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6. ETNOCONHECIMENTO: AVALIAÇÃO DE TEMÁTICAS AMBIENTAIS E

6.1. INTERAÇÃO

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O processo de interação está singularmente ligado ao espaço (Mata e seu entorno) e ao tempo de permanência nele. Os coautores apresentam ligeira similaridade e equilíbrio nos resultados dos dados, porém não indica equilíbrio nos indicativos individuais.

As categorias ‗escolaridade‘, ‗tempo‘ e ‗filhos‘ apresentam-se em mesmo nível na maioria dos entrevistados, os aspectos ‗casamento‘ e ‗localização‘ comparado com todos os coautores, têm diferenças em seus níveis, mas a ‗localização‘ normalmente se destaca em pontuação.

No Gráfico 1 encontra-se o resultado da interação entre todos os entrevistados. Percebe-se, no Coautor-J (2011), que há presença de equilíbrio entre os quatros dos cincos aspectos existentes no fator interação, destacando-se entre os demais coautores, sendo a ‗escolaridade‘ baixa. O mesmo Coautor tem significativo destaque nesse tema

interação. Isso é claramente definido em seu alto equilíbrio perante as quatro categorias,

demonstrando o maior grau no conjunto de fazeres em seu cotidiano. Assim, conforme apresentado a interação é expressivo em todos os relatos, havendo apenas um destaque com o Coautor- J (2011).

Gráfico 1: Modelo colunas da Interação. Oliveira, 2011.

Em contrapartida, observa-se no mesmo Gráfico 1 que o Coautor- H (2011) possui maior desequilíbrio em relação a essa temática, pois sua maior interação está no tempo fixado no local, enquanto o seu menor aspecto está presente na escolaridade. Não

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deixando de observar a análise do todo, o Gráfico 2 permite ver que o tempo é um dado igualitário (47%) para todos os coautores. E isso leva a apreciar que o desequilíbrio quantitativo dos dados justifica o baixo nível de interação desse Coautor.

No Gráfico 2, a interação dos Coautores é constituída por cinco critérios do qual a análise positiva mostra claramente, que o ‗tempo‘ de vivência, o ‗casamento‘ e os ‗filhos‘ são os principais meios de envolvimento dos coautores. Pode-se afirmar que a vivência desses coautores com o seu meio ambiente foi uma relação de vida, que justifica fixação com a formação da família. Os fatores ‗filhos‘ e ‗casamento‘ declaram forte impacto dessa interação com o lugar.

Gráfico 2: Modelo Setorial de Interação. Oliveira, 2011.

Como em outras partes do território brasileiro essa realidade encontrada é típica de uma história rural, em direção à globalização. Unindo-se com a relação de poder, carregada de saberes acompanhado de vários adjetivos, tais como: bom, melhor, ruim, bonito e feio; que fortalecem e renovam a relação, constrói a disciplina que enraízam a formação do homem podendo até perpassar por gerações. Nota-se a interação ligada a certa vulnerabilidade humana e da própria paisagem marcada por eventos contrastantes em espaço dividido onde as pessoas estão situadas como um grupo, sem destacar as suas limitações coletivas.

No contexto territorial as propriedades particulares não demonstraram igual participação entre o núcleo e a vizinhança, algo parecido com urbano e rural. Por exemplo, a fazenda Cutía, que comprova essa relação complementar, no qual imenso espaço aberto envolve força de participação e de interação, conforme mostra a Figura

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5. O que está acontecendo é que certas fazendas comprovam que há no entorno desigualdade na segregação da propriedade particular.

Figura 5: Estrada de acesso a Fazenda Cutía, Capela/SE. Oliveira, 2011.

Segundo Santos (2006) essas heranças - e não aquisições - perseguem uma falsa globalização que intitulam como evolução humana, sendo ainda a pura relação de poder, orientado pelas relações econômicas, comerciais, embora não seja esse o mérito de interesse central dessa pesquisa. A relação existente entre natureza e sociedade, só deve ser estudada entendendo que cada um trás, trouxe e continua trazendo problemas sócios espaciais. E conforme a explicação de Santos:

―[...] essa separação natureza-sociedade, mesmo quando se proclama estar unindo-as, ou essa separação entre indução e dedução. Tal distinção se esvai quando nos coloca do ponto de vista do processo. [...] essa separação entre razão e emoção com a crença na superioridade da razão e o escárnio da emoção vem marcando, neste século, o trabalho dos intelectuais Latino- americanos‖ (SANTOS, 2006, p. 20).

Este enfoque naturalizante do meio ambiente vai assegurar a persistência de um enfoque equivocado do marxismo, mas não serve porque:

―[...] o homem não se relaciona com a natureza ele pode tê-lo feito no começo da história para transformar a natureza em social. Mas, a partir daí, o

80 que há é uma relação do social com o social, do homem com o social, do homem com o homem‖ (SANTOS, 2006, p. 20).

6.2. PARTICIPAÇÃO

A temática participação procura o que o entrevistado possui numa perspectiva simbólica, como propriedades. Essa categoria se integra a temática anterior – interação - no aspecto ‗filhos‘, reafirmando-a como ponto necessário para as temáticas. Isto é, numa pesquisa em que se procure o grau de interação e participação é necessário observar o que a pessoa possui e suas atividades.

Os gráficos mostram a existências de dois grandes grupos de Coautores dessa temática, um formado por quatro Coautores em que o resultado de cada um se destaca na pontuação de 18 a 27, devido ao fator ‗descendente‘ e ‗propriedade‘. E outro grupo, formado por cinco Coautores em que a variação da pontuação de seus resultados vai de 8 a 13 pontos, sendo comércio ou grupo cultural o fator de menor pontuação.

Nesses gráficos, pode-se afirmar que os senhores G, H, I e J são os que mais têm

participação com a Mata do Junco, conforme gráfico abaixo. Isso é devido,

principalmente, a categoria ‗descendentes‘. Diferentemente da temática analisada anteriormente, na participação para obter destaque não é necessário ter equilíbrio quantitativo entre os dados.

81 Gráfico 3: Modelo em colunas de Participação. Oliveira, 2011.

As porcentagens dos dados desses coautores apresentam contrates, pois o Coautor G tem 86% de ‗descendentes‘ e 0% de ‗comércio‘, já o Coautor H é o mais equilibrado com 39% de ‗propriedades‘, 38% em ‗meios de transportes‘ e 19% dos ‗descendentes‘.

No Gráfico 4, é possível interpretar os dados pelo formato gerado pela linha dos ‗resultados‘, em que ela se distancia do centro no ponto G, H, I e J, dando destaque a essas pessoas. Percebe-se que o nível de participação desses entrevistados, em destaque, possibilita-os em poder manejar as demais pessoas, nas quais atitudes e ações exercem perante a vivência com a Mata do Junco.

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82 Gráfico 4: Modelo Radial de Participação. Oliveira, 2011.

Assim, a participação dos entrevistados, diante das ponderações (descendentes, propriedades, meio de transporte e comércio), define-os, como poucos participativos conforme suas rotinas e realidades existentes e apresentadas por eles nas entrevistas. Sendo a participação à temática em que destacou a presença de dois subgrupos, mesmo sendo em sua totalidade baixa, porém ainda havendo alguns pouco participativos com as ações que envolvem o meio ambiente.

As categorias ‗comércio‘ e ‗grupo cultural ou engenho‘ merece, imediatamente, atenção, devido ser a que mais tem pessoas envolvidas, estando também diretamente ligada a temática força que é a próxima a ser vista e que tem pontos nessa categoria que podem influenciar pessoas e assim aumentar a mesma.

Essa categoria está relacionada à forte conservação da Mata do Junco, em cuja potencialidade epistemológica está inserida. Isso também está sendo explícito pela presença da comunidade que está ligada com a sua elevação que faz parte da história específica de vivência. E inúmeros fatos contribuíram a essa elevação, como: admiração pela floresta, temor, respeito, interesses e obrigação.

A beleza da paisagem do entorno é paradoxal pelo verde em todo canto, mas com árvores que fazem o isolamento, a descontinuidade da vegetação. No eixo da vivência comunitária é curioso notar o assistencialismo apresentado em três

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equipamentos que se cruzam como marco simbólico do povoado: a escola municipal, o posto de saúde e a praça de vivência e do lugar comunitário, todos imbricados para atender o dia-a-dia, que pressupõe a sensação de que, para o imediato, há tudo que o povoado necessita.

Figura 6: Espaço de vivência da comunidade São José, com praça, posto de saúde e escola. Oliveira, 2011.

É nesse cenário que as dinâmicas de produção e reprodução material das sociedades, com as disputas por outras e novas explicações do mundo e dos territórios de saberes e poderes locais marcaram essa paisagem, e explanam-se os processos de conflitos e fatos que apresentam a realidade vivenciada e até mesmo a história, por meio da memória, exibindo os relatos dessas sociedades (LEFF, 2001).

6.3. FORÇA

A categoria força sintetiza a influência do aspecto ‗financeiro‘ que gera as reações correspondentes à potencialidade de interação e participação na vivência do coautor. Afirma-se que as relações construídas entre os homens são regidas, constantemente, pela categoria ‗financeira‘, podendo concluir que o homem ao

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encontrar-se em situações de relações com o outro homem, o que atribui a sua força é o fator econômico. Pode-se supor que mesmo possuindo um milhão de amigos, ele precisará de fator financeiro para poder confirmar sua escolha. Não deixando de lado o seu físico que se faz necessário para conseguir força, até porque o fator físico ultrapassa o social.

Os Coautores D, F e G (2011) têm suas forças concentras no fator econômico, sendo igual a 67% em todos, apresentando desnivelamento nos demais dados, principalmente no fator político com apenas 5% em média, como mostra Gráfico 4. Conforme esse gráfico, torna-se claro a apresentação da formação de dois grupos de coautores, os quais o resultado de todas as categorias em um grupo se destaca de 50 a mais de 80 pontos e do outro grupo com a variação entre 20 e 40 pontos. Verifica-se, deste modo, a formação incipiente de dois subgrupos dentro do grande grupo de população que apresenta conhecimento sobre a Mata do Junco, conforme dados ponderados.

Gráfico 4: Modelo em colunas da Força. Oliveira, 2011.

É preciso considerar que esta categoria se complementa com o item que vem a seguir (vontade), atendendo uma análise integrada que os envolvem. São as mesmas, todavia totalidades em diferentes focos. Neste sentido, seria errôneo pensar que os eixos temáticos não se completam. A questão que os tornam unidos na análise dessa realidade é que esse grupo de população, mesmo com as diversas realidades, têm

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o mesmo objetivo e construção da história, cujo exercício de manutenção da vida se faz na educação passada por gerações.

De um lado, as memórias individuais apresentam suas lembranças e os saberes guardados e até mesmo silenciados diante do que foi vivido numa época em que as relações humanas eram exercidas e estabelecidas pelo respeito e pelo poder. Isto é, um determinado espaço com relações de poder o qual as pessoas deviam gratidão aos possuidores de poder econômico, baseado em autoritarismo. Santos (2006) aponta o economicismo ‗indesejável‘ como o centro da sua chamada atenção que inevitavelmente gera a ação coletiva mobilizada.

Em contra partida, pode-se dizer que este povoado tenha contato direto com o impacto de máquinas pesadas, o que significa a força de trabalho desastrosa ou muito eficaz quando se trata de abrir o mato com um trator, abrir caminho até mesmo mostrar aquilo que até então era fechado e não revelado como ambientes antes não cultivados. A transformação pelo homem com certeza seria outra quando o mesmo está amparado por ferramentas poderosas. Embora não pareça, aquilo que é inevitável pode-se tornar também violenta no mesmo contexto de transformação que os povoados estão inseridos.

86 Figura 7: Ação feita pelas máquinas na borda da UC Mata do Junco. Oliveira, 2011.

Embora as estradas sejam de barro, as instalações de uma usina são notórias ali como um forte investimento econômico estabelecido em escala maior. Em atual operação, a produção absorve grande número de funcionários em diferentes serviços rurais. A propriedade da usina é particular e muito extensa na sua abrangência socioambiental com o nível de vontade expressivo, o que para o povo é um marco forte de representação econômica, sendo um agente do saber ambiental, que protege a dinâmica da sobrevivência.

87 Figura 8: Estrutura de Usina do município de Capela. Oliveira, 2011.

Do mesmo modo, o caminho integrado das análises mostra diferentes realidades em que se encontram indiferenciados diante do vivenciado. Como ocorreu com o Coautor- H (2011), ao declarar o seu perfil transformador diante da sua atitude com a Mata caso ele estivesse numa situação de escolher entre ela ou o lucro. Nesse caso, o triângulo da diferenciação é composto pela Mata, pelos ensinamentos do seu pai e por ele, em que o seu querer vai pela concepção de obter mais poder, mas no momento em que ele diminui o fator participação, aumenta o fator força.

Entrevistador: Então, o que o senhor preferiria? Diminuir essa quantidade de reserva ou pagarem ao senhor por ter essa Mata?

―Eu prefiro, já que nunca recebi, eu prefiro diminuir. Já que não recebi esses anos todos não diminuiu e você não tem vantagem nenhuma‖ (Sic.) (COAUTOR- H, 2011).

6.4. VONTADE

Essa temática se complementa com a força. Especificamente, apresenta-se a vontade sintetizada como resultado da tendência de transformar ou conservar a relação do entrevistado com os espaços. Havendo equilíbrio individual de cada coautor em

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todas as categorias. Podendo traduzir que existe potencialidade para exercer a vontade perante as realidades: social, econômico, político e físico/pessoal.

Pode-se imaginar que o fator econômico explora a vontade e o político aparece timidamente na análise de todos os coautores, na medida em que as relações de trocas entre o econômico e político podem estabelecer uma força maior na vontade de ações. Uma vez que, esses fatores apresentados têm influência pessoal na atitude de outras pessoas, deixando-as na condição de oprimidas, na figuração de Paulo Freire (1979).

As declarações a seguir afirmam as atitudes de coautores com perfil conservador em sua vontade de mudança e da sua relação com a Mata do Junco. Perfil esse que se enquadra em pessoas que apresentem declarações e atitudes, perante a realidade, de não envolver-se com o objeto e mantendo o estado da arte encontrado, seja ele qual for.

―Rapaz eu sinto assim uma saudade, que eu andava né, uma coisa e outra, mas ... não tem vontade de ir lá não né? Não, eu não‖ (sic) (COAUTOR- D, 2011).

―Faz uns cinquenta anos que eu entrei lá. Não tem saudade não? As vezes né, quando passo por lá, porque trabalhei muito tempo. Nunca mais eu entrei lá não. O senhor tem alguma coisa que era do Junco e que te faz lembra? Não, não tenho mais. Lembrança de lá é essa casa que eu tenho, porque foi ele que me ajudou‖ (sic) (COAUTOR- I, 2011).

O perfil transformador ou conservador se apresentam como uma característica resultante da análise da realidade e dos fatos apresentados pela memória. Esse perfil esta acentuado no fator vontade devido à força presente no diálogo e na prática de cada coautor entrevistado, conforme atitude tomada ou que se quer exercer sobre a Mata.

O Coautor- E (2011) apresenta total equilíbrio em todas as categorias, apresentando também conformidade perante a realidade da sua relação para com a mata: ―Hoje em dia o que é que o Sr. gostaria de mudar na Mata do Junco, caso o Sr.

pudesse? O poder de caçar, a liberação pra caçar‖ (Sic.) (COAUTOR- E, 2011). Mesmo

assim, devido à idade, a vontade apresenta-se como perfil transformador nesse coautor, sentindo a vontade de poder tem ações exercidas na Mata do Junco quando jovem, embora sendo um fato distante de sua realidade física.

No Gráfico 5, apresenta-se os resultados das realidades físico/pessoal, social, econômico e político, bem como respectiva síntese das mesmas, considerando os coautores. Os Coautores D e I (2011) possuem equilíbrio entre três das categorias

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estudadas, 16% físico, 17% pessoal e 17% no social, sendo 50% da vontade ligada à categoria econômico no Coautor- D (2011).

Gráfico 5: Modelo de Colunas de Vontade. Oliveira, 2011.

Esses dados mostram diferenças nos resultados e perfil do entrevistado, perante o anterior. Podendo afirmar que eles possuem o perfil conservador e a mesma relação de dependência para com a Mata, de tal modo que manter a atual realidade da mata os deixarão confortáveis perante suas relações. Supõe-se então que suas relações de poder com o homem não atribuem a Mata um fator contribuinte para esses coautores serem sujeitos de ações.

A construção da história desse território move os instintos dos moradores para a formação de um perfil conservador ou transformador no tempo presente, tomando decisões com visões no futuro, no qual eles pretendem estabelecer uma realidade igual ou diferente para seus descendentes.

No Gráfico 6 destaca-se o resultado geral, observando que o mesmo apresenta uma figura irregular, sendo a vontade referente a maior pontuação. Os coautores H e F (2011) tem destaque no fator econômico, pois possuem terras para plantio e os Coautores J e C (2011) destacam-se nos fatores físico e social, respectivamente, sendo o tempo vivido algo comum entre todos os coautores, pode-se afirmar que ele é o maior direcionador dos motivos pelos quais a vontade foi estabelecida.

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90 Gráfico 6: Modelo de Radial de Vontade. Oliveira, 2011.

Nestas condições, as formas em que ele construiu a sua vida, como os fatores apresentados (econômico, político, social e físico/pessoal) começam a se tornar viáveis para suas decisões de mudança, ou não, da realidade em que vive, o que leva a crer que nos encontramos face uma forma de conservação do homem e de sua história, sendo nesse caso os moradores tentando manter viva a mata e si próprios. É por isso que a

vontade também permite ao entrevistado o enquadramento dele em conservador ou

transformador do período presente em que ele se encontra.

A plantação da cana-de-açúcar é bastante expansiva, fronteira de pressão confusa embora mais ou menos atenuada com limite bem definido da estrada de barro que a separa da Mata. Enquanto a monocultura se torna fortalecida por ‗interesses maiores‘ a Mata do Junco parece desprezada por ‗interesses difusos‘, que envolve a inconsciente sobrevivência dos povoados, mais ou menos alienados desse fato.

Simbolicamente, partindo de uma pista asfaltada para outra empoeirada, de longe pode- se perceber que embora a nuvem carregada parece à mesma sobre todos os lugares de floresta atlântica, a paisagem da Mata do Junco é bem distinta. Essa última, fortemente marcada por transformações globais e contrastantes entre as aberturas das vegetações, de um lado encostando-se aos cultivos da agricultura e de outro dando a continuidade

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como se não tivesse o além de diferentes alturas de verde, mas há presença de áreas de transformação antrópica, como mostra a Figura 9.

Figura 9: Estrada de acesso a Mata do Junco, à direita a Mata e a esquerda a cana de açúcar. Oliveira, 2011.

De perto, fica claro que o cercado entre os limites de terrenos são singelos, mais ou menos maleável, comprovando a existência de a uma fraca demarcação de uso do solo, no entanto chama a atenção que não é por acaso que a passagem da rede elétrica corre por fora e por dentro (até a sede) o que implica que essa infraestrutura poderia estar servindo à conservação ou a transformação, embora a Mata do Junco seja cercada, singelamente.

Com a coleta dessas realidades, sugere-se que se veja essa vivência comunitária como uma cidade com vila, comércio, trabalho, divertimento e um administrador de tudo isso, para que se possa entender a relação da vontade com o lugar, cujas relações entre os homens no meio ambiente são o foco da construção do etnoconhecimento.

92 Figura 10: Lagoa Seca e vista da entrada da UC Mata do Junco, Capela/SE. Oliveira, 2011

93 6.5. DISCUSSÃO DAS RELAÇÕES DA VIVÊNCIA COMO FOCO DE ETNOCONHECIMENTO

Analisando todos os resultados dos eixos temáticos aqui apresentados, é muito claro que essa população não parará de fixar seu conhecimento, pois ele é a força, a vontade, a

participação e a interação presentes no desenvolvimento sustentável humano. Os

contrastes que ele apresente manifestam apenas as contradições necessárias para a comunidade desenvolver forças produtivas o suficiente para a resolução de novos fatos e assim, maior fixação deles e de suas histórias no lugar.

É neste contexto ontológico que os saberes ambientais estão entrelaçados além dos relatos históricos da memória, integra-se o espaço natural não deixando de lado a potencialidade espacial (ambiente) em que ocorre a investigação objetiva entre homem- homem, bem relatado no capítulo anterior. A teoria de diferenciação apresenta a

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