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Relação do perfil psicomotor e desempenho cognitivo em crianças com e sem dificuldades de aprendizagem

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Academic year: 2021

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I

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Departamento de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde Mestrado em Educação Física e Desporto

Especialização no Desenvolvimento da Criança

Relação do Perfil Psicomotor e Desempenho

Cognitivo em Crianças com e sem Dificuldades

de Aprendizagem

Daniela Filipa Silva Pinto

Orientadora:

Professora Doutora Eduarda Maria Coelho

Coorientadora:

Professora Doutora Isabel Mourão-Carvalhal

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II Dissertação apresentada para obtenção do grau de mestre em Desenvolvimento da Criança no Curso de Mestrado em Educação Física e Desporto

conferido pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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III “A acção faz a cognição e a cognição faz a acção” Fonseca, 2001

“A psicomotricidade educa o movimento, ao mesmo tempo em que estabelece relações profundas com a inteligência e afectividade.”

(4)

IV

Índice

Índice de Tabelas ... V Índice de Figuras ... VI Índice de Siglas ... VII Agradecimentos ... VIII Resumo ... IX Abstract ... X

1. Introdução ... 1

2. Artigos ... 8

2.1 - Perfil psicomotor e capacidade intelectual em crianças com e sem dificuldades de aprendizagem ... 9

2.2 - Influência do Perfil Psicomotor e Estatuto Socioeconómico no Desempenho Cognitivo ... 18 3. Conclusão Geral ... 33 4. Propostas futuras ... 36 4.1 – Investigação ... 37 4.2 – Atividades sugeridas ... 38 5. Referências Bibliográficas ... 44 6. Anexos ... 49

a) Protocolo Bateria Psicomotora, de Vítor da Fonseca ... 50

b) Protocolo Matrizes Progressivas Coloridas de Raven ... 55

c) Outputs MANOVA ... 57

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V

Índice de Tabelas

Tabela 1 – Análise descritiva dos dados da BPM e MPCR ... 11

Tabela 2 – Média e Desvio Padrão das variáveis significativas resultantes da

MANOVA ... 12

Tabela 3 – Efeitos principais e interações das variáveis independentes das MPCR e

BPM ... 13

Tabela 4 – Correlação das MPCR com fatores psicomotores e variáveis

socioeconómicas ... 23

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VI

Índice de Figuras

Figura 1 – Efeito das DA x Género nas MPCR ... 13

Figura 2 – Efeito das DA x Escolaridade na BPM ... 13

Figura 3 – Interação entre DA x Escolaridade na Equilibração ... 13

Figura 4 – Interação entre DA x Escolaridade na Praxia Global ... 13

Figura 5 – Interação entre DA x Escolaridade na Praxia Fina ... 13

Figura 6 – Efeito das DA x Escolaridade nas MPCR ... 67

Figura 7 – Interação entre DA x Escolaridade na Tonicidade ... 67

Figura 8 – Interação entre DA x Escolaridade na Lateralização ... 67

Figura 9 – Interação entre DA x Escolaridade na Noção do Corpo ... 67

Figura 10 – Interação entre DA x Escolaridade na Estruturação Espácio-Temporal ... 67

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VII

Índice de Siglas

BPM – Bateria Psicomotora

DA – Dificuldades de Aprendizagem

DAE – Dificuldades de Aprendizagem Espefícicas E – Equilibração

EET – Estruturação Espácio-temporal ESE – Estatuto socioeconómico L – Lateralização

LD – Learning Disabilities

MPCR – Matrizes Progressivas Coloridas de Raven NC – Noção do Corpo

NJCLD – National Joint Commitee on Learning Disabilities PF – Praxia Fina

PG – Praxia Global

SES – Socioeconomic Status

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VIII

Agradecimentos

Foram muitos, aqueles que contribuíram para a concretização de mais uma etapa de grande importância e significado na minha vida, sem os quais, tal conquista seria de duro e difícil acesso. Assim, refiro-me em particular:

