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Perito RSECE-QAI, um desafio permanente num Sistema em evolução

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Perito RSECE-QAI, um desafio permanente num Sistema em evolução

Publicado na Revista Indústria & Ambiente, nº 52 Setembro/Outubro 2008

Independentemente do concreto do articulado da Legislação que instituiu o Sistema de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior (SCE), importa ter presente as suas características essenciais: (a) garantir conforto térmico e qualidade do ar no interior dos edifícios, (b) promover o recurso a tecnologias energeticamente eficientes e a energias renováveis. Associado a estes objectivos, exige-se que os técnicos responsáveis pelo projecto, construção, instalação, manutenção e certificação detenham as devidas habilitações, comprometendo as ordens profissionais e as associações na área do AVAC nessa formação e validação.

A preocupação e verificação da Qualidade do Ar Interior (QAI) nos Edifícios de Serviços constituíram parte importante das grandes inovações trazidas pela recente legislação no âmbito do SCE e da QAI. A QAI e a concepção de novos sistemas de climatização

Sendo o Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização nos Edifícios (RSECE), um dos Regulamentos Técnicos em que assenta o SCE, orientado para a promoção da eficiência energética e para a utilização de energias renováveis, não deixa de ser curioso que a QAI tenha como consequência a necessidade de generalizar os sistemas de climatização, obrigando os projectistas e os donos de obra a encontrar soluções ainda mais eficientes. É assim compreensível a exigência da opção, nos casos dos novos projectos de climatização, por recuperação de calor do ar de exaustão (sempre que a potência de exaustão no aquecimento seja superior a 80 kW) ou do arrefecimento gratuito no arrefecimento (sempre o caudal de insuflação seja superior a 10,000m3/h.

Com efeito, a necessidade de garantir caudais mínimos de ar novo em toda a área útil (na ordem dos 30 a 35 m3/h por ocupante previsto) e mesmo em certas áreas (armazéns, por exemplo) nos grandes edifícios de serviços (mais de 1,000 m2 de área útil para a generalidade das tipologias, ou 500m2 para os casos dos centros comerciais, supermercados, hipermercados e piscinas cobertas), bem como nos pequenos edifícios de serviços com potências de climatização com mais de 25 kW, obriga na maior parte dos casos a recorrer a sistemas de climatização para garantir conforto térmico, como tem sido patente, por exemplo, em praticamente todos os novos projectos de escolas de qualquer nível de ensino.

A exigência de caudais efectivos de ar novo introduziu igualmente a exigência de verificar a eficiência de ventilação, conceito pouco presente nos projectistas de climatização. Sendo a má distribuição do ar nos espaços um dos problemas clássicos da climatização, a eficiência de ventilação é geralmente fraca, com valores da ordem do 60 a 80%, obrigando assim ao aumento dos valores mínimos de caudal de ar novo preconizados pelo regulamento.

No âmbito da Gestão Técnica devem igualmente ser previstos pontos de medição da QAI, o que implica necessariamente aumento de custos, quer de investimento de manutenção.

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Mas para além do anteriormente referido, a concepção de novos sistemas de climatização tem ainda de ter em conta a verificação:

a) De fontes de poluição quer interiores, quer exteriores, obrigando a antecipar o que poderá ser a ocupação efectiva do edifício (por exemplo zonas de fotocopiadoras terão tendência a concentrações excessivas de ozono), ou zonas de fumadores que devem ficar em depressão em relação aos restantes locais, exigindo-se um caudal mínimo de 60 m3/h por ocupante da zona de fumadores. Um outro aspecto de superior exigência sobre a renovação do ar novo prende-se com o tipo de materiais utilizados na construção e mobiliário. Com efeito, O RSECE exige a verificação da existência de materiais de construção ou revestimento ecologicamente limpos. Esta preocupação reside na característica de libertação de partículas e substâncias prejudiciais à saúde que ocorrem sobretudo durante a fase inicial de funcionamento do edifício ou até após a colocação de mobiliário novo de certos materiais. Esta situação obriga os sistemas de climatização e ventilação a ter a capacidade de garantir mais 50% de ar novo quando for necessário, inviabilizando muitas vezes sistemas de distribuição e de tratamento de ar baseadas em 100% de ar novo. O tráfego nas imediações do edifício, ou actividades industriais com emissões poluentes, deve levar à adopção de maiores exigências quanto à capacidade de filtragem.

