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Turismo e desenvolvimento no município de Maragogi/AL: um olhar sobre os processos de participação social, democracia e cidadania

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TURISMO

DOUTORADO EM TURISMO

ARTEMÍSIA DOS SANTOS SOARES

TURISMO E DESENVOLVIMENTO NO MUNICÍPIO DE MARAGOGI/AL: um olhar sobre os processos de participação social, democracia e cidadania

Natal 2019

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ARTEMÍSIA DOS SANTOS SOARES

TURISMO E DESENVOLVIMENTO NO MUNICÍPIO DE MARAGOGI/AL: um olhar sobre os processos de participação social, democracia e cidadania

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como pré-requisito para obtenção do Grau de Doutora em Turismo. Área de concentração: Turismo, desenvolvimento e gestão. Linha de pesquisa: Turismo e desenvolvimento regional.

Orientador: Prof. Francisco Fransualdo de Azevedo, Dr.

Natal 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede Soares, Artemísia dos Santos.

Turismo e desenvolvimento no município de Maragogi/AL: um olhar sobre os processos de participação social, democracia e cidadania / Artemísia dos Santos Soares. - 2019.

281 f.: il.

Tese (doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Programa de Pós-Graduação em Turismo, Natal, RN, 2019.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo.

1. Maragogi(AL) - Tese. 2. Turismo - Tese. 3. Participação cidadã - Tese. 4. Educação - Tese. 5. Desenvolvimento - Tese. I. Azevedo, Francisco Fransualdo de. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 379.85(813.5)

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ARTEMÍSIA DOS SANTOS SOARES

TURISMO E DESENVOLVIMENTO NO MUNICÍPIO DE MARAGOGI/AL: um olhar sobre os processos de participação social, democracia e cidadania

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como pré-requisito para obtenção do Grau de Doutora em Turismo. Área de concentração: Turismo, desenvolvimento e gestão. Linha de pesquisa: Turismo e desenvolvimento regional.

Aprovada em: 26 de agosto de 2019.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Francisco Fransualdo de Azevedo, Dr. (Presidente – PPGTUR/UFRN) Prof. Wilker Ricardo de Mendonça Nóbrega, Dr. (Membro Interno – PPGTUR) Prof. Mozart Fazito Rezende Filho, Dr. (Membro Interno – PPGTUR) Profª Maria Àngels Alió, Dra. (Membro Externo – UNIBARCELONA) Prof. Antônio Jânio Fernandes, Dr. (Membro Externo – UERN) Prof. Cícero Péricles de Oliveira Carvalho, Dr. (Membro Externo – UFAL)

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Àqueles que lutaram e lutam pela liberdade no estado das Alagoas. Aos meus alunos alagoanos: sentido desta investigação; sentido da minha luta. A quem pensa caminhos para a resistência, no turismo e além.

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AGRADECIMENTOS

O exercício de pôr à prova a memória num resgate de todas as pessoas que contribuíram com um trabalho de mais de quatro anos é, certamente, inglorioso e sujeito a falhas. A quem não é mencionado aqui, minhas sinceras escusas, sabendo que mais que um nome em uma lista, fez parte uma formação crítica, emancipatória e transformadora.

Primeiramente, ao caríssimo Professor Francisco Fransualdo, que, mais que orientador, me conduziu à descoberta do pensamento crítico e libertário ainda durante o mestrado e, mais profundamente, durante a investigação de doutorado. Grata, por sua paciência e confiança durante o processo de construção, não somente da tese, mas de uma nova pesquisadora, educadora e cidadã.

Aos caros mestres do Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, especialmente ao Prof. Dr. Marcos Nascimento que contribuiu para a elaboração de proposta de tese, ainda sob outra temática; ao Prof. Dr. Wilker Nóbrega, que, a partir de suas inferências na fase de qualificação, contribuiu para a definição dos rumos da investigação; e ao Prof. Dr. Mozart Fazito, que aceitou tomar parte na banca de defesa de doutoramento há poucas semanas desta, dando-me a honra de perceber-me conectada a percursos e inquietações acadêmicos afins.

Vale lembrar, ainda, as colegas da turma de doutorado do PPGTUR, que, em meio às respectivas pesquisas, se tornaram esteios – acadêmica e pessoalmente - durante uma caminhada solitária de desenvolvimento científico. À Viviane Medeiros; Cristiane Cardoso; Andrea Cacho; Rosalma Diniz; e Ilana Kiyotani, minha gratidão e admiração. Grata, também, aos colegas das turmas subsequentes, em especial, à Ana Catarina Coutinho - “cadeira cativa” na tomada de decisões - e Mayara Farias, pela árdua tarefa de transcrever as entrevistas. Ainda, há que agradecer aos colegas da turma do PPGE - Rafael Silva, Leonardo Galindo e Welton Nascimento – pelas preciosas contribuições sob a perspectiva geográfica, além dos produtos cartográficos irretocáveis sob a responsabilidade do Welton.

Além das contribuições internas ao PPGTUR, devo gratidão à Profª Dra Maria Àngels Alió vinculada à Universidade de Barcelona, da qual recebi orientações e estive sob co-tutela durante estágio doutoral realizado de maio a agosto de 2017 naquela instituição, contribuindo decisivamente para a definição procedimental desta investigação.

No mesmo período, a rede de pesquisadores estabelecida internacionalmente possibilitou o acesso ao pesquisador Martí Boneta I Carrera do Departament d'Educació -

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composta por voluntários no combate à desigualdade social; ao Prof. Dr. Ernest Cañada, docente da Escola Universitária de Hotelaria e Turismo da Universidade de Barcelona e Coordenador do Alba Sud, centro de pesquisa especializado em turismo responsável e trabalho digno. A ambos, minha gratidão pelas discussões acadêmicas que proporcionaram momentos de abstração e descoberta.

Ainda, neste período pude contar com o apoio dos pesquisadores maranhenses Magno Vasconcelos Júnior e sua esposa, Eva; como também à parceira de moradia e estudos nas bibliotecas de Barcelona, Meiying Zhu (Mía). A vocês, gratidão pela inesquecível hospitalidade. Às amigas e pesquisadoras Bruna Lobo e Heidi Kanitz, gratidão por me receberem e apoiarem quando em Portugal, a caminho da Catalunha (ESP).

Ao Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados que, por meio do Programa Missão Pedagógica no Parlamento, me oportunizou conhecer, aprofundar e realizar saberes sob a perspectiva de uma educação para a democracia, além das inestimáveis trocas estabelecidas com educadores da educação básica de todo o país.

Ao Instituto Federal de Alagoas ao permitir afastamento durante 2 anos e 6 meses para dedicação exclusiva à investigação. Estendo os agradecimentos à equipe docente do Curso Técnico em Hospedagem, em especial à Prof.ª Dra. Anne Araújo, coordenadora do curso, por sua paciência, confiança e apoio incondicionais; também à Prof.ª Me. Manuela Kaspary, por sua parceria quando estivemos juntas em Barcelona sob processo de doutoramento.

À equipe de pesquisadores voluntários ligada aos projetos de pesquisa vinculados a esta investigação, meus sinceros agradecimentos entremeados de orgulho pelo desenvolvimento científico e cívico de cada um: Amanda Roberta Silva; Djhames Kelvyn Rufino; Solanny Vitória Santos e Stéphanie Maria dos Santos. Estivemos juntos na reflexão, ação e análise.

Ainda em Alagoas, agradeço ao Prof. Dr. Cícero Péricles de Carvalho (UFAL); ao Prof. Dr. Melchior Carlos do Nascimento (UFAL); ao estimado historiador Dirceu Lindoso; e ao colega historiador Wellington Gomes do Arquivo Público de Alagoas (APA) por se disporem a, generosamente, compartilhar o saber sobre Alagoas e refletir junto comigo.

