a d o r e s R u r a i s de Campina G r a n d e ; p o r o u t r o , a direção da d e l e g a c i a s i n d i c a l , o f r a d e , r e p r e s e n t a n t e da I g r e j a , e a FETAG c o n s e g u i r a m vitória p a r a o s propósitos de f u n d a r o s i n d i c a t o e e m p o s s a r s u a d i r e t o r i a . E s s e

ganho político f a z p a r t e do repertório d a s l u t a s g r a v a d a s na memória que a l i m e n t o u a trajetória do então g r u p o de oposição s i n d i c a l r u r a l do município. P a r a d o x a l m e n t e , e s s a p r i m e i r a d i r e t o r i a p e r m a n e c e u no p o d e r de 1 9 7 1 a 1 9 9 2 . D i z - s e que a trajetória de l u t a s do STR f o i p e r d i d a , p o r q u e t r a n s f o r m o u - s e em i n s t r u m e n t o político de g r u p o s l o c a i s , r e l a c i o n a d o s ao PDS/PDT, t e n d o o s e u p r e s i d e n t e como c a b o e l e i t o r a l e c a n d i d a t o à Câmara M u n i c i p a l ( e m b o r a n u n c a e l e i t o ) . E s s e e r a o c o n t e x t o p o r onde s e d e s l o c a v a m o s a t o r e s s o c i a i s que constituíam o g r u p o de oposição s i n d i c a l de L a g o a S e c a que e n f r e n t a r a m o E s t a d o e s u a s d i f e r e n t e s f a c e t a s ao nível do p o d e r l o c a l , s e j a através d a s campanhas s i n d i c a i s ( p e r d i d a s em 1 9 8 3 , 1 9 8 6 e 1 9 8 9 ) ou i n t e r v i n d o em f o r m a s o r g a n i z a t i v a s e x i s t e n t e s no município, t a i s como associações, C E B ' s , p a s t o r a i s , e t c .

(20)

7 s i n d i c a t o l o c a l e r a um d e s a f i o através do q u a l o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s b u s c a v a m o r e s g a t e s o c i a l e político de s u a s próprias

i d e n t i d a d e s , s o b r e t u d o s e c o n s i d e r a r m o s . o s s e u s p r i n c i p a i s e n f r e n t a m e n t o s como p e q u e n o s p r o d u t o r e s i n s e r i d o s num p r o c e s s o dè mudanças n a b a s e da organização da produção agrícola, s o b o i m p a c t o dos p r o g r a m a s g o v e r n a m e n t a i s , quando g r a n d e p a r t e d o s mesmos são excluídos e ameaçados em s u a existência ( C f . C a v a l c a n t i , 1986 'e C a v a l c a n t i e F r e i t a s , 1 9 9 1 ) . Ao a s s u m i r o STR de L a g o a S e c a , o a n t i g o g r u p o da oposição s i n d i c a l , a a t u a l direção, tem b u s c a d o r e s g a t a r o p a p e l do s i n d i c a t o e n q u a n t o um i n s t r u m e n t o de l u t a e organização d o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s n a p e r s p e c t i v a de construção de s u a c i d a d a n i a . T a i s ações p a s s a m , no p l a n o o r g a n i z a c i o n a l , p e l a b u s c a de uma gestão democrática do s i n d i c a t o . No p l a n o do conteúdo de s u a intervenção no município, temos o b s e r v a d o o esforço do s i n d i c a t o de i n c o r p o r a r a s várias problemáticas e i n t e r e s s e s p l u r i d i m e n s i o n a i s d o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s l o c a i s , d o s a p o s e n t a d o s , d a s m u l h e r e s t r a b a l h a d o r a s r u r a i s e d o s j o v e n s . N e s t a p e r s p e c t i v a , i n s e r e - s e a preocupação a t u a l do STR em c r i a r m e c a n i s m o s que possam r e s p o n d e r a o s d e s a f i o s na organização da produção agrícola l o c a l , n o t a d a m e n t e a q u e l a s i n i c i a t i v a s que v i s l u m b r e m a comercialização da produção e ações d i r e t a m e n t e l i g a d a s à adequação de práticas tecnológicas à lógica dos t r a b a l h a d o r e s r u r a i s .

0 r e s g a t e e f e t i v o d a direção do s i n d i c a t o l o c a l d e u - s e em s e t e m b r o de 1 9 9 2 , f r u t o de um p r o c e s s o de capacitação n a ação do g r u p o , f o m e n t a d a p e l a n o s s a p e s q u i s a de campo ( j a n e i r o de 1 9 9 0 a j u

(21)

-8 nho de 1 9 9 1 ) . Na v e r d a d e , fomos c o n v i d a d o s p o r a l g u n s membros do g r u p o p a r a c o n t r i b u i r m o s numa avaliação d a trajetória política do g r u p o e s u a s s u c e s s i v a s d e r r o t a s . E s s e p r o c e s s o d e s e m b o c o u n a m o n t a gem de um e s t u d o sistemático s o b r e a r e a l i d a d e do município. 0 i n s -t r u m e n -t o p r i n c i p a l de cons-trução/elaboração/socialização do s a b e r que a l i m e n t o u e s s e e s t u d o c o n s t i t u i u - s e no próprio d e s e n v o l v i m e n t o da p e s q u i s a .

M e t o d o l o g i c a m e n t e , a p e s q u i s a f o i c o n c e b i d a a p a r t i r d a p r e m i s s a de que a r e a l i d a d e f o s s e c o n h e c i d a de t a l modo que c o n t r i -buísse p a r a a s u a transformação, s o b o s i n t e r e s s e s de d e t e r m i n a d a s c l a s s e s .

N e s t e s e n t i d o , a discussão metodológica d e s t e t r a b a l h o b u s c a e n f a t i z a r não o c o n c e i t o do t i p o de p e s q u i s a r e a l i z a d a ( s e j a pesquisa-ação ou p a r t i c i p a n t e ) , mas as condições em que f o i f e i t a , a

explicitação dessas condições e os seus r e s u l t a d o s o b t i d o s . P o r o u

-t r o l a d o , r e a f i r m a m o s q u e , f u n d a m e n -t a l m e n -t e , op-tamos p o r um c a m i n h o que d e l i n e o u uma interlocução, com b a s e numa l i n h a de p e n s a m e n t o d e -f i n i d a , i n s e r i d a n o ^ c o n t e x t o d o s i n t e r e s s e s políticos d o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s e n q u a n t o s u j e i t o s c o l e t i v o s na s o c i e d a d e . De a c o r d o com t a i s questões, e s t e t r a b a l h o t i n h a uma t a r e f a d u p l a : de um l a d o , r e a l i z a r n o s s a p e s q u i s a e do o u t r o , c o n t r i b u i r p a r a o r e d i m e n s i o n a -mento e a l a r g a m e n t o do conteúdo d a ação do g r u p o p r i o r i z a d o .

