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Responsabilidade civil do estado frente aos danos causados por animais errantes

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CAROLINA CUSTÓDIO FELISBINO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO FRENTE AOS DANOS CAUSADOS POR ANIMAIS ERRANTES

Tubarão 2015

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CAROLINA CUSTÓDIO FELISBINO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO FRENTE AOS DANOS CAUSADOS POR ANIMAIS ERRANTES

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade.

Orientadora: Profª. Keila Comelli Alberton, Esp.

Tubarão 2015

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Àqueles que me ensinaram o verdadeiro significado de amor incondicional: meu pai Joaci, e minha mãe Adriana. Também, aos presentes que a vida me concedeu: Henrique e Miguel.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por ter me dado a graça da vida e da fé, por me fazer crer na sua existência e me amparar em todos os momentos.

Aos meus pais, Joaci e Adriana, por me ofertarem o amor mais completo que eu acredito que possa existir. Por abdicarem dos seus sonhos para que eu pudesse viver os meus, e por fazerem dos meus objetivos os seus. Agradeço a eles pelos ensinamentos de vida, pelo apoio inquestionável que me deram a fim de que conseguisse realizar este trabalho, bem como ultrapassar todos os obstáculos no decorrer do curso.

Ao meu amor Henrique, pela lealdade comigo durante todo o tempo. Pela paciência e carinho dedicados a mim, e pela compreensão ante a minha ausência em momentos importantes. Agradeço pela confiança a mim despendida, por ser sempre o meu alicerce e por me mostrar que eu tenho alguém para toda a vida. Sem sua presença nos momentos cruciais, talvez não conseguisse concluir o presente trabalho.

Ao Miguel, que durante esse tempo realizou o verdadeiro ofício de um irmão. Agradeço a ele por ter sido o responsável pelos momentos de leveza durante a realização deste trabalho, e por me fazer sorrir nos momentos em que não acreditava que seria possível. Foi quem me motivou a elaborar este trabalho com excelência, para que eu possa ser seu exemplo e motivo pelo qual se orgulhe.

À minha orientadora Keila, por todos os ensinamentos transmitidos e pela clareza com que me fez enxergar todos os desafios no desenvolvimento deste trabalho. Agradeço pela sua disponibilidade, por me atender quando precisei e por me passar os conhecimentos necessários para a elaboração deste trabalho.

A todos os amigos e familiares que me apoiaram e compreenderam nesse período. Principalmente, aos meus avós Manoel e Marlice, que proferiram as palavras que mais me confortaram, durante os períodos decisivos do curso.

Por fim, agradeço aos colegas de trabalho, estagiários e advogados, que tiveram um papel fundamental na minha formação profissional e acadêmica, contribuindo para o meu crescimento.

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“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê.” (ARTHUR SCHOPENHAUER)

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RESUMO

A presente pesquisa teve por objetivo analisar a possibilidade de responsabilizar o Estado frente aos danos de natureza patrimonial e extrapatrimonial provocados por animais errantes. Para tanto, este trabalho foi desenvolvido em três capítulos principais, que abordaram os aspectos gerais da responsabilidade civil, demonstrando seus elementos e teorias específicos, a fim de verificar a responsabilização estatal frente aos danos provocados por animais errantes, investigando se a referida responsabilidade prescinde ou não da demonstração de culpa do agente público. O método de abordagem utilizado na pesquisa foi o dedutivo, visto que parte de uma premissa geral, qual seja, os aspectos comuns da responsabilidade civil, até atingir uma premissa específica, que se trata da responsabilidade civil do Estado frente aos danos causados por animais errantes. A técnica da pesquisa foi a bibliográfica, pois baseou-se em legislação, doutrina e jurisprudência. O resultado da pesquisa evidencia que há possibilidade de responsabilizar o Estado pelos danos de natureza patrimonial e extrapatrimonial causados por animais errantes, tendo em vista que a sua conduta omissiva é ensejadora do dano. Outrossim, não se pôde concluir se a responsabilidade civil do Estado, nesses casos, é objetiva ou subjetiva, diante da divergência doutrinária e jurisprudencial acerca do tema.

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ABSTRACT

This study aimed to analyze the possibility of blaming the state face the damage of assets and off-balance sheet nature caused by stray animals. Therefore, this study was conducted in three main chapters that focused on general aspects of the liability, showing its entirety and specific theories in order to verify the state front accountability to damage caused by stray animals, investigating whether that dispenses responsibility or not the statement of guilt of public officer. The approach method used in the research was deductive, as part of a general premise, namely, the common aspects of liability, up to a specific premise, it is the civil responsibility towards the State to damage caused by stray animals . The research technique was the literature, as was based on legislation, doctrine and jurisprudence. The research result shows that there is possibility to render the State liable for damage of assets and off-balance sheet nature caused by stray animals, considering that his omission conduct is ensejadora damage. Moreover, it could not be concluded whether the civil liability of the State in such cases is objective or subjective, given the doctrinal and jurisprudential divergence on the subject. Keywords: State responsibility. Damage (Right). Animals.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 12

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ... 12

1.2 JUSTIFICATIVA ... 14

1.3 OBJETIVOS ... 14

1.3.1 Objetivo Geral ... 14

1.3.2 Objetivos Específicos... 14

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 15

1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO E ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS ... 15

2 RESPONSABILIDADE CIVIL ... 17

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS ... 17

2.2 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ... 23

2.2.1 Ação ou omissão voluntária ... 24

2.2.2 Culpa e dolo ... 25

2.2.3 Dano ... 26

2.2.4 Nexo causal... 29

2.3 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL ... 30

2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA E OBJETIVA ... 32

2.5 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE ... 34

2.5.1 Culpa exclusiva da vítima ... 35

2.5.2 Fato de terceiro ... 36

2.5.3 Caso fortuito e força maior ... 36

2.5.4 Legítima defesa ... 37

2.5.5 Estado de necessidade ... 38

2.5.6 Exercício regular de direito e estrito cumprimento do dever legal ... 38

3 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO ... 40

3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO ... 40

3.1.1 Irresponsabilidade do Estado ... 41

3.1.2 Responsabilidade com culpa ... 42

3.1.3 Responsabilidade Objetiva ... 43

3.1.3.1 Teoria da culpa administrativa ... 44

3.1.3.2 Teoria do risco integral ... 45

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3.2 ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO

ESTADO ... 47

3.2.1 Pessoas Jurídicas Responsáveis ... 48

3.2.2 Agente público ... 49

3.2.3 Dano indenizável ... 50

4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO FRENTE AOS DANOS CAUSADOS POR ANIMAIS ERRANTES ... 53

4.1 ANIMAIS ERRANTES ... 53

4.2 CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS DANOS PROVOCADOS POR ANIMAIS ERRANTES ... 54

4.3 COMPETÊNCIA MUNICIPAL ... 58

4.4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR ATOS OMISSIVOS DE SEUS AGENTES ... 61

4.4.1 Responsabilidade objetiva por atos omissivos ... 64

4.4.2 Responsabilidade subjetiva por atos omissivos ... 69

5 CONCLUSÃO ... 75

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1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa será realizada no intuito de estudar a possibilidade de responsabilizar o Estado pelos danos de ordem patrimonial e extrapatrimonial causados por animais errantes. Neste contexto, se busca entender os problemas mais frequentes ocasionados pelos referidos animais, a sua repercussão na sociedade, bem como a atuação do Estado frente a estes animais.

Assim sendo, após a análise da responsabilidade civil de maneira geral, bem como da responsabilidade civil do Estado, pretende-se demonstrar que o Estado tem o dever de ressarcir o indivíduo que é lesado por animais errantes, diante das teorias aplicáveis ao caso.

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

O presente trabalho acadêmico de conclusão de curso se pauta na constatação de danos causados por animais errantes, bem como na ausência de reparação dos referidos danos por parte do Estado.