- à Professora Doutora Eduarda Coelho, pela sua competência e dedicação na orientação deste trabalho, bem como todo o apoio e paciência dispensadas;

- à Professora Doutora Isabel Mourão, pela sua competência e conhecimentos dispensados;

- à UTAD, pela oportunidade de aceder a este mestrado, como complemento da minha formação académica;

- aos Diretores das escolas envolvidas no estudo, bem como professores, por toda a colaboração e compreensão para a realização das avaliações;

- às crianças, pela sua boa disposição, participação, entusiasmo, curiosidade, empenho e vontade de ajudar nos momentos de avaliação;

- à Adriana e Filó, por todo incentivo, partilha de ideias, momentos de estudo, de boa disposição, brincadeiras e enorme companheirismo;

- ao meu avô João, pois sem ele não seria possível a concretização de mais uma etapa;

- aos meus pais, por todo o amor, conselhos, apoio incondicional e entrega ao longo de todo este trabalho;

- à minha irmã, por querer que eu vá sempre mais além e não me deixar parar, pela companhia nas viagens, por todas as opiniões e amizade sinceras;

- ao William, por toda a paciência e carinho dispensados, por amenizar as minhas inseguranças, ansiedades, frustrações e medos.

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IX

Resumo

O presente estudo tem como objetivo geral verificar a relação do perfil psicomotor e desempenho cognitivo em crianças com e sem dificuldades de aprendizagem (DA). Esta investigação foi dividida em dois estudos, fazendo-se, numa primeira fase, uma abordagem mais geral sobre a interação das DA, do género e do ano de escolaridade no perfil psicomotor e desempenho cognitivo e, numa segunda fase, um estudo mais específico sobre a influência do perfil psicomotor e estatuto socioeconómico (ESE) no desempenho cognitivo. Deste modo, o primeiro estudo visava verificar a interação das DA, do género e do ano de escolaridade no perfil psicomotor e desempenho cognitivo e o segundo verificar a influência do perfil psicomotor e ESE no desempenho cognitivo. A amostra foi constituída por 139 crianças (66 raparigas e 73 rapazes), com idades compreendidas entre os 6-10 anos de idade (7.95±1.05), do ”Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil”, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Para caracterizar o perfil psicomotor foi utilizada a Bateria Psicomotora (BPM), para avaliar o desempenho cognitivo as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR), bem como um questionário para a recolha de dados relativos ao estatuto socioeconómico. Os resultados do primeiro estudo apresentam um efeito das DA no perfil psicomotor e no desempenho cognitivo de crianças do 1º ciclo. As crianças com DA e mais novas apresentam valores inferiores no perfil psicomotor; enquanto os rapazes com DA demonstram um desempenho cognitivo inferior. No segundo estudo, encontrou-se uma associação positiva entre a maioria dos fatores psicomotores e as MPCR nas crianças com e sem DA, verificando-se ainda uma associação positiva das variáveis socioeconómicas nas sem DA. Os resultados da regressão linear, revelaram uma influência da estruturação espácio-temporal e da praxia fina no desempenho cognitivo das crianças com DA; enquanto nas crianças sem DA, a equilibração e a estruturação espácio-temporal são as variáveis significativas. Concluindo, a estruturação espácio-temporal e a praxia fina são duas variáveis que se evidenciam na relação do perfil psicomotor com o desempenho cognitivo.