Como d e m o n s t r a d o no capítulo I I - A metodologia da

pesqui-sa-, a apreensão que o g r u p o t i n h a d a r e a l i d a d e l o c a l a p o n t a v a p a r a

(22)

9 p r o c e s s o da p e s q u i s a a p r o f u n d o u c o l e t i v a m e n t e a p r e m i s s a de q u e o que e s t a m o s p e n s a n d o s o b r e a r e a l i d a d e pode não s e r e x a t a m e n t e como a r e a l i d a d e o é; t a l apreensão c o n t r i b u i u p a r a o a l a r g a m e n t o dá v i -são dos p a r t i c i p a n t e s s o b r e a r e a l i d a d e l o c a l , no s e n t i d o de q u e , n e l a , há m a i s relações do que a p a r e n t e m e n t e podemos p e r c e b e r e n q u a n -t o a -t o r s o c i a l , s e j a como pequeno p r o d u -t o r , e n q u a n -t o p a r -t i c i p a n -t e de s i n d i c a t o , a s s e s s o r o u e n q u a n t o p e s q u i s a d o r . N e s t a p e r s p e c t i v a , f o r a m construídos o s i n s t r u m e n t o s q u e contribuíram m e l h o r p a r a a p r o f u n d a r m o s o c o n h e c i m e n t o da r e a l i d a d e l o c a l . N o s s a opção, no e n t a n t o , f o i o de c o l o c a r m o s o s s u j e i t o s d a p e s q u i s a p a r a p a r t i c i p a r e m e s e r e m a t o r e s do próprio a t o da i n v e s t i gação e da produção do c o n h e c i m e n t o r e s u l t a n t e , c o n s i d e r a n d o o s l i -m i t e s r e q u e r i d o s à prática científica. A análise da lógica e do c o t i d i a n o d a s u n i d a d e s de p r o d u -ção está c o n t i d a no capítulo I V , onde a n a l i s a m o s o t r a b a l h o f a m i l i a r n a s u n i d a d e s de produção e s t u d a d a s e n q u a n t o e i x o de compreensão q u e

f u n d a m e n t a a s práticas do ter e do s e r d a dinâmica camponesa através das q u a i s a s práticas tecnológicas são o r i e n t a d a s e s e r e v e s t e m de s i g n i f i c a d o s . N e s s a p e r s p e c t i v a , a s práticas de organização do t r a -b a l h o em c a d a u n i d a d e f a m i l i a r f o r a m a -b o r d a d a s , f u n d a m e n t a l m e n t e , sob o p o n t o de v i s t a da lógica i n t e r n a de reprodução de s u a s v i d a s e práticas m a t e r i a i s e simbólicas.

L e v a n d o em consideração e s s a lógica, o v o l u m e da a t i v i d a d e agrícola e o dispêndio de força de t r a b a l h o em c a d a u n i d a d e d e p e n d e do g r a u de satisfação de s u a s n e c e s s i d a d e s e n q u a n t o p r o d u t o r e s e

(23)

10 c o n s u m i d o r e s ( C f . C h a y a n o v , 1 9 8 5 ) , embora i n s e r i d a s numa relação de c o n f l i t o s e tensões d a d a s p e l a s u a vinculação d i r e t a o u i n d i r e t a com a s o c i e d a d e e s u a s relações m a i s a m p l a s . A p e s a r d i s t o , como r e f e r i d o p o r W o l f ( 1 9 7 6 ) , e s s a lógica i n t e r n a tem t e n t a d o e q u i l i b r a r a s e s

-tratégias v o l t a d a s p a r a s u a manutenção e autoreprodução com a dinâ-m i c a e x t e r i o r a que estão s u b dinâ-m e t i d a s . D e s s e p o n t o de v i s t a , p a r t i dinâ-m o s p a r a situá-las a p a r t i r d a s várias estratégias de sobrevivência en-' g e n d r a d a s p e l o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s no município como modo de a f i r mar s u a i d i o s s i n c r a s i a . N e s t e s e n t i d o , a relação e n t r e roçado c a s e i -r o e -roçados i n d i v i d u a i s a p a -r e c e e n q u a n t o modo p e c u l i a -r d a e c o n o m i a f a m i l i a r de a t e n d e r n e c e s s i d a d e s comuns e d i f e r e n c i a d a s do g r u p o doméstico. Se de um l a d o , e s t a prática s i g n i f i c a a g a r a n t i a d a r e p r o dução econômica e s o c i a l d a u n i d a d e de produção, p o r o u t r o , c o n f i g u -r a uma p-rática de iniciação e a u t o n o m i a dos f i l h o s ao t -r a b a l h o e à construção do s e u f u t u r o e n q u a n t o p r o d u t o r autônomo.

0 t r a b a l h o em p a r c e r i a , prática m u i t o comum no c o n t e x t o a n a l i s a d o , r e a f i r m a e n t r e e s s e s p e q u e n o s p r o d u t o r e s o modo c o t i d i a n o do t r a b a l h o camponês, à m e d i d a que s e r e f l e t e como uma negação ou resistência ao a s s a l a r i a m e n t o . P e l o t r a b a l h o em p a r c e r i a , também é r e a f i r m a d a a relação d i r e t a do camponês com a t e r r a e com o p r o d u t o do s e u t r a b a l h o . Dada a s condições em que é e f e t i v a d a e s s a relação, a análise dos d a d o s tem n o s r e v e l a d o um dos a s p e c t o s da d i f e r e n c i a -ção econômica e c u l t u r a l d o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s r u r a i s l o c a i s . T a i questão é i n d i c a d a a p a r t i r d a s d i f e r e n t e s situações v e r i f i c a d a s n a s condições de aplicação tecnológica do g r u p o , como a utilização de i n s u m o s , assistência técnica e r e c u r s o s f i n a n c e i r o s .

