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Associação entre sintomatologia psicopatológica parental e temperamento de crianças no primeiro ano de vida

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA

ASSOCIAÇÃO ENTRE SINTOMATOLOGIA PSICOPATOLÓGICA PARENTAL E TEMPERAMENTO DE CRIANÇAS NO PRIMEIRO ANO DE

VIDA

Vânia Carina Guedes da Silva

Sob Orientação: Professora Doutora Raquel Costa

Vila Real, 2014

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i DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

ASSOCIAÇÃO ENTRE SINTOMATOLOGIA PSICOPATOLÓGICA PARENTAL E TEMPERAMENTO DE CRIANÇAS NO PRIMEIRO ANO DE

VIDA

Vânia Carina Guedes da Silva

Orientação: Professora Doutora Raquel Costa

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ii

Tese elaborada no âmbito do projecto "The role of genotype-environment interaction on the resilience and vulnerability to developmental and mental health problems in the first 18 months of life." Fundação para a Ciência e Tecnologia: PTDC/PSI-PCL/119152/2010.

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iii Agradecimentos

A realização desta dissertação de Mestrado só foi possível através da colaboração e apoio de um conjunto de pessoas e instituições às quais pretendo desta forma agradecer.

Quero, em primeiro lugar, manifestar o meu agradecimento à Professora Doutora Raquel Costa pela dedicação, apoio, incentivo e orientação transmitidos ao longo da realização deste trabalho.

Em segundo lugar, gostaria de agradecer à Universidade de Trás- Os- Montes e Alto Douro bem como a todos os docentes que ao longo destes anos de formação me transmitiram o conhecimento e me permitiram um maior enriquecimento académico e pessoal.

Agradeço a todas as Instituições e aos pais que se disponibilizaram para participar nesta investigação, sem os quais este trabalho não seria possível.

A toda a minha família que me encorajou e me apoiou durante todo o meu percurso académico.

Um profundo agradecimento à minha mãe Fátima Guedes e ao meu irmão Márcio Silva pelo carinho e apoio incondicional que, não mediram esforços para que conseguisse alcançar este objetivo.

Ao meu namorado Adão Soares pelo amor, paciência, apoio, compreensão e encorajamento manifestados ao longo desta longa etapa.

A todos os meus amigos que me acompanharam no meu percurso académico, em particular à Cláudia Caetano pelo apoio e à minha melhor amiga Helena Teixeira pela amizade, pela alegria transmitida, obrigada pelo encorajamento e por estar sempre disponível.

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Resumo

Este estudo teve por objetivo analisar a associação entre a Sintomatologia Psicopatológica Parental e o Temperamento Infantil no primeiro ano de vida da criança. Noventa e duas tríades foram avaliadas através de um questionário sociodemográfico, o Brief Symptom Inventory- B.S.I. (Versão portuguesa) (Canavarro,1999) (a preencher pela mãe e pelo pai) e o Infant Behavior Questionnaire- Revisto (IBQ-R) (Costa & Figueiredo, In press) (a preencher pela mãe). Os resultados indicam diferenças significativas na perceção do temperamento infantil, observando-se que na presença de sintomatologia psicopatológica em ambos os progenitores, as mães percecionam os seus bebés com valores médios superiores de Distress aos Limites, Nível de Atividade e Afetividade Negativa e com uma menor Frequência de Recuperação do Distress. Ao analisar outras variáveis que poderão influenciar o temperamento infantil, verifica-se que o estatuto socioeconómico parental, a prematuridade e o sexo do bebé apresentam uma influência estatisticamente significativa nas características temperamentais da criança, dos 3 aos 12 meses de idade.

Palavras-chave: Sintomatologia Psicopatológica Parental, Temperamento

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Abstract

This study aimed to examine the association between Parental Psychopathological Symptoms and the children's Temperament in the first year of a child's life. Ninety-two triads were evaluated through a demographic questionnaire, the Brief Symptom Inventory-BSI (Portuguese version) (Canavarro, 1999) (to be completed by mother and father) and the Infant Behavior Questionnaire-Revised (IBQ-R) (to be completed by mother) (Costa & Figueiredo, In press.). The results indicate significant differences in perception of infant temperament, noting that in the presence of psychopathological symptoms in both parents, mothers perceived their babies with higher values of Distress to Limitations, Activity Level, and Negative Affectivity and a lower frequency of Recovery Distress. By analyzing other variables that may influence infant temperament, it appears that parental socioeconomic status, prematurity and gender of the baby have a statistically significant influence on the temperamental characteristics of the child from 3 to 12 months of age.

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vi “You see, a child is not born tabula rasa as one assumes…Already in earliest childhood, a mother recognizes the individuality of her child, and so, if you observe carefully, you see a tremendous difference, even in very small children.”

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Índice

INTRODUÇÃO ... 1

PARTE I -ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 1.Temperamento ... 4

1.1. A abordagem de Thomas e Chess: Estilo Comportamental ... 4

1.2. A abordagem Criterial de Buss e Plomin ... 6

1.3. A abordagem Goldsmith e Campos ... 7

1.4. A abordagem Kagan, Reznick, e Snidman ... 7

1.5. A abordagem Psicobiológica de Rothbart ... 8

2.Sintomatologia Psicopatológica Parental ... 9

3.Associação entre Sintomatologia Psicopatológica Parental e Temperamento Infantil…. ... 15

PARTE II- ESTUDO EMPIRICO ... METODOLOGIA ... 1. Caracterização da amostra ... 22

2. Metodologia de recolha dos dados ... 24

3. Caracterização dos instrumentos de recolha de dados ... 26

3.1.Questionário Sociodemográfico ... 26

3.2. Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI) (Canavarro, 1999) ... 26

3.3.Infant Behavior Questionnaire- Revisto (IBQ-R) ) (Costa & Figueiredo, In press) ... 28

RESULTADOS ... 1.Habilitações Académicas Maternas ... 31

2.Habilitações Académicas Paternas ... 32

3.Situação Profissional Materna ... 34

4. Situação Profissional Paterna ... 35

5. Rendimento Mensal Materno ... 37

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viii

7. Prematuridade ... 40

8. Sexo do Bebé ... 42

9. Práticas Alimentares ... 44

10. Sintomatologia Psicopatológica Parental ... 46

11.Correlação entre Sintomatologia Psicopatológica (Materna e Paterna) e Temperamento Infantil ... 48

DISCUSSÃO ... 55

Conclusão ... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 63

ANEXOS ... Anexo A- Consentimento Informado ... 77

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Índice de Tabelas

Tabela 1 - Características sociodemográficas e clinicas maternas ... 21

Tabela 2- -Características amostra infantil ... 22

Tabela 3 -Características sociodemográficas paternas ... 23

Tabela 4- Índices de consistência interna BSI ... 26

Tabela 5- Índices de consistência interna IBQ-R ... 28

Tabela 6-Estatistica descritiva do fator Habilitações Académicas ... 31

Tabela 7-Estatistica descritiva do fator Situação Profissional ... 33

Tabela 8-Estatistica descritiva do fator Rendimento Mensal ... 36

Tabela 9-Estatistica descritiva do fator Prematuridade ... 38

Tabela 10-Estatistica descritiva do fator Sexo do Bebé ... 40

Tabela 11-Estatistica descritiva do fator Práticas Alimentares ... 41

Tabela 12-Estatistica descritiva do fator Sintomatologia Psicopatológica Parental ... 44

Tabela 13- Correlações entre subescalas do BSI materno e subescalas e dimensões do IBQ-R ... 47

Tabela 14- Correlações entre subescalas do BSI paterno e subescalas e dimensões do IBQ-R ... 50

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Lista de Abreviaturas

ANOVA – Univariate Analysis of Variance BSI- Brief Symptom Inventory

IBQ-R – Infant Behavior Questionnaire- Revisto MANOVA- Multivariate Analysis of Variance

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INTRODUÇÃO

O conceito de temperamento tem sido estudado ao longo de várias décadas e, apesar de diversas teorias, existe uma base consensual de que este se refere a um conjunto de traços individuais, com origem em parte biológica, que surge na infância precoce e que apresenta algum grau de continuidade ao longo do desenvolvimento do individuo (Rothbart & Bates, 1998).