Nesse contexto, é fundamental destacar que a problematização do tema a ser abordado se inicia através da percepção do crescimento de animais errantes em ambientes urbanos, quer seja pelo seu abandono, quer seja pela proliferação dos que já se encontram em estado de degradação.

Ainda, é salutar frisar que inúmeros são os danos causados aos animais domesticados, destacando-se o abandono e os maus tratos, casos que vêm ganhando destaque não apenas no ambiente acadêmico, mas também na mídia e nas redes sociais, sendo de conhecimento de toda a população brasileira.

De outro lado, no contexto social atual, onde se preconiza a obediência à legislação ambiental e a defesa do meio ambiente, em especial aos animais errantes, os prejuízos de natureza patrimonial e extrapatrimonial ocasionados em decorrência da existência destes animais não possui o merecido destaque.

Sabe-se que os animais errantes causam danos reversíveis e irreversíveis à sociedade. Dos prejuízos mais comuns, a fim de exemplificação, citam-se atropelamentos e ataques à pessoas e a outros animais, além da transmissão de zoonoses.

O que se pretende colocar em discussão é a amplitude dos danos causados por animais errantes, bem como o desamparo sofrido pela sociedade, haja vista que a doutrina e

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os Tribunais pouco se posicionam acerca da responsabilidade civil do Estado frente à ocorrência destes danos.

Deste modo, para Diniz (2010, p. 476), a responsabilidade civil é, em poucas palavras, um instituto jurídico que serve para reparar um dano, que possui nexo causal com o ato ilícito praticado por alguém.

Além disso, considerando que a pesquisa tem como objetivo verificar a possibilidade de responsabilização do Estado frente aos danos causados pelos animais errantes, a principal discussão ocorrerá quanto a forma de responsabilizar o Estado, caso isso seja possível. Ou seja, se o Estado possuir o dever de indenizar quem, de algum modo, for vítima de danos causados por animais errantes, a pesquisa buscará analisar se é aplicável a estes casos a responsabilidade subjetiva ou objetiva para a responsabilização, estudando as teorias existentes no ordenamento jurídico pátrio.

Assim sendo, a responsabilidade civil objetiva do Estado pode ser conceituada como:

A obrigação que lhe incumbe de reparar economicamente os danos lesivos à esfera juridicamente garantida de outrem e que lhe sejam imputáveis em decorrência de comportamentos unilaterais, lícitos ou ilícitos, comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos. (MELLO, 1981 apud DINIZ, 2006, p. 641)

De outro modo, a responsabilidade subjetiva do Estado, segundo Mello (1981 apud DINIZ, 2006, p. 644), ocorre nas relações entre o Estado e o agente público, quando o Estado tem direito de regresso contra o agente faltoso, desde que comprovada a culpa ou dolo deste.

Além disso, considera-se um dos aspectos envolvidos no tema, a inexistência ou precariedade de políticas públicas, diretrizes ou instrumentos para o controle ou erradicação dos animais errantes, os quais sofrem e causam danos diariamente, restando ausentes medidas que, de fato, solucionem estes problemas.

Desta forma, a problemática constitui-se na análise da existência do dever de reparação do Estado nos casos de danos ocasionados por animais errantes. Em caso positivo, pretende-se verificar se a responsabilidade é objetiva ou subjetiva, e quais as teorias da responsabilidade civil se aplicam a esta situação, a fim de que haja a devida indenização ao cidadão lesado.

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Assim, o problema de pesquisa do presente trabalho, é verificar a possibilidade de responsabilização do Estado frente aos danos patrimoniais e extrapatrimoniais causados pelos animais errantes.

1.2 JUSTIFICATIVA

Diante da atual discussão em torno do direito ambiental, principalmente com relação aos animais errantes, busca-se analisar a responsabilidade civil do Estado frente aos danos causados pelos referidos animais.

O grande propulsor da escolha do tema foi o desconhecimento da população quanto a possibilidade de requerer indenização ao Estado em casos de danos patrimoniais e extrapatrimoniais causados por animais errantes.

Academicamente, a pesquisa será relevante, pois, como mencionado anteriormente, grande parte dos trabalhos de conclusão de curso desenvolvidos recentemente, tendo como base estudos acerca dos animais errantes, preocupa-se apenas com os atos lesivos praticados contra estes animais, sem observar os danos causados pelos mesmos.

Por fim, a pesquisa a ser realizada justifica-se ante a ausência de entendimento jurisprudencial ou doutrinário consolidado a respeito do tema. Considera-se, também, a falta de políticas públicas que provoquem a Administração Pública a amparar os animais, para que os danos de ordem econômica e social causados por estes sejam combatidos e tratados com a importância que lhes é devida.

1.3 OBJETIVOS

Os objetivos da pesquisa, gerais e específicos, seguem dispostos a seguir.

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar a possibilidade de responsabilizar o Estado pelos danos patrimoniais e extrapatrimoniais causados por animais errantes.

1.3.2 Objetivos Específicos

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Analisar os elementos gerais da responsabilidade civil, com ênfase às situações em que se aplicam a responsabilidade subjetiva e objetiva, contratual e extracontratual, destacando as principais distinções entre ambas.

Verificar as características peculiares da responsabilidade civil do Estado.

Identificar as hipóteses em que os animais errantes causam danos de natureza patrimonial ou extrapatrimonial aos indivíduos.

Analisar as teorias aplicadas à responsabilidade civil do Estado por omissão. Determinar a responsabilização do Estado frente aos danos causados por animais abandonados.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a elaboração e desenvolvimento do presente trabalho acadêmico, se faz necessário articular os meios técnicos de investigação, a fim de solucionar o problema formulado. Segundo Garcia (1998 apud HEERDT; LEONEL, 2007, p. 42), o método:

Representa um procedimento racional e ordenado (forma de pensar), constituído por instrumentos básicos, que implica utilizar a reflexão e a experimentação, para proceder ao longo do caminho (significado etimológico de método) e alcançar objetivos preestabelecidos no caminho da pesquisa. (HEERDT; LEONEL, 2007)

Considerando que os métodos podem ser classificados em método de abordagem e método de procedimento, afirma-se que, quanto ao método de abordagem, o estudo utilizará o dedutivo, pois irá partir de uma preposição geral, neste caso, representada pelo instituto da responsabilidade civil, para então chegar a uma preposição particular, que se trata da possibilidade de responsabilizar o Estado pelos danos de natureza patrimonial e extrapatrimonial causados por animais errantes.

Em relação ao método de procedimento, o utilizado no presente trabalho será o bibliográfico, tendo em vista que, para o desenvolvimento deste estudo, serão utilizadas doutrinas civis, administrativas e ambientais, jurisprudência e legislação.

1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO E ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

Considerando que o primeiro capítulo deste trabalho é composto pela introdução, o segundo capítulo tem como objetivo estudar as perspectivas gerais do instituto da

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responsabilidade civil. Assim, serão analisados os seus aspectos históricos, bem como os elementos constitutivos e as espécies de responsabilidade civil.

No terceiro capítulo serão abordadas as questões relativas à responsabilidade civil do Estado. Desse modo, serão analisadas todas as teorias aplicadas, bem como sua evolução, principalmente no que tange à aplicação no ordenamento jurídico brasileiro. Além disso, este capítulo se propõe a estudar os elementos específicos da responsabilidade civil do Estado.

Por fim, o quarto capítulo deste trabalho pretende analisar a responsabilidade civil do Estado frente aos danos causados por animais errantes. Assim sendo, o referido capítulo será constituído do exame dos danos provocados pelos animais errantes, bem como da competência para responder por tais danos. Ademais, serão pesquisadas as teorias aplicáveis em relação aos atos omissivos dos agentes públicos, a fim de que se possa atribuir a responsabilidade civil ao Estado frente aos danos causados por animais errantes.

