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Projetos interdisciplinares na formação de novos publicitários: pesquisa de eficiência

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Academic year: 2021

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(1)Projetos interdisciplinares na formação de novos publicitários: pesquisa de eficiência César Augusto Ortolani Mestre em Educação/Ensino Superior - PUC-Campinas Professor das Faculdades Integradas de Valinhos cesarortolani@yahoo.com.br. Resumo. Abstract. Este artigo divulga o resultado de pesquisa realizada em Instituição de Ensino Superior no intuito de dimensionar a eficiência da interdisciplinaridade na formação da criticidade em alunos a egressar de curso superior de Comunicação Social/ Publicidade e Propaganda; interdisciplinaridade esta que tem incentivado o aprofundamento dos trabalhos interdisciplinares realizados no curso de Publicidade da Instituição de Ensino Superior estudada até o ano de 2007. O artigo sugere também considerações para o exercício da práxis no ensino de Publicidade tendo o ambiente interdisciplinar como metodologia para sua realização e como caminho para uma formação socialmente responsável dos novos publicitários. Os resultados demonstram, nos alunos a egressar, a presença de considerável criticidade desses educandos quanto à própria prática profissional futura, e a eficiência de metodologias diferenciadas na construção do saber socialmente responsável nesses alunos.. This article divulges the result of research carried through in Institution of Superior Education in the intention of survey the efficiency of the interactivity between subject-matters in the formation of the view perception in students to conclude superior course of Social Communication/Advertising and Propaganda; interactivity between subject-matters this that has stimulated the deepening of works in the course of Advertising of the studied Institution of Superior Education until year of 2007. The article also suggests considerations for the exercise of the praxis in the education of Advertising having the environment to interactivity between subject-matters as methodology for its accomplishment and as way for a socially responsible formation of the new advertising executives. The results demonstrate, in the students, the presence of significative view perception of your future professional activity, and the efficiency of methodologies differentiated in the construction of this to know socially responsible.. Palavras-chave: Criticidade, interdisciplinaridade, metodologia, práxis, publicidade.. Introdução Muito já se criticou a Publicidade e o seu possível poder de estimular o consumismo, a degradação de valores e a criação de uma imagem de mundo distorcida e fantasiosa. Seria esse poder real? Um fato importante é que, tão ou mais relevante do que “o que a Publicidade pode fazer” é o papel do profissional que faz a Publicidade – ou seja, o publicitário. Atualmente, com o crescimento da oferta de cursos superiores nessa área de formação, a pergunta que talvez deva ser feita é: “o que pode fazer o professor que forma o publicitário”? Este trabalho foi realizado para estudo da eficiência do. Key-words: Interactivity between subject-matters, methodology, praxis, advertising.. uso da interdisciplinaridade numa formação menos fragmentada, mais crítica e completa de novos publicitários, buscando assim responder ao menos em parte esta pergunta. A utilização da práxis em atividades interdisciplinares foi pesquisada no intuito de permitir discussões a respeito da sua eficiência na formação de conceituações críticas nos formandos do curso em questão, buscando-se verificar se há, com isso, a formação nesses discentes de uma visão de mundo além de visões disciplinares, tecnicistas e acadêmicas que, se por um lado são capazes de formar profissionais tecnicamente capazes, por outro podem ser visões 185.

