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Os desenhos na educação infantil: documentos para conhecer as crianças, suas infâncias e pensar sua educação

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

DANIEL MEDEIROS DOS SANTOS

NATAL/RN 2019

OS DESENHOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DOCUMENTOS

PARA CONHECER AS CRIANÇAS, SUAS INFÂNCIAS E

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DANIEL MEDEIROS DOS SANTOS

OS DESENHOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DOCUMENTOS PARA CONHECER AS CRIANÇAS, SUAS INFÂNCIAS E PENSAR SUA EDUCAÇÃO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGEd, do Centro de Educação, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, na linha de pesquisa Educação, Currículo e Práticas Pedagógicas.

Orientadora: Profª. Drª. Mariangela Momo.

NATAL/RN 2019

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Créditos de capa

✓ Os desenhos utilizados na capa foram produzidos pelas crianças T.B1 (menina, 5 anos), G.N (menino, 6 anos) e J.G (menino, 6 anos), e os apresentei na elaboração da capa, tanto pela beleza que estes carregam, quanto por trazerem aspectos que me permitiram organizar as seções que compuseram o primeiro eixo de análise do capítulo quatro. Cada desenho está ligado a uma das seções, que falam sobre o lugar da criança, sobre as práticas culturais as quais elas participam e aspectos das suas relações familiares.

1 Ao longo do texto optei por identificar as crianças participantes da pesquisa apenas pelas iniciais de

seus nomes dizendo também sua idade e a que gênero pertencem. Essa escolha teve o intuito de manter um certo anonimato sobre elas.

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE

Santos, Daniel Medeiros Dos.

Os desenhos na educação infantil: documentos para conhecer as crianças, suas infâncias e pensar sua educação / Daniel Medeiros Dos Santos. - Natal, 2019.

144 f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Programa de Pós Graduação em Educação. Orientador: Profª. Drª. Mariangela Momo.

1. Desenhos - Dissertação. 2. Criança -

Dissertação. 3. Infância - Dissertação. 4. Cultura - Dissertação. I. Momo, Mariangela. II. Título. RN/UF/BS - Centro de Educação CDU 373.3

Elaborado por Rita de Cássia Pereira de Araújo - CRB-15/804

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DANIEL MEDEIROS DOS SANTOS

OS DESENHOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DOCUMENTOS PARA CONHECER AS CRIANÇAS, SUAS INFÂNCIAS E PENSAR SUA EDUCAÇÃO

APROVAÇÃO ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________________ Profª. Dr.ª Mariangela Momo (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

___________________________________________________________________ Prof.ª. Drª. Elaine Luciana Sobral Dantas (Examinadora Externa)

Universidade Federal Rural do Semi-Árido

___________________________________________________________________ Profª. Dr.ª Denise Maria de Carvalho Lopes (Examinadora Interna)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

___________________________________________________________________ Profª. Dr.ª Giovana Carla Cardoso Amorim (Suplente Externa)

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

___________________________________________________________________ Profª. Dr.ª Alessandra Cardoso de Freitas (Suplente Interna)

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Ao meu amado sobrinho, Winner Dérick, por ser criança e motivo de inspiração e reflexão do meu olhar sobre as demais crianças.

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AGRADECIMENTOS

Diante da oportunidade de viver e de realizar alguns feitos, é necessário agradecer àqueles a quem a vida se encarregou de me apresentar e que em muitos momentos foram pontes, parceiros, fiéis e inesquecíveis não só na construção deste trabalho, mas em toda a história de minha formação.

Em primeiro lugar agradeço a Deus que me concedeu a oportunidade de chegar até aqui, bem como a todos os espíritos amigos que em todos os momentos de minha vida estão a me intuir e guiar pelo caminho do bem, da verdade e do amor. Agradeço a toda minha família, ao meu pai: Ednaldo Alves dos Santos; minha mãe Maria da Conceição de Medeiros; minhas irmãs: Daniela Medeiros e Silene Medeiros dos Santos, meu sobrinho Winner Dérick Medeiros e Medeiros, por todo apoio, carinho, sorrisos e atenção em diversas etapas deste processo.

Não poderia deixar de agradecer à minha segunda família: Cleide Maria da Conceição Silva, Joaquim Garcia de Medeiros, Estela Garcia da Silva Medeiros.

Sou grato a Deus pela quantidade de amigos maravilhosos que tenho e que são frutos de princípios baseados em amor e respeito. Infelizmente não dá para ressaltar a importância de todos aqui, no entanto, isso não quer dizer que eu não reconheça todo o afeto e reciprocidade em minha vida.

Assim sendo, agradeço àqueles que estiveram mais perto de minhas emoções neste processo de construção do conhecimento e de formação para a vida, e que de alguma forma contribuíram significativamente: Alexandre Medeiros dos Santos, Dinete Maria de Souza, Rita Cássia, Ivana de Menezes Cabral, José Eliseu dos Santos Filho, Mateus Medeiros dos Santos, Moisés Medeiros dos Santos, Ilda Márcia, Zoraide Fernandes, Saulo Fernandes, Rutênio Humberto, Joseane Sales, Yuri Fernandes, Igor Ricelli, Nazaré Medeiros, Muiraquitã Morais, Maíra Jaíne, Saul Cavalcanti e Amanda Drielly;

Gratidão à Blenda Karine Dantas e Thiago Matias, pelo imenso apoio e orientações tão pertinentes ao processo formativo e pessoal desde a graduação, na certeza dos laços firmados em sentimentos verdadeiros de amizade blindada pelo tempo e fortalecida pelo amor;

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Agradeço à Esthefania Oliveira Maia Batalha, pela relação linda que construímos e pelos momentos de apoio, além das caronas, durante essa etapa em que nossas vidas se entrelaçaram para não mais se perder;

À Vladia Maria Eulálio Raposo Pires, pelos momentos tão singulares que foram compartilhados nesse percurso, na certeza que essa construção não será jamais desfeita. Temos um portfólio compartilhando vida;

À Aline Constância, pelo apoio tão pertinente nos momentos de considerações acerca da produção textual, e a todos os companheiros do grupo de estudos;

À Alcida do Nascimento Fernandes, por tanto apoio nas situações mais diversas desse percurso. Que nossa relação continue a se fortalecer a cada amanhecer.

À Isabela Cristina e Ciro Morais, amigos queridos de longas datas, que muito me apoiaram na vida e, sobretudo, nos primeiros dias dessa jornada, sendo fundamentais em um momento tão singular;

À Gillyane Dantas, pelo carinho e apoio no inicio desse percurso, com a certeza de que não nos perderemos;

À Ilda Márcia de Medeiros pelo apoio e conversas edificantes que motivam e renovam as energias para o recomeço;

Gratidão à Tânia Cristina Meira Garcia, que continua sendo fonte de inspiração, carregando princípios nobres de integridade e compromisso com as responsabilidades assumidas na transformação da vida dos sujeitos por meio da Educação.

Agradecimento profundo à minha orientadora Mariangela Momo, um exemplo a ser seguido. Com certeza, as marcas foram bem registradas, e não posso seguir sem levar aspectos tão singulares de uma relação que foi estabelecida mediante muito respeito e carinho. Sou grato pelo seu acolhimento desde o primeiro encontro, e sua preocupação que se expande cada dia mais, brilhando em cada encontro uma certeza de que estaremos sempre próximos, mesmo a longa distância.

Agradeço a todas as crianças que participaram desse processo, sem as quais, esse trabalho não teria o mesmo sentido. Elas fizeram um novo desenho na minha vida.