Neste sentido, apesar do temperamento possuir uma base biológica pode ser modulado de acordo com as influências que o individuo sofre do meio ambiente. Considerando que é na infância precoce que o bebé se encontra mais suscetível às influências do que o rodeia, é fundamental perceber até que ponto as características ambientais condicionam/ alteram o desenvolvimento do temperamento.

Este constructo tem recebido atenção na literatura como uma característica que influencia o comportamento parental (Thomas & Chess, 1977) mas, o inverso também se verifica, e as características parentais parecem desempenhar um papel determinante no desenvolvimento temperamental da criança.

O nascimento de um bebé, por si só, é um acontecimento que provoca alterações profundas no quotidiano dos pais, tornando simultaneamente necessário uma reestruturação do individuo nesta nova fase da sua vida, novos papéis têm de ser aprendidos, novas relações são desenvolvidas e as relações existentes alteram-se. No entanto, este processo nem sempre ocorre de uma forma harmoniosa, tornando-se para os pais um momento propicio ao surgimento de sintomatologia psicopatológica (Klaus, Kennel & Klaus, 2000).

Assim, a interação com a criança poderá ser prejudicada, resultando num menor envolvimento ou num relacionamento menos positivo, quer por parte da mãe, quer por parte do pai (Deater-Deckard, Pickering, Dunn & Golding, 1998).

No decorrer deste processo de adaptação parental ao bebé e às suas características, o temperamento da criança poderá representar um impacto no comportamento dos pais (Putnam, Sanson & Rothbart, 2002) e do mesmo modo a perceção que as mães apresentam do temperamento do seu filho poderá ser influenciada pela presença ou ausência de algum tipo de sintomatologia psicopatológica parental (Mowbray & Mowbray).

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2 Deste modo, o objetivo do presente estudo é analisar o papel que as características parentais, mais especificamente, a sintomatologia psicopatológica parental desempenha no temperamento das crianças dos 3 aos 12 meses de idade.

No que concerne à estrutura do conteúdo, este estudo divide-se em 2 momentos. Primeiramente, é contemplado todo o enquadramento teórico acerca do temperamento infantil e da sintomatologia psicopatológica parental através de diversas abordagens teóricas. Num segundo momento são abordados os procedimentos metodológicos necessários à realização deste estudo, tal como características dos participantes e os instrumentos utilizados, bem como todos os procedimentos inerentes ao estudo. De igual modo, nesta parte serão apresentados os resultados obtidos e, através dos objetivos inicialmente formulados irão ser apresentadas de seguida a discussão dos resultados e a sua justificação através do recurso à literatura existente. A discussão será concluída com as implicações, limitações e sugestões futuras de investigação nesta temática. Como encerramento da presente dissertação será apresentada uma breve conclusão, apresentando para tal os resultados mais relevantes.

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3 Parte I

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1.Temperamento

O desenvolvimento infantil é um processo complexo que ocorre através da interação entre fatores intrínsecos (biológicos, genéticos e constitucionais) e extrínsecos (ambiente e relações dos lactentes) (Zeanah & Zeanah, 2001). Apesar de os bebés partilharem padrões comuns de desenvolvimento, revelam personalidades distintas percetíveis no início do desenvolvimento. Estas diferenças precoces têm sido tradicionalmente definidas como temperamento (Goldsmith, et al., 1987; Tackett, 2006).

Existem diversas teorias que abordam o temperamento e de igual forma representam diferentes perspetivas sobre a sua definição (Rothbart & Bates, 1998). No entanto, considera-se transversal a asserção de que o temperamento se refere a um conjunto de características individuais na reatividade e regulação emocional, com origem em parte biológica que se evidência na infância precoce, apresentando algum grau de continuidade (Rothbart & Bates, 2006).

Estas características correspondem a qualidades comportamentais relativas à resposta emocional (positiva ou negativa) perante estímulos novos ou familiares, à atenção (capacidade para se acalmar através de recursos atencionais quando atinge níveis de ativação emocional desorganizadores) e ao nível de atividade (vigor da atividade motora, frequência e adequação da autorregulação da atividade) (Rothbart & Derryberry, 1981).

O estudo do temperamento infantil tem sido, recentemente, alvo de um maior interesse na medida que, as diferenças individuais precoces têm sido cada vez mais relacionadas com as características da personalidade e do desenvolvimento social (Rothbart & Bates, 1998). Deste modo, é possível uma maior compreensão dos processos existentes no início da vida, a partir dos quais se desenvolvem as adaptações às condições ambientais.

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5 O The New York Longitudinal Study de Thomas e Chess (1977) é comummente definido como o marco que introduziu a redescoberta das diferenças individuais inatas na reação e na motivação, ou seja, o temperamento. Este estudo deu início a uma mudança paradigmática do prevalecente foco psicodinâmico e comportamental de que forças externas eram gravadas na criança (tábula rasa) para uma teoria segundo a qual as forças internas surgiam precocemente, manifestando-se nas diferenças individuais do comportamento e nos padrões de reação.

Deste modo, o temperamento surge no recém-nascido como resultado da confluência de atributos inatos do cérebro e do ambiente intra-uterino, constituindo um atributo psicológico independente mas que, simultaneamente, interage com outros atributos como a cognição, excitação, motivação ou emotividade. Este constructo designa as diferenças individuais precoces no latente, que precede o desenvolvimento de diversos aspetos cognitivos da personalidade. As disposições de temperamento são elementos críticos para o desenvolvimento da competência e da motivação e, através da interação do temperamento com a motivação, habilidades e características da personalidade emergem as tendências comportamentais (Thomas & Chess, 1977).

Incutidos pelas diferenças observadas nos seus próprios filhos, Stella Chess e Alexander Thomas desenvolveram um estudo sobre o desenvolvimento dos padrões inatos de reação, que permitiu identificar nove dimensões determinantes para o potencial desenvolvimento psicológico. Estas dimensões foram classificadas como

Nível de atividade (atividade física), Ritmo (a previsibilidade de comportamento), Adaptabilidade (a resposta a alterações no ambiente), Aproximação ou retraimento (as

respostas à novidade) Limiar de responsividade (estimulação necessária para evocar uma reação), Intensidade da reação (nível de energia de uma resposta), Qualidade de

humor (variabilidade de sentimentos positivos e negativos), Distratibilidade (eficácia

dos estímulos externos em alterar o comportamento da criança) e Período de atenção e

persistência nas tarefas (tempo e manutenção da atividade exercida pela criança)

(Thomas e Chess,1977).

Essas categorias originaram três classificações de tipos de temperamento: Fácil, caracterizado por regularidade nas funções biológicas, respostas positivas de aproximação a estímulos novos, alta adaptabilidade à mudança, assim como, intensidade de humor de leve a moderada e preponderantemente positiva; Difícil, caracterizado por sinais de irregularidade nas funções biológicas, respostas

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6 caracterizadas pelo retraimento negativo a novos estímulos, não adaptação ou adaptação lenta a mudanças e expressões de humor intensas e frequentemente negativas e Lento

para reagir, caracterizado pela combinação de respostas negativas a estímulos novos

com adaptabilidade lenta após contatos repetidos (Idem).

Segundo esta abordagem o temperamento é concebido como o conjunto das diferenças individuais, manifestas no componente estilístico do comportamento, centrando-se essencialmente na sua forma, motivo e características observáveis, ou seja, no conjunto de características que resulta da constelação de comportamentos exibidos em determinado momento da vida, resultado das diversas influências a que a criança está sujeita, modelando o padrão comportamental num processo interativo e constante (Muris & Ollendick,2005). Deste modo, as crianças apresentam individualidade distinta no temperamento logo nas primeiras semanas de vida começando a evidenciar um perfil de comportamento ou temperamento a partir dos dois /três meses de idade (Klein & Linhares, 2007).

