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Inteligência e investigação criminal: instrumentos de cidadania

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Academic year: 2021

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CARLOS ALBERTO RUIZ GASPARETTI

INTELIGÊNCIA E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL: INSTRUMENTOS DE CIDADANIA

Ribeirão Preto 2017

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INTELIGÊNCIA E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL: INSTRUMENTOS DE CIDADANIA

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato

Sensu em Inteligência de Segurança, da Universidade do Sul

de Santa Catarina, como requisito à obtenção do título de Especialista em Inteligência de Segurança.

Orientação: Prof. Aloisio José Rodrigues, MSC.

Ribeirão Preto 2017

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INTELIGÊNCIA E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL: INSTRUMENTOS DE CIDADANIA

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Especialista em Inteligência de Segurançae aprovada em sua forma final peloCurso de Pós-Graduação Lato Sensu em Inteligência de Segurança, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Ribeirão Preto, de março de 2018

_____________________________________________________

Professor orientador: Aloisio José Rodrigues, MSC.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_____________________________________________________

Prof. Joel Irineu Lohn, MSC.

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suas instituições. A Nação acompanhou pela mídia notícias acerca de investigações procedidas para desvendar crimes e desbaratar organizações criminosas infiltradas nos mais diversos segmentos administrativos dos poderes da União, resultando da descoberta desvios de vultosos recursos financeiros, o que veio a comprometer o regular funcionamento do Estado, com grave prejuízo ao exercício pleno do direito constitucional da cidadania, pois os cidadãos começaram a deixar de ter acesso aos seus direitos básicos. Neste contexto, é inegável o destaque que tiveram os serviços de inteligência e de investigação criminal perante a Nação brasileira. Estes instrumentos de cidadania vistos em plena execução, os quais, mesmo conhecidos, especialmente no âmbito do direito processual penal, ganharam elevada notoriedade e despertaram maior interesse no domínio dos operadores do direito. Entretanto, na própria Nação também repercutiram bem, pelo lado prático das investigações bem sucedidas, dos processos judiciais e prisões efetivadas, porque vieram a ganhar as ruas por intermédio da mídia. Neste contexto, esta pesquisa foi proposta mediante as seguintes indagações: É possível afirmar que a inteligência constitui-se no principal fator de sucesso da investigação criminal? Pode-se afirmar, ainda, que os serviços de inteligência abriram nova e relevante etapa na investigação criminal brasileira? Os estudos foram desenvolvidos objetivando verificar a importância dos serviços de inteligência, bem como a sua eficácia na investigação criminal. A pesquisa de cunho explicativo foi desenvolvida por meio de estudo eminentemente bibliográfico. Tecnicamente, tratou-se de pesquisa pura, caracterizada pela curiosidade intelectual. O resultado foi exitoso, as respostas foram alcançadas por intermédio de pesquisa teórica, buscada na literatura produzida na própria área de conhecimento. O objetivo geral restou alcançado, ficando notória a importância dos serviços de inteligência, confirmada também a sua eficácia como principal fator da investigação criminal até por conta dos resultados dos processos criminais encaminhados pelo Poder Judiciário, a partir da comprovação das denúncias do Ministério Público. Para se chegar ao desiderato, a pesquisa solucionou ainda os questionamentos específicos também propostos, analisando as ferramentas tradicionais de investigação criminal e as características dos serviços de inteligência, concluindo efetiva a relevância do fator inteligência nesse contexto como fator otimizador da investigação criminal.

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1 INTRODUÇÃO...5

2 INTELIGÊNCIA E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL...8

2.1 INTELIGÊNCIA...8

2.1.1 Inteligência Criminal e Inteligência de Segurança Pública...12

2.1.2 Princípios da Atividade de Inteligência...16

2.2 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL...18

2.2.1 Conceitos ...21

2.2.2 Meios de Investigação Criminal...21

2.2.2.1 Campana ...23

2.2.2.2 Penetração e Infiltração ...23

2.2.2.3 Interceptação telefônica ...23

2.2.2.4 Ação controlada ...24

2.2.2.5 A quebra do sigilo bancário e fiscal ...24

2.2.2.6 A busca e apreensão ...24

2.2.2.7 Colaboração premiada ...25

3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...28

4 CONCLUSÃO...34

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1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa científica foi motivada pelo destaque que o tema escolhido, inteligência e investigação criminal, teve nos últimos anos perante a Nação brasileira. Inteligência e investigação criminal tornaram-se efetivos instrumentos de cidadania, antes temas restritos ao domínio dos operadores do direito, submetidos à sua compreensão e estudo a partir de legislações específicas mas, repentinamente, vieram a ganhar as ruas por intermédio da mídia. E isso em razão dos efeitos benéficos de tais instrumentos na busca sem precedentes de resgate das instituições públicas, uma vez invadidas por organizações criminosas instalando o caos no Estado brasileiro por corrupção generalizada, desestabilizando a política, a economia, a ética e a própria dignidade da Nação.

Em termos mais diretos, este estudo se deu em razão do interesse despertado pelas investigações criminais procedidas pela Polícia Federal, mas capitaneadas pelo Ministério Público, testemunhadas pela Nação brasileira, a partir da ação penal conhecida por “Mensalão”, julgada pelo Supremo Tribunal Federal, e, depois, pela denominada “Operação Lava Jato”, ainda em evidência. Além de outras em andamento, especialmente derivadas desta última.

Esta pesquisa, ora materializada, foi concebida objetivando buscar respostas às seguintes indagações: É possível afirmar que a inteligência constitui-se no principal fator de sucesso da investigação criminal? Pode-se afirmar, ainda, que os serviços de inteligência abriram nova e relevante etapa na investigação criminal brasileira?

Bem justificada, portanto, a denominação de instrumentos de cidadania à inteligência e à investigação criminal, eis que por seu intermédio se busca o resgate efetivo da cidadania ao se combater a corrupção instalada no coração político e administrativo do Brasil, culminando com desvios de recursos que afetaram o regular funcionamento do Estado e principalmente o pleno exercício da cidadania, face às restrições impostas às prerrogativas constitucionais de acesso à saúde, educação, transporte, segurança, dentre outros direitos.

Ficou evidenciado o interesse generalizado da Nação nesse assunto. Portanto, interesses foram registrados por especialistas, por amantes do direito e por cidadãos, que reconheceram a necessidade de elevado desempenho investigatório diante da sofisticação das atividades ilícitas, exigindo do Poder Público avançado sistema de inteligência para compilação de informações e respectivo compartilhamento entre as instituições necessariamente envolvidas, como agentes das receitas estaduais e federal, componentes da Agência Brasileira de Inteligência, membros de corregedorias, além dos órgãos de Segurança Pública e do Ministério Público. A propósito do Ministério Público, em que pese não se tratasse de assunto específico deste estudo, foi objeto

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de análise ainda, por necessidade de enfrentamento face à pontualidade, a questão da competência para investigação criminal por parte deste órgão. A necessidade de aperfeiçoamento das novas ferramentas criadas pela legislação se impõe no combate a organizações criminosas, tais como a colaboração premiada, a ação controlada e a infiltração de agentes, dentre outras.

Assim sendo, explicitada a motivação e delimitado o objeto desta pesquisa, foram buscadas respostas às indagações formuladas. Neste caso, tratou-se de pesquisa predominantemente explicativa, eis que seu principal instrumental foi a análise bibliográfica, isto porque o objetivo geral da proposta foi analisar e correlacionar o novo fenômeno da inteligência à tradicional investigação criminal, cujos reflexos no mundo do Direito são notórios, sinalizando por isso mesmo razões suficientes para o aprofundamento dos estudos no sentido de se encontrar as necessárias explicações para esses fatos sob novos prismas, e porque não afirmar atualíssimos, que estão repercutindo preponderantemente nos constitucionais direitos de cidadania.

