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De vivências ambientais ao etnoconhecimento : o resgate da memória de moradores das comunidades do entorno da unidade de conservação Mata do Junco, Capela/SE

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE. Mayra Cristina Lima Oliveira. DE VIVÊNCIAS AMBIENTAIS AO ETNOCONHECIMENTO: O RESGATE DA MEMÓRIA DE MORADORES DAS COMUNIDADES DO ENTORNO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO MATA DO JUNCO, CAPELA/SE.. São Cristóvão 2011.

(2) Mayra Cristina Lima Oliveira. DE VIVÊNCIAS AMBIENTAIS AO ETNOCONHECIMENTO: O RESGATE DA MEMÓRIA DE MORADORES DAS COMUNIDADES DO ENTORNO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO MATA DO JUNCO, CAPELA/SE.. Dissertação de Mestrado apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Orientadora: Profª. Drª. Rosemeri Melo e Souza. São Cristóvão 2011.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. O48d. Oliveira, Mayra Cristina Lima De vivências ambientais ao etnoconhecimento : o resgate da memória de moradores das comunidades do entorno da unidade de conservação Mata do Junco, Capela/SE / Mayra Cristina Lima Oliveira. – São Cristóvão, 2011. 106 f. : il.. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal de Sergipe, 2011.. Orientadora: Profª Drª Rosemeri Melo e Souza. 1. Etnoconhecimento. 2. Educação ambiental. 3. Homem – Influência sobre a natureza. 4. Conservação de reservas naturais – Sergipe. 5. Mata do Junco (SE). I. Título. CDU 502.1(813.7).

(4) DE VIVÊNCIAS AMBIENTAIS AO ETNOCONHECIMENTO: O RESGATE DA MEMÓRIA DE MORADORES DAS COMUNIDADES DO ENTORNO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO MATA DO JUNCO, CAPELA/SE.. Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre, no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade do Federal de Sergipe.. Aprovada em. /. /. _.. BANCA EXAMINADORA. ___________________________________________________ Profª Drª Rosemeri Melo e Souza – Orientadora. ___________________________________________________ Profª. Drª. Heike Schmitz – DED/UFS. ___________________________________________________ Prof. D. Ajibola Isau Badiru - PRODEMA/UFS.

(5) Este exemplar corresponde a versão final da Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente.. ________________________________________________ Mayra Cristina Lima Oliveira Universidade Federal de Sergipe. ________________________________________________ Profª Drª Rosemeri Melo e Souza – Orientadora Universidade Federal de Sergipe.

(6) É concedida ao Núcleo responsável pelo Mestrado em Desenvolvimento e Meio ambiente da Universidade Federal de Sergipe permissão para disponibilizar, reproduzir cópias desta dissertação e emprestar ou vender tais cópias. __________________________________________ Mayra Cristina Lima Oliveira - Autora Universidade Federal de Sergipe. ___________________________________________ Profª Drª Rosemeri Melo e Souza- Orientadora Universidade Federal de Sergipe.

(7) Dedicatória Dedico este trabalho aos meus pais, Marion e a Neusa, por sonharem comigo..

(8) AGRADECIMENTOS Não posso ficar sem registrar aqui o quão difícil é a vida acadêmica de um mestrando: prazos, leituras, incertezas... E, aqui registro o que fiz por dias e a quem devo este trabalho pronto. A Você, que me sustentou em todos os instantes até mesmo nos que eu não te procurava, e pensava que seria capaz de fazer tudo sozinha e segundo a minha vontade. Meu Senhor, meu Deus é a você que agradeço infinitamente, ―Porque sem Ti, eu não estaria aqui‖. Obrigada por me sustentar, obrigada por me guiar, obrigada por cada leitura, conversa, orientação... Eu vejo a sua mão agindo, obrigada por em inúmeros momentos me levantar e me mostrar o quanto sou capaz ao Seu lado. Estou aqui para cumprir seus propósitos. OBRIGADA MEU DEUS, porque ―Toda glória, toda vitória pertence a Ti. Toda honra, todo louvor entrego a Ti, porque sem Ti eu não estaria aqui‖ (Ministério Diante do Trono). Agradeço à minha querida orientadora, Profª. Drª. Rose por iluminar meu caminho com as suas orientações, seus ensinamentos, sua amizade, além de ser um exemplo do profissionalismo e dedicação em tudo que faz. Por me fazer crescer como pessoa e profissional. MUITO OBRIGADA! E ao GEOPLAN, por ajudar a construir o meu ser e estar ao meu lado em tudo que faço. Essa família que enche meu coração de orgulho! Ao PRODEMA e suas doces secretárias, pela atenção e socorro! Em especial a Coordenadora Prof. Drª. Maria José, pelo seu coração de mãe e por me acalentar com seu olhar sincero. À turma 2010, em especial a Carlinha, Chris e Sindy que fizeram o meu mestrado ser mais prazeroso além de segurarem minha mão e me ensinarem a dar passos firmes. Também agradeço a todos os professores que fazem parte do PRODEMA, dos quais levo o conhecimento onde eu for. Agradeço também à minha amiga Anízia, por me ajudar, me acalmar e ser uma irmã! Ao Professor D. Ajibola Badiru, pelos seus ensinamentos de vida, por me guiar e me instruir como se faz o conhecimento. Obrigada por ter proporcionado momentos inesquecíveis nessa minha caminhada. À minha mãezinha linda, Neusa Cristina, por chorar comigo e me ajudar além das coisas que estão ao seu alcance. Painho, Marion Oliveira, obrigada por seu olhar de amor e.

(9) atenção ao ouvir meus sonhos. Ao meu irmão, Mayron, com seu jeito particular de mostrar o quanto está ao meu lado. E minha amiga-irmã, Claudiréia, por me sentir tão forte e assim chegar no momento em que eu mais preciso. Ao meu amor, Luís Ricardo, por suprir minhas necessidades, ir além das minhas expectativas e assim, completar o meu ser. Essa dissertação é o que é por seu apoio e compreensão. Amo-te! Ao meu sogro, Sr. Augusto, por me socorrer com sua rica biblioteca, além das nossas conversas, suas orientações e tamanha atenção. E assim agradeço a todos dessa família que ganhei e que plantam sorrisos em mim. Aos meus coautores, agradeço infinitamente, por me receberem com tamanho entusiasmo, atenção e verdade. Meu eterno obrigado! Por fim, agradeço ao DAAD pelo apoio preciso e indispensável, concedido através do suporte financeiro diante o Mestrado..

(10) RESUMO O objetivo geral desta pesquisa consiste em analisar as vivências dos moradores das comunidades do entorno da Unidade de Conservação Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco, Capela/SE. O método consiste nas quatro etapas seguintes: codificação da situação e condições reais; projeção da representação dos conhecimentos adquiridos; experiência da distanciação, refletindo de modo crítico, para descodificar a realidade objetivada; e, descodificação do conhecimento, estabelecendo nível crítico-reflexivo. Cinco análises apresentam uma abordagem integrada na qual os relatos da memória são pertinentes à expansão e a espacialização do conhecimento, através de quatro eixos temáticos: interação, participação, força e vontade. Foi possível perceber que vários contextos questionados sobre a vivência dos coautores com a Mata formam ampla tessitura que convergem nos fatores: econômico, social, político e físico/pessoal. Estas temáticas se integram no enquadramento da memória individual que serviu de base para a construção geral do etnoconhecimento. Tais memórias, em seus relatos, apresentam saberes ambientais, em que os entrevistados são considerados coautores por serem líderes e portadores de conhecimentos notórios. As relações humanas, através dos líderes, mostram o exercício e experiência da vivência no entorno do RVS Mata do Junco. No espaço limitado, as relações resultam de um conjunto de realidades históricas que envolveram respeito pelo meio ambiente, preservação dos recursos ambientais e a manifestação de movimentos sociais, sendo o mais marcante, o movimento sem terra MST. Avaliando-se da realidade vivenciada no entorno da Mata do Junco, os resultados revelam os relatos, a memória e os espaços das vivências ambientais, considerando o etnoconhecimento. Conclui-se que as vivências ambientais e o etnoconhecimento estão diretamente ligados e aprofundados a realidade dos coautores dessa pesquisa e que o exercício do etnoconhecimento pode ocorrer pela consciência do homem em sua posição atual, por meio da rearticulação de memórias individuais.. PALAVRAS-CHAVE: Etnoconhecimento, consciência individual, espaço comunitário, Unidade de Conservação, Educação Ambiental..

