A base química do aroma:
origem e evolução dos
compostos responsáveis pelos
aromas do vinho
Xavier Arioli
Diferentes compostos para
Diferentes perfis aromáticos
A importância de melhor
compreender os fenómenos em jogo
Sources: King et al. 2008 extrait du cahier Lallemand n°16 «Sulphur compounds, production and sensory impact on wine»
Vinho 3
Caracterizado por notas de buxo frescoVinho 4
Caracterizado por notas de citrinosTrês questões para melhor
compreender este tema:
Quais são os compostos aromáticos dos
vinhos ?
Qual a sua origem e qual a sua
evolução?
Quais são os mecanismos que regulam
Mais comment procéder pour «ranger»
les composés aromatiques ?
Abordagem em função da
sua natureza química:
álcoois, aldeídos,
ésteres…
Abordagem em função do
seu impacto aromático:
notas de morango, de
baunilha, de rosa…
Abordagem em função da
sua evolução desde a
vindima até ao consumo do
vinho:
Moléculas da uva que
permanecem intactas ou
que sofrem
transformações…
Abordagem em função da
sua origem: compostos
varietais, compostos
fermentativos, compostos
ligados à maturação do
vinho…
Abordagem em função da origem
dos constituintes do aroma
Compostos primários da uva
Compostos secundários da uva
Compostos fermentativos (fermentação
alcoólica e fermentação maloláctica)
Compostos ligados à conservação do
Parte 1 : os compostos
primários da uva
ou compostos formados no
interior das células da uva
Duas grandes familias de compostos
volátéis da casta
As metoxipirazinas
Os terpenos
Aromas típicos do
Cabernet Sauvignon
• IBMP
• IPMP
•
2-metoxi-3-S-butil-pirazina
Aromas típicos dos
moscatéis e de outras
castas aromáticas
como Gewürstraminer
• linalol
• geraniol
A
A
mol
mol
é
é
cula
cula
mais
mais
conhecida
conhecida
da
da
familia
familia
das
das
pirazinas
pirazinas
: a 3
: a 3
-
-
isobutil
isobutil
--
2
2
-
-
metoxipirazina
metoxipirazina
N
N
OCH
3
R
=CH
2
CH(CH
3
)
2
Fórmula semi-desenvolvidaIBMP
IBMP
é
é
repons
repons
á
á
vel
vel
por
por
notas
notas
herb
herb
á
á
ceas
ceas
,
,
mas
mas
tamb
tamb
é
é
m
m
conhecida
conhecida
como
como
indicador
indicador
de
de
qualidade
qualidade
Aroma de pimento verde
Limiar de detecção:
2 a 8 ng/L vinhos brancos
2 a 16 ng/L vinhos tintos
Os terpenos associados a
aromas florais
Típicos de algumas castas (moscatel de
Alexandria,…)
Várias moléculas envolvidas
Possibilidade de modular a
presença de terpenos nos vinhos
Na vinha, através das práticas culturais
Utilizando leveduras que revelem estes
aromas
Utilizando actividades enzimáticas
Parte 2 : os compostos
secundários das uvas
ou compostos da uva modificados de
acordo com protocolo de vinificação
Álcoois e aldeídos com 6 átomos de
carbono responsáveis pelas notas
herbáceas
O
H
Exemplo : o hexanol
Segundo « Traité d’Œnologie », Dunod T2
C
C
C
C
C
C
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
Os aromas herbáceos
originados pela trituração
Aromas de folhas
triturada, de erva cortada
Compostos responsáveis:
hexanol,…
Limiar de detectção de
apenas algumas µg/L
Conferem igualmente
sensações amargas
Forma
Forma
ç
ç
ão
ão
dos
dos
compostos
compostos
em
em
C
C
6
6
por
por
via
via
enzim
enzim
á
á
tica
tica
Lípidos membranares
Acil hydrolase
Ácido linoleico
Ácido linolénico
Hexanal
Hexanol
(E)-Hex-2-enal
(Z)-Hex-3-enal
(E)-Hex-2-ene-1-ol (Z)-Hex-3-ene-1-ol
C18:2 9-LOOH C18:2 13-LOOH C18:3 13-LOOH C18:3 9-LOOH
Lipoxigenase
Álcool desidrogenase
Enzima de clivagem dos hidroperóxidos
(Valentin G., 1993) CH3-(CH2)4-CH2OH
Papel dos precursores
aromáticos: o exemplo dos
precursores glicosilados
Açúcar Açúcar Açúcar aglicona Precursor glicosilado (tipo
terpenos, norisoprenoides em C13, …) presentes na uva
Corte da ligação entre a aglicona e o(s) açúcar(es)
Molécula odorífera
Susceptível de contribuir para o perfil do vinho, consoante o seu teor Exemplos de norisoprenóides β-damascenona β -ionona TDN Framboesa Violeta Hidrocarboneto Limiar Composto Descritor 50 ng/L ? 20 µg/L
O
SH
4-methyl-4-mercaptopentan-2-one
Importância dos tióis varietais na
expressão do carácter frutado e
vegetal
SH OH 3-mercaptohexanol O O SH 3-mercaptohexyl acetateComposto Origem Descritores
Buxo Cassis Xixi de gato Limiar 0,6 ng/L (mais baixo que o TCA) Fruitos tropicais Maracujá Manga Vegetal e frutado (nota intermediária) 60 ng/L 4 ng/L a partir do 3MH
Parte 3 : os compostos
fermentativos
ou compostos formados pelas leveduras
fermentativas e as bactérias lácticas.