(24)

. 1 1 Já o t r a b a l h o a s s a l a r i a d o , embora p r e s e n t e no g r u p o em me-n o r e s c a l a , tem s i d o c o l o c a d o p e l o s p e q u e me-n o s p r o d u t o r e s como último

r e c u r s o p a r a a t e n d e r a s n e c e s s i d a d e s do g r u p o doméstico, já q u e é

v i s t o como sinônimo de morte, sajeição e perda total da identidade. As estratégias de resistência, p o r s u a v e z , c o n f o r m a d a s num c o n t e x t o

i n t e r n o de diferenciação d e s s e c a m p e s i n a t o , têm s e r e v e l a d o a p a r t i r de o u t r a s práticas, a e x e m p l o do sistema t r o c a - t r o c a ou mutirão

comunitário, através d a s q u a i s os i n t e r e s s e s comuns de a t e n d e r a o s r e

-q u e r i m e n t o s técnicos d a s c u l t u r a s de c a d a u n i d a d e de produção são v i a b i l i z a d o s . E s s a prática tem r e v e l a d o um modo d o s p e q u e n o s p r o d u

-t o r e s , mesmo d i f e r e n c i a d o s , -t o r n a r e m - s e i g u a i s n a s relações s o c i a i s que o s e n v o l v e m .

As práticas tecnológicas, quando p o s t a s n a relação c o t i -d i a n a -d e s s e s p e q u e n o s p r o -d u t o r e s , são a j u i z a -d a s p o r e s t e s a p a r t i r de critérios a v a l i a t i v o s r e l a c i o n a d o s à preservação d a t e r r a e à adequação d e s t a s no f o r t a l e c i m e n t o do equilíbrio dos f a t o r e s de p r o -dução i n t e r n o s à u n i d a d e . T a i s práticas, p o r s u a v e z , serão j u l g a d a s como v a n t a j o s a s ou d e s v a n t a j o s a s p e l o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s , ao s e r e m c o n f r o n t a d a s com o s e u modo p e c u l i a r do f a z e r c o t i d i a n o , e s o b r e t u -do, d o s c u s t o s e r i s c o s que e s s a s venham a o f e r e c e r à g a r a n t i a da reprodução da u n i d a d e f a m i l i a r .

E l e m e n t o s como a experiência são r e v e l a d o r e s de estraté-g i a s de e n f r e n t a m e n t o s e n t r e p e q u e n o s p r o d u t o r e s e m e d i a d o r e s d a s práticas tecnológicas, t a i s como o s técnicos v i n c u l a d o s ao s i s t e m a ,

g o v e r n a m e n t a l . N e s s a p e r s p e c t i v a , e n f r e n t a m e n t o s d i r e t o s , silêncios e dissimulações f a z e m p a r t e do modo d e s s e s p e q u e n o s p r o d u t o r e s de s e

(25)

I CAMPUS vir - MATOS - un j • 12 r e l a c i o n a r e m com e s s a s mediações e x t e r n a s . « P o r o u t r o l a d o , a s resistências construídas e e x p r e s s a s no modo específico de o r g a n i z a r o s ' • p r o c e s s o s p r o d u t i v o s p e l o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s têm c o n f i g u r a d o a s práticas de diversificação c u l t u r a l como uma d a s práticas econômicas e de afirmação c u l t u r a l , r e v e l a d o r a s d a s tensões e estratégias de resistência e n g e n d r a d a s no âmbito d a s práticas tecnológicas.

Ao n o s debruçarmos s o b r e e s s a s práticas, e n q u a n t o e s t r a -tégias de resistência c o n t i d a s no q u i n t o e último capítulo d e s t e t r a b a l h o - As práticas tecnológicas como estratégias de

sobrevivênc i a : as ambigüidades de um prosobrevivêncesso, p r o sobrevivênc u r a m o s a n a l i s a r o s s i g n i

-f i c a d o s atribuídos p e l o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s às práticas tecnológi-c a s no tecnológi-c o t i d i a n o de s e u p r o tecnológi-c e s s o p r o d u t i v o , s o b r e t u d o a p a r t i r do s e u modo de s e n t i r , p e n s a r e a g i r . E s s a s práticas não estão d i s s o c i a d a s d a s estratégias de organização do t r a b a l h o i n t e r n o d a u n i d a d e , p e l o contrário, l h e s estão o r g a n i c a m e n t e v i n c u l a d a s . E l a s o b j e -t i v a m g a r a n -t i r a preservação da -t e r r a e d o s s e u s r e q u e r i m e n -t o s p a r a m a n t e r o equilíbrio e n t r e o t r a b a l h o f a m i l i a r e o a t e n d i m e n t o d a s n e c e s s i d a d e s do g r u p o doméstico. T a i s estratégias estão i n s c r i t a s n a i d i o s s i n c r a s i a c a m p o n e s a e são r e v e l a d o r a s da lógica de manutenção da i d e n t i d a d e de s e u s a g e n t e s s o c i a i s .

(26)
(27)

C A P I T U L O I — CAMPONÊS E E>

E T E C N O L O G I A

E s t e capítulo a b o r d a o d e b a t e a t u a l , no âmbito d a s ciên-c i a s s o ciên-c i a i s , s o b r e o ciên-camponês. P a r t i m o s de uma visão ciên-críticiên-ca d a concepção l e n i n i s t a s o b r e o d e s e n v o l v i m e n t o d a s relações c a p i t a l i s -# t a s no campo e da p e r s p e c t i v a n e l a e m b u t i d a da inevitável d e s i n t e gração do c a m p e s i n a t o . T r a n s l a d a d a p a r a a c o n j u n t u r a a t u a l e b u s c a n -do s i t u a r a s c o m p l e x a s relações que p e r m e i a m a r e a l i d a d e da p e q u e n a produção1 no B r a s i l e no mundo, podemos c o n s i d e r a r o s p r e s s u p o s t o s m a r x i s t a - l e n i n i s t a s i n s u f i c i e n t e s p a r a a p r o f u n d a r o a t u a l d e b a t e . T a i s questões estão n a p r i m e i r a p a r t e d e s t e capítulo - Camponeses e

Tecnologia-. B u s c a m o s a s s i m , s i t u a r o c a m p e s i n a t o numa p e r s p e c t i v a

r e l a c i o n a l em q u e , à m e d i d a que s e r e l a c i o n a com o c a p i t a l , c r i a e s -tratégias p e r m a n e n t e s de r e a f i r m a r s e u modo de v i v e r .