É importante enfatizar que inteligência e investigação criminal, instrumentos de cidadania, não constituem novidade no mundo do Direito, mas encontram-se em momento particularmente extraordinário, em contexto inusitado da história do Brasil. Daí tratar-se reconhecidamente de fenômenos, tanto no atual universo jurídico como no midiático.

Exatamente por isso na pesquisa buscou-se compreender a inteligência e a investigação criminal como efetivos instrumentos de cidadania no contexto de suas existências no mundo jurídico, como preliminar de buscas mais aprofundadas, cujo escopo foi responder às indagações formuladas como problemas postos.

Em contexto mais técnico, tratou-se de pesquisa pura na abordagem dos problemas levantados, querendo isso significar a curiosidade intelectual como motivação principal para a compreensão das questões emergentes e para a busca das respectivas respostas conceituais. Até porque estas somente poderiam ser alcançadas por intermédio de pesquisa teórica, originária da literatura produzida na própria área de conhecimento destacada.

Assim, o objetivo geral da pesquisa que era verificar a importância dos serviços de inteligência, bem como sua eficácia na investigação criminal, foi devidamente alcançado. Na sequência, a explicação técnica se encontra no denominado capítulo teórico, o qual, didaticamente construído, estabelece momentos exclusivos para análise dos instrumentos de inteligência e investigação criminal. Foram alcançados igualmente os objetivos específicos, uma vez que foram levantadas as características dos serviços de inteligência e analisadas as ferramentas tradicionais de investigação criminal, cotejados esses instrumentos, pode-se inferir

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a relevância da inteligência nos sucessos alcançados pela investigação criminal como pressupostos das respostas positivas ofertadas pelo Poder Judiciário à sociedade brasileira em pleno resgate da cidadania, que é a avaliação final deste estudo, contida em capítulo próprio acerca da apresentação e discussão dos resultados.

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2 INTELIGÊNCIA E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

O Brasil atravessa momento singular que, certamente, marcará a sua história. Trata-se de verdadeira revolução ética que já se sentia tardia e na qual a Nação coloca a esperança de se tornar o Estado efetivamente democrático e de direito que a Constituição estabelece. As instituições estão em plena atuação constitucional e os malfeitos de certos líderes nacionais vieram à tona e numa escalada sem precedentes o Poder Judiciário tem demonstrado efetivo protagonismo cívico ao lado do Ministério Público, que tem em seu apoio os segmentos de polícia judiciária e de outras áreas administrativas. O combate às organizações criminosas impõe-se, daí a fundamental união nacional. Por este motivo veio à luz a Lei nº 12.850/13, sobre o Crime Organizado, didaticamente comentada na obra de Cunha e Pinto (2013).

A expectativa da Nação é enorme e todo auxílio é importante, motivo porque Mingardi (2007, p.51-69) alude à união objetivando o combate às organizações criminosas que atuam de longa data no Brasil. Levanta a imprescindível necessidade de a investigação criminal vir a ser apoiada pela moderna ferramenta da inteligência, que ele denomina inteligência criminal em vez de inteligência policial, ampliando, portanto, seu âmbito de atuação e desenvolvimento. Propõe a integração da inteligência criminal, ou seja, o seu compartilhamento de informações, entre Ministério Público, segmentos policiais, Agência Brasileira de Inteligência e outros órgãos administrativos possuidores de informações estratégicas.

O estudo proposto, portanto, enfatiza a inteligência como aliada da investigação criminal e o que se pretendia pesquisar era, efetivamente, esse nível de suporte e o seu potencial como ferramenta divisora de etapas na ciência da investigação criminal. Até porque, naquele contexto, como no atual, não se pode olvidar da provável relevância da inteligência no instituto da colaboração premiada, grande novidade na investigação criminal nacional, que tem levado a extraordinários efeitos. Portanto, o estudo se constituiu também em avaliação histórica deste momento nacional, cuja pretensão cívica ainda é a de “passar o Estado a limpo”.

2.1 INTELIGÊNCIA

Consta que a atividade de inteligência é considerada a segunda profissão mais antiga do mundo, causando especial fascínio a sua vertente mais conhecida, a espionagem (Gonçalves, 2017, p. 1).

Sobre inteligência, pequena incursão histórica torna-se necessária. Autoridades brasileiras já em 1941, no auge da 2ª Guerra Mundial, denunciaram a necessidade de criação de um órgão de inteligência para se adequar às contingências de então, o que se efetivou em

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1946, conforme Roratto e Carnielli (2006, p. 11-22). Cabe ligeiro conceito, de acordo com o magistério de Guedes (2006, p. 23-37): “Atividade de Inteligência: É uma atividade especializada, de caráter sigiloso permanentemente exercida com o objetivo de produzir conhecimentos de interesse do cliente/usuário/consumidor.”

Há desconhecimento e ainda preconceito em relação à atividade de inteligência, mormente no Brasil, onde se viveu um período de exceção no qual alguns setores da inteligência acabaram associados ao aparato repressor do Estado (Gonçalves, 2017, p. 2), de triste memória.

De outra parte, há entendimento moderno e cada vez mais difundido de que democracia nenhuma pode prescindir de serviços secretos. Ou seja, inteligência e democracia são plenamente compatíveis (Gonçalves, 2017, p. 2).

Destarte, conforme consta do preâmbulo deste capítulo, a inteligência, inesperadamente, tornou-se uma ferramenta relevante a fomentar a investigação criminal. Na verdade, tornou-se a principal auxiliar dos mecanismos próprios de investigação de crimes cometidos por organizações criminais, especialmente nas organizações que envolveram empresas e políticos imbuídos do propósito de dilapidar o patrimônio público. Culminando com investigações, prisões, processos e condenações de figuras de vulto tanto na política, como na iniciativa privada, maculando os poderes da República. A vinda a público destas informações por intermédio da mídia deixou a inteligência na berlinda.

É importante neste contexto trazer as relevantes informações obtidas na obra de Gonçalves (2017, p.36), acerca das diversas categorias de inteligência que menciona. A que mais interessa é a pertinente à inteligência policial ou criminal de segurança pública, que terá tratamento diferenciado adiante.

Subsídios importantes também vieram à luz por intermédio de Farah (2015, p.16), que comentando a legislação própria, se referiu à instituição do Sistema Brasileiro de Inteligência pela Lei nº 9.883/99, “com o objetivo de integrar as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência no país.” Referida lei foi regulamentada pelo Decreto nº 4.376/2002. Antes, pelo Decreto nº 695/2000, foi criado o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, “com o objetivo de coordenar e integrar as atividades de Inteligência de Segurança Pública em todo o país, bem como suprir os governos federal e estaduais de informações que subsidiem a tomada de decisões neste campo.” Ainda, referido Professor anota (2015, p. 17) que a Resolução SENASP nº 1/2009 traz o conceito de Inteligência de Segurança Pública nos seguintes termos:

é a atividade permanente e sistemática via ações especializadas que visa identificar,

acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais sobre a segurança pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem planejamento e execução de políticas de

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Segurança Pública, bem como ações para prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza, de forma integrada e em subsídio à investigação e à produção de conhecimentos.

Destarte, “durante séculos, a atividade de inteligência permaneceu na penumbra, envolta em uma aura de mistério, e restrita a círculos de iniciados. No final do segundo milênio e início do terceiro, porém, cada vez mais se fala sobre inteligência” (Gonçalves, 2017, p. 27).

