ADOLESCÊNCIA
E
SEXUALIDADE:
A
ENFERMAGEMA
NA
coNs'rRUçÃo
DE
UM
PRocEsso
EDUCATIVO
FUNDAMENTADÓ
EM
PAULO
FREIRE
Á .
CONSULTA LOCAL
Florianópolis
Outubro
de
2000
PROGRAMA
DE
Pós-GRADUAÇÃO
EM
ENFERMAGEM
CURSO
DE MESTRADO
EM
ASSISTENCIA
DE
ENFERMAGEM
_
MESTRADO
INTERINSTITUCIONAL
-
- `
FAPERGS
/UFSC
/UFPEL
/FURG/
URCAMP
~
ADOLESCENCIAE
SEXUALIDADE:
A
ENFERMAGEM
NA
CONSTRUÇÃO
DE
UM
OPROCESSO
~EDUCATIVO
FUNDAMENTADO
EM
PAULO
FREIRE
EDENISE
DUARTE GRAFULHA DA COSTA
Dissertação
apresentada ao
Programa de
Pós
Graduaçãc
em
Enfermagem
da
Úniversidade
Êederaí
de
Santa
Cafarina,
como
requisitopara
obtenção
do
titulode Mestre
em
Enfermagem,
área
de
concentração-
Assistência
de
Enfermagem.
“
ORIENTADORA:
Dr”.VALÉRIA
LERCH
LUNARDI
Florianópolis
'-T
.
CENTRO DE
CIENCIAS
DA SAÚDE
-
PROGRAMA
DE
POS-GRADUAÇÃO
EM ENFERMAGEM
CURSO DE MESTRADO
EM
ASSISTENCIADE
ENFERMAGEM
MESTRADO
INTERINS'I`ITUCIONAL -
FAPERGS/UFSC/UFPEL/FURG/URCAMP
ADOLESCÊNCIA E
SEXUALIDADE:
A
ENFERMAGEM
NA
'
CONSTRUÇÃO DE
UM
PROCESSO
EDUCATIVO
_ `FUNDAMENTADO
EM
PAULO
FREIRE
DENISE
DUARTE GRAFULHA DA
COSTA
Esta
dissertação foisubmetida
ao
processode
avaliação pelaBanca
Examinadora
para a obtenção
do
título de: '.
MESTRE
EM
ENFERMAGEM
AREA
DE CONCENTRAÇAO
-ASSISTENCIA
EM
'
'
ENFERMAGEM
e
aprovada
na
sua
versao finalem
31 de outubro de 2000,
atendendo
as
normas
da
legislação vigenteda
Universidade
Federalde
Santa
Catarina,Programa
de
Pós-Graduação
em
Enfermagem.
pjwlg
~
*
Dra.
De
`. e Elvira Piresde
PiresCoordenadora
do
Curso
BANCA
EXAMINADORA:
umha
as
/mz,
`z/Já
Dr.” Valéria
Lerch Lunardi
D/ví/“ Rosangí onçalves NitsçlileePresidente _ /I
Membro
Dr.” Flavia
Ramos
a
n
I
Dedico
esta dissertaçãoao
grupo
de adolescentes
que
fizeram partedesse
trabalho,porque
sem
elesnada
teria valor;com
eles,pude
compartilhar
minhas
ansiedades, incertezas e satisfações.Nesta agradável
convivência, foi possivel a
elaboração
desse
trabalho,através
do
acompanhamento
de suas
atitudes,reações
ecomportamentos.
_ Acredito
não
terpassado
nenhuma
liçãoou
ensinado
algonovo,
mas,
sim, ter facilitado asua
descoberta
do
quanto são capazes
de
transformar a realidade. ' '
A
minha
filha Flávia, hoje,com
dezesseis anos,que nasceu no
inicioda
minha
adolescência, que,no
dia a dia,se
fez presente epor
issoparticipou
e
acelerouo
meu
processo
de
amadurecimento.
Foiresponsável
por desencadear minha
reflexão e que,cada
vez mais,ensina-me
a acreditarno
potencial desta fase, transitória,mas
de importânciafundamental para o
desenvolvimento da
cidadania e caráterdo
serhumano.
`
.
à
l _
ÀGRADECIMENTOS
ESPECIAIS
-\
A
Deus, por terme
direoionado_a vida,sempre
iluminando omeu
caminho.À
Valéria, pela dedicação, pela incomparável sabedoria e competência.Obrigada pela compreensão, pela amizade, pelo carinho e por estar
sempre
presente. Hoje, entendo
o
quanto foi necessário f'.refazer”', e o quanto tivestepaciência. Contigo, aprendi muitas coisas e entre elas, a gostar do computador. e,
também, que
construiruma
dissertaçãonão
é tarefa fácil eque não
se constróicom
pressa; muitas vezes, tive dificuldadeem
entender esse processo,mas
agora sinto-me satisfeita e gratificada.
És
responsável pelomeu
amadurecimento,a tua presença foi fundamental, Obrigada por
me
Orientar! -E
ao
teuesposo
Wilson eaos
teus filhos, agradeço a receptividade e agentileza
com
que
.sempreme
receberam
nos diversos horários.Aos
adolescentes que
participaramdesse
trabalho, porquesem
elesnão
teria sido possivel.. Pelo carinho, disponibilidade, interesse e seriedade. *
Í
1
A
minha
família, por ser abase de
tudo,onde
aprendi a amar, respeitare
valorizaro
serhumano
por
mais “diferente”que
ele seja.Ao
Flávio, por essesdezenove anos de
convivência,e
por tentar entender asminhas
ausências; contigo aprendi a encarar a vida, à Flávia, por acreditarsempre
que sou
capaz, pela amizade, força, respeito, pelos conselhos eprincipalmente pelo
amor
e
confiança. _ AV .
Aos
meus
pais,Ana
e
João.À
minha
mãe,
pela força,coragem
paraencarar a vida, pelo
amor
e
dedicaçãoao
trabalho,e
incentivode
sempre,por
não
ter permitido
que eu abandonasse
osbancos
escolares,com
dezesseis anos,~
quando
deixeide
sersomente
adolescentee
passei a ser mae.Ao
meu
pai que,mesmo
de
maneira atrapalhada,me
fez seguirem
frentee
estevesempre
torcendo pelo
meu
sucesso.A
vocês,sou
muito grata e tenho a maior admiração.A
minha
madrinha Noeli, por acreditar, pelo carinho e compreensão. Vejo,em
ti,um
exemplo de
mãe
e dedicação.Ao
meu
primo Marcelo, pela inocênciae
pelo sorriso
sempre
presente. ~Aos
meus
irmãos,João
André,
Ana
Cristinae
Jaqueline, pela torcidamesmo
a distância.Ao
meu
sobrinhoJonas
que,mesmo
com
apouca
idade e inocência,me
deu
uma
“liçãode
vida”, fazendocom
que eu
amasse
muito mais a vida eas
pessoas. .