1.2. A abordagem Criterial de Buss e Plomin

Buss e Plomin (1984) modificaram o modelo postulado por Thomas e Chess, (1977), enquadrando o temperamento como um percursor do desenvolvimento da personalidade. Os autores definiram o temperamento como um conjunto de traços da personalidade de origem genética, que são herdados e surgem na infância precoce, durante o primeiro ano de vida. Estes aspetos permitem a distinção entre o temperamento e outros traços da personalidade, apesar de ambos serem herdados e adquiridos (Goldsmith et al., 1987).

Deste modo, um traço só poderia ser considerado temperamental se satisfizesse cinco critérios: são hereditários, relativamente estáveis, mantêm-se até à idade adulta, são evolutivos/adaptativos e apresentam a filogenética dos parentes. Com base nestes critérios, os autores propuseram 4 dimensões gerais de temperamento: emotividade (intensidade da emoção que varia entre a ausência de resposta emocional a respostas emocionais intensas), atividade (quantidade de atividade motora, variando da letargia ao comportamento enérgico), sociabilidade (aproximação aos outros) e impulsividade (rapidez versus inibição) (Buss & Plomin,1984).

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1.3 Abordagem de Goldsmith e Campos

Na perspetiva de Goldsmith e Campos (1986) o temperamento é conceptualizado essencialmente a nível comportamental afirmando que este constructo apresenta particular relevância em contexto social. Segundo os autores, o temperamento é emocional na natureza, referindo-se às diferenças individuais na probabilidade de experienciar e expressar as emoções primárias e a excitação. Considerando que o termo emotividade na área do temperamento se refere muitas vezes a diferenças individuais nas emoções negativas, Goldsmith e Campos (1986) perspetivam o temperamento como o conjunto das diferenças individuais nas emoções primárias, incluindo de igual modo as emoções positivas. As diferenças individuais nas predisposições emocionais são expressas em aspetos comportamentais, incluindo expressões vocais, faciais e motoras.

O desenvolvimento temperamental é um processo multifacetado em que as suas dimensões constituem, posteriormente, a base emocional de algumas características da personalidade. Deste modo, é esperado que ocorram mudanças nas emoções primárias, alterações nas habilidades emocionais recetivas e na eficácia de determinados estímulos desencadeantes, permitindo assim o aperfeiçoamento da coordenação da expressão emocional ao longo da infância (Idem).

Segundo Goldmith (1988) as reações emocionais podem ser transformadas através do desenvolvimento motor e de respostas cognitivas de cooping e, deste modo, as diferenças individuais nas emoções resultam da variabilidade no tempo e na força desses padrões de mudança. Assim, as características temperamentais tornam-se mais estáveis quando os diversos aspetos dos estados emocionais, tendências de ação e sistemas de resposta se integram num sistema funcional.

1.4. Abordagem de Kagan, Reznick e Snidman

Na abordagem proposta por Kagan, Reznick, e Snidman (1987), o temperamento é entendido como o padrão de sequências comportamentais que se encontra relacionado com um padrão específico de reações fisiológicas inatas, cuja manifestação ocorre perante um estímulo específico. As dimensões do temperamento são analisadas de acordo com dois polos extremos de diferentes dimensões, tais como temperamento inibido ou desinibido, afetividade positiva ou negativa, entre outras.

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1.5. A abordagem Psicobiológica de Rothbart

A relação entre emoção e regulação da emoção são elementos centrais na abordagem de Rothbart (1981), enfatizando essencialmente os mecanismos atencionais e neurobiológicos. Esta abordagem modificou a conceção do temperamento, diferindo das abordagens anteriores, por considerar que as diferenças individuais vão para além dos estilos comportamentais, incluindo as diferenças no funcionamento psicofisiológico, a suscetibilidade às emoções primárias e a autorregulação da atenção. Além disso, compreende uma perspetiva desenvolvimental, ao avaliar o temperamento em diferentes fases do ciclo vital (Goldsmith et al., 1987).

Este modelo atribui especial relevância às diferenças individuais com base biológica na reatividade e na autorregulação, observadas nos domínios de emocionalidade, atividade motora e atenção que, ao longo do tempo, são influenciados pela hereditariedade, maturação e experiência. Deste modo, a reatividade refere-se às características de reações individuais a determinados estímulos que incluem mudanças no sistema nervoso, endócrino e comportamental. No que concerne à autorregulação, esta refere-se aos processos que modulam a reatividade ao nível da abordagem, do evitamento, da orientação atencional e da seleção (Rothbart, Derryberry & Posner, 1994). Através das investigações realizadas por Rothbart foi possível delimitar três dimensões do temperamento que abrangiam constructos mais restritos: extroversão (composto pelas escalas de antecipação positiva, nível de atividade e procura de sensações); afetividade negativa (inclui medo, frustração e desconforto social) e esforço de controlo (inclui aspetos como o controlo inibitório, foco atencional e sensibilidade percetiva) (Rothbart & Bates,2006). Um pressuposto determinante neste modelo é que os comportamentos reativos e a autorregulação se encontram associados a processos neurobiológicos (Putnam, Gartstein, & Rothbart, 2006; Zentner & Bates, 2008).

Com o curso do desenvolvimento da criança, sistemas inicialmente mais reativos tornam-se crescentemente regulados, dado que os de inibição ao medo e de controlo de atenção se desenvolvem. Apesar do temperamento pertencer a disposições relativamente estáveis, os seus aliciadores e as suas expressões mudam frequentemente ao longo do desenvolvimento da criança. Inicialmente os comportamentos podem ser classificados como reativos a eventos, de estimulação imediata ou a mudanças endógenas, posteriormente, estão associados a sistemas de regulação mais directos,

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9 incluindo aspetos de inibição perante o medo e de flexibilidade do controlo da atenção, desenvolvendo-se de modo a regular esta reatividade comportamental (Rothbart & Putnam, 2002).

Em termos comportamentais, o temperamento é relativamente estável mas, podem ser observadas diferenças individuais nos padrões de emotividade, atividade e atenção, refletindo mudanças nos sistemas subjacentes, que ocorrem com o desenvolvimento, experiência e hereditariedade (Rothbart, Derryberry, & Hershey, 2000). O temperamento influencia o comportamento e a experiencia, fornecendo a base biológica para o desenvolvimento da personalidade. Esta perspetiva realça a importância do temperamento como um constructo que permite a associação entre a estrutura psicológica e neuropsicológica (Goldsmith et al, 1987).

Segundo Rothbart e Putnam (2002), as diferenças individuais do temperamento constituem a expressão mais precoce da personalidade e a base a partir da qual esta se desenvolve. Enquanto a personalidade da criança incluirá habilidades, hábitos e estruturas cognitivas moldadas por meio da interação com o ambiente, o temperamento fornece as bases biológicas sobre as quais estas estruturas são construídas.

O temperamento pode moldar e ser moldado pela adaptação individual através de diferentes trajetórias, permitindo regular ou neutralizar os fatores de risco (Rothbart, et al., 1995).

Esta perspetiva coaduna-se com as teorias mais recentes sobre o temperamento segundo as quais é necessário ponderar uma implicação bidirecional de fatores ambientais e constitucionais no seu desenvolvimento (Ziv & Cassidy, 2002). Assim, as características iniciais de funcionamento pessoal, temperamentais, implicam uma forte base biológica contudo, a sua estabilidade depende, em parte, das interações entre estas e os processos de desenvolvimento que estão radicados num contexto físico e social podendo, por isso, dar origem a uma multiplicidade de trajetórias desenvolvimentais (Rothbart & Bates, 1998).

2. Sintomatologia Psicopatológica Parental

Nas últimas décadas tem-se verificado um crescente interesse sobre a influência que os pais desempenham no desenvolvimento dos seus filhos (Barber, Stolz, & Olsen, 2005).