(2) incapazes de desenvolver nos educandos uma conscientização do papel social da sua atuação e das responsabilidades daí advindas. Além da divulgação dos resultados e verificação da eficiência da metodologia de ensino aqui abordada, os resultados apontados neste artigo contribuirão também para um novo estudo da evolução da metodologia de ensino interdisciplinar adotada na instituição em questão. Por remeter a pesquisa realizada em 2003 (mas ainda inédita em termos de publicação), a leitura dos exemplos de campanhas publicitárias citados pelos sujeitos deve ser contextualizada à época. Justificativa e motivação do trabalho Ao ensino do saber técnico e prático, é de conhecimento, deve-se aliar também o ensino teórico e acadêmico. Essa junção; a integração da teoria com a prática, é práxis (como expõe FREIRE, 1987, p. 121). O ensino só da teoria, ou o ensino atento só à prática é um ensino fragmentado, limitado e incompleto quando consideramos a amplitude dos desafios do mundo atual; um mundo em rápida transformação e que pode exigir saberes e competências múltiplas. O saber que seja provido também de reflexão teórica, crítica, integrada e socialmente consciente, que elimine a adoção de um saber fragmentado é, pois, um passo importante para a construção de melhores cidadãos e de mais competentes profissionais. O saber fragmentado “[...] dificilmente poderá dar a seus detentores a capacidade de reconhecer e enfrentar tanto problemas quanto situações novas que emergem em um mundo complexo” (D’AMBROSIO, 1997, p.80). O mundo, em evolução veloz, exige portanto um saber bem estruturado, com práxis e com percepções que possam ir além da visão disciplinar e que englobe, também, a percepção do homem enquanto sujeito social. Com a intenção de aprofundar a aprendizagem de Publicidade oferecendo alternativas ao modelo neoliberal de ensino (que é aquele que “[...] se orienta não mais para a necessidade da nação, mas para as exigências do mercado”, conforme CASTANHO, 2001, p. 36) que por vezes tende a privilegiar a prática apenas pela capacidade desta em aproximar o discente do mercado, e também com a intenção de permitir uma visão interdisciplinar de Ensino Superior que fosse capaz de desenvolver a criticidade de futuros publicitários, desde o ano de 2000 docentes da instituição estudada na pesquisa a qual este artigo se refere realizam projetos interdisciplinares junto aos alunos de Comunicação Social/ Publicidade e Propaganda. 186. Com trabalhos criados e coordenados a partir da escolha de temas que contivessem abordagens de interesse social e que permitissem aos discentes compreender a coesão interdisciplinar das matérias por eles cursadas, os trabalhos assim realizados buscaram revelar aos alunos as influências capazes de serem geradas pelos publicitários no mercado, na comunicação e na sociedade (como avaliza RAMONET, 1999). Buscou-se também, por meio desses trabalhos interdisciplinares, evidenciar aos alunos a capacidade do produto do trabalho do publicitário em fomentar o consumo e a moda (conforme LIPOVETSKY, 1991); poder este que, uma vez compreendido, espera-se que seja utilizado, pelos formandos, também de forma ética e consciente e, por vezes, em mero benefício da própria sociedade, como com a criação de campanhas publicitárias educativas e com fins voltados à responsabilidade social e ambiental, por exemplo. Com estes objetivos, foram aplicados e trabalhados em sala de aula diversos temas para esses trabalhos, um ao ano. Em 2000 o tema escolhido foi “Doação de Sangue”; em 2001, “Combate ao Fumo”; em 2002, ano eleitoral, o tema foi “Voto Consciente”, e em 2003 o tema escolhido foi “Reciclagem e Cidadania”. Sobre esses assuntos os discentes foram convidados a construir campanhas publicitárias experimentais para clientes virtuais visando, como público-alvo, jovens como eles; pessoas abertas à publicidade e aos seus modelos de comportamento. Os temas escolhidos, em especial de 2001 a 1 2003 , visaram oferecer aos educandos um contraponto crítico à visão dada pela Publicidade, respectivamente, ao cigarro, à política (através do Marketing Político) e ao consumismo; contextos usados como exemplos para estímulo do desenvolvimento da criticidade na futura atuação profissional desses estudantes por convidá-los a criar campanhas publicitárias justamente contra o consumo do tabaco, do voto influenciado apenas pela emoção e pela propaganda (sem conhecimento real da ideologia política e das propostas dos candidatos, por exemplo) e do consumo irresponsável – todos os casos, fatores em que a publicidade ou a propaganda têm especial participação. Pretendeu-se, através da pesquisa aqui publicada, fornecer elementos para avaliar se a construção desse contraponto de fato existiu. Para tanto, foi pesquisada uma das turmas de alunos que participaram da realização desses trabalhos. Nesses discentes, buscou-se analisar se houve desenvolvimento de criticidade e de percepção da responsabilidade profissional no exercício da atividade de publicitário. Buscou-se também analisar se tal.