É importante a esta altura do estudo entender-se que inteligência é “conhecimento processado (a partir de matéria bruta, com metodologia própria), obtido de fontes com algum caráter de sigilo e com o objetivo de assessorar o processo decisório” (Gonçalves, 2017, p. 27). Entretanto, qual é o escopo da atividade de inteligência? A resposta a esta indagação leva a distintas áreas que podem servir de diversificação de categorias de inteligência (Gonçalves, 2017, p. 29).

O referido autor esclarece que “o escopo da atividade de inteligência diz respeito à obtenção e análise de informações que venham a subsidiar o processo decisório de diferentes níveis e atividades”. E, acrescenta para melhor entendimento (Gonçalves, 2017, p. 29):

que praticamente tudo pode ser objeto da análise de informações: questões de política externa, assuntos internos, problemas estratégicos contemporâneos, temas fiscais, segurança pública, produção industrial e agrícola, meio ambiente, epidemias e saúde pública, política energética.

Em que pese a classificação não traduzir unanimidade dos especialistas, para este estudo a orientação foi guiada pelo escopo da atividade de inteligência. Assim, seguem algumas categorias: Inteligência Militar, Inteligência Policial ou Criminal, Inteligência Financeira, Inteligência Fiscal, Inteligência Competitiva, Inteligência Estratégica e Inteligência de Estado (Externa e Interna) (Gonçalves, 2017, p. 32).

Inteligência militar e de defesa

“A inteligência militar reúne atividades, conhecimentos e organizações voltadas a interesses das forças armadas ou da defesa nacional, em tempos de guerra e paz” (Gonçalves, 2017, p. 32).

Inteligência financeira

A inteligência financeira, ou seja, o conjunto de ações de inteligência voltadas à identificação de delitos financeiros, pessoas, organizações e informações a eles relacionados e produção de conhecimento com vistas ao combate a esses ilícitos e neutralização das atividades de pessoas e organizações(Gonçalves, 2017, p.57).

A inteligência financeira desponta como um dos instrumentos mais eficazes para o combate ao crime organizado em todo o mundo, porque atua em face da atividade conhecida

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como lavagem de dinheiro. “O delito transnacional de lavagem de dinheiro é caracterizado por um conjunto de operações comerciais ou financeiras que buscam a incorporação na economia de um país, de modo transitório ou permanente, de recursos, bens e valores de origem ilícita”(Gonçalves, 2017, p.57).

Inteligência fiscal

A inteligência fiscal decorre do exercício do poder de polícia do Estado. São exemplos os órgãos de fiscalização de meio ambiente, agricultura e pecuária, saúde e questões sanitárias, previdência social e aqueles que fiscalizam o cumprimento das leis trabalhistas. Destaca-se neste contexto a inteligência fiscal fazendária, no plano federal capitaneada pela Receita Federal, cuja atividade está voltada à identificação e investigação de delitos contra a ordem tributária (além dos delitos de natureza previdenciária, os de contrabando e descaminho e de lavagem e ocultação de bens, direitos e valores) e à produção de conhecimentos relacionados ao tema (Gonçalves, 2017, p. 60).

É dos mais relevantes neste contexto, o papel da inteligência fazendária na defesa do Estado e da sociedade, evidenciando-se pela estrutura de inteligência nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal). É de se destacar ainda a inteligência fiscal de outros órgãos com poder de polícia administrativa, como as agências reguladoras e em organizações como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Não se pode olvidar ainda o grande desenvolvimento da chamada “inteligência ambiental” que incumbe-se de monitorar áreas de proteção ambiental no país e promover assessoria para a tomada de decisões no âmbito dos recursos naturais. Trata-se do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) (Gonçalves, 2017, p. 61).

Inteligência competitiva

Não se pode desconsiderar a evolução da inteligência de maneira global, ou seja, essa atividade não tem sido utilizada apenas por governos, mas também por instituições privadas, objetivando travar verdadeiras batalhas em diversos ambientes competitivos. Neste caso, o escopo é a vantagem financeira das grandes empresas e corporações que, além de buscarem sistematicamente o lucro, de outra parte, procuram também neutralizar os concorrentes. O que antes era conhecido como espionagem comercial ou industrial, atualmente é chamado de inteligência competitiva. Esta, portanto, é voltada para o mundo dos negócios. E, não se pode olvidar, o Brasil não dispõe de legislação que regulamente a inteligência privada, denominada competitiva (Gonçalves, 2017, p.62/63).

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Inteligência estratégica

Ao se referir a inteligência estratégica, fala-se em Inteligência de Estado, nos seus mais altos níveis. Assim, “inteligência estratégica é uma atividade de expressão inteligente que tem implicações a longo prazo, geralmente vinculada a formulação de cenários prospectivos” (Gonçalves, 2017, p.65).

Inteligência de Estado: a acepção clássica

A percepção clássica da atividade de inteligência está muito vinculada à Inteligência de Estado. Trata-se daquela atividade associada a informações, processos e organizações relacionados à produção de conhecimentos, tendo por escopo a segurança do Estado e da sociedade, e que constituem subsídios ao processo decisório da mais alta esfera de governo (Gonçalves, 2017, p. 67).

A Inteligência de Estado subdivide-se em: Inteligência Externa e Inteligência Interna ou Doméstica.

Inteligência externa

Entende-se por inteligência externa aquela voltada à identificação de oportunidades e ameaças relacionadas às capacidades, intenções e atividades de pessoas, grupos ou Estados estrangeiros, bem como de organizações internacionais e transnacionais. Assim, a Inteligência Externa está estreitamente vinculada à Defesa Nacional e à Política Externa de um país (Gonçalves, 2017, p.68/69).

Inteligência interna ou doméstica

A inteligência interna ou doméstica (security intelligence) tem a ver com a informação voltada à segurança do Estado, de suas instituições e da sociedade, relacionada a ameaças no interior do território nacional. É importante observar que o que diferencia a inteligência interna da externa é basicamente o ambiente operacional onde se passa a ação de coleta/busca do dado (Gonçalves, 2017, p.71).

2.1.1 Inteligência criminal e inteligência de segurança pública

Esta classificação é a que mais interessa a este estudo, motivo porque será analisada mais detidamente. Na própria motivação da proposta de pesquisa encontram-se evidentes referências a esta categoria que, diga-se, influenciou a própria opinião pública brasileira nos últimos anos, por conta das investigações criminais que culminaram em processos judiciais e que a partir desse período inunda a mídia e ainda mobiliza esta Nação esperançosa e sedenta de justiça e de recuperação da ética objetivando, em última instância, a recomposição da combalida cidadania brasileira.

É inegável o desenvolvimento da atividade de inteligência no contexto da investigação criminal, mormente nas últimas décadas por conta da necessidade premente de combate ao crime organizado nacional e transnacional. Nessa situação evidenciou-se a importância da atividade de inteligência, que tornou-se perceptível à Nação, extrapolando, portanto, os limites então exíguos de suas atividades e de reconhecimento (Gonçalves, 2017, p. 36).

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Destarte, a inteligência policial ou criminal (Gonçalves, 2017, p. 36),

tem como escopo questões (em sua maioria táticas) de repressão e apoio à investigação de ilícitos e grupos infratores – não se trata, registre-se bem, de atividade de investigação criminal. Essa inteligência está a cargo, e deve aí permanecer, das polícias – no caso do Brasil, estaduais (civis e militares), e polícia federal. É por meio desse tipo de atividade que se podem levantar indícios e tipologias que auxiliam o trabalho da polícia judiciária e do Ministério Público. No combate ao crime organizado, é muito mais com atividades de inteligência do que com grandes operações ostensivas que se consegue identificar esquemas ilícitos e desbaratar quadrilhas.