Gratidão imensurável aos cidadãos maragogienses - autóctones, residentes e instituições - que compartilharam suas histórias e perspectivas, permitindo que esta investigação se realizasse.

Cabe aqui, também, agradecer àqueles que contribuíram para a construção de uma perspectiva crítica do turismo ainda no “ponto de partida” da formação acadêmica: o corpo

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docente do Curso de Turismo do Campus Avançado de Natal da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), neste processo representado pelo Prof. Dr. Antônio Jânio Fernandes, o qual compôs a banca de defesa deste doutoramento.

Agradeço infinitamente à “pedra fundamental” deste processo: minha família, seja consanguínea, seja àquela que escolhi para amar. A meus pais, meu regozijo por poder, com ambos ainda em vida, realizar sonhos que sei que foram sonhados para mim antes que eu nascesse, conquistar os objetivos que tantos renunciaram para que eu alcançasse. À minha avó Maria dos Anjos, a única que tenho agora, memória viva que jamais permitirá esquecer minhas origens, luta e objetivos políticos e/ou profissionais.

À minha família potiguar por adoção: aos amigos Marcos e Déborah, Joab e Angélica, Lídia Gabriela, Bianca Josefa, Damácio Gerlan e Ana Helena, agradeço por estarem “aí” sempre – longe ou perto – quando o céu parecia não estar tão azul e me conduzirem ao porto seguro da amizade, da empatia e da fé.

À família Queiroz, minha família pernambucana. Se os meus estiveram longe na maior parte deste processo, ganhei como presente, o cuidado e a força que só uma “família de lobos” pode oferecer para me manter resiliente e perseverante. Por tudo isso, agradeço-lhes.

Ao meu eterno namorado, esposo, amigo, professor, companheiro de ideais e luta, Mateus Queiroz, verdadeiro presente de Deus, tal como significa seu nome. O conheci quando pensei que seguiria para sempre só: na vida, na luta, na militância por transformação social. No entanto, Deus, Alagoas e o amor pela educação nos fizeram cruzar caminhos que se tornaram um só. Juntos, realizamos esta investigação. Juntos, superamos a distância, as mútuas dificuldades, a desesperança no futuro. Juntos, continuaremos a contornar os obstáculos que surgirem frente ao pleno desenvolvimento dos nossos alunos e de nosso povo.

Ao Instituto Chico Mendes para a Conservação (ICMBio) que, por meio do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), autorizou a realização das atividades com finalidade científica, contribuindo para o êxito desta investigação.

Por fim, graças a Deus, que me permitiu conhecer os valores cristãos sobre os quais construí a base do meu idealismo, o qual conclama todos os que dizem se importar com o ser humano a arregaçar as mangas e agir sob os desígnios de um amor que é chamado nas Escrituras de misericórdia.

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Brasil, meu nego Deixa eu te contar

A história que a história não conta O avesso do mesmo lugar

Na luta é que a gente se encontra

Brasil, meu dengo A Mangueira chegou

Com versos que o livro apagou

Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento Tem sangue retinto pisado

Atrás do herói emoldurado Mulheres, tamoios, mulatos

Eu quero um país que não está no retrato

Brasil, o teu nome é Dandara E a tua cara é de cariri Não veio do céu

Nem das mãos de Isabel

A liberdade é um dragão no mar de Aracati

Salve os caboclos de julho

Quem foi de aço nos anos de chumbo Brasil, chegou a vez

De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês.

Mangueira – Samba Enredo 2019 “História pra Ninar Gente Grande” Danilo Firmino / Deivid Domênico / Mamá / Márcio Bola / Ronie Oliveira / Tomaz Miranda

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RESUMO

Maragogi/AL, trata-se de um município litorâneo, localizado no extremo Norte do estado de Alagoas, equidistante 125 km de duas capitais nordestinas, Maceió e Recife. Atualmente se apresenta como o segundo polo receptor de turistas do estado. Para compreender a dinâmica do turismo criticamente, se fez necessário considerar os fatores endógenos construídos historicamente que singularizam a maneira como o turismo se desenvolve no lugar, como a exploração secular da cana-de-açúcar. Sob esta perspectiva, este estudo teve como objetivo geral: analisar o processo de participação social, no desenvolvimento do turismo em Maragogi/AL, considerando a dimensão territorial. E objetivos específicos: a) Problematizar historicamente o processo de formação socioespacial da zona canavieira nordestina, destacando a Zona da Mata alagoana, particularmente, o município de Maragogi; b) Discutir as implicações socioeconômicas das políticas públicas de turismo no município de Maragogi/AL; e c) Investigar o nível de participação social da população na dinâmica do turismo local. A investigação se norteou pela pesquisa-ação participativa, um método de estudo e ação que procura obter resultados confiáveis e úteis para melhorar as situações coletivas, embasando a pesquisa na participação dos próprios coletivos a investigar. Os resultados apontam que a desigualdade presente na dinâmica socioeconômica e política brasileira, apesar de não estar correlacionada estritamente à atividade turística, tem sido acentuada por meio do estabelecimento de modelos de desenvolvimento que põem em xeque a participação, havendo descentralização da força decisória, mas não desconcentração, isto é, a redistribuição da renda tão discursada na forma de bem-estar social, perpetuando desigualdades fundadas pela cultura canavieira. Para o grupo que protagonizou o DRP, o turismo e suas particularidades se apresentaram como fator secundário na lista de prioridades, pois, segundo eles, já há direcionamento de verba e ações suficientes para o desenvolvimento do turismo no município, cabendo agora aplicar os benefícios econômicos decorrentes da atividade nos aspectos sociais e ambientais do município, buscando enxergar o lugar em sua complexidade territorial visando a redução das desigualdades. Ainda, se notou um distanciamento dos jovens em Maragogi das questões políticas que afetam diretamente a população, faltando-lhes um estímulo educacional para a democracia. Em busca de um rompimento da realidade, de uma desmistificação, esta investigação se propôs a assumir uma posição contraditória à realidade posta, desmitificando a ideia do turismo enquanto “salvação da lavoura”, enquanto, na realidade, se realiza como uma prática exploratória dos lugares, quando afasta seus cidadãos do centro do processo, seja no âmbito decisório, seja como usufruinte dos benefícios decorrentes da atividade. Considerando uma perspectiva crítica, a partir de um olhar complexo e indissociável entre pesquisa, ensino e extensão, o estudo permitiu, enquanto pesquisa, a compreensão do contexto de formação socioespacial da população maragogiense, como também, o contexto da aplicação das políticas públicas de turismo no município; enquanto extensão convidou esta população a assumir seu lugar de fala dentro do processo de turistificação do seu lugar; e como ensino, levou as metodologias participativas/ativas para a prática pedagógica junto aos jovens do lugar, iniciando um estímulo à conscientização, de construção de reflexão crítica sobre si mesmos e sobre o papel que almeja assumir diante da história de Maragogi.