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10 No decorrer da constituição de uma família, o nascimento de um filho é frequentemente considerado como um dos marcos determinantes para os seus elementos. Todavia, apesar de ser considerado um acontecimento normativo no ciclo familiar, o nascimento de um bebé, principalmente quando se trata do primeiro filho, é um acontecimento que propícia o surgimento de problemas emocionais e manifestações psicossomáticas nos pais, devido às novas imposições e mudanças que exige. Apesar de a paternidade fornecer aos pais um sentimento de realização, poderá tornar-se simultaneamente uma fonte de ansiedade por condicionar vários aspetos do quotidiano do casal dadas as exigências de prestação de cuidados e da necessidade de reorganização individual, conjugal, familiar e profissional que exige (Canavarro & Pedrosa, 2005).

Alguns autores ressaltaram o caráter conflituoso da experiência da maternidade como um fator de risco para o surgimento psicopatologia após o nascimento de um bebé (Maldonado, 1990). Nesse sentido, conceberam que estes problemas podem ter origem conflito da mulher em assumir o papel materno, o que tornaria necessário um redimensionamento da própria identidade. Da mesma forma, segundo Stern (1997) com a chegada de um bebé, é necessário que a nova mãe proceda à reelaboração dos esquemas acerca de si mesma. A reavaliação da sua identidade, nesta perspetiva, poderá ser acompanhada de um sentimento de perda, subjacente aos sentimentos que surgem com a maternidade, alterações que podem estar relacionados com a presença de sintomatologia depressiva.

De acordo com Belsky (1984) embora homens e mulheres tentem alcançar o mesmo objetivo, que é a formação de uma família, o processo de transição para os seus novos papéis e para a parentalidade ocorre de forma separada e distinta, dado que cada elemento possui diferentes personalidades, características biológicas e funções sociais.

A família exerce uma forte influência neste processo (Häggman-Laitila, 2003; MacArthur, Winter, & Bick, 2007; Paykel, Emms, Flecher, & Rassaby, 1980), particularmente devido ao tipo e à disponibilidade de suporte dos pais (Graham, Fisher, Crawford, Fitzpatrick, & Bina, 2000). Apesar da influência do ambiente, da família e da saúde, o relacionamento bebé-cuidador é a experiência mais importante para o desenvolvimento infantil (Zeanah & Zeanah, 2001), na medida em que é através dessa relação que a criança começa a entender o seu mundo, aprende a interagir com os outros

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11 e desenvolve um senso de competência e autoestima (Zeanah,Stafford, Nagle & Rice, 2005).

Estudos realizados demonstram que para além das implicações que a existência de psicopatologia acarreta para o individuo, são evidentes as alterações que ocorrem quando este tem uma criança ao seu encargo, verificando-se consistentemente que as crianças são particularmente vulneráveis. A experiência da parentalidade é geralmente gratificante, todavia, o processo de transição e o período inicial desta nova fase da vida dos pais, pode funcionar como um gatilho para a depressão e / ou ansiedade, causando um grande impacto psicológico (Schumacher, Zubaran, & White, 2008).

Na perspetiva de Meadows, McLanahan, e Brooks-Gunn (2008) existem alguns subgrupos populacionais que se encontram mais suscetiveis para manifestarem sintomatologia depressiva, verificando-se que as mulheres são mais vulneráveis à depressão do que os homens. No mesmo sentido, existem evidências que sugerem que mulheres com filhos se encontram mais propensas a este tipo de psicopatologia (Cowan & Cowan, 1992).

O nascimento de um bebé é considerado por diversos autores como um acontecimento propício ao surgimento de problemas emocionais nos pais, como depressões, psicoses pós-parto e manifestações psicossomáticas principalmente quando se trata do primeiro filho (Klaus, et al., 2000; Maldonado, 1990).

Os episódios que ocorrem nos primeiros meses pós-parto apresentam as mesmas características clínicas incluindo: astenia (Mazet & Stoleru,1990), retraimento social, irritabilidade, choro frequente, ansiedade, culpa excessiva, sentimentos de desamparo e desesperança, dificuldade de concentração, desinteresse sexual, persistente baixo humor, perturbações alimentares e do sono, sensação de ser incapaz de lidar com novas situações, bem como queixas psicossomáticas (Klaus et al., 2000).

A manifestação deste tipo de sintomatologia ocorre num momento em que a criança é muito dependente dos cuidados dos pais ou cuidadores e simultaneamente quando a criança se encontra mais sensível à qualidade de comunicação e, por conseguinte, mais vulnerável aos défices resultantes da sintomatologia psicopatológica parental (Stern,1985).

Ao analisar o papel que a sintomatologia depressiva representa no desempenho materno, a revisão da literatura existente demonstra que as mães deprimidas se

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12 encontram mais limitadas na sua capacidade parental (Craig, 2003; Lovejoy, Graczyk, O’Hare, & Neuman, 2000). A depressão materna está associada à diminuição das interações (Kiernan & Huerta, 2008) e a interações mais negativas com as crianças, devido ao facto de estas mães poderem ser menos compreensivas, emocionalmente responsivas e mais agressivas do que mães não-deprimidas (Lovejoy et al, 2000).

A interação mãe-criança e as habilidades parentais podem ser prejudicadas pelos efeitos e circunstâncias da depressão, na medida que originam padrões de interação interrompidos ou prejudicados. Assim, existem evidências de que mães deprimidas se focam menos na experiência infantil sentem-se menos competentes e sensíveis para as necessidades do seu bebé, manifestando comportamentos que evidenciam hostilidade (Goodman & Brumley, 1990), emocionalidade negativa, intrusividade e menor envolvimento com o seu bebé (Cohn, Matias, Tronick, Connel e Lyons-Ruth 1996).

Assim, mães que apresentam sintomatologia depressiva ou co-mórbida referem menos confiança e satisfação no desempenho do papel materno (Downey & Coyne, 1990), verificando-se uma diminuição da autoestima, uma maior dificuldade em se relacionar emocionalmente com o seu bebé, maior isolamento social (Milgron & McCloud, 1996), diminuição da capacidade de adaptação infantil e de aproximação, assim como, humor negativo (Galler, Harrison, Ramsey, Butler, & Forde, 2004).

No que concerne à depressão paterna, existem evidências crescentes de que os pais também vivenciam sintomas depressivos após o nascimento de um bebé (Schumacher,et al., 2008) e, nestes casos, verifica-se um impacto adverso no desenvolvimento da criança, independentemente da existência deste tipo de sintomatologia na mãe (Ramchandani & Psychogiou, 2009).

Estudos têm demonstrado que indivíduos que apresentam este tipo de sintomatologia apresentam frequentemente ataques de raiva, rigidez afetiva, autocrítica e consumo de álcool e drogas (Piccinelli & Wilkinson, 2000).

Os efeitos da sintomatologia materna podem variar de acordo com a saúde mental do pai (Beardslee, Versage, Gladestone, 1998) verificando-se que os efeitos adversos no desenvolvimento da criança são substancialmente reduzidos quando o pai não apresenta sintomatologia psicopatológica. As famílias em que um dos progenitores apresenta depressão tendem a ser menos coesas, adaptativas e manifestam menos

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13 envolvimento do que famílias onde nenhum dos pais apresenta sintomatologia depressiva (Kahn, Brandt & Whitaker, 2004).

Nas famílias onde ambos os pais apresentam sintomatologia depressiva, verifica-se o agravamento dos efeitos sobre o bebé. Alguns estudos demonstram que a depressão no pai se encontra fortemente correlacionada com a depressão da mãe as taxas de depressão paterna são maiores quando as mães sofrem de depressão pós-parto, variando entre 24 % a 34% (Zelkowitz & Milet, 2001). Meignan, Davis & Thomas, 1999 relataram que os parceiros de mulheres deprimidas se sentem menos apoiados, vivenciando medo, confusão, frustração, desamparo, raiva e incerteza sobre o futuro. Deste modo, pais que não manifestam sintomatologia depressiva funcionam como um elemento protetor para o bebé quando a mãe se encontra deprimida (Goodman, 2004).

No decorrer do período pós-parto os pais podem apresentar sintomatologia ansiosa e somatização que poderá evoluir para um quadro de depressão (Shumacher, et al.,2008) e, à semelhança do que acontece com as mulheres, a manifestação da sintomatologia psicopatológica paterna, quando ocorre durante o primeiro ano após o nascimento, pode resultar em efeitos adversos para o desenvolvimento infantil (Deater-Deckard, et al., 1998).

