Aula 11
Interface – Parte II
06/07/11
Interface:
Teste de Fragmentação de Filamento
Distorções: diferenças entre as propriedades da matriz e da
fase dispersa;
Deslocamentos axiais desiguais;
Deformações cisalhantes que são produzidas nos planos paralelos
aos eixos dos elementos de reforço;
Distribuição da tensão aplicada: matriz fase dispersa
Interface:
Teste de Fragmentação de Filamento
Um único monofilamento é embebido na matriz e submetido
a um ensaio de tração;
Quando a tensão aplicada sobre a fibra iguala-se ao limite de
resistência à tração da fibra (
c), a fibra se divide em duas
partes;
A aplicação progressiva de carregamento faz com que ocorra
a ruptura do monofilamento em pequenos fragmentos;
O processo continua até atingir um comprimento crítico (l
c), o
comprimento crítico da fibra:
i f f c d l
2 df= diâmetro da fibra 3 i f f c d l
2 c f f i l r
df 2rf 4Interface:
Teste de Fragmentação de Filamento
Mecanismo de transferência de tensão
:
Modelo de Hull
A fibra e a matriz apresentam comportamento elástico;
A interface apresenta espessura infinitesimal;
A adesão entre a fibra e a matriz é perfeita (não há descontinuidade
na interface);
As fibras estão dispostas segundo um arranjo regular;
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R = distância de centro a centro entre as fibras
Deslocamentos axiais desiguais:
)
(u v
H dx
dp
u = deslocamento junto à fibra v = deslocamento junto à matriz
H = constante; depende do módulo de
cisalhamento da matriz (Gm), do diâmetro da fibra e do arranjo geométrico (que estabelece R de centro a centro das fibras)
) ln( 2 f m r R G H
)
(u v
H dx
dp
Uma solução para esta equação diferencial é:
= parâmetro de transferência de tensão
) ln( 2 f m r R G H , como: 2 2
• Condições de contorno para a determinação das constantes C e K: • Fibra de comprimento l;
• x = 0 e em x = l: P = 0 • 0 x l/2
• Tensão de cisalhamento ao longo da interface:
• Equilíbrio de forças cisalhantes e de tração em dx;
• Como a tensão na fibra é dada por:
• Assim, a tensão de cisalhamento na interface, de forma mais completa, para 0 x l/2, será dada por:
0 x l/2
Interface:
Modos de Falha Ligação Fibra/Matriz
A natureza da ligação entre a fibra e a matriz resulta em diferentes modos
de falha:
Dependem da natureza e da intensidade da ligação fibra/matriz; e;
Da resistência mecânica e rigidez relativas da matriz e do reforço;
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A. BRENT STRONG; Fundamental of Composites Manufacturing. Materials, Methods and Applications. Society of Manufacturing Engineers, 2008. A falha pode ocorrer por ruptura
das fibras, mostrando uma interação entre a fibra e a matriz em condição ótima
Ocorre separação entre a fibra e a matriz, como um resultado da quebra da ligação entre a fibra e a matriz (ligação fraca fibra/matriz)
Neste situação a fibra é extraída da matriz; A ligação entre a fibra e a matriz é muito fraca
A matriz transferiu toda a energia para as fibras
A matriz sofre deformação e ocorre falha na ligação fibra matriz; a matriz retorna ao seu estado inicial elasticamente
Praticamente não ocorre transferência de energia da matriz para as fibras
Interfaces em Compósitos
Interface em Compósitos de Matriz Polimérica
(1) Fibras de Vidro;
(2) Fibras Aramida;
(3) Fibras de Polietileno;
(4) Fibras de carbono;
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Interface Matriz Polimérica/Fibra de Vidro
Arranjo atômico e molecular em uma superfície é diferente do que
no interior do material;
Vidros a base sílica: contêm diferentes tipos de óxidos, uma
camada complexa contendo grupos hidroxilas está presente na superfície da fibra;
Óxidos não higroscópicos absorvem água na forma de grupos
hidroxila (OH);
Óxidos higroscópicos absorvem água e se tornam hidratados;
Atividade de uma superfície de vidro é uma função do conteúdo de
grupos hidroxila e de cátion posicionados abaixo da superfície do vidro.
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Vidro
Fibras de vidro tipo-E sofrem tratamento logo após a sua
fabricação;
Tratamento: promover uma proteção contra a ação em condições
ambiente (para manuseio e para minimizar a introdução de defeitos;
Tratamentos:
Amido;
Óleo vegetal hidrogenado;
Gelatina;
Poli(álcool vinílico) – PVA;
Emulsificantes.