Produção de compostos aromáticos pela levedura apartir de
açúcares, aminoácidos e do metabolismo do enxofre
Açúcares Açúcares Glicerol Glicerol Piruvato Acetil CoA Ácido gordo CoA Ácidos gordos Ácidos gordos Mono terpenos Mono terpenos Acido acético Etanal Etanol Ácido acético Etanol Etanal Ciclo ácidos tricarboxílicos Ceto-ácidos Aldeídos Alcools supérieur s Ésteres Ésteres Álcoois superiores Aldeídos Ácido succínico Ceto-ácidos α-Acetolactato Diacetilo Diacetilo Amino-ácidos Ácidos aminés Proteínas da levedura Sulfato Sulfito H2S Compostos aromáticos Glico-conjugados Cisteína-conjugados Polifenóis
Segundo Hentie Swiegers et coll., AWRI 2005
Papel da levedura na formação ou
desenvolvimento de diferentes notas
aromáticas
METABOLISMO
DOS AÇÚCARES
METABOLISMO
DOS
COMPOSTOS
AZOTADOS
INTERACÇÃO
COM OS
PRECURSORES
Álcoois superiores
Ácidos gordos
Ésteres
Comp. carbonílicos
Comp. de enxofre
Álcoois superiores
Ésteres
H
2S
Tióis
Monoterpenos
Composés
glicosilados
(monoterpenos e
norisoprenoides)
S-conjugados à
cisteína
Forma
Forma
ç
ç
ão
ão
de
de
acetato
acetato
de
de
etilo
etilo
e de
e de
acetato
acetato
de
de
isoamilo
isoamilo
pelas
pelas
leveduras
leveduras
fermentativas
fermentativas
Segundo Hentie Swiegers et coll., AWRI 2005 Glicólise Piruvato Acetaldeído Etanol Acetato Acetatill-CoA Isoamyl alcool Acetato de etilo Acetato de isoamilo Coenzima A Coenzima A α-Acetolactato α-ceto-isovalerato Coenzima A α-ceto-isovalerato L-leucina Isovaleraldeído
Síntese de ésteres pela levedura
Saccharomyces cerevisiae
Acetatos de álcoois
superiores
Ésteres etílicos de ácidos
gordos
Acetato de isoamilo
Acetato de hexilo
Acetato de isobutilo
Acetato de feniletilo
Butirato de etilo
Hexanoato de etilo
Octanoato de etilo
Decanoato de etilo
Responsáveis por notas do tipo « frutado »
Biosíntese dos álcoois superiores pela
levedura em vinificação
n-propil-álcool
α,β –dihidroxi β – metil valerato
Segundo Hentie Swiegers et coll., AWRI 2005 α,β –dihidroxi isovalerato α-acetolactato α-aceto-hidroxibutirato TPP-C2 C=O COOH CH CH3 H2C CH3 α-ceto-β-metil valerato α-ceto-isovalérato H2C CH3 CH C=O COOH COOH C=O CH2 CH3 α-cetobutirato +/-NH3 HOOC NH3 CH CH2 CH3 treonina homoserina aspartato Ciclo dos ATC +/-NH3 pyruvate CH3 C=O COOH Glicólise n-propan-aldeído + CO2 CH2OH (NAD+) CH2 CH3 Isobutir-aldeído + CO2 CH2OH CH CH3 H3C α-amino-butirato Álcool isobutílico isoleucina +/-NH3 β – metilbutiraldeído +CO2 (NAD+) CH2OH CH H2C CH3 CH3 Álcool amílico activo leucina β-carboxi-β- hidroxi-isocaproato + CoA Acetil CoA valina +/-NH3 α -carboxi-β- hidroxi-isocaproato (NADP+) COOH C=O CH2 +/-NH 3 CH CH3 H3C α -cetoisocaproato CO2 + isovaleraldeído (NAD+) CH2OH CH2 CH CH3 H3C Álcool isoamílico
Lista de alguns compostos de enxofre « leves » envolvidos nos
aromas de redução
D ’après Ribéreau-Gayon et al., 1998
.