No que concerne à sintomatologia ansiosa Feldman, Greenbaum, Mayes, e Erlich (1997) avaliaram a sua influência em crianças aos três e nove meses, verificando uma diminuição da sua manifestação e, simultaneamente, um aumento da sensibilidade materna. Por sua vez Weinberg e Tronick (1998) analisaram uma amostra de mães com ansiedade, depressão e perturbação obsessivo compulsiva verificando-se que estas mães apresentavam uma postura mais desprendida e negativa, quando comparadas com mães sem este diagnóstico. Os autores relataram que as mães com algum tipo de psicopatologia (perturbação de pânico, perturbação depressiva ou perturbação obsessivo-compulsiva) evidenciam maiores dificuldades de interação com os seus filhos (menos vocalizações, expressões de interesse e diminuição da sensibilidade ao toque).

Num estudo realizado por Feldman (2000) verificou-se o aumento de comportamentos intrusivos e menor envolvimento social em mães com sintomatologia ansiosa de crianças com 4 meses de idade. Newman, Stevenson, Bergman, & Boyce, (2007) demonstraram que mães com o diagnóstico de Personalidade Borderline apresentaram uma diminuição da sensibilidade resultando na presença desentimentos de incompetência e angustia.

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14 Warren et al. (2003) verificaram que mães com perturbação de pânico eram menos sensíveis com o seu bebé, quando comparadas com grupos de controlo. Contudo, apontam para a necessidade de avaliar o efeito de outras perturbações co-mórbidas. A redução da sensibilidade materna tem sido associada a sintomatologia de ansiedade materna principalmente quando os seus bebés têm valores elevados de Afetividade Negativa (Mertesacker, Bade, Haverkock, & Pauli-Pott, 2004).

Relativamente aos pais com sintomatologia ansiosa foram observados como sendo mais críticos, (Hirshfeld, Biederman, Brody, Faraone, & Rosenbaum, 1997), apresentam uma relação menos positiva, com menos manifestações de afeto e sorrisos com os seus filhos (Whaley, Pinto, & Sigman, 1999).

No que concerne à sintomatologia psicótica é cada vez mais reconhecido em algum momento da sua vida as mulheres com este diagnóstico se tornam mães. Neste sentido, a existência de sintomas psicóticos pode afetar a relação mãe-bebé, dado que este pode ser envolvido nos delírios da progenitora, alucinações ou experiencias de passividade, conduzindo a mãe a uma indisponibilidade emocional, através da ausência de comportamentos desejáveis que resultam num ambiente empobrecido para a criança (Howard, Hornicroft, Salmon & Appleby, 2004).

Num estudo realizado por Garmezy, (1974) verificou-se que mães com o diagnóstico de esquizofrenia brincam menos com os seus bebés aos 4 meses de idade. Segundo Riordan, Appleby, Faragher (1999) mulheres com este tipo de sintomatologia apresentam uma postura mais retraída, esquiva, tornando-se em determinados momentos insensíveis e absortas quando comparadas com mães com algum tipo de perturbação afetiva. Assim, crianças cujos pais apresentem sintomatologia associada a este quadro podem ser expostas não só aos sintomas psicóticos manifestos, como também a défices mais ténues, como a diminuição do calor emocional, défices de atenção, diminuição da sensibilidade materna, comportamentos intrusivos e diminuição da capacidade de resposta aos sinais do bebé.

Os resultados obtidos por Howard, et al., (2004) indicam que a presença de psicopatologia no parceiro de mulheres com sintomatologia psicótica se encontra significativamente associada a maiores dificuldades na parentalidade.

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15

3. Associação entre Sintomatologia Psicopatológica Parental e o Temperamento

Infantil

O desenvolvimento harmonioso da criança, nas suas múltiplas vertentes, bem como as necessidades e atitudes da criança, é fundamental para todo o seu percurso como ser humano (Silva, 2011).

A partir das décadas de cinquenta e sessenta, os estudos sobre o desenvolvimento infantil enfatizam a influência do envolvimento parental e das experiências interativas precoces, definindo que estes desempenham um papel fundamental no crescimento e desenvolvimento futuro da criança. Posteriormente, vários investigadores salientaram a importância da criança, particularmente no que concerne à sua individualidade e às suas capacidades no desempenho interativo (Schaffer,1996).

Após o parto, inicia-se um processo interacional entre os traços temperamentais, outras dimensões psicológicas e o meio ambiente, de modo que, como resultado deste processo podem ocorrer modificações nos traços comportamentais do bebé (Klein& Linhares, 2007).

Segundo Ramchandani, Stein, Evans e O’ Connor (2005), a existência de algum tipo de psicopatologia parental, como a depressão, afeta a qualidade dos cuidados parentais, podendo originar distúrbios no desenvolvimento social, comportamental, cognitivo e físico dos seus filhos e, portanto, a saúde mental paternal é suscetível de melhorar o bem-estar das crianças, assim como o seu curso de vida.

Após o nascimento, o bebé encontra-se extremamente dependente dos seus cuidadores e, consequentemente, em risco quando se verifica a existência de sintomatologia psicopatológica parental, devido às implicações diretas e indiretas que a mesma implica. A doença mental dos pais encontra-se associada a um maior nível de dificuldades psicossociais e genéticos (Oates, 1997), conflito conjugal e dificuldades socioeconómicas. Do mesmo modo, verificou-se que a existência de psicopatologia parental afeta a relação de vinculação, o desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental dos seus filhos, bem como os colocam em maior risco para desenvolverem algum tipo de perturbação nos primeiros anos de vida (Manning e Gregoire, 2006). Grosso modo, os estudos que analisaram as relações entre meio

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16 ambiente e temperamento assumem que as características da parentalidade condicionam esta interação (Putnam, et al., 2002).

Deste modo, um conjunto de fatores ambientais que parece ter grande relevância para o desenvolvimento do temperamento é composto pelos comportamentos e características parentais (Bates, 2000). A personalidade dos pais, psicopatologia parental, as expectativas parentais (como por exemplo sobre o sexo do bebé) e o stresse indicam uma possível alteração na capacidade para identificar e interpretar corretamente os comportamentos das crianças (Mebert, 1991; Sameroff, Seifer & Elias, 1982).

No entanto, apesar das características parentais exercerem uma forte influência na adaptação ao nascimento de uma criança, estudos empíricos têm demonstrado que as características da criança funcionam como um elemento determinante no comportamento parental verificando-se uma relação bi-direcional entre ambos os aspectos (Maccoby, Snow, & Jacklin, 1984; Sarkadi, Kristiansson, Oberklaid e Bremberg, (2008).

Neste sentido, o temperamento têm sido foco de interesse por afetar a qualidade das relações da criança com os pais ou cuidadores (Mangelsdorf, Gunnar, Kestenbaum, Lang, & Andreas, 1990; Scarr & McCartney, 1983), a confiança parental, os estilos de gestão e, consequentemente, o seu grau de envolvimento (Putnam, et al., 2002).

Belsky (1984) considera o temperamento como um componente que influencia o processo de parentalidade, devido ao facto de cada criança ser diferencialmente sensível à qualidade do estilo parental. Segundo Zeanah, Stafford, Nagle e Rice (2005) o temperamento encontra-se relacionado com a sintomatologia materna e sentimentos de incompetência. A qualidade da relação criança-cuidador funciona desta forma como um fator de risco ou de proteção para o posterior desenvolvimento do bebé.

As diferenças individuais e os estilos de temperamento ou de comportamento são determinantes na vida da família de diversas formas, na medida que influenciam a natureza das interações entre os membros da família. Bebés com temperamento difícil desencadeiam maior ativação e perturbação do sistema nervoso nos seus cuidadores do que bebés com um temperamento mais fácil (Boukydis & Burgess, 1982).