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Interface Matriz Polimérica/Fibra de Vidro
O recobrimento aplicado pode ser removido por meio de
tratamento térmico a ~350 oC, na presença de ar;
O material pode então sofrer um novo tratamento superficial:
Compostos organometálicos ou organossilanos, conhecidos
como agentes de compatibilização;
Solução de organossilano é uma das mais utilizadas;
Organossilano:
R-SiX3
R = grupo compatível com a resina;
X = grupo capaz de interagir com os grupos hidroxila presentes na
superfície do vidro;
Geralmente: R = (CH
2)nY 0 < n < 3;
X = grupo hidrolisável;
Y = grupos funcionais orgânicos que são compatíveis com
resina.
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Vidro
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Grupos hidrolisáveis: formação de silanóis intermediários (Si-OH);
Teoria:
Os agentes de compatibilização favorecem a formação de uma “interface” química entre a matriz e a superfície da fibra;
Teoria da “interface” química:
Componentes multifuncionais R-SiX3
X = grupo hidrolisável ligado ao silício (-OCH
2CH3)
R = grupo compatível com a resina
• Formam tri-hidroxi silanols, os quais ligam-se à superfície da fibra de vidro por meio de ligações do tipo hidrogênio;
• Processo de secagem:
• Moléculas de água são removidas e uma reação de condensação ocorre entre o silanol e a superfície da fibra de vidro;
• Também ocorre a reação entre as moléculas de silanol adjacentes, resultando em um processo de polimerização – formação de uma camada de polissilano na superfície da fibra de vidro;
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Vidro
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1. Hidrólise do silano:
R-SiX3 + 3 H2O R-Si(OH)3 + 3 HX
2. Formação das ligações hidrogênio entre os grupos OH do silanol (Si-OH) e a superfície do vidro:
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Vidro
3. Polimerização (reação entre moléculas de silanol adjacentes):
4. Ligação (interação) com a matriz (polímero):
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Vidro
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• Durante o processo de cura ocorre uma contração do polímero; portanto, pode resultar na da intensidade de ligação entre a matriz e fibra;
• No entanto, existem outras teorias para explicar o mecanismo de ligação na interface fibra/matriz quando o mecanismo de “interação” química é considerado;
• O modelo da ligação reversível é um aperfeiçoamento do modelo de “interação” química;
• Modelo da Ligação Reversível:
• O processamento de compósitos de matriz polimérica envolve um processo de encolhimento da matriz durante a cura;
• O material permanece praticamente como em seu estado inicial;
• Este processo de encolhimento resulta na presença de tensões no compósito, principalmente na interface matriz/reforço:
• Coeficiente de expansão térmica: 5x10-6 K-1 (vidro);
50-100 K-1 (polímero).
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Vidro
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• Modelo da Ligação Reversível:
• Superfícies de vidro limpas, em condições normais, rapidamente absorvem moléculas de água;
• Compósitos: estas moléculas de água pode chegar até a interface fibra/matriz por meio de difusão através do polímero, penetração através de microtrincas ou por efeitos de migração capilar através das fibras;
• Fibras de caráter hidrofóbico, tais como carbeto de silício e carbono, são menos sensíveis à presença de água;
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Vidro
• Modelo da Ligação Reversível:
• Ligação hidrolítica reversível na interface; -M-OH; M = Si, Al, Fe, etc.
• Equilíbrio dinâmico na interface requer a presença de moléculas de água, o que resulta em um processo de relaxação das tensões decorrentes de efeitos térmicos durante o processamento do compósito;
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Vidro
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• Modelo da Ligação Reversível:
• Na presença de água a ligação M-O sofre hidrólise, resultando no estabelecimento de um equilíbrio dinâmico na interface fibra de vidro/matriz polimérica;
• Sob condições e cisalhamento, as fases polímero (matriz) e fibra (vidro) podem mover-se uma em relação à outra sem a quebra da ligação (química, na interface);
• Este processo somente pode ocorrer na presença de água.
• Modelo da Ligação Reversível: • Hidrólise na presença de água:
• Cisalhamento na interface fibra de vidro/polímero:
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Vidro
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• Muitos polímeros apresentam baixa adesão em superfícies aramida;
• Este comportamento é evidenciado por baixas tensões de
cisalhamento interfacial (i) e por baixas tensões na direção
transversal obtidas com estas fibras em matrizes poliméricas; • Geralmente, a força de ligação interfacial de compósito fibra
aramida/epóxi é a metade do obtido em compósitos do tipo fibra de vidro/epóxi e fibra de carbono/epóxi;
Interface Matriz Polimérica/Fibra Aramida
• Esta baixa adesão na interface é uma consequência da microestrutura:
• Apresenta cadeias poliméricas altamente orientadas na superfície da fibra;
• Heterogeneidade do sistema superfície/caroço (interior da fibra), o que resulta em uma fraca interação superficial; • No entanto, esta situação é uma vantagem em aplicações de
compósitos resistentes ao impacto, tais como capacete a armaduras, onde a delaminação seja uma propriedade de interesse.