Ao CMEI Maria Nilciene Mariz de Medeiros e a toda equipe que me acolheu muito bem em todos os momentos.

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A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Educação, pelos aprendizados compartilhados ao longo de uma experiência tão rica e promissora em aspectos profissionais e pessoais;

Em especial a professora Denise Carvalho, com quem a sintonia se estabeleceu desde o primeiro encontro, e a quem tenho carinho e admiração pelo grandioso trabalho que realiza;

À banca examinadora, que na oportunidade acrescenta considerações pertinentes a qualificação do trabalho e consequentemente da formação;

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro concedido, em formato de bolsa, para a realização da pesquisa;

Por fim, a todos aqueles que contribuíram de alguma forma para que eu concluísse essa etapa.

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RESUMO

Os desenhos são produzidos por grande parte das crianças em vários contextos e não somente nos espaços educativos destinados a elas na etapa da Educação Infantil. Por meio de seus desenhos as crianças vão deixando suas marcas no mundo, marcas que comunicam, por exemplo, sobre sua cultura, sua infância e determinadas práticas que a elas são direcionadas. Dessa forma, elegi como objetivo desta pesquisa analisar os desenhos, associados às falas das crianças, como documentos que contribuem para conhecermos as crianças, suas infâncias e pensar sua educação. Movido por este objetivo, decidi adentrar uma instituição de Educação Infantil, localizada na cidade de São João do Sabugí no estado do Rio Grande do Norte/Brasil, em uma turma de nível 5, composta por 19 crianças. Ancorado pelas perspectivas teóricas dos Estudos Culturais em Educação e da Sociologia da Infância, construí esta dissertação a partir da compreensão das crianças como atores sociais, sujeitos de direitos e produtores de cultura, sendo capazes de modificar sua realidade, como também de produzir cultura a partir de suas interpretações e significações estabelecidas nas relações com os adultos. Com base nessas perspectivas teóricas, escolhi a modalidade de pesquisa qualitativa por considerar o processo da pesquisa e as implicações do pesquisador em capo. Além disso, me decidi por um percurso teórico-metodológico inspirado na etnografia utilizando-me de observações em visitas regulares na escola investigada, de fotografias, do diário de campo, e de conversas com as crianças e com as professoras para a construção das informações que se constituíram como materiais de análise. Os dados construídos me permitiram organizar os resultados em dois eixos de análises. Um eixo que se organiza em torno de desenhos e falas que evidenciam aspectos de vida das crianças, como vivências relacionadas à família, à religião e a local de moradia, comprovando que o desenho de fato é um documento repleto de possibilidades para conhecer as crianças e suas infâncias. Outro eixo que visa pensar a educação das crianças considerando as práticas escolares relacionadas aos desenhos discute as práticas da professora, uma vez que os desenhos mostram aspectos dessas práticas que precisam ser problematizados e revistos já que, no contexto investigado, às crianças não têm tido um encontro promissor com essa linguagem no percurso de seu desenvolvimento. Cada desenho está ligado ao lugar da criança, fala sobre as práticas culturais as quais elas participam e aspectos das suas relações familiares, mostrando assim, a riqueza de suas vivências que são compartilhadas por meio do desenho. Além disso, percebemos o quanto o desenho nos ajuda a refletir sobre a prática docente, sobretudo, na compreensão que o profissional possui no momento de solicitar e acompanhar essa produção. Fazendo parte destes dois eixos está a constatação de que o desenho materializa as experiências significativas das crianças, e pode permitir ao adulto, conhecer aspectos de suas experiências da infância já que são canais ricos de materialização da comunicação, da construção e da expressão da linguagem infantil. São efetivos documentos que apresentam diversas possibilidades de conhecer as crianças, suas infâncias e refletir acerca de sua educação na relação consigo e com os outros.

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ABSTRACT

In contemporary times, drawings are used by most children in various contexts and not only at the reference spaces destined to them in Preschool Education. Through their draws, the children leave their marks in the world, marks that communicate, for example, about their culture, the childhood and some practices they are guided by. This way, I chose as objective if this research analyse those drawings, associated with the children’s speeches, as documents that contribute for us to know the children, their childhood and think about their education. Moved by the question how the drawings with the speeches of the children contribute for us to understand the ways of being a child, live the childhood and think their education, I decided to go in a school of Preschool Education, located at São João do Sabugi, state of Rio Grande do Norte/Brazil, in a level 5 class, composed by 19 childrens. Anchored by the theoretical perspectives of Cultural Studies in Education and Sociology of Childhood, I build this dissertation from the comprehension of the children as social actors, beings of rights and producers of culture, being able to modify their reality, also to produce culture from their understanding and meanings stablished in relationships with adults (CORSARO, 2011). Based in these theoretical perspectivies, I chose the qualitative research method by considering the constructed view from the considerations of the entire research process. Beyond that, I decided for a theoretical-mothodological course inspired by ethnography using observations, drawnings, field journal, photographs, talking to the children and the teachers to the construction of information that constituted as materials to analyze. The obtained data allowed me to organize the results in two axes of analysis. One of those axes that organizes around the life aspects of the children’s life, as family, the religious and living experiences, proving the drawings are, in fact, a document full of possibilities to know the children and their childhood, once they show records that children live on their own contexts. The other axe discusses the teacher's practices, since the drawings also show aspects of this practice that need to be problematized and reviewed, because, by the investigated context, the children haven’t had a promising encounter with this language among their growing. Being part of this two axes are the confirmation that the drawing materialize the significant experiences of the children and alow to the adult know aspects of their childhood's experiences. However, it comes to a fact that the drawings by itself do not allow a just interpetation about what it's been representing at the top of the paper, is necessary allow the children to talk about what they produced, once their senses may be distinct from the ones assigned by the adults. The adult logic of look quickly the children's drawings without stablishing a dialog does not allow closeness to children and their childhoods. It's necessary for the teacher to allow the children to create their drawings in their own rhythm and modes, without requirements, respecting, this way, they moments of expression that do not stop them from teach another languages. Thus, become confirmed that drawing are the most rich way of materialization of the comunication, construction and expression of the childhood language. They are effective documents that present a lot of different possibilities to knowing the children, their childhood and reflecting about their education in the relation with themselves and with the others.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01- O CMEI...74

Figura 02–A sala...77

Figura 03–O chiqueiro...101

Figura 04 – A geladeira...104

Figura 05– O pé-de-feijão ...107

Figura 06–O anjo...110

Figura 07–As cruzes...112

Figura 08–A barca...116

Figura 09–As casas...120

Figura 10 – Os animais...122

Figura 11 – O quadro...128

Figura 12 – Os nomes...129

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Banco digital de teses e dissertações da Capes ...19 Tabela 02: Banco de dados SciELO– ...20 Tabela 03: Banco de teses e dissertações da universidade do Minho (PT) ...22

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LISTA DE SIGLAS

ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisas em Educação BDTD - Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

BNCC – Base Nacional Comum Curricular CMEI – Centro Municipal de Educação Infantil

DCNEI – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação e Cultura PPP – Projeto Político Pedagógico