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ABSTRACT

Maragogi/AL is a coastal municipal, located in the extreme north of the state of Alagoas, equidistant 125 km from two northeastern capitals, Maceió and Recife. Nowadays presents itself as the second receiving pole of tourists from the state. To understand tourism dynamics critically, it was necessary to consider the historically constructed endogenous factors that uniquely characterize the way tourism develops in place, such as the secular exploitation of sugarcane. From this perspective, this study aimed to analyze the process of social participation in the development of tourism in Maragogi/AL, considering the territorial dimension. The specific objectives are: a) To problematize historically the process of socio-spatial formation of the northeastern sugarcane zone, highlighting the Zona da Mata Alagoana, particularly the municipality of Maragogi; b) Discuss the socioeconomic implications of public tourism policies in the municipality of Maragogi/AL; and c) To investigate the level of social participation of the population in the dynamics of local tourism. The research was guided by participatory action research, a method of study and action that quest to obtain reliable and useful results to improve collective situations, basing the research on the participation of the owns collectives to investigate. The results indicate that the inequality present in the Brazilian socioeconomic and political dynamic, although not strictly correlated with the tourism activity, has been accentuated through the establishment of development models that question participation, having decentralization of decision-making power, but not deconcentration, that is, the redistribution of income so discursed in the form of social welfare, perpetuating inequalities founded by the sugarcane culture. For the group that played the role of the DRP, tourism and its particularities mostre it selfs like a secondary factor in the list of priorities, because, according to them, there is already directed funds and actions enough to the development of tourism in the municipality, and it is now necessary to apply the economic benefits, resulting from the activity in the social and environmental aspects of the city, seeking to see the place in its territorial complexity aiming at reducing inequalities. Also, there was a aloofness of younger from political issues that directly affect the population in Maragogi, lacking an educational stimulus for democracy. In search of a disruption of reality, of a demystification, this research proposed to take a contradictory position to the presented reality, demystifying the idea of tourism as a “salvation from farming”, while, in reality, it is realized as an exploratory practice of places, when it moves its citizens away from the center of the process, either in decision-making or as enjoying the benefits arising from the activity. Considering a critical perspective, from a complex and inseparable look between research, teaching and extension, the study allowed, as research, the understanding of the context of socio-spatial formation of the maragogiense population, as well as the context of the application of public tourism policies in the municipality; while extension, it invited this population to assume their place of speech within the process of touristification of their place; and, as a teaching, it took the participatory/active methodologies for the pedagogical practice with the young people of the place, initiating a stimulus to the awareness, of building critical reflection about themselves and about the role that it aims that they search assume in history of Maragogi.

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RESUMÉN

Maragogi / AL, es un municipio costero, ubicado en el extremo norte del estado de Alagoas, equidistante a 125 km de dos capitales del noreste, Maceió y Recife. Actualmente se presenta como el segundo polo receptor turístico del estado. Para comprender la dinámica del turismo de manera crítica, era necesario considerar los factores endógenos construidos históricamente que caracterizan de manera única la forma en que el turismo se desarrolla en el lugar, como la explotación secular de la caña de azúcar. Desde esta perspectiva, este estudio tuvo como objetivo: analizar el proceso de participación social en el desarrollo del turismo en Maragogi / AL, considerando la dimensión territorial. Objetivos específicos: a) Problematizar históricamente el proceso de formación socioespacial de la zona nororiental de la caña de azúcar, destacando la Zona da Mata alagoana, particularmente el municipio de Maragogi; b) Discutir las implicaciones socioeconómicas de las políticas públicas de turismo en el municipio de Maragogi / AL; y c) Investigar el nivel de participación social de la población en la dinámica del turismo local. La investigación se guió por la investigación-acción participativa, un método de estudio y acción que busca obtener resultados confiables y útiles para mejorar situaciones colectivas, basando la investigación en la participación de los propios colectivos para investigar. Los resultados muestran que la desigualdad presente en la dinámica socioeconómica y política brasileña, aunque no está estrictamente correlacionada con la actividad turística, se ha acentuado mediante el establecimiento de modelos de desarrollo que cuestionan la participación, con descentralización del poder de decisión, pero no la desconcentración, es decir, la redistribución del ingreso tan distorsionada en forma de bienestar social, perpetuando las desigualdades fundadas por la cultura de la caña de azúcar. Para el grupo que desempeñó el papel de la DRP, el turismo y sus particularidades fueron un factor secundario en la lista de prioridades, porque, según ellos, ya hay suficientes fondos y acciones dirigidas al desarrollo del turismo en el municipio, y ahora es necesario aplicar los beneficios económicos. resultante de la actividad en los aspectos sociales y ambientales de la ciudad, buscando ver el lugar en su complejidad territorial con el objetivo de reducir las desigualdades. Además, la investigación mostró la distancia dos jóvenes en Maragogi de las cuestiones políticas que afectan directamente a la población, sin un estímulo educativo para la democracia. En busca de una interrupción de la realidad, de una desmitificación, esta investigación propuso tomar una posición contradictoria a la realidad planteada, desmitificando la idea del turismo como una "salvación de la labranza", mientras que en realidad se realiza como una práctica exploratoria de lugares, cuando aleja a sus ciudadanos del centro del proceso, ya sea en la toma de decisiones o en el disfrute de los beneficios derivados de la actividad. Considerando una perspectiva crítica, desde una mirada compleja e inseparable entre investigación, enseñanza y extensión, el estudio permitió, como investigación, la comprensión del contexto de formación socioespacial de la población maragogiense, así como el contexto de la aplicación de políticas públicas de turismo en el municipio; Como extensión, invitó a esta población a asumir su lugar de expresión dentro del proceso de turistificación de su lugar; y como enseñanza, tomó las metodologías participativas/activas para la práctica pedagógica con los jóvenes del lugar, iniciando un estímulo a la conciencia, construyendo una reflexión crítica sobre sí mismos y sobre el papel que pretende asumir delante la historia de Maragogi.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mapa 1 Localização do município de Maragogi____________________________ 20 Mapa 2 Regiões turísticas do estado de Alagoas____________________________ 26 Mapa 3 Alagoas: áreas de povoamento e colonização até fins do século XVII ____ 62 Mapa 4 Carta cartográfica do estado de Alagoas indicando Maragogi já elevada à

condição de cidade ____________________________________________ 85 Mapa 5 Unidades de Conservação do estado de Alagoas_____________________ 113 Mapa 6 Maragogi/AL – Setores censitários litorâneos e Assentamentos de

Reforma Agrária _____________________________________________ 116 Mapa 7 Densidade territorial dos Meios de Hospedagem em Maragogi/AL______ 121 Aerofotocarta 1 As piscinas naturais: principal atrativo turístico e Maragogi____________ 117 Figura 1 Eight rungs on the ladder of citizen participation ____________________ 146 Figura 2 Escalera de participacíon ______________________________________ 148 Figura 3 Dinâmica da “teia” – DRP ______________________________________ 191 Figura 4 Elaboração da matriz geral – DRP ________________________________ 191 Figura 5 Mesa masculina – DRP_________________________________________ 192 Figura 6 Mesa feminina – DRP _________________________________________ 192 Figura 7 Esquema síntese da investigação _________________________________ 234 Gráfico 1 Participação das atividades econômicas de alojamento e alimentação no

Valor Adicionado de Alagoas (%) (2002 – 2011) ____________________ 120 Gráfico 2 Participação (%) nos estabelecimentos de saúde, segundo dependência

administrativa – 2014 _________________________________________ 125 Gráfico 3 Distribuição dos participantes por sexo – DRP ______________________ 187 Gráfico 4 Distribuição por faixa etária – DRP -______________________________ 187 Gráfico 5 Quantidade de filhos participantes – DRP __________________________ 188 Gráfico 6 Nível de escolaridade – DRP ____________________________________ 188 Gráfico 7 Análise das mesas do DRP (2ª etapa – grupos heterogêneos) ___________ 195 Gráfico 8 Participantes por sexo - Jogo da Política ___________________________ 205 Gráfico 9 Participantes por faixa etária – Jogo da Política _____________________ 205 Gráfico 10 Participantes por escolaridade - Jogo da Política ____________________ 205 Gráfico 11 Anamnese – Os três poderes ____________________________________ 206 Gráfico 12 Anamnese – Constituição_______________________________________ 206 Gráfico 13 Anamnese – Orçamento público _________________________________ 206 Gráfico 14 Avaliação – Elaboração das leis _________________________________ 211 Gráfico 15 Avaliação – Participação Jogo da Política __________________________ 212 Gráfico 16 Avaliação – Controle social _____________________________________ 212 Gráfico 17 Avaliação – Orçamento público _________________________________ 212 Gráfico 18 Avaliação – O Jogo da Política __________________________________ 213