~
A
Zilla, Solange, por acreditarno
meu
esforço,e
a Carmelita,que
embora
não
esteja maisno nosso
convívio,sempre
acreditou.A
Dulce, pela amizade, torcida; e por cuidardo
Flávio e da Flávia todoo
tempo, e por organizar
e
administrar anossa
casa.À
amiga
Vera Lúcia TeixeiraArejano
que,desde o
início dessa trajetória,me
deu
estímulo,amizade
e acreditou.É
maravilhosopoder
contar contigo.Obrigada! ~
- 'L
«
Às
colegasde
mestrado' Gisa, Ivete, Graça, Mariângela,Jacque,
Kênia,Giovana, Susi, Gladis, Benildes, Luca, Jaqueline, Lisiane, Francisca, Emília,
Rosaní, Sílvia, Marilú, Janice, Débora,
Simone,
Alicee
Solange.O
nosso
convívio foi Ótimo, aprendi muito
com
vocês. _E
com
carinho a turmado
GOLF.
Transporteem que
a Ivetenos
conduziaa mim,
e
a Gisanos nossos
muitos “ires e vires” a Pelotas.O
nosso
convíviopermitiu'
uma
maior aproximação; certamente ficarámarcado
em
nossa “trajetóriarumo
ao
tema”.No
GOLF,
tudo era permitido: desabafos, confidências, críticas,comentarios
mas
a regra principal era o "sigilo",após
sairdo
GOLF,
nada
poderiaser comentado. Parceiras, esse
momento
foi muito importante, adoro vocês.À
Graça
pela parceria, amizade,que
conquistamos. Foi ótimo convivercontigo. ' '
À
coordenadorado
mestrado, Luciane, peloseu
bom
senso,profissionalismo
e
carinho.Aos
professores
e diretoresda
escolaonde
realizei esse trabalho, peladisponibilidade e aceitação. ~ -
-
À
Universidade Federalde
Santa Catarina, à'Fundação
UniversidadeFederal
do
Rio Grande, à Universidade Federalde
Pelotase ao
corpo docentee
funcionários, pela dedicação.À FAPERGS,
pelo apoioe
incentivo a pesquisa.À
direção ^"o .Técnico Industrial Prof. Mário A/quatida
Fundação
Universidade Federaldo
Rio Grande, (CTI),Alexandre
eEdda,
pelaQ
Q (Ú Sl (Ds*E
receptividade e respeito
que
sempre demonstraram ao
meu
trabalho.À
colegade
À
professorado
departamentode Educação
e Ciênciasdo
Comportamento,
da Fundação
Universidade Federaldo
Rio Grande,Guiomar
Freitas Soares, pelo apoio e incentivo.
À
banca
examinadora, pela disponibilidade e contribuições.A
todos osamigos que
atravésde
paiavras, gestos e atitudes contribuírampara rea//zação deste trabalho. Muito Obrigada!
COSTA,
Denise Duarte Grafulha da.Adolescência
e sexualidade: aenfermagem
na construçãode
um
processo educativo fundamentadoem
PauloFreire. Florianópolis, 2000. Centro
de
Ciências daSaúde
da
Universidade Federalde Santa Catarina. Dissertação apresentada
ao
Cursode Pós-Graduação
em
Assistência
de
Enfermagem
daUFSC,
Mestrado lnterinstitucional -FAPERGS/UFSC/UFP-EL/FURG/URCAMP,
para obtençãodo
título de Mestre. Orientadora: Dra. Valéria Lerch Lunardi.A
partir'de
um
número
crescente» de» adolescentes grávidas' e, na maioria dasvezes, gravidezes
que não
pareciam ter sido resultantesde
um
planejamentoprévio, foi possível observar seus medos, angústias e desconhecimentos assim
como
a necessidade de informação, de conhecimento sobre o seu corpoe o
que
acontece
com
elas. Optei, então, por construirum
processo educativocom
adolescentes, de
uma
escola pública,baseado
em
alguns conceitosde
Freire,focalizando a seݍualidade em os
temas
nela envolvidos, tendo a intençãode
favorecer
uma
maior instrumentalização dos adolescentes no atendimentode sua
sexualidade, tendoem
vista of seu processode
cidadania. U-ma propostaem
que
os sujeitos participantes fossem ativos
numa
concepção
pautada pela liberdade eautonomia dialogal, crítica ei. critizadora.,
Embora
a temática central deste estudoseja a Sexualidade na Adolescência, surgiram vários
temas
os quaisficaram
sistematizados:O
Processode
Adolescer:O
Exercicioda
Sexualidade eda
Cidadania, Drogas e Adolescência eO
diálogocomo
instrumento para a construçãoda
Cidadania.A
partirdo
momento
em
que
problematizamos emrefletimos
uma
situação vivida, analisando o cotidianode
maneira crítica,passamos
a
nos reconhecercomo
sujeitos históricos, portanto,capazes de
atuar para transformar a realidade.COSTA,
Denise Duarte Grafulha da.Adolescence
and
Sexuality- Nursing in the construction of an educational process based on Paulo Freire. Florianópolis, 2000. Science and Health Center of the Federal University of Santa Catarina.Dissertation introduced to the post-graduate course in nursing assistance of the
UFSC,
A
Master Degree -FAPERGS/UFSC/UFPEL/FURG/URCAMP,
to achieveA
Master Degree.
Guidance: Docteress Valéria Lerch Lunardi.
Taking into consideration the great percentage of pregnant adolescents:
And
most
of the time, these pregnancies didn'tseem
to have been the result of a previousplanning, lt.
was
possible to observe their fear,. angui-sh anda ignorance as well as aneed of reliable information, a knowledge of their bodies and what
happens
tothem. I opted for the building of an educational process with adolescents of a
public school based on Freire's concepts focussing on the sexual aspect
and
themes
involving. this specific area. lt was.my
intention to provide a- betterassistance to the adolescents concerning to their sexuality viewinyg to their
citizenship process.
A
proposal in thai the participants. would bemore
activebased
on a conception towards freedom
and autonomy
to talk,were
they could acceptcriticism
and
also- to discuss things, to criticise and to- be. able to question. Althoughthe main thematic of this study is the sexuality during the adolescence, several
themes
appeared whichwere
systematized: the process of becoming» anadolescent: to experience or express sexual feelings,
and
the right to develop thecitizenship,. drugs and adolescence
and
the dialogue as ameans
to achieve the.ideal citizenship. Starting from the
moment
in whichwe
can express our doubtsand to reflect.
a
lived situation, analyzing the daily events: in a critical way, therefore, being able to actand
to transform the reallity._
APRESENTAÇÃO
... ... .. 1CAPITULO
|-
|NTRODuÇÃO
... ... ._ 3CAPÍTULO
II-
UM OLHAR
PARA A
SEXUALIDADE,
DESENVOLVIMENTO
DO
SER
HUMANO
E
ADOLESCÊNCIA
... ... .. ... .. 132.1 _-
SExuAL|DADE,
DESENVOLVIMENTO
DO
SER
HUMANO
E
ADOLESCÊNCIA
... ... ... ... ..1õ 2.2-
GRAVIDEZ
NA
ADOLESCÊNCIA...`
... ..22~
CAPÍTULO
m
_
A
OPÇAO
POR
|=RE|RE ... ..253.1
-
METODOPAULO
FREIRE
... ... ... ..2eCAPiTui_o
iv_
A
CONSTRUÇÃO Do
MARCO
coNcE|TuA|_
... ..32CAPÍTULO v
‹_O
CAM|NHO
METODOLÓGICO.