(11) ABSTRACT. This research aims to analyse the experiences of residents of communities located in the surroundings of the conservation area ―Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco‖, in Capela/ Sergipe. The method consists in four stages: encoding of the actual situation and its conditions; projection of the representation of the acquired knowledge; experience of distancing, which reflects a critical way to decode the objectified reality and, the decoding of knowledge, which establishes a critical/reflexive level. Five analysis had an integrated approach in which the reports are relevant to the expansion memory and the spatialization of knowledge through four thematic areas: interaction, participation, strength and will. It was possible to realize that various contexts asked about the experience of co-authors with wide the "Mata" form a wide organization that converge in economic, social, political, physical and personnel factors. These themes fit into the framework of individual memory that served as the basis for the general construction of ethnoknowledge. Such memories, on its reports, demonstrated environmental knowledge, in which respondents are considered co-authors for being leaders and carriers of notorious knowledge. The human relations, through the leaders, show the exercise and experience of living in the vicinity of "RVS Mata do Junco". In the limited space, the relationships are the result of a set of historical realities involving respect for the environment, preservation of environmental resources and expressions of social movements, such as the most striking one, "Movimento Sem-Terra (MST)". Evaluating the reality experienced in the surroundings of "Mata do Junco", the results present the reports, the memory and the spaces of environmental experiences, considering the ethnoknowledge. It is concluded that the environmental experiences and ethnoknowledge are directly linked to the coauthors' reality of this research and that the exercise of ethnoknowledge may occur by the consciousness of man in his current position, through the reorganization of individual memories.. KEYWORDS: Ethnoknowledge, individual consciousness, community space, conservation areas, environmental education..

(12) SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS..................................................................................................xiv LISTA DE QUADROS..................................................................................................xv LISTA DE SIGLAS......................................................................................................xiv 1.. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 34. 1.1.. O PROBLEMA E AS QUESTÕES NORTEADORAS .................................. 20. 1.2.. OBJETIVOS ........................................................................................................ 21. Objetivo geral ................................................................................................................ 21 Objetivos específicos ..................................................................................................... 21 2. CATEGORIAS DO CONHECIMENTO NA TESSITURA DA PESQUISA ..... 22 2.1. CONHECIMENTO E MEMÓRIA ......................................................................... 23 2.2. MEMÓRIA COMO PRODUTO DE CONHECIMENTO ...................................... 25 2.3. ETNOCONHECIMENTO E VIVÊNCIAS COM A NATUREZA ........................ 28 3. LOCAL DE ESTUDO .............................................................................................. 31 3.1 - CAPELA: DAS RAÍZES HISTÓRICAS A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA MATA DO JUNCO .................................................................................................................... 32 3.2. O AMBIENTE: REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE MATA DO JUNCO -RVSMJ, CAPELA/SE. .................................................................................................................. 39 3.3. MATA DO JUNCO: ESTUDOS REALIZADOS PELO GEOPLAN .................... 40 4. CONSTRUÇÃO DA PESQUISA ............................................................................ 43 4.1. PROCEDIMENTOS ................................................................................................ 45 4.1.2. TÉCNICA DE ANÁLISE DO ESPAÇO FÍSICO ........................................ 46 4.1.3. TÉCNICA DA ANÁLISE PARTICIPATIVA ADAPTADO DE BAILEY (1934); .................................................................................................................... 47 4.1.4. TÉCNICA DE ENTREVISTA ADAPTADA DE SANT‘ANA (1986) ...... 48 4.1.5. MÉTODO DE DESCODIFICAÇÃO TEMÁTICA ..................................... 50 4.1.5.1. Investigação temática ................................................................................ 50 4.1.6. ANÁLISE DE MULTIFATORES ............................................................... 53 4.2. AVALIAÇÕES INTEGRADAS DOS DADOS ..................................................... 53 5. VIVÊNCIAS AMBIENTAIS: DE RELATOS AO ETNOCONHECIMENTO NO ENTORNO DA MATA DO JUNCO, CAPELA/SE ........................................... 55 6. ETNOCONHECIMENTO: AVALIAÇÃO DE TEMÁTICAS AMBIENTAIS E A REALIDADE VIVENCIADA NO ENTORNO DO RVS MATA DO JUNCO .. 74 6.1. INTERAÇÃO .......................................................................................................... 76.

(13) 6.2. PARTICIPAÇÃO .................................................................................................... 80 6.3. FORÇA .................................................................................................................... 83 6.4. VONTADE .............................................................................................................. 87 6.5. DISCUSSÃO DAS RELAÇÕES DA VIVÊNCIA COMO FOCO DE ETNOCONHECIMENTO.............................................................................................. 93 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 97 FONTES BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 101.

(14) LISTA DE FIGURAS Número. Título. Página. Mapa das comunidades do entorno da RVS Mata do Junco, FIGURA 1. Capela/SE ............................................................................... 27. FIGURA 2. Praça no centro do povoado São José, mostrando a Escola municipal ................................................................................ 52. FIGURA 3. Lagoa Seca. .............................................................................. 67. FIGURA 4. Estrada que dá acesso a Mata do Junco .................................. 67. FIGURA 5. Estrada de acesso a Fazenda Cutía, Capela/SE......................... 68. FIGURA 6 FIGURA 7 FIGURA 8 FIGURA 9 FIGURA 10 FIGURA 11 FIGURA 12 FIGURA 13. Espaço de vivência da comunidade São José, com praça, posto de saúde e escola .......................................................... Ação feita pelas máquinas na borda da UC Mata do Junco....................................................................................... Estrutura de Usina do município de Capela............................. Estrada de acesso a Mata do Junco, à direita a Mata e a esquerda a cana de açúcar........................................................ Lagoa Seca e vista da entrada da UC Mata do Junco, Capela/SE................................................................................. Vista para a entrada da UC Mata do Junco.............................. Moradia de família do entorno da Unidade de Conservação Mata do Junco.......................................................................... Moradia de família do entorno da Unidade de Conservação Mata do Junco........................................................................... 69 70 71 78 74 75 76 77.

(15) LISTA DE QUADROS Número QUADRO 1. Título. Aspectos da Interação e suas respectivas ponderações.............. Página 27. QUADRO 2. Aspectos da Participação e suas respectivas ponderações....... 52. QUADRO 3. Aspectos da Vontade e suas respectivas ponderações.............. 67. QUADRO 4. Aspectos da Força e suas respectivas ponderações................... 67. QUADRO 5 QUADRO 6. QUADRO 7. QUADRO 8. Teia ecológica mostrando dois conjuntos de interligações 68 forte e média por indicação sucessiva pelas mesmas............... Resultado de Cluster do agrupamento explícito por três 69 subconjuntos............................................................................ Intervenções paralelas do Desenvolvimento territorial em que mostram campos específicos de interesse relacionado à Usina, População e Mata, adaptado de Firkowski & Sposito 70 (2008)....................................................................................... Esquema de conexão do etnoconhecimento............................. 71.