(3) metodologia de ensino interdisciplinar seria passível de ser tomada como exemplo de instrumento para a formação de profissionais de Publicidade mais críticos, completos e conscientes. Os resultados também serviram para introduzir melhoramentos nos projetos interdisciplinares aplicados pelos discentes responsáveis. Frisa-se que os projetos acima referidos focaram a práxis como fator de estímulo para o aprofundamento da criticidade discente. Assim, a produção de peças publicitárias em nível acadêmico (o que os trabalhos propunham como ação final) sustentou-se em análises e execuções práticas de peças publicitárias, textos, pesquisas, fotografias e outros elementos pertinentes. Mas também foi adotado suporte teórico-científico em sala de aula e outros materiais de apoio, inclusive considerando-se, na nota dos alunos, a coerência entre os aspectos teóricos e práticos presentes na atividade. Compreende-se que, em decorrência, almejouse integrar teoria e prática e visão social e técnica, minimizando o risco da formação de publicitários tecnicamente capazes, mas tão voltados à fantasia, ao mercado e ao consumidor que não notassem o real, o social e o cidadão. Com isso, procurou-se colocar o aluno egresso no papel de homem social, agente do mundo real (conforme KOSIK, 1976); um profissionalcidadão de ação balizada pela criticidade; tendo-a como elemento de discernimento ético e de percepção transdisciplinar da realidade (como propõe D’AMBROSIO, 1997) na prática futura de suas atividades como comunicadores/publicitários. Este era o raciocínio que embasava o planejamento para a realização dos trabalhos interdisciplinares em questão. Para saber se o planejado se efetivava no universo real é que foi criada a pesquisa aqui demonstrada, com a metodologia e resultados a seguir expostos.. Ensino Superior, da Região Metropolitana de Campinas, Estado de São Paulo. A Instituição foi escolhida como amostra de conveniência. Sujeitos Foram sujeitos da pesquisa os discentes do quarto ano de curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda, da instituição de Ensino Superior estudada. Foram convidados a participar livremente da coleta de dados o total dos alunos matriculados (65 discentes), dos quais 37 (57%) efetivamente tomaram parte. O instrumento e sua aplicação Foi instrumento da pesquisa um questionário padronizado de 9 perguntas (6 fechadas e 3 abertas), estruturado, que permitiu análises quantitativas e qualitativas dos resultados (em anexo). A aplicação do instrumento foi direta, em sala de aula, em data acordada com a Coordenação do curso (22 de maio de 2003). O questionário foi direcionado aos alunos do quarto ano do curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda, mencionados e delimitados nos itens 2.2 e 2.3. Os 37 alunos respondentes estão qualificados em idade e gênero nas tabelas a seguir. Para permitir maior clareza no entendimento pelos sujeitos da pesquisa, no questionário a variável gênero foi substituída pela palavra sexo.. Considerações metodológicas Objetivos Os objetivos da pesquisa realizada foram (a) dimensionar a criticidade dos alunos a egressar de curso de Comunicação Social (habilitação em Publicidade e Propaganda) quanto à Publicidade e (b) avaliar a eficiência das metodologias de ensino embasadas em projetos interdisciplinares ou em metodologias que agregassem teoria e prática na construção dessa criticidade. Delimitação A pesquisa foi realizada em IES, Instituição de. Os questionários efetivamente respondidos foram recebidos e numerados de 01 a 37, e os dados tabulados e categorizados, ficando o material devidamente arquivado para outras análises eventualmente sugeridas, documentação e para novas eventuais análises. O fato da realização da pesquisa se dar pelo autor deste não foi notificada aos sujeitos na aplicação do questionário. Frisa-se também que não aplicou o 187.