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 Níveis e perspectivas da investigação social ________________________ 39 Quadro 2 Desdobramentos dos procedimentos metodológicos da pesquisa ________ 42 Quadro 3 Sujeitos da pesquisa e informações básicas das entrevistas ____________ 43 Quadro 4 Quadro de análise ____________________________________________ 45 Quadro 5 Principais documentos oficiais de turismo__________________________ 106 Quadro 6 Agenda pública de turismo brasileira_____________________________ 109 Quadro 7 Síntese – Dados socioeconômicos de Maragogi/AL__________________ 126 Quadro 8 Modelos de participação social nas decisões políticas ________________ 149 Quadro 9 Principais espaços de participação no governo federal ________________ 160 Quadro 10 Vínculo institucional dos participantes DRP ________________________ 188 Quadro 11 Níveis do exercício da cidadania_________________________________ 192 Quadro 12 Quadro de análise das mesas do DRP (1ª etapa – grupos homogêneos) ___ 192 Quadro 13 Respostas à pergunta “O que somos?” no DRP ______________________ 197 Quadro 14 Respostas à pergunta “O que temos?” no DRP ______________________ 198 Quadro 15 Definição da matriz de prioridades do DRP ________________________ 200

Tabela 1 Cronologia da implantação de estabelecimentos hoteleiros em Maragogi__ 118 Tabela 2 Movimento de passageiros nas capitais nordestinas (embarques +

desembarques) (2011 – 2014) ___________________________________ 119 Tabela 3 Quantidade de meios de hospedagem e leitos dos municípios litorâneos da

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LISTA DE SIGLAS

ABM Associação de Bugueiros de Maragogi

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade

AFTM Associação de Fotógrafos Marítimos de Maragogi

AL Unidade Federativa Alagoas

AMARATIVA Associação da Comunidade Ativa de Maragogi

Anampos Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais AOMM Associação de Operadores de Mergulho de Maragogi

APA Arquivo Público de Alagoas

APACC Área de Proteção Ambiental Costa de Corais

APCM Associação de Proprietários de Catamarãs de Maragogi

APLs Arranjos Produtivos Locais

AVA Ambiental Virtual de Aprendizagem

BA Unidade Federativa Bahia

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BNB Banco do Nordeste do Brasil S/A

BOH Boletim de Ocupação Hoteleira

CAT Centro de Atendimento ao Turista

CCCVB Costa de Corais Convention Visitors & Bureau

CCFGTS Conselho Curador do FGTS

CCS Conselho da Comunidade Solidária

CCT Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia

CDDPH Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana

CEPENE Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste CMB Central de Mulheres Brasileiras

CNAS Conselho de Assistência Social

CNDI Conselho Nacional dos Direitos do Idoso CNDM Conselho Nacional dos Direitos da Mulher

CNE Conselho Nacional de Educação

CNE Conselho Nacional do Esporte

CNES Conselho Nacional de Economia Solidária

CNIg Conselho Nacional de Imigração

CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CNS Conselho Nacional de Saúde

CNTUR Conselho Nacional de Turismo

Codefat Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador COMDEMA Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente

COMTUR Conselho Municipal de Turismo

Conade Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência Conaeti Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil Conam Confederação Nacional das Associações de Moradores Conama Conselho Nacional do Meio Ambiente

Conanda Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

CONAPAC Conselho Gestor da APACC

Conclate Conferência Nacional da Classe Trabalhadora COOPEAGRO Cooperativa de Pequenos Agricultores Organizados

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CUT Central Única dos Trabalhadores

DATASUS Departamento de Estatística do Sistema Único de Saúde DRP Diagnóstico Rápido Participativo

DTT Divisão Territorial do Trabalho EBTT Ensino Básico Técnico e Tecnológico

EC Emenda Constitucional

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

ECOSOL Economia Solidária

EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo

ES Unidade Federativa Espírito Santo

FES Formação Econômica e Social

FGV Fundação Getúlio Vargas

FINOR Fundo de Investimentos do Nordeste

FIRJAN Federação das Indústrias do estado do Rio de Janeiro

FRNU Fórum Nacional pela Reforma Urbana

FUMTUR Fundo Municipal do Turismo

Fungetur Fundo Geral de Turismo GP1 – GP4 Sujeitos da Gestão Pública IAA Instituto do Açúcar e Álcool

IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMBio Instituto Chico Mendes para a Conservação IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IE1 Sujeitos Instituições de Ensino

IFAL Instituto Federal de Alagoas – Campus Maragogi IFDM Índice FIRJAN de desenvolvimento dos municípios IMA Instituto do Meio Ambiente de Alagoas

IN Instrução Normativa

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano

ISS Imposto Sobre Serviços

LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias

LOA Lei Orçamentária Anual

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

MA Unidade Federativa Maranhão

MDF Movimento de Defesa do Favelado

MEC Ministério da Educação

MICT Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo MNDH Movimento Nacional de Direitos Humanos

MNU Movimento Negro Unificado

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

MTUR Ministério do Turismo

OAB Ordem dos Advogado do Brasil

ONU Organização das Nações Unidas

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OS Organizações Sociais

Oscip Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

Paeg Plano de Ação Econômica do Governo

PAP Pesquisa-Ação Participativa

PB Unidade Federativa Paraíba

PDITS Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável

PE Unidade Federativa Pernambuco

PEC Proposta de Emenda Constitucional

PI Unidade Federativa Piauí

PIB Produto Interno Bruto

Planasa Plano Nacional de Saneamento

PNE Plano Nacional de Educação

PNMT Programa Nacional de Municipalização do Turismo PNPS Política Nacional de Participação Social

PNT Política Nacional de Turismo (

Pnud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPA Plano Plurianual

PRODETUR Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste PRPPI Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação

PRT Programa de Regionalização do Turismo

PT Partido dos Trabalhadores

REBIO Reserva Biológica

Red CIMAS Red del Observatorio Internacional de Ciudadanía y Medio Ambiente Sostenible

RES1 Sujeitos Residentes

RN Unidade Federativa Rio Grande do Norte

SE Unidade Federativa Sergipe

SEDETUR Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo

SEMMARH Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Ciências e Tecnologia Senaes Secretaria Nacional de Economia Solidária

SEPLAG Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio

SEPLANDE Secretaria de Estado do Planejamento e Desenvolvimento Econômico SETIC Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio de Maragogi

SETUR/AL Secretaria Estadual de Turismo AL

SHRBS Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Alagoas – Maragogi SISBIO Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

STF Supremo Tribunal Federal

STF Supremo Tribunal Federal

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

SUS Sistema Único de Saúde

TAC Termo de Ajustamento de Conduta

TBC Turismo de Base Comunitária

TT1 – TT6 Sujeitos Trade Turístico

UC Unidade de Conservação

UHs Unidades Habitacionais

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SUMÁRIO

PARTE I – MARAGOGI: o outro lado do paraíso 17

1 APRESENTAÇÃO: um convite ao tema 18

1.1 MARAGOGI: DA ECONOMIA DA CANA-DE-AÇÚCAR À ECONOMIA DO

TURISMO 20

1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO, PARTICIPAÇÃO (DESCENTRALIZAÇÃO?)