RN – Rio Grande do Norte

SCIELO –ScientificElectronic Library Online

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 16

1 DESENHANDO O PRIMEIRO CAPÍTULO: SOBRE INFÂNCIA, CRIANÇA E EDUCAÇÃO INFANTIL ... 28

1.1 Breves traços sobre a Educação Infantil e o perfil profissional de professoras(es) na relação com o desenho ... 36

2DESENHANDO O SEGUNDO CAPÍTULO: SOBRE OS DESENHOS. ... 48

2.1 A reprodução interpretativa e os desenhos enquanto símbolo no percurso analítico da pesquisa ... 63

3DESENHANDO O TERCEIRO CAPÍTULO SOBRE O PERCURSO TEÓRICO METODOLÓGICO ... 69

3.1 Dando forma ao campo de pesquisa ... 73

3.2 Desenhando o cotidiano das investigações ... 77

3.3 Implicações do pesquisador no contexto da pesquisa ... 92

4 DESENHANDO O QUARTO CAPÍTULO SOBRE OS RESULTADOS E REFLEXÕES ACERCA DA PESQUISA ... 96

4.1 Primeiro eixo de análise: o desenho como produção cutural das crianças ... 99

4.2 Segundo eixo de análise: os desenhos das crianças e a prática educativa ... 124

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 135

REFERÊNCIAS ... 139 ANEXOS

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INTRODUÇÃO

Minha busca pelo conhecimento acadêmico tornou-se mais enfática a partir da estadia na universidade, uma vez que este ambiente possibilita confrontos intelectuais e exigências no pensar as relações, os fatos e a própria existência. Desse modo, há uma mola que me impulsiona em direção a reflexões acerca de questões que ao longo do tempo me tiram o equilíbrio intelectivo e constituem-se como um móvel em busca de respostas que me satisfaçam, mesmo que temporariamente.

Nesse sentido, vou me constituindo no percurso escolhido, e que consequentemente implicarão em resultados que satisfaçam ou não, minhas indagações.

Hoje vejo a graduação por outro ângulo, não mais como um lugar de formação no sentido de “prontidão” diante do conhecimento e do desenvolvimento das competências e habilidades as quais os sujeitos precisam desenvolver para sua área de atuação, mas, como um espaço que possibilita uma visão/reflexão a respeito da maneira como vou me constituindo, e, como bem diz Paulo Freire, do despertar da “consciência de sujeitos inacabados”. É justamente ao olhar para trás que consigo fazer tal análise e perceber que as inquietações e a vontade de aprender um pouco mais continuam muito acesas.

Desde a graduação, mais particularmente no período de estágio curricular na Educação Infantil, despertei minha atenção para os desenhos das crianças e para a pouca atenção que era dada aos mesmos, uma vez que presenciava a professora direcionar uma atividade, muitas vezes impressa, ou mesmo solicitava que as crianças desenhassem “livremente” em folhas de papel ofício que eram distribuídas a elas. No entanto, após o término da atividade, a professora olhava o desenho das crianças e apenas fazia comentários do ponto de vista da beleza, não havendo outros diálogos.

Não considerava que essa ação da professora estivesse errada, mas diante dos estudos ao longo do curso, tal atitude despertou minha atenção, uma vez que o desenho de cada criança traz registros da vida de cada uma, principalmente nos aspectos de suas relações com o outro e do seu contexto de vivências.

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Desde então, observei também que durante o curso de graduação em Pedagogia no campus de Caicó, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte -não tive nenhuma orientação sobre como direcionar, observar ou desenvolver algum olhar mais criterioso sobre as produções dos desenhos das crianças. Este fato despertou o desejo de fazer meu trabalho final de curso voltado para os desenhos das crianças, em uma possibilidade de compreender como as crianças representavam a escola através de seus desenhos, como também conhecer um pouco mais sobre essa linguagem.

No momento da pesquisa na graduação detive-me a observar os desenhos das crianças em uma perspectiva da Psicologia do Desenvolvimento, buscando fazer interpretações dos desenhos infantis utilizando-me de referencial que fazia análise e interpretações acerca das cores e dos elementos que apareciam no papel. Nesse momento, minha compreensão estava embasada nos estudos de Bédard (2013), Barros (1988), Piletti (1986), Vygotsky (1991), dentre outros, que naquele momento me deixaram realizado e bastante satisfeito com a possibilidade de entender os desenhos das crianças e tentar descobrir suas motivações em estar na escola ou capturar traços de suas emoções diante de alguma dificuldade a qual estivessem vivenciando.

Eu fazia, assim, uma análise das cores utilizadas pelas crianças, bem como dos seus desenhos e da lateralidade de alguns elementos representados no papel, uma vez que segundo alguns autores, a representação do sol, da casa, e de outros desenhos, têm uma significação dependendo se estão do lado direito ou esquerdo da folha por exemplo. Tudo isso me chamava atenção, principalmente as figuras humanas que não apresentavam boca ou braços. Construí, assim, meu trabalho de conclusão de curso na graduação buscando compreender a representação, por meio dos desenhos, que as crianças tinham da escola, e se em seus desenhos apresentavam traços de motivação sobre o ambiente escolar.

Com a ajuda do tempo e de novas reflexões, é possível amadurecer algumas ideias e percepções acerca dos fatos, bem como aprender a olhar um mesmo objeto com novas lentes. E, assim, aconteceu comigo em relação aos desenhos das crianças, uma vez que o Mestrado em Educação na linha de Pesquisa: Educação, Currículo e Práticas Pedagógicas possibilitou-me pensar este objeto por outro viés, com novas discussões, novas perspectivas teóricas, e modos de compreendê-lo.

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Nesse sentido, tais reflexões me permitiram hoje aprofundar o olhar sobre essa linguagem tão presente e significativa na vida das crianças e buscar estudá-lo como elemento da cultura infantil ancorada na abordagem dos Estudos Culturais em Educação, bem como em estudos da Sociologia da infância. Essas abordagens teóricas me permitem compreender como os desenhos estão sendo direcionados às crianças nos espaços de referência da Educação Infantil, e que sentido as crianças atribuem ao que está sendo representado no papel, uma vez que Derdyk (2015, p.47) defende em seus estudos sobre o desenho que este “representa uma diversidade de elementos da vida”.

Desse modo, a partir da questão: Como os desenhos, associados às falas das crianças, contribuem para conhecer os modos de ser criança, viver a infância e pensar sua educação, elegi o objeto de estudo deste trabalho, buscando olhar os desenhos como documentos que me permitem conhecer as crianças e aspectos do modo como vivem suas infâncias e também pensar sua educação. Nesse sentido, o objetivo elaborado foi analisar os desenhos, associados às falas das crianças, como documentos que contribuem para conhecermos as crianças, suas infâncias, e pensar sua educação.

E para que pudesse me aproximar do objeto na perspectiva dos estudos embasados na Sociologia da Infância e nos Estudos Culturais em Educação, uma vez que este olhar me permitiria conhecer outros aspectos da vida social e cultural das crianças, elenquei alguns bancos digitais de teses e dissertações para pesquisar e conhecer o que já foi pensado e produzido nos últimos dez anos (2008-2018). Fiz este movimento metodológico para trazer contribuições mais recentes para as minhas construções, permitindo confirmar a relevância da discussão a qual a pesquisa se propõe como também, ampliar as possibilidades de reflexão acerca dos desenhos das crianças.

Dentre estes lugares de busca, destaco: O repositório Digital de Teses e Dissertações do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN; as reuniões da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação – ANPEd; o Portal LUME da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS; o banco de dados da Universidade Luterana do Brasil – UBRA; o Banco Digital de Teses e Dissertações da CAPES e o Banco Digital de Teses e Dissertações da Universidade do Minho – Portugal. A escolha desses repositórios teve como um de seus critérios encontrar trabalhos que

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utilizassem perspectivas teóricas advindas do campo dos Estudos Culturais em Educação e/ou da Sociologia da Infância. E para que fosse possível a realização deste levantamento, utilizei, como descritores de busca, as seguintes palavras: Desenho infantil. Criança. Cultura.