(4) questionário este pesquisador nem professor(a) que participou dos projetos interdisciplinares ministrados aos alunos no segundo e terceiro anos do curso freqüentado pelos sujeitos em 2001 e 2002 respectivamente, a fim de evitar respostas tendenciosas. Acompanhou o questionário uma introdução explicativa onde frisou-se que o processo não se tratava de qualquer avaliação do aluno pela IES, sendo o ato de responder o questionário meramente a contribuição voluntária do aluno em um estudo sobre metodologia de ensino. Os respondentes não foram identificados nominalmente. Para realização desta pesquisa foi encaminhada à Direção da instituição, via Coordenação do curso, a solicitação de autorização para aplicação dos instrumentos, bem como uma cópia do material. Também foi solicitada permissão para a divulgação dos resultados e do nome da instituição em que a pesquisa ocorreu. A Coordenação, com o aval da Direção, autorizou a realização da pesquisa e publicação dos resultados, reservando-se ao direito, entretanto, de vetar a divulgação do nome da instituição em que a pesquisa ocorreu, ao que este artigo é fiel. Resultados Na apuração dos dados, a interpretação dos resultados foi separada em duas partes: a primeira analisou a presença ou ausência da criticidade nos educandos; ou seja, se o formando teria alguma percepção crítica formada a respeito da profissão na qual ele próprio estaria ingressando, bem como na responsabilidade social das suas ações como futuro publicitário e das ações dos demais profissionais no segmento em que iria atuar. Com efeito, os resultados demonstraram que de fato os alunos possuíam uma elevada capacidade de reflexão crítica a respeito da Publicidade e do exercício da profissão. A segunda parte da análise dos resultados buscou verificar se os projetos interdisciplinares dos quais os sujeitos da pesquisa participaram contribuiu com a criticidade assim detectada. Os resultados, em detalhes, são expostos a seguir. A criticidade nos alunos quanto à Publicidade. Entendemos como “criticidade” a capacidade do educando em construir análises críticas sobre dado tema, evidenciando uma capacidade analítica a respeito do assunto que comprove a compreensão do tema para além da mera aceitação de fatos, ultrapassando a visão maniqueísta de “bom” ou “mau” e evitando a aceitação irrefletida ou passiva de dados ou afirmações. Assim, 188. nessa pesquisa foi considerado que o educando com criticidade seria aquele capaz de compreender referido assunto ou tema de forma ampla, questionadora, polifacetada e ativa. Neste caso, apurou-se se o aluno tinha criticidade quanto à Publicidade e à prática profissional necessária na sua futura área de atuação. Para isso, no instrumento de pesquisa foi perguntado inicialmente se o respondente achava que o publicitário tem o poder de influir negativamente na sociedade através do produto de seu trabalho (pergunta 1). Buscando qualificar em que nível esta percepção se fazia, o aluno foi ainda questionado, na pergunta 2, se já havia observado alguma peça ou campanha publicitária em que identificou algum tipo de postura, mensagem ou idéia que ao seu ver pudesse prejudicar a sociedade. Em seguida, na pergunta 3, solicitou-se que o respondente mencionasse um exemplo dessa peça ou campanha publicitária que ele entendesse prejudicar a sociedade. Por fim, foi solicitado também que o aluno relatasse em que peça ou campanha publicitária ele havia visto a conduta ou mensagem que considerou danosa e qual o dano que ele acreditava que pudesse ser gerado, naquele caso. Do cruzamento das respostas obtidas nessas perguntas, observou-se que cerca de 59,0% dos respondentes acreditavam que o publicitário tem o poder de influir negativamente na sociedade, sendo que os alunos que compuseram este índice já haviam visto uma ou mais peças publicitárias que julgaram prejudiciais, sendo capazes de citar que tipo de produto foi veiculado nessas peças publicitárias bem como o dano que aquelas mensagens pareciam poder causar, de alguma forma, à sociedade. Cerca de 13,0% dos alunos demonstraram possuir a mesma percepção mas não citaram o prejuízo que acreditavam que as mensagens poderiam gerar. Sob outro aspecto, cerca de 8% disseram não achar que o publicitário tem o poder de influir negativamente na sociedade, mas foram capazes de citar peça ou campanha publicitária que julgaram prejudiciais, e pouco mais de 16% acreditavam que o publicitário tem o poder de influenciar negativamente, mas os respondentes não viram/não citaram peças ou campanhas que julgassem como prejudiciais, como podemos observar na tabela a seguir..

