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Impacto da migração na fecundidade no longo prazo: um estudo sobre a distribuição populacional das mesorregiões paranaenses

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IMPACTO DA MIGRAÇÃO NA FECUNDIDADE NO LONGO PRAZO: UM ESTUDO SOBRE A DISTRIBUIÇÃO POPULACIONAL DAS MESORREGIÕES

PARANAENSES1

Raquel Aline Schneider2 Jonas da Silva Henrique3

INTRODUÇÃO

Uma população pode variar de tamanho e composição por meio de três componentes demográficas, sendo elas a fecundidade a mortalidade e a migração. Ao longo do tempo observa-se um declínio acentuado nas duas primeiras, o que acaba indiretamente aumentando a importância da migração nas variações populacionais. Segundo Matos e Lima Filho (2006), quando se pensa na população como recurso demográfico é que se percebe sua utilidade para o desenvolvimento.

Com relação ao Estado do Paraná, muitos estudos foram realizados avaliando a migração, entre eles destaca-se o de Magalhães (2003). Segundo a autora, entre as décadas de 1940 e 1960 houve a expansão da fronteira agrícola paranaense, encabeçada pela produção cafeeira, que gerou forte atração de pessoas em busca de empregos, essas pessoas foram responsáveis pela ocupação de novas extensões do território e também por aumentarem a densidade demográfica do Estado, chegando ao ponto de a população paranaense estar cinco vezes maior no fim da década de 1960 comparando-a com o início da década de 1940.

Ao final desse período houve o processo de modernização da agricultura e expansão industrial, fenômeno que causou um forte êxodo rural e aumento do grau de urbanização do Estado. A emigração foi tanta que atingiu outros estados, pois as áreas urbanas paranaenses não foram capazes de absorver todo o contingente de emigrantes da área rural. Esse fenômeno de emigração foi responsável pela menor taxa de crescimento demográfico do Paraná, entre todos os estados, nas décadas de 1970 e 1980 (MAGALHÃES, 2003).

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Trabalho apresentado no XI Encontro Nacional sobre Migrações, realizado no Museu da Imigração do Estado de São Paulo, em São Paulo, SP, entre os dias 9 e 10 de outubro de 2019.

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Doutoranda em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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Doutorando em Economia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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Na década de 1990 esse fluxo emigratório começa a reduzir sua intensidade e houve um aumento do fluxo de imigração para o Estado, composto, em grande parte, pelos movimentos de retorno, possivelmente motivados pela falta de oportunidades nas regiões em que se destinaram essas pessoas nas décadas anteriores, assim houve uma pequena recuperação do crescimento populacional paranaense. A migração de retorno e a redução das emigrações para outros estados reflete certo emparelhamento nas oportunidades de emprego e nos níveis de renda entre os estados brasileiros. Nota-se uma maior capacidade do Paraná em reter sua população, sendo que, entre os anos de 1980 e 1990, a saída líquida de pessoas do Estado foi mais de 1 milhão de pessoas, caindo para 293 mil entre 1990 e 2000 (MAGALHÃES, 2003) e em torno de 50 mil entre 2000 e 2010 (SCHNEIDER; RIPPEL; COLLA, 2014).

Como destacado por Magalhães e Kleinke (2000), o Paraná possui uma urbanização concentrada, o que acabou por intensificar a existência de espaços em esvaziamento, derivados da baixa fecundidade em associação com os movimentos migratórios. Tanto os movimentos internos como interestaduais tiveram papel central na distribuição espacial da população no território paranaense. Os principais fluxos direcionam-se para a Região Metropolitana de Curitiba e para a região Norte Central que é polarizada por Londrina e Maringá. Destaca-se o crescimento negativo da população das mesorregiões Norte Pioneiro, Noroeste, Centro-Ocidental e Sudoeste.

Kleinke; Deschamps e Moura, já em 1999, ressaltaram que o impacto da migração na dimensão da população paranaense diminuiu ao longo do tempo, porém sua importância na distribuição espacial interna cresceu, intensificando o esvaziamento de certas regiões e aumentando a população nos municípios mais dinâmicos economicamente, principalmente do aglomerado metropolitano.