E DESENVOLVIMENTO LOCAL 23

1.3 TURISMO E DESENVOLVIMENTO EM MARAGOGI: dos modelos aos fatos 29

1.4 PERCURSO METODOLÓGICO 35

1.5 PARTICIPAÇÃO SOCIAL: UM EPÍTOME 49

PARTE II – CONSTRUINDO A AUTONOMIA 52

2 DA CANA-DE-ACÚCAR AO TURISMO: o processo histórico de formação

socioespacial e seus nexos explicativos no município de Maragogi/AL 53

2.1 FORMAÇÃO DAS ALAGOAS BOREALIS 56

2.2 A RESISTÊNCIA QUILOMBOLA NAS ALAGOAS PARS BOREALIS 63

2.3 DIVISÃO TERRITORIAL DO TRABALHO: do açúcar da cana ao turismo de sol e praia 68

2.4 A UTOPIA ARMADA: A CABANADA 73

2.5 ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO, TRABALHO E CIDADANIA EM MARAGOGI/AL 79

PARTE III – EM BUSCA DO DESENVOLVIMENTO 92

3 POR UMA VISÃO CRÍTICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO MUNICÍPIO DE MARAGOGI/AL: problematizando o desenvolvimento do turismo 93 3.1 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO BRASIL:

o mito da descentralização e o desenvolvimento local 96

3.2 TURISMO E DESENVOLVIMENTO EM MARAGOGI: das políticas públicas à efetividade

110

PARTE IV – EXERCITANDO A CIDADANIA 128

4 DESVENDANDOA PARTICIPAÇÃO CIDADÃ NA DINÂMICA DO TURISMO EM

MARAGOGI: princípios de democracia e cidadania em exercício 129

4.1 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO BRASIL 150

4.2 OS PROCESSOS PARTICIPATIVOS DO TURISMO DE MARAGOGI/AL 169

4.3 METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS: diagnosticando perfis e níveis de participação 185

4.3.1. O Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) 187

4.3.2 O Jogo da Política 202

PARTE V – QUANDO O FIM É TAMBÉM O COMEÇO: A RESISTÊNCIA 214

5 EDUCAÇÃO PARA A DEMOCRACIA: lições para um turismo transformador 215

5.1 PASSADO, PRESENTE, DEVIR: da abstração à práxis transformadora 226

REFERÊNCIAS 236

APÊNDICES 253

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Parte I

Maragogi: o outro lado do paraíso

“Ó, lindo Maragogi, ninguém te conhece

só nós que somos daqui; nós da terra há muitos anos já gostamos desse lugar. Do nosso Maragogi à beira-mar”. (Hino oficial do município de Maragogi/AL).

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1 APRESENTAÇÃO: um convite ao tema

A formação socioespacial brasileira passou por mudanças significativas desde os fins dos anos 1980, vinculadas às tendências que redirecionaram o espaço mundial nas últimas décadas do século XX. Novamente se apregoou que o país começava a entrar no mundo globalizado, pelo qual, enfim, se superava o passado agroexportador, voltava-se aos ideários desenvolvimentistas, ao milagre econômico fincado na ideia de progresso, às bases de uma verdadeira modernização.

Tal conjuntura interfere nas partes que compõem e dominam a vida social do território brasileiro. Nesse sentido, o mercado dito global passa aceleradamente a dar as cartas ao Estado, influenciando diretamente na forma de pensar o território: fluidez é a palavra de ordem. E assim, o Estado busca instrumentos que forneçam novos usos ao território, caracterizado, sobretudo, pela simbiose ciência, técnica e informação.

Sob essa perspectiva, os lugares que compõem a formação socioespacial brasileira, possuem, em seu processo de configuração possibilidades distintas para inserção nessa modernização. Os espaços distantes dessa modernização, no que se refere a construção de novos objetos, formariam os espaços opacos, enquanto outros coexistem com novos “usos e

abusos”, conformando-se enquanto espaços seletivos ou seletivos residuais, relevantes para o

mundo competitivo, e, portanto, são dotados de maior racionalidade.

Assim, sob a égide da dita modernização é forjada a proposta de governo do então candidato e eleito presidente, Fernando Henrique Cardoso. Em seu plano de governo intitulado “Avança, Brasil”, que dizia:

A globalização, longe de marcar o “fim da história”, é o começo de algo novo, um processo de mudança ainda em curso. Por isso mesmo, apresenta riscos e aumenta a incerteza sobre o futuro de cada país, de cada segmento da sociedade, de cada ser humano. Mas também oferece oportunidades, que precisamos saber aproveitar, para afirmarmos o Brasil como país e avançarmos mais rápido na realização das nossas aspirações a prosperidade e justiça social [...] Avançar para fazer o país crescer de forma sustentada e gerar oportunidades de trabalho, explorando ao máximo as possibilidades contidas nas condições internas e externas da nossa economia. Vamos duplicar nossas exportações e crescer com base na agricultura, nos investimentos industriais, nos serviços modernos, no turismo e na construção civil. (Cardoso, 2008, p. 2, grifo nosso)

A proposta indica que “esses números [de turistas] apontam para a geração de cerca de 400 mil novos postos de trabalho, beneficiando particularmente o Nordeste, a prioridade do Brasil nesse setor” (Cardoso, 2008, p. 26, grifo nosso). Afinal, “geração de empregos, de renda e tributos, bem como o desenvolvimento das regiões mais pobres do país, são motivos

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mais do que suficientes para o governo intensificar o apoio que vem dando ao turismo”. (Cardoso, 2008, p. 51) E, por conseguinte, deve-se “aproveitar as extraordinárias vantagens naturais e a cultura popular nordestina a fim de desenvolver o turismo que produz renda e empregos, respeita a população, valoriza o meio ambiente e preserva o patrimônio histórico” (Cardoso, 2008, p. 73).

E assim, o Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE I) foi executado pelo Banco do Nordeste do Brasil S/A (BNB), em parceria com o Governo Federal, os Governos Estaduais e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), representando a convergência de ações para a realização de investimentos na infraestrutura turística de todos os estados da Região Nordeste.

Iniciado em 1995, o PRODETUR/NE I ganhou dinamismo a partir de agosto de 1996, quando passou a integrar o elenco de projetos prioritários do Governo Federal, denominado Programa Brasil em Ação, depois chamado de Programa Avança Brasil. O objetivo básico do PRODETUR/NE I, conforme seu Regulamento Operativo assinado em dezembro de 1994 (BRASIL, 2008), foi:

[...] reforçar a capacidade da Região Nordeste em manter e expandir sua crescente indústria turística, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico regional. O Programa pretende prover de infraestrutura básica e serviços públicos, áreas atualmente de expansão turística e onde a capacidade do Estado não acompanhou a demanda por tais serviços; os investimentos beneficiarão

principalmente a população de baixa renda das áreas selecionadas. Assim, com a melhoria das

condições das áreas turísticas, busca-se também atrair atividades turísticas privadas adicionais e de melhor padrão, gerando oportunidade de emprego e aumentos dos níveis de renda e das receitas públicas. (BID, 1994, grifo nosso).