(5) automóveis e sandálias.. Um fator interessante foi observado quando pediuse para que o provável prejuízo que o aluno supunha ser causado à sociedade pela peça publicitária que citou fosse explicitado: curiosamente, foi mais mencionado o apelo inadequado da mensagem publicitária atingindo crianças, sendo este problema citado por 6 dos 22 alunos que mencionaram alguma peça ou campanha como prejudicial (ou seja, por 27,3%), conforme tabela a seguir.. Analisando este resultado, pode-se deduzir que 81,1% dos alunos pesquisados foram capazes de identificar uma ou mais peças publicitárias que julgaram prejudiciais à sociedade - incluindo-se neste percentual mesmo os que não acreditam que o publicitário tem o poder de influir negativamente na sociedade, mas que citaram categoricamente que viram peças publicitárias com este conteúdo. De certa forma, apenas um dos estudantes (2,7%) afirmou não acreditar no poder do publicitário em, pelo seu trabalho, influir na sociedade, conjugando essa afirmação com o fato de não ter visto peça ou campanha que julgou prejudicial. Demonstrou-se assim que a maior parte dos sujeitos possuía capacidade de compreender que o publicitário tem o poder de influir negativamente na sociedade através do produto do seu trabalho, mesmo que não afirmassem isso categoricamente. Analisando qualitativamente as respostas da pergunta 3, solicitou-se ainda que as campanhas e/ou peças publicitárias fossem descritas. As de cigarros e bebidas alcoólicas/cervejas2 foram as mais lembradas (50%) como mensagens que seriam capazes de causar danos à sociedade, conforme tabela 4 a seguir. No item “outros”, foram enquadradas citações as mais diversas, como anúncios de biscoitos/bolachas, roupas,. Danos atribuídos diretamente ao estímulo do consumo de bebida alcoólica/cerveja e/ou cigarro (como dependência, males à saúde, etc.) obtiveram 18,2% do total; outros alunos frisaram que campanhas de bebida alcoólica/cerveja eram prejudiciais não só pelo estímulo do consumo, mas também por demonstrarem ou 189.

(6) insinuarem o consumo desse tipo de produto em situações inadequadas, como no trabalho. Dois alunos afirmaram que o maior dano causado por algumas peças publicitárias de cigarros era o de associar o produto com qualidades que o produto em questão não pode oferecer, como sucesso e virilidade. Foi ainda citada uma campanha de refrigerante que, do ponto de vista do respondente, colaborava para a destruição do valor de um relacionamento sentimental, visto que a peça publicitária citada, na visão do aluno, estimulava o ato de se “colecionar garotos” – de acordo com a atuação, no comercial de TV, de atriz que representava uma consumidora de determinado refrigerante que colecionava diversas latinhas dos refrigerantes consumidos pelos meninos com quem “ficou” (como se denomina, popularmente, as relações amorosas superficiais e de curta duração). Abaixo estes e outros comentários obtidos pelo instrumento, relevantes na análise qualitativa 3. Uma campanha de refrigerante na qual uma garota ganha uma lata do refrigerante do garoto [com quem] ela “ficou” na praia. Chegando em casa ela coloca esta lata entre muitas outras que ela supostamente ganhou de outros garotos [com] que ela teria ficado. [...] Estimula os adolescentes à liberação e banalização do namoro. (gênero masculino, 24 anos, sujeito 26). Participação dos projetos interdisciplinares no desenvolvimento da criticidade apurada. Com a finalidade de detectar a contribuição dos projetos interdisciplinares no desenvolvimento das percepções críticas reveladas pelos alunos, no questionário foi perguntado aos sujeitos se o curso de graduação que estavam concluindo ajudou a identificar a responsabilidade do publicitário para com a sociedade (pergunta 4). Também foi perguntado a que fatores cada sujeito da pesquisa atribuía maior poder de contribuição para o desenvolvimento dessa criticidade, sendo possível que cada aluno mencionasse até 3 fatores relacionados no questionário ou, ainda, citasse outros, não previstos no instrumento. 81,0% dos alunos consideraram que o curso que estavam concluindo de fato ajudou a identificar a responsabilidade social do publicitário, e apontaram que as metodologias de ensino que vivenciaram que mais contribuíram para a formação de tal percepção foram as exposições dos professores feitas em aula e a leitura dos livros, artigos e textos recomendados (conforme tabela a seguir). Juntos, os trabalhos interdisciplinares que os alunos pesquisados desenvolveram em 2001 e 2003 foram a terceira metodologia que, na percepção dos alunos, melhor colaborou para esse aprendizado.. A campanha da bolacha... [marca do produto] ...incentivava as crianças a não contarem para as mães que comeram o pacote todo [...]. Além de incentivar esse tido de mentira, também [...] vinha de brinde um pacote de bolacha de mentira para colocar no lugar [...]. (gênero feminino, 20 anos, sujeito 23) A campanha da sandalinha... [marca do produto] [...], que vinha com um relógio. Na campanha, os atores mirins mentiam para seus pais a respeito da hora para ganhar a sandalinha. (gênero feminino, 29 anos, sujeito 19). Assim, pode-se observar que a percepção dos prejuízos que os alunos consideram que de alguma forma podem ser gerados à sociedade pela Publicidade vai além da percepção simplista de danos econômicos ao consumidor, e aponta para o possível amadurecimento de uma percepção crítica e socialmente consciente da ação do publicitário e da Comunicação Social perante a população como um todo e mesmo perante à cultura e à educação na sociedade. 190. No intuito de compreender melhor se a eficiência da metodologia utilizada nos projetos interdisciplinares obteve realmente impacto significativo numa formação mais crítica e atuante desses alunos, na pergunta 6 procurou-se saber se esses projetos interdisciplinares, que relacionavam teoria e prática, contribuíram ou não para a percepção do respondente, sem estipular o nível de contribuição, e o porquê. 32 alunos (86,6%) concordaram que os projetos realmente colaboraram..