Assim, foi possível constatar que no repositório Digital de Teses e Dissertações do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN há apenas um trabalho que fala sobre os desenhos, mas em uma perspectiva de inclusão dentro do ensino de Artes, não fazendo convergência com a perspectiva do trabalho proposto.

Já nas reuniões da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação – ANPEd tanto no GT Educação de crianças de 0 a 6 anos, quanto no GT Arte e educação, foi encontrado trabalhos com uma outra perspectiva teórica e nenhum trabalho sobre a temática.

No Portal LUME da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS todos os trabalhos encontrados sobre Desenho estavam relacionados com produções pessoais vinculadas ao curso de Artes Visuais, e não envolviam a participação de crianças.

No repositório da Universidade Luterana do Brasil – UBRA -, dentre os trabalhos encontrados, nenhum estava próximo da discussão proposta na construção dessa dissertação.

Pesquisando ainda no Banco Digital de Teses e Dissertações da CAPES, encontrei dois trabalhos que são bastante significativos e ajudam a refletir e construir a discussão acerca dos desenhos, uma vez que os trabalhos encontrados são construídos dentro de uma perspectiva da Sociologia da Infância. Apresento a seguir o quadro destes trabalhos:

Tabela 01: BANCO DIGITAL DE TESES E DISSERTAÇÕES DA CAPES

Título Autor Ano Instituição

Desenho infantil na escola: a significação do mundo por crianças de quatro e cinco anos

Adriana Torres Máximo Monteiro

2013 (Tese) UFMG

Desenho: diálogos étnicos e culturais com crianças guarani

Renata Lúcia de Assis Gama

2011 (Tese) UFES

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Monteiro (2013), em sua tese de doutorado constrói sua discussão buscando respaldo na Sociologia da Infância para compreender como crianças de 4 e 5 anos significam o mundo na Educação Infantil. Segundo Monteiro (2013) as crianças, entendidas como sujeitos, revelaram por meio do trânsito entre as linguagens, que pensam criticamente sobre o mundo em que vivem e que as cerca. E ainda, realçaram simbolicamente o lugar que não ocupam na hierarquia da escala social, sendo silenciadas pela descrença do adulto de suas ideias e capacidade de produzirem a cultura.

Gama (2011) em sua dissertação buscou investigar nos desenhos das crianças Guarani, suas relações com seu ambiente natural e cultural, buscando o olhar das mesmas sobre o seu próprio universo, para conhecer aspectos de seus costumes e tradições. Vejo que a pesquisa da autora se aproxima do meu tema em estudo, uma vez que busca apresentar o desenho como meio de representar aspectos culturais da vida das crianças. A pesquisa foi de cunho etnográfico e realizou-se com crianças do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.

Ainda neste percurso de investigação acerca da temática dos desenhos das crianças, encontrei três artigos na base de dados ScientificElectronic Library Online

-

SciELO, que apresentam contribuições significativas para pensar o desenho.

Tabela 02: BANCO DE DADOS SciELO–

Título Autor Ano Instituição

A sociologia da infância e os desenhos infantis – uma contribuição sociológica à educação Francine Borges Bordin; Denise Bussoletti 2014 (Artigo) UFP

Conhecer a infância: os desenhos das crianças como produções simbólicas: In: Das Pesquisas com

crianças à complexidade da infância Manoel Jacinto Sarmento 2011(Artigo) Campinas-SP

Mundos na ponta do lápis: desenhos de crianças ou de como

estranhar o familiar quando o assunto é criação infantil

Marcia Aparecida Gobbi

2014 (Artigo)

USP

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O primeiro artigo intitulado: A sociologia da infância e os desenhos infantis – uma contribuição sociológica à educação, Bordin; Bussoletti (2014) discutem alguns conceitos da sociologia da infância em uma tentativa de contribuir para a construção de um campo que investigue os desenhos infantis a partir de uma perspectiva sociológica. As autoras dialogam com os sociólogos Manuel Sarmento com foco do conceito de cultura da infância e William Corsaro com o conceito de reprodução interpretativa. Consideram em suas reflexões que os desenhos infantis são importante fonte de acesso às culturas da infância e abrem espaço para pensar de forma crítica a cultura contemporânea, permitindo ampliar o conhecimento sobre as peculiaridades das crianças e suas infâncias, bem como aperfeiçoar o trabalho de pesquisa e de docência.

O trabalho de Gobbi (2014), ao falar sobre o desenho de crianças pequenas na perspectiva de estranhar aquilo que o outro considera familiar buscando com isso conhecer as crianças a partir do que estas desenham. Além do convite da autora para observar os desenhos e dialogar com as crianças sobre suas produções. Este trabalho me ajudou enfaticamente nesta construção, e foi a partir das problematizações dessa autora que me apropriei do termo documento para analisar os desenhos, e buscar aspectos da criança e de sua infância. Suas reflexões são muito relevantes para a compreensão dos desenhos como uma prática social.

O outro artigo, no mesmo banco de dados, tem por título: Conhecer a infância: os desenhos das crianças como produções simbólicas, de Sarmento (2011), me ajudou a refletir e compreender o desenho da criança como linguagem que expressa aspectos de sua cultura, e de seu modo de ver e estar no mundo. O autor chama a atenção para ouvir a voz das crianças a partir dos desenhos, acrescenta ainda que as crianças nunca desenham no vazio social, o fazem como membros plenos da sociedade. E, por fim, mostra que o desenho das crianças é na verdade o desenho de um mundo. Sem sombra de dúvidas este foi o trabalho que mais me ajudou a pensar sobre o desenho infantil numa visão da Sociologia da infância e compreender o mesmo não somente como expressão de etapas do desenvolvimento da vida das crianças, mas como linguagem da própria infância carregada de sentido e significado cultural.

A leitura desse trabalho me levou também ao repositório Digital de Teses e Dissertações da Universidade do Minho (Portugal), na busca de trabalhos nessa perspectiva. Dos trabalhos encontrados, boa parte não estavam vinculados com a

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temática, tratavam de outros aspectos da Educação Infantil. Dentre estes, apenas dois dialogam com a temática em estudo e oportunizam uma discussão sobre o desenho infantil na perspectiva da Sociologia da Infância a partir de suas vivências.

Tabela 03: BANCO DE TESES E DISSERTAÇÕES DA UNIVERSIDADE DO MINHO (PT)

Título Autor Ano Instituição

Desenho infantil: modos de interpretação do mundo e simbolização do real: um estudo

em sociologia da infância Zélia Fernanda Fonseca Gomes 2009 (Dissertação) Universidade do Minho, Braga, PT

A voz desenhada e a voz colorida da infância Teresa Alexandra Fonseca Moreira Lobo Martins 2009(Dissertação) Universidade do Minho, Braga, PT

Fonte: Elaboração do pesquisador

A dissertação de Gomes (2009) apresenta uma reflexão acerca da produção dos desenhos das crianças na sala de aula, compreendendo que estes carregam significados das vivências das crianças. A visão da autora sobre os desenhos estão dentro de uma perspectiva sociológica, e compreende o desenho como símbolo, onde a perspectiva da criança, sua cultura e suas relações são consideradas como processo do ato de desenhar e significar a infância e suas marcas.