Diante disso, o objetivo do trabalho é mensurar e analisar o impacto da migração no crescimento de longo prazo das mesorregiões paranaenses por meio da inclusão da migração nas Taxas Líquidas de Reprodução dessas regiões como proposto por Preston e Wang (2007)4. Apesar dos dados disponíveis e do método empregado não permitirem fazer inferências sobre o comportamento da fecundidade

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Uma aplicação desse método foi feita por Javique et al. (2013) para demonstrar o efeito da migração no crescimento de longo prazo das províncias cubanas, no qual os autores demonstram que a emigração de mulheres em idade reprodutiva intensificará ainda mais o processo de envelhecimento populacional e redução da população cubana no longo prazo.

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das migrantes, eles demonstram, por meio de um exercício teórico, o impacto de longo prazo da migração líquida de mulheres em idade reprodutiva na fecundidade média da população e na distribuição populacional das mesorregiões paranaenses.

DADOS E MÉTODO

Para captar o impacto da migração no crescimento populacional das mesorregiões paranaenses foram utilizadas as informações de data fixa dos microdados do Censo Demográfico de 20105. A migração foi separada em dois grupos: a que ocorreu entre as mesorregiões paranaenses (a migração interna ao Estado) e a que ocorreu com relação aos outros estados brasileiros (a migração interestadual).

No primeiro caso, os imigrantes são aqueles que residiam em outra mesorregião paranaense em 2005 e passaram a residir na mesorregião em estudo em 2010, enquanto os emigrantes eram os que residiam na mesorregião em questão no ano de 2005 e declararam residir em outra mesorregião paranaense em 2010. Já com relação a migração com outros estados brasileiros, foram considerados como imigrantes os que não residiam no Paraná em 2005, mas que em 2010 estavam residindo na mesorregião paranaense em estudo, enquanto que os emigrantes eram aqueles que declararam residir na mesorregião paranaense em questão em 2005 e, que em 2010, residiam em outro estado do Brasil.

Para captar o impacto da migração no crescimento de longo prazo das mesorregiões paranaenses calculou-se Taxas Líquidas de Reprodução (TLR). A TLR é interpretada como o número médio de filhas que uma mulher de determinada coorte de nascimento teria ao longo de sua vida reprodutiva, caso fosse sujeita às taxas específicas por idade observadas, de maternidade e mortalidade, em toda sua vida. Caso a TLR resulte em um valor maior do que 1 significa que a coorte de filhas será maior do que a coorte de mães, caso contrário a coorte de filhas não estará repondo a coorte de mães (PRESTON; HEUVELINE; GUILLOT, 2000). O cálculo da TLR, considerando grupos quinquenais de idades, é dado por:

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Como destacado por Wong e Carvalho (2006) a migração internacional no Brasil tem causado pouco impacto na estrutura etária, principalmente por conta de o país possuir um grande volume populacional, sendo assim optou-se por não avaliar a migração internacional, dado que seu impacto não é significativo no Brasil, principalmente quando comparado com a importância das migrações internas.

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Onde:

α = início do intervalo reprodutivo, definido aqui como 15 anos; β = final do intervalo reprodutivo, definido como 49 anos;

= taxa específica de maternidade da idade x a x + n, ou seja, o número total de filhas tidas nascidas vivas pelas mulheres que se encontravam na faixa etária em questão sobre o total de mulheres na faixa etária;

= número de pessoas-ano vividos entre as idades x e x + n de uma coorte hipotética que passou pelas funções de mortalidade observadas na tabela de vida feminina de período.

= raiz da tabela de vida, ou seja, número de nascidas vivas da coorte hipotética.

Para calcular as taxas específicas de maternidade foram utilizados os dados de nascidas vivas no período de 2006-20106 no numerador e a população feminina estimada para o meio do período no denominador. Os dados sobre nascidas vivas foram retirados do Registro Civil. Já a população feminina no meio do período (01/01/2008) foi estimada com base nas taxas específicas de crescimento geométrico da população, com relação as populações femininas dos censos de 2000 e 2010.

Também foi necessário construir as Tabelas de Vida para cada mesorregião para que fosse obtido o número de pessoas-ano vividos por faixa etária. Para tanto foram coletados os óbitos femininos que ocorreram no período de 2006-2010 disponibilizados pelo Registro Civil. As informações, tanto de nascidos vivos como de óbitos que tiveram a idade e/ou sexo ignorados foram alocadas conforme a distribuição proporcional dessas variáveis e também foram agregados os nascimentos e óbitos que foram registrados posteriormente, mas que ocorreram no período considerado.