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X

Abstract

The present study has the general objective to verify the relationship of psychomotor profile and cognitive performance in children with and without learning disabilities (LD). This research was divided into two studies, making initially, a more general approach about the LD’s interaction, gender and grade in the psychomotor profile and cognitive performance and, afterwards, a more specific study about the impact of psychomotor profile and socioeconomic status (SES) on cognitive performance. Therefore, the first study aimed to verify the interaction of LD, gender and grade in the psychomotor profile and cognitive performance and the second one, verify the influence of psychomotor profile and SES on cognitive performance. The sample consisted in a group of 139 children (66 girls and 73 boys) aged 6-10 years old (7.95±1.05), from the "Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil", Universidade of Trás-os-Montes e Alto Douro. To characterize the psychomotor profile was used the Psychomotor Battery (BPM), to evaluate cognitive performance were used the Raven Coloured Progressive Matrices (MPCR), as well as a question sheet to collect data on the socio-economic status. The results of the first study show an effect of LD on psychomotor profile and cognitive performance of children in elementary school. Children with DA and younger show a lower psychomotor profile; while boys with LD show a lower cognitive performance. In the second study, we found a positive association between the majority of psychomotor factors and MPCR in children with and without LD, verifying a positive association of socioeconomic variables in children without LD. When it comes to linear regression, there is an influence of the spatiotemporal structure and thin praxis in cognitive performance of children with LD; while in children without LD, balance and spatiotemporal structure are the significant variables. In conclusion, the spatiotemporal structure and thin praxis are the two variables that manifest themselves in the relationship between the psychomotor profile and the cognitive performance.

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1

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2

1.Introdução

Psicomotricidade, segundo Fonseca (2007b), “traduz a solidariedade profunda e original entre a actividade psíquica e a actividade motora” e “é hoje concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio e o instrumento privilegiado através do qual a consciência se forma e se materializa”.

Para Frimodt (2004), a psicomotricidade baseia-se na relação entre a mente e o corpo, integrando os aspetos cognitivos, emocionais, simbólicos e corporais do individuo no seu contexto psicossocial.

Magalhães (2006) define-a como o ramo da ciência que estuda o movimento como forma de ajudar o desenvolvimento físico e mental do individuo, tendo como objetivo associar o “acto ao pensamento, o gesto à palavra, e as emoções aos símbolos”, fazendo com que o movimento seja inteligente, ou psiquicamente elaborado e controlado (Fonseca, 2001b).

Inicialmente, a psicomotricidade estava quase exclusivamente ligada às patologias. No entanto, atualmente é tida como uma terapia corporal, tendo três áreas essenciais de atuação:

1- Educação: pois possibilita o desenvolvimento global da criança e potencia as aprendizagens, sendo o corpo o “objeto” de interação com o meio.

2- Reeducação: visto que atua na compensação dos atrasos motores, tentando corrigir através de técnicas adequadas os défices detetados através das baterias de avaliação.

3- Terapia: uma vez que atua a nível das emoções e afetos, com o auxílio de jogos corporais, favorecendo a adaptação ao meio onde se enquadra (Levy, 2000).

É nas áreas de reeducação e terapia que a psicomotricidade intervém nas DA, com o intuito de facilitar a “estimulação global de todos os canais sensoriais e percetivos (visual, auditivo, táctil, vestibular e cinestésico) que estão na base de todas as aprendizagens, fundamental para o processamento adequado da informação e uma resposta coerente ao nível do desempenho da criança” (Associação Portuguesa de Psicomotricidade, s.d.).

Segundo Hamill (1990), a definição de DA que oferece maior consenso é a do National Joint Commitee on Learning Disabilities (NJCLD), definindo-as como um grupo heterogéneo de desordens, manifestadas na aquisição e utilização da fala, linguagem, leitura, escrita e aritmética. Estas desordens são intrínsecas ao indivíduo, resultantes de uma possível disfunção do sistema nervoso central.

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3 Esta definição respeita três critérios fundamentais: os critérios de discrepância, que dizem respeito à diferença entre potencial e rendimento, capacidade e desempenho e, aptidão e realização, nas áreas académicas; os critérios de exclusão, referindo que as crianças com DA têm características sensoriais, físicas, mentais, emocionais e de inteligência normais; e, por último, os critérios de especificidades, através do qual se pretende saber se existem subtipos dentro das DA, ou seja, dificuldades de aprendizagem específicas (DAE) (Peixoto, 2008).