Lovejoy, et al., (2000) verificaram que mães deprimidas comumente relatam maiores dificuldades em exercer a maternidade do que mães não-deprimidas na medida que estas se tornam menos sensíveis (Maccoby, et al., 1984), definindo-se como menos

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17 competentes, menos ligadas emocionalmente às suas crianças, mais dependentes e isoladas socialmente (Milgron & McCloud, 1996), relataram menos confiança e satisfação com o desempenho do papel materno do que mães não-deprimidas e tenderam a descrever os seus bebés como crianças com temperamento difícil (Mebert, 1991).

Deste modo, diversos autores apontam para a contribuição do temperamento para a precipitação da depressão materna, verificando-se que estas mães descrevem preponderantemente os seus bebés como crianças com um temperamento do tipo difícil (Idem).

Num estudo realizado por Chang, Blasey, Ketter, & Steiner (2003) observou-se que as dimensões flexibilidade, humor positivo e orientação para tarefa apresentaram menores resultados numa amostra de crianças cujos pais apresentavam perturbação de humor, quando comparados com filhos de pais sem este diagnóstico.

Estudos desenvolvidos por Matheny (1986) numa amostra de bebés com idades entre os 12 e os 24 meses indicam que as crianças que se tornaram menos negativas, mais atentas e socialmente orientadas pertenciam a famílias emocionalmente coesas em que as mães adotavam uma postura de grande expressividade e envolvência.

Quando um recém-nascido apresenta grande irritabilidade e elevada dificuldade para se deixar acalmar, poderá representar uma limitação em muitos aspetos da relação precoce mãe-bebé. Nestes casos é frequente que a mãe apresente sintomatologia depressiva, sentimentos de impotência e atitudes de rejeição, tornando este processo num ciclo, que provoca o agravamento das dificuldades de ambos (Brazelton, 1961).

No que concerne à irritabilidade materna esta pode estar associada não só às características temperamentais da criança como também as características parentais, como expectativas inadequadas ou demasiada centração em si próprios. Os pais possuem valores, objetivos e planos sobre como esperam que o seu bebé seja ou se comporte. Contudo, se o comportamento da criança ou a interação não cumpre esses objetivos, os pais tendem a apresentar emoções negativas que poderá influenciar a perceção do temperamento que a mãe tem da criança. Assim existência de emoções negativas (como a irritabilidade) aumenta as expectativas, perceções e avaliações negativas da criança (Dix & Lochman, 1990).

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18 O temperamento das crianças poderá de igual forma modelar as respostas suscitadas por outras pessoas, verificando-se que por exemplo, mães de bebés irritadiços e difíceis de cuidar vivenciam menor confiança e níveis mais altos de depressão do que mães de bebés de temperamento mais fácil.Do mesmo modo, crianças emocionalmente mais negativas provocam respostas mais negativas nos pais do que crianças menos negativas da mesma família (Jenkins, Rasbash, & O’Connor, 2003).

Bridgett et al., (2009) avaliaram as trajetórias de desenvolvimento de crianças entre os 2 e os 4 meses verificando que as emoções negativas e a capacidade de regulação, bem como fatores maternos e familiares podem condicionar a sua trajetória. Os resultados obtidos indicam que o stresse e a depressão materna se encontram associados a comportamentos que revelam emocionalidade negativa por parte do bebé.

O temperamento da criança poderá representar um impacto profundo no comportamento dos pais, na medida que a propensão para a angústia e irritabilidade da criança se encontra associada à hostilidade crítica, tendência para ignorar a criança, disciplina coercitiva e falta de sensibilidade nas suas mães (Putnam et al., 2002). Neste sentido, Volling e Belsky (1991) verificaram que os pais que classificaram as suas crianças com um temperamento do tipo difícil foram menos responsivos e carinhosos com os seus filhos aos 9 meses de idade.

O temperamento infantil modela o desenvolvimento da criança, em parte por determinar a forma como as crianças reagem e suscitam respostas no seu ambiente (Caspi & Shiner, 2006). As crianças interpretam as experiencias ambientais de forma distinta, de acordo com o seu temperamento. Por exemplo, crianças ansiosas e irritadiças tendem a perceber eventos negativos de forma mais ameaçadora do que crianças com níveis mais baixos de emoções negativas (Lengua & Long, 2002).

Algumas crianças apresentam padrões de comportamento ou funcionamento que são nitidamente disfuncionais e, na perspetiva de Knitzer (2000) e Seifer e Dickstein (2000), uma das principais razões para este tipo de problema deve-se ao facto dos seus cuidadores sofrerem de doença mental significativa. Considerando as crescentes evidencias de que a doença mental dos pais tem um impacto negativo sobre as crianças (Mowbray & Mowbray, 2006) é fundamental a compreensão das suas implicações ao nível do temperamento infantil.

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19 Do mesmo modo, diversos estudos tem demonstrado consistentemente que o ambiente familiar e a presença de sintomatologia psicopatológica são os principais fatores que interferem na trajetória do temperamento infantil. Independentemente da teoria do temperamento escolhida é possível verificar que o mesmo é considerado desenvolvimental, com bases biológicas e, pesquisa desenvolvida nesta área tem demonstrado que os fatores pré-natais influenciam o temperamento infantil, nomeadamente os níveis hormonais e de sintomatologia psicopatológica. Estes fatores poderão influenciar o desenvolvimento de determinadas estruturas cerebrais envolvidas no temperamento. Evidências adicionais têm sido verificadas em relação à influência de fatores infantis, bem como fatores parentais (Rothbart et al., 1994).

A presença de sintomatologia psicopatológica parental pode afetar o meio em que a criança se desenvolve, na medida que pode condicionar as escolhas que a família faz sobre por exemplo onde morar, que tipo de atividades realizar e o grau de envolvimento com a família alargada. Do mesmo modo, a presença de algum tipo de sintomatologia poderá afetar o desempenho dos indivíduos no local de trabalho, os seus rendimentos ou conduzir ao desemprego. As consequentes dificuldades socioeconómicas podem resultar num aumento do risco de a criança desenvolver algum tipo de perturbação.

Segundo Aber, Jones e Cohen, (2000) as dificuldades socioeconómicas parentais apresentam um efeito significativo na saúde mental infantil e as suas consequências são cumulativas e de longa duração em todos os aspetos do desenvolvimento físico, socio-emocional e cognitivo da criança.

O contexto cultural e socioeconómico em que as crianças se desenvolvem pode moldar o desenvolvimento de características temperamentais devido ao risco de eventos negativos/stressantes ou como resultado de experiências de socialização. A desvantagem socioeconómica pode ser interpretada como um fator de risco adicional para a parentalidade, exacerbando os efeitos da sintomatologia psicopatológica porque para além destas dificuldades os indivíduos têm que lidar com uma situação em que lhes é exigido que ultrapassem os seus recursos económicos (Kohnstamn, 1989).

Do mesmo modo alguns autores apontam que alguns acontecimentos associados ao parto como a prematuridade ou baixo peso à nascença poderão estar associados a um maior mal-estar psicológico por parte das mães bem como a dificuldades

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20 temperamentais por parte da criança. (Kerestes, 2005; Singer, Davillier, Bruenning Hawkins e Yamashita, 1996).

Sameroff et al (1982) realizaram um estudo para verificar a influência do estatuto socioeconómico, nível de ansiedade e estado de saúde mental materno em lactentes com 4 meses de idade concluindo que as variáveis maternas influenciavam o temperamento infantil nas dimensões da ritmicidade, adaptabilidade, aproximação, intensidade e humor.

Formulação dos objetivos de investigação

Decorrente do exposto, formulámos como objetivos de estudo analisar se: a) existem diferenças temperamentais de acordo com o estatuto socioeconómico

parental;

b) existem diferenças temperamentais entre os bebés prematuros e os bebés nascidos a termo;

c) existem diferenças de sexo no que concerne ao temperamento infantil

d) as práticas de alimentação influenciam a perceção materna das características temperamentais infantis;

e) A presença de sintomatologia psicopatológica parental influencia o temperamento infantil;

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21

PARTE II

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22

METODOLOGIA

1. Caraterização da amostra

A amostra é constituída por 92 tríades (mãe, pai e bebé). No que concerne á amostra materna apresenta idades compreendidas entre os 22 e os 40 anos (65.2% tem até aos 34 anos de idade) apresentam maioritariamente mais de nove anos de escolaridade (73.9 %), são de nacionalidade portuguesa (92,4%), casadas (80,4%) e primíparas (54,3%).