... ..39
5.1
-
O
LOCAL
E
OS
SuJE|TOS
... ... ..4o 5.2-
O
PROCESSO
EDUCATIVO
... ..435.3
-
ANÁLISE
DOS DADOS
... ... ..53CAPiTuLo
v|_
ADOLESCÊNCIA
E
sE×uAuDADEz
A
ENFERMAGEM NA
CONSTRUÇÃO
DE
UM PROCESSO
EDUCATIVO
FUNDAMENTADO EM
PAULO
FREIRE
... ..- ... ..556.1 -
O
PROCESSO
DE ADOLESCER:
O
EXERCÍCIO
DA
SEXUALIDADE
E
DA
CIDADANIA
... ._56
6.1.1-
O
Processo Adolescer
... .§.§ ... ..57
6.1.2
-
O
Adolescer
eo
Exercício diaSexualidade
... ..596.1.3
-
C) Adolescer, a Sexualidade e asRelações
de
Gêner0..., ... .,666.1.4
-
O
Exercícioda
Sexualidade eda Cidadania
... ..71 xc|OAOAN|A
... ... ... .j. ... ..s3CAPÍTULO
VII-CONSIDERAÇÕES
FINAIS
... ..96BIBLIOGRAFIA
... ... ..105
ANEXOS
... .. 1171
Diante da constatação
de
um
número
crescentede
adolescentes grávidase, na maioria das vezes, gravidezes
não
resultantesde
um
planejamento préviocom
múltiplos sentimentos envolvidos, assimcomodo
desconhecimento do
adolescente sobre o seu próprio corpo, optei por construir
um
processoeducativocom
adolescentes,de
uma
escola 'pública .baseado `em
alguns conceitosde
Freire, focalizando a sexualidade e os
temas
nela envolvidos, tendoem
vista oseu processo de cidadania. V _
Este trabalho
compõe-se de
sete capítulos.No
capítulo l, Introdução, relato algunsmomentos
que
considero maisrelevantes na
minha
trajetória profissional, apresentandotambém
osmeus
questionamentose
inquietaçõesem
relação à sexualidadedo
adolescente, outrostrabalhos sobre o tema, assim
como
omeu
comprometimento na
buscade
uma
maior instrumentalização
do
adolescenteno
atendimentode sua
sexualidade edo
seu processo de cidadania, explicitando,
também,
os objetivos deste trabalho._ ‹
¬
No
capitulo Il,Umolhar
para a sexualidade,desenvolvimento
do
serhumano
e adolescência, apresentouma
revisãoda
literatura, focalizando odesenvolvimento
do
serhumano,
a Adolescência e a Gravidezna
Adolescência.No
capítulo lll, apresentoA
opção
por
Freire ,esua
proposta
teórico~metodológica, já
que
este autor constitui-sena
principal referênciado
processoeducativo construído. '
l
No
capitulo IV, apresento a construçãodo marco
conceitual.São
descritosos pressupostos e conceitos
que
nortearam a prática assistencial.No
capitulo V, descrevo ocaminho
metodológico.Após
caracterizar o localem
que
este trabalho foi desenvolvido, apresento 0 processo educativoimplementado,
em
que
os sujeitos participantesfossem
ativos,numa
propostadialogal, critica e critizadora.
No
capítulo VI,denominado Adolescência
e Sexualidade:Construção de
um
Processo
EducativoFundamentado
em
Paulo
Freire, são apresentados ediscutidos os três grandes
temas
desenvolvidos neste processo educativo.Embora
a temática central deste estudo tenha sido aSexualidade
naAdolescência, é necessário destacar
que
os três grandestemas
foramabordados
de
modo
bastante articulado, pois encontram-se fortemente intrincados. .CARHUEOI
. .
Í
INTRODUÇAO“
Quando
se
viajaem
direçãoa
um
objetivoé
muito
importante prestaratenção
no
caminho.
O
caminho
éque sempre
nos
ensinaa
melhor
maneira
de
chegar,e
nos
enriquece,enquanto
o
estamos
cruzando.Durante a
minha
trajetória profissional, tive a oportunidadede
trabalharcomo
professorada
disciplinaEnfermagem
Ginecológica e Obstétricano Curso
de
Graduação
em
Enfermagem, na Fundação
Universidade Federaldo
RioGrande
-
FURG,
realizando oacompanhamento
de
alunos nas aulas práticas eestágios
no
Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., -maisespecificamente, na Maternidade e Centro Obstétrico. Neste período, foi
me
despertando
uma
grande curiosidade e,ao
mesmo
tempo, interesseemabordar,
mais
de
perto, o assunto “Planejamento Familiar”, devido à constataçãode
um
número cada
vez maiorde
adolescentes grávidas e, na maioria das vezes,gravidezes
que não
pareciam ter sido resultantesde
um
planejamento prévio.Foi possível observar o desconhecimento, medos, angústias, falta
de
informação
que
essas clientes transmitemao
profissionalque
lhes prestaassistência.
Ao
mesmo
tempo, entretanto, expressam, aparentemente,uma
grande necessidade
de
informação,de
conhecimento sobre o seu corpo, sobreo
que
acontececom
elas. Diante desta situação,algumas
questões foramemergindo: Por
que
vem
aumentando
onúmero de
gravidezesna
adolescência?Têm
feito usode
anticoncepcionais?Como?
Qual ocompromisso
da profissionalenfermeira diante
dessas
clientes?Que
tipode compromisso temos
com
essas
adolescentes?
É
possivel participarna
modificação deste quadro?Como
sediscute sexualidade
com
os nossos adolescentes? Existeespaço
para o diálogo ea discussão?
A
informação, o esclarecimento é feito? Seráque
estásendo
feitocomo
deveria? 'Aparentemente, ai* linguagem
que
usamos, a maneiracomo
nos
expressamos,
ou
seja, 0que
se entende por diálogopode não
estarsendo
suficiente,
ou
assim compreendido, jáque
oque
vemos, hoje, éum
número cada
vez maior
de
adolescentes grávidas,de meninos
emeninas
desinformadosem
relação às
mudanças
que acontecem
com
a anatomia e fisiologiado seu
corpo,com
o uso da sua sexualidadede
um
modo
consciente e responsável.Tenho
me
adolescentes atualmente?
Como
o adolescentevem
compreendendo
asinformações e estímulos
que
lhechegam
através dos meiosde comunicação?