(16) LISTA DE SIGLAS. CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. GEOPLAN - Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Territorial. EA- Educação Ambiental. IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. RVS – Refúgio de Vida Silvestre. UC – Unidade de Conservação. UFS – Universidade Federal de Sergipe.

(17) 1. INTRODUÇÃO.

(18) Esta dissertação foi estruturada em sete capítulos, tendo o primeiro como Introdução. No segundo, aborda-se a revisão teórica apresentando categorias de conhecimento do presente estudo, perpassando pela memória, as vivências presentes nela, as mudanças e ações guardadas, como também o exercício da consciência e da crítica no contexto histórico existente. Destacam-se obras que discorrem sobre memória, espaço e tempo, cultura e identidade de um povo. O terceiro. capítulo. intitulado ―O local. de estudo‖ realiza-se. uma. contextualização da história do município de Capela e da construção do povoamento do entorno da Mata, além de conhecimentos sobre a Unidade de Conservação e apresentação do Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Territorial – GEOPLAN e de seus trabalhos realizados na Mata e com seu entorno. A metodologia utilizada para a realização desse estudo, com detalhamento das suas fases, métodos, instrumento e técnicas aplicadas é apresentado no capítulo quatro. O quinto capítulo desse estudo contextualiza a vivência dos moradores de maneira histórica e crítica, perpassa a memória dos Coautores entrevistados e destaca conhecimentos e denúncias presentes nos relatos da realidade encontrada. No sexto capítulo, apresentam-se os dados qualitativos identificados nas dimensões sociais, econômicas, polícias e físico/pessoais na discussão da construção do etnoconhecimento. E por último as considerações finais da pesquisa nos permitem propostas de atividades e de estudos a serem realizados na localidade relatada ou em outras que tenham o mesmo perfil, além do resgate objetivo de discussões feitas durante a dissertação. A escolha dos povoados no entorno da Mata do Junco como objeto de estudo nos coloca a necessidade de conhecer a história da construção da Mata e do povoamento do seu entorno, a ação do tempo no espaço. Foi válido observar que a vida dos moradores foi palco de ações que hoje estão guardadas em suas memórias, destacadas em suas práticas diárias e na realidade encontrada. No entanto, as ações exercidas durante a construção da vida desses moradores, tais como: casamentos, moradias, empregos, filhos, saúde, ralações com outras pessoas, 17.

(19) desenvolvimento de uma consciência de suas práticas diárias, melhoria em sua vida não implicam no esquecimento de seu passado e de momentos marcantes, mas sim em reações diversas ao remeter o assunto no presente, de forma constante. O desenvolvimento de uma sociedade ocorre com a presença de necessidades que surgem no decorrer do tempo, na esteira da globalização em seu sentido mais amplo. A educação do lugar é o meio pelo qual são construídas as relações da condição de vida humana, com ela vem a necessidade de trabalhar com novos caminhos do conhecimento, que permitam a sustentabilidade de comunidades e isso envolve, principalmente, a história e a cultura. Essas duas se combinam claramente, observando o homem em relação à natureza. Andrade (2011) a vê como ética ambiental que nos interessa, ou seja, aquilo que pode expor a forma racional por onde os principais problemas passaram por serem relacionados ao meio ambiente, pois não deixam de ser contrastes que o homem apresenta e manifesta complementações quando se observam fatores, como: força, vontade, participação e interação de uma população, que esteja interligada a sustentabilidade necessária. Assim, a comunidade se desenvolve por modo social e econômico para superar novos problemas enquanto permite pelas histórias, fixação no lugar. Vale lembrar que no Brasil, a preocupação com a globalização, o espaço e o tempo distancia o foco das relações que fazem essa estrutura do mundo, que é a do homem com o homem. Nessa estrutura são construídos os saberes de determinado ambiente pelas relações entre pessoas e práticas do cotidiano exigente da globalização (SANTOS, 1997). O homem vive à procura de indicar e de formar melhores caminhos para o desenvolvimento do seu planeta. Essa preocupação acaba ocorrendo em inúmeros setores das relações humanas, como economia, meio ambiente e educação, a exemplo da necessidade cada vez maior de equilibrar progresso econômico e social com a preocupação de preservar o meio ambiente e administrar os recursos naturais, sem esquecer o homem e suas lembranças. Nesse contexto, direcionar o conhecimento concebido ao correto uso, pode induzir a construção da sustentabilidade das relações humanas por meio da conscientização do que se possui e como utilizá-la. (FREIRE, 1979) 18.

(20) Os saberes presentes nas relações pessoais em um mesmo ou diferente espaço de vivência definem pontos de diferenciação pela constante necessidade a que se sujeita o ser humano em todos os tipos de relação apresentadas a ele. Nesse caso, tal perspectiva é típica das pessoas residentes nos povoados do entorno da Mata do Junco onde construíram suas vidas em contato contínuo com a mesma. Isso lhes permitiu a construção do conhecimento específico da realidade da Mata, pois fizeram a suas histórias em conjunto e de forma intensa. Na sua intensidade, a relação é sujeito, em muitos casos, para estabelecer os comportamentos determinados no viver desses seres humanos. Deste modo, pode-se dizer que o etnoconhecimento forma-se da construção das vivências ambientais. Como material pesquisado, traz a tona as lembranças da memória, a história, as práticas, os valores socioculturais e, sobretudo, as vivências existentes no meio ambiente. Nesse contexto, a relação existente entre natureza e sociedade, também merece ser estudada entendendo que cada um traz, trouxe e continua trazendo contribuição participativa por ser um indivíduo inserido no coletivo. Diante disso, ressalta-se a importância da educação como meio de formação social e intelectual de um cidadão, pois através dela podemos perceber a relação detalhada entre meio ambiente e sujeito por meio da inserção do indivíduo no ambiente social, isso de modo abrangente e responsável. Esse conhecimento do indivíduo pode capacitar, habilitar e orientar o coletivo para práticas conscientes perante suas necessidades e o meio em que está. Embora, a Mata do Junco seja um ambiente bem conhecido pela autora, por ser capelense e ter o convívio com a história do município, a mesma não deixa de ser ainda um componente importante para essa profundidade de análise. E também como educadora e participante das manifestações culturais do município, a Mata serve como objeto atual para reflexão constante de um resultado da necessidade ambiental no contexto geral. Um exemplo dessa reflexão se dá pelo fato de ocorrer a mais de cinquenta anos a Festa do Mastro1 que representa um traço tradicional do povo. Assim 1. A festa do mastro ocorre há mais de setenta anos. Sua origem foi em municípios circunvizinhos como Siriri e Muribeca. Em Capela, deu-se início com o senhor Derson e amigos, que se reuniam para comemorar o São Pedro. A tradição é de no dia de Corpus Christi, pessoas irem a Mata para escolher um mastro para no dia de São Pedro queimá-lo na praça que leva o seu nome. Na véspera, dia 28 de Junho, um homem vestido de baiana sai pelas ruas da cidade para receber presentes a serem postos no mastro. No dia 29, os festeiros vão à mata para retirar o mastro escolhido, trazendo-o para desfile pela cidade. A festa se encerra com a queima e queda do mastro e as pessoas tentando pegar os presentes que estavam nele em meio à guerra de fogos.. 19.