Síntese de compostos de enxofre pela
levedura ao longo da FA
46 2,4 1,7 Goma elástica Dissulfureto de carbono 35 2 1,4 marmelo, trufa 5 Sulfureto de dimetilo 0 0,7 0,3 0,4 [ ] vinho normal µg/L 35 10,8 cebola 0,1 Etanotiol 6 5,1 croupi 0,3 Metanotiol -61 16,3 Ovos podres 0,8 Sulfureto de hidrogénio -50 0,7 etéreo Sulfureto de carbonilo Ponto de ebulição [ ] vinho reduzido µg/L Descritores Limiar de percepção COMPOSTOCaso particular do metionol: atenção
aos teores mais elevados
Aromas de couve-flor e
batata
Composto responsável:
3-metiltiopropanol
Limiar de percepção:
1200 µg/L
Responsável, igualmente,
Aromas fermentativos do tipo
láctico: moléculas, aromas,
limiares
COMPOSTO
Diacetilo Lactato
de etilo Acetoína Butanodiol Pentanediona
AROMA Manteiga, avelã Leite azedo Manteiga, caramelo Vegetal Manteiga, caramelo LIMIAR DE IDENTIFICAÇÃO (mg/L) 1 150 20-200* 500-1000* 1 à >10* * Dados Intelli’oeno
Parte 4 : os compostos ligados à
conservação do vinho
ou compostos ligados às condições e
duração da maturação do vinho
Os compostos extractíveis da madeira
responsáveis por diversas notas aromáticas
whiskylactonas
Fenóis
voláteis
Compostos
«baunilhados»
Cis
β-metil-octolactona
Trans
β-metil-octolactona
Guaiacol
Eugenol
Cresois
2,6-dimetoxifenolEtc
Vanilina
Acetovanilina
Vanilato de
metilo
Vanilato de etilo
Notas
aromáticas:
Coco
Notas
aromáticas:
Fumado,
cravinho,…
Notas
aromáticas:
baunilha
Furfuriltiol
Furfuriltiol
Notas
aromáticas:
Café, pão
torrado,
« tostado »
Evolução oxidativa dos vinhos:
um fenómeno inevitável
ACETALDEÍDO
SOTOLON
METIONAL
FENILACETALDEÍDO
AMINOCETOFENONA
Exemplo do sotolon, uma molécula
indicadora da evolução oxidativa
Odor : caril, noz verde
Limiar de percepção : 20µg/L
Mecanismo de formação :
Metabolismo das leveduras de véu em vinho
jovem, Xerez (leveduras do tipo
Saccharomyces)
Encontrado em grande quantidade em vinhos elaborados com
leveduras de véu, o sotolon é, por exemplo, encontrado nos velhos
vinhos de Champagne
Outro exemplo: o fenilacetaldeído
Odor : marmelo, mel, flores mortas,…
Limiar de percepção : 100 µg/L
Mecanismo de formação : a priori oxidação do
fenil-2-etanol
(molécula fermentativa bem conhecida
– produzida pelas leveduras criófilas – aroma de rosa
que contribui para a fineza aromática)
Parte 5 : o caso particular das
contaminações, desvios e
Exemplo da contaminação das uvas:
GMT e ACP
* Dados Intelli’oeno
** Algumas pessoas são anósmicas COMPOSTO o-cresol (µg/L) 1-octeno-3-ona (ng/L) Geosmina (ng/L) MIB (ng/L) IPMP (ng/L) ODOR iodo Cogumelo fresco Terroso, Beterraba vermelha Terroso, bolor Terroso, vegetal LIMITE DE IDENTIFICAÇÃO 50-500* 20-50* 30-60** 30** 2
Exemplo de desvio em vinho: os
compostos produzidos pelas leveduras
Brettanomyces
Ácido p-cumárico
Ácido ferrúlico
Ácido caféico
4-vinil-fenol
4-vinil-guaiacol
4-vinil-catecol
4-etil-fenol
4-etil-guaiacol
4-etil-catecol
Mas também:
Ácido acético
Acetato de etilo
Ácidos gordos
de cadeia curta
Exemplo de poluição: os gostos
de plástico
O estireno é conhecido há muito tempo
Novas moléculas impactantes – o 2,6 –
diclorofenol (2,6-DCP) e o 6-cloro-o-cresol
(6CC)
Parte 6 : mecanismos da
Classificação dos aromas
realmente activos
1.
1.
Compostos
Compostos
da base arom
da base arom
á
á
tica (
tica (
tampão
tampão
)
)
–
–
Percebidos
Percebidos
como
como
uma
uma
unidade
unidade
global dif
global dif
í
í
cil de romper
cil de romper
2.