Na
tentativade
buscaralgumas
respostas a tais questões e aplacarminha
ansiedade
em
relaçãoao
tema, desenvolvi, jáno_ano de
1997,um
projetoque
pretendia ampliar o conhecimento acerca
da
sexualidade edo
planejamentofamiliar,
de
adolescentesde
uma
escola pública, das 7*_e_ 8° sériesdo
primeirograu
ao
1°ano de
magistério. Nesta proposta, realizava palestras aos alunos e,também,
encontros individuais,num
entendimentodo
meu
compromisso
com
asociedade, na tentativa de,
como
profissionalda
áreada
saúde,aumentar
oconhecimento
do
adolescente sobre a anatomia e fisiologiade
seu corpo, tendoem
vista a prevençãoda
gravidez precoce _Por outro lado, reconheço, hoje,
que
esta proposta partia do que,como
mulher e enfermeira, entendia
como
necessário ser transmitido, acercada
sexualidade, aos estudantes,
podendo
ser caracterizada, a partirde
Freire (1983),como
um
modelo de educação
bancária. Bancária, pois,no
papel de docente, eaparentemente
não preocupada
em
conhecer a realidade e a necessidadede
aprendizagem
desses alunos, decidia,de
modo
independentee
vertical, oconteúdo a lhes ser transmitido.
Atuando novamente
numa
Unidade de
Internação Obstétricade
um
Hospital Geral,como
enfermeira assistencial, além de perceber oaumento da
incidência
de
abortos e gravidezesnão
planejadasem
adolescentes, tenhoassistido a
meninas
parturientes participantesdo
projetoque
havia desenvolvidona
escola. Inicialmente, tal constatação representou, para mim,um
aparenteinsucesso
do
trabalho realizado.No
entanto, observavaque
muitas destasclientes pareciam ter optado pela sua gravidez,
não
manifestando insatisfaçõesou
arrependimento, frente a situação vivida. .Diante desta aparente contradição (a
não
manifestaçãode
qualquerarrependimento
ou
insatisfação frente a sua situaçãode
adolescente grávida),tenho
me
perguntado, se as pessoasnão têm
o direitode
optar pelo exercícioda
necessariamente precisa coincidir
com
omeu modo
de
encarar e analisar tal situação. Neste sentido, fez-se necessário,também,
entender a felicidade esatisfação
de
uma
mãe
paupérrima, frenteao
nascimentode
seu sétimo filho, oque, inicialmente, para mim, significava algo inaceitável, tendo
em
vistameus
valores, crenças e
modo
de
viver. »Neves; Socal (1999),
ao
realizarem o trabalho: Gravidezna
adolescência:um
perfil das puérperas adolescentes da. rede Públicade
Santa Maria -~RS,procuraram identificar os conhecimentos. sobre -sexualidade e sentimentos
revelados pelas adolescentes
em
relaçäoao
bebê
e à maternidade, constatandoque
os sentimentosmais
referidos foramde
felicidade e satisfação. Foievidenciada a necessidade
de
repensar a gravidez adolescentenão
sócomo
uma
problemática
da
áreada
saúde,mas também
de
âmbito sociale
cultural. .A
possibilidadede
ter tido acesso à Teoriado Cuidado
Transculturalda
Diversidade e Universalidade
de
Leininger (1991) parece trazer respostas,também,
a algunsdos
meus
questionamentos,ou
seja, para'compreender
ascrenças, os valores, o mod_o
de
viver das pessoas, é necessário consideraro
seu
contexto cultural.
Não
parece ser possível entenderuma
ação
como
de
cuidadoao
outro, partindo, apenas, dosmeus
valores, hábitos, crenças emodos
de
viver,sem
buscar conhecer, respeitar e considerar os valores, as crenças e hábitosdaqueles seres
que pretendemos
cuidar.Parece-me que
a sexualidade, e osdemais temas
nela envolvidos,como
as práticas sexuais, a gravidez, oplanejamento familiar, dentre outros, estão muito relacionados à cultura,
o que
pode
se aplicar aos adolescentes.Assimcultura
pode
ser entendidacomo
“o resultadoda
atividadehumana,
do
esforço criador e recriadordo
homem,
de
seu trabalho por transformare
estabelecer relações
de
diálogocom
outroshomens”
(Freire, 1980, p. 38).O
interesse por desenvolver urna Prática Assistencialcom
um
grupode
adolescentes focalizando a sexualidade, deu-se,
também,
pela necessidadede
resgatar e reconstruir, internamente,
uma
parteda
história, pois por maisque nos
facultaruma
compreensão
melhordo nosso
passado,pode
nos daruma
compreensão
melhordo
SerHumano
que
somos
no
presente.Na
realidade,qualquer esforço para a
compreensão da
naturezado
SerHumano
será maisgratificante se for
combinado
com uma
tentativade
noscompreendermos.
O
trabalho
com
adolescentesme
permitiu teruma
visão mais profundados
problemas enfrentados
em
minha
adolescência e fazeruma
reavaliaçãode
mim
mesma
e dos conflitos interioresnesse
processo vivido. Hoje,com
trinta e trêsanos,
mãe
de
uma
adolescentede
.dezesseis anos,como
serhumano
eenfermeira, sinto-me comprometida na
busca de
uma
maior instrumentalizaçãodos adolescentes no atendimento
de
sua sexualidade.O
número de
trabalhos publicados acercada
sexualidade na adolescênciae os
demais temas
nela envolvidos,tem
sido crescente nestes últimos anos.Dentre estes, destaco alguns estudos, tais
como
osde Cadete
(1995),Mendes
(1995), Araújo (1996), Santos (1996),Guimarães
(1999), Bogaski et al (1999),Souza
e Costenaro (1999), Curty et al (1999),Camargo
et al (1999),Cano
et al(1999), os quais apresento, sucintamente, a seguir.
O
estudo realizado porCadete (1995)
foibaseado no
quechamou
momento
da
temporalidade existencial:O
adolescer.A
análise fenomenológicacompreensiva
dos
discursosde
15. adolescentes revelouque
acompreensão do
ser
no
mundo
adolescendo,engendrada
de
“dentro para fora”,num
verintencional, mostra
uma
existênciaque
se faz compartilhada,num
universode
possibilidades.Nessa
perspectiva,Cadete
encontrou novos horizontesno
pensare
no
assistir o ser adolescendo.Já
Mendes
(1996) realizouum
trabalhocom
adolescentes, deum
bairroem
Salvador-Bahia, quanto à possibilidade
de
gravidezno
exerciciode sua
sexualidade. Colheu seus
dados
atravésde
entrevista focalizada e daobservação
-
participante.Os
resultados foram apresentados na formade
esquema
conceitual
como
um
processo,denominado
“Percebendo o relacionamentoDescobrindo a sexualidade, aprofundando o namoro, iniciando o relacionamento
sexual e
percebendo
a possibilidadede
gravidez.Araújo (1996) realizou
um
estudoque
teve por objetivo pesquisar oconhecimento dos adolescentes sobre a sexualidade
humana,
nos seus aspectosbiopsicossociais e, diante disso, elaborar
um
planode
intervençãode
enfermagem. Para tanto, realizou
uma
pesquisa exploratória descritivacom
216
alunos da›_3° à 8* séries dos horários diurno e noturno,
de
uma
escola pública,utilizando
um
questionário estruturadoeenfocando
os aspectos biopsicossociaisda
sexualidadehumana.