(21) comprova a importância de que o lugar mantém certa tradição, já pesquisada por vários autores (SANTOS, 2007; SOUZA, 2010; MALTA, 2011). Nesta, apresenta-se os povoados de vivências ambientais ao etnoconhecimento que estão interligados ao Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco - RVSMJ, no município de Capela/SE. O local mostra que há mais de 100 anos, as pessoas formaram comunidades interligadas umas a outras pela relação de moradia e consumo, além de depender do meio ambiente para sobrevivência. Para tanto, a memória e as vivências socioeducativas e ambientais de um povo permitiram a descoberta de tradições culturais que abrangem todo o ambiente em que se vive, desvendando a identidade de um povo. Assim, sua história mostra que houve um vínculo forte entre as comunidades pesquisadas, particularmente pelos moradores entrevistados. E para compreender a natureza da vivência foi analisada essa relação entre homem, meio ambiente e a memória que os refletem, considerando algumas questões que foram trabalhadas.. 1.1.. O PROBLEMA E AS QUESTÕES NORTEADORAS. Como as vivências ambientais construídas na cotidianidade das expressões de vida material e simbólica destes moradores podem ser incorporados à ressignificação das práticas de vida desenvolvidas nas comunidades do entorno da Mata do Junco? Baseando-se no conhecimento da história, de práticas e de mudanças presentes no município de Capela e principalmente nas comunidades do entorno da Mata do Junco, testemunhados pela autora e adquiridos durante os trabalhos e pesquisas realizados junto ao GEOPLAN, aventou-se aqui o problema metodológico também questionado sobre o como trabalhar as vivências ambientais e o etnoconhecimento no processo reconstrutivo e dialógico com o meio ambiente. Esse problema surgiu devido à observação da não existência de análise e reflexão sobre as vivências presentes nos povoados, assim como a forma de uso enfocando em suas dimensões sociais, políticas, econômicas e físico/pessoas,. 20.

(22) apresentados por relatos da memória. Dessa forma, a partir do conhecimento prévio do objeto de estudo, foram formulados alguns objetivos de pesquisa, com o intuito de nortear a realização desse trabalho.. 1.2.. OBJETIVOS. Objetivo geral. Analisar as vivências dos moradores das comunidades do entorno da Unidade de Conservação Mata do Junco, Capela/SE. Objetivos específicos. Observar os valores existentes nas práticas de vida dos moradores e as relações entre si, marcados na memória individual; Identificar as dimensões sociais, econômicas, políticas e físico/pessoais interligadas como fatores construtivos para o etnoconhecimento; Correlacionar relatos e realidades entre as relações de conhecimento, homens e espaço;. 21.

(23) 2. CATEGORIAS DO CONHECIMENTO NA TESSITURA DA PESQUISA. 22.

(24) Para compreender as discussões existentes nesse trabalho, devemos considerar a realidade histórico-cultural como uma estrutura para as relações entre as pessoas e o meio ambiente presentes na memória. Devemos, portanto, tratar de discernir de maneira objetiva, as características fundamentais dos assuntos presentes nos diálogos existentes internamente no objeto de estudo. Para isso, faz-se necessário apresentar o cruzamento e ênfase de informações adquiridas por autores de trabalhos que estudaram o mesmo tema ou temas associados. Destaca-se a bibliografia de Milton Santos (1997) que apresenta a construção e importância do espaço, juntamente com o tempo e como eles se movimentam no processo de globalização do mundo; Vale-se o Diegues (2000) como um contribuidor da edificação do etnoconhecimento no Brasil, sendo algo que permite fixação devido a sua necessidade de ser passada por gerações; E o Paulo Freire (1979) com a discussão sobre o conhecimento e o método de codificação para a obtenção do nível crítico desse conhecimento, tomando posse da realidade. É indispensável, assim, explanar em defesa desses temas para que se tenha conhecimento da base teórica existente para a análise feita da vivência dos moradores do entorno da RVS Mata do Junco, perpassando ainda por teses sobre memórias e relações entre homem e natureza.. 2.1. CONHECIMENTO E MEMÓRIA. A construção da história se faz pelo conhecimento da memória individual, passando por sucessão de diferentes gerações. De modo que, cada geração demonstre os materiais, os capitais e as forças produtivas que lhes foram transmitidas pelas gerações precedentes (MARX, 2002). Por esse motivo, cada geração continua, por um lado, o modo de atividade que lhe foi transmitido, mas em circunstâncias radicalmente transformadas e, por outro, modifica as antigas circunstâncias dedicando-se a uma atividade radicalmente diferente, podendo abrir espaço de análise para estudos no campo da sustentabilidade. Há uma permanente interação entre o vivido e o aprendido que sempre merece ser esclarecida. Embora o vivido e o transmitido andem juntos são constatações específicas construídas na memória, individual e coletiva, familiar, nacional e de 23.

(25) pequenos grupos. Pollak (1989) reconhece que o material fornecido pela história é alimentado pelo enquadramento da memória. No mesmo contexto em que a descodificação do material pode, sem dúvida, ser interpretado e combinado numa pesquisa científica que ultrapasse a fronteira social. Para tanto, chama a atenção à condição que depende da coerência do discurso aqui analisado sobre a temática do etnoconhecimento. Analisar os períodos menores presentes na história por meio de memória individual e coletiva, que se constroem juntamente e socialmente com a memória histórica, é uma ação que vai muito além de resgatar no sentido de guardar as informações relevantes de determinado sujeito, garantindo o seu sentimento de pertinência em um território (KESSEL, 2003). A construção de uma investigação da vivência por meio da memória de cada Coautor, ―[...] está em jogo na memória é também o sentido da identidade individual e do grupo‖ Pollak (1989). Nesse contexto, o primeiro está diretamente relacionado ao campo desta investigação. Já que o segundo varia com limitação que a reduz a uma avaliação muito além do enquadramento da memória, explicado por esse autor como aquilo que escapa. A lembrança que o homem carrega, sempre está interagindo com a sociedade, com a história. A memória, ambiente em que se faz a lembrança, se organiza no contexto das relações pessoais com grupos e instituições, e é do mesmo modo que também ocorre a rememoração individual. ―As memórias individuais alimentam-se da memória coletiva e histórica e incluem elementos mais amplos do que a memória construída pelo indivíduo e seu grupo.‖ (KESSEL, pág. 4, 2003). A construção da relação entre pessoas por meio do caráter social da memória afirmando a linguagem a que segue, sendo ela o conhecimento, é justamente o que se pode refletir sobre uma mudança na imagem do mundo, numa diferenciação, na concepção de ambiente, ao incorporar-se o reconhecimento da influência das ações na qualidade do ambiente local, que engloba tantas esferas sociais. (DEVOS, 2002) As exigências de contatos com outros homens numa relação é a condição de surgimento da consciência, pois ela é um produto social. Ela se faz no meio sensível e imediato e numa ‗relação limitada com outras pessoas e outras coisas situadas fora do 24.