O autor acima evidenciado estabelece para a efetiva compreensão do significado de inteligência, que “é fundamental que se entenda tratar-se de um conhecimento processado (a partir de matéria bruta, com metodologia própria), obtido de fontes com algum caráter de sigilo e com o objetivo de assessorar o processo decisório” (2017, p. 38). E, alerta ainda que a atividade de inteligência não se confunde com a atividade de investigação. A inteligência atua, com técnicas próprias, na busca de informações objetivando auxiliar a investigação.

O Manual de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal do Brasil (atualizado em 2011) estabelece inteligência policial como

a atividade de produção e proteção de conhecimentos, exercida por órgão policial, por meio do uso de metodologia própria e de técnicas acessórias, com a finalidade de apoiar o processo decisório deste órgão, quando atuando no nível de assessoramento, ou ainda, de subsidiar a produção de provas penais, quando for necessário o emprego de suas técnicas e metodologias próprias, atuando, neste caso, no nível operacional (Gonçalves, 2017, p. 36).

Ainda, de acordo com o Manual do DPF acima referido, operações de inteligência policial são conceituadas como “o conjunto de atividades que fazem uso de ações especializadas de inteligência, com o objetivo de identificar, colher e produzir provas para a instrução criminal ou buscar dado negado”. E complementa que “entende-se por ações especializadas de inteligência aquelas que utilizam recursos e técnicas especiais voltadas à investigação ou busca do dado negado” (Gonçalves, 2017, p.37).

Nesse contexto, nos moldes da doutrina de inteligência do Departamento de Polícia Federal do Brasil,

as operações são divididas em operação de inteligência policial em sentido amplo

(assessoramento), que são aquelas voltadas à busca de dados para a produção de

conhecimento para assessorar o processo decisório; e operação de inteligência

policial em sentido estrito (operacional), ou seja, aquelas que envolvem ação

especializada realizada por órgão de inteligência policial, no âmbito da atividade de Polícia Judiciária da União, que é, por determinação Constitucional, exclusiva do Departamento de Polícia Federal, com o objetivo de produzir diretamente provas em investigação criminal. Enquanto o produto final das operações de inteligência de assessoramento é um Relatório de Inteligência Policial (RELINT), classifica o Manual, a operação de inteligência policial em sentido estrito tem como resultado um

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documento policial destinado aos autos da investigação criminal, como, por exemplo, Auto Cirunstanciado e Informação Policial (Gonçalves, 2017, p. 37).

Nos últimos anos tem-se desenvolvido no Brasil o estudo da inteligência policial. No Departamento de Polícia Federal foi criado um setor de doutrina na Diretoria de Inteligência Policial, cujo objetivo é fomentar estudos para a produção de uma doutrina de inteligência específica às peculiaridades do trabalho policial. Esse campo, naturalmente, tem potencial para rápido desenvolvimento, eis que são prementes as necessidades das forças policiais para se tornarem cada vez mais eficientes, eficazes e efetivas no enfrentamento das organizações criminosas, como também diante dos novos padrões de criminalidade (Gonçalves, 2017, p. 38). Aprofundando um pouco mais o estudo na questão da inteligência no campo da investigação policial, verifica-se que a Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP), fundamentada pela Resolução nº 1, de 15 de julho de 2009, do Secretário Nacional de Segurança Pública, definiu a inteligência policial como

o conjunto de ações que empregam técnicas especiais de investigação, visando a confirmar evidências, indícios e a obter conhecimentos sobre a atuação criminosa dissimulada e complexa, bem como a identificação de redes e organizações que atuem no crime, de forma a proporcionar um perfeito entendimento sobre a maneira de agir e operar, ramificações, tendências e alcance de condutas criminosas. (Gonçalves, 2017, p. 38)

Reforça-se neste momento, por oportuno, o alerta para se impedir qualquer confusão entre inteligência policial e investigação criminal ou policial. A partir da definição legal de inteligência policial acima transcrita, é possível asseverar que não se pode confundir inteligência policial com análise criminal ou com investigação policial ou criminal. Tais instrumentos não podem vir a ser confundidos, mesmo levando-se em consideração que na condução de uma investigação para identificar provas da ocorrência de um crime e de seus autores (conceito de investigação policial, portanto), o investigador até pode vir a utilizar procedimentos similares às técnicas operacionais de inteligência.

Assim, conclui-se que a inteligência policial atua na prevenção, obstrução, identificação e neutralização das ações criminosas, apoiando a investigação policial e fornecendo subsídios às atividades da polícia judiciária e do Ministério Público (Gonçalves, 2017, p. 39).

É importante situar no âmbito do Estado brasileiro, órgãos relalacionados à inteligência. Assim, com a criação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP) no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), o Decreto nº 3.695/2000 dispõe que o SISP tem por finalidade “coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o País, bem como suprir os governos federal e estaduais de informações que

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subsidiem a tomada de decisões neste campo” (art.1º), sendo integrado pelos Ministérios da Justiça, da Fazenda, da Defesa e da Integração Nacional e pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (art. 2º).

Nesse contexto, o órgão central é a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça (SENASP). Nos termos do §3º do art. 2º do Decreto 3.695/2000, cabe aos integrantes do SISP, no âmbito de duas competências, “identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais de segurança pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem ações para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza”. Destarte, a Agência Central do SISP é a Coordenação-Geral de Inteligência (CGI) da SENASP, “recipiendária direta dos dados, informações e conhecimentos decorrentes das atividades de Inteligência de Segurança Pública” (Resolução nº 1, de 2009 – SENASP, art. 1º, § 2º).

O destaque neste momento é para o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), em cujo desenvolvimento se aposta e procura a efetiva integração nacional da atividade de inteligência para o aprimoramento da identificação, combate e neutralização de grandes ameaças no campo da segurança pública, sobretudo daquelas relacionadas ao crime organizado e à delinquência nos Estados.

Esta proposta tem sentido em vista da própria legislação citada, mas, principalmente, diante do grau de complexidade e diversificação do crime organizado, quando a atividade de inteligência adquire grande importância não só para a repressão, mas, sobretudo, no que concerne à prevenção contra o desenvolvimento dessa modalidade de atividade criminosa. O planejamento estratégico de ação das autoridades no contexto da segurança pública é o desiderato da atividade de inteligência, em escala federal e estadual (Gonçalves, 2017, p. 51).

Uma vez estabelecidas as diferenças entre inteligência e investigação criminal e, principalmente, construído o conceito de atividade de inteligência de segurança pública, chega-se ao inarredável conchega-senso de quem deve dechega-senvolver a inteligência policial ou criminal: as próprias instituições policiais, polícias civis e militares estaduais e a polícia federal. Não cabendo, por oportuno dizer, esse tipo de atividade a órgãos como a ABIN ou aos setores de inteligência fiscal. Isto não significa que não possa haver compartilhamento de informações e ações, mesmo porque em face da alta complexidade e diversificação da delinquência organizada, as ações isoladas tenderiam a ser inócuas. A combinação da inteligência policial com a governamental e ou estratégica resultaria melhor significado e expectativa, afinal tratamos ordinariamente de crimes transnacionais (Gonçalves, 2017, p. 51).

No concernente à Segurança Pública, conforme dispõe o art. 144 da Constituição de 1988, não se pode olvidar as atividades de inteligência do Departamento de Polícia Rodoviária

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Federal (DPRF), do sistema penitenciário (que ganhou notoriedade com o desenvolvimento das organizações criminosas no interior dos presídios), como também as atividades de inteligência conduzidas no âmbito das corporações policiais militares e corpos de bombeiros militares.