(7) O interesse desta pesquisa pela capacidade do trabalho interdisciplinar em produzir reflexões críticas sobre o tema Publicidade se dá para, paralelamente, investigar se uma ação educativa que reproduz no ambiente acadêmico situações muito semelhantes àquela do universo profissional real tem um efeito que vai além do aprendizado técnico, podendo assim também gerar conhecimento humanístico e desenvolver noções de responsabilidade social que possam ser utilizadas posteriormente pelo aluno, quando atuar no mercado. As repostas sobre o tema foram quantificadas e categorizadas, gerando a tabela a seguir.. considerado que a desorganização comprometeu o trabalho, o fator desorganização foi citado também por 2 alunos que consideraram os projetos eficientes, demonstrando talvez que mesmo alguns daqueles que consideraram o(s) trabalho(s) criticamente construtivo(s) tomaram as falhas na organização como irrelevantes ao assunto tratado na pergunta. Alguns comentários representativos desta análise: ...fizemos uma campanha de combate ao fumo [em 2001], [sendo] que [as marcas de cigarro] em contrapartida investem indiretamente milhões de reais por ano em propaganda de incentivo à destruição da saúde das pessoas. (gênero masculino, 21 anos, sujeito 01) [As atividades] Contribuíram muito, pois fazendo os trabalhos pude viver a experiência do publicitário e levar em consideração a ética, uma posição mais crítica. (gênero masculino, 22 anos, sujeito 27) ...quando criamos um trabalho interdisciplinar no segundo ano [em 2001], que era sobre o tabaco, usamos uma matéria: Sociologia, que via a ética, a sociedade, a cultura. (gênero masculino, 23 anos, sujeito 22) ...aprendemos com nossos erros e acertos e [com] as críticas construtivas para outros grupos, e com os comentários a parte dos professores. (gênero feminino, 21 anos, sujeito 24). Assim, 4 alunos não acreditaram que os projetos tivessem colaborado para uma percepção mais crítica da profissão, sendo que o fator responsável por tal insucesso foi a desorganização na realização do trabalho (2 respondentes), a escolha do tema (tida como “banal” por 1 respondente) e a falta de aprofundamento em pontos como a forma de apresentação, planejamento estratégico da campanha, etc. (1 respondente). Um educando deixou a pergunta sem resposta. Apesar de dois dos respondentes terem. Uma outra percepção diferenciada quanto a atuação profissional do aluno na área de Publicidade foi expressa pelo sujeito 34. Em sua afirmação, ele aponta uma percepção realista, frisando que o mercado pode talvez obrigar o profissional a produzir campanhas conforme exigências que supõe existir no exercício profissional em Publicidade: “...fazemos campanhas para mostrar coisas boas e ruins também; sempre vamos fazer o que o cliente manda e não muitas vezes o que achamos melhor” (gênero feminino, 26 anos, sujeito 34). Por fim, no instrumento solicitou-se que os alunos comparassem o ensino da teoria ligada à realização de atividades práticas na criação e produção de campanhas e peças publicitárias (como spots de rádio, VTs e outdoors) com outras metodologias que vivenciou na faculdade e, ainda, que opinasse comparativamente quanto a qual atividade (teórica e/ou prática) ao seu ver melhor contribuiu no desenvolvimento de uma visão crítica sobre a atividade profissional na área de Publicidade, justificando sua resposta. Os resultados quantificados e categorizados originaram a tabela a seguir: 191.