(26) indivíduo que toma consciência‘. A necessidade de pesquisar o espaço na relação com os homens que nele vivem é uma tomada de consciência de que se vive em sociedade. Contudo, ela pode desenvolver-se e aperfeiçoar-se posteriormente devido ao aumento da produtividade, das necessidades e da população, que constitui o fator básico da complexidade (MARX, 2002), podendo envolver estudos de diferenciação. O termo diferenciação refere-se ao processo de auto-expressão do sujeito, que por sua vez, é membro de um grupo e dele diferencia-se progressivamente para atingir sua autonomia individual (CARVALHO, 2010).. 2.2. MEMÓRIA COMO PRODUTO DE CONHECIMENTO. O desenvolvimento da autonomia pode-se dizer suficientemente realizado a partir da evolução de diferentes virtudes (fases) vividas pelo homem como: a substância, o sujeito, a consciência de si e a crítica pura (FREIRE, 1979). A produção da consciência está diretamente ligada à relação humana com a natureza. Nessa situação, encontram-se condições de se emancipar do mundo e passar à formação legítima e vivida, porque cada indivíduo aprova seus atos. Na concepção de Marx (2002), ―não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência. Na primeira forma de considerar este assunto, parte-se da consciência como sendo o indivíduo vivo, e na segunda, que corresponde à vida real, parte-se dos próprios indivíduos reais e vivos e considera-se a consciência unicamente como sua consciência‖ (MARX, 2002, p.10). Seguindo o pensamento de Marx (2002), para o homem, a universalidade é uma forma ilusória de coletividade que não coincide com o seu interesse particular, ocorrendo um estranhamento na relação homem como sujeito e não objeto. Chegando, portanto, à conclusão de que todas as formas e produtos da consciência podem ser resolvidos não pela redução à ‗consciência de si‘, mas pela descodificação prática das relações sociais concretas. Segundo Freire, (1979) o homem pode distanciar-se do objeto para admirá-lo; os homens são capazes de agir conscientemente sobre a realidade objetivada; e a. 25.

(27) conscientização é um teste (pesquisa) de realidade (história). Ela não pode existir fora do ato ação-reflexão (nova ação). Os pesquisadores, como o homem, assumem o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Exige que os mesmos criem sua existência com um material que a vida lhes oferece. A conscientização surge da relação onde há consciência referente a um mundo, sendo que o mundo, como espaço investigado, seria a construção da relação entre o sujeito e o objeto e vice-versa. As informações das entrevistas são sugeridas como objeto para uma nova reflexão crítica ou analítica. Nelas, as respostas dos questionamentos nos remetem ao desconhecido que depara com o ‗fator utópico‘ explicado como realizável e diferente de idealismo: ―é a dialetação dos atos de denunciar e anunciar, o ato de denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante por essa razão a utopia é também um compromisso histórico‖ (FREIRE, 1979 p.27). A utopia exige conhecimento crítico sobre a realidade histórica na qual o conhecimento adquirido de uma entrevista tem o compromisso de transformar a denúncia em anúncio; o exposto em um novo conhecimento. A conscientização da realidade objetiva se faz por meio de entrevista e inicialmente quando se toma posse de conhecimento denunciado. Tal conscientização provoca a investigação para conhecer ‗os mitos‘ (FREIRE, 1979), que enganam, porém servem de material para descobrir realidades que estão sustentadas pelas informações denunciadas. A percepção crítica deste autor implica indiretamente em deduzir aquilo que é abstrato decorrente do concreto, mantendo os dois elementos, como contrários, em inter-relação dialética no ato da reflexão crítica do espaço produzido passando por meio de abstração de envolvimento, aprofundamento e conhecimento da realidade objetiva numa nova. Neste contexto, por um lado, descodificar informação desse tipo significa também, passá-la do abstrato ao concreto, ou melhor, no processo de construção crítica analítica que envolve o objeto ―espaço vivenciado‖ como uma situação na qual se encontra com outras pessoas a serem investigadas à base de descodificação.. 26.

(28) De acordo com Freire (1979, p.31):. Se a descodificação for bem feita, este movimento de fluxo e refluxo, do abstrato ao concreto, que se produz na análise de uma situação codificada, conduz a substituir a abstração pela percepção crítica do concreto que deixou já de ser uma realidade densa e impenetrável.. Por outro, através de conceitos articulados como tema gerador (Interação, Participação, Vontade e Força) é possível perceber os entrevistados, em seus diferentes contextos, sendo ‗a realidade objetiva‘ revelada. Isto é, na medida em que se exploram as temáticas, o ‗tema gerador‘ nada mais é que a realidade anunciada dos fatores sociais, econômicos, pessoas/físico e políticos. Desse modo, a investigação temática pode converter-se assim numa procura constante da consciência da realidade objetiva e uma consciência de si. Para fazer a investigação temática, antes de tudo, é preciso: estabelecer uma atitude crítica, de reflexão, que oferece uma resposta. A vocação do homem é de ser sujeito e não objeto na visão de Freire (1979), quando nos informa que ser integrado em seu contexto histórico constrói a si mesmo e chega a ser sujeito, sendo capaz de reconhecer a consciência em sua temporalidade (que lhe vem da capacidade de discernir). De um lado, o homem é criador de cultura, de outro também vive nela tanto como na história2. A história é feita por meio de relações de reciprocidade, estabelecido com o saber e o viver com os outros. De acordo com Santos (1997), o pesquisador também põe em prática sua capacidade de discernir, descobre-se diante da entrevista, exteriorizando a relação do homem com o outro, e se sente orientado a reduzir os outros homens à condição de objeto. O importante, conforme Freire (1979), é advertir que a resposta que o homem dá a um desafio não muda só a realidade com a qual se confronta: a resposta muda o próprio homem, cada vez um pouco mais, e sempre de modo diferente. 2. Na perspectiva evolutiva - culturalista, a história não é mais que uma cadeia contínua de épocas caracterizadas, cada uma delas, pelas aspirações, necessidades, valores e ‘termos’ em processo de realização. O que caracteriza a passagem de uma época a outra é um fato de que aparecem novos valores que se opõem aos de ontem.. 27.

(29) O processo de descodificação de determinado tempo do lugar, sendo esse, o conjunto de temporalidades próprias a cada ponto do espaço, é sim o conjunto de relações existentes naquele ponto de espaço. Revalidando que espaço é a categoria histórica e, por conseguinte, o seu conceito muda, já que aos modelos se acrescentam novas relações no curso do tempo (SANTOS, 1997), que se percebe em dois espaços: abstrato e concreto. O que está diante de nós é sempre o homem integrado aos tempos e aos espaços (SANTOS, 1997). Períodos são pedaços de tempos submetidos a uma mesma relação histórica. E o meio ambiente vivenciado tende a se sobrepor e substituir a natureza. No processo de diferenciação se observa as diferentes cargas de interesses perante o espaço. O uso da fenomenologia nesse trabalho é justificado por ser uma pesquisa que estuda a experiência de vida de seres humanos em um dado ambiente. E sendo assim, esta pesquisa não se prende apenas à filosofia fenomenológica, mas à obtenção de melhores resultados. Com o intuito de contribuir à ciência, ela vai além, em sua metodologia, fazendo-se uso da percepção crítica. Neste contexto, a realidade nos fornece conceitos de interação e não há outra forma para a existência do todo social que não seja a vontade das relações humanas. De um ponto de vista do lugar e seus habitantes, os saberes ambientais se constroem a partir de uma vontade distante e estranha, mas que se impõe à consciência dos que vão praticar essa vontade (SANTOS, 1997). Assim, o conjunto de autores trata da relação da complexidade dos saberes humanos e da necessidade contínua de buscar novamente forças na sua relação integrada com a sociedade, numa forma renovada.. 2.3. ETNOCONHECIMENTO E VIVÊNCIAS COM A NATUREZA. A cultura e a identidade de um povo reservam muitos conhecimentos que são ensinados e aprendidos a todo instante através da vivência do cotidiano de uma sociedade. As formas de uso do patrimônio cultural (lendas, costumes etc.) de comunidades tradicionais que vivem na circunvizinhança de Unidades de Conservação reservam informações tidas como senso comum, mas aqui identificadas por etnoconhecimento por ter sido fixado por um longo tempo. 28.