b) Os locais de captação do ar novo merecem igualmente especial atenção, devendo existir distâncias mínimas entre estes locais e as exaustões quer dos espaços climatizados, quer sobretudo das instalações sanitárias, cozinhas e garagens. Igual atenção deve existir com as edificações vizinhas e proximidade de torres de arrefecimento e chaminés de caldeiras, devendo ter-se consciência dos ventos predominantes.

c) O projecto deve também ser exigente quanto a condutas e Unidades de Tratamento de Ar, quer quanto a cuidados de transporte e armazenamento em obra, quer quanto a limpeza depois de construído, com garantias da existência de portas de visita, fácil acesso para manutenção. Devem existir dispositivos de permitam a regulação dos caudais de forma a garantir os caudais de ar novo efectivos em cada espaço.

d) O regulamento exige que não seja ultrapassada a velocidade de 0.2 m/s para o ar na zona ocupada, de forma a não causar desconforto térmico e evitar o arrastamento de partículas. Esta é uma condição difícil de garantir, no entanto, oito renovações horárias como limite relativamente ao caudal total circulado no espaço, constitui um valor prático de referência. Caso se opte pela ventilação natural ter-se-á de cumprir com os mesmos valores mínimos de caudal de ar novo, para além do cumprimento da NP 1037-1, o que obrigará à existência de aberturas auto-reguláveis nas fachadas exteriores do edifício, extracção natural pelos espaços húmidos e arrumos interiores, passagens adequadas através das portas de comunicação e correcto dimensionamento das entradas e saídas de ar. Note-se que nestes casos, pode não ser garantido o conforto térmico.

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3 Metodologia da Certificação

Mas a Certificação Energética e da Qualidade de Ar Interior vem impor uma metodologia de garantia da Qualidade do Ar Interior que não reside apenas no licenciamento de novas construções. A Certificação implica:

1) A verificação do projecto para efeito da emissão da licença ou autorização de construção (emissão da Declaração de Conformidade Regulamentar pelo Perito RSECE-QAI);

2) A verificação da conformidade do construído com o projecto e com o RSECE, para efeito da licença ou autorização de utilização (emissão do Certificado Energético e da QAI pelo Perito RSECE-QAI);

3) A verificação periódica das condições de funcionamento do edifício (incluindo auditoria às condições de manutenção dos sistemas de climatização e a medição das concentrações de vários poluentes físicos e microbiológicos) com a emissão ou revalidação do Certificado Energético e da QAI.

Estas duas últimas condições são inovadoras na área da climatização e qualidade do ar interior, sendo que a verificação periódica abrange igualmente todos os edifícios de serviços existentes sujeitos ao RSECE (pequenos edifícios com climatização com mais de 25 kW e os grandes edifícios de serviços). Para a licença de utilização, deve ser dada atenção à verificação dos ensaios de recepção, em especial a verificação dos caudais de ar novo previstos para os espaços, as condições de limpeza da instalação de climatização, a existência de um plano de manutenção preventiva e a existência de um Técnico Responsável pelo Funcionamento do Edifício (TRF). Eventualmente, poderão ser medidas as concentrações de alguns poluentes, nomeadamente de formaldeído (associado a mobiliário e revestimentos).

A Certificação vem igualmente introduzir uma responsabilidade pública nesta matéria, ou seja:

a) O certificado é público no sentido em que está disponível no portal Web do SCE para qualquer pessoa que o queira consultar, em menor extensão para o público em geral, mas completo para as autoridades.

b) No caso dos grandes edifícios de serviços, o certificado tem de estar afixado num local acessível e bem visível junto à entrada, juntamente com a indicação do Técnico Responsável pelo Funcionamento do edifício.

c) A existência do certificado válido é condição necessária para a comercialização do edifício. Responsabilidade pelo Funcionamento do edifício

O TRF de um edifício ou fracção de serviços é o técnico responsável pelo bom funcionamento dos sistemas energéticos de climatização, incluindo a sua manutenção, pela qualidade do seu ar interior, bem como pela gestão da respectiva informação técnica. Estes técnicos necessitam de qualificações mínimas para o exercício da função. Nos edifícios de serviços com potências de climatização acima dos

