Efeito da solarização do solo no controle de plantas daninhas
na cultura do morangueiro.
Kenia de Souza Medeiros(1); Celia Tacaco Arimura(1); Marcelo Fagioli(1)
(1) Universidade do Estado de Minas Gerais - Campus de Ituiutaba - Curso de Agronomia - CP 431- CEP 38.302-192 - Ituiutaba (MG).
RESUMO: A solarização é um método alternativo de desinfecção do solo, recomendado na
produção orgânica. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da solarização no controle de plantas daninhas associado a quatro tipos de adubo orgânico para cultura do morangueiro. O plástico de polietileno transparente permaneceu por 60 dias sobre os canteiros e semanalmente avaliou-se a temperatura do solo. Antes e depois da colocação do plástico coletou-se amostra de solos para avaliar a germinação das sementes presentes no mesmo. No campo, a avaliação foi realizada quinzenalmente após a retirada do plástico, quantificando e identificando as plantas daninhas. A solarização mostrou-se eficiente no controle de plantas daninhas, exceto da tiririca.
Palavras-chaves – Fragaria x ananassa Duch., tratamento térmico do solo, sistema
orgânico.
ABSTRACT – Effect of soil solarization on weed control in strawberry culture. The
solarization is an alternative method of soil disinfection recommended in organic production. The objective this experiment was evaluate the effect of solarization on weed control associated in four kinds of manure for strawberry culture. The transparent polietilene plastic remained for 60 days on the bed and the soil temperature were evaluated weekly. Before and after to put the plastic cover was collected a sample of soil to evaluate in greenhouse the seed germination present in this soil. In field the evaluate of weeds was realized semi-monthly after took off the plastic. The solarization was efficient in weed control except to
Cyperus spp.
Keywords – Fragaria x ananassa Duch., soil heating, organic system. INTRODUÇÃO
A solarização do solo baseia-se na sua desinfestação por meio do aproveitamento da energia solar por intermédio de um plástico transparente de espessura reduzida, que é colocado sobre a superfície do solo previamente umedecido durante os meses mais quentes do ano, por um período de 20 a 60 dias (KATAN; DeVAY, 1991). A técnica tem como função à inativação ou inibição do crescimento de fitopatógenos e de propágulos de plantas daninhas (GHINI, 1997).
A infestação de plantas daninhas é um dos problemas mais difíceis de se resolver, principalmente quando se trata de produção orgânica. Com sua rusticidade e poder de competição elas conseguem prejudicar e até mesmo inviabilizar a produção ocasionando perdas totais. A solarização é um processo permitido nesse tipo de cultivo referido na certificação orgânica compondo os anexos III e V da INSTRUÇÃO NORMATIVA N° 007 DE 17 de maio de 1999 no item: manejo de plantas daninhas. Este método não-químico apresenta vantagens no controle de plantas daninhas, como redução de custo de produção, além de apresentar efeitos sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (GHINI, 2003).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da solarização associada a quatro tipos de adubos orgânicos no controle das plantas daninhas em local intensamente infestado.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi conduzido na Fazenda Experimental, da Fundação Educacional de Ituiutaba (FEIT), Campus da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) - Ituiutaba-MG, em Latossolo vermelho escuro com o nível de infestação de plantas daninhas bastante elevado. A área continha de um modo geral: carrapicho (Cenchrus echinatus), tiririca (Cyperus spp.), braquiária (Brachiaria decumbens), caruru (Amaranthus spp.), beldroega (Portulaca oleracea), trapoeraba (Commelina benghalensis), guanxuma branca (Sida
glaziovii), apaga-fogo (Alternanthera tenella), capim-pé-de-galinha (Eleusine indica),
corda-de-viola (Ipomoea spp.), erva moura (Solanum americanum), guanxuma (Sida cordifolia) e erva-de-santa-luzia (Chamaesyce hirta).
Avaliou-se o efeito da solarização associado a quatro tipos de esterco em delineamento inteiramente ao acaso em arranjo fatorial 2 x 5, totalizando 10 tratamentos com quatro repetições. Sendo o fator 1: Solo solarizado e solo não solarizado e fator 2: Controle (sem esterco), esterco de aves, esterco de suínos, esterco de eqüinos e esterco de
bovinosnas respectivas doses (10, 12, 40 e 40 toneladas/ha), com finalidade representativa
para a cultura do morangueiro de acordo com as prescrições da 5ª Aproximação (NANNETTI; SOUZA, 1999).
Os canteiros foram preparados em área gradeada e construídos com as dimensões: 3,0 m de comprimento, 1,20 m de largura e 0,20 m de altura. Posteriormente, foram incorporados 845,4 g de calcário por canteiro (elevando o índice de saturação por bases a 80%) e os estercos nas quantidades por canteiro, 3,6 kg esterco de aves; 4,3 kg esterco de suínos; 14,4 kg de esterco de eqüinos e 14,4 kg de esterco de bovinos.