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2 RESPONSABILIDADE CIVIL

Tendo em vista que o tema do presente trabalho tem por objetivo analisar se o Estado pode ser responsabilizado pelos danos causados por animais errantes, indispensável estudar o instituto da responsabilidade civil.

Neste capítulo, serão abordados de forma breve os aspectos históricos da responsabilidade civil, bem como os principais elementos e classificação do referido instituto.

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS

Para melhor compreensão acerca da responsabilidade civil, bem como de sua aplicação ao tema proposto, imprescindível a análise – ainda que superficial – de sua origem e evolução histórica. De acordo com Hironaka (2005, p. 28), a responsabilidade civil é um instituto contemporâneo, que teve sua formulação expressa no sistema jurídico francês codificado, no final do século XVIII. Porém, Hironaka (2005, p. 28) também afirma que existe uma evolução da responsabilidade civil que se confunde com a história do direito em si, considerando que o seu marco inicial foi o período de Talião.

A responsabilidade civil, segundo Nader (2010, p. 47), surgiu com a Lei de Talião e consolidava que “pelo princípio estabelecido, haveria igualdade entre o mal infligido e a consequência a ser aplicada ao agente”.

Completando o entendimento do surgimento do instituto da responsabilidade civil, Hironaka (2005, p. 45) afirma que:

Esta época caracterizou-se pela ocorrência do castigo contra a violência perpetrada com a devolução da mesma violência. Quando não, pela devolução de uma violência ainda maior. [...] Antes do aparecimento dos sistemas jurídicos positivos nos quais o dever é descrito pelo ordenamento, ou pela lei positiva, a medida da justiça estava ao arbítrio dos particulares. (HIRONAKA, 2005, p. 45)

Após a Lei de Talião, no início do segundo milênio a.C., surgiu o código de Hammurabi, que, segundo HIRONAKA (2005, p. 47), é a “figura de uma lei pública que dá poder à indignação de cada particular em cada um dos casos concretos que prevê, e garante assim a vingança justa em função de sua própria autoridade.”

É possível afirmar que o Código de Hammurabi trata-se da codificação do que dispunha a Lei do Talião. Nader (2010, p. 48) afirma que a pena foi adotada de forma

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simétrica, punindo-se o agressor de acordo com o dano sofrido, movendo-se pelo puro sentimento de vingança.

Após o Código de Hammurabi surge, então, o Código de Manu, o Código de Ur-Nammu e a Lei das XII Tábuas. Neste período, a punição passou a ser, obrigatoriamente, de ordem econômica e aplicada aos casos disciplinados nas referidas codificações. Nestas situações, o dever de indenizar era taxado de acordo com o dano causado: “o ofensor paga um tanto por membro roto, por morte de um homem livre ou de um escravo” (GONÇALVES, 2009, p. 7).

Apesar de ser baseado em um direito religioso, Hironaka (2005, p. 48) afirma que foi um avanço importante com relação ao código de Hammurabi, pois trata de uma “noção não violenta de compensação dos danos”.

Assim, substituindo a ideia de punir o ofensor com o mesmo dano sofrido pelo lesado, Lima (1999, p. 20) declara:

Dessa primitiva forma de responsabilidade, passou-se à composição voluntária, pela qual o lesado, podendo transigir, entra em composição com o ofensor, recebendo um resgate (poena), isto é, uma soma em dinheiro, ou a entrega de objetos. A vingança é substituída pela composição a critério da vítima, subsistindo, portanto, como fundamento ou forma de reintegração do dano sofrido. (LIMA, 1999, p. 20)

Em análise da evolução histórica da responsabilidade civil, após verificar como se deu a formação do referido instituto, é indispensável destacar o papel do Direito Grego em nosso ordenamento jurídico. O direito, para os gregos, se tratava de “um conjunto de concepções práticas e éticas da justiça e, consequentemente, do dever” (HIRONAKA, 2005, p. 49).

Assim, no âmbito da responsabilidade civil, o direito natural surgido no Direito Grego pregava o equilíbrio do “kosmos”. Para os gregos, a reparação era “concebida como retorno ao equilíbrio, como estipulação ou restauração do meio-termo” (HIRONAKA, 2005, p. 50).

A filosofia grega tem lugar de destaque na história da responsabilidade civil, pois trouxe a ideia de equilíbrio e de punição àquele que, de alguma forma, praticou ato contrário à natureza do agente, de outrem ou de coisas que estão envolvidas (HIRONAKA, 2005, p. 51).

Assim, segundo Hironaka (2005, p. 51):

Se houver dano, por força da ocorrência dessa violência à natureza de alguém – seja a minha própria natureza, quando ajo, seja a natureza de outrem, que sofre por conta da minha ação – será necessário, por força de ordem emanada do direito natural

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principalmente, que se dê o restabelecimento do equilíbrio original. (HIRONAKA, 2005, p. 51)

Com o desenvolvimento do breve estudo acerca da evolução histórica da responsabilidade civil, destaca-se o grande marco do referido instituto: A Lex Aquilia.

Para a maioria dos doutrinadores pesquisados, esta lei foi a mais significante para a responsabilidade civil. Conforme Venosa (2013, p. 19), foi um divisor de águas no instituto da responsabilidade civil, que “possibilitou atribuir ao titular de bens o direito de obter o pagamento e uma penalidade em dinheiro de quem tivesse destruído ou deteriorado os seus bens”.

A Lex Aquilia foi criada pelo Direito Romano e tratava de casos concretos. A referida lei era divida em três capítulos, elencados por Lima (1999, p. 21):

O primeiro regulava o caso da morte dos escravos ou dos quadrúpedes, da espécie dos que pastam em rebanho; o segundo, o do dano causado por um credor acessório ao principal, que faz abatimento da dívida com prejuízo do primeiro; o terceiro, o dano por ferimento causado aos escravos e animais visados no 1º capítulo e a destruição ou deterioração de todas as outras coisas corpóreas. (LIMA, 1999, p. 21)

O último capítulo da Lex Aquilia constitui a parte mais importante da lei, tendo em vista que deu início ao que denominamos, atualmente, de responsabilidade extracontratual. Isto se dá, pois, segundo Hironaka (2005, p. 55) a ideia da lei era de que “todo autor de um ato ilícito (contrário à lei ou ao direito de outrem) está, por sua própria causalidade, de antemão, obrigado a compensar o dano que causou”.

Para Hironaka (2005, p. 56-57), as teorias da Lex Aquilia não guardam relação com a responsabilidade extracontratual aplicada nos dias atuais, porém, a lei é de extrema relevância porque definiu, pela primeira vez, “o lugar racional da ideia de culpa”.

Conforme Tartuce (2013, p. 294), o Direito Romano entendia que a experiência da responsabilidade sem culpa havia evidenciado diversas situações injustas, e por isso surgiu a necessidade de se comprovar a culpa, considerando esta situação como “uma questão social evolutiva”.

Assim, antes de encerrar o estudo desse período histórico, importante salientar que há distinção entre o que se entende como culpa no Direito Romano, e o seu entendimento nos dias atuais:

Na realidade, a culpa do Direito Romano é diferente da culpa atual, pois a última, ao contrário da anterior, traz em seu conteúdo a ideia de castigo, por forte influência da Igreja Católica. Como os romanos eram essencialmente pragmáticos, a culpa era,

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antes de qualquer coisa, mero pressuposto do dever de indenizar. (TARTUCE, 2013, p. 294)

Mesmo tratando-se a Lex Aquilia da lei mais relevante no tocante à evolução da responsabilidade civil, existem outras leis e períodos históricos que merecem destaque no desenvolvimento deste trabalho. Dentre os mais importantes, destacam-se o Direito Cristão, o Direito Moderno e o Código Civil francês, até o Código Civil atual e os constantes aperfeiçoamentos a respeito do tema.