O
diagnósticode
enfermagem
identificado foide
Déficitde
conhecimento sobre sexualidade,Doenças Sexualmente
Transmissíveis(DST)
e
Sindrome de
Imunodeficiência Adquirida (AIDS).A
autora sugereuma
tomada
de
decisõesem
viabilizar a participaçãodo
Enfermeirode
Saúde
Públicano
provimento
de
orientação sobre ostemas
relacionadoscom
a sexualidadehumana,
em
escolas,com
o objetivode promover
o bem-estar no exercícioda
sexualidade
dos
adolescentes,com
base
nos direitoshumanos
e nosrelacionamentos
de
igualdade ede
respeito mútuo.Santos (1996) focaliza a sexualidade
em
tornode
representações sociaisno
cotidiano,com
o objetivode
analisar a visão e vivênciasde
adolescentes erespectiva influência familiar. Tornou-se visivel a construção
da
sexualidadecom
valores renovados
de
vivenciar a livre escolha, conservação da virgindade, rupturade
estereótipos, retraimentoda
corporalidadeem
formação, proteçãofrente a risco da
AIDS
e gravidez indesejada. -No
estudoMétodos
Anticoncepcionais e adolescência:Uma
realidadeem
escolas públicas
de
Aracaju,Guimarães
(1999) identificouem
adolescentes, escolaresdo
ensino médio, suas informações sobremétodos
anticoncepcionais,concluindo
que 57,7% não obtém
informações sobremétodos
anticoncepcionais e75,6% não conversam
sobre anticoncepcionaiscom
os pais,59,0%
admitiram tervida sexual ativa e
62,1%
afirmam fazer usode métodos
anticonceptivos, verificando-se a predominânciado condon
masculino (672%), seguidoda
pilulana farmácia,
sem
receita médica. Constatou, ainda,que
das adolescentesque
jáhaviam tido relação sexual,
49,7%
tinham engravidado pelomenos
uma
vez.Detectou
que 90,2%
dos adolescentespossuíam
dúvidas sobremétodos
anticoncepcionais e manifestaram interesse
em
conhecer melhoro
assunto..Já Bogaski et al (1999),
ao
realizarem trabalho sobreo
exercicioda
sexualidade
na
adolescência,com
estudantesdo
1° e 2° graus deuma
escola pública euma
privada,da
cidadede
Joinville-SC, concluíramque
a grandemaioria residia
com
os pais,eram
solteiros/as e referiram ter recebido orientação sexual dos paisou pessoas da
familia,porém
o diálogo sobre sexo deu-se,com
maior freqüência, entre amigos/as.
A
primeira relação sexual ocorreu, para amaioria, entre 13 e 17
anos de
idade,sendo
mais freqüente entre alunosda
escola pública.
A
quase
totalidade manifestou possuir conhecimento sobre osmeios
de
prevençãoda
gravidez e AIDS,porém
muitosnão
os praticavam,sendo
maior este índice entre adolescentes
do
sexo masculino da escola pública (62,0%).A
“confiança no/a parceiro/a", foi o principal motivo alegado paranão
realizar prevenção, seguindo pelo “usode
outrométodo
anticontraceptivo” e "näocorrer risco
de
engravidar”.A
reflexão sobre _aAIDS
mostrou muitomedo,
relacionado à
doença
e morte, além da discriminação social existente.Souza
e Costenaro (1999),no
trabalho:Pensando
a Sexualidadena
Adolescência, junto a alunos
de
7” e 8” sériesde
uma
escola estadualde
1° graudo
municípiode
Santa Maria-RS, tiveramcomo
objetivo principal, possibilitaraos
adolescentes o repensar
de
uma
vida saudável e responsávelde sua
sexualidade.Eram
realizados encontrossemanais
com
os alunos,em
que
ostemas
eram
discutidosde
forma prazerosa e lúdica, atravésde
material educativo.Os
autores' acreditamque
desenvolverum
trabalhode
orientação sexual éprimordial para garantir a construção
de
uma
sociedade democrática, eque
necessitamos, constantemente, rever nossos valores e
romper
preconceitos.Acreditam
que
refletir estas questões enão
se limitarapenas ao
aspecto biológicoCurty eta/ (1999),
com
o objetivode
conhecercomo
as adolescentes estäo secomportando
em
suas atividades sexuais, atentando parauma
possivelcontaminação ou para a possível gravidez constataram
que
grande partedas
adolescentes
que
utiliza contraceptivo oral,ofaz
devido a problemas fisiológicos.Logo, evitam
uma
gestação,porém
sem
o usode
preservativos, tendo grande' V '
I 1 t
possibilidades
de
contrairemalguma DST,
em
especial, o virus HlV.Camargo
et al (1999),no
estudo:Produção
Científicade
Enfermagem
acerca
da
Gravidez na Adolescência' analisaram os livros-resumos dosCongressos
Brasileirosde Enfermagem,
dos últimos anos, constatando que,apesar desta temática estar despertando a atenção
dos
profissionaisde
enfermagem,
de
5.079 trabalhos publicados,apenas 0,73% eram
relacionadosao
tema.
Cano
et al (1999)com
a intençãode
conhecer e analisar os aspectosdo
corpo mais valorizados e importantes para o adolescente, constataram
que
osnúcleos temáticos identificados mostraram a
preocupação
dos adolescentescom
as questões da sexualidade representadas pelo namoro, a transa e os
estereótipos
de
beleza veiculados pela mídia.Os
autoresdestacam
que
osprofissionais
da
áreada
saúde
eeducação
precisam conhecer apreocupação dos
adolescentes
com
relaçãoao
corpo e a sexualidade aflorada, para ajuda-los avivenciar as experiências,
com
mais esclarecimentos,de
modo
aformarem
uma
auto-imagem
aceitável.i
A
partir, então, das leituras, reflexões edo amadurecimento
que venho
me
permitindo para a
compreensão
e buscade
uma
práticade enfermagem que
contemple as pessoas e
sua
bagagem
histórico- culturais, optei por desenvolverum
processo educativo a partirde
Freire, junto aum
grupode
adolescentesde
uma
escola pública d O E9O gv 'ande, focalizando otema da
sexualidade. Nestesentido, tive a intenção
de
favoreceruma
maior instrumentalização dosadolescentes
no
atendimentode
sua sexualidade, tendoem
vista o seu processode
cidadania.. Considerando que, na verdade, a prática
que
implementei constitui-seum
serviço
que
pretendi oferecer à comunidade, antesde
construir o seu projeto, fui auma
escola pública, e verifiquei, junto a professoresde
adolescentes, suasexpectativas e contribuições frente à proposta. Constatei seus interesses nos
seguintes temas: Orientação quanto a
métodos
anticonceptivos, responsabilidadedo
“ficar” (envolvendo -conhecimentoda
sexualidade,de
forma física epsicológica) e a relação entre 'instinto e sentimento.