Martins (2009) também dá visibilidade às crianças e aos seus aspectos de experiências, ao se apropriar de estudos do campo da Sociologia para compreender o desenho como uma ação social, e busca visualizar os desenhos juntos as seus autores, buscando perceber não o aspecto evolutivo dos desenhos, mas sim, as relações e o contexto que as circunda, considerando por sua vez, as crianças, sua cultura, as suas condições.

Diante do material encontrado, é possível perceber que muito ainda pode ser discutido, investigado, analisado e divulgado sobre os desenhos das crianças, uma vez que são poucas as pesquisas que se dedicam a compreender os desenhos infantis em uma perspectiva sociológica. Ou seja, em uma perspectiva que considera a criança como ator social e dá visibilidade a esta como sujeito que produz cultura e que tem sua individualidade particular neste período de sua vida o qual denominamos de infância.

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Acredito, assim, que é possível ampliar a visão acerca dos modos de perceber os desenhos das crianças, ancorados no viés dos Estudos Culturais em Educação e comungando da perspectiva teórica da Sociologia da Infância. O que poderá contribuir para pensar crianças mais autônomas, capazes de se colocarem no mundo e de representá-lo de acordo com suas compreensões e impressões, não se limitando ao que os adultos impõem.

Compreendo que foi relevante a pesquisa nos bancos de teses, dissertações e artigos qualificados na área, uma vez que os trabalhos impulsionam a realizar investigações, ao mesmo tempo em que proporcionam uma noção das discussões realizadas e sua relevância para a temática.

Mediante esse processo, foi possível ampliar a percepção sobre os desenhos, e conseguir direcionar meu olhar para estudá-los como documentos para conhecer as crianças, aspectos de sua infância e pensar sua educação. Ao tomar os desenhos como documentos significa que fiz uma escolha da forma primordial como os considerei para as investigações e análises, o que não quer dizer que eu não os reconheça como linguagem, ou como arte, por exemplo entre outras possibilidades de considerá-los.

Desse modo, o meu desejo se renova no sentido de problematizar as relações, percepções e contextos que envolvem o desenho no âmbito escolar, bem como aprender e compartilhar novas possibilidades de percepções desse documento produzido pelas crianças na Educação Infantil.

A fim de suscitar maior interesse por parte do leitor para a leitura e entendimento deste trabalho, apresento de forma sintética um breve resumo dos capítulos, no sentido de possibilitar uma visão geral do processo de elaboração da pesquisa.

O capitulo um intitulado: Desenhando o primeiro capítulo: sobre infância, criança e Educação Infantil, mostra em sua construção, aspectos históricos que possibilitam visualizar, de um modo geral, o surgimento da compreensão a respeito do sujeito criança como indivíduo que necessita de atenção e cuidados mais específicos. Partindo-se desse aspecto da criança, compreendendo suas especificidades, é possível desenvolver um olhar mais sensível sobre os modos de percebê-la e, consequentemente de organização do meio e de mediações para educá-la. Trago, assim, reflexões que se tornam necessárias para pensar acerca do pouco tempo na história da humanidade em que a criança ganhou maior conotação

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social, e mais enfaticamente, para que continuem as lutas e enfrentamentos diante da elaboração de políticas de atendimento e acolhimento para a promoção delas como sujeitos de direitos. A compreensão acerca da concepção de criança enquanto ator social e sujeito de direitos, permite ao(as) professor(as) direcionar diversas oportunidades para que esta se desenvolva e se expresse, inclusive fazendo uso do desenho.

Este primeiro capítulo em essência convida a refletir sobre as concepções de criança e infância construídas ao longo da história, e, principalmente, objetiva pensar qual concepção tem embasado as práticas, os olhares, bem como o sentido que é atribuído às construções realizadas pelas crianças que se apresentam distribuídas na sociedade, e, sobretudo, em âmbito escolar. Compreendendo por sua vez, que esta ou aquela concepção, influi diretamente nas relações estabelecidas com elas, e isso implica em um processo educacional que contribui de forma positiva ou negativa para a formação do sujeito.

Ainda neste primeiro capítulo, escrevi uma seção problematizando os desenhos na Educação Infantil, uma vez que é na sala de referência, que as atividades com o desenho geralmente são mais direcionadas e obedecem a uma rotina. Com essa problematização, escrevo um pouco sobre a atenção e intencionalidade que deve ser voltada para os momentos de produção dos desenhos, tentando proporcionar espaço e oportunidades diversas dessa manifestação criadora da criança, considerando, inclusive, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998). Este documento que foi produzido com a o objetivo de nortear/orientar as ações pedagógicas nas instituições e tece considerações importantes em relação ao desenho das crianças. Também abordo neste capítulo brevemente, as considerações acerca do eixo: Experiências, traços, sons, cores e formas, apresentados na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017) considerando que este é um documento recente que está em pauta e deverá nortear as práticas nos contextos das instituições de Educação Infantil, além da formação inicial ou continuada de professores dessa etapa educativa. Este trabalho ainda tem um embasamento, em termos de documentos oficiais, muito próximo das orientações do RCNEI, uma vez que este fez parte do meu curso de formação, como também, porque na instituição onde a pesquisa se realizou as discussões sobre a BNCC ainda estão sendo realizadas. Consequentemente, este documento estará embasando os trabalhos futuros.

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Desenhando o segundo capítulo: sobre os desenhos, apresenta a discussão a partir dos conceitos do que são os desenhos e uma breve caracterização de seu surgimento e utilização pelas crianças. Nesse sentido, alguns autores, entre eles, Sarmento (2011), Iavelberg (2013), Gobbi (2014) são considerados em virtude de suas definições sobre os desenhos, dentre elas, a compreensão deste como documento, sendo esta a concepção central utilizada na construção desta pesquisa. Também considerei outros autores, entre eles Derdyk (2015), e Corsaro (2011), que consideram o desenho como elemento que representa a vida das crianças, partindo do entendimento de que este é um artefato cultural que permeia uma diversidade de espaços sociais, dentre eles, as salas de referência nas instituições de Educação Infantil.

Essas abordagens teóricas contribuem no sentido de possibilitar reflexões para perceber os desenhos como documentos que trazem informações e aspectos das experiências individuais ou coletivas da vida do sujeito que desenha, ou seja, no caso desta pesquisa, a criança. Ainda nesse capítulo, apresento a teoria da reprodução interpretativa e a compreensão do desenho enquanto símbolo, de modo que estes estudos contribuíram enfaticamente para a análise dos dados.

No capitulo três, intitulado: Desenhando o terceiro capítulo: sobre os passos teórico-metodológicos da pesquisa, escrevo sobre os vários movimentos que constituíram os procedimentos teórico-metodológicos da pesquisa, uma vez que cada procedimento foi pensado, e repensado para atender ao objetivo de analisar os desenhos, associados às falas das crianças, como documentos que contribuem para conhecermos as crianças, suas infâncias e pensar sua educação. Este capítulo aborda as explicações de como ocorreu o percurso de investigação, possibilitando ao leitor compreender o processo, e a satisfação, de cada movimento em busca de resultados.

Apresento, ainda, neste terceiro capítulo, as surpresas que surgiram neste percurso. Digo surpresa no sentido de situações, perguntas, e momentos inesperados, que, por sua vez, contribuíram significativamente para o meu processo de formação, bem como possibilitaram-me refletir sobre minha postura diante das crianças. Neste capítulo, apresento as escolhas teóricas que embasaram os procedimentos metodológicos, deixando claro ao leitor os motivos pelos quais construí a pesquisa de campo deste modo, ou de determinados modos, e não de outro.