Oportuno frisar, portanto, os reflexos do Direito Cristão no instituto da responsabilidade civil. Há que ressaltar que não se fala, neste momento, em Direito Canônico, e sim nas influências da Igreja sobre o direito, em determinado momento histórico.

O mundo cristão medieval trouxe para o direito a criação do termo “responsabilistas”, que até então não existia (HIRONAKA, 2005, p. 58).

O Direito Cristão entendia a responsabilidade civil de maneira diversa ao Direito Romano, pois considerava que “a compensação, conforme concebida, não somente se baseia na idéia de propriedade como se baseia na idéia de piedade: o cidadão honesto não é apenas aquele que cumpre as leis da cidade, mas é aquele que o faz dentro das práticas cristãs” (HIRONAKA, 2005, P.59).

Realizados os apontamentos indispensáveis no que diz respeito ao direito cristão, fundamental destacar o Direito Moderno, bem como suas contribuições à responsabilidade civil.

O Direito Moderno, que evoluiu nos países europeus, teve como grande símbolo o Código de Napoleão, conhecido também como Código Civil francês. O referido código atribuiu sentido mais amplo à responsabilidade civil, e passou a entender que a culpa é um elemento constitutivo da responsabilidade civil, porém, só se pode imputar a pena a partir da existência real do dano, e não da existência real da culpa (HIRONAKA, 2005, p.61).

Assim, acentua Hironaka (2005, p. 61):

Primeiro, a culpa, embora não seja elemento suficiente, é elemento sempre presente na obrigação de reparar (sem vontade de causar dano, não há como ter previsto outra via além daquela que levou o agente a causá-lo); segundo, e mais importante, somente quando a culpa produz dano é que essa circunstância pode exigir alguma reparação. (HIRONAKA, 2005, p.61)

Para Gonçalves (2009, p. 8), o Código Civil francês contribuiu muito para a responsabilidade civil, eis que estabeleceu que, mesmo sendo a culpa do agente considerada leve, seria ele obrigado a reparar, desde que presente o dano.

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Segundo Lima (1999, p.28), o Código Civil francês proclamou, em seu artigo 1.382 “a responsabilidade extracontratual, tendo como fundamento a culpa efetiva e provada”. Ou seja, os ensinamentos do Direito Romano e da Lex Aquilia continuavam presentes no Direito Moderno, pois o princípio da responsabilidade extracontratual estava presente nas codificações deste período.

Tartuce (2013, p. 294) afirma que a responsabilidade civil constante do nosso atual ordenamento jurídico tem como base os elementos previstos no Código Napoleônico, consistindo em elementos tradicionais do referido instituto “a conduta do agente (comissiva ou omissiva), a culpa em sentido amplo (englobando o dolo e a culpa strictu sensu), o nexo de causalidade e o dano causado”.

Foi também o Direito Francês que passou a admitir a responsabilidade sem culpa, a partir do estudo da chamada teoria do risco. Com o estrondo industrial na Europa, a preocupação passou a ser acerca da responsabilização de pessoas que realizavam determinadas atividades consideradas de risco perante a coletividade (TARTUCE, 2013, p. 295).

Assim, diferente de alguns momentos históricos em que se punia apenas com a existência do dano, ou, em outros, que se punia somente com a comprovação da culpa do agente, o Direito Francês passou a entender que, em determinadas situações, não seria necessária a comprovação da culpa para que houvesse a obrigatoriedade de reparar o dano causado.

Imprescindível destacar também, no Direito Moderno, os Códigos Civis alemão e suíço. O Código Civil alemão, apesar de admitir a responsabilidade aquiliana, presente no Código Civil francês, proclama o princípio da responsabilidade por culpa. Quanto ao Código Civil suíço, o mesmo prevê a responsabilidade civil extracontratual desde que haja culpa, podendo esta ser dolosa ou causada por negligência (LIMA, 1999, p. 29).

Realizados os apontamentos necessários pertinentes ao Direito Moderno e sua importância para o instituto da responsabilidade civil, se analisa agora o Direito Contemporâneo, enfatizando a responsabilidade civil no ordenamento jurídico pátrio. É válido destacar que, antes do Código Civil de 1916, o Direito Civil brasileiro não constituía um sistema (NADER, 2010, p. 55).

Antes do Código de Beviláqua, o Direito Civil no Brasil era regido por leis esparsas, e, devido à insuficiência de leis para disciplinar todos os acontecimentos aqui ocorridos, o intérprete da legislação recorria ao Direito Romano e Canônico, e também dos costumes, como fontes secundárias (NADER, 2010, p.55).

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Foi com o Código de 1916, então, que o Direito Civil passou a ser organizado em um sistema no ordenamento jurídico pátrio. No que tange ao tema do presente trabalho, o artigo 159 do referido código trouxe a responsabilidade civil ao definir o conceito de ato ilícito (NADER, 2010, p. 57).

Além disso, trouxe os seguintes elementos para o instituto da responsabilidade civil: “a) conduta por ação ou omissão; b) prejuízo a outrem ou violação de direito; c) dolo, imprudência ou negligência do agente” (NADER, 2010, p. 57).

Destaca-se, também, que na mencionada lei havia artigos que previam a culpa presumida do agente, e Segundo Nader (2010, p. 58), os artigos 1.518 até 1.532 do Código Civil de 1916 tratavam sobre “a verificação da culpa e critérios de aferição da responsabilidade”.

Salienta-se que na vigência do Código de 1916, a responsabilidade civil objetiva era considerada algo novo no meio jurídico e por isso precisava de inúmeras adequações para ser aplicada no Brasil. “A ordem jurídica carecia de um critério geral e autônomo da adoção da responsabilidade independente de culpa, prevalecendo a teoria do risco apenas quando admitida expressamente em lei” (NADER, 2010, p. 59).

Assim, após a verificação dos principais pontos do antigo Código Civil, vislumbram-se agora os principais pontos acerca do Código Civil de 2002, bem como da situação atual da responsabilidade civil no ordenamento jurídico brasileiro.

O avanço da responsabilidade objetiva foi relevante para o advento do Código Civil de 2002. Mesmo adotando a teoria da responsabilidade civil subjetiva, Nader (2010, p. 58) aduz que o referido código “adotou uma fórmula ampla, abstrata e geral para a responsabilidade aquiliana, ao definir ato ilícito no art. 186 e ao determinar, no caput do art. 927, a reparação de danos”.

Diversos são os avanços no instituto da responsabilidade civil, com o advento do atual Código Civil. Destacam-se, entre as principais: a adoção do abuso de direito como ato ilícito; a previsão expressa de indenização em caso de dano moral; a determinação de responsabilidade sem culpa nos casos previstos em lei e nas quais se aplicam a teoria do risco criado; bem como a responsabilidade dos pais, tutores e curadores (NADER, 2010, p. 59).

Passadas as modificações relevantes do atual Código Civil, Venosa (2013, p. 19) afirma que o referido instituto está em constante mutação para atender às situações da sociedade contemporânea, mas afirma que “é no campo da responsabilidade extranegocial no qual estão sempre a surgir tentativas de novas soluções, mas sempre arraigadas aos velhos conceitos da clássica responsabilidade aquiliana”.

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Quanto às mudanças relativas à responsabilidade civil, constata-se:

As transformações legislativas e jurisprudenciais por que o instituto vem passando decorrem de uma prudente tentativa de dois valores fundamentais: justiça e segurança jurídica. Pensamos que este último constitui valor fundante e o outro, valor fundado. Ou seja, para haver justiça é indispensável investir na segurança jurídica. (NADER, 2010, p. 60)

Ainda, conforme Venosa (2013 p. 19), a evolução da responsabilidade civil persiste até a atualidade, e, desde a Segunda Guerra Mundial, há grandes discussões acerca dos princípios do dever de indenizar. Assim, “há uma constante luta pelo aperfeiçoamento dos instrumentos jurídicos de molde a não deixar o Direito alheio à realidade social” (VENOSA, 2013).

Além disso, acentua Hironaka (2005, p. 2):

[...]poucos institutos jurídicos evoluem mais que a responsabilidade civil. A sua importância em face do direito é agigantada e impressionante em decorrência dessa evolução, dessa mutabilidade constante, dessa movimentação eterna no sentido de ser alcançado seu desiderato maior, que é exatamente o pronto-atendimento às vítimas de danos pela atribuição, a alguém, do dever de indenizá-los” (HIRONAKA, 2005, p. 2).

Em face disto, constata-se que o instituto da responsabilidade civil está em constante mutação. Assim, a evolução da sociedade, bem como a sua percepção acerca do direito e, mais especificamente, do dever de indenizar, fazem com que os operadores do direito busquem, progressivamente, o seu aperfeiçoamento.

2.2 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Imprescindível, nesse momento, analisar os pressupostos da responsabilidade civil, verificando quais os elementos que caracterizam o dever de indenizar.

A classificação dos pressupostos da responsabilidade civil está, basicamente, expressa no artigo 186 do Código Civil, que assim dispõe: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002).

Examinam-se, portanto, os seguintes pressupostos: ação ou omissão voluntária; culpa e dolo; dano; e nexo causal.

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2.2.1 Ação ou omissão voluntária

O primeiro pressuposto da responsabilidade civil, diz respeito ao que Coelho (2011, p. 263) denomina de externalidades negativas, considerando que se tratam de ações ou omissões de qualquer pessoa que interferem em situações, bens ou interesses de outrem. No caso da responsabilidade civil, considerando que os prejuízos causados são, via de regra, compensados, Coelho (2011, p. 265) afirma que há a “internalização das externalidades”.

Ademais, Rodrigues (2003, p. 17) afirma que “a indenização pode derivar de uma ação ou omissão individual do agente, sempre que, agindo ou se omitindo, infringe um dever contratual, legal ou social”.

Segundo o entendimento de Nader (2010, p. 65), o ato ilícito caracteriza-se em uma ação ou omissão do agente e, tratando-se de uma modalidade de ato jurídico, o ato ilícito é caracterizado por uma manifestação de vontade que viola a lei ou um ato negocial, e causa dano ao direito alheio.

Assim sendo, tendo em vista que a ação ou omissão do agente deve estar revestida de voluntariedade, é essencial que “a ação ou omissão seja, em abstrato, controlável ou dominável pela vontade do homem” (GONÇALVES, 2010, p. 59).

O ilícito civil, quer seja de natureza material, quer seja de natureza moral, tem como elemento constitutivo a ação (conduta comissiva) ou omissão do agente. Nesse sentido, a respeito da conduta comissiva do agente, discorre Nader (2010, p. 67): “O ilícito decorre de uma ação quando o agente não se abstém de uma pratica vedada em lei ou em ato negocial. Se, em lugar de respeitar a incolumidade alheia, como a lei ordena, agride, física ou moralmente, incide em ilícito civil e penal”.

Segundo Gagliano (2013, p. 75) a ação é também denominada de conduta positiva, a qual é considerada como “a prática de um comportamento ativo”, traduzindo-se no exemplo de acidente de trânsito provocado por motorista embriagado.

De outro lado, no que tange à responsabilidade civil por omissão, o entendimento de Gonçalves (2010, p. 60) é de que esta se caracteriza quando há o dever jurídico de praticar determinado fato, bem como a demonstração de que, praticando-o, o dano poderia ser evitado.

Ainda sobre a conduta omissiva, Nader (2010, p. 68) esclarece: “Tratando-se de dever jurídico comissivo ou positivo, o agente incide em responsabilidade civil mediante conduta omissiva. No caso, a lei ou o negócio jurídico impõe a ação e o agente se abstém de agir”.

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Importante frisar também, que existe a possibilidade de indenização devido à conjugação de ação e omissão voluntária. Para ilustrar esta situação, Nader (2010, p. 68) exemplifica: “se alguém, por desatenção, atropela um pedestre e, voluntariamente, deixa de lhe prestar socorro, vindo este a falecer ou a sofrer incapacidade definitiva, tem-se um dano decorrente da conjugalidade de uma ação com um fato omissivo”.

Por fim, importante mencionar que a conduta humana, seja comissiva, omissiva ou a conjugação de ambas, seja praticada individualmente ou em conjunto, somente enseja o dever de indenização quando a ela pode-se atribuir consequências danosas, ou seja, “a referida atuação lesiva deve ser contrária ao direito, ilícita ou antijurídica” (GAGLIANO, 2013, p.77), o que se estudará em breve, ao analisar o pressuposto do dano.

2.2.2 Culpa e dolo

Apesar de alguns doutrinadores entenderem que este pressuposto é representado apenas pela culpa, considera-se relevante abordar, como componentes do segundo elemento da responsabilidade civil, a culpa e o dolo. Além disso, ressalta-se que, apesar de não estar inserido o risco no teor do que dispõe o art. 186 do Código Civil, importante salientar que este é elemento presente no que tange à responsabilidade civil do Estado e, por esta razão, será analisado em momento oportuno.

Assim, seguindo os ensinamentos de Melo (2012, p. 8), verifica-se:

De se registrar inicialmente que o Código Civil de 2002 adota, como regra, o princípio da responsabilidade civil fundada na culpa (art. 186 c/c art. 927, caput), embora também adote, de forma subsidiária, a responsabilidade independente de culpa, nos casos especificados em lei, bem como em razão das atividades que envolvam riscos (art. 927, § único) e das atividades empresariais em face de danos causados por produtos postos em circulação (art. 931). (MELO, 2012, p. 8)

Segundo Venosa (2013, p. 25), a culpa em sentido amplo é “a inobservância de um dever que o agente devia conhecer e observar”. Para Nader (2010, p. 97), a culpa se trata do elemento subjetivo da conduta, podendo ser considerada em sentido estrito ou como ação ou omissão dolosa.

A culpabilidade no campo civil abrange dois aspectos: o dolo e a culpa em sentido estrito. Assim, no entendimento de Visintini (1999 apud VENOSA, 2013, p. 26), estes conceitos se diferenciam considerando que o dolo é “o ato pelo qual o agente procura intencionalmente o resultado” e a culpa em sentido estrito é a que ocorre quando o ato decorre de imprudência, negligência ou imperícia.

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Assim, diante do disposto no artigo 186 do Código Civil (BRASIL, 2002), “a expressão ‘ação ou omissão voluntária’ está diretamente ligada à vontade consciente de agir ou de não agir do agente, caracterizando assim o dolo; enquanto que a ‘negligência ou imprudência’ está diretamente ligada à culpa” (MELO, 2012, p. 10).

Conforme já demonstrado, a culpa em sentido estrito se caracteriza pela imprudência, negligência ou imperícia. Venosa (2013, p. 30) aduz que, mesmo que a culpa seja conceituada como um ato voluntário, o resultado do referido ato é involuntário, ou seja, apesar de a falta de cuidado do agente ocasionar na previsibilidade da ocorrência de um dano, o agente não tem a intenção de causá-lo.

Quanto ao dolo, Nader (2010, p. 97) comenta que este é “sinônimo de intenção, deliberação do consciente do espírito”. Tartuce (2013, p. 347) salienta que o dolo é a intenção de violar o direito de outrem, praticando determinado ato ilícito. Além disso, pode-se afirmar que, havendo dolo, o agente será obrigado a pagar integralmente o valor da indenização. Já nos casos em que existe culpa em sentido estrito, principalmente no que tange à culpa concorrente da vítima ou de terceiros, poderá haver a redução por equidade do valor da indenização (TARTUCE, 2013, p. 348).

Importante frisar que o dolo da responsabilidade civil não se confunde com o dolo dos negócios jurídicos, como aqueles caracterizados pelos vícios de consentimento ou de vontade. Ademais, não guarda qualquer relação com o dolo do direito penal, pois se trata apenas da prática de um ato ilícito que, intencionalmente, causa dano a outrem.

2.2.3 Dano

O dano é elemento essencial para a caracterização da responsabilidade civil, eis que o Código Civil prevê que somente haverá ato ilícito quando estiver presente o dano moral ou o dano material (NADER, 2010, p. 73). Ainda, segundo Nader (2010, p.73), o dano suscetível de reparação é o dano considerado injusto. Assim, os prejuízos causados no exercício regular de direito, em legitima defesa, ou para afastar perigo iminente, não são considerados atos ilícitos.

Elemento essencial para caracterizar o dever de indenizar, o dano pode ser assim definido:

Dano é a agressão ou a violação de qualquer direito, material ou imaterial que, provocado com dolo ou culpa pelo agente (responsabilidade subjetiva) ou em razão de atividade desenvolvida (responsabilidade objetiva), cause a uma pessoa,

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independentemente de sua vontade, uma diminuição de valor de um bem juridicamente protegido, seja de valor pecuniário, valor moral ou até mesmo de valor afetivo. (MELO, 2012, p. 114).

Considera-se o dano como pressuposto amplo e complexo ao dever de indenizar. Porém, o estudo acerca deste elemento será composto por considerações básicas e fundamentais para o entendimento do tema a ser desenvolvido. Deste modo, analisam-se, como principais aspectos, o dano patrimonial (material) e extrapatrimonial (moral).

Assim, acerca do dano patrimonial, pode-se conceituar:

Integra a noção de dano material tanto os bens que, em decorrência de conduta alheia antijurídica, passaram a desfalcar o patrimônio de alguém quanto os que se deixou de ganhar. No primeiro caso, têm-se os danos emergentes e, no segundo, os lucros cessantes. Aqueles diminuem o acervo de bens; estes impedem o seu aumento” (NADER, 2010, p. 75).

O dano material ocorre quando a vítima tem atingidos bens que podem ser quantificados e, por esta razão, tem o valor certo de reparação. Nesta espécie de dano se encontram as chamadas perdas e danos, que englobam o dano emergente e os lucros cessantes.

Acerca do dano emergente, Melo afirma:

Na reparação do dano emergente, a meta é a restauração do bem lesionado, retornando-o ao status anterior, isto é, substituindo as partes lesionadas por outras de igual espécie e qualidade. Contudo, isso nem sempre é possível, quando então deverá ser arbitrada uma soma em dinheiro que deverá corresponder ao valor do bem deteriorado ou perdido. (MELO, 2012, p. 116).

Quanto ao lucro cessante, deve-se levar em consideração o que a vítima teria recebido se não tivesse sofrido o prejuízo. Ressalta-se que a indenização não pode tornar-se lucro para a vítima, e por esta razão o Código Civil traz o entendimento de razoabilidade para a fixação deste tipo de indenização (VENOSA, 2013, p. 42).

A respeito dos bens imateriais, é sabido que os mesmos não são suscetíveis a uma avaliação pecuniária, pois se tratam da vida, honra, liberdade, entre outros direitos da personalidade. Portanto, a indenização referente a um dano de ordem extrapatrimonial não tem o intuito de restituir o indivíduo ao estado em que se encontrava anteriormente, como ocorre no dano patrimonial. O ressarcimento, no caso do dano moral, serve para “proporcionar à vítima uma compensação e para se desestimular condutas dessa natureza” (NADER, 2010, p. 86).

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Venosa (2013, p. 47), a respeito do dano moral, comenta:

Dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima. Sua atuação é dentro dos direitos da personalidade. Nesse campo, o prejuízo transita pelo imponderável, daí porque aumentam as dificuldades de se estabelecer a justa recompensa pelo dano. Em muitas situações, cuida-se de indenizar o inefável. (VENOSA, 2013, p. 47).

Vale lembrar que o dano extrapatrimonial não se trata, necessariamente, de uma reação psíquica da vítima ou de humilhações que esta venha a sofrer. Ou seja, a ofensa à dignidade da pessoa não é causada por situações de vexame, dor ou sofrimento, mas estes sentimentos podem ser apenas consequências que um dano de natureza extrapatrimonial pode ocasionar (WALD, 2012, p. 94).

Sabe-se que, na responsabilidade civil, o dano é o elemento que dá direito à vítima a obter a indenização. Sobre este tema, Gonçalves (2010, p. 357) comenta:

Indenizar significa reparar o dano causado à vítima, integralmente. Se possível, restaurando o status quo ante, isto é, devolvendo-a ao estado em que se encontrava antes da ocorrência do ato ilícito. Todavia, como na maioria dos casos se torna impossível tal desiderato, busca-se uma compensação em forma de pagamento de uma indenização monetária. (GONÇALVES, 2010, p. 357).

Desta forma, importante salientar o que Venosa (2013, p. 42) afirma ser a tarefa mais árdua do juiz ao analisa questões da responsabilidade civil: a indenização mais adequada à vítima. Para o autor, nos casos de indenizações mais complexas, o grande desafio a ser enfrentado pelo juiz é a fixação de uma indenização justa e razoável, considerando que não pode partir de premissas abstratas para proceder à liquidação do dano.

Além do dano patrimonial e extrapatrimonial propriamente ditos, existem também o dano à imagem, a perda de uma chance e o dano estético. Considerando o tema deste estudo, imprescindível destacar o dano estético. O referido dano é elemento essencial do presente trabalho, uma vez que várias são as situações onde a vítima, atingida por animais errantes, sofre danos estéticos.

Melo (2012, p. 132) conceitua o dano estético com clareza:

Corresponde a qualquer anomalia que a vítima passe a ostentar no seu aspecto físico, decorrente de agressão à sua integridade pessoal. Ele poderá corresponder a uma cicatriz resultante de uma ferida ou amputação de qualquer dos membros, ou ainda, à perda de um olho.

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Nesse diapasão, Wald (2012, 98) dispõe que o dano estético “corresponde a uma alteração morfológica de formação que agride à visão, causando desagrado e eventualmente repulsa”.

Ligando o dano estético ao tema deste trabalho, ele está presente nos casos em que há atropelamento e ataques de animais errantes, por exemplo, além dos casos em que a transmissão de doenças acarreta em alguma sequela aparente.

O dano estético trata-se de marcas permanentes na aparência física da vítima do ato ilícito. A indenização não tem cunho de proteger a beleza da vítima, e sim de reparar, nos casos em que isto é possível, ou tentar compensar os danos sofridos pela alteração do seu estado físico.

2.2.4 Nexo causal

O Nexo causal trata-se da ligação entre o ato ilícito praticado e o dano por ele produzido. Segundo Gonçalves (2010, p. 349), “o dano só pode gerar responsabilidade quando for possível estabelecer um nexo causal entre ele e o seu autor”.

Considerando que o nexo de causalidade é o elemento imaterial da responsabilidade civil, Tartuce (2013, p. 358) informa que este pressuposto constitui “a relação de causa e efeito entre a conduta culposa ou o risco criado e o dano suportado por alguém”.

Sinteticamente, o nexo causal pode ser traduzido em três palavras: dano, antijuridicidade, e imputação. É devido à relação entre o dano e o causador, situação em que se pode imputar o dever de indenizar a algum sujeito (RIZZARDO, 2011, p. 67).

O nexo causal trata-se de elemento indispensável para a responsabilidade civil, seja ela subjetiva ou objetiva. Na responsabilidade subjetiva, o nexo de causalidade é formado pela culpa (sentido estrito e dolo) e pela conduta do agente, já na responsabilidade objetiva, que prescinde de culpa, este elemento é formado pela conduta, cumulada com a previsão disposta em lei sobre a responsabilidade sem culpa ou com a atividade de risco (TARTUCE, 2013, p. 359).

Oportuno salientar que existem grandes obstáculos na busca do verdadeiro nexo de causalidade: as denominadas concausas. Acerca deste tema, Gonçalves (2010, p. 350) explica:

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Essas concausas podem ser sucessivas ou simultâneas. Nas últimas, há só um dano, ocasionado por mais de uma causa. É a hipótese de um dano que pode ser atribuído a várias pessoas. [...] A grande dificuldade, entretanto, está no estudo das concausas sucessivas, em que se estabelece uma cadeia de causas e efeitos. A dificuldade está em saber qual delas deve ser escolhida como a responsável pelos danos.” (GONÇALVES, 2010, p. 350).

Existem algumas teorias utilizadas na pesquisa do nexo causal, como a teoria da equivalência de condições, teoria do dano direto e imediato e a teoria da causalidade adequada. De todas as teorias, o Código Civil adotou a teoria do dano direto e imediato. Assim dispõe o art. 403, do Código Civil: “Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo no disposto na lei processual” (BRASIL, 2002).

Assim sendo, Gonçalves (2010, p. 353) afirma que, quando o legislador adotou a teoria do dano direto e imediato, “repugnou-lhe sujeitar o autor do dano a todas as nefastas consequências de seu ato, quando já não ligadas a ele diretamente”. Deste modo, pode-se concluir que o autor do ato ilícito, diante da teoria adotada pelo ordenamento jurídico pátrio, não responde pelos danos remotos sofridos pela vítima.

Por fim, afirma-se que, em momento oportuno, será analisado o nexo causal nos danos provocados por animais errantes, a fim de se verificar se a responsabilização do Estado prescinde ou não de culpa, destacando-se os elementos que compõem a responsabilidade estatal.

2.3 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

Além dos elementos caracterizadores do dever de indenizar, importante destacar as principais classificações acerca da responsabilidade civil. Quanto à análise da responsabilidade contratual e extracontratual, temos, inicialmente, que a primeira se refere a uma responsabilidade decorrente de um pacto anteriormente realizado, enquanto a segunda independe de contrato para configurar o dever de indenizar.

Apesar de a responsabilidade contratual, também denominada de responsabilidade negocial, não ser o objeto de estudo neste trabalho, imprescindível destacar seu conceito e aplicabilidade, a fim de que se possa distinguir da responsabilidade extracontratual.

Segundo Nader (2010, p. 389), a responsabilidade contratual é aquela derivada de um ato negocial, no qual uma das partes não cumpre com sua obrigação. Neste caso, uma das partes já havia declarado unilateralmente a sua vontade, ou já havia algum vínculo formado entre as partes, antes da ocorrência da infração.

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Venosa (2013, p. 22), afirma que o fundamento da responsabilidade contratual é o inadimplemento ou a inobservância dos termos e limites impostos na obrigação. Assim, o dever de indenizar caracterizado pela responsabilidade civil contratual constitui-se também na mora ou defeito na prestação de obrigações dispostas no contrato.

A respeito da configuração da responsabilidade civil contratual, é importante destacar que:

Para efeito de responsabilidade civil, o dano pode ocorrer em qualquer fase do contrato: no período da puntuação, quando os interessados discutem as cláusulas; na celebração do contrato e na fase de execução da obrigação. Em todas essas fases as partes devem conduzir-se de acordo com o princípio da boa-fé objetiva. Se uma delas falta a este dever e, em consequência, causa danos à outra, responderá por perdas e danos. (NADER, 2010, p. 390)

Considerando que a modalidade de responsabilidade civil acima demonstrada se configura devido à existência de um contrato, a sua incidência é de fácil constatação. Ao realizar um contrato verbal ou escrito, unilateral ou bilateral, se uma das partes inadimplir total ou parcialmente o que se estabeleceu no referido pacto, pode submeter-se ao dever de indenizar a vítima, de acordo com os elementos caracterizadores da responsabilidade civil.

A responsabilidade extracontratual, por seu turno, é caracterizada pela inexistência de qualquer vínculo jurídico entre o agente e a vítima, antes da prática do ato ilícito. Conforme o entendimento de Rizzardo (2011, p. 37), pertence ao ramo da responsabilidade extracontratual “a violação dos deveres que emanam de regras comportamentais, a omissão em praticar um ato exigível, ou o dever de abster-se de uma conduta nociva ou prejudicial”.

Wald (2012, p. 168) faz considerações importantes acerca da responsabilidade civil extracontratual:

Na responsabilidade extracontratual, a violação é da própria norma, pois não há entre o agente causador do dano e a vítima nenhuma relação jurídica preestabelecida. Mesmo assim existe, na eventualidade de prática danosa, o dever de indenizar [...] Nessa espécie de responsabilidade, o agente causador do dano agiu contra os fins da própria ordem jurídica. (WALD, 2012, P. 168)

Assim, tendo em vista que a responsabilidade extracontratual se trata de violação ao direito de outrem devido à desobediência de preceitos determinados em lei, Azevedo (2011, p. 247) afirma que esta modalidade responsabilidade civil passou por diversos avanços

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ao longo da história. Nesse sentido, o autor afirma que, atualmente, há responsabilidade civil extracontratual fundada na culpa e fundada no risco, esta última, que prescinde de culpa.

O estudo acerca da existência de culpa para configurar o dever de indenizar será realizado ao analisar a responsabilidade subjetiva e objetiva. Importante, neste momento, atentar ao fato de que a responsabilidade extracontratual é aplicada ao tema do presente trabalho, uma vez que a existência de animais errantes, bem como os danos por eles ocasionados, dispensa qualquer tipo de contrato entre o Estado e o particular.

Portanto, há que se certificar que, mesmo inexistindo o contrato acima referido, após o dano causado pelo animal errante, constitui-se um vínculo jurídico entre a vítima e o agente, neste caso, representado pelo Estado.

2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA E OBJETIVA

Ao abordar as espécies subjetiva e objetiva da responsabilidade civil, se pretende demonstrar que a culpa, em sentido amplo o estrito, pode determinar a maneira pela qual o agente será responsabilizado. Esta diferenciação é importante, pois, em determinados casos, a comprovação da culpa é elemento necessário para a condenação do agente, enquanto em outras situações, este responderá independente da existência de culpa.

Nesse sentido, Wald (2012, p. 171), afirma que “a responsabilidade pode ser subjetiva, quando baseada na culpa em sentido lato (culpa ou dolo), ou objetiva, quando independe de qualquer falha humana (culpa) ou desejo de causar o dano (dolo)”.

Gonçalves (2010, p. 49), conceitua a responsabilidade civil subjetiva:

Diz-se, pois, ‘subjetiva’ a responsabilidade quando se esteia na ideia de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. Nessa concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa. (GONÇALVES, 2010, p. 49)

Tratando acerca da responsabilidade civil subjetiva, destaca-se que esta é a regra geral aplicada no Código Civil, de acordo com o disposto em seu artigo 186: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002).

Conforme demonstra o artigo acima mencionado, para a caracterização da responsabilidade civil subjetiva, se faz necessária a presença de todos os elementos

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anteriormente estudados. Por esta razão, a culpa (sentido amplo ou estrito) deve estar evidenciada para que haja o dever de indenizar.

Nader (2010, p. 66) esclarece que a responsabilidade subjetiva pode se dar com a manifestação de vontade do agente, ocorrendo quando este está determinado a praticar determinado ato ilícito. Além disso, também é considerada a culpa em sentido estrito – a qual se constitui da negligência, imprudência ou imperícia – como uma forma de aplicação da responsabilidade subjetiva.

Acerca da responsabilidade civil objetiva, Venosa (2013, p. 8) afirma que se trata da responsabilidade que prescinde de culpa, sendo aplicável aos casos em que a comprovação desta inviabilizaria a indenização à vítima.

A aplicação da responsabilidade objetiva se dá de acordo com os casos previstos em lei, ou quando há desenvolvimento de atividade de risco. O objeto de estudo do presente trabalho trata da responsabilidade civil objetiva do Estado, que constitui uma situação onde o dever de indenizar está expressamente disposto na lei. Ressalta-se que a abordagem da responsabilidade objetiva do Estado, bem como as respectivas teorias, serão profundamente analisadas oportunamente.

Contudo, o estudo da responsabilidade objetiva é necessário para que se possa compreender a responsabilidade estatal de maneira ampla. Acerca do tema, discorre Gonçalves (2010, p. 49):

A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, em determinadas situações, a reparação de um dano cometido sem culpa. Quando isto acontece, diz-se que a responsabilidade é legal ou ‘objetiva’, porque prescinde da culpa e se satisfaz apenas com o dano e o nexo de causalidade. Esta teoria, dita objetiva, ou do risco, tem como postulado que todo dano é indenizável, e deve ser reparado por quem a ele se liga por um nexo de causalidade, independente de culpa. (GONÇALVES, 2010, p. 49)

Como já mencionado, além dos casos previstos em lei, a responsabilidade civil objetiva também se aplica quando o agente exerce alguma atividade de risco. O art. 927, parágrafo único, do Código Civil (BRASIL, 2002) dispõe: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.

Verifica-se, que o causador do dano pode ser responsabilizado, mesmo que seja difícil a comprovação da sua culpa. Venosa (2013, p. 11) ilustra situações em que o mencionado dispositivo legal é aplicado:

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Leva-se em conta o perigo da atividade do causador do dano por sua natureza e pela natureza dos meios adotados. Nesse diapasão poderíamos exemplificar com uma empresa que se dedica a produzir e apresentar espetáculos com fogos de artifício. Ninguém duvida de que o trabalho com pólvora e com explosivos já representa um perigo em si mesmo, ainda que todas as medidas para evitar danos sejam adotadas. (VENOSA, 2013, p. 11)

Além disso, frisa-se também a figura da culpa presumida no âmbito da responsabilidade objetiva. Esta teoria é fundamental para embasar os casos em que a responsabilidade independente de culpa está prevista na legislação, pois indica que é presumível a culpa do agente, salvo se este demonstre que ocorreu alguma excludente aplicável ao caso concreto.

Gonçalves (2010, p. 49) cita, como exemplo de culpa presumida, a hipótese de responsabilização do dono do animal que venha causar dano a outrem. Nesta situação, caso o proprietário do animal não comprovar as excludentes previstas no dispositivo legal específico (culpa exclusiva da vítima ou força maior), será considerado culpado.

Assim, pode-se concluir que a responsabilidade objetiva é aquela que se satisfaz apenas com a comprovação do dano e do nexo causal. Existindo ou não o elemento da culpa, é dispensável a sua comprovação para caracterizar o dever de indenizar do agente.

2.5 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE

Superado o entendimento acerca das espécies de responsabilidade civil, o presente capítulo se encerra com o estudo das excludentes de responsabilidade. Ademais, considerando que o tema em discussão se trata de responsabilidade civil extracontratual, as modalidades de excludentes deste tipo de responsabilidade serão abordadas.

Dessa forma, destaca-se que os tipos de excludentes da responsabilidade são a culpa exclusiva da vítima, o fato de terceiro, o caso fortuito e a força maior. As referidas excludentes são alegadas em defesa, nas ações de responsabilidade civil, pois nestes casos há a ausência de um dos elementos para a caracterização do ato ilícito: a relação de causa e efeito (nexo causal). (NADER, 2010, p. 144).

Contudo, há que se atentar para os casos de excludente da ilicitude. Estes estão elencados no artigo 188, do Código Civil (BRASIL, 2002):

Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o

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tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. (BRASIL, 2002)

Segundo Nader (2010, p. 144), nos casos acima elencados o agente efetivamente causou dano a outrem, porém, está amparado por uma das causas que descaracterizam o ato ilícito.

Desta forma, seguem destacados abaixo os principais aspectos de cada excludente.

2.5.1 Culpa exclusiva da vítima

A denominação desta excludente já sugere o seu significado. No caso de culpa exclusiva da vítima, o agente não concorre para a ocorrência do dano, sendo apenas um instrumento para que este ocorra. Gonçalves (2010, p. 464) traz alguns exemplos acerca do tema:

É o que se dá quando a vítima é atropelada ao atravessar, embriagada, uma estrada em alta velocidade; ou quando o motorista, dirigindo com toda a cautela, vê-se surpreendido pelo ato da vítima que, pretendendo suicidar-se, atira-se sob as rodas de um veículo. Impossível, nestes casos, falar em nexo de causa e efeito entre a conduta do motorista e os ferimentos, ou o falecimento, da vítima. (GONÇALVES, 2010, p. 464)

Aqui, é importante fazer uma ressalva a respeito da culpa concorrente. Neste caso, o agente e a vítima tem a culpa parcial pelo dano sofrido e a indenização é fixada de acordo com a participação da vítima na ocorrência do dano. Com efeito, dispõe o art. 945, do Código Civil (BRASIL, 2002):

Art. 945: Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. (BRASIL, 2002)

Portanto, entende-se que a excludente da responsabilidade pautada na culpa exclusiva da vítima afasta o dever de indenizar do agente, uma vez que a conduta da vítima afeta o nexo causal que associa o autor ao dano.

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2.5.2 Fato de terceiro

Nesta excludente de responsabilidade, o agente, demandado, deve comprovar o nexo causal entre a ação de terceiro e o dano. O que afasta a responsabilidade do agente é a responsabilidade exclusiva de terceiro. Wald (2012, p. 310) ensina:

A participação do terceiro que causa o dano pode ocorre de maneira total ou parcial. Na primeira hipótese, o dano é causado exclusivamente pelo terceiro; na segunda, o terceiro é apenas copartícipe ou elemento concorrente no desfecho prejudicial. Apenas no primeiro caso é que se verifica a eliminação do nexo causal, com a consequente exclusão da responsabilidade civil do agente. Quando a participação do terceiro é parcial e o agente concorre com ele na produção do evento danoso, o agente também deverá compor as perdas e danos. (WALD, 2010, p. 310)

Ademais, Venosa (2013, p. 66) afirma que o agente só será eximido de culpa quando o fato de terceiro constituir em causa estranha à conduta, eliminando, assim, o nexo causal.

Assim, conclui-se que o fato de terceiro somente será considerado como excludente de responsabilidade, quando este for exclusivamente responsável pelo dano causado, estando comprovada a inexistência de nexo de causalidade entre a conduta do agente e o dano.

2.5.3 Caso fortuito e força maior

Caso fortuito e força maior, diante de sua semelhança, serão analisados conjuntamente. Ambos os elementos estão ligados à inevitabilidade ou imprevisibilidade do fato, juntamente com a ausência de culpa do agente.

O parágrafo único do artigo 393 do Código Civil (BRASIL, 2002) traz estes dois elementos, sem distingui-los: “O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir”.

Ainda, considerando que a inevitabilidade e a imprevisibilidade são as características cruciais para determinar a ocorrência do caso fortuito ou força maior, Gonçalves (2010, p. 474) ensina: “o caso fortuito geralmente decorre de fato ou ato alheio à vontade das partes: greve, motim, guerra. Força maior é a derivada de acontecimentos naturais: raio, inundação, terremoto”.

Referências

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