Tabela 1- Características sociodemográficas e clínicas maternas

A amostra de crianças apresenta idades compreendidas entre os 3 e os 12 meses de idade sendo que 46.7 % dos bebés são do sexo feminino e 53.3% do sexo masculino. Os bebés nasceram com peso compreendido entre os 2150 gramas e 4200 gramas (M=

Mãe (%) Dados clínicos (%)

Idade Materna ≥20 Λ ≤34 >35 65.2 34.8 Consumos Nenhum Álcool Tabaco Ambos 92.4 1.1 5.4 1.1 Anos de Educação <9 ≥9 26.1 73.9

Tempo de Gestação <37 Semanas ≥ 37 Semanas

9.8 90.2

Estado Civil Solteiro Casado União de Facto Divorciado 5.4 80.4 12.0 2.2

Tipo de Parto Normal

Por fórceps/Ventosa Cesariana Planeado Cesariana de Urgência 50.0 6.5 30.4 13.0 Nacionalidade Portuguesa Outra 92.4 7.6 Paridade Primípara Multípara 54.3 45.7

Com quem reside Companheiro e filho (s) Companheiro, filhos e outros elementos da família Outro 89.1 6.5 4.3

Tipo de Anestesia Nenhuma Epidural Raquianestesia

18.5 80.4 1.1

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23 3.21, SD= 0.41) e altura entre os 43 cm e os 53cm (M= 48.15, SD= 2.21). O Índice de Apgar ao 1º minuto variou entre 8 e 10 (M= 9.07, SD= 0.50) e ao 5º minuto variou entre 9 e 10 (M= 9.90, SD= 0.28).

Tabela 2 – Características amostra infantil

(%) (%)

Idade Do Bebé Dos 3 aos 6 meses Dos 6 aos 9 meses Dos 9 aos 12 meses

29.3 31.5 39.1

Tipo de Alimentação Amamentação Leite artificial

89.1 10.9

Sexo do Bebé Feminino Masculino 46.7 53.3 Índice de Apgar ao 1º minuto 8 9 10 8.7 70.7 16.3 Peso à nascença <2500gr ≥2500gr 6.5 93.5 Índice de Apgar ao 5º minuto 9 10 8.7 87.0 Problemas de Saúde à nascença Sim Não 10.9 89.1

Problema de Saúde Atual Sim Não

7.6 92.4

Internamento à nascença Sim Não

8.7 91.3

Ao cuidado de Apenas da mãe/pai Creche

Ama

Avós ou outros familiares

28.3 48.9 3.3 19.6

No que concerne à amostra paterna apresenta idades compreendidas entre os 19 e os 54 anos (M= 33.57, SD= 5.10), apresentam maioritariamente mais de nove anos de escolaridade (66.3 %), são de nacionalidade portuguesa (95.7%) e casados (80.4%).

Tabela 3- Caraterísticas sociodemográficas paternas

Pai (%)

Idade ≥20 Λ ≤34

>35

54.3 45.7

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24 Anos de Educação <9

≥9

33.7 66.3

Estado Civil Solteiro Casado União de Facto Divorciado 5.4 80.4 13.1 1.1 Nacionalidade Portuguesa Outra 95.7 4.3

Com quem reside Companheira e filho (s)

Companheira, filhos e outros elementos da família

Outro

89.1 6.5 4.3

2. Metodologia de recolha dos dados

Este estudo é do tipo transversal, uma vez que os seus dados foram recolhidos num único momento. Relativamente á recolha de informação, esta foi efetuada através da administração de um questionário sociodemográfico bem como dos questionários de autorrelato e de relato parental. Inicialmente foi elaborado um documento (consentimento informado) que posteriormente foi entregue aos responsáveis das instituições selecionadas (Creches e Centros de Saúde). O primeiro contacto foi realizado de forma pessoal, de forma a clarificar os objetivos da presente investigação, os procedimentos utilizados, bem como para esclarecer potenciais dúvidas.

A entrega dos questionários realizou-se num período de 6 meses (onde previamente havia sido atribuído o consentimento da direção da instituição) e diretamente às mães, perante a ausência de disponibilidade de algumas instituições para a participação na investigação. Procedeu-se à distribuição de 300 questionários que foram entregues às mães para preenchimento da própria e um questionário a ser preenchido pelo pai e, quando possível o preenchimento dos mesmos foi realizado na presença do investigador. No momento da entrega foram esclarecidas possíveis dúvidas e garantiu-se o anonimato e a confidencialidade, dos dados através do consentimento

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25 informado (ver anexos A e B). Apesar do número de questionários entregues (300) foi recolhido apenas um total de 108 questionários, o que pode dever-se ao facto do questionários entregues serem bastantes extensos. Posteriormente, procedeu-se á eliminação de 16 questionários, que não foram considerados válidos, devido à falta de informação em vários itens (mais de 10% de missings por cada instrumento).

Com o objetivo de testar se a amostra segue uma distribuição normal procedeu-se á realização dos teste de Kolmogorov- Smirnov e, do mesmo modo, ao teste de Levene para testar a homogeneidade das variâncias. Considerando as análises estatísticas efetuadas, verificou-se a ausência destes pressupostos em algumas variáveis contudo, “os métodos paramétricos são robustos à violação do pressuposto da Normalidade desde que as distribuições não sejam extremamente enviesadas ou achatadas e que as dimensões da amostra não sejam extremamente pequenas” (Maroco, 2007, p.137) pelo que considerando que a presente amostra apresenta estas características optou-se pela utilização de métodos paramétricos nas análises estatísticas realizadas.

De modo a verificar se existem influências significativas dos fatores Habilitações Académicas Maternas, Habilitações Académicas Paternas, Situação Profissional Materna, Situação Profissional Paterna, Rendimento Mensal Materno, Rendimento Mensal Paterno, Prematuridade, Sexo do bebé, Práticas alimentares, Sintomatologia Psicopatológica Parental, nas variáveis dependentes do Temperamento Infantil (todas as subescalas e dimensões do IBQ-R) procedeu-se à realização de várias MANOVAS e, quando estas se verificaram significativas, procedeu-se à análise dos dados obtidos nas ANOVAs e no teste post-hoc de Bonferroni (Maroco, 2007) de modo a examinar as diferenças entre os diversos grupos.

Com a finalidade de avaliar se existem correlações significativas entre a sintomatologia psicopatológica parental e o temperamento infantil procedeu-se à análise correlacional, com o uso coeficente de correlação de Pearson (R de Pearson).

No que concerne à variável Prematuridade procedeu-se à recodificação dos dados segundo a classificação da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2012) em que são considerados bebés prematuros todos aqueles que nascerem duma gravidez pré-termo até as 37 semanas.

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26

3. Caracterização dos instrumentos de recolha de dados

Relativamente aos materiais a utilizar, optou-se pelos seguintes instrumentos de avaliação: Questionário Sociodemográfico, o Brief Symptom Inventory- B.S.I. (Versão portuguesa) (Canavarro,1999) e Infant Behavior Questionnaire- Revisto (Costa & Figueiredo, In Press).

3.1.Questionário Sóciodemográfico

Constituído por 19 perguntas relativas à idade, naturalidade, estado civil, situação profissional, habilitações académicas, número de filhos e dados clínicos maternos.

3.2.Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI)

Foi usada a versão portuguesa do "Brief Symptom Inventory - B.S.I.” (Derogatis, 1982), validado para a população portuguesa por Canavarro (1999) que possibilita uma análise do tipo de sintomatologia que mais perturba o indivíduo. Consiste num instrumento de autorrelato composto por 53 itens, onde é solicitado ao sujeito que classifique o grau em que cada problema listado o incomodou durante a última semana numa escala de tipo Likert que oscila entre 0 (“Nunca”) e 4 (“Muitíssimas vezes”). Avalia sintomas psicopatológicos em nove dimensões: Somatização, Obsessões-

Compulsão, Sensibilidade Interpessoal, Depressão, Ansiedade, Hostilidade, Ansiedade Fóbica, Ideação Paranoide e Psicoticismo.