(30) Segundo Diegues (2000, p.142):. Comunidades tradicionais estão relacionadas com um tipo de organização econômica e social com reduzida acumulação de capital, não usando força de trabalho assalariado. Nela produtores independentes estão envolvidos em atividades econômicas de pequena escala, como agricultura e pesca, coleta e artesanato. Economicamente, portanto, essas comunidades se baseiam no uso de recursos naturais renováveis.. As comunidades tradicionais, em tais casos, guardam em seus costumes e práticas riquezas de conhecimentos que envolvem, principalmente, sua ligação e dependência com a Mata. Conforme Diegues (2004), as comunidades tradicionais são caracterizadas pela importância das suas simbologias, mitos e rituais associados à caça, pesca e atividades extrativistas e se reproduzem econômica e socialmente por várias gerações conservando o ecossistema que as cerca, acentuando que. [...] a permanência das populações tradicionais em áreas naturais protegidas não se justifica somente pela proteção e pelo reconhecimento da grande bagagem de etnoconhecimento transmitido de geração em geração a respeito das condições naturais, pela necessidade de garantir seus direitos históricos a seu território, mas também como exemplos a serem considerados pela civilização urbano-industrial na redefinição necessária de suas relações atuais com a natureza (DIEGUES, 2004, p.72).. Ressalte-se que a ideia de território, cujos direitos devem ser preservados pelas populações tradicionais, embora controvertida, é aqui elucidada de acordo com Melo e Souza (2009, p.30):. [...] o conceito de território envolve muitas controvérsias, devido ao grande número de estudiosos que sobre ele tem se debruçado e refletido. Tal polissemia tem engendrado as várias controvérsias, mas que não altera a sua essência que é o espaço apropriado e resignificado pelas relações de poder nas diversas esferas da sociedade.. Em outras palavras, conforme GODELIER, 1984 apud DIEGUES (2000, p.83) território representaria. [...] uma porção da natureza e espaço sobre o qual uma sociedade determinada reivindica e garante a todos, ou a uma parte de seus membros, direitos estáveis de acesso, controle ou uso sobre a totalidade ou parte dos recursos naturais aí existentes que ela deseja ou é capaz de utilizar.. 29.

(31) Em uma comunidade tradicional, o seu conhecimento sociocultural tem reflexo em suas atitudes e costumes presentes a partir da sua cultura. A prudência, o respeito e a ética são termos necessariamente utilizados para o exercício da procura incansável do desenvolvimento sustentável das presentes e futuras gerações. Nesse contexto, um dos conflitos existentes na execução do etnoconhecimento e na busca do desenvolvimento sustentável incide no domínio, e até mesmo no uso, do território em que determinada comunidade está presente. No caso da Unidade de Conservação Mata do Junco, pertencente ao grupo de Unidades de Proteção Integral como Refúgio de Vida Silvestre, é admitido apenas o uso indireto de seus recursos naturais e a visitação pública é delimitada pelas normas e restrições do Plano de Manejo da Unidade. Nota-se, então, uma nova formação de território e o que antes estava sob o domínio e uso das comunidades de seu entorno, agora não apenas existe como paisagem, mas ação complexa, com homem limitado ao seu entorno. Assim sendo, o etnoconhecimento se organizará na forma de relação existente entre o homem e a nova formação territorial em que se vê inserido, o que implica na tessitura de um etnoconhecimento próprio da nova realidade das comunidades. Cabe assinalar, conforme Melo e Souza (2007), que o etnoconhecimento é sempre construído com o entrelaçamento das comunidades aos seus locais de vida, perfazendo uma forma de unir o conhecimento calcado na percepção da vida em comum, nos ciclos dos ambientes de vida, resultado da configuração entre vida e sociedade, memória e história, e natureza e ambiente.. 30.

(32) 3. LOCAL DE ESTUDO. 31.

(33) 3.1 - CAPELA: DAS RAÍZES HISTÓRICAS A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA MATA DO JUNCO Capela, sim, esse nome, passou a ser reduzido ou simplificado do seu nome completo, Nossa Senhora da Purificação de Capela, padroeira da cidade que como tantas outras cidades brasileiras apresenta seu nome de fundação relacionado a um Santo. O seu surgimento veio a partir da relação do homem com a religião e assim uma necessidade de estabelecer um espaço físico para a construção das relações humanas e catequizar os povos. Este município está localizado a 86 km da capital Aracaju - SE, vista como uma povoação autônoma iniciou-se com a construção de um templo a partir de 09 de janeiro de 1735, quando o capitão Luiz de Andrade Pacheco e sua mulher Perpétua de Matos França deram por escritura lavrada, no Tabelionato de Santo Amaro das Brotas, a quantia de cem mil réis (moeda corrente à época), destinada a edificação, que foi dada como concluída no ano de 1737. Em 1808, viviam no entorno da Capela da Purificação cerca de 4.000 pessoas, por decreto provincial de 19 de fevereiro de 1835 a povoação elevou-se a Vila e em 28 de agosto de 1888, após algumas resoluções e mudanças recebeu a categoria de cidade pela lei provincial nº 331, sendo motivo de festa para seu povo (MOURA, 1990). Como mostra a história, chamava-se nos primeiros tempos Nossa Senhora da Purificação de Capela, topônimo usado no momento em que a cidade foi elevada à categoria de freguesia. A sua origem procede de uma Capela sob a invocação de Nossa Senhora da Purificação, erigida no lugar denominado Tabuleiro da Cruz, situado entre o rio Japaratuba e a localidade Coité (MOURA,1990). No final do século XVIII, o povoamento no estado de Sergipe registra a ascensão da criação de gados e do açúcar, que era direcionado a Pernambuco e Bahia. A povoação está inserida desde seu início, no ecossistema Junco que foi sendo explorado enquanto a Mata reduziu-se apenas a uma Unidade de Conservação sob a categoria de Refúgio de Vida Silvestre. Muitos fatores concorreram para a relação da sociedade sobre a forma territorial, como mostra a Figura 1. A Figura 1 mostra as dez comunidades no entorno da Unidade de Conservação Mata do Junco que em seu conjunto serviram de base para o local de estudo: Terra Dura, Vila Miranda, Boa Vista, Saco Leitão, Estreito, Lagoa Seca, Canta Galo, São. 32.

(34) Figura 1 - Mapa das comunidades do entorno da RVS Mata do Junco, Capela/SE. Mostra o ponto dos povoados, a BR 101 e a rodovia estadual no entorno da Mata do Junco, que esta em processo de pavimentação. (MALTA E SOUZA, 2011).. 33.