A TLR convencional incorpora os efeitos indiretos da migração dado que capta as variações da fecundidade na população analisada que podem se dar, entre outras coisas, por conta da migração. Porém a TLR pode ser calculada, como

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Foi considerado o período de 2006 a 2010 como proxy para os nascimentos de 01/07/2005 a 01/07/2010, período a que se refere as questões de migração de data fixa no censo de 2010.

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demonstrado por Preston e Wang, em seu trabalho de 2007, de forma a incorporar diretamente a migração, para isso as taxas específicas de mortalidade foram adaptadas para captar a migração:

Onde:

= taxa de mortalidade feminina da idade x a x + n que incorpora a migração líquida (saldo migratório);

= número de mortes femininas da idade x a x + n; = número de imigrantes mulheres de idade x a x + n;

= número de emigrantes mulheres de idade x a x + n;

= população feminina de idade x a x + n do meio do período.

Assim, com as novas taxas de mortalidade específicas por idade, foram construídas novas tabelas de vida e calculada novamente a TLR considerando a migração em conjunto com a mortalidade. Nesse trabalho foram construídas quatro TLR para cada mesorregião do Paraná: a primeira não considera a migração (TLR tradicional), a segunda considera apenas a migração líquida que ocorreu entre as mesorregiões paranaenses, a terceira considera apenas a migração líquida relacionada aos outros estados brasileiros e, por fim, uma TLR que considera a migração líquida total.

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta os saldos migratórios das mesorregiões paranaenses no período de 2005-2010. Observa-se que, quando considerada a migração entre as mesorregiões, apenas a Sudoeste, a Norte Central e a Metropolitana de Curitiba apresentam saldos migratórios positivos. Quando considerada apenas a migração com outros estados a Mesorregião Sudoeste passa a ter um saldo migratório negativo, enquanto a Mesorregião Noroeste passa para um saldo migratório positivo. A Mesorregião Norte Central e a Metropolitana de Curitiba continuam a apresentar saldos migratórios positivos e as demais negativos.

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Já com relação a migração total, que considera tanto a interna ao Paraná quanto a que se deu com relação a outros estados brasileiros, apenas a Mesorregião Norte Central e a Metropolitana de Curitiba se demonstraram atrativas, com imigração líquida de, respectivamente, 20.449 e 55.788 pessoas. De modo geral, observou-se maior emigração de pessoas do Paraná do que entrada, com um saldo negativo de mais de 14 mil pessoas, porém, considerando o histórico do estado, mantem-se uma queda em sua magnitude ao longo das últimas décadas.

No que tange a questão do desenvolvimento econômico do Paraná, Pelinski (2007) demonstra que os municípios com as maiores taxas de desenvolvimento no período estão localizados nas Mesorregiões Norte Central Paranaense e Metropolitana de Curitiba. A Mesorregião Oeste Paranaense seria a que dispõe de um conjunto de municípios tidos como em desenvolvimento. Ao todo, a grande parte dos municípios dispersos ao longo do estado do Paraná apresentam indicadores de desenvolvimento de modo retardatário.

Tais resultados encontrados por Pelinski (2007) vão de encontro com o saldo migratório paranaense destacado na Tabela 1, dado que houve maior atração do que expulsão de pessoas nos locais mais desenvolvidos.

TABELA 1 – Saldos migratórios por mesorregião paranaense – 2005-2010

Mesorregião Saldo Migratório

entre Mesorregiões Saldo Migratório entre Estados Saldo Migratório Total Noroeste -3.500 3.005 -495 Centro Ocidental -7.484 -3.912 -11.396 Norte Central 11.712 8.737 20.449 Norte Pioneiro -8.456 -4.562 -13.018 Centro Oriental -1.912 -2.156 -4.068 Oeste -6.297 -15.480 -21.777 Sudoeste 1.428 -2.886 -1.458 Centro-Sul -12.517 -18.090 -30.607 Sudeste -3.532 -4.510 -8.042 Metropolitana de Curitiba 30.558 25.230 55.788 Paraná 0 -14.624 -14.624

Fonte: IBGE (Censo Demográfico 2010). Elaboração própria.