No que concerne à cotação e interpretação dos resultados, esta pode ser realizada de acordo com quatro possibilidades: avaliações sumárias de perturbação emocional (análise das pontuações obtidas nas nove dimensões); Índice Geral de Sintomas (número de sintomas psicopatológicos e a sua intensidade) que representa uma pontuação combinada que pondera a intensidade do mal-estar experienciado de acordo com o número de sintomas as assinalados; Total de Sintomas Positivos (número de sintomas assinalados) e Índice de Sintomas Positivos (combina a intensidade da sintomatologia com o número de sintomas presentes).

No que diz respeito à avaliação da sintomatologia psicopatológica materna e paterna, de modo a verificar-se as influências de cada um dos fatores nas diversas

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27 subescalas foram utilizados os scores obtidos pelo cálculo das médias de cada subescala. No entanto, considerando as indicações fornecidas pela autora da aferição portuguesa procedeu-se de igual ao cálculo do Índice de Sintomas Positivos (média do numero de sintomas a dividir pelo número total de sintomas) e utilizou-se este valor como referência, considerando como ponto de corte os valores ≥ 1,7, “com uma nota do ISP do BSI ≥ 1,7, é provável encontrar pessoas perturbadas emocionalmente; e abaixo desse valor, indivíduos da população em geral” (Canavarro p.316) pelo que no presente estudo se irá utilizar esta terminologia.

Através da análise dos dados psicométricos é possível verificar que o BSI apresenta níveis adequados de consistência interna para a totalidade das escalas, com valores de alpha de Cronbach entre.62 (Psicoticismo) e.80 (Somatização) no estudo de validação para a população portuguesa e valores de alpha de Cronbach entre.64 (Psicoticismo) e.88 (Somatização) (Tabela 4) no presente estudo. No que concerne à validade do constructo e a validade discriminativa estas foram testadas e constituem um dado psicométrico relevante para a adequação deste instrumento à medida da psicopatologia (Canavarro, 1999).

Tabela 4- Índices de consistência interna BSI

Subescalas BSI Estudo atual BSI: Estudo de Validação para a

população Portuguesa (Canavarro, 1999)

Somatização α =.88 α =.80 Obsessão-compulsão α =.84 α =.77 Sensibilidade Interpessoal α =.73 α =.76 Depressão α =.80 α =.73 Ansiedade α =.84 α =.77 Hostilidade α =.80 α =.76 Ansiedade Fóbica α =.73 α =.62 Ideação Paranoide α =.77 α =.72 Psicoticismo α =.64 α =.62

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28 3.3.Infant Behavior Questionnaire- Revisto (IBQ-R) (Gartstein & Rothbart, 2003)

Foi usada a versão traduzida do Revised Infant Behavior Questionnaire (Costa & Figueiredo, in press), instrumento que permite avaliar o Temperamento de crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 12 meses de idade, através do relato parental (Gartstein & Rothbart, 2003).

A versão portuguesa deste questionário foi obtida através da tradução e contra tradução da versão em língua inglesa. O IBQ-R (Gartstein & Rothbart, 2003) é uma versão revista e a atualizada do IBQ (Rothbart, 1981) que possibilitava a avaliação do nível de atividade, riso/sorriso, medo, distress aos limites, duração da orientação,

soothability e reatividade vocal da criança (Rothbart, 1986).

O IBQ-R é constituído por 191 itens pontuados numa escala tipo Lickert de 7 pontos, que se encontram agrupados em 14 subescalas (Costa & Figueiredo, 2011; Gartstein & Rothbart, 2003): 1. Nível de atividade (movimento de pernas, braços e atividade locomotora); 2. Distress aos limites (resmunguice, choro ou manifestações de distress quando se encontra num espaço ou posição limitado, em atividades de cuidados diários, ou impossibilitado de realizar uma ação desejada); 3. Aproximação (aproximação rápida, excitação, antecipação positiva de atividades prazerosas); 4. Medo (distress a alterações súbitas nos estímulos que lhe são fornecidos, a novos objetos físicos ou a estimulação social, assim como inibição da aproximação à novidade); 5.

Duração da orientação (atenção e/ou interação com um único objeto por um longo

período de tempo); 6. Riso/sorriso (riso/sorriso nas atividades associadas aos cuidados e a situações de brincadeira); 7. Reatividade vocal (quantidade de vocalizações emitidas nas atividades diárias); 8. Tristeza (Baixo humor geral, baixo humor e atividades associadas ao sofrimento pessoal, estado físico, perda de objetos ou incapacidade de efetuar uma ação desejada); 9. Sensibilidade percetiva (aptidão para detetar estímulos de baixa intensidade provenientes do ambiente externo); 10. Prazer de elevada

intensidade (prazer relacionado com estímulos de elevada intensidade, frequência,

complexidade, novidade e incongruência); 11. Prazer de baixa intensidade (prazer associado a estímulos de baixa intensidade, frequência, complexidade, novidade e incongruência); 12. Aconchego (expressão de prazer e moldagem do corpo com o objetivo de expressar desejo em ser pegado pelo cuidador); 13. Apaziguamento (diminuição da resmunguice, choro ou distress quando o cuidador recorre a técnicas de

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29 apaziguamento); 14. Frequência de recuperação do distress (frequência com que o bebé recupera de um pico de distress, excitação, ou ativação geral assim como facilidade em adormecer) (Costa & Figueiredo, In press).

Considerando estas 14 subescalas procedeu-se ao agrupamento em 3 dimensões do temperamento: Extroversão (constituída pelas escalas de Riso/Sorriso, Prazer de elevada intensidade, Sensibilidade Percetiva, Aproximação, Reatividade vocal e Prazer de baixa intensidade), Afetividade negativa (constituída pelas escalas de Distress aos limites, Medo, Tristeza e Nível de atividade) e Regulação/Orientação (constituída pelas escalas Duração da orientação, Apaziguamento, Aconchego e Frequência de recuperação do distress) cuja cotação é obtida através das médias das cotações das subescalas pelas quais são constituídas. Quanto mais elevado é o resultado obtido na subescala, mais presente se encontra o conceito que esta avalia (Idem).

O estudo atual tal como a versão portuguesa apresenta bons índices de consistência interna para todas as subescalas e dimensões, com a exceção da dimensão Regulação/Orientação que apresenta um índice de consistência interna bastante baixo (α =.38) Segundo Maroco e Garcia-Marques (2006) um α muito baixo pode refletir a codificação errada ou a mistura de itens. No entanto os autores consideram que este facto por si só não invalida a fiabilidade da escala podendo dever-se por exemplo ao facto de a mesma ser constituída por um número reduzido de itens (como se verifica no presente estudo). “A utilização de uma única estimativa de fiabilidade como base para concluir sobre um instrumento é sujeita a erro, visto que qualquer estimativa está igualmente sujeita a erro (…) Só o uso repetido do instrumento com diferentes amostras nos indica algo sobre a validade do processo inferencial: um instrumento que repetidamente gera dados fiáveis pode dizer-se, com maior confiança, fiável” (Maroco & Garcia-Marques,2006, p.80) e portanto os resultados deverão ser interpretados segundo as características especificas da medida a que se associa.

Considerando que o alfa de cronbach no estudo original varia entre os .71 (Frequência de Recuperação do Distress) e .93 (Apaziguamento). O alpha de cronbach para as dimensões do temperamento é de .79 para a Afetividade Negativa, .68 para a Regulação/Orientação e de .87 para Extroversão (Costa & Figueiredo,In press ), optou-se por manter a dimensão Regulação/Orientação apesar dos resultados relativos à mesma serem analisados com cautela.

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Tabela 1- Características sociodemográficas e clínicas maternas
Tabela 2 – Características amostra infantil
Tabela 4- Índices de consistência interna  BSI
Tabela 7 – Estatística descritiva do fator Situação Profissional
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Referências

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