Assim sendo, para se chegar a este diagnóstico de DA, deve-se ter em consideração os seguintes parâmetros do perfil de aprendizagem da criança: atenção e concentração; velocidade de processamento de informação simultânea ou sequencial de informação visual, auditiva e tatilquinestésica; discriminação, análise e síntese percetiva; memória de curto tempo; cognição (input-integração e output-planificação); expressão verbal; e psicomotricidade, ao nível dos seus sete fatores psicomotores (Fonseca, 2007a).

As DA, para Fonseca (1991 cit. por Lapa, 2006), “são uma desarmonia do desenvolvimento normal, caracterizado por uma imaturidade psicomotora que inclui perturbações nos processos receptivos, integrativos e expressivos da imagem simbólica. As DA traduzem uma irregularidade biopsicossocial do desenvolvimento global da criança, que normalmente envolve, na maioria dos casos, problemas de lateralização e de praxia ideo-motora, deficiente estruturação perceptivo motora, dificuldades de orientação espacial e sucessão temporal e outros factores inerentes a uma desorganização psicomotora, que impede a ligação entre os elementos constituintes da linguagem, e as formas concretas da expressão que os simboliza.”

Como foi referido anteriormente, as crianças com DA não têm problemas de ordem sensorial, física, emocional ou de inteligência. No entanto, muitas são as que ouvem bem, mas não escutam, veem bem, mas não prestam atenção aos pormenores, movimentam-se com desenvoltura, mas apresentam dispraxias, paratonias, disdiadococinésias e sincinésias, evidenciando problemas essencialmente ligados aos sistemas funcionais de aprendizagem de Luria (Fernandes, 2009).

Os sistemas funcionais de Luria dividem o cérebro em três unidades básicas, estando a primeira unidade responsável pelos processos de alerta e atenção; a segunda pela receção, integração, codificação e processamento sensorial; e, por fim, a terceira unidade está encarregue da execução motora, planificação e avaliação (Fonseca, 2001a).

Todos estes processos estão implicados para que a aprendizagem decorra de uma forma natural, porém, é a segunda unidade funcional de Luria que implica a maioria das aprendizagens precoces, como as tónico-emocionais e posturo-motoras,

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4 bem como as aprendizagens pré-escolares e escolares que se seguem. É de realçar que estas funções são propensas à especialização hemisférica, verificando-se estes distúrbios quando tal não acontece. (Fonseca, 2001a).

Entendendo a criança na sua globalidade, é imperativo que se fomente a psicomotricidade precocemente, como forma de prevenção e, em casos mais tardios, como terapia na abordagem das DA, pois esta visa o seu desenvolvimento integral (psicomotor, cognitivo, afetivo, social). É de salientar que as primeiras manifestações de défices cognitivos ocorrem no âmbito motor (Dorneles e Benetti, 2012).

A cognição refere-se ao ato de conhecer, usando a razão. Já o conhecimento é a ponte de comunicação entre as células nervosas, levando-nos a compreender as sensações, sentimentos, pensamentos, atividades motoras, emoções, o processo de aprendizagem e memória, bem como as possíveis causas das doenças mentais (Afonso, 2011; Marques, 2000). É através destas comunicações entre neurónios que surgem os comportamentos cognitivos, que constituem os “pré-requisitos necessários para novas tarefas de aprendizagem”. (Marques, 2000).

Esta envolve, também, vários processos e produtos mentais superiores, como sejam o conhecimento, a consciência, a inteligência, o pensamento, a imaginação, a criatividade, a produção de planos e as estratégias para a resolução de problemas, a conceptualização e a simbolização, entre outros, pelos quais percebemos (atenção), elaboramos (codificação) e transformamos (planificação) o meio que nos envolve (Fonseca, 2001a).

A motricidade é a base das primeiras aprendizagens, sendo esta expressa pelos movimentos reflexos. Estes são a primeira forma do bebé se comunicar com o mundo externo e é através das reações que ele obtém com os seus movimentos que ele reúne e armazena as primeiras informações, (Wallon, 1989, cit. por Rodrigues, 2011).