Na s e g u n d a p a r t e d e s t e capítulo, abordamos a problemática c o n c e i t u a i da t e c n o l o g i a agropecuária moderna e s u a relação com o s p r o c e s s o s p r o d u t i v o s d o s p e q u e n o s p r o d u t o r e s . T a l questão é e n f o c a d a a p a r t i r do e n t e n d i m e n t o de que a t e c n o l o g i a é um f a t o r p r i m o r d i a l

p a r a q u a l q u e r p r o c e s s o p r o d u t i v o . No e n t a n t o , o q u e está em j o g o é o modo de como produzíla, difundíla e aplicála no c o n -t e x -t o s u b s -t a n -t i v o de s u a s relações.

1 C o n s i d i r i K O E p e q u e n o s p r o d u t o r e • r u r i i í < o u c i i p o n ê t , o » p e q u e n o s p r o p r i e t á r i o s , m e e i r o s e r a n d e i r o s q u e , e i t o r i tiíilttiil-ie e v e n t u a l m e n t e , t o a n a « i a o d e o b r a f a m i l i a r a p r i n c i p a l f o r ç a d e t r a b a -l h o n o s e u p r o c e s s o p r o d u t i v o .

(28)

15 I

L e n i n , ao a n a l i s a r a tendência do c a m p e s i n a t o no d e s e n v o l -v i m e n t o do c a p i t a l i s m o no campo, a s s u m e uma p e r s p e c t i -v a de análise na q u a l a tendência do camponês e r a de s e d i s s o l v e r , através do p r o -c e s s o p o r e l e a n a l i s a d o de "diferen-ciação s o -c i a l do -c a m p e s i n a t o " E s s e p r o c e s s o de diferenciação c a m p o n e s a dar-se-ía p e l a

"decomposi-ção dos pequenos produtores em patrões e operários agrícolas... Ba-se sobre a qual Ba-se forma mercado i n t e r n o da produção c a p i t a l i s t a " .

( L E N I N , 1 9 8 2 : 3 5 ) .

Ao i n v e s t i g a r a s características d e s s a transformação no campo, a p a r t i r dos d a d o s censitários disponíveis da a g r i c u l t u r a r u s s a , c o n c e b e e s s a diferenciação e n t r e o s três g r a n d e s g r u p o s de c a m p o n e s e s p o r e l e c a r a c t e r i z a d o como c a m p o n e s e s r i c o s , médios e po-b r e s .

E s s a desintegração e x p r e s s a p e l a diferenciação i n t e r n a d o s c a m p o n e s e s , i m p l i c a " a destruição r a d i c a l do antigo padrão2 ,

provo-cando o desenvolvimento de grupos extremos e polarizadores no cam-po" ( L E N I N , op. c i t . ) , ou s e j a , o c a m p e s i n a t o p o b r e , c u j a

tendênc i a é a proletarização, e o a b u r g u e s a m e n t o dos tendênc a m p o n e s e s r i tendênc o s , n u -ma e c o n o m i a b a s i c a m e n t e de caráter m e r c a n t i l . L e n i n e n f a t i z a que é o caráter m e r c a n t i l da a g r i c u l t u r a que v a i d i f e r e n c i a r o c a m p e s i n a t o t o r n a n d o o proletário ou c a p i t a -2 A q u i o t u t o r s a r e f e r e a o s l o t e s c o m u n i t á r i o s c o n c e d i d o s a o s c a m p o n e s e s r u s s o s , a p o s a R e f o r m a d e 1 8 6 1 .

(29)

l i s t a , o u s e j a , o camponês p o b r e , i m p o s s i b i l i t a d o de a u t o p r o d u z i r -s e e n q u a n t o t a l , b u -s c a v e n d e r -s u a força de t r a b a l h o no m e r c a d o , -s e a s s a l a r i a n d o , t o r n a n d o - s e proletário; p o r o u t r o l a d o , o " c a m p e s i n a t o r i c o " , t e c n i c a m e n t e s u p e r i o r , p r a t i c a n d o uma a g r i c u l t u r a m e r c a n t i l e c a p i t a l i s t a , p o r q u e a área semeada p o r e l e e x c e d e às n o r m a s do t r a -b a l h o de família, o -b r i g a - o a r e c o r r e r à mão-de-o-bra a s s a l a r i a d a " , e a c r e s c e n t a :

"Observamos aqui o processo de formação do merca-do i n t e r n o tal como e l e aparece na t e o r i a de pro-dução c a p i t a l i s t a : o "mercado i n t e r n o " c r e s c e , de um lado, graças a transformação em mercadoria do produto da a g r i c u l t u r a mercantil, empresarial, e

de outro, graças à transformação em mercadoria da força de trabalho vendida pelo campesinato po-bre". ( L e n i n , 1982:36). Em l i n h a s g e r a i s , e s s a concepção, em s e u s princípios bá-s i c o bá-s , dá c o n t a da inevitável debá-sintegração do c a m p e bá-s i n a t o , p e l o s e u d e s a p a r e c i m e n t o ; t r a n s f o r m a n d o - s e em proletários ou b u r g u e s e s r u r a i s , em c l a s s e s antagônicas no m e i o r u r a l , em função do d e s e n v o l -v i m e n t o do c a p i t a l i s m o no campo.

P a r a L e n i n , o camponês médio está numa situação i n t e r m e -diária, i s t o é, s u a r e n d a não c o b r e a s d e s p e s a s a n u a i s , p o r t a n t o , tem uma situação i n d e f i n i d a , " p o r i s s o , a s u a exploração é

(30)

1 CAMHJS v n . PATOS . DE j 17 r e c o r r e r à associação com o u t r o s "3. E s s e caráter transitório, d e f e n d e L e n i n , v a i p r o p i c i a r a polarização, dada a s u a p o s s i b i l i d a d e de t r a n s f o r m a r s e em p r o l e t a -r i a d o ou b u -r g u e s i a . N o t a - s e , n e s t a p e -r s p e c t i v a , o inevitável d e s t i n o do camponês d i a n t e do e s t a b e l e c i m e n t o d a s relações c a p i t a l i s t a s no campo.