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100 kW, este técnico é necessariamente um engenheiro ou engenheiro técnico credenciado com curso especializado em QAI e 3 anos de experiência em manutenção de sistemas AVAC de potência similar. Por outro lado, a montagem e manutenção dos sistemas de climatização e de QAI tem de ser acompanhada por um técnico de instalação e manutenção de sistemas de climatização (TIM) um técnico QAI (TQAI). Estes técnicos necessitam de níveis de formação e experiência em função das potências em causa e terão de estar inserido em empresas com alvará apropriado registado no INCI (ex IMOPPI). Os TQAI devem satisfazer uma das seguintes condições: (a) dois anos de experiência profissional comprovada no sector e ter frequentado com aproveitamento curso complementar em QAI nível II, ou (b) aprovação em exame após análise do seu curriculum vitae.

Até 100 kW, o TIM deve estar habilitado com curso de formação de Electromecânico de Refrigeração e Climatização do IEFP, nível II, ou outro equivalente reconhecido pelo SCE e com mais de dois anos de experiência profissional, ou então experiência profissional como electromecânico de refrigeração e climatização, com mais de cinco anos de prática profissional devidamente comprovada e aprovação em exame após análise do seu curriculum vitae. Esta habilitação é habitualmente referida como TIM II. Para potências superiores, exige-se curso de formação em Técnico de Refrigeração e Climatização do IEFP nível III, ou com curso equivalente aprovado pelo SCE e com mais de cinco anos de prática profissional, após aproveitamento em curso de especialização em QAI aprovado pelo SCE. Em alternativa pode ser valorizada a sua experiência profissional desde que como electromecânico de refrigeração e climatização com mais de sete anos de prática profissional devidamente comprovada, após aproveitamento em curso de especialização em QAI e aprovação em exame após análise de seu curriculum vitae. Este será o caso do chamado TIM III com credenciação QAI. Os TIM III com credenciação QAI poderão ser TRF de edifícios ou fracções com potências de climatização até 100 kW. Verificação da QAI nos edifícios existentes

O Sistema de Certificação Energética prevê auditorias periódicas aos edifícios e a consequente revalidação da componente QAI do Certificado Energético e da QAI. Estas auditorias são de dois em dois anos no caso dos edifícios ou locais que funcionem como estabelecimentos de ensino ou de qualquer tipo de formação, desportivos e centros de lazer, creches, infantários ou instituições e estabelecimentos para permanência de crianças, centros de idosos, lares e equiparados, hospitais, clínicas e similares. São de três em três anos para os edifícios ou locais que alberguem actividades comerciais, de serviços, de turismo, de transportes, de actividades culturais, escritórios e similares.

Nestas auditorias periódicas está em causa a verificação do sistema de manutenção e a verificação das concentrações dos poluentes não podendo essas medições ultrapassar os valores máximos da tabela I. Naturalmente, estas medições terão de ser realizadas em condições exteriores normais, ou seja, em condições em que não tenham sido atingidos níveis de poluição na atmosfera exterior que correspondam a metade dos valores limites permitidos, patentes na tabela I. A colheita de Legionella deve realizar-se apenas em amostras de água de maior risco, nomeadamente tanques das torres de

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arrefecimento, depósitos de água mantidos a temperaturas inferiores a 60ºC e tabuleiros de condensação.

Tabela 1 – Concentrações máximas. Partículas suspensas no ar (PM10): 0,15 mg/m3

Dióxido de Carbono: 1800 mg/m3

Monóxido de Carbono: 12,5 mg/m3

Ozono: 0,2 mg/m3

Formaldeído: 0,1 mg/m3

Comp. Orgânicos Voláteis: 0,6 mg/m3 Microrganismos – bactérias: 500 UFC/m3 Microrganismos – fungos: 500 UFC/m3