O quadro abaixo, que distingue a atividade de inteligência da investigação criminal, foi criado por Paulo Roberto Batista de Oliveira na monografia (p. 20) que apresentou ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (Gonçalves, 2017, p. 48).

ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA X INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

Atividade de Inteligência Investigação Criminal

1 Proativa 1 Reativa

2 Visão de Futuro 2 Visão de passado e presente

3 Compreensão do fenômeno, suas causas, consequências e de como enfrentar o problema por meio de atuações específicas

3 Objetiva esclarecer a autoria e comprovar a materialidade

4 Não se preocupa com a produção de prova 4 Ocupa-se da produção de prova 5 Não se preocupa em buscar a verdade e

sim a realidade

5 Preocupa-se com a busca da verdade

6 Assessoria qualificada produtora de conhecimentos

6 Não é atividade de assessoria

7 Pode ser de natureza exploratória e sistemática

7 Em regra é exploratória

2.1.2 Princípios da atividade de inteligência

A inteligência, em qualquer de suas categorias, acima referidas – militar, estratégica, policial, etc. – objetivando a produção de conhecimento, necessita de princípios norteadores. Estes constituem-se sínteses de pontos importantes e orientadores das características de um produto e do procedimento para obtê-lo. Dentre vários, quatro princípios são considerados fundamentais: objetividade, oportunidade, segurança e imparcialidade (Gonçalves, 2017, p. 126).

Princípio da objetividade

Segundo este princípio, “a inteligência deve ter utilidade, finalidade ou objetivo específico, além de expressar os conhecimentos sobre atos ou fatos com a maior precisão possível, mediante o emprego de linguagem caracterizada pela clareza e simplicidade” (Gonçalves, 2017, p. 127).

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Princípio da oportunidade

Este princípio estabelece que

as informações devem ser produzidas e difundidas dentro de prazo que possibilite sua completa e adequada utilização. Afinal, a inteligência como produto é passível de rápido processo de deterioração diante do tempo. Daí porque seu valor e utilidade dependem, essencialmente, da oportunidade com que seja elaborada e difundida aos destinatários e utilizadores, tendo em vista o planejamento das ações decisórias

(Gonçalves, 2017, p.127).

Princípio da segurança

Por este princípio estabelece que

o planejamento, a produção e a difusão de inteligência devem ocorrer sob a égide do sigilo, de modo a limitar o acesso a essa Inteligência apenas às pessoas que devam realmente tomar conhecimento delas, ou seja, apenas àqueles que tenham necessidade de conhecer. Assim, em virtude de suas características intrínsecas, a atividade de inteligência deve revestir-se de profundo grau de sigilo, o que de forma alguma significa que seja atividade ilegal e sem qualquer controle (Gonçalves, 2017, p. 127).

Princípio da imparcialidade

Nos moldes deste princípio, “a inteligência como produto deve conter conhecimentos essenciais e imprescindíveis, referentes aos atos e fatos que a originaram, e ser isenta de posição pessoal do analista e de outras influências que possam prejudiciar sua exatidão” (Gonçalves, 2017, p. 128).

Outros princípios devem ser acrescentados em razão de sua importância: controle, clareza, simplicidade e amplitude.

Princípio do controle

Este princípio busca garantir certa ordem à produção do conhecimento e sua difusão e, portanto,

estabelece a necessidade de organização dos diferentes escalões de informações e de centralização das atividades, nos mais altos escalões. Organização, consubstanciada em normas orientadoras, em face da ampla diversificação dos escalões produtores de informações; centralização, tendo em vista o âmbito abrangido pelas informações, que requer adequada difusão aos usuários interessados (Gonçalves, 2017, p. 129).

Princípio da clareza

É notória a estreita relação entre o princípio da objetividade e este ao preconizar que

a inteligência como produto deve ser clara a ponto de permitir a imediata e integral compreensão de seu significado, bem como primar pela evidência dos conhecimentos elaborados. Daí a importância da apresentação dos documentos de inteligência em linguagem escorreita, expurgada de literatura e de floreios supérfluos (Gonçalves, 2017, p. 130).

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Princípio da simplicidade

“Associado ao princípio da clareza, o princípo da simplicidade preconiza que o produto da inteligência deve ser simples, de forma a conter unicamente os conhecimentos essenciais, isentos de expressões e conceitos dispensáveis” (Gonçalves, 2017, p. 130).

Princípio da amplitude

“Por este princípio, a inteligência produzida tem que ser tão completa quanto possível, de maneira a conter conhecimentos amplos e exatos, obtidos de todas as fontes disponíveis. Este princípio deve ser aplicado de maneira ponderada, sobretudo em virtude do princípio da oportunidade” (Gonçalves, 2017, p. 130).

A ética como princípio

A ética sempre deve ser prioridade. Mormente em momento tão delicado para a Nação brasileira. Assim,

além desses princípios de caráter metodológico e técnico-operacional, a atividade de inteligência deve ser pautada em preceitos éticos e levar em conta os princípios legais e constitucionais aos quais está subordinada em um regime democrático. Importante registrar, também, o papel da ética na condução da atividade de inteligência: sem ética, os riscos de desvios de conduta e abusos são grandes

(Gonçalves, 2017, p. 131).

2.2 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

É importante lembrar que a investigação criminal, no magistério de Capez (2013, p. 117), constitucionalmente atribuída à polícia judiciária, não é, no entanto, exclusividade desta, conforme vêm admitindo os tribunais superiores e testemunhando-o a própria Nação, no desenlace de investigações que levaram personagens relevantes do cenário nacional à condenação criminal por participação em organizações criminosas. Observa-se, no entanto, que nessa interpretação não há consenso, mormente quanto ao protagonismo do Ministério Público à frente das investigações criminais, opõe-se firmemente a Ordem dos Advogados do Brasil, além de significativos doutrinadores.

Em bom momento didático e corroborando a tese acima de Capez (2013, p. 117), surge França Júnior (2012, p. 52-77), que entende como “fundamental a criação e estruturação no âmbito dos Ministérios Públicos de órgãos de inteligência, centralizadores de bancos de dados estruturados e especializados na produção, análise e difusão de informações”.

Uma faceta da relevância desta pesquisa científica se fez notar em alguns momentos aqui registrados, isto porque o propósito deste estudo, como enunciado, é a ênfase na investigação criminal e na inteligência. Contudo, uma questão aparentemente de fundo vem à

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luz com veemência e, efetivamente, não pode ser ignorada por estudioso do Direito: a competência constitucional para a investigação criminal.

Conforme ficou acima exposto, a competência para a investigação criminal não é pacífica em nosso meio jurídico. É de se reconhecer também que essa questão é antiga. Ficou pioneiramente estabelecida essa competência com a Constituição de 1988, especificamente em seu artigo Art. 144, § 1º, I e § 4º, atribuindo-a às polícias judiciárias, respectivamente, federal e estaduais.

Com o crescimento do Ministério Público, em termos institucionais, a partir da Constituição de 1988, que ampliou suas atribuições, recrudesceu o debate. Alguns doutrinadores reconhecem a competência do Ministério Público para a investigação criminal, porém, há também significativos opositores como a Ordem dos Advogados do Brasil (manifestações diversas, tanto na mídia (2012), como em postulações judiciais – ADIN) (2006).

Doutrinadores de elevada reputação, como Ives Gandra da Silva Martins, em parecer de 15 de abril de 2014 (2014) reconheceu a autoridade competente para a Investigação Criminal: “... Até por que - à luz do § 4º do artigo 144 da CF, só cabe às polícias civis dirigidas por delegados de polícia de carreira, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais.” Como também, este eminente jurista admitiu que o próprio art. 129, que elenca as funções institucionais do Ministério Pública, não lhe permite presidir investigações criminais.