Após a incorporação do calcário e do esterco, os canteiros foram irrigados intensamente chegando próximo à capacidade de campo e em seguida cobertos com filme
de polietileno transparente (150 µm de espessura) permanecendo por um período de 60 dias (julho de 2003 a setembro de 2003). Os canteiros não cobertos foram constantemente irrigados para manter a umidade e ajudar na decomposição dos estercos e serviram como testemunha.
Durante o período da solarização, semanalmente foram coletadas as temperaturas do solo em dois horários: as 9 e 15 horas em todos os tratamentos a 10 cm de profundidade.
Para avaliar a infestação de plantas daninhas nos canteiros, coletou-se em diferentes pontos do canteiro 3000 mL de solo antes da colocação do plástico dividindo esta amostra em quatro bandejas com 750 mL, representando quatro repetições. Esta avaliação foi conduzida em casa de vegetação por um período de 73 dias, identificando e classificando as plântulas como Fabaceae e Poaceae. Esse procedimento foi realizado igualmente antes e depois da solarização em todos os canteiros, sendo as médias comparadas pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. Logo após a retirada do plástico foram feitas cinco avaliações quinzenais da reinfestação de plantas daninhas nos canteiros. Delimitou-se a parte central de cada canteiro utilizando-se um quadrante de 0,5 m x 0,5 m e realizou-se a contagem e identificação das plantas daninhas presentes no local.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados semanais obtidos mostraram que a temperatura dos canteiros atingiu em média 36,82ºC e 27,27ºC nos tratamentos solarizados e não solarizados, respectivamente. A temperatura máxima alcançada durante o período foi de 54ºC nos canteiros solarizados e 42ºC em canteiros não solarizados, apresentando uma diferença de 28,57% (Figura 1). Resultados semelhantes foram apresentados por Ricci et al. (2000) que obtiveram temperaturas de 49,7ºC nas parcelas solarizadas e 40,4ºC nas parcelas não solarizadas, representado uma diferença de ordem de 23%. No entanto, o presente trabalho foi conduzido durante o período de inverno e início da primavera e o de Ricci et al. (2000) durante o período mais quente do ano. Observou-se também que não houve variação entre os tratamentos (Figura 1).
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 T em p er at u ra s ( ºC) 09hs 15hs 09hs 15hs Solarizado Não Solarizado
Tratamentos Sem esterco Aves Suíno Equino Bovino
Figura 1. Média das temperaturas dos canteiros solarizados e não solarizados, avaliadas
uma vez por semana, durante os 60 dias de tratamento, em dois horários do dia: 9
e 15 horas.
Os resultados da germinação e desenvolvimento dos propágulos nas bandejas foram avaliados separadamente, Fabaceae e Poaceae. Nas duas famílias houve efeito significativo da solarização e da interação solarização x tipos de adubos. Nesta avaliação a solarização reduziu a infestação de Fabaceae independente do tipo de esterco e houve aumento significativo de infestantes com a aplicação do esterco de eqüino em relação aos outros estercos, no entanto, a análise mostrou que a solarização foi eficiente na sua redução. A solarização também reduziu a infestação de Poaceae em canteiros adubados com estercos de aves, eqüinos e suínos.
Pelos resultados obtidos constatou-se o efeito positivo da solarização no controle de plantas daninhas em todos os tratamentos (Figuras 2 e 3).
0 1 2 3 4 5 6 7 8 M éd ia d e in fes tan tes SE A S E B Tratamentos Poaceae Fabaceae 0 0,5 1 1,5 2 2,5 M éd ia d e in fe st an te s SE A S E B Tratamentos Poaceae Fabaceae
Figura 2. Média da população de infestantes por canteiro, analisada em bandejas, antes da solarização. (SE = Sem Esterco; A = Ave; S = Suíno;
E = Eqüino e B = Bovino; solarizados e não solarizados).
Figura 3. Média da população de infestantes por canteiro, analisada em bandejas, depois da solarização. (SE = Sem Esterco; A = Ave; S = Suíno;
E = Eqüino e B = Bovino; solarizados e não solarizados).
Foi constatado por meio das avaliações realizadas em campo após a solarização, que nos canteiros solarizados o número de tiririca foi maior que nos canteiros não solarizados. Verificou-se que a tiririca surgiu com maior vigor nos canteiros solarizados provavelmente
devido à ausência de outras infestantes que concorreriam por espaço, luz e nutrientes (Figura 4 e 5). Resultados semelhantes foram obtidos por Kuva et al. (1995), quando estes não obtiveram controle da tiririca após efetuar a solarização em condições de outono-inverno devido às baixas temperaturas atingidas nesse período, o que difere do atual ensaio, o qual, mesmo fora da estação mais quente do ano, atingiu elevadas temperaturas, porém sem resultados satisfatórios para o controle da tiririca. Contudo, os resultados demonstraram a eficiência da solarização no controle de plantas de propagação por sementes, no caso da tiririca por propagar-se tanto via sexuada como assexuada, podendo suas raízes chegar a mais de um metro de profundidade, além de ser uma planta C4 e por suportar períodos de seca prolongados, torna-a de difícil controle (KISSMANN, 1991).
A solarização mostrou-se parcialmente eficiente no controle da tiririca chegando a uma redução de 50% de sua população na área infestada (RICCI et al., 1997) e uma diminuição na sua reinfestação em 59% (RICCI et al., 2000), no entanto o tempo de solarização foi de 210 dias enquanto o presente trabalho foi de 60 dias. Segundo Rubin e Benjamim (1984) e Elmore (1991), o controle apenas parcial desta planta pela solarização do solo, pode ser atribuído ao fato de que 5% dos tubérculos situados em profundidade maior que 30 cm são capazes de brotar ainda após o tratamento.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 M éd ia d a re in fe st aç ão d e C yp eru s ro tu nd us SE A S E B SE A S E B
Solarizado Não solarizado Tratamentos 0 5 10 15 20 25 M éd ia d e Pl an ta s D an in ha s SE A S E B SE A S E B
Solarizado Não solarizado Tratamentos
Figura 4: Média da reinfestação da tiririca (Cyperus spp.) nos canteiros solarizados e não solarizados, avaliados a campo, depois da retirada do plástico. (SE
= Sem Esterco; A = Ave; S = Suíno; E = Eqüino e B = Bovino; solarizados e não solarizados).
Figura 5: Média da reinfestação de Plantas Daninhas, exceto da tiririca (Cyperus spp.), nos canteiros solarizados e não solarizados, avaliados a campo, depois da retirada do plástico. (SE = Sem
Esterco; A = Ave; S = Suíno; E = Eqüino e B = Bovino; solarizados e não solarizados).
Com base nos resultados obtidos concluiu-se que o tipo do esterco utilizado não interferiu na variação de temperatura e nem na eficiência da solarização, a solarização foi
eficiente no controle tanto de Fabaceae como de Poaceae, exceto para Cyperus spp. O
esterco de eqüino favoreceu maior infestação de plantas daninhas, no entanto a solarização foi eficiente no controle e houve aumento da reinfestação de tiririca nos canteiros solarizados em relação aos canteiros não solarizados.
LITERATURA CITADA
ELMORE, C.L. Weed control by solarization. In: KATAN, J.; VAY, J.E. (Ed.). Soil
solarization. Boca Raton: CRC, 1991. p.61-72.
GHINI, R. Desinfestação do solo com o uso de energia solar: solarização e coletor solar. Jaguariúna: Embrapa-CNPDA, 1997. 29p. (Circular, 1).
GHINI, R. Efeito da solarização sobre propriedades físicas, químicas e biológicas de solos.
Revista Brasileira de Ciências do Solo, p.71-79, 2003.
KATAN, J.; VAY, J.E. Soil solarization: historical perspectives, principles, and uses. In: KATAN, J; VAY, J.E. (Ed.) Soil solarization. Boca Raton: CRT, 1991. p.23-37.
KISSMANN, K.G. Plantas infestantes e nocivas. São Paulo: BASF, v.1, 1991. 608p.
KUVA, M.A.; ALVES, P.L.C.A.; ERASMO, E.L.A. Efeitos da solarização do solo com plástico transparente sobre o desenvolvimento da tiririca (Cyperus rotundus). Planta Daninha, Brasília, v.13, n.1, p.26-31, 1995.
NANNETTI, D.C., SOUZA, R.J. Morango. In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.; ALVAREZ-V., V.H. (Ed.) Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas
Gerais: 5a aproximação. Viçosa: CFSEMG, 1999. p.198-199.
RICCI, M.S.F.; ALMEIDA, D.L.; GUERRA, J.G.M. Efeito da solarização na população
infestante de tiririca (Cyperus rotundus) e na produção de hortaliças. Seropédica:
EMBRAPA-CNPAB, 1997. 5p. (Comunicado Técnico, 18).
RICCI, M.S.F.; ALMEIDA, D.L.; FERNANDES, M.C.A.; RIBEIRO, R.L.D.; CANTANHEIDE, M. C.S. Efeito da solarização do solo na densidade populacional da tiririca e na produtividade de hortaliças sob manejo orgânico. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, p.2175-2179, 2000.
RUBIN, B.; BENJAMIN, A. Solar heating of the soil: involvement of environmental factors in the weed control process. Weed Science, Champaign, v.32, p.138, 1984.