Os
professores foramunânimes
em
demonstrar total interesse pela proposta, jáque
a maioria dos seusalunos está em- plena fase
da
adolescência, portanto, repletade
dúvidas,questionamentos e interesses próprios
do
periodoque
vivencia.O
interessedos
professores justificou-sa,
também,
pelotseu relatode
não
se sentirem preparadospara responder as questões dos alunos, manifestando interesse,_incIusive,
que
fosse realizado
um
trabalho,com
eles, focalizando a temática sexualidade. Subsidiada, então,com
as informações colhidas dos professores, acredito terplanejado e
construídouma
propostacom
maiores possibilidadesde
atingir osobjetivos pretendidos.
Estabeleci
como
objetivo geral deste trabalho:- Construir
um
processo educativo,com
um
grupode
alunosadolescentes
de
uma
escola pública,baseado
em
alguns conceitosde
Freire,focalizando a sexualidade, tendo
em
vista o seu processode
cidadania. .Como
objetivos específicos:t _
-
.Compreender
algumas
dificuldadesque
os adolescentesvêm
enfrentando
em
relação a sua sexualidade;-
Compreender
algunscaminhos que
os adolescentesvêm
percorrendopara enfrentar as suas dificuldades
em
relação a sexualidade. ''
A
seguir, apresento o capitulo -Um
olhar para a sexualidade, atravésdos
tempos
e Gravidez na Adolescência,em
que
focalizo, inicialmente, alguns_ desenvolvimento
do
serhumano,
em
especial, a adolescência, finalizandocom
a gravidez na adoIescência¿ i J_
UM
OLHAR
PARA
A
SEXUALIDADE:
DESENVOLVIMENTO
DO
SER
HUMANO
E
~
ADoL1:scÊNc1A
~
Somos
responsáveis
por
tudo
que
acontece
neste
mundo.
Somos
os
guerreirosda
Luz.Com
a forçade
nosso
amor,de
nossa
vontade,
podemos mudar
o
nosso
destino,e
o
destino
de
muita
gente.A
construção históricada
sexualidadehumana
sofreu transformaçõesatravés dos tempos. Durante três períodos históricos, Antigüidade, idade
Média
eIdade Moderna, processaram-se
mudanças
de
ordem
religiosa, biológica, moraise espirituais, assim
como
em
relação à sexualidade.Na
Antigüidade, Aristótelesdefendia a tese
de
que
a função sexual erameramente
procriativa(Catonné,1994). .
`
. '
Na
Idade Média, -como
adventodo
cristianismo, a sexualidade torna-se, então, o lugarde
eleiçãodo
pecado,o
estigmado
delitoeo
símboloda
desonra,Santo Agostinho viveu nos séculos lV e
V
e afirmavaque
opecado
se transmitiade
geraçãoem
geração atravésda
relação sexual,sendo
o sexo considerado 'nãosó
um
pecado,como
uma
doença.O
cristianismo, então, seria o seu remédio.A
concepção
agostiniana teria o efeito de, porum
lado, diabolizar o sexo, tão ligadoà decadência, à origem
do pecado
e, por outro, forjarum
ódio à mulher, vistacomo
o símbolode
toda a tentação, responsável pelo destino decadenteda
humanidade
(Catonné,1994).. Nesta relação, verifica~seo
exercíciode
uma
relação
de
poder, na sociedade, doshomens
sobre as mulheres, relaçãoessa
que, devido às suas raízes históricas, se reflete até os dias de hoje,quando
écobrado
um
comportamento
moral diferenciado entre oshomens
e as mulheres.Na
ldade Moderna,com
a evoluçãodo
Freudismo,o
sexo passa a ter outraconcepção
(Freudnasceu
em
1856
e morreuem
1939)?Nos
anos
50, seupensamento passa
a impor-seno
meiomédico
e afirma-se nosanos
70.O
pensamento
freudiano denunciauma
moral persecutória das relações sexuais,que
associa opecado ao
sexo.O
sexo deixade
ser voltadosomente
paraprocriação, enfatizando-se o prazer, deixando
de
ser o objetode
eleição para opecado
e a desonra (Catonné,1994). 'A
sexualidade analisada,em
diferentes épocas, nos dizque o
serhumano
buscou
explicações para justificar. seus relacionamentos afetivos e sexuais,
baseando-se
na natureza, na vontade
de
Deus
e,também, na
vontade dos homens, mas,na
O
casamento
monogâmico
apareceem
todos os períodos históricos,mas
predominantemente no sentido legal, 'não significando a exclusividade
de
um
cônjuge para
com
o outro.As
mulhereseram monogâmicas,
mas, para ohomem,
as regras mostraram-se mais flexíveis, pois, além
da
esposa, outras uniões clandestinas poderiamou não
existir (Capra,1996).Durante muito tempo, as mulheres tiveram
uma
imagem
desvalorizada,sendo
consideradas fracas, submissas edependentes
doshomens,
enquantoque
eles
eram
valorizados socialmente diantede
seus traçosde
agressividade,de
dominio,
de
força físicae virilidade, tidoscomo
“masculinos” (Werebe,1998). Jáque
oshomens ocupavam
essa posiçãona
sociedade, então, grande partedas
pessoas tinha preferência
que
seus .filhosfossem do
sexo masculino.No
passado, as mulheres destacavam-se na sociedade
como
“mulheresdo
Iar,"contentando-se
em
se dedicar exclusivamente às prendas domésticaspo " chefeda
família", o esposo, encarregava-sedo
seu sustento.A
partirda
Segunda
Guerra Mundial, constatam-se, de
modo
mais evidente,mudanças
nos costumes,já
que
mais mulherespassaram
a trabalhar forade
casa e a receber seussalários. _
O
mundo
doméstico já vinhasendo
rompido, gradativamente, poralgumas
mulheres das classes trabalhadoras e
camponesas
que
exerciam atividadesem
m U3 -H Q
_
Ui :.
diferentes espaços/ambientes, trabalhando n * cas, nas oficinas e nas
lavouras.
Com
o passardo
tempo, essas mulherespassam
a ocupar,também,
escolas, hospitais, lojas e escritórios.O
seu trabalho, geralmente, era rigidamente controlado e dirigido porhomens
e as atividadesque
exerciam, consideradassecundárias ou
de
apoio, muitas vezes,eram
ligadas à assistência,ao
cuidadoou
à
educação
(Louro, 1 998).De
acordocom
Vitielo (1993), nas estatísticas mundiais,pode
se constatarque
essa evidênciapassou
a ocupar lugar relevante a partir dadécada de
60,concomitante
com
omovimento denominado
“revolução sexual”.A
partirdo
movimento
hippie dosanos
60, ocorreram grandes modificações,como
uma
Muitos dos costumes,
de
gerações anteriores,passaram
a ser considerados“caretas"'.