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No capítulo quatro, intitulado: Desenhando o quarto capítulo: sobre os resultados e reflexões acerca da pesquisa, construí eixos de análise a partir do material empírico, que permitiram reflexões acerca dos achados em relação ao objeto em estudo – os desenhos como documento para conhecer as crianças e aspectos do modo como vivem sua infância e pensar a sua educação. Realizei escolhas de modo que o leitor possa visualizar aspectos no trato com os desenhos das crianças, principalmente, no tocante ao diálogo que deve ser estabelecido com a criança sobre seu desenho, uma vez que estes, de fato oportunizam uma maior proximidade com suas experiências cotidianas.

Nesse capítulo, são apresentados dois eixos de análise que elegi dentre as possibilidades de construir os resultados. Sobre os eixos de análise o primeiro deles, apresenta aspectos de vida das crianças que revelam determinadas práticas culturais, informações sobre moradia e sobre suas famílias, tendo por título Primeiro eixo: o desenho como produção cultural das crianças, mostrando os seus desenhos e falas condizentes com aspectos mais pertinentes ao envolvimento com o contexto da zona rural; aspectos de participação das crianças em práticas culturais mais ligadas à religiosidade e outros traços que permitem conhecer sobre a constituição do lar da criança, possibilitando assim, que se conheça um pouco de sua vida e das relações do seu lar. Os desenhos que compõem esse primeiro eixo de análise foram agrupados mediante o percurso da pesquisa e frente aos aspectos que foram surgindo e que por sua vez estabeleciam uma relação comum dentre as vivências das crianças, permitindo, assim, que eu pudesse trazer estes resultados dentre as possibilidades encontradas.

Já o segundo eixo de análise, que tem por título: Segundo eixo: os desenhos das crianças e a prática educativa, apresenta minhas impressões e análises acerca da prática das professoras na relação com os desenhos. Ampliando a discussão no sentido de destacar a importância da reflexão da prática docente como caminho para que seja realizada práticas pedagógicas no sentido de promover e garantir o pleno desenvolvimento das crianças na Educação Infantil.

Considero que a pesquisa conseguiu trazer respostas significativas ao objetivo proposto – analisar os desenhos, associados às falas das crianças, como documentos que contribuem para conhecermos as crianças, suas infâncias e pensar sua educação- como também, me permitiu refletir sobre as situações que se fizeram novas neste percurso, e que me possibilitou entender que ao lidar com crianças

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devemos estar sempre abertos as surpresas, pois é isso que elas nos trazem em cada momento. Uma vez que foi possível trazer considerações acerca dos desenhos das crianças, bem como de todo material que foi construído durante as vivências com cada uma delas, dentro das implicações individuais e coletivas.

Já no último capítulo que são as Considerações finais: rabiscando alguns apontamentos, apresento as construções possíveis, realçadas com cores, tons e rabiscos de encantamento pelas experiências de conviver, e aprender junto a estes sujeitos, as crianças da pesquisa. Apresento ainda as implicações acerca do processo de pesquisar e da responsabilidade de trazer elementos que ajudem aos profissionais, pais, e sociedade em geral, a pensar sobre os modos de nos relacionarmos com as crianças e com seus desenhos em qualquer momento. Trago ainda, as impressões que são feitas depois desse longo processo que me motiva a não parar de pesquisar, pois o campo é rico de possibilidades.

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DESENHANDO O PRIMEIRO CAPÍTULO

SOBRE INFÂNCIA, CRIANÇA E EDUCAÇÃO INFANTIL

João e Maria Agora eu era o herói E o meu cavalo só falava inglês A noiva do cowboy Era você além das outras três Eu enfrentava os batalhões Os alemães e seus canhões Guardava o meu bodoque E ensaiava o rock para as matinês

Agora eu era o rei Era o bedel e era também juiz E pela minha lei A gente era obrigado a ser feliz E você era a princesa que eu fiz coroar E era tão linda de se admirar Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não Finja que agora eu era o seu brinquedo Eu era o seu pião O seu bicho preferido Vem, me dê a mão A gente agora já não tinha medo No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal Que o faz-de-conta terminasse assim Pra lá deste quintal Era uma noite que não tem mais fim Pois você sumiu no mundo sem me avisar E agora eu era um louco a perguntar O que é que a vida vai fazer de mim? Chico Buarque

A relação com o objeto de estudo implica o entrelaçamento com um conjunto de elementos que favorecem infinitas reflexões. É envolver-se simultaneamente com

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tudo aquilo que o circunda, que o integra e que de forma parcial ou integral, traz contribuições significativas para reflexões acerca dos objetivos propostos.

No caso, o envolvimento científico com os desenhos das crianças na perspectiva da relevância que estes apresentam enquanto documento que perpassa a vida desses sujeitos, me deu a oportunidade de refletir a luz de alguns estudiosos, sobre a criança e a fase da infância.

Diante dessa oportunidade de elaboração do pensamento e construção reflexiva a respeito da infância e do ser criança, não poderia deixar de contextualizar esse momento com a música que introduz este capítulo, uma vez que esta me inspira e possibilita ver tantos aspectos dessa fase.

Ainda assim, numa visão mais otimista, diria que há uma necessidade de deixar esse herói – criança - tomar conta de seu espaço, de seu tempo, enfim de sua fase, e atuar por meio de suas construções para assim transformar a realidade.

Que seja ainda possível refletir acerca de tantas infâncias constituídas em tantos contextos sociais onde a lei não é a felicidade muito menos as brincadeiras, mas o trabalho e a responsabilidade como normas de uma infância adultizada.

Acredito que os trabalhos científicos têm esse poder de proporcionar um olhar novo sobre objetos há muito tempo estudados, contribuindo assim para que cada um renove o olhar, o pensamento e o comportamento na relação com as crianças. E que assim, seja possível compreender as crianças como heróis de suas infinitas batalhas em busca da construção de seus lugares e de atendimento institucional de as atenda de forma integral.

Nesta perspectiva, compreendo que ao longo do tempo muito tem se discutido e produzido sobre concepção de criança e de infância, e uma vez que as transformações estão sempre acontecendo em diversos aspectos, acredito que as discussões não podem parar. A sociedade e por sua vez as relações obedecem constantemente a um movimento de mudança.

Segundo Oliveira (2002), a concepção de infância foi inicialmente discutida a partir do pensamento de autores como Comenius, Rousseau, Pestalozzi, dentre outros que já apresentavam uma preocupação com o ensino voltado à criança. Todavia, percebo que até os dias atuais muito ainda tem se debatido sobre o que é a infância e os sentidos dessa fase, como também o que significa ser criança e suas necessidades específicas.

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É inegável, porém, que as construções teóricas desses e de outros autores que ao longo do tempo traçaram concepções de infância e criança, permite refletir e questionar socialmente como o ensino e as instituições de um modo geral têm se estruturado para atender às crianças dentro de suas particularidades.

Não deixando de considerar que não há uma única visão ao longo do tempo que tem possibilitado compreender a criança e a infância, mas, que um conjunto de estudos na área da Psicologia, Antropologia, Biologia, Sociologia, Lingüística, têm contribuído significativamente para alargar a compreensão de toda a sociedade a respeito dessa fase.

Percebo com isso, que ao longo dos tempos, as sociedades foram alterando as formas de atendimento às crianças pequenas, isso advindo de um processo de reflexão e percepção que contribuiu para alterar também a maneira de pensar sobre a infância, especificamente sobre aspectos do desenvolvimento infantil, do pensamento, das capacidades de aprendizagens e necessidades específicas das crianças até seis anos de idade.