E s s a concepção teórica é válida e u n i v e r s a l ? E v i d e n t e m e n t e que não. H i s t o r i c a m e n t e está c o m p r o v a d o que o s c a m p o n e s e s , n a s d i f e -r e n t e s p a -r t e s do mundo, não s e d i s s o l v e -r a m f -r e n t e ao d e s e n v o l v i m e n t o do c a p i t a l i s m o no c a m p o4.

S o b r a a " associação com outros" e e r e l a ç ã o à c o n d i ç i o d o t r a b a l h a d o r • • d i o , o a u t o r a l u d e a o " p r i n c i p i o d e c o o p e r a ç ã o " , s i g n i f i c a n d o o t r a b a l h o c o o p e r a d o e n e 6 t a b e 1 e c i • e n t o • d e c a d e n t e s e p r e s s i o n a d o p e l a b u r g u e s i a . E s s a e p o r e l e c o n s i d e r a d a c o i t o u i a " c o o p e r a -ç ã o e n t r e o p r o l e t a r i a d o e a b u r g u e s i a r u r a l " . ( C f . L e n i n ,

1 9 6 2 : 4 2 a 4 4 ) .

paradigma dos clásBicoa

há lugar sequer para que se coloque a q u e B t & o , hoje decisiva, das raz0es pelas quais a agricultura familiar tem sido, nestas nações, a principal forma social do progresso técnico no campo" l 1 8 9 0 : I V )

(31)

, 18 O que o c o r r e , de f a t o , não é a dissolução, mas a recriação do c a m p e s i n a t o em cada»situação histórica d a d a . N e s t a p e r s p e c t i v a , SHANIN, a o a n a l i s a r a " l i n h a m e s t r a " da tradição m a r x i s t a s o b r e o c a m p e s i n a t o e ao s e r e f e r i r à diferenciação s o c i a l c a m p o n e s a , c o n s i -d e r a que

"A diferenciação exerceu um papel importante na transformação c a p i t a l i s t a da a g r i c u l t u r a camponesa e representou, muitas vezes, sua mudança e s t r u t u -r a l mais s i g n i f i c a t i v a . . . Mas sua inte-rp-retação como um padrão de desenvolvimento e x c l u s i v o e in-contestavelmente necessário não o é". (SHANIN, 1980:56).

Em s u a p e r s p e c t i v a de análise, a u t o r a f i r m a que e s s e mo-d e l o teórico é " r e a l " , mas não é v e r mo-d a mo-d e i r a m e n t e a b s o l u t o , p o i s o que s e v e r não é a diferenciação d a m a i o r i a camponesa em p o b r e s e r i c o s , no«sentido clássico da concepção, mas um p r o c e s s o de " p a u p e rização" e "marginalização" do c a m p e s i n a t o , até p o r q u e , n e s s a s s i tuações d a d a s , e l e nem d e s a p a r e c e nem s e t o r n a proletário, mas p e r -s i -s t e , -s e r e c r i a e -s e -s u b o r d i n a ao -s i -s t e m a c a p i t a l i -s t a -sem que e -s t e t e n h a c a p a c i d a d e mágica e a b s o l u t a de t r a n s f o r m a r t u d o e t o d o s à s u a imagem e semelhança. N e s t e s e n t i d o ,

"sob c e r t a s condições, os camponeses não s e d i s solvem, nem s e diferenciam em empresários c a p i t a -l i s t a s e traba-lhadores a s s a -l a r i a d o s , e tampouco são simplesmente pauperizados. E l e s persistem, ao

(32)

19

mesmo tempo que se transformam e s e vinculam gra-dualmente à economia c a p i t a l i s t a circundante. . . Os camponeses continuam a e x i s t i r , correspondendo a unidades agrícolas d i f e r e n t e s , em e s t r u t u r a e

ta-manho, do clássico estabelecimento r u r a l f a m i l i a r camponês". (SHANIN, I d . I b . P á g . : 5 8 ) .

A p a r t i r d e s s a p e r s p e c t i v a e m p r e e n d i d a p o r SHANIN, podemos d e l a i n f e r i r o s e n t i d o m a i s amplo p a r a a m e l h o r definição de camponês: o camponês v i v e um c o n s t a n t e p r o c e s s o de s e f a z e r e , a c a d a s i -tuação, r e l a c i o n a - s e de f o r m a e s p e c i f i c a com a s o c i e d a d e g l o b a l d a q u a l f a z p a r t e .

I s t o n o s p o s s i b i l i t a , de taída, a n a l i s a r o c a m p e s i n a t o c o -mo um p r o c e s s o de reconstrução, num| r e f a z e r - s e contínuo, não f a d a d o , a p r i o r i s t i c a m e n t e , à extinção.

0 c a m p e s i n a t o não só está no g e r a l , mas, ao s e r e c r i a r , c r i a resistência, i n s e r i d a s num j o g o de p r o v a que " a história camponesa s e

tárias m a i s a m p l a s , não como s i m p l e s r e f l e x o , mas como m e d i d a s i m p o r t a n t e s de a u t o n o m i a " . ( S h a n i n , c o n s i d e r a r , n e s s a p e r s p e c t i v a r e i v i n c u l a d o à e c o n o m i a c a p i t a l i s t a estratégias de sobrevivência e forças s o c i a i s . P a r a SHANIN, i s t o r e l a c i o n a com a s histórias s o c i e -a d. I b . P á g : 6 9 ) . Podemos a s s i m , c i o n a l , a l g u m a s características g e r a i s d a s u n i d a d e s de e c o n o m i a c a m p o n e s a s , e n q u a n t o u n i d a d e s de produção/consumo. P r i m e i r a m e n t e , c o l o c a m o s a relação e n t r e camponês e s u a

(33)

I'

3 ' .." - 1 U 1 t C A - U r P T , ! L ^ / - U S ^ I _ - ; : nT O S - PB f

20 u n i d a d e de produção.