Nessa linha, José Afonso da Silva lembra que:

Apesar disso, o Ministério Público, por atos normativos internos, vem dando-se o poder de investigação criminal direta. Isso vai para além de sua competência, porque a função investigativa -ou seja, as funções de polícia Judiciária e de apuração de infrações penais—foi atribuída à Policia Civil (art. 144, §§ 1º e 4º). Não se tem aqui um modelo de Ministério Público correspondente ao italiano, onde a Polícia Judiciária funciona sob dependência e direção da autoridade judiciária por serviços de policia judiciária previstos em lei e pelas seções de polícia judiciária instituídas junto a alguma Procuradoria da República, subordinados, pois, ao respectivo procurador da República (Ministério Público) (grifos meus) (2010, p. 616).

É importante destacar o parecer do então Professor Luís Roberto Barroso, de 18 de fevereiro de 2004(2004), hoje Ministro do STF, acerca do assunto, que não somente trouxe os antecedentes da polêmica, conformados por posições históricas, doutrinárias, como também pela evolução das decisões do STF para, ao final, merecer a seguinte conclusão: “Desse modo, e de lege ferenda, é de todo conveniente disciplinar, por meio de ato legislativo próprio, as hipóteses e a forma em que será legítima essa atuação eventual e excepcional do Ministério Público.”

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Essa matéria, efetivamente, chegou ao Congresso Nacional, contudo não chegou a ser discutida, tendo sido retirada da pauta. Assim, o Supremo Tribunal Federal foi chamado a se manifestar e em 14 de maio de 2015 (2015):

reconheceu a legitimidade do Ministério Público (MP) para promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal e fixou os parâmetros da atuação do MP. Por maioria, o Plenário negou provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 593727, com repercussão geral reconhecida. Com isso, a decisão tomada pela Corte será aplicada nos processos sobrestados nas demais instâncias, sobre o mesmo tema. Entre os requisitos, os ministros frisaram que devem ser respeitados, em todos os casos, os direitos e garantias fundamentais dos investigados e que os atos investigatórios – necessariamente documentados e praticados por membros do MP – devem observar as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, bem como as prerrogativas profissionais garantidas aos advogados, como o acesso aos elementos de prova que digam respeito ao direito de defesa. Destacaram ainda a possibilidade do permanente controle jurisdicional de tais atos.

Sobre essa decisão, comenta Luiz Flávio Gomes (2015) que, depois de mais ou menos uma década de discussão, o Supremo Tribunal Federal veio a consolidar a interpretação jurisprudencial de que a Constituição confere poderes ao Ministério Público para a investigação criminal. Deixa bem claro que: “Expressamente esse poder não existe na letra original da Constituição. Mas uma coisa é o que ela escreve expressamente, outra como ela é interpretada.” Preleciona ainda que pelo resultado da decisão, não se trata da denominada repercussão geral, ou seja, “a decisão não é vinculante como uma súmula dessa natureza, mas tem o valor de orientação geral – ela sinaliza o rumo do direito. Para todos os processos que estavam suspensos (por causa da polêmica) vale a decisão do Plenário da Corte.”

O que se depreende, portanto, é que enquanto a jurisprudência se mantiver nesses moldes de interpretação a situação permanece. Porém, como a natureza humana é extremamente sensível às mudanças, a interpretação pode vir a ser mudada rapidamente, bastando para isso algum fato social relevante, ou um novo argumento que leve alguns ministros a mudarem seus votos ou, menos ainda, alterações na composição do próprio Supremo Tribunal Federal. A posição, efetivamente, não é estável como deveria ser. Não há efetiva segurança jurídica. O melhor horizonte, sem dúvida, é a alteração legislativa consoante ficou proposto acima ao se invocar o respeitável parecer do atual Ministro Luís Roberto Barroso. A mudança dos termos Constitucionais que hoje, expressamente, excluem o Ministério Público desse mister, atribuindo-o à Polícia Judiciária (Federal e Civis), ou seja, especificamente alterações nos artigos 129 e 144 §§ 1º e 4º.

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2.2.1 Conceitos

Notoriamente, investigação significa busca, pesquisa, indagação minuciosa. E o verbo investigar indica seguir vestígios, fazer diligências para achar, inquirir (FERREIRA, 2010, p. 1181). Este estudo trata de investigação objetivando a apuração de infração penal e autoria: busca-se, portanto, provas.

Assim, pode-se asseverar que prova é “todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de comprovar a verdade de uma alegação” (CAPEZ, 2013, p. 372). E, o “objeto da prova é toda circunstância, fato ou alegação referente ao litígio sobre os quais pesa incerteza, e que precisam ser demonstrados perante o juiz para o deslinde da causa” (CAPEZ, 2013, p. 372).

Neste contexto emerge a expressão inquérito policial para consagrar a compilação de atividades de polícia judiciária, exercidas pelas autoridades policiais, objetivando a apuração de infrações penais e respectivas autorias (Art. 4º do Código de Processo Penal). Portanto, “a finalidade do inquérito policial é a apuração de fato que configure infração penal e a respectiva autoria para servir de base à ação penal ou às providências cautelares” (CAPEZ, 2013, p. 117). O inquérito policial é um instituto altamente democrático, mantidos os seus pressupostos básicos pela atual Constituição. Por tratar-se de atividade persecutória pré-processual, antecedendo pois o pronunciamento judicial, é possível até neutralizá-lo em vista da amplitude de defesa e do acesso aos recursos apropriados (MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, 2000, p. 27).

Curiosamente, o inquérito policial, com essa denominação e características fundamentais próprias, originou-se no Direito brasileiro. Surgiu a partir do desdobramento e evolução do sumário de culpa elaborado pelos Juízes de Paz à época da promulgação do Decreto nº 4.824, de 22 de novembro de 1871, que regulamentou a Lei nº 2.033, de 20 de setembro de 1871. Assim, o instrumento secular conhecido por inquérito policial é oficialmente o único meio de persecução penal pré-processual. Em última instância pode-se afirmar que “o Inquérito Policial é o instrumento pelo qual o Delegado de Polícia materializa a investigação criminal, compila informações a respeito da infração penal, de suas circunstâncias e resguarda provas futuras, que serão utilizadas em Juízo contra o autor do delito” (MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, 2000, p.27/28).

2.2.2 Meios de Investigação Criminal

Consoante ficou acima estabelecido, a finalidade da prova, objeto precípuo da investigação criminal, é a formação da convicção do juiz acerca dos elementos essenciais para o julgamento da causa.

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Nesse universo complexo, destaca-se pela importância o tema pertinente à prova. Pode-se afirmar tratar-Pode-se do mais importante no âmbito da ciência processual, considerando que as provas constituem-se nos olhos do processo, no alicerce da dialética processual. Sem provas idôneas e válidas nenhum processo tem seu regular deslinde (CAPEZ, 2013, p. 372).

Assim, é impossível doutrinariamente se esgotar o assunto e até mesmo, em face da sua vastidão, tocar em suas inúmeras possibilidades, motivo porque serão lembrados adiante momentos processuais e meios de investigação criminal como puro interesse didático e pertinentes ao que se predispõe neste estudo.

A propósito, a Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995, sobre o Crime Organizado, alude em seu artigo 1º a “procedimento investigatório”, referindo-se à investigação criminal, ora tratada. Em referido dispositivo, procedimento investigatório “significa o método pelo qual a autoridade competente pode empreender as diligências necessárias para descobrir e apurar a prática da infração penal e sua autoria” (NUCCI, 2012 (vol. 2) p. 85).