(8) Analisando as motivações da escolha pela opção “teoria ligada às atividades práticas”, foram constatadas as mais variadas afirmações, mas todas de alguma forma relacionadas às características próprias dos trabalhos, que permitiam que a teoria se relacionasse à prática. Alguns comentários a seguir ilustram a diversidade de opiniões e, ao mesmo tempo, uma semelhante valorização dessas atividades: A produção de campanhas [melhor contribuiu], porque engloba todas as áreas. (gênero masculino, 30 anos, sujeito 06) ...você pode ter uma visão crítica a respeito de um determinado assunto se estiver colocando em prática o assunto falado. (gênero feminino, 23 anos, sujeito 07) As atividades práticas são mais efetivas porque durante a produção dos trabalhos deparamos [sic] com muitas dificuldades que exigem uma atenção maior para superá-las, isso ajuda a melhorar a fixação do conceito e a aprender novos recursos... (gênero masculino, 29 anos, sujeito 09) [Com] A criação de spots, anúncios, etc.,... [...] “colocamos a mão na massa”. Tudo o que é realizado na prática se aprende. (gênero feminino, 20 anos, sujeito 29). Considerações finais Primeiramente, consideramos que não se dá tal pesquisa por pronta e acabada, ficando os resultados presentes passíveis de maiores conclusões e desdobramentos em nova pesquisa no ano de 2007. Entretanto, nesta análise consideramos que metodologias de ensino que se utilizam da teoria complementada por atividades práticas com temáticas críticas e/ou de cunho social podem representar valioso método, uma práxis crítica, para o desenvolvimento da criticidade em um homem novo (termo de FREIRE, 1987) no mercado 192. publicitário. Um homem novo da Publicidade seria o publicitário com visão crítica movida pela ética; bem como com a real percepção de seu poder transformador do mundo. A necessidade deste homem novo justifica-se, no início deste trabalho, pela necessidade de se inserir no mercado e na sociedade profissionais que não tenham apenas um aprendizado fragmentado, nem uma percepção do seu trabalho que seja tão voltada à fantasia, ao mercado e ao consumidor a ponto de ignorar o real, o social e o cidadão – este por vezes indefeso diante do poder da comunicação publicitária e da propaganda. Entretanto, para isso é necessário que o educador traga o seu conhecimento teórico para uma aplicação prática – afinal, como mostra Tardif (2002, p. 231), “os saberes dos professores são representações mentais a partir das quais os práticos ordenam sua prática e executam suas ações”. Trazer essas representações mentais para o universo prático almejado pelo aluno é uma tarefa que pode ser conseguida, acreditamos, com o auxílio de projetos interdisciplinares, como exemplifica este estudo. Conclusivamente, ressaltamos aqui que a Publicidade, o “anunciar”, não é uma afronta quando feito de maneira ética e responsável. Entretanto, na área da Publicidade, municiar técnica e intelectualmente pessoas, capacitando-as a atrelar a um serviço ou bem um sistema de crença praticamente indissociável do objeto anunciado (como expõe BIGAL, 1999) é algo sobre o que se deve refletir. Para a construção de um saber não-fragmentado, crítico e que possa ser construído pelo próprio aluno mesmo após completado seu período como discente, podem ser utilizadas metodologias como a aqui estudada. Sugerir e utilizar instrumentos para precaver de visão crítica esse futuro profissional é, pois, obrigação que cabe a quem o forma: A questão do poder não se reduz à operacionalidade técnica do que se aprende, embora esta seja parte importante da questão do poder no cerne do conhecimento. A questão é, repetimos, deveras ética e política, ou seja, tem a ver com os projetos de mundo que nossos modos de conhecer elaboram e alentam. [...] A operacionalidade técnica e a propensão ética para a criação de consensos parecem ser dois elementos básicos do conhecimento socialmente significativo hoje. (ASSMANN, 2007, pp. 112-113). É parte desse raciocínio este pequeno estudo, visto que é patente a necessidade de um contraponto crítico.