Segundo C h a y a n o v , o f o c o da e c o n o m i a c a m p o n e s a c e n t r a - s e em s u a força-de-trabalho f a m i l i a r . P a r a e l e , o caráter d a família ' é um d o s f a t o r e s p r i n c i p a i s n a organização da u n i d a d e econômica campon e s a " . ( C h a y a campon o v , 1 9 8 5 : 4 7 ) . N e s t e s e campon t i d o , é que a composição d a f a -mília e s e u tamanho v a i t e r um p a p e l d e t e r m i n a n t e n a reprodução ' d a u n i d a d e econômica c a m p o n e s a .

Em conseqüência d i s t o , o d e t e r m i n a n t e d a s a t i v i d a d e s e c o -nômicas c a m p o n e s a s não v a i s e r o " l u c r o " . A f i n a l i d a d e com que a u n i d a d e camponesa p r o d u z não v a i s e r o l u c r o c a p i t a l i s t a , mas a s a -tisfação d a s n e c e s s i d a d e s de s e u s c o n s u m i d o r e s .

S h a n i n , tomando como b a s e a s contribuições teóricas de C h a y a n o v , e a n a l i s a n d o a s e s p e c i f i c i d a d e s da e c o n o m i a c a m p o n e s a , a f i r m a s e r o ponto de p a r t i d a de s u a análise "o equilíbrio e n t r e a n e c e s s i d a d e de consumo e a c a p a c i d a d e de produção na a g r i c u l t u r a f a -m i l i a r " , ou s e j a , " a fa-mília c a -m p o n e s a t r a b a l h a o necessário p a r a

s u p r i r s u a s n e c e s s i d a d e s " . ( S h a n i n , 1 9 8 7 ) .

I s t o d e m o n s t r a , a n o s s o v e r , a b u s c a estratégica d a u n i d a -de c a m p o n e s a -de m a n t e r uma relação -de "equilíbrio e n t r e a força -de t r a b a l h o f a m i l i a r e a satisfação d a s n e c e s s i d a d e s da u n i d a d e domést i c a " . N e s domést e s e n domést i d o , "o o b j e domést i v o da economia camponesa é a s o b r e v i

(34)

-2 1 vencia"*. ( S h a n i n , I d . I b . ) . N e s t e mesmo raciocínio c o n c e i t u a i , S h a n i n ( 1 9 7 9 : 0 5 ) , a o d e f i n i r um t i p o g e r a l d e l i m i t a d o r do camponês, a n a l i s a - o s o b q u a t r o p o n t o s , d o s q u a i s , d o i s estarão l i g a d o s d i r e t a m e n t e a s u a relação com a u n i d a d e de produção:

1 . "Roçado f a m i l i a r como u n i d a d e básica: a família s u s t e n -t a o roçado, o roçado s u s -t e n -t a a família";

2. C u l t i v o de t e r r a como p r i n c i p a l m e i o de sobrevivência, p o u c a especialização da t a r e f a e b a s e c u l t u r a l de s u b -sistência;

3. Do p o n t o de v i s t a c u l t u r a l , a mesma análise d e f i n e o camponês com uma c u l t u r a e a t i t u d e s com características

específicas, ou s e j a , presença da idealização do passa-do para j u s t i f i c a r o presente e um mopassa-do de vida com ba-s e em pequenaba-s comunidadeba-s. Em ba-sínteba-se, o meba-smo a u t o r

a s s i n a l a que o manejo do estabelecimento f a m i l i a r como a definição m a i s e s t r i t a de camponês ( I d . I b . Pág. 5 2 ) . 5 S o b r e v i v ê n c i a d a u n i d a d e c a m p o n ê s s u a r e p r o d u ç ã o e m r e l a ç ã o * r e p o B s e j a e m r e l a ç ã o a o a t e n d i m e n t o d a t e n ç ã o d a u n i d a d e e c o n ô m i c a e f11 r a l e s o c i a l , a t r a v é s d a f o r m a ç ã o W o l f , 1 9 7 6 ) . a a q u i r e s g a t a d a n o s e n t i d o d e i ç & o d a s e n e r g i a s d e s p r • • n d i d a s , s n e c e s s i d a d e s m a t e r i a i s d e m a n u i l i a r , s e j a n o s e u a s p e c t o c u l t u -d o " f u n -d o -d e m a n u t e n ç ã o " . ( C f .

(35)

V a l e s a l i e n t a r , no e n t a n t o , que e s t a t i p o l o g i a g e r a l não s e a d e q u a a p r i o r i s t i c a a e n t e a t o d a s a s r e a l i d a d e s c a m p o n e s a s . I m p o r t a p o i s , contemporizála a c a d a r e a l i d a d e específica, o que s i g n i f i -c a r e -c o n h e -c e r que e s s a -con-ceituação g e r a l a j u d a - n o s n a -compreensão g e r a l da r e a l i d a d e c a m p o n e s a , embora s e j a necessária s u a adaptação à c o m p l e x i d a d e de r e a l i d a d e e s t u d a d a .

A p a r t i r d e s s a p e r s p e c t i v a r e l a c i o n a l , compreendemos o camponês em s u a relação d i r e t a com a t e r r a m e d i a d a p e l a própria f o r ça de t r a b a l h o f a m i l i a r , c u j a exploração econômica tem como f i n a l i -dade o a u t o - s u s t e n t o da família e da u n i d a d e de produção. D e s t a r t e , a reposição d a s e n e r g i a s g a s t a s no p r o c e s s o de produção não é e x -p r e s s a d o -p e l o salário, mas -p e l a satisfação d a s n e c e s s i d a d e s da famí-l i a . Como d e m o n s t r a C h a y a n o v ( o p . c i t . ) , a famífamí-lia i n t e n s i f i c a ou d i m i n u i o dispêndio da força de t r a b a l h o doméstica em função da ma-nutenção do p o n t o de equilíbrio e n t r e o a p r o v e i t a m e n t o d a força de

t r a b a l h o e o nível de a t e n d i m e n t o d a s n e c e s s i d a d e s f a m i l i a r e s .

N i s t o está o l i m i t e da exploração da u n i d a d e econômica c a m p o n e s a ; a família só t r a b a l h a a t e alcançar e s s e nível, i s t o é, o

"alcance de uma cota de trabalho que permita u t i l i z a r os r e c u r s o s da força de trabalho f a m i l i a r " . ( A R C H E T T I , 1 9 8 7 : 1 6 ) .