Este preâmbulo acerca das transformações socioespaciais e econômicas no território brasileiro, mais especificamente o nordestino, tenciona contextualizar o processo histórico do fenômeno turístico em Maragogi/AL, município em foco nesta investigação. Trata-se de um município litorâneo, localizado no extremo Norte do estado de Alagoas, equidistante 125 km de duas capitais nordestinas, Maceió e Recife. Apresenta uma área de 334,385 km² e está inserido na Mesorregião do Leste Alagoano e na Microrregião do Litoral Norte do estado, limitando-se ao Norte com o município de São José da Coroa Grande, no estado de Pernambuco; ao Sul com o município alagoano de Japaratinga e o Oceano Atlântico; a Oeste com os municípios de Porto Calvo e Jacuípe; e a Leste com o Oceano Atlântico (ver Mapa 1).

Atualmente, Maragogi, configura-se como o segundo polo receptor de turistas do estado e possui quase quatro mil leitos disponíveis em hotéis e pousadas de vários níveis, de

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conquistada pela junção de dois fatores principais: singular patrimônio paisagístico e o investimento privado com estímulo de incentivo fiscal, este último resultante de políticas públicas e programas, tais como o PRODETUR.

Mapa 1 – Localização do município de Maragogi/AL

Fonte: IBGE (2010).

1.1 MARAGOGI: DA ECONOMIA DA CANA-DE-AÇÚCAR À ECONOMIA DO TURISMO

O município de Maragogi preteritamente foi território socioeconômico e político quase exclusivo da cana-de-açúcar. As elites econômicas da cana-de-açúcar pouco utilizavam a região litorânea e, por isso, tornou-se lugar daqueles que estavam à margem do sistema canavieiro. Esse contexto favoreceu a formação e a apropriação do território por parte de populações tradicionais de pescadores até a década de 1980. Esta realidade iniciou sua mudança com o término da construção da rodovia AL-101 Norte, em 1979 e, em seguida, com as ações resultantes do PRODETUR.

Esta transformação exige uma análise de como as modernizações decorrentes do uso do território pelo turismo têm implicado na adequação dos municípios nordestinos litorâneos,

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como Maragogi, transformando-os em espaços seletivos. Afinal, é fato que as políticas públicas, em suas diversas instâncias, por meio da inserção de novos sistemas de objetos e ações, têm se configurado como os principais agentes geradores dessa readequação territorial pautada, sobretudo, na retórica do desenvolvimento a partir de atração de novos investimentos.

Todavia, para além das forças exógenas ao lugar que exigem e implantam novas territorialidades, há os fatores endógenos construídos historicamente que singularizam a maneira como tais territorialidades se realizam ali. Em Maragogi, tais fatores estão ligados à histórica exploração da cana-de-açúcar que, apesar de ter declinado em seu aspecto econômico, permanece impregnado no modo de vida do maragogiense em seu fazer social, cultural e, consequentemente, no econômico, incluindo-se aí o turismo enquanto nova atividade econômica dominante no município. Desse modo, a atividade se reveste de modernização e eficácia, mas em essência reproduz mecanismos sociais e culturais historicamente construídos, isto é, a mimetização da Divisão Territorial do Trabalho (DTT) que perpetua os papéis de oprimido e opressor, negando às classes oprimidas, sua voz, a participação.

A área estudada, herdeira da dependência econômica da monocultura da cana-de-açúcar e dominada político-administrativa e economicamente por latifundiários, coexistia com a ocupação de trabalhadores rurais e povos tradicionais, neste caso, pescadores artesanais. Atualmente, se encontra apropriada, em consequência do desenvolvimento turístico, por diversos segmentos socioeconômicos, principalmente do setor de serviços; apresenta uma população flutuante, de passagem pelo lugar que deixa inúmeras marcas ali; como também os sujeitos que vieram, ficaram e criaram raízes. Todos juntos, antigas e novas populações, em um constante processo de mudança, alteram a lógica socioeconômica do município de Maragogi, um fenômeno que tem se manifestado em maior ou menor grau por todo o litoral nordestino.

Assim, o meio natural litorâneo, anteriormente pouco modificado, a não ser pela cultura do coco de baía, deu lugar à inserção extremada de infraestruturas e superestruturas, tais como equipamentos turísticos e normas que visam gestar esta dinâmica de uso do território pelo turismo, enxertando nas horizontalidades da vida cotidiana dos povos tradicionais do lugar e nas relações históricas de poder local, verticalidades próprias da função econômica e desigual do turismo ali empregado, perpetuando desigualdades pré-existentes.

As elites dirigentes reconfiguram o uso do território por meio do turismo sob a ótica do desenvolvimento socioeconômico, que em geral, adviria do crescimento da economia e,

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consequente criação de postos de trabalho associados à atividade turística: a famigerada ideia e já obsoleta do turismo como panaceia, tal como preconizado pelo programa de governo “Avança, Brasil”:

Mas não basta crescer. É preciso distribuir os frutos do crescimento à medida que eles surgem, o que significa, concretamente: aumento sustentado do valor médio dos salários e da massa salarial. Isto depende da melhoria da qualidade e da produtividade dos empregos existentes e, ao mesmo tempo, da geração de novos empregos. O que por sua vez supõe, mais do que a simples aceleração do crescimento econômico, uma nova forma de crescimento, que integre e articule dinamicamente a extraordinária variedade de regiões, setores e espécies de unidades produtivas da economia brasileira. (Cardoso, 2008, p. 5)

Afinal, o desenvolvimento apregoado foi alcançado? O turismo se desdobrou em benefícios socioeconômicos para os residentes? A “fórmula” turismo de massa para o desenvolvimento foi dialogado com a população local? O que se entende por desenvolvimento? Há participação social nas decisões que envolvem o turismo do município de Maragogi? Qual o nível de envolvimento popular com tais questões? Como, historicamente, o maragogiense1 é impedido e/ou impulsionado a participar? Como ele percebe seu próprio lugar?

A partir destes questionamentos, o turismo em Maragogi pode ser estudado como resultante das combinações e dos processos socioespaciais que nele se revelam, considerados os fatores endógenos e as forças que modificam o uso do território e a formação socioespacial brasileira, mais precisamente, os aspectos referentes à formação dos processos de participação, os quais influenciam na efetivação de políticas públicas para o desenvolvimento do município.

Assim, para compreender a relevância da participação social à dinâmica de turismo e, principalmente, ao desenvolvimento local, cabe aqui introduzir sinteticamente as políticas públicas que influenciaram diretamente a prática do turismo como atualmente se realiza nesse município.

1 Neste texto, o termo “maragogiense” fará referência não somente ao nascido no município, mas também ao

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1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO, PARTICIPAÇÃO (DESCENTRALIZAÇÃO?) E DESENVOLVIMENTO LOCAL

Historicamente, duas políticas federais são emblemáticas no contexto da adoção do turismo como uma estratégia de desenvolvimento na escala regional no Brasil: trata-se da Política de Megaprojetos (década de 1980) e do Programa para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste - PRODETUR/NE (década de 1990). A Política de Megaprojetos teve como objetivo atrair equipamentos turísticos, principalmente do segmento hoteleiro, através de incentivos fiscais e financeiros concedidos pelo governo dos respectivos estados nos quais se esperava que os projetos fossem implantados (Cruz, 2002).

Essa política buscou criar um zoneamento para a alocação de tais empreendimentos, o qual abrangia partes de cinco estados nordestinos (Cruz, 2002), a saber: Projeto Parque das Dunas – Via Costeira (RN); Projeto Cabo Banco (PB); Projeto Costa Dourada (PE e AL2) e o Projeto Linha Verde (BA). Por seu lado, o PRODETUR/NE I teve como objetivo específico, inicialmente, dotar a franja costeira nordestina de infraestrutura básica. Somado à Política de Megaprojetos, em tese, o PRODETUR/NE I permitiria o desenvolvimento do turismo na região por meio da criação de corredores turísticos, os quais possibilitariam maior conexão inter-regional e, assim, levaria a uma disseminação das atividades turísticas pela região (Duda & Araújo, 2014).