Nesse sentido, frente ao processo de mudanças, passando pelo entendimento que somente à família cabia a educação da criança, depois pela compreensão da creche na perspectiva de assistência às famílias, e em seguida compreendendo a Educação Infantil que prepararia para o Ensino Fundamental. Todo esse percurso caracterizou, assim, a infância de diversas maneiras diante das construções sociais moldadas dentro de cada tempo histórico.

Essas caracterizações se materializam por sua vez ao longo do tempo, e determinam, assim, o modo como cada contexto lida com a infância e como a compreende, o que por sua vez vai contribuir de forma positiva ou negativa. E nesse sentido, até justificar algumas práticas sociais vigentes ainda nos dias atuais construindo modelos distintos para as crianças em conformidade com o pensamento estabelecido sobre a compreensão de infância.

Não posso deixar de trazer a reflexão partindo do sentido etimológico do próprio termo, infância (in-fans) que significa “não fala”. É imprescindível observar que o sentido da não-fala, aqui, não é o de ausência, mas sim o de não-validade. Nesse sentido, é evidente a concepção de infância já identificada no sentido da palavra como um espaço de silêncio, permitindo-me pensar que mesmo que a criança fale verbalmente, esta fala ou suas ideias para o adulto são destituídas de um sentido, sem merecimento de uma relação ou de uma postura de respeito.

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Com isso, percebo que a concepção de que as falas das crianças, seus desejos, seus valores, e a sua forma particular de resolver seus conflitos, não são, assim, tão importantes para a maioria das pessoas adultas, e isso se configura ainda em muitos espaços sistematicamente organizados para a oferta de educação para crianças.

Além dessa concepção anteriormente apresentada, durante um longo período as crianças foram encaradas também a partir de outra concepção, como ser sem capacidade, e desse modo conviviam com os adultos sem orientações mais sistematizadas diante de suas peculiaridades, e sem nenhuma demonstração de valor para com elas. O que as divergiam dos adultos era apenas o seu tamanho, advindo daí a denominação de adulto em miniatura. Essa forma de perceber a criança como um ser incapaz vem desde a epistemologia da palavra infância.

Nesse sentido, compreendo que as crianças conviviam com os adultos e aprendiam pela vida e na convivência com os mesmos. Corroborando com esse pensamento, Ariès ressalta que: “[...] a infância era um período de transição, logo ultrapassado, e cuja lembrança era logo perdida” (1986, p.52).

As afirmações históricas sobre as concepções de infância e de criança realizadas no início deste capítulo têm como base o contexto europeu. Considerando também este contexto, no final do século XVII adentrando o início do século XVIII, as transformações sociais, e principalmente o modo de organização e percepção da instituição familiar que passa a se organizar em torno da criança, possibilita um novo olhar sobre a infância.

A criança passa a ser vista como um ser que pensa e que precisa de cuidados diante de suas fases de vida, e “[...] a família passou a inspirar sentimentos novos, uma afetividade nova que a iconografia do século XVII exprimiu com insistência e gosto: o sentimento moderno de família” (ARIÈS, 1986, p.277).

Desse modo, a criança passa a ser compreendida como alguém dotado de características específicas, e aos poucos vai sendo construída a concepção que a enxerga como sujeito histórico e social. Portanto, a criança passa a ser percebida como um ser pensante que deve receber total apoio para o pleno desenvolvimento de suas capacidades: física, motora, cognitiva, social, afetiva. Contribuindo com a discussão, Sarmento (2004) compreende as crianças como:

Seres sociais e, como tais, distribuem-se pelos diversos modos de estratificação social: a classe social, a etnia a que pertencem, a raça,

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o gênero, a região do globo onde vivem. Os diferentes espaços estruturais diferenciam profundamente as crianças (2004, p.10). Sendo assim, é possível perceber que ao longo do tempo, tanto na Europa quanto no contexto brasileiro, houve um movimento gradativo no que diz respeito a olhar a criança como um sujeito de direitos, de modo a colocá-la no centro das preocupações sociais. Desencadeando, assim, a necessidade da criação dos dispositivos legais que definem e defendem concepções de criança, como também apontam direcionamentos a serem desdobrados em vários seguimentos da sociedade, seja na família, na escola, ou na comunidade em geral.

Portanto, a concepção de infância como uma fase de silêncio precisa ser repensada, uma vez que esta deve ser compreendida como tempo privilegiado de comunicação e como momento para promover o desenvolvimento integral das crianças. Neste aspecto, Oliveira destaca que:

Estudos em psicologia e em psicolinguística têm apontado a riqueza das falas infantis como instrumentos de constituição e veiculação de significações. São falas diferentes de formas adultas de linguagem, mas testemunhas de um processo muito significativo de desenvolvimento da relação entre pensamento e linguagem. (2002, p.45).

Como a autora mostra, são necessárias discussões constantes a respeito do entendimento da infância, precisando compreendê-la como uma fase rica de movimentos dinâmicos em relação ao desenvolvimento das crianças, e principalmente na aquisição de valores e construção de conhecimento individual e coletivo que permita a elas serem percebidas como sujeitos que estão no mundo e que contribuem para a transformação de cada contexto.

Mesmo com tantas reflexões diante da infância, as discussões em torno de uma concepção sociológica de criança que a compreende como ator social, ainda vem se consolidando até os dias atuais. Ainda é muito marcante a percepção que a sociedade tem em relação à criança, compreendendo-a mais enfaticamente do ponto de vista de seu desenvolvimento biológico, apontando a infância como uma fase natural.

Assim, este trabalho foi construído a partir da visão sociológica atual dos modos de compreender a criança como um sujeito que fala e que tem uma voz própria, sendo aqui compreendida como uma voz que condensa aspectos de sua realidade e de seu modo de ver e significar o mundo com base nos seus aspectos

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culturais, econômicos, sociais, e que influem diretamente no seu modo de ser e estar no mundo. E nesse sentido, de necessidade participativa de construção do mundo, de valores e de contribuições para transformações, entendo que:

“[...] a criança pequena deve ser levada a sério. Ativa e competente, ela tem ideias e teorias que não apenas valem a pena serem ouvidas, mas também merecem escrutínio e, quando for o caso, questionamento e desafio” (DAHLBERG, 2003, p.72).

Além disso, não se pode deixar de considerar o aspecto particular da identidade infantil, uma vez que este, no caso do Brasil, se expressa através da Constituição Federal do Brasil de 1988, e também do Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que estes documentos consideram a criança e o adolescente como sujeitos em desenvolvimento.

Percebo com isso, que as mudanças se fazem cada vez mais pertinentes frente aos modos de lidar e compreender as crianças. Sem dúvidas que os estudos proporcionam maior clareza diante da necessidade dessa forma de olhar e entender às crianças por uma vertente sociológica, uma vez que neste viés, a criança é vista como ator social, alguém que se constitui nas práticas e nas relações com o outro e com o meio que está circunscrita.

Portanto, pensar a criança e tentar compreender os aspectos peculiares que compõe sua infância exige de todos os seguimentos da sociedade uma postura ética e dedicada, uma vez que esta etapa é sempre acrescida de algo novo e de modos distintos de significar a realidade e os aspectos culturais que as envolvem.