É de grande importância para o desenvolvimento psicológico de uma criança a exploração do movimento e a representação das relações entre si e o meio. Desta forma salienta-se a relevância que o trabalho que engloba a parte motora e cognitiva tem, na vertente de favorecer e melhorar o desenvolvimento da aprendizagem das crianças (Cezário, 2008).

Todas as crianças têm uma experiência pessoal que engloba conhecimentos corporais, motores e cognitivos e se esses conhecimentos forem transportados e ampliados para novas situações que lhes são apresentadas, ela conseguirá mais facilmente, encontrar soluções para os problemas com que se depara no dia-a-dia, sejam relativas à planificação motora, à organização espácio-temporal ou outra competência envolvida (Cezário, 2008; Rodrigues, 2011; Saraiva e Rodrigues, 2011).

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5 Muitas crianças não conseguem adquirir as competências escolares básicas, pois necessitam de um desenvolvimento motor e cognitivo que não possuem e não conseguem dominar o movimento que essas competências lhe exigem (Cezário, 2008). Desta forma, Picq e Vayer (1988, cit. por Cezário, 2008), afirmam que as competências escolares básicas “são exercícios psicomotores, pois para fixar sua atenção, a criança deve controlar-se tendo domínio sobre o próprio corpo e para que possam utilizar meios de expressão gráfica ela precisa ver, lembrar-se e descrever num sentido bem definido. A estas correlações, que se processam durante o período educativo, torna-se impossível separar por meio da educação, as funções motoras, neuromotoras e perceptivo motoras das funções puramente intelectuais.”

Le Bouch (1987) afirma que a “educação motora tem influência no desenvolvimento de crianças com dificuldades escolares, como problemas de atenção, leitura, escrita, cálculo e socialização”. Com isto é possível verificar que um bom desenvolvimento motor é de grande importância para a educação do corpo e, desta forma, para o desenvolvimento global da criança, auxiliando na prevenção das DA (Rodrigues, 2011). Vários autores defendem que o movimento é o resultado final da cognição (Siqueira e Gurgel-Giannetti, 2011).

Nas crianças com DA, o desempenho cognitivo revela-se na discrepância existente entre aquilo que se espera dela e o que realmente consegue realizar, manifestando dificuldades quando tem de salientar algum pormenor de uma tarefa ou manter a sua atenção por um determinado período de tempo (Kowalsky e Sherrill, 1992, cit. por Lapa, 2006).

Para adquirir as competências necessárias para a fala, por exemplo, a somatognosia, a perceção auditiva e visual, a orientação espacial e temporal têm de estar presentes, para que haja a noção de ritmo e sequência, promovendo a fala de forma mais fluida (Oliveira, 2006).

A aquisição da escrita, para que ocorra naturalmente e da forma esperada, necessita que a coordenação fina, para precisar os traçados e fazer a preensão do instrumento de escrita, tesoura, o equilíbrio e controlo tónico, para manter a postura adequada e o grau de tónus necessário no braço e mão para não fazer uma letra ilegível, a dominância lateral, percebendo o seu lado mais ágil, a coordenação óculo-manual e a organização espácio-temporal, para os processos matemáticos (noção de ordem) estejam presentes e sem défices (Coura e Cavalari, 2010).

Já a aquisição da leitura faz-se acompanhada dos processos de simbolização, codificação, descodificação, verbalização, memorização, atenção, análise e síntese do que vê e ouve, coordenação óculo-manual, lateralidade (esquerda para a direita) e orientação espácio-temporal (sucessão das palavras no texto) (Oliveira, 2006).

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6 Todas as aquisições referidas anteriormente relacionam a motricidade com as variadas áreas cerebrais por ela responsável, desde as áreas pré-motora e motora do córtex frontal, diretamente ligadas ao planeamento, imaginação, associação de informações e memória. Através das atividades motoras é favorecido o equilíbrio afetivo e emocional que ativam o sistema límbico e, com isto, contribui para um melhor funcionamento do hipocampo, que é responsável pelo processamento de informações. Por último, esta relação verifica-se pela ativação cortical e aumento da atividade cerebral, derivadas do aumento da irrigação sanguínea e à utilização de várias estruturas cerebrais responsáveis pelo planeamento, execução e controlo das atividades motoras (Filho, 2010).