É importante deixar assente que a acima referida Lei 9.034, de 3 de maio de 1995, sobre o Crime Organizado, em seu artigo 2º, estabelece procedimentos de investigação, os mais diversos, que sob autorização judicial poderão ser realizados, tais como: a ação controlada; o acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais (quebra de sigilo); a captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos; a infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de investigação.

Sabe-se que o desenvolvimento da investigação criminal, obviamente, deverá ser procedido por especialista, neste caso, nos termos constitucionais, conforme já mencionado acima, os integrantes da polícia judiciária, quer seja federal ou estaduais, os quais em vista de rigorosa seleção em concurso público e formação intensa inicialmente, acrescida de frequentes treinamentos e atualizações, estão efetivamente aptos a cumprir esse mister.

Será considerada, portanto, neste estudo, a abordagem relativa a meios básicos de investigação criminal, até porque cada espécie de infração penal tem a sua própria característica investigativa e procedimental.

É de se destacar desde logo que o início da investigação ocorre quase sempre no local do crime. Tratando-se, por óbvio, de delitos que a isso permitam, uma vez que o local do acontecimento é rico em informações e detalhes que sempre permitem uma linha adequada ao início da investigação.

A partir do local, portanto, outros recursos deverão ser utilizados para o bom êxito quanto à elucidação do fato, seus detalhes e a autoria. Sempre alertando para a espécie de crime que se investiga que pode exigir linha investigativa especial, pode-se, porém, a título ilustrativo,

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mencionar alguns recursos de investigação criminal considerados básicos: a campana, a penetração e a infiltração, a interceptação telefônica, as informações variadas fornecidas por pessoas que podem ser mesmo os chamados informantes policiais, vítimas e testemunhas, como ainda denúncias anônimas (MANUAL OPERACIONAL DO POLICIAL CIVIL, 2002, p. 49). 2.2.2.1 Campana

Campanar ou acampanar, são verbos e expressões de gíria, com significado de perseguir, espionar, tocaiar, espreitar (FERREIRA, 2010, p. 25). Assim, no âmbito investigativo, é observação discreta em lugares e com seguimento de alguém objetivando conhecer seus movimentos, hábitos e ligações (MANUAL OPERACIONAL DO POLICIAL CIVIL, 2002, p. 49).

2.2.2.2 Penetração e Infiltração

São recursos de alto risco, recomendados a policiais experientes e utilizados criteriosamente. Diferenciam-se quanto ao modo de realização. A penetração é tática de ingresso em determinados recintos mediante variados artifícios, com o fim de obter informações ou provas, onde o policial procurará não ser visto. A infiltração, diversamente daquela, consiste na introdução de policial em determinado meio, onde conviverá temporariamente, em busca de elementos úteis para a investigação, onde necessariamente se relacionará com outras pessoas. Esta normalmente é técnica para investigação do crime organizado. Regulamenta a matéria a Lei nº 10.217, de 11 de abril de 2001, que alterou a Lei nº 9.034 (art. 2º), de 03 de maio de 1995, Do Crime Organizado (MANUAL OPERACIONAL DO POLICIAL CIVIL, 2002, p. 57/58).

2.2.2.3 Interceptação telefônica

Este meio de investigação tem apresentado excelentes resultados no esclarecimento de determinadas infrações penais, consistindo em importante modalidade probatória aceita pelos tribunais, mormente nos casos do crime organizado, a partir das operações da polícia federal conhecidas como “Mensalão” e atualmente a “Lava Jato”. Esta atividade investigativa está prevista na Constituição Federal: art. 5º, inciso XII, tendo sido regulamentada com o advento da Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996 (MANUAL OPERACIONAL DO POLICIAL CIVIL, 2002, p. 58/59).

Passos enormes foram dados na investigação a partir da Lei nº 9.296/96, que disciplinou a interceptação telefônica, autorizada judicialmente quando presentes os requisitos: a) indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal; b) não houver outro meio de se produzir a mesma prova; e c) o fato for punido com pena de reclusão. Assim, dispõe a referida lei, autorização para interceptação de comunicação telefônica de qualquer natureza, entendido,

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portanto, transmissão, emissão, receptação e decodificação de sinais linguísticos, caracteres escritos, imagens, sons, símbolos de qualquer natureza veiculados pelo telefone estático ou móvel (celular). Reafirmando que nas comunicações telefônicas incluem-se as transmissões de informações e dados constantes de computadores e telemáticos, desde que feitas por meio de cabos telefônicos (e-mail, por exemplo). Para efeito de interpretação da lei, o que interessa é a constatação do envolvimento da telefonia, com os recursos técnicos comunicativos que atualmente ela permite, incluindo-se combinação com o computador (comunicação modem by modem, por exemplo, via internet ou via direta), tanto faz (CAPEZ, 2013, p. 388/389).

Sobre a relevância das provas buscadas na investigação criminal, é importante lembrar ainda:

2.2.2.4 Ação controlada

Trata-se de procedimento de investigação constante do art. 2º da Lei nº 9.034/95, sobre o Crime Organizado. A ação controlada, nos termos da referida legislação,

é o retardamento da realização da prisão em flagrante, mesmo estando a autoridade policial diante da realização do crime praticado por organização criminosa, sob o fundamento de se aguardar o momento oportuno para tanto, colhendo-se mais provas e informações. Assim, quando, futuramente, a prisão se concretizar, será possível atingir um maior número de envolvidos, especialmente, se viável, a liderança do crime organizado. (NUCCI, 2012, p. 88, vol. 2).

2.2.2.5 A quebra do sigilo bancário e fiscal

Este procedimento tem feito enorme sucesso nas investigações promovidas pela polícia federal nos últimos tempos. Bens e especialmente dinheiro têm sido apreendidos e, inclusive, repatriado por esta medida judicialmente autorizada e fundamentada nos moldes do art. 93, inciso IX, da Constituição Federal e nos termos da Lei Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001 e do Decreto Regulamentar nº 3.724( Sigilo Bancário), de 10 de janeiro de 2001.

Mais uma vez, a Lei nº 9.034/95, sobre o Crime Organizado, foi extremamente dura, ampliou a quebra de sigilo, estabelecendo o acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais. Portanto, quando da prática de infrações por organizações criminosas fica autorizada a quebra de sigilo judicial de seus integrantes.

2.2.2.6 A busca e apreensão

Outra medida atualmente muita utilizada nas investigações. Trata-se de providência cautelar determinada pelo Poder Judiciário, respaldada no art. 5º, inciso XI, da Constituição Federal e no art. 240 do Código de Processo Penal. A justificativa é que a prova não é eterna, pode desaparecer, ser alterada ou destruída. Pode-se em vista de ordem judicial proceder a busca e apreensão de provas em residências, escritórios, estabelecimentos públicos e privados.

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Em meio ao contexto ilustrativo acima exposto, não é demais ressaltar a multivariedade de rotinas investigativas existentes e a impossibilidade de estudá-las nesta pesquisa. Entretanto, é preciso afirmar a tendência de se buscar nesse campo as especializações como necessidade do trabalho policial, eis que essa atividade é dinâmica e novos métodos precisam ser constantemente agregados porque o delito está se sofisticando e, sabe-se, ganhando status empresarial e transnacional. Há ainda necessidade de menção dos aspectos menos dinâmicos da investigação, consideradas efetivamente rotinas mais comuns e presentes em todas as organizações policiais, aquelas investigações alusivas aos crimes contra a pessoa, contra o patrimônio, contra os costumes, contra a liberdade individual, contra a economia popular e relações de consumo, contra o meio ambiente e entorpecentes (MANUAL OPERACIONAL DO POLICIAL CIVIL, 2002, p. 64).