Em linhas gerais, a questão do desenvolvimento econômico é compreendida sob dois pontos de vista. A primeira perspectiva trata sob a ótica do crescimento

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econômico, que considera a acumulação de capital resultante da produtividade, a dimensão e controle do mercado e a capacidade de atração e mobilização de recursos. A segunda forma de pensar o desenvolvimento econômico, destaca que a sustentabilidade do crescimento econômico seja fundamental para que os aspectos sociais sejam induzidos ao progresso, moldando as características encontradas no território ao longo do processo de desenvolvimento. Considerando o conceito de desenvolvimento que vai além do acumulo de riquezas e crescimento da produção ou produtividade, relacionando diretamente com a qualidade de vida e bem-estar da população, ou pelo menos a expectativa de alcançar melhorias nas condições atuais. Entende-se que o desenvolvimento não pode ocorrer com qualquer tipo de privação, ou seja, a diminuição da pobreza, carências e oportunidades econômicas são fundamentais para que hajam passos em direção ao desenvolvimento (SEN, 2001).

Como os resultados destacados pela Tabela 1 apontam, as regiões do Paraná com maior densidade populacional e maiores índices de desenvolvimento (PELINSKI, 2007) são as que tiveram imigração líquida, indicando um direcionamento dos imigrantes para regiões com maiores probabilidades de alcançarem níveis mais elevados de liberdades individuais, via minimizações das suas carências de curto e médio prazo.

A Tabela 2 expõe as diferentes TLRs calculadas para as mesorregiões. As TLRs tradicionais apresentam valores inferiores a 1 em todos os casos, ou seja, em nenhuma mesorregião a geração de filhas estava repondo a geração de mães, o que produz, mantida essa tendência, uma queda nos nascimentos e uma futura taxa de crescimento negativa das populações (inclusive as mesorregiões Centro Ocidental e Norte Pioneiro já apresentam taxas de crescimento negativas em 2010).

Quando considerada a migração, tanto entre as mesorregiões como com relação a outros estados, observa-se que na maioria na maioria dos casos houve redução nas TLRs. Considerando apenas a migração entre mesorregiões foram a Norte Central, Sudoeste e a Metropolitana de Curitiba que obtiveram aumentos em suas TLRs. A migração com outros estados aumentou a TLR da Mesorregião Noroeste e, novamente das mesorregiões Norte Central e Metropolitana de Curitiba.

Porém, quando considerada a migração total, foram apenas as mesorregiões Norte Central e Metropolitana de Curitiba que se beneficiaram da migração, sendo que a primeira passou de uma TLR de 0,68 para 1,01 e, a segunda,

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de uma TLR de 0,85 para 1,78, destacando que passaram para um nível em que a geração de filhas seria maior que a de mães, o que pode evitar a queda da população nessas localidades, principalmente na Metropolitana.

TABELA 2 – Taxas líquidas de reprodução das mesorregiões paranaenses do período de

2005-2010 Mesorregião TLR (1) TLR com Migração Interna (2) Variação % entre (2) e (1) TLR com Migração Entre Estados (3) Variação % entre (3) e (1) TLR com Migração Total (4) Variação % entre (4) e (1) Noroeste 0,72 0,61 -14,8 0,79 9,9 0,67 -6,4 Centro Ocidental 0,45 0,26 -42,5 0,36 -20,7 0,21 -53,5 Norte Central 0,68 0,86 26,2 0,80 17,7 1,01 48,7 Norte Pioneiro 0,55 0,35 -36,4 0,42 -23,2 0,27 -50,1 Centro Oriental 0,65 0,57 -12,2 0,59 -9,6 0,52 -20,5 Oeste 0,65 0,57 -12,4 0,47 -28,1 0,41 -36,6 Sudoeste 0,44 0,47 6,4 0,38 -13,8 0,40 -8,2 Centro-Sul 0,72 0,33 -54,6 0,26 -63,1 0,13 -81,9 Sudeste 0,56 0,44 -21,4 0,40 -28,7 0,32 -43,4 Metropolitana de Curitiba 0,85 1,26 48,4 1,18 38,7 1,78 110,0 Paraná 0,76 - - 0,72 -0,05 0,72 -0,05

Fonte: IBGE (Censo Demográfico 2000 e 2010); Registro Civil (2019). Elaboração própria.