(35) José, Tamanduá e Assentamento José Emídio; contendo também uma fazenda chamada Cutia. As comunidades apresentadas permitem observar a vivência de algumas pessoas conforme o seu ambiente, que se identifica também como seus lugares devido ao seu perfil cultural, inserido na comunidade. Segundo Bauman (2003), um lugar desse tipo é ―cálido, confortável e aconchegante‖. Entretanto, os fatores econômicos, sociais, políticos, e culturais são comandados pela existência de uma usina que desde cedo orquestrava o modo de vida num espaço típico, associado à Mata Atlântica brasileira. A história dessas comunidades foi pouco encontrada na literatura local, regional e nacional. Na biblioteca de Capela havia alguns registros acadêmicos, como trabalhos de conclusão de curso e dissertação contendo raras informações sobre determinadas comunidades. Vale salientar que as comunidades do entorno da Mata, em sua maioria, são povoados antigos, como o caso da Vila Miranda. Segundo dados do IBGE (censo demográfico 2010), a cidade de Capela é constituída por 30.761 habitantes, estando 11.019 habitantes presentes na zona rural do município. Em muitas das terras, ao entorno da mata, existe plantação de cana de açúcar para o abastecimento das usinas, onde a maioria da população trabalha formando povoados espalhados. É comum, o exercício do deslocamento de pessoas entre povoados (pessoas que moravam em um determinado povoado e passaram a residir em outro) existentes nessa localidade. Alguns por trabalho, como aqueles que moram em um povoado mas trabalham e/ou tem terras em outro, outros por possuírem família residente na localidade, no entanto todos no entorno da Mata do Junco. Em sua maioria, as comunidades espalhadas apresentam: igrejas, praças, escolas (de até ensino fundamental completo), associações, bares, quadras e posto de saúde. Entretanto, são estruturas rústicas, necessárias para manter a formação do povoado, como mostra a Figura 2. A Figura 2 e a Figura 3 são diferentes, mas contem informações que se complementam entre si para ilustrar a realidade do local. A primeira ilustra uma praça rodeada por casas e árvores tropicais no povoado São José; que apresenta também uma escola, é abastecido com energia elétrica e o mínimo de infraestrutura como. 34.

(36) calçamentos das ruas para valorizar o local e sua população. Enquanto no segundo há apenas uma paisagem da mata do junco com uma lagoa quase seca.. Figura 2: Praça no centro do povoado São José, mostrando a Escola municipal, 2011.. Figura 3: Lagoa Seca, 2011.. 35.

(37) Diferente do Povoado São José, o povoado Lagoa Seca não é abastecido de praça, igreja e posto de saúde, no entanto, contém escola municipal de ensino fundamental e guarda lendas conhecidas pela maioria da população do município. Embora até hoje essas lendas sejam marcantes e contadas por moradores que não sabem ao certo qual o motivo da lagoa não encher mais como antigamente, algumas pessoas que residem neste último povoado ainda lembram de duas lendas que justificam a origem do nome, segundo Moura (1990,p.103).. 1) Depois que uma cigana foi morta inocentemente por seu marido que a acusava de traí-lo com outro homem; Depois da morte da cigana, a lagoa começou a secar; logo, os moradores da região atribuem a seca ao crime ali cometido. 2) Originam-se com os batizados de crentes da Assembleia de Deus, na lagoa. A lagoa, que antes vivia completamente cheia, passou a secar depois que os crentes começaram a efetuar ali seus batizados.. No entorno da mata algumas comunidades foram criadas através emprego fornecido pela usina e fazenda Santa Clara, administradas pelo Sr. Ariovaldo Barreto, aproximadamente nos anos 40 do século XX, conforme relatado pelas vozes dos quatro Coautores (pessoas entrevistadas no local de estudo):. 1) ―Não era Santa Clara o nome dela, o nome dela era Usina Várzea Grande, aí foi quando o senhor Ariovaldo parou o Junco, deixou seu Ari moendo cana com a do Junco velho (...) depois aí ele mudou e deixou tudo na Santa Clara, tirou de Várzea grande e botou Santa Clara. De Junco a Santa Clara dá umas quatorze mil tarefas de terra.‖ Sic. CoautorF, 69 anos. 2) ―Eu fui trabalhar no Junco eu tinha nove anos, o marido da minha tia, quem me criou – eu não fui criada pela minha mãe não- ele era feitor e me colocou pra trabalhar, plantar cana, eu fui semear cana, com as canas no braço pra colocar no chão, mas ele me tirou e me colocou pra trabalhar com a mulher na enxada. (...) Me casei trabalhando lá no Junco, esses filhos todos trabalharam lá no Junco.‖ Sic. Coautor-G, 76 anos. 3) ―Eu comecei a trabalhar com cinco anos, de enxada. (...) Eu nasci numa fazenda chamada Coqueiro aqui em baixo, aqui onde está o Sem Terra, de alí me criei, minha mãe foi embora para outra fazenda chamada Floresta, na Santa Clara e de lá criei, depois passei para Vaze Danta, depois para Canta Galo e de Canta Galo para aqui.‖ Sic. Coautor-J, 81 anos. 4) ―Cheguei pra aqui começando a caminhar, morando aí mesmo na Fazenda do Junco, eu e uma irmã que eu tenho. Meu pai botava fogo, no verão e no inverno trabalhava de enxada, todo serviço do campo. Morava na fazenda mesmo, tinha vila de casa.‖ Sic. Coautor-B, 72 anos.. 36.

(38) Neste contexto, percebe-se o ―nativo‖ nos relatos apresentados acima, o grande conhecimento da história da Mata e consequentemente de tudo que surgia ao seu redor. Esse conhecimento foi certamente adquirido pelo tempo de vivência e pelas histórias da vida de cada um que está inteiramente ligado à Mata, por trabalho ou diversão. Antes de 2007 a Mata do Junco não era uma Unidade de Conservação e consequentemente não era cuidada e protegida pelo Sr. Ariovaldo e seus funcionários, que em sua maioria eram moradores do entorno da floresta. Quando a mata passou a ser considerada um Refúgio de Vida Silvestre devido ao macaco guigó (Callicebus coimbrai), em dezembro de 2007, os moradores já haviam passado por diversas mudanças, até chegar o decreto 24.944/07 e este, transformar a população do entorno desse espaço de mata atlântica em refugiados da continuação de suas histórias. Hoje, o uso econômico da Mata do Junco pela população não é permitido, conforme o Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC,) nas unidades de proteção integral é permitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, como atividades de pesquisa científica e turismo ecológico. O SNUNC não permite à população o uso de coleta de lenha seca nessa localidade, prática essa que era comum pelos moradores do entorno. Alguns estudos defendem que há forte vínculo cultural entre o povoado e a Mata, esses estão condicionados ao momento anterior e posterior ao Decreto 24.944, de 26 de dezembro de 2007, visto como um divisor de águas. Nas memórias desses moradores, ainda encontram-se vivas as relações com a floresta, às vezes silenciadas pelo fato da saudade e dor causada pela interferência e novo julgamento dos exercícios realizados por eles há mais de cinquenta anos dentro da Mata do Junco. (SANTOS, SOUZA, MELO E SOUZA, MALTA, OLIVEIRA) No geral, a economia dessa população, principalmente rural, baseia-se praticamente na agricultura, no trabalho de corte de cana e em usinas existentes na cidade. Vale salientar que ultimamente o maior número de empregos no município de Capela é gerado pela usina Junco Novo, Taquari e Campo lindo, as quais, devido a sua proximidade com os povoados, permite aos empregados a dormida em suas residências, mas como o trabalho é de intensa necessidade física, tem como resultados o cansaço e a evasão escolar, pois a maioria desses trabalhadores são jovens analfabetos funcionais.. 37.