Interface Matriz Polimérica/Fibra Aramida
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• Tratamentos superficiais de fibras aramida:
• Tratamento com água de bromo (Br2(aq)) – redução da
resistência mecânica da fibra; • Tratamento com silanos;
• Tratamento químico reativo (H2SO4, anidrido de ácido
acético, etc.) – diminuição da resistência à atração devido à efeitos corrosivos (erosão superficial);
• Tratamento com ácidos e bases fortes (HCl, H2SO4, NaOH),
o que resulta na hidrólise da estrutura aramida – formação de grupos funcionais aminos, aos quais grupos diepóxidos podem ligar-se;
• Tratamento por plasma (argônio, amônia).
• Fibras de polietileno de ultra-massa molar (UHMWPE) é um material quimicamente inerte, apresentando baixa adesão à matrizes poliméricas;
• Fibras de polietileno de alto módulo elástico são difíceis de interagir (baixa adesão) com superfícies poliméricas (matriz); • Estas fibras recebem um tratamento para uso com resinas com
matrizes poliméricas epóxi: o método mais utilizado é tratamento por meio do uso de plasma a frio (ar, amônia, argônio):
• Remove impurezas (contaminantes) e as camadas altamente orientadas da superfície;
• Adiciona grupos funcionais polares na superfície; • Aumenta a rugosidade da fibra.
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Polietileno
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• Todos estes fatores contribuem para o aumento da força de ligação interfacial fibra/matriz;
• Exposição ao plasma é feito em alguns minutos (curto intervalo de tempo);
• Método mais utilizado: combinação de tratamento químico com ácido crômico e erosão por plasma na presença de oxigênio
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Polietileno
• Fibras de carbono são altamente inertes;
• Oxidação ou erosão na presença de um ácido: aumento da área superficial específica e um aumento do efeito de ligação
mecânica;
• Na superfície, os planos basais estão alinhados paralelamente à superfície. Esta camada grafítica é plana, resultando em uma baixa tensão de cisalhamento interfacial, dificultando sua ligação à matriz polimérica.
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Carbono
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• Tratamentos superficiais empregados: • Aumento da rugosidade da superfície; • Aumento da reatividade superficial; • Fibra de carbono:
• Superfície altamente orientada; • Tratamento final (opcional):
• Facilitar sua manipulação;
• PVA (poli(ácool vinílico)), epóxi, poliamida, agentes de compatibilização a base de titânio.
KRISHAN K. CHAWLA; Composite Materials: science and engineering; 2nd ed. New York: Springer, 1998
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• Métodos utilizados: • CVD:
• SiC e carbono pirolítico;
• Whiskers são depositados na superfície da fibra de carbono, resultando em uma aumento da tensão de cisalhamento interlamelar de 2-3 vezes;
• Whiskers são depositados perpendicularmente à superfície da fibra;
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Carbono
• Métodos utilizados:
• Erosão Oxidativa (Etching): • Aumento da área superficial;
• Aumento da presença de grupos funcionais;
• Remoção de poros, resíduos de carbono fracamente ligados e impurezas;
• Tratamento oxidativo pode ser feito em fase gasosa ou em fase líquida - oxidação excessiva pode resultar em
deterioração das propriedades mecânicas.
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Carbono
• O máximo de tensão de cisalhamento interlaminar é alcançado com 10 % de perda de massa em ambos os casos, fibras A e B.
KRISHAN K. CHAWLA; Composite Materials: science and engineering; 2nd ed. New York: Springer, 1998
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• Oxidação em Fase Líquida:
• Tratamento com HNO3, NaOCl (hipoclorito de sódio),
permanganato de potássio e oxidação anódica – aumento de grupos funcionais oxigenados, resultando em uma melhora da molhabilidade destas fibras por polímeros;
• Oxidação eletroquímica (ou erosão anódica) é realizada na presença de ácido nítrico diluído ou soluções diluídas de NaOH:
• Não ocorre perda da resistência à tração; • A perda de massa é da ordem de 2 %;
• Aumento da presença de grupos funcionais (ácidos carboxílicos, aldeídos, C=O).
Interface Matriz Polimérica/Fibra de Carbono
• Melhorando as propriedades de adesão a resinas epóxi – estratégia combinada:
Tratamento superficial para remover as camadas fracamente ligadas à fibra;
Adição de grupos químicos à superfície de forma a melhorar as interação com a matriz;
• Quantidade de grupamentos amina é reduzido, resultando em um aumento do módulo de elasticidade da matriz epóxi e uma
diminuição na rigidez.