O PRODETUR/NE, criado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e pela Empresa Brasileira de Turismo3(EMBRATUR), pela Portaria Conjunta nº 1, de 29 de novembro de 1991, teve entre seus objetivos gerais o reforço da capacidade da região Nordeste “em manter e expandir sua crescente indústria4 turística, contribuindo assim para o desenvolvimento socioeconômico regional através de investimentos em infraestrutura básica e serviços públicos em áreas atualmente de expansão turística,” e os objetivos específicos iam da atração de atividades turísticas privadas de melhor padrão à geração de oportunidades de emprego e melhora dos níveis de renda, propiciando, inclusive, a oferta de serviços de abastecimento de água, esgoto e pavimentação às regiões atendidas pelo Programa (BNB, 2010).

Nesse contexto, o governo federal, ciente das possibilidades da capacidade enquanto efeito multiplicador do turismo, desde o início dos anos 1990, realiza investimentos em

2 Incluindo o município de Maragogi/AL.

3 Atualmente, apesar de deter a mesma sigla, trata-se do Instituto Brasileiro de Turismo.

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infraestrutura básica visando tornar o litoral nordestino atraente para o capital privado. Esta ação, somada à mudança de hábitos e ao crescimento recente da classe média brasileira, favoreceu o aumento da demanda turística.

Sob esta perspectiva, nas últimas três décadas, a zona costeira nordestina passou por uma significativa reestruturação espacial privilegiando o uso do território pelo turismo e impactando significativamente o cotidiano dos lugares, tal como a apropriação de áreas ocupadas por populações tradicionais preexistentes, pela iniciativa privada e alóctone e cedidos por estas mesmas populações para a especulação dos agentes hegemônicos de mercado em virtude da retórica de “geração de emprego e renda” apregoado, principalmente, pelo Estado. Por conseguinte, a zona litorânea teve seu aspecto paisagístico modificado e reconstruído para adequação às novas verticalidades e, assim, surge a mercantilização da paisagem pelo/para o turismo.

Assim, o espaço do cotidiano e das relações de pertencimento e afetividade preteritamente existentes, passa a coexistir com o território usado como recurso5 pela atividade turística. E neste cenário se delineia a inserção de novos objetos que, conduzidos pela lógica funcional, inserem novos usos e práticas ao território. Toda esta dinâmica parece colocar a população local em um plano marginal, no máximo, recebendo passivamente os reflexos desta trama que cotidianamente modifica sua existência e seu papel enquanto residente e formador do município de Maragogi, delegando o destino do lugar às forças homogeneizadoras.

Conforme Putnam (1993), cenários como este oferecem evidência empírica à reflexão sobre a importância da “comunidade cívica” para o desenvolvimento, ou seja, o estímulo aos padrões de associativismo, confiança e cooperação que facilitem a boa governança e a prosperidade econômica; ou simplesmente a valorização das estruturas descentralizadas e participativas que integrem tomadas de decisão acerca do desenvolvimento do turismo no lugar (Fischer, 2002).

Em continuidade, segue-se o PRODETUR/NE II, que aponta como objetivo geral “melhorar a qualidade de vida da população que reside nos polos turísticos situados nos estados participantes do Programa”, diferentemente de focalizar somente os investimentos relacionados à expansão turística, busca mitigar os altos níveis de exclusão social decorrente das ações do PRODETUR/NE I. (BNB, 2010). E, concomitante a esta iniciativa, ocorre o estabelecimento do Programa de Regionalização do Turismo (PRT) que contempla 200

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regiões turísticas e 3.819 municípios e trouxe uma nova configuração territorial à atividade turística, por meio da formação do que Cruz (2007) denomina “terrritórios-rede”, conectando emissores, de um lado, e receptores, de outro.

Naquele primeiro momento do PRT, um dos projetos a ele vinculado, tratava-se da seleção de 65 (sessenta e cinco) destinos indutores - segundo o conceito do Programa, que seriam capazes de atrair o desenvolvimento regional para os demais à sua volta, o que justificaria a prioridade para a estruturação da oferta turística por meio de três ações ministeriais, com vistas à qualificação desses destinos indutores: estudo de competitividade, fortalecimento de governança e aprimoramento da gestão local.

Ao aderir ao PRT, o governo de Alagoas, por meio da Secretaria Estadual de Turismo (SETUR), definiu cinco regiões turísticas como prioritárias: região Metropolitana, região Costa dos Corais, região Caminhos do São Francisco, região Lagoas e Mares do Sul e região dos Quilombos, que, mais tarde sofreram acréscimos como demonstrado no Mapa 2, já com 7 (sete) regiões turísticas em 2014. Atualmente, Alagoas permanece com 7 regiões turísticas e 50 (cinquenta) municípios registrados no Mapa. As regiões são: Agreste, Caminhos do São Francisco, Costa dos Corais, Grande Maceió, Lagoas e Mares do Sul, Quilombos, Região da Caatinga, novas regiões e novas designações, portanto (Brasil, 2019).

No princípio das políticas relacionadas ao PRT, o MTUR elegeu - dentre os municípios envolvidos – dois, para que figurassem entre os 65 destinos indutores, sendo eles: Maceió, representante da Região Turística Metropolitana (hoje, Grande Maceió) e Maragogi, representante da Região Costa dos Corais. A região turística Costa de Corais é composta pelos seguintes municípios: Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres, Passo de Camaragibe, Barra de Santo Antônio e Paripueira (SEPLAG, 2015).

Maragogi subiu de posição na nova categorização do Mapa do Turismo 2019 elaborado pelo Ministério do Turismo (MTUR). Para a classificação, o MTUR levou em consideração a quantidade de empregos gerados no município por meio da atividade turística; o número de estabelecimentos prestadores de serviços turísticos cadastrados junto ao Cadastur - cadastro que regulamenta a atividade; a arrecadação de impostos pela cadeia produtiva do setor e o número de visitantes nacionais e internacionais (Agência Alagoas, 2019).

Vale salientar que a costa litorânea de todos os municípios inseridos na Região Turística Costa de Corais, inclusive Maragogi, está inserida, também, na Área de Proteção Ambiental Costa de Corais (APACC), a maior Unidade de Conservação (UC) federal marinha costeira do Brasil (IBAMA, 1997), que salvaguarda a segunda maior barreira de corais do

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mundo, além de proteger os manguezais em toda a sua extensão, situados ao longo das desembocaduras dos rios, com sua fauna e flora.

Mapa 2 – Regiões Turísticas do estado de Alagoas

Fonte: IBGE (2010); SEDETUR/AL: SEPLAND/SINC/DGEO (2014).

Nota-se, portanto, uma iniciativa de descentralizar a gestão pública de turismo. A descentralização é aqui concebida como uma medida política ligada à participação da sociedade civil nas decisões, acompanhamento e/ou avaliação e fiscalização das políticas públicas. (Lobo, 1990). Portanto, nesse entendimento a descentralização da gestão pública implica necessariamente numa redistribuição do poder na alocação das decisões. (Tobar, 1991).

Sob esta perspectiva, a estrutura de gestão do turismo no Brasil permite que a elaboração das políticas nacionais seja subsidiada pela participação e pela integração de uma variedade de atores, quer sejam públicos ou privados, tanto no âmbito nacional, quanto regionais, estaduais e municipais. Não obstante, seu funcionamento apresenta aspectos que têm circunscrito, e por vezes travado, seus resultados.