(39) Em todo o território capelense, existem também práticas de cultivo de frutas e verduras para venda e uso próprio. Observa-se que muitas casas ainda são de barro e há presença, em sua maioria, de fogões movidos a lenha seca, com panelas de barro e alumínio. Dentro de suas casas não há privacidade de portas nos quartos e a água encanada está apenas no banheiro. Isso denuncia um modo de viver há muito tempo conservado com o meio ambiente natural, interligado a Mata do Junco, havendo assim uma extensão dela em seu lar. O município de Capela possui comportamento semelhante ao que ocorre em grande parte do restante do país, em decorrência da modernização da agricultura e o esvaziamento do meio rural pela menor demanda de trabalho (MALTA, 2012, P.51). A cidade de Capela, é como um todo servida de água potável por meio de estação local administrada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto- SAAE, que também abastece todo o município e a distribuição de energia é feita através da subestação da cidade vizinha, Nossa Senhora das Dores, IBGE (2010). Os esgotos domiciliares são canalizados para fossas sépticas e/ou despejados a céu-aberto pelas ruas dos povoados, no entanto, em alguns trechos, geralmente nas proximidades de igrejas e praças existe um sistema de drenagem, mas com escoação sem tratamento. Por outro lado, a limpeza urbana é desenvolvida pela Prefeitura, mas muito do lixo domiciliar é queimado ou jogado em terrenos baldios e às margens da Mata do Junco, criando os mais variados problemas de agressão ao meio ambiente que são agravados pela ausência da coleta seletiva, IBGE (2010). O transporte e deslocamento urbano dos moradores dos povoados apresentados são feitos por meio de carroças, animais, bicicletas, motocicletas e carros. Existem micro-ônibus que realizam o transporte urbano para localidades circum-vizinhas e para a capital do estado, sendo um deslocamento de aproximadamente uma hora e quinze minutos no valor de dez reais com destino as rodoviárias de Aracaju, o que não ocorre mais a partir das 17h e 15mim. Atualmente, a estrada que passa pela maioria dos povoados (Terra Dura, Miranda, Boa Vista, Estreito, Lagoa Seca, Canta Galo, Saco Leitão e também São José, além do Assentamento José Emídio) e dá acesso ao perímetro urbano da cidade e a BR 101, está em reforma e provoca alguns problemas para a população residente a margem da estrada, como doenças e abandono de residências devido à poeira (no período de 38.

(40) seca) e situação de ilhado (nos períodos de chuvas). Devido a esses e outros problemas a construção dessa estrada já foi interrompida por diversas vezes e há mais de dois anos ela ainda não foi concluída, ver figura 4.. Figura 4: Estrada que dá acesso a Mata do Junco. Fonte: MALTA E SOUZA, 2010.. 3.2. O AMBIENTE: REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE MATA DO JUNCO RVSMJ, CAPELA/SE. A Mata do Junco, como um espaço natural é aqui simplesmente referido como Mata que teve em 2007 um recorte de 1520 hectares para a criação da Unidade de Conservação na categoria de refúgio de vida silvestre - RVSMJ, justificado pela existência do macaco Guigó (Callicebus coimbrai). Trata-se de uma remanescente de Mata Atlântica e está presente a nascente do rio Lagartixo que abastece o município e é afluente da Bacia do Rio Japaratuba. Na distancia de 86km da capital, com as coordenadas: latitude 10° 30′ 38″ sul e longitude 37° 3′ 18″ oeste, a UC é administrada pela secretaria de meio ambiente e recursos hídricos do estado de SergipeSEMARH/SE. No estudo de MALTA (2011), tem-se, detalhadamente e com apresentação em mapas, a constituição do solo, clima, geomorfologia, declive e hidrografia da Unidade 39.

(41) de Conservação Mata do Junco. Indica também que a vegetação e o uso do solo pelas comunidades relatando a exploração intensiva da madeira e a monocultura de cana-deaçúcar. Os solos da UC são classificados no grupo Francos, que contém muitas subdivisões, nos quais há a troca de biogênese e a interação solo-vegetação-recurso hídrico é intensa, proporcionando grande diferença nos teores de matéria orgânica, em suas diferentes localidades e seu clima é Megatérmico Subúmido, com a temperatura média anual em torno de 24,9 ºC (MALTA, 2011). Importante apresentar a estrutura hídrica da Unidade, pois nela está a nascente do Rio Lagartixo que abaste o município com água de excelente qualidade e o RVSMJ localiza-se na bacia hidrográfica do Rio Japaratuba (MALTA, 2011). Os povoados: Lagoa Seca, Estreito, Saco Leitão, Boa Vista e os demais que foram citados anteriormente têm forte ligação com a Mata, embora alguns não pareçam devido a certo afastamento que faz parte da dimensão natural do ambiente conservado. Nesses povoados, as suas populações tinham uma ligação quase que diária com a mata, para atividades econômicas e de lazer, como extrair lenha seca e desfrutar de banhos nas nascentes, devido a grande proximidade. Esta unidade conservada resultou de esforços da conscientização socioambiental através de estudos científicos realizados pelo grupo de pesquisadores em Geoecologia e Planejamento Territorial - GEOPLAN, que vem tendo resultados de análise exatamente sobre a área de estudo. Tais resultados não deixam de ter contribuído para o avanço político cultural em medida de decreto acima descrito. O GEOPLAN também estuda as relações territoriais do espaço regional do Estado como um todo. Embora o presente estudo seja vinculado ao PRODEMA/UFS ele teve grande contribuição, graças a base da literatura e laboratório do GEOPLAN, que vem trabalhando sobre a temática da Mata do Junco, antes mesmo do Decreto.. 3.3. MATA DO JUNCO: ESTUDOS REALIZADOS PELO GEOPLAN O atual estudo fora coordenado e realizado junto ao grupo de pesquisa GEOPLAN. A Mata do Junco tem sido objeto de diversos estudos desenvolvidos pelo 40.

(42) grupo de pesquisadores, devido às qualificações dela apresentadas anteriormente. Desse modo, pesquisadores com formação em geografia, engenharia ambiental e pedagogia já realizaram e realizam trabalhos de zoneamento, de fitogeografia, identidade territorial, sociedade-natureza e de educação ambiental. Um dos estudos de destaque que informou a realidade da Mata do junco e sua vizinhança foi do autor Mário Santos (2007) o qual apresenta as características da mata e as disputas existentes pelo uso da terra. E com essa dissertação de Mário Santos pelo PRODEMA/UFS, ao GEOPLAN foi solicitado pelo Ministério Público um relatório técnico sobre a Mata do Junco. Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo no âmbito da educação ambiental com a população do entorno da Mata do Junco teve seu início no ano de 2008, por meio de trabalhos voluntários de leituras e reconhecimento da área de estudo, observando escolas e comunidades próximas a Mata do Junco, além de dedicação maior às leituras acadêmicas na área específica de meio ambiente e educação para práticas e discussões futuras. O GEOPLAN, liderado pela Prof.ª Pós- Doutora Rosemeri Melo e Souza, continua nos estudos dedicados à investigação da dinâmica biofísica de ambientes naturais, como também a ambientes modificados pela ação antrópica e dos processos de organização do espaço, com conhecimento avançado da geoecologia dos sistemas ambientais sergipanos, bem como, desenvolver avaliações ambientais em áreas urbanas, rurais e de ambientes protegidos, sob a ótica integradora da gestão e do planejamento territorial. O GEOPLAN tem sede na Universidade Federal de Sergipe e está vinculado ao Núcleo de Pós – Graduação em Geografia (NPGEO) e ao Programa de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA). Vale lembrar que a atual pesquisa pertence ao PRODEMA/UFS, cita-se o interesse pelo desenvolvimento sustentável e meio ambiente, exercendo assim a educação ambiental formal e não formal. A partir de pesquisas anteriores, surgiu o seguinte questionamento: como pode a vivência dos moradores do entorno da mata do junco, contribuir para a preservação, ou não, da Unidade de Conservação em questão? Nesse sentido, observa-se que o local de estudo é regido pela história dos moradores nesse local, que o RVSMJ é uma remanescente de Mata Atlantica e a 41.

(43) população de seu entorno tem dependências com ela e que o GEOPLAN realiza importantes trabalhos nesse local. A maneira que foram analisadas as vivências ambientais das entrevistas está descrita no próximo capítulo.. 42.

(44) 4. CONSTRUÇÃO DA PESQUISA. 43.

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