Para que estas aquisições sejam feitas dentro do esperado, existe outro fator de grande relevância: o estatuto socioeconómico, pois a falta de estimulação na infância, implica o desenvolvimento do pensamento lógico mais tarde do que o esperado (Majumbar e Nudi, 1971). Quando este estatuto é baixo condiciona a aquisição de bens culturais, bem como a disponibilidade e conhecimentos por parte dos pais para acompanharem a vida escolar dos filhos (Soares, 2004), ao que se associam elevadas taxas de insucesso e abandono escolar (STEP/BIT, 2003; Pellino, 2009).

Simões (2000) tendo como base vários dados, verificou que existe dificuldade em separar a relação do ESE do desempenho cognitivo, daí sugerir-se que as crianças intelectualmente superiores têm um ESE médio ou superior.

Conclusões como as de Sibley & Etnier (2003), de Dwyer, Sallis, Blizzard, Lazarus & Dean (2001), de Nelson & Gordon-Larsen (2006), de Carlson, Fulton, Lee, Maunard, Brown, Kohl & Dietz (2008), de Tomporowski, Davis, Miller & Naglieri (2008) e Trudeau & Shepard (2008), demonstram que existe uma relação entre a atividade física, o desempenho cognitivo e o sucesso académico, sendo que as crianças fisicamente ativas são mais rápidas nas suas respostas, ativam e utilizam mais áreas cerebrais, têm maior sucesso académico e não são afetadas pelo tempo que despendem nessas atividades em detrimento do menor tempo despendido para o estudo.

Como foi possível verificar pelos estudos apresentados, muitos são os que abordam as relações entre a atividade física e o desempenho cognitivo. No entanto, no que diz respeito à relação do perfil psicomotor e desempenho cognitivo, as investigações são escassas. Com isto, o objetivo deste trabalho é verificar a relação entre o perfil psicomotor e o desempenho cognitivo em crianças com e sem DA e, para isso, optou-se pela elaboração de dois artigos, sendo que um faz uma abordagem mais geral sobre a interação das DA, do género e do ano de escolaridade no perfil

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7 psicomotor e desempenho cognitivo e, o segundo faz um estudo mais específico sobre a influência do perfil psicomotor e ESE no desempenho cognitivo.

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2.1- Perfil psicomotor e desempenho cognitivo em crianças com e sem dificuldades de aprendizagem

Daniela Pinto1, Eduarda Coelho1, Isabel Mourão1

1 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Resumo

O objetivo deste estudo foi verificar a interação das dificuldades de aprendizagem (DA), do género e ano de escolaridade no perfil psicomotor e desempenho cognitivo, em crianças do 1º ciclo do Ensino Básico. A amostra foi constituída por 139 crianças (66 raparigas e 73 rapazes), com idades compreendidas entre os 6-10 anos de idade (7,95±1,05), do ”Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil”, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Para obter o perfil psicomotor foi utilizada a Bateria Psicomotora (BPM) e para avaliar o desempenho cognitivo as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR). Relativamente à BPM, 49,6% das crianças têm perfil normal e 50,4% bom. Ao nível das MPCR, 15,1% são intelectualmente superiores, 41% acima da média, 21,6% intelectualmente médias e 22,3% abaixo da média. Os resultados da MANOVA demonstram que existe um efeito das DA (p=0,000) e do ano de escolaridade (p=0,000) no total da BPM e MPCR. A interação entre as DA e o ano de escolaridade apenas foi significativa no total da BPM (p=0,012) e entre as DA e o género foi significativa nas MPCR (p=0,043). Concluindo, verificou-se um efeito das DA no perfil psicomotor e no desempenho cognitivo de crianças do 1º ciclo. As crianças com DA e mais novas apresentam valores inferiores no perfil psicomotor; enquanto os rapazes com DA demonstram um desempenho cognitivo menor.