(9) na formação acadêmica dos novos profissionais em todas as áreas. É benéfica e funcional se tal formação for possível com o uso da prática, em sala de aula; fazendo dessa prática não simplesmente um instrumento de “treino” do futuro profissional, mas uma incentivadora de reflexões, item fundamental para uma formação que apresente real qualidade na geração de profissionais que são, também, cidadãos. O caminho para uma Comunicação ética é, possivelmente, a mediação responsável e o aprendizado completo de quem faz a Comunicação, onde se enquadram cada vez mais os publicitários - formados, em boa parte, pela ação dos seus professores através das metodologias por eles empregadas. Referências Bibliográficas ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação. Petrópolis (RJ): Vozes, 2007. BIGAL, Solange. O que é criação publicitária. São Paulo: Nobel, 1999. CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982. CASTANHO, Sérgio E. M. A universidade entre o sim, o não e o talvez. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro; CASTANHO, Maria Eugênia L. M. Pedagogia universitária: a aula em foco. Campinas (SP): Papirus, 2001. D´AMBROSIO, Ubiratan. Transdisciplinaridade. São Paulo: Palas Athena, 1997. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 37ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987. KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 2001. RAMONET, Ignacio. A tirania da comunicação. 2ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 1999. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis (RJ): Vozes, 2002. Notas A metodologia de ensino por meio de trabalhos interdisciplinares no segundo ano letivo do curso citado continuava a ser utilizada na instituição até a publicação deste, em 2007, e deve continuar. Nos anos seguintes a 2003 os temas trabalhados foram “Água e Cidadania” (2004), “ENADE” (2005), “Voto e Consciência Política” (2006; novamente ano eleitoral) e “Trânsito e Cidadania” (2007). 2 À época, permitidas em veículos de comunicação como 1. TVs, jornais e revistas. 3 Lembramos novamente que os sujeitos referem-se a peças publicitárias veiculadas na TV à época da realização da pesquisa. Apêndice Instrumento da pesquisa 1. Você acha que o publicitário tem o poder de influir negativamente na sociedade criando campanhas, peças publicitárias, estratégias de marketing ou exercendo outras atividades profissionais ligadas à área de comunicação/ publicidade? (a) Sim. (b) Não. 2. Você eventualmente já viu alguma peça ou campanha publicitária em que identificou alguma postura, mensagem ou idéia que pudesse prejudicar de alguma forma a sociedade ou as pessoas? (a) Sim. (b) Não (se você assinalou “não”, pule para pergunta 4). 3. Relate abaixo, resumidamente, como era a peça ou campanha publicitária em que você notou alguma postura, mensagem ou idéia que pudesse prejudicar de alguma forma a sociedade ou as pessoas, dizendo qual é o dano que você acredita que ela poderia causar. (cite apenas 1 exemplo). 4. Você acha que este curso de graduação ajudou você a identificar a responsabilidade do publicitário para com a sociedade? (a) Sim, acho que este curso ajudou muito. (b) Não, acho que este curso não ajudou muito. (c) Nem sim, nem não, pois não acredito que o publicitário tenha alguma responsabilidade para com a sociedade. (se você assinalou esta alternativa, pule para a pergunta 6). 5. Na sua opinião, que fator melhor contribuiu para que você percebesse a responsabilidade do publicitário para com a sociedade? (assinale até 3 itens que considerar mais relevantes). (a) Leitura de livros, artigos e outros textos dados ou indicados em aula. (b) Exposições feitas pelos professores durante as aulas. (c) O trabalho interdisciplinar do segundo ano, realizado em 2001. (d) O trabalho interdisciplinar do terceiro ano, realizado em 2002. (e) Palestras e/ou seminários dos quais participei no decorrer do curso. (f) Vídeos assistidos em sala de aula. (g) Outros fatores, não ligados à Faculdade. (h) Outros fatores ligados à Faculdade. Cite o mais relevante: _______________ 193.

(10) (i) Nenhum. 6. No segundo e terceiro anos do curso, em 2001 e 2002, você participou da realização de dois projetos interdisciplinares. Você acredita que estes projetos contribuíram para que você pudesse ter alguma percepção crítica sobre anúncios, campanhas publicitárias ou sobre a ética nas atividades profissionais na área? Por quê? (lembre-se de responder “sim” ou “não” e “por quê”) 7. Comparando a realização de atividades práticas na Faculdade (como a criação e produção de campanhas, vídeos, spots, anúncios, outdoors, etc.) com outras formas de ensino que você vivenciou na Faculdade, qual você considera que contribuiu melhor no desenvolvimento de uma visão crítica sobre a atividade profissional na área de publicidade? Por quê? 8. Qual é sua idade? _______ anos. 9. Qual é seu sexo? (a) Masculino. (b) Feminino.. Recebido em 29 de junho de 2007 e aprovado em 01 de agosto de 2007.. 194.

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