Os maiores impactos negativos da migração são observados na Mesorregião Centro-Sul que passou da terceira maior TLR para a menor, com uma queda de quase 82%. Na Mesorregião Centro Ocidental a TLR caiu 53,5%, porém permaneceu com a nona menor do Estado e, a Norte Pioneiro (que também permaneceu na oitava posição) teve uma queda de 50% na TLR quando considerada a migração. Singer (1985) ressalta que o incremento positivo dos dados migratório em algumas regiões do espaço, é resultante principalmente da aglomeração das atividades produtivas locais.

Destaca-se também que quanto maiores os níveis de concentração da força de trabalho do setor produtivo atingidos por uma região, maior é a probabilidade que esta região se torne mais atrativa para a aglomeração populacional, não somente para a atividade produtiva, comercial e serviços (FUJITA; VENABLES; KRUGMAN, 2002). Neste sentido, a migração como incremento populacional para a taxa de reposição demográfica pode ser apreendida como reflexo de expectativas de curto e médio prazo sobre as externalidades positivas que os grandes centros oferecem.

Cabe mencionar que as amenidades urbanas acumuladas nas mesorregiões destacadas na Tabela 2 são comumente encontradas em grandes centros e, também, derivadas do nível de desenvolvimento econômico e diversidade. Tais

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destaques são responsáveis simultaneamente ao desenvolvimento, com a formação de um ambiente propício para a evolução de bens de experiência, que são espaços de convívio e relação social, ofertas de serviços de entretenimento, cultura e lazer. Tais aparatos são acompanhados por maiores níveis educacionais e salariais (ou melhores expectativas) que permitem a fruição desses bens comuns e estruturas sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Paraná encontra-se com uma fecundidade abaixo do nível de reposição em todas as suas mesorregiões e a avaliação do impacto da migração no crescimento de longo prazo da população, por meio de seu impacto nas TLRs demonstrou que, na maioria das mesorregiões, ocorrerá um agravamento da queda fecundidade devido a migração, supondo a manutenção das tendências de migração, fecundidade e mortalidade observadas.

Apenas a Mesorregião Norte Central e a Metropolitana de Curitiba apresentaram incrementos em suas TLRs devido a migração, passando as mesmas a apresentar TLRs maiores do que 1, ou seja, mantidas as condições observadas, haverá um crescimento populacional no longo prazo graças a migração. A cidade de Curitiba é considerada uma cidade industrial e é o polo principal do Estado, transmitindo inúmeros serviços que atendem diversas cidades. Sua influência é tamanha que chega a alcançar a região sul do país, caracterizando-a como uma metrópole a nível nacional (IPARDES, 2004). Enquanto a Mesorregião Norte Central detém os municípios de Londrina e Maringá que são, juntamente com Curitiba, os polos estaduais com maior dinâmica econômica.

Os resultados só reforçam os achados dos autores Magalhães e Kleinke (2000) e Kleinke; Deschamps e Moura (1999), de que a migração está atuando como reforço no esvaziamento das regiões menos produtivas e concentrando a população nas regiões mais dinâmicas economicamente, mantendo sua reprodução e rejuvenescendo a população. Porém, cabe destacar que muitas variações podem ocorrer entre os municípios de cada mesorregião, sendo que a análise da migração entre os municípios pode demonstrar essas disparidades.

A questão do desenvolvimento econômico das mesorregiões com maior densidade populacional serem, também, as mesorregiões que são mais atrativas para os migrantes, vai de encontro aos resultados demonstrados por Pelinski (2007),

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sendo as mesorregiões Norte Central e Metropolitana de Curitiba as que possuem os maiores indicadores de desenvolvimento econômico no estado do Paraná e, consequentemente, as com maior gama e abrangência de amenidades urbanas.

Cabe enfatizar que o trabalho é um esforço teórico baseado na permanência das condições observadas (de fecundidade, mortalidade e migração). Apesar disso ele possibilita uma visão das prováveis tendências futuras da população e sua distribuição entre as mesorregiões paranaenses, o que é de grande importância para a formulação de estratégias que reduzam os problemas acarretados pela baixa fecundidade e o aumento da população idosa de determinadas regiões, ou mesmo o atendimento das necessidades da população migrante nas regiões em que a migração é positiva.

REFERÊNCIAS

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