Sobretudo, é fundamental o desenvolvimento da sensibilidade para perceber o quanto é significativo aproximar-se dos estudos que buscam defender a criança enquanto sujeito de potencialidades capaz de promover contribuições/reflexões significativas na construção do conhecimento.

Ancorado nessa perspectiva, ressalto a importância das reflexões para enfatizar essa forma de olhar a criança, de modo que a cada dia seja deixada de lado a visão adultocêntrica, e que o foco de fato seja no ponto de vista das crianças, buscando sempre colocá-las em evidência como sujeitos ativos e criadores de culturas dentro de seu contexto de singularidades.

Assim sendo, baseado em estudos de Fernandes (1999), Gobbi (2014), e nos próprios documentos como Brasil (1998), e BNCC (2017), DCNEIs (2010) que norteiam as práticas educativas na Educação Infantil no Brasil, defendo a relevância da participação das crianças nas pesquisas e em todos os momentos em que estas

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significam o mundo por meio de suas linguagens, por acreditar que estas têm muito a revelar e contribuir para as transformações sociais. Rizzini destaca que:

Oportunidades precoces de participação democrática alimentam um senso coletivo de responsabilidade, e de habilidades para resolver problemas de forma conjunta. Talvez o mais importante seja que as crianças desenvolvam um sentimento de autoconfiança como atores sociais, com o poder de impactar diretamente nas situações que afetam as suas vidas. Elas desenvolvem não só a confiança, mas aprendem lições na prática sobre como podem melhorar a qualidade de vida. (2007, p.173).

É por meio de sua voz que a criança tem condição de fazer jus ao seu direito de ser sujeito e de participar do processo de construção do conhecimento e consequentemente da transformação da sociedade, uma vez que a compreendo não como um “vir-a-ser humano”, mas como um ser humano com particularidades próprias, assim como os adultos. Nesse contexto, Müller afirma que “[...] a anuência pela voz da criança indicia a sua participação livre e espontânea no escopo da pesquisa, mantendo o pesquisador longe de qualquer resquício de extorsão quanto a finalidade em questão” ( 2003, p.76).

Fica evidente a relevância da participação das crianças na construção do conhecimento dentro do direito enquanto ator social que estas têm de ocupar seu lugar na sociedade. E desse modo cabe também ao adulto refletir sobre suas posturas direcionadas às crianças, que em muitos momentos acaba por tolher o desenvolvimento amplo de suas habilidades, por trazer arraigado em si ainda, uma visão simplista e reducionista da criança. Contribuindo com esse pensar, Dahlberg acrescenta que:

Desde o início da vida a criança pequena é uma “rica” criança, ativamente engajada com o mundo; ela nasceu equipada para aprender e não pede nem necessita da permissão do adulto para começar a aprender. Na verdade, a criança pequena corre o risco de tornar-se pobre nas mãos dos adultos e, em vez de se “desenvolver”, perder suas habilidades com o passar do tempo. (2003, p.72).

Acredito, assim, que a criança deve ser percebida mediante suas especificidades, exigindo dos profissionais, dos pais e da sociedade em geral, uma concepção de infância bem definida para que possam agir em convergência com os direitos que elas possuem enquanto sujeitos.

Nesse sentido, vejo a possibilidade de ampliar o entendimento da participação das crianças nas pesquisas por compreender que estas desempenham um importante papel ao se colocarem como sujeitos que representam o mundo a partir

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de suas próprias construções e concepções, desconstruindo o caráter de reprodução do mundo adulto. Dahlberg confirma isso ao dizer que “[...] a criança pequena está no mundo como ele é hoje, incorpora esse mundo, é influenciada por ele, mas também o influencia e constrói significados a partir dele (2003, p.72)”.

Entendo por sua vez que todo esse trabalho em oportunizar às crianças espaços e momentos onde elas possam se colocar, exige do pesquisador o desenvolvimento de sensibilidade, compromisso e ética na hora de entrar em contato com as mesmas, pois como afirma Müller “[...] o que está em jogo ao ouvirmos às crianças é toda uma série incontrolável de acontecimentos que emergem como fios que são da tessitura de suas existências individuais. (2010, p.78).”

Desse modo, consigo vislumbrar o quão importante é oportunizar às crianças usufruírem de um direito que lhes assiste, uma vez que esse é o papel dos profissionais e pesquisadores, descobrir caminhos e buscar sempre a melhor maneira de valorizar e compreender as infâncias e as crianças.

Ainda cabe lembrar que segundo Dahlberg (2003) conceber a criança como co-construtor de conhecimento, identidade e cultura, é estar em um contexto de sociedade com características pós-modernas, onde as mudanças se operam de forma cada vez mais rápidas e as demandas e exigências que o futuro reserva às crianças pode ser tão fluido como o próprio agora.

Nessa perspectiva, vejo mais um ponto positivo em promover espaços e momentos que oportunizem às crianças serem colocadas no processo de construção do conhecimento e proporcionar, assim, o desenvolvimento de suas competências e habilidades diante de situações mais complexas e de contribuir para que venham a atuar como sujeitos ativos e com maior autoconfiança. Assim sendo, Dalhberg enfatiza:

O desafio é proporcionar um espaço em que novas possibilidades possam ser exploradas e entendidas por meio da ampliação de modos de conhecimento reflexivos e críticos, por intermédios da construção ao invés da reprodução de conhecimento, capacitando as crianças para trabalhar com criatividade a fim de perceber as possibilidades (2003, p.79).

Percebo com isso, que as mudanças se fazem cada vez mais pertinentes frente aos modos de lidar e compreender as crianças. Sem dúvidas que os estudos proporcionam maior clareza diante da necessidade dessa forma de olhar e entender

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às crianças por uma vertente sociológica, uma vez que neste viés, a criança é vista como ator social, alguém que se constitui nas práticas e nas relações com o outro e com o meio que está circunscrita.

1.1 Breves traços sobre a Educação Infantil e o perfil profissional de professoras(es) na relação com o desenho

Nos marcos da história da educação enfaticamente no período moderno, duas instituições educativas sofreram profundas transformações em sua estrutura organizacional de modo a se adequarem as exigências do perfil de sujeitos que as compõe, são elas, a família e a escola. Estas por sua vez, tornaram-se cada vez mais exclusivas na experiência formativa dos indivíduos e contribuíram significativamente para alguns aspectos de reprodução da sociedade. Essas instituições, família e escola, juntamente com a igreja chegaram a cobrir toda a margem da infância-adolescência, como locais quase que exclusivos destinados à formação das novas gerações, segundo um modelo socialmente aprovado e definido. Novamente realizo essas afirmações tendo por base o contexto da modernidade na Europa que mais tardiamente se repete no Brasil.

De um modo geral, compreendo por Educação uma influência intencional e sistemática sobre o ser humano com o intuito de promover seu desenvolvimento e formação. Esta se constitui, assim, em elemento fundamental da cultura enquanto ciência, arte ou literatura. Nesse sentido, Libâneo (1994, p.17), diz que o objetivo da educação é “[...] prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo em função de necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade”.

Ao lado da família, almeja-se uma escola/instituição que instrua, forme e ensine conhecimentos, mas também comportamentos, e que saiba fazer articulações em seus movimentos para atender integralmente não só aos adultos, mas, sobretudo, às crianças.

Pensar espaços que promovam o desenvolvimento integral das crianças de um modo geral deveria ser tarefa e desafio constante para a sociedade, principalmente para professores e pesquisadores, uma vez que lidam com esses sujeitos e utilizam diversos meios para contribuir com seu crescimento de um modo geral.

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