2.
Compostos
Compostos
impacto
impacto
ou
ou
muito
muito
activos
activos
–
–
Que
Que
transmitem
transmitem
os
os
seus
seus
aromas espec
aromas espec
í
í
ficos
ficos
ou
ou
caracter
caracter
í
í
sticas
sticas
a
a
certos
certos
vinhos
vinhos
3.
3.
Familias
Familias
ou
ou
grupos de
grupos de
compostos
compostos
impacto
impacto
–
–
Podem
Podem
transmitir as notas caracter
transmitir as notas caracter
í
í
sticas da
sticas da
sua
sua
“
“
fam
fam
í
í
lia
lia
”
”
4.
4.
Compostos
Compostos
ou
ou
fam
fam
í
í
lias
lias
ditas
ditas
subtis
subtis
–
–
Contribuem
Contribuem
como
como
seu
seu
aroma a para
aroma a para
uma
uma
nota arom
nota arom
á
á
tica
tica
5.
5.
Defeitos
Defeitos
ou
ou
desvios
desvios
Segundo Vicente Ferreira, Laboratório de Análise do Aroma e de Enologia (Departamento de Química Analítica, Universidade de Saragoça)
Reveladores e amplificadores
do perfil frutado dos vinhos
Seis moléculas têm a capacidade de desempenhar este papel: a
β-damascenona, a β-ionona, o DMS, o furaneol, o homofuraneol e o
metional
Mistura de
ésteres
frutados
Segundo Escudero et al, 2007 (J. Agric. Food Chem.)
Em água
Em solução
hidroalcoólica
Em vinho
Frutos do
bosque
++
Efeito
0
“Amplificad or 1”Aroma de
maçã
+++
Cereja,
uva passa
++
Nota
frutada
+
“Amplificador 2”Efeito
0
Frutos do
bosque
++
“Amplificador 3”Parte 6 : Influência dos parâmetros
viticolas e enológicos sobre o perfil
Importancia da casta sobre o
perfil aromático
Influência directa devido aos aromas
varietais
Diferenciação varietal através dos
precursores aromáticos
Incidência da composição das uvas em
Variabilidade das quantidades de
precursores aromáticos de acordo com
a casta
Fontes: Hernanez-Orte et coll. 2008. WAC 2008, « Aroma compounsed released from glycosidic precursors present in vine leaves from spanish cultivars »
Incidência das operações pré-fermentativas
sobre a qualidade olfactiva do vinho
0 500 1000 1500 2000 2500 50 100 150 200 250 Metionol (µg/L)
Segundo V. Lavigne, Faculté d’œnologie de Bordeaux
Condições de síntese dos acetatos e dos
ésteres etílicos de ácidos gordos na levedura
Levedura
Condições de
fermentação
Protocolo
tecnológico
Utilização de
estirpes
específicas
- Anaérobiose
- Manutenção de
uma temperatura
baixa e estável
- Adição moderada
de fosfato de
diamónio
- Escolha da casta
- Boa maturação
- Clarificação
(turbidez < 200 NTU)
- MP
- Cuvaison curta
- Maceração
carbónica
Favorecer a expressão
aromática dos tióis varietais
Notas
típicas
1. Aumentar a riqueza dos precursores nas uvas 2. Modular a extracção dos precursores no mosto 3. Melhorar a transformação em aromas ao longo da FA 4. Preservar a conservação dos tióis varietaisConferir o carácter
«amanteigado» através da
gestão do diacetilo
PROCURA DE NOTAS AMANTEIGADAS (Chardonnay
barrica):
– Estirpe de bactérias citrato +
– Favorecer a multiplicação bacteriana (inoculação tipo « Champagne », pé-de-cuba)
– FML a baixa temepratura
– Filtração após o final da FML, maturação das borras à parte, reincorporação final do vinho de borras maturadas (sem as paredes de levedura - filtação)
PROCURA DE NOTAS FRUTADAS :
– Estirpe de bactérias citrato
– FML inoculada com bastante biomassa (directa) e estirpe citrato -– FML mais rápida (22-23°C)
Factores que influenciam a riqueza do
vinho em compostos extractíveis da
madeira
Origem botânica
Origem geográfica
Tratamentos prévios da madeira
As condições de utilização
Conclusões para as 3 questões
iniciais:
Quais são os compostos aromáticos dos vinhos ?
São bastante numerosos, e novos conhecimentos são
obtidos a cada dia (exemplo: rotundona)
Qual a sua origem e qual a sua evolução?
Origem diversas e evoluções múltiplas. Apesar de tudo, os
avanços sobre este tema são numerosos e permitem já
conhecer numerosos fenómenos.