C h a y a n o v , ao a b o r d a r o s princípios básicos da organização da u n i d a d e c a m p o n e s a ( C h a y a n o v , op. c i t . ) , a n a l i s a - o s como um

"sis-tema comum a qualquer processo produtivo" que c o n s i s t e na combinação q u a l i t a t i v a e q u a n t i t a t i v a dos f a t o r e s terra, c a p i t a l e

(36)

-r e s " . P o -r o u t -r o l a d o , a o a n a l i s a -r a e s p e c i f i c i d a d e da e c o n o m i a

cam-p o n e s a , a f i r m a que " o s * e l e m e n t o s cam-produtivos s e fixam de acordo com

sua d i s p o n i b i l i d a d e , para a j u s t a r - s e ao ótimo grau de auto-explora-ção da força de trabalho f a m i l i a r " . ( C h a y a n o v , i d . i b . Pág. 9 8 ) .

P o r o u t r o l a d o , CHAYANOV a n a l i s a que o a p r o v e i t a m e n t o da forçadetrabalho não só está l i g a d o às pressões da n e c e s s i d a d e , c o mo também às condições técnicas com que o t r a b a l h a d o r e n t r a no p r o -c e s s o de produção.

"Uma análise mais detalhada estabelece de modo i n -dubitável que a parte das necessidades de consumo, também as condições em que se r e a l i z a o trabalho determinam em grau considerável a produção do t r a -balhador". ( C h a y a n o v , op. c i t . P á g . : 8 1 ) .

H a v e r i a então um "padrão tecnológico c o r r e t o " a d e q u a d o a e s s a dinâmica i n t e r n a da u n i d a d e c a m p o n e s a ?

I I

C o l o c a m o s a q u i . a questão do c a m p e s i n a t o , s u a s c a r a c -terísticas básicas e a s u a relação com a t e c n o l o g i a agrícola moderna e s e u i m p a c t o n a s u a u n i d a d e de exploração.

Retomamos, p a r a o a p r o f u n d a m e n t o d a problemática em q u e s -tão, o s f a t o r e s d e t e r m i n a n t e s d a u n i d a d e de produção e como e l e s s e c o n s t i t u e m no p r o c e s s o contínuo de recriação camponesa f r e n t e às

(37)

• 24 tensões e ameaças e x t e r n a s , em estratégias de sobrevivência e r e s i s -tência p a r a m a n u t e n ç ã o#e construção de s u a a u t o n o m i a .

A p e r s p e c t i v a a c i m a n o s r e m e t e à n e c e s s i d a d e de a n a l i s a r q u a l a influência que terá a t e c n o l o g i a , c o n s i d e r a n d o o m e i o de p r o -dução t e r r a s o b a p o s s e do t r a b a l h a d o r e a força de t r a b a l h o f a m i - , l i a r como f a t o r e s estratégicos de reprodução c a m p o n e s a ; q u a l é o p a -p e l da t e c n o l o g i a agrícola na u n i d a d e de -produção c a m -p o n e s a ? Da mes-ma f o r m a , como c o l o c a S h a n i n ( 1 9 8 0 ) , " a tecnologia é válida enquanto

permite o aumento da produtividade do trabalho", só q u e , a u n i d a d e

econômica c a m p o n e s a tem um l i m i t e que está i n s c r i t o no âmbito do a t e n d i m e n t o de s u a s n e c e s s i d a d e s . N e s t e c a s o , haverá l i m i t e no em-p r e g o de d e t e r m i n a d a s em-práticas tecnológicas em-p o r em-p a r t e do camem-ponês? Quando a d o t a d a s , em que condições e até que p o n t o ?

A n o s s o v e r , o u s o d a t e c n o l o g i a é a l g o que p a s s a p e l a questão o b j e t i v a da produção m a t e r i a l . N e s t e s e n t i d o , e l e v a r a p r o dução e p r o d u t i v i d a d e do t r a b a l h o é um f i m que s e p e r s e g u e em q u a l q u e r u n i d a d e de produção, s e j a na u n i d a d e de e c o n o m i a doméstica, s e -j a na u n i d a d e c a p i t a l i s t a de produção. N e s s e a s p e c t o , a t e c n o l o g i a f a z p a r t e do i n t e r e s s e do cam-ponês, mesmo p o r q u e , no s e u p r o c e s s o p r o d u t i v o , é inevitável o s e u u s o . A questão é o caráter s e l e t i v o p o r q u e p a s s a a técnica s o b o s i n t e r e s s e s d a s u n i d a d e s de produção f a m i l i a r .

0 p r o b l e m a que s e n o s a p r e s e n t a é o v a i a s s u m i r em c a d a um d e s s e s p r o c e s s o s e com

p a p e l que a t e c n o l o g i a que lógica e s s a t e c n o

(38)

-25 l o g i a v a i s e r i n c o r p o r a d a e com que f i m .

P a r a b u s c a r o e n t e n d i m e n t o m a i s amplo s o b r e a t e c n o l o g i a agropecuária m o d e r n a , s u a r a c i o n a l i d a d e intrínseca e s e u i m p a c t o n o s vários p r o c e s s o s p r o d u t i v o s , e em e s p e c i a l , a e c o n o m i a c a m p o n e s a , é necessário romper com o p a r a d i g m a ideológico da m o d e r n i d a d e e do e c o n o m i c i s m o , e problematizá-lo n o s s e u s a s p e c t o s s o c i a i s . N e s t e

s e n t i d o , a análise de SOUZA e SINGER d e m o n s t r a o p r o c e s s o de como a t e c n o l o g i a é p r o d u z i d a e u s a d a , a p o n t a n d o que só através de uma i n -vestigação dos s e u s a s p e c t o s s o c i a i s é que s e pode d e s m i s t i f i c a r a s mudanças p r o g r e s s i v a s e inevitáveis que l h e s são i m p u t a d a s . (SOUZA &

SINGER, 1 9 8 4 : 0 4 ) .

D e s s e p o n t o de v i s t a , o que s e b u s c a a p r o f u n d a r é o s e n t i -do da t e c n o l o g i a , como uma prática, c u j o o b j e t i v o é "o c o n t r o l e da n a t u r e z a p a r a s e r v i r a o s propósitos do homem (SOUZA & S I N G E R , i d .

i b . : 1 3 ) . D e s s a prática, m f e r e - s e não só uma a t i v i d a d e p u r a m e n t e técnica e econômica, mas também uma a t i v i d a d e política e s o c i a l r e a -l i z a d a num "campo de c o n f -l i t o , como prática e s p e c i f i c a p o r q u e dá-se através de uma série de e s c o l h a s humanas e uma b a s e sócio-material

i m p l i c a d a n a q u e l a série". (SOUZA & S I N G E R , i d . i b . p á g . : 1 5 ) .