Palavras-chave: perfil psicomotor, desempenho cognitivo, crianças, dificuldades de

aprendizagem

Abstract

The objective of this study was to assess the interaction of learning disabilities (DA), gender and grade in psychomotor profile and intellectual capacity of children from the 1st cycle of Basic Education. The sample consisted of 139 children (66 girls and 73 boys) between 6-10 years (7.95±1.05), of “Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil”. For the psychomotor profile was used Psychomotor Battery (BPM) of Vítor da Fonseca, and the Raven Coloured Progressive Matrices (MPCR) to assess nonverbal intellectual ability. Regarding BPM, 49.6% have normal profile and 50.4% good. In terms of MPCR, 15.1% are intellectually superior, 41% above average, intellectually averages 21.6% and 22.3% below the average. The results of the MANOVA showed a significant effect of DA (p=0.000) and grade (p=0.000) in the total quality of BPM and

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10 total of MPCR. The interaction between DA and the grade was only significant in the overall BPM (p=0.012). The interaction between DA and gender was significant in the outcome of MPCR (p=0.043). In conclusion, we verified a DA effect on psychomotor profile and on children intellectual capacity. Children with DA and younger have lower values of psychomotor profile, while boys with DA showed lower levels in intellectual capacity.

Keywords: Profile psychomotor; intellectual capacity; children; learning disabilities.

Introdução

A definição de Dificuldades de Aprendizagem (DA) que ainda oferece maior consenso, segundo Hammill (1990), é a do National Joint Commitee on Learning Disabilities (NJCLD), pois define-as como um grupo heterogéneo de desordens, manifestadas na aquisição e utilização da fala, linguagem, leitura, escrita e aritmética. Estas desordens são intrínsecas ao indivíduo, resultantes de uma possível disfunção do sistema nervoso central. A BPM, desenvolvida por Vítor da Fonseca (2007), permite traçar o perfil psicomotor e identificar as áreas menos desenvolvidas, com o intuito de detetar e identificar crianças com DA.

São vários os estudos que concluíram que as crianças com DA apresentam resultados inferiores no perfil psicomotor comparativamente às sem DA, realçando como áreas fracas a estruturação espácio-temporal e a praxia fina, onde estão envolvidas a atenção e a planificação dos movimentos (Dewey, Kaplan, Crawford & Wilson, 2002; Moreira, Fonseca & Diniz, 2000; Sanches, Guerra, Luft & Andrade, 2004).

Neto, Almeida, Caon, Ribeiro, Caram e Piucco (2007) verificaram que os rapazes têm mais dificuldades na equilibração e as raparigas na noção do corpo e estruturação espácio-temporal. Nos estudos de Moreira et. al (2000), Staviski, Silva, Oliveira e Beltrame (2007), Amaro, Jatobá, Santos e Neto (2010) e Medina-Papst e Marques (2010), identificaram as áreas fracas nas crianças com DA como sendo a equilibração, a noção do corpo, a estruturação espácio-temporal, a praxia global e a praxia fina, sem discriminação do género relativamente a estes fatores.

Outras das variáveis relacionadas com o estudo das DA é o desempenho cognitivo, sendo este diferente em função do género e idade. Os estudos de Vogel (1990), Simões (2000), Lynn e Irwing (2004) e Rueda (2005), demonstram que o desempenho é melhor nas crianças sem DA, aumenta com a idade e os rapazes apresentam valores superiores.

Posto isto, o objetivo deste estudo é verificar a interação das DA, do género e ano de escolaridade no perfil psicomotor e desempenho cognitivo, em crianças do 1º Ciclo do

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11 Ensino Básico, com vista a verificar quais são os fatores psicomotores mais afetados e de que forma é que implica um comprometimