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3 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

3.1.3 Responsabilidade Objetiva

A teoria da responsabilidade objetiva também é denominada de teoria do risco, e está embasada na inexistência do elemento subjetivo, ou seja, não necessita da comprovação de culpa ou dolo para a caracterização da responsabilidade civil do Estado.

De acordo com essa teoria, o Estado responderá pelos danos causados, desde que a vítima comprove o nexo causal entre o fato e o dano ocorrido. Sobre este tema, Spitzcovsky (2013, p. 324) ensina:

[...] sempre que se verificar uma estreita relação entre o fato ocorrido e as consequências por ele provocadas, torna-se possível o acionamento do Estado para a recomposição dos prejuízos, sem a necessidade de comprovação de culpa ou dolo para a caracterização de sua responsabilidade. (SPITZCOVSKY, 2013, p. 324)

Por essa teoria, a obrigação de o Estado indenizar o dano surge, tão só, do ato lesivo de que ele, Estado, foi causador. Não se exige a culpa do agente público nem a culpa do serviço. É suficiente a prova da lesão e de que esta foi causada pelo Estado. A culpa é inferida do fato lesivo, ou, vale dizer, decorrente do risco que a atividade pública gera para os administrados. (GASPARINI, 2011, p. 1.128)

A teoria da responsabilidade civil objetiva comporta três modalidades: a teoria da culpa administrativa, do risco integral, e do risco administrativo, que serão analisadas a seguir.

3.1.3.1 Teoria da culpa administrativa

A teoria da culpa administrativa foi a primeira fase da responsabilidade objetiva, por esta razão, é considerada como o momento de transição da responsabilidade com culpa para a responsabilidade sem culpa. Esta teoria diferencia a culpa do agente da Administração Pública, presente nas teorias já estudadas, e a culpa anônima do serviço público.

Acerca da culpa administrativa, Meirelles (2009, p. 657) ensina:

É o estabelecimento do binômio falta do serviço/culpa da Administração. Já aqui não se indaga da culpa subjetiva do agente administrativo, mas perquire-se a falta objetiva do serviço em si mesmo, como fato gerador da obrigação de indenizar o dano causado a terceiro. Exige-se, também, uma culpa, mas uma culpa especial da Administração, a que se convencionou chamar de culpa administrativa. (MEIRELLES, 2009, p. 657)

De acordo com essa teoria “não se identifica o agente, e sim o fato de o serviço ter funcionado mal, atrasado, ou até mesmo não ter funcionado, incidindo, então, a responsabilidade do Estado” (COSTA, 2012, p. 51).

Oliveira (2013) esclarece a teoria da culpa administrativa:

A partir da consagração da teoria da Faute du service (culpa do serviço ou culpa anônima ou falta do serviço), a responsabilidade civil do Estado dependeria tão somente da comprovação, por parte da vítima, de que o serviço público não funcionou de maneira adequada. Em vez de identificar o agente público culpado (culpa individual), a vítima deveria comprovar a falha do serviço (culpa anônima). (OLIVEIRA, 2013)

Importante ressaltar que a responsabilidade, pela teoria da culpa administrativa, ainda é considerada subjetiva, uma vez que cabe à vítima demonstrar a falta do serviço, ainda que em determinadas situações esta possa ser presumida (ROSA, 2012, p. 132).

Portanto, para caracterizar a responsabilidade civil do Estado nos termos da teoria administrativa, esta deve estar pautada na falta do serviço, que pode constituir-se da ausência do serviço, seu mau funcionamento ou retardamento.

3.1.3.2 Teoria do risco integral

Acerca da teoria do risco integral, Costa (2012, p. 52) afirma: “por essa teoria, o Estado responderá em todas as hipóteses possíveis, inclusive nos casos de força maior, culpa exclusiva da vítima e caso fortuito. A aplicação dessa teoria leva à ideia do Estado como segurador universal”.

Por teoria do risco integral entende-se a que obriga o Estado a indenizar todo e qualquer dano, desde que envolvido no respectivo evento. Não se indaga, portanto, a respeito da culpa da vítima na produção do evento danoso, nem se permite qualquer prova visando elidir essa responsabilidade. Basta, para caracterizar a obrigação de indenizar, o simples envolvimento do Estado no evento. (GASPARINI, 2011, p. 1.128)

Segundo o entendimento de Galante (2010, p. 132), a teoria do risco integral não deve ser aplicada indistintamente, pois se trata de maneira injusta de responsabilizar o Estado. Todavia, informa que esta teoria é aplicada nos casos de danos causados por acidentes nucleares, danos ambientais e ataques terroristas.

Importante ressaltar que o Estado responde pelo danos causados aos administrados, ainda que não tenha sido o responsável por eles, estando apenas envolvido na situação que lhes deu origem. Pelo fato desta teoria entender que o risco do Estado é integral, este não pode invocar sequer as excludentes ou atenuantes da responsabilidade civil, que foram estudadas no capítulo anterior.

Destaca-se que, conforme dispõe Meirelles (2009, p. 658), a teoria do risco integral jamais foi aplicada no ordenamento jurídico brasileiro, pois se trata de uma maneira extremamente radical para atribuir responsabilidade ao Estado, e sua aplicação ao caso concreto poderia gerar graves consequências.

3.1.3.3 Teoria do risco administrativo

A diferença desta teoria para a teoria do risco integral, é que no risco administrativo é possível o Estado comprovar a existência de uma excludente ou atenuante de responsabilidade, para afastar o dever de indenizar.

Conceituando esta teoria, Galante (2010, p. 132) discorre:

Inserida também na responsabilidade objetiva do Estado, há possibilidade de o Estado comprovar causas excludentes para fim de afastar ou atenuar sua responsabilidade no evento danoso, como da culpa exclusiva ou concorrente da vítima, dano decorrente de terceiros, para a doutrina mais clássica, como greve (força maior), ou por eventos da natureza como um vendaval ou temporal (caso fortuito). (GALANTE, 2010, p. 132)

Mazza (2013, p. 343) afirma que a responsabilidade objetiva do Estado é aplicada atualmente, em consonância com a teoria do risco administrativo. Desta forma, o Estado tem o dever de indenizar a vítima quando esta comprovar o fato do serviço, o dano e o nexo causal, contudo, pode alegar uma das excludentes de responsabilidade para que não seja condenada à indenizar, indevidamente, o lesado.

Acerca deste tema, Costa (2012, p. 62) ensina:

Conforme essa teoria o Estado responderá por danos causados a terceiros, independentemente de culpa, exceto nas hipóteses de caso fortuito, força maior e culpa exclusiva da vítima. O Estado responde objetivamente, sendo-lhe assegurada ação de regresso contra o agente público causador do dano. (COSTA, 2012, p. 62)

Ainda segundo o entendimento de Costa (2012 p. 53) a teoria objetiva é adotada no Brasil desde a Constituição Federal de 1946, sendo aperfeiçoada ao longo do tempo.

Assim sendo, de acordo com o texto constitucional atual, a teoria do risco administrativo é aplicada atualmente, consoante o disposto no artigo 37, § 6º da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), já transcrito ao iniciar o desenvolvimento das teorias estudadas.

Expostas todas as teorias da responsabilidade civil do Estado de maneira sucinta, resta informar qual destas teorias é aplicada no Brasil, nos dias de hoje. Por essa razão, informa-se que:

O § 6º do art. 37 da CF seguiu a linha traçada nas Constituições anteriores, e, abandonando a privatística teoria subjetiva da culpa, orientou-se pela doutrina do Direito Público e manteve a responsabilidade civil objetiva da Administração, sob a modalidade do risco administrativo. (MEIRELLES, 200, p. 660)

Disso, conclui-se que a responsabilidade do Estado em nosso ordenamento jurídico, é, via de regra, objetiva. Todavia, existem entendimentos no sentido de que, em alguns casos, a responsabilidade só será configurada com base na responsabilidade subjetiva, o que será estudado oportunamente.

3.2 ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

Quando da análise da responsabilidade civil, foram estudados os seus elementos caracterizadores, quais sejam: ação ou omissão voluntária, culpa e dolo, dano e nexo causal. Os referidos elementos encontram-se dispostos no artigo 186 do Código Civil (BRASIL, 2002), todavia, não são aplicados integralmente à responsabilidade civil do Estado.

Os elementos gerais da responsabilidade civil são de suma importância para o entendimento da responsabilização do Estado, eis que seus conceitos são indispensáveis para a compreensão do disposto no artigo 37, § 6º, da Constituição Federal (BRASIL, 1988).

De acordo com o dispositivo legal acima mencionado:

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. (BRASIL, 1988)

Assim, verifica-se claramente que, para a responsabilização do Estado, deverão estar presentes os elementos da ação ou omissão voluntária, do dano e do nexo causal. Entretanto, o referido artigo não traz o elemento da culpa, razão pela qual, como já observado, a regra aplicada é a da responsabilidade objetiva pela teoria do risco administrativo.

Acerca das pessoas jurídicas de direito público e de direito privado prestadora de serviços públicos, é necessário um estudo doutrinário, a fim de que se possam identificar os sujeitos da responsabilidade civil estatal.

Ainda quanto aos elementos específicos da responsabilidade civil do Estado, fundamental analisar o conceito de agentes públicos, a fim de saber quando estes, no exercício de suas funções ou em razão delas, cometem o ato ilícito ensejador do dever de indenizar.

Além disso, nos casos de responsabilização do Estado, o dano, além dos aspectos gerais já abordados, se configura desde que se apresente com determinadas características.

Dessa forma, para melhor compreensão acerca da responsabilidade civil do Estado, serão analisadas as pessoas jurídicas responsáveis, os agentes públicos e o dano indenizável, elementos específicos do tema em questão.

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