D e s s e modo, e s s a b a s e sócio-material v a i i n f l u e n c i a r , do p o n t o de v i s t a do usuário de d e t e r m i n a d a prática tecnológica, e s c o l h a s que l h e dêem p r o v e i t o e que l h e a s s e g u r e m r e p r o d u z i r e / o u r e forçar um s i s t e m a e uma lógica, a p a r t i r de opções s e l e c i o n a d a s s o -b r e o u t r a s .

(39)

, J I b L i J I c C A - U r V a . ] I ....C.MHJS VTI - PATOS - PB. j

26 Sob e s s a p e r s p e c t i v a , a c r e d i t a m o s q u e o camponês, a p a r t i r de s u a b a s e sóciomaterial, adotará e s t a ou a q u e l a t e c n o l o g i a a g r o pecuária, de a c o r d o com o s s e u s i n t e r e s s e s estratégicos p a r a s u a a u -to-reprodução.

Sendo um e l e m e n t o necessário em q u a l q u e r p r o c e s s o p r o d u t i - , v o , a t e c n o l o g i a s e c o n f i g u r a com um c o n j u n t o de técnicas e c o n h e c i m e n t o s científicos ou empíricos aplicáveis a produção (SOUZA & S I N GER, i d . i b . pág.: 1 4 ) , c o n f i g u r a d o s numa prática tecnológica c o n c r e t a no campo da produção e organização d e s s a produção e que c o n -t r i b u i p a r a a prá-tica ideológica, na medida em que -t r a n s f o r m a um c o m p o n e n t e da matéria p r i m a do p r o c e s s o o b j e t i v o de p r o d u z i r b e n s m a t e r i a i s p a r a sobrevivência e reprodução, em p r o c e s s o s s u b j e t i v o s , a p a r t i r do s e n t i d o e d a função práticos no momento de s u a a p l i c a -ção. ( C f . SOUZA & S I N G E R , Op. c i t . pág.: 1 6 ) . D e s t a m a n e i r a , s e r e s g a t a o u t r o a s p e c t o d a t e c n o l o g i a e n q u a n t o a p a r a t o q u e l h e é i n -trínseco :

"A vítrea i d e o l o g i a de fundo hoje dominante, que transforma a ciência hoje em f e t i c h e , é mais i r r e -sistível e mais abrangente... P o i s com o velamento das questões práticas, e l a não somente j u s t i f i c a o i n t e r e s s e de uma c l a s s e determinada e oprime a necessidade de emancipação por parte de outra c l a s -se, como atinge o i n t e r e s s e emaneipatório. . . (HA-BERMAS, 1980: 335).

(40)

27 E n t e n d e m o s então a geração, difusão e u s o da t e c n o l o g i a agrícola como uma prática tecnológica no campo de c o n f l i t o s e de forças onde s e e n g e n d r a m a s contradições, i n t e r e s s e s e resistências i n t r a - c l a s s e s , s o b a r a c i o n a l i d a d e científica e o s i n t e r e s s e s d a produção c a m p o n e s a .

A contradição, a n o s s o v e r , dáse p o r q u e o s e n t i d o da t e c -n o l o g i a moder-na está l i g a d o ao c o -n t r o l e e ao domí-nio da produção através de técnicas que impõem um caráter r a c i o n a l de estratégias, em função de i n t e r e s s e s e f i n s d e t e r m i n a d o s p e l a n e c e s s i d a d e de e x -pansão e acumulação de b e n s e c a p i t a l . Como a p o n t a d o p o r H a b e r m a s ,

"0 método c i e n t i f i c o que levou a dominação cada vez mais e f i c a z da natureza passou assim a f o r n e

-c e r tanto os -c o n -c e i t o s puros -como os instrumentos para a dominação cada vez mais e f i c a z do homem

pe-l o homem através da dominação da natureza".(HABER-MAS , op. c i t . pág.: 315).

E s s a r a c i o n a l i d a d e v e i o d e l i n e a r - s e como um v a l o r g e r a l d a s o c i e d a d e a p a r t i r da transformação e r o m p i m e n t o d o s v e l h o s v a l o r e s " p r i m i t i v o s " , em conseqüência da revolução i n d u s t r i a l e da i n s t a l a -ção do modo c a p i t a l i s t a de produ-ção. 0 que s e c o l o c a a q u i , p o r t a n t o , é o p o d e r que v a i t e r a t e c n o l o g i a , n a m e d i d a que e l a s e l e g i t i m a como um padrão g e r a l , um modelo s o c i a l , um c a m i n h o p e l o q u a l s e u s i g n i f i c a d o único é a m o d e r n i d a d e v i a tecnificação. Em decorrência d i s t o , o p o d e r d a t e c n o l o g i a p a s s a a s e r " f e t i c h i z a d o " , a s e j u s t i -f i c a r p o r s i só, numa p e r s p e c t i v a de s a l v a r o p r o c e s s o p r o d u t i v o ,

Referências

Documentos relacionados

Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas

RESUMO: Busca-se neste trabalho analisar a fotografia como objeto de estudo nas áre- as da Arquivologia e Ciência da Informação a partir do levantamento, da leitura e da análise

O interesse da pesquisadora pelo tema tem origem na sua atuação como professora de Inglês Instrumental em cursos técnicos de nível médio em Escolas Técnicas Estaduais da cidade

O Espiritismo, que nunca fez milagres, também não faz esse, pois que jamais fez reviver um corpo morto. O Espírito, fluídico, inteligente, esse não baixa à campa com o

É primeiramente no plano clínico que a noção de inconscien- te começa a se impor, antes que as dificuldades conceituais envolvi- das na sua formulação comecem a ser

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

Arroz e feijão Frango moído batata inglesa, e chuchu salada de alface e tomate. Caldo de carne com batata e abobrinha

O POPULAR. A aproximação das eleições para a escolha do novo presidente do Brasil revela o interesse dos jovens pela política, conforme demonstra a manchete do jornal.