Legionella: 100 UFC/l

Radão: 400 Bq/m3

A realização das concentrações referidas depara-se com algumas dificuldades sérias. O regulamento não é explícito quanto à metodologia, nomeadamente, quantos pontos de medição em função da área, da tipologia, ou do zonamento térmico, nem qual a repetibilidade da medição no mesmo espaço ao longo do tempo, nem quanto ao método instrumental de medida. É certo, no entanto, que os valores da tabela 1 são limites instantâneos, ou seja, não têm em conta o tempo de exposição perante o poluente, o que significa que qualquer registo (correctamente medido) acima do valor máximo implica não conformidade com o regulamento. Há pois, no mercado forte incerteza quanto à metodologia e obviamente quanto a custos associados, dado estarem fortemente dependentes do número de pontos de medida ou de colheita. Espera-se alguma definição por parte do SCE até ao final do ano, à semelhança da nota técnica que foi elaborada para a certificação de fracções de habitação existentes. Esta incerteza é ainda mais relevante, quando se intui que uma boa parte dos edifícios de serviços existentes reprovarão nestas auditorias, dado a inexistência de climatização ou ventilação de muitos dos espaços existentes (veja-se o casos das escolas de qualquer nível de ensino privado ou público e muitos edifícios de escritórios ou de serviços), ou mesmo a má ou inexistente manutenção dos sistemas de climatização.

A situação é mais preocupante quando se observa a consequência da não conformidade no âmbito da QAI. De facto, quando nestas auditorias forem detectadas concentrações superiores aos valores máximos de referência, o proprietário ou o titular do contrato de locação ou arrendamento deve preparar um plano de acções correctivas (PCQAI) no máximo de 30 dias a contar da data de conclusão da auditoria, submetendo-o à aprovação da Agência para o Ambiente (ou dos órgãos competentes das regiões autónomas), e deve ainda apresentar os resultados de nova auditoria no prazo de 30 dias após a implementação do referido plano, comprovando a conformidade com os valores máximos permitidos. O incumprimento fica sujeito a sanções, sendo que no caso de ocorrência grave de QAI (concentrações superiores em mais de 50% dos valores máximos permitidos) o prazo da correcção pode ser reduzido para oito dias e, se necessário, pode ser decretado o encerramento do edifício.

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6 A experiência dos Peritos

A experiência actual de aplicação do SCE reside essencialmente na certificação dos projectos de edifícios novos. Nestes casos, e apesar do RSECE estar em vigor desde Julho de 2006, continua a observar-se o incumprimento dos caudais mínimos (sobretudo por via da não consideração da eficiência de ventilação), pouco cuidado com os pontos de captação de ar novo, bem como algum excesso de confiança na garantia de que só serão utilizados materiais ecologicamente limpos. Estes problemas tendem a ser ultrapassados pela exigência e persuasão dos Peritos RSECE-QAI junto dos projectistas e promotores, implicando alterações ao projecto inicial.

Começam agora a surgir as primeiras certificações de edifícios novos para efeito da licença de utilização. Nestes casos, esperam-se alguns problemas, muitos deles de difícil resolução face aos hábitos de alterações sucessivas dos projectos durante a construção e a ensaios de recepção pouco consistentes, sobretudo quanto a garantias de caudais de ar. Os peritos RSECE-QAI vão ter aqui um papel chave, tendo de demonstrar bom senso, mas ao mesmo tempo firmeza na exigência de cumprimento das especificações do projecto e na continuação de garantia do cumprimento do Regulamento nas alterações ao projecto licenciado para construção.

A experiência no âmbito dos estudos de certificação de vários edifícios existentes (actualmente apenas dependentes do voluntarismo dos respectivos proprietários) tem revelado que a manutenção tende a resumir-se a procedimentos curativos (portanto, não conformes com o regulamento), que os responsáveis e técnicos de manutenção ou não existem ou não estão conformes as habilitações exigidas, tendo-se igualmente registado valores de concentrações não conformes.

A partir de 1 de Janeiro de 2009 passa a ser obrigatória a certificação para todos os edifícios existentes, esperando-se uma grande pressão sobre o SCE, quer do ponto de vista de peritos, quer sobre a formação dos técnicos de manutenção e QAI. Se pode existir alguma falta de peritos, há sobretudo uma falta de técnicos aos vários níveis que garantam a conformidade regulamentar na elaboração dos projectos, na construção e no funcionamento dos edifícios.

João Francisco Fernandes

Referências

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