Houve
modificações na linguagem, na música,no
comportamento,com
importantes alterações sociais e, dentre essas, procedeu-se,
também,
à inovação sexual.A
virgindade,que
até então era valorizada,passou
a ser vistacomo
um
"tabu", determinando,de
certa forma,um
comportamento
totalmente oposto,sendo
considerado "anormaI"uma
jovem
casar-sesem
ter tido experiência sexualprévia. .
,
As
mulheres, através dos tempos,vêm
lutando por sua liberdade sexual eemancipação
social.Com
a experimentaçãoda
pilula,no
final dosanos
50,e
disponibilidadeno
mercado
americanoem
1960, elas, então,passam
a conquistarparte de sua liberdade, tendo direitoao
prazere
ao
controlede
seu corpo(Catonné,1994).
A
pilula permiteque
a mulher possa planejar o seu futuro, operiodo e o
número
de filhosque
pretende ter, aliviando omedo
de ocorreruma
gravidez involuntária, possibilitando colocar-se
em
igualdadede
projetos existenciaiscom
ohomem.
`
A
mídiapassou
a explorar a sexualidade para ampliar avenda de
seusprodutos,
desde
cigarros até automóveis,numa
tentativade
transmitir a idéiade
uma
"juventude liberada". Atualmente, a sociedade passa porum
processode
transformação,no
qual se verificam alterações emudanças
nos valores econcepções de
virgindade, casamento, maternidade, amor, papéis sexuaisna
relação conjugal,que
temum
impacto significativo na vida dos jovens.2.1
SEXUALID
DESENVOLVIMENTO
DO
SER
HUMANO
E
w
À _ .
ADOLESCENCIA
'ja CI
_!'|`I
Antes
de
focalizar a adolescência, especificamente, pretendo discutiralguns aspectos
do
crescimento e desenvolvimentodo
SerHumano,
em
'
Termo usado pelos jovens para definir as pessoas de gerações anteriores que não aceitam, ou não entendem as modificações e comportamentos dos jovens.
diferentes fases da vida.
A
sexualidadenão pode
ser vistade
maneira isolada efragmentada.
As
relações sexuais são relações sociais, construiclashistoricamente
em
determinadas estruturas, Vmodelos
e valores,que dizem
respeito a determinados interesses
de épocas
e grupos diferentes.A
sexualidadefaz parte
de
todosnós.Desde
que
nascemos,somos
seres sexuados. Antesde
chegarmos
à adolescência,passamos
pela infância enão
podemos
considerar ascrianças
como
assexuadas, ignorando as atitudes e interessesque
lhesdizem
respeito. tV
É
na infânciaque
se evidenciam as manifestações iniciaisda
sexualidade,quando
a criança se deparacom
os primeiros contatoscom
a realidade, atravésdo
carinhoque
recebe dos pais, os primeiros contatos físicos, a alimentação, asbrincadeiras
do
dia a dia, iniciando, então, a reconhecer as primeirassensações
de prazer e desprazer.
Surgem
as suas primeiras descobertas sobre sexo,des P ertando dúvidas Clue, se
não
forem esclarecidas,odem
erar conflitos_
posteriores na adolescência e, ainda, na idade adulta.
De
acordocom Werebe
(1998), os questionamentos das criançascomeçam
entre os 2 e 4anos
de
idade,quando perguntam onde
seencontravam
antes
de
nascer,querem
sabercomo
saíramdo
ventreda
mãe
e,em
uma
etapa seguinte,indagam
sobre o papelda
relação entre os pais.Na
sua concepção,Werebe
considera importanteque
as criançascompreendam
o lugarque
ocupam
as relações sexuais e afetivas entre seus pais,
o que
as prepara paracompreenderem,
mais tarde, a relaçäo entre o ato sexual, a' procriação, a afetividade e o prazer sexual.A
faseque
Freuddenominou
"CompIexo_de Édipo”, sedá
por voltados
trêsanos de
idade,quando
a criança estabeleceuma
relação objetal: amãe
para omenino
e o pai para a menina, os quais representam objetode
seu amor.Com
o
f - '
complexo
de Edipo, culmina e termina a fase infantilda
vida sexual; a maneiracomo
é vivida e resolvida essa fase representaum
papel decisivo para a evolução da personalidade,segundo
a psicanálise (Werebe,1998). 'De
acordocom
muitos historiadores,no
passado, falava-se exclusivamentede
crianças e adultos. Aindanão
está claroquando
foi introduzido o conceitode
adolescência; o
que
se sabe éque
éum
conceito novo, relacionadocom
amodernização, a industrialização e a urbanização. Vários autores consideram
que
é
um
conceito próprio das sociedades ocidentaismodernas
(Mueller, Yur1eS,1993). ` `Os
sereshumanos,
diferentementedos
outros mamíferos,têm
uma
infância
de
extrema dependênciade
seus pais.Ena
infância.que
ocorreo
crescimento rápido nas áreas fisica, emocional,
da
-linguageme
cognição.Segundo
Pikunas (1979), existem tarefasde
desenvolvimento na primeira infânciaas quais incluem aprender novas modalidades
de
locomoção, ingestãode
alimentos sólidos, estabelecimento
do
controleda
higiene, o comunicar-se atravésde
palavras e gestos,bem como
aaprendizagem do
relacionamento emocionalcom
os pais, irmãos edemais pessoas que
convivemno
lar.O
autorchama
de
fase intermediária
da
primeira infância,em
geral, entre o 13° e 15°mês
de
vida,quando
a criançacomeça
a entender as necessidades biológicas, inicia a dar osprimeiros passos,
usando
palavras para se comunicar. .A
Segunda
infância,ou
meninice,tem
três níveisde
maturação: início, fase intermediária e final daSegunda
infânciaou
pré- adolescência.O
período inicialda
Segunda
infância começa, aproximadamente, aos doisanos de
idade,quando
a criança adquire
uma
percepção geralde
simesma
como
pessoa
do
sexomasculino
ou
feminino, faz progressosno
controle esfíncteriano ecomeça
areconhecer os perigos mais comuns, indo tal fase até
os
seis ou seteanos de
idade.
A
fase intermediária (oude
latênciaou
meninice) estende-sedos
seisou
sete
anos
até osnove
ou dezanos
de idade.O
final daSegunda
infânciaou
pré -adolescência começa, aproximadamente, a `
partir dos
dez
anosde
idade(Pikunas,1979). `
'
i
~
Como
definir adolescência?Quando pensamos
na sua definição,temos
que
considerarque
existem diferenças culturais e,também,
sociais,havendo
diferentes etapasda
passagem
da infância à idade adulta. Atualmente,algumas
sociedades, ainda, aceitam os
casamentos
precoces para as meninas, as quaisantecipam responsabilidades e papéis próprios
da
vida adulta.Nas
zonas
rurais,em
famílias muito pobres, os.filhosmenores
começam
_adesempenhar
precocemente as atividades profissionais para ajudar
no
sustentoda
família,passando
a ter responsabilidades adultas. . 'A `
.-` _
O
adolescente vivênciaum
periodo_de
transição entre a infância e a idadeadulta.