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Assim, verifica-se que muitas das ferramentas de participação encontram-se ainda no âmbito discursivo, resultando em uma reduzida participação cidadã e na recriação de um poder desconectado da expressão política dos cidadãos. Em muitos casos, os espaços públicos participativos se limitam ao atendimento constitucional e legitimação das ações do Estado, com baixa, e até mesmo inexistente, participação social. Por exemplo, o estudo de Alencar et

al. (2013) que ao analisar conselhos nacionais, inclusive o Conselho Nacional de Turismo,

sugere um tipo de representação elitizada da sociedade nos espaços de participação. Adicionem-se a isto, indícios da baixa participação social no âmbito das instâncias de gestão estadual e municipal (Soares, Emmendoerfer, Monteiro, 2013; Coutinho, 2015), impactando no desenvolvimento regional.

Nesse contexto, Sen (2010) afirma que só é possível ocorrer o processo de desenvolvimento quando o crescimento econômico se apresenta atrelado à melhoria de qualidade de vida e à expansão da liberdade, que para ele, significa a capacidade de as pessoas levarem a vida que valorizam - o que pode ser proporcionada pelas políticas públicas, fato que ocorre quando há efetiva participação da sociedade - como será discutido mais adiante. Logo, a remoção de uma privação leva à exaltação das demais, como por exemplo, quando se tem acesso aos serviços básicos de saúde e educação com qualidade, passa-se a se dispor de melhores condições para participar das decisões políticas, inclusive às relacionadas às atividades econômicas (Sen, 2010, p. 19).

Retomando a ideia já mencionada, Sen (id.) afirma que, na medida em que o desenvolvimento expande as liberdades dos sujeitos, criam-se condições para que um número cada vez maior de pessoas possa levar o tipo de vida que valoriza. Essa noção, aparentemente simples, implica que cada pessoa assuma a responsabilidade por suas próprias escolhas e que coletivamente promova o desenvolvimento, definindo em processos amplos de discussão e decisão, que espécie de vida deseja levar. O autor enfatiza que ampliar as liberdades – civis e políticas, inclusive – é parte do processo de desenvolvimento, e refuta veementemente o argumento de que o desenvolvimento pode prescindir da liberdade política. Entende-se, portanto, que a liberdade pode ser proporcionada pelas políticas públicas, e esta ocorre quando há maior participação da sociedade.

Participação, portanto, pressupõe a articulação social entre os diversos agentes locais, públicos e privados. Por conseguinte, quando há ausência de participação cidadã no processo de construção de respostas às demandas sociais, inúmeras consequências ocorrem: (1) diminui as chances de melhoria da condição de vida para uma maioria desassistida; (2) aumenta a possibilidade de grupos de interesse que tenderão a beneficiar-se mutuamente para adquirirem

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a manutenção do poder e do status quo; (3) fortalece o padrão patrimonialista brasileiro, onde os interesses privados invadem e atropelam o interesse público e (4) gera inúmeras ações negativas que debilitam a república através do enfraquecimento da ação do indivíduo e de uma possível representação civil organizada (Tenório et al., 2010).

Subtende-se a partir desta perspectiva que a participação se desdobra não somente na importância da população nas discussões ligadas às políticas públicas, mas também, na relevância do acesso aos bens e serviços públicos ligados ao bem-estar social. É nesse sentido que Alió (2013, p. 134) distingue entre formas ativas e passivas de participação: “Participação ativa: envolvimento do sujeito que o situa como eixo e protagonista em processos de deliberação e tomada de decisões. Participação passiva: acesso a alguns bens e serviços através das políticas públicas”.

Nesse sentido, ao levar em consideração o histórico das políticas públicas de turismo no Brasil, pode-se aferir que o PRODETUR enquanto programa vinculado ao pensamento desenvolvimentista, em suas duas etapas (I e II) indica como resultado principal a ser alcançado, a geração de emprego e renda6, que, por conseguinte, deve se desdobrar em qualidade de vida para a população na forma de acesso aos serviços básicos necessários ao desenvolvimento humano, tal como preconiza o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Assim, a busca pela satisfação dos elementos fundamentais para a sobrevivência torna a compreensão do conceito de participação complexo e mais abrangente. Conforme Max-neef (2012, p. 28), o desenvolvimento se refere a pessoas e não objetos, sendo assim, será aquele que permitir o aperfeiçoamento na qualidade de vida das pessoas e, por conseguinte, a qualidade de vida depende das possibilidades que as pessoas têm de satisfazer suas necessidades humanas fundamentais, corroborando com o pensamento de Sen (2010).

Para Max-neef (id.), defensor da concepção do “Desenvolvimento à Escala Humana”, diferentemente do que se divulga, as necessidades humanas, não são mutáveis, mas sim os satisfatores ou agentes de satisfação dessas necessidades, ou seja, cada sistema econômico, social e político adota métodos diferentes para a satisfação das mesmas necessidades fundamentais. Sob esta perspectiva, o autor organiza tais necessidades em duas categorias: existencial e axiológica, tendo de um lado, as necessidades de Ser, Ter, Fazer e Estar; e, de outro, as necessidades de Subsistência, Proteção, Afeto, Entendimento, Participação, Ociosidade, Criação, Identidade e Liberdade (pp. 29, 30). E mais uma vez a

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participação surge como necessidade humana que, se satisfeita junto às demais necessidades, conduz ao desenvolvimento.

Partindo do pressuposto do geógrafo Milton Santos (1994) que denomina este período histórico como técnico, científico e informacional, as definições de mundo e lugar se constituem num par indissociável, tornando, no entanto, o lugar como a categoria real, concreta. O lugar é o palpável, que recebe os impactos do mundo, e controlado remotamente pelo mundo. Seguindo este pensamento, no lugar, portanto, reside a única possibilidade de resistência aos processos perversos do mundo, dada a possibilidade real e efetiva da comunicação, e como consequência, a troca de informação que, por conseguinte, à construção política, para a qual se exige como critério fundante, a participação.

É, portanto, nos lugares que se estabelecem uma contradição vivida entre o mundo e o lugar, o que leva o território a impor ao mundo uma revanche, a ideia de percepção efetiva da história como movimento por intermédio da participação social e, com isso, o alcance do desenvolvimento (Santos, 2014). Desse modo, se mostra relevante saber qual é a forma de engajamento e qual o papel reservado ao lugar chamado Maragogi, no mundo considerado “em desenvolvimento” inserido no período técnico-científico-informacional.

1.3 TURISMO E DESENVOLVIMENTO EM MARAGOGI: dos modelos aos fatos

Sobre o PRODETUR I, a própria Embratur (1992, p.5) afirma: “a criação e melhoria da infraestrutura da região induzirá crescentes investimentos privados em hotelaria, animação, gastronomia, artesanato e outros serviços de suporte do turismo, que repercutirão positivamente na arrecadação de impostos e tributos federais, estaduais e municipais com consequentes benefícios para a população local”.

Além desta visão do turismo como uma rota natural, e fácil, de desenvolvimento, essa estratégia de crescente expansão territorial, implementada desde os anos 1990, ocorreu baseada na expansão do número de resorts no país. Os resorts, como observam Rosa e Tavares (2002, p. 87), constituem-se em “hotéis de lazer, situados fora dos centros urbanos, em locais que tenham alguma forma de atrativo natural, e que sejam auto contidos”. Ou seja, são hotéis que oferecem aos hóspedes serviços de lazer variados, visando estimulá-los a permanecer no hotel a maior parte do tempo, constituindo-se, no limite, em hotéis destinos. Com tais características, os resorts combinavam perfeitamente com a lógica da expansão espacial.

Referências

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