2.2.2.7 Colaboração premiada

Ao finalizar este tópico, breves comentários são necessários acerca do interrogatório, não propriamente por ele, mas em razão do instituto da delação que ocorre como consequência dele. Contudo, tem a ver com a investigação criminal, eis que, em geral, há mobilização objetivando a comprovação do quanto revelado em referido instituto. Outro e relevante motivo para tal abordagem é a intensa utilização desse recurso por parte dos envolvidos nas operações bem sucedidas da polícia federal, conhecidas como “Mensalão” e “Lava Jato”, que tanto contribuíram para o êxito das apurações e saneamento das instituições nacionais.

O interrogatório “é o ato judicial no qual o juiz ouve o acusado sobre a imputação contra ele formulada”. Trata-se de “ato privativo do juiz e personalíssimo do acusado, possibilitando a este último o exercício da sua defesa, da sua autodefesa”(CAPEZ, 2013, p. 427). Este tema é tratado no Código de Processo Penal, no Capítulo III – Do interrogatório do acusado (arts. 185 a 196).

Nas ocasiões do interrogatório, em geral, surgem as delações. “Delação ou chamamento de corréu é a atribuição da prática do crime a terceiro, feita pelo acusado, em seu interrogatório, e pressupõe que o delator também confesse a sua participação”(CAPEZ, 2013, p. 447).

Destarte, a delação pode acontecer tanto no interrogatório judicial, como no interrogatório policial, eis que ele também é ouvido sobre os fatos no inquérito policial, ou seja, no transcurso da investigação, durante a formação de culpa. “Além de confessar a autoria de um fato criminoso, igualmente atribui a um terceiro a participação como seu comparsa. O delator, no caso, preenchidos os requisitos legais, é contemplado com o benefício da redução obrigatória de pena”(CAPEZ, 2013, p. 480).

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É interessante observar que o Código de Processo Penal não disciplina a delação. Trata dela, entretanto, as Leis n. 8.072, de 25 de julho de 1990 (Dos Crimes Hediondos), n. 9.034, de 03 de maio de 1995 (Do Crime Organizado), n. 9.807, de 13 de julho de 1999 (De Proteção a Vítimas e Testemunhas) e n. 11.343, de 23 de agosto de 2006 (De Drogas).

Sobre a questão alusiva ao seu valor probatório, “nada impede seja a delação levada em conta para fundamentar a sentença condenatória, mesmo à míngua de outros elementos probatórios”, tendo em vista o princípio da verdade real e da formação da convicção do juiz pela livre apreciação das provas. É de se ressaltar, entretanto, “que o juízo de certeza exigido para a prolação do decreto condenatório desaconselha que a delação vazia e carente de detalhamento possa autorizar, por si só, a procedência da imputação”(CAPEZ, 2013, p. 480/481). Nesse sentido tem sido a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, não tem admitido a condenação fundada exclusivamente em delação levada a efeito por corréu.

Sem dúvida, a grande novidade dos últimos tempos no mundo do direito é a colaboração ou delação premiada. Pelo menos a utilização desse recurso vem sendo muito grande nesses ruidosos casos investigados pela polícia federal, implicando em corrupção generalizada no âmbito dos Poderes da República, causando indignação pelas fortunas desviadas de seus destinos em detrimento da Nação brasileira.

Trata-se de matéria controversa tanto no mundo jurídico como, principalmente, no seio da sociedade civil. Na verdade, neste momento é que a novel legislação está sendo efetivamente testada quanto a seus limites e em especial a sua eficácia. Há, como em tudo, pontos positivos e negativos. Nos negativos a ênfase fica por conta da traíção que é estimulada legalmente, enquanto repelida pela maioria da sociedade. Se existe momento em que a legislação aplica majoração penal em razão de traíção, agora vem a fomentá-la e a custo elevado, benefícios tantos, chegando até ao perdão judicial, sem qualquer punição ao delator pelos delitos cometidos. Nos pontos positivos, destacam-se a validade da finalidade a ser alcançada, especialmente neste momento de corrupção generalizada no País, precisa-se saber a extensão da contaminação criminosa e afastar o mais possível os infratores. Outro argumento é que no mundo da criminalidade não há ética, portanto, é uma forma válida de vencer a lei do silêncio que lá prevalece. E, também, em menor escala e até, parece agora, em caráter experimental, a partir da Lei 9.099/95, sobre os delitos de menor potencial ofensivo, o Estado começou a barganhar com os delinquentes.

Assim, em ligeiro balanço, parece que deve prevalecer a aplicação dessa lei, pelo menos a sociedade brasileira vem gostando do resultado, condenações elevadas de pena prisão para altas autoridades, rapidez processual e prisão por vezes provisória e posteriormente confirmada

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em setença definitiva. A impunidade parece que está com os dias contados, especialmente na ponta da pirâmide social, eis que as consequências malévolas somente eram suportadas pela base. No mundo jurídico, aceita-se a delação como mal necessário, pelo menos a maioria. E que não há outra maneira de enfrentar o crime organizado, o que, aliás, se sabe, acontece em nossos dias a ampla penetração nos bastidores do poder, chegando a desestabilizar o governo e as instituições e a comprometer de tal ordem as finanças públicas que abateu moralmente a própria cidadania, eis que direitos básicos da população deixaram de ser atendidos.

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3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Diante da proposta de estudo formulada e do roteiro de pesquisa estabelecido buscou-se em Gonçalves (2017), que é especialista em inteligência, informações atualizadas em vista do próprio contexto nacional que impulsionou o tema. Por intermédio de suas preleções foram encontradas valiosas informações históricas sobre inteligência, bem como seu início no Brasil. Os preceitos conceituais foram relevantes e importante especificamente a enfática explanação para diferenciar inteligência de investigação criminal. Este momento da pesquisa mostrou-se especial, pois cumpriu uma sensível proposta no contexto deste estudo: conceituar e efetivamente definir os papéis da inteligência e da investigação criminal no atual momento nacional. Evidenciou isso o explícito alerta de que a atividade de inteligência não se confunde com a atividade de investigação. Contudo, ficou claro, que a inteligência atua, com técnicas próprias, na busca de informações objetivando auxiliar a investigação. Assim, passos avançados foram dados para serem solucionados os questionamentos formulados nesta pesquisa.

Ainda, em pesquisa na mesma obra acima citada, pode-se levantar que, de instrumento desconhecido, a inteligência foi repentinamente lançada na berlinda pela mídia, no mesmo contexto da investigação criminal a propósito da onda de descobertas de organizações criminosas no aparelho Estatal, em praticamente todos os seus segmentos. Dessa maneira, a curiosidade acentuou-se acerca desses dois instrumentos de cidadania, levando os cidadãos a se interessarem e, principalmente, os estudiosos a se debruçarem em aprofundamentos teóricos, como fica bem exemplificado por este estudo.

No manancial da obra mencionada, verificou-se não somente o desconhecimento mas, ainda, o preconceito em relação à atividade de inteligência, mormente no Brasil, onde se viveu um período de exceção no qual alguns setores da inteligência acabaram associados ao aparato repressor do Estado, de triste memória. Entretanto, o aprofundamento dos estudos levou à aproximação da solução dos problemas precedentemente elencados, como também a conhecer melhor os serviços de inteligência a partir de conceitos, como já salientado, suas características e, especialmente suas finalidades. Concebido inicialmente para as questões de Estado, constatou-se, por intermédio de moderna interpretação da ferramenta de inteligência, que nenhuma democracia pode prescindir desses serviços. Portanto, chegou-se à conclusão de que inteligência e democracia são plenamente compatíveis.

Destarte, constatou-se ainda, conforme já dito, e agora respondendo a algumas questões levantadas para esta pesquisa, tanto o objetivo geral quanto alguns específicos, que, a

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