A
sociedadepassa
a exigir atitudesdo
adolescente que, até então,não
lheeram
cobradas.Um
exemplo
seria a escola;no
primeiro grau, raramente édada
oportunidade à criança para discutir a profissão
que
gostariade
exercerquando
"crescesse"; já, antes
de
iniciar o ensino médio, o adolescente necessita pensare
decidir, dentre as váriasopções que
lhe são oferecidas,como
fazerou não
um
curso profissionalizante, dentre outras. .
Cronologicamente, a adolescência é determinada entre os 10 e os
22
anos,mas
essa variaçãode
idades vaidepender de
vários fatores,como
omeio
ambiente
no
qual está inserido, suas relaçõescom
o meio social, o tipode
cultura,a religião, relacionamento
com
a família e a sociedade.As
definiçõesde
adolescência variam
segundo
diferentes autores.- 'A
palavra adolescência é derivadado
latim ado/escere, significando crescerou
crescer até a maioridade. Existem fatores biclógicosque dão
condiçõesbásicas para o desenvolvimento
da sexualidadena
adolescência.A
maturação
das
gônodas
constituiuma
condição biológica fundamental para a práticade
certas atividades sexuais.Acontecem
mudanças
anatômicas e fisiológicasna
puberdade;
no
casodo
menino, háo
aumento do tamanho do
pênis e o poderda
ereção, agora
acompanhado
de
ejaculação.No
casoda
menina, ocorre amenarca; o sistema nervoso é
extremamente
sensível às secreções hormonais e,nessa fase, despertam outros interesses.
Usam-se
vários termos para descrever os eventosque
ocorrem durante oprocesso da maturação sexual.
Um
desses termos, apresentado anteriormente, épuberdade, derivado
de
púbis que,num
dos
seus significados, diz respeito àao aparecimento de cabelo na área genital, não é empregado para
denotar simplesmente o
começo
do processo da maturação sexual e sim para fazer referência ao todo do processo completo.A
menarca, ouprimeira menstruação, é
um
importante acontecimento na vida damenina,
mas
a sua ocorrência não significa que ela esteja sexualmentemadura, no sentido de estar apta a produzir óvulos férteis. Nos rapazes,
não há
nenhum
acontecimento único e claramente definido, _a condiçãobásica é o aparecimento da capacidade de produzir espermatozóides,
móveis e férteis (Jusild
apud
Yersil,1997, pz104).Puberdade
é consideradaum
estágiode
transição entre aSegunda
infância e a adolescência; é
quando
se estabelece o processode
crescimentointensificado e
o de
maturação sexual;também
ocorrem desenvolvimentosemocionais, sociais, cognitivos e
de
personalidade (Pikunas,1979).Para Luz, Castro (1995, p. 380), “a adolescência é
uma
fase evolutivade
grandes transformações
que
implicauma
experiênciade
crescimento biológico,sócio- cultural, psicológico e cognitivo.”
É
uma
etapade
nossas vidas,marcada
por transformações,
no
qual o SerHumano
modifica a anatomia e fisiologiade
seu corpo e essas
mudanças
ocorremnum
periodo muito curto.Sendo
assim,na
maioria das vezes, o adolescente
tem
dificuldadesem
lidarcom
o desconhecido;sofre, junto
com
essasmudanças
anatômicas e fisiológicas, modificações,também,
na sua formade
pensar, sentir e agir:o período de adolescência tem sido considerado de várias maneiras
como
uma
ocasião de tormenta e stress,uma
idade de frustração esofrimento, uma-amplitude de intensificação de conflitos e crises de
ajustamento,
uma
fase de sonhos e devaneios, de romance e amor,r
uma
era de alheamento da sociedade e culturas adultas.De
outro pontode vista, o adolescente pode ser caracterizado
como
em
um
estágio debusca do seu eu, assinalado por afiliação intima de pares e formação de
"panelinhas", pelo descobrimento de altos valores e ideais, pelo
desenvolvimento da personalidade e formação de identidade e pela
consecução de status adulto
com
suas tarefas e responsabilidadesdesafiadoras (_Pikunas,1979, p. 274). -
Sendo
a adolescênciaum
período repletode
acontecimentos, muitas vezes, 0jovem não
se encontra preparado para enfrentá-los; idealiza situações eespera
que
assim aconteçam,mas
nem
sempre
vivencia tal realidade; passa,então, a sofrer stress, frustrações, conflitos e sofrimentos. Sente-se manipulado
¡« _
V
i' .
, _
amor não
correspondido, por se sentir incompreendido pelos adultos e reclamadiante das responsabilidades e tarefas
que
lhes são. atribuídas.Konopka
apud
Pikunas, (1979, p. 274) vê a adolescência como: 9 -
um
segmento importante da continuação do desenvolvimento humano.Distingue a primeira adolescência (dos doze aos quinze anos), a adolescência intermediária (dos quinze aos dezoito) e a adolescência final (dos dezenove aos vinte e dois anos). Considera, ainda, aquela amplitude de vida de
uma
jovem pessoa entre o advento Óbvio da'
puberdade e o término do crescimento ósseo. '
E-sta definição
pode
ser completada poruma
referência a“uma
situação marginalem
que têm de
ser feitos novos ajustamentos, quais sejam, osque
distinguem o
comportamento do
adultoem
uma
dada
sociedadef'(Muuss
apud
Pikunas, 1979, p. 274). * l
'
_
.-
. Para
Salzman
apud
Pikunas (`›1l979, p. 274), “adolescência éuma
época de
desenvolvimento, fascinante
em
suifas possibilidades variadasde
*crescimento paracada
indivíduo.É
um
períodoque
transporta cargasmarcadas
epesadas
epesados
encargos e, por isso,»é caracterizada por' grande aflição e angústia mental".Na
construçãode
sua nova identidade, o adolescente procura,nas
outras pessoas, nos adultos,um
modelo
a seguir. Geralmente, énessa
faseem
que
costumam
colecionar fotosde
artistas emodelos
famosos;.observam
osadultos
que
estão à sua volta, captando os aspectos positivos e negativos para aformação
dessa
nova identidade.A
participaçãoda
família éde
grande importância para a transformaçãode
sua identidade. Freqüentemente, sentem-se contrariados pela família,
sendo
fundamental, neste
momento,
a confiançaque
depositamem
seus pais. Estes,por
sua
vez,devem
estabelecer limitesaos
seus filhos, jáque se
viveem
sociedade e, portanto, existem regras a
serem
seguidas.Como
característicadeste periodo, os adolescentes procuram aproximar-se e agregar-se a outros,
que
julgam estar vivenciando situações semelhantes às suas,
numa
tentativade
alcançar
uma
compreensão
e, até,uma
aceitaçãoque
podem
não
perceberem
suas próprias familias.
Para Desser (1993, p. 17),
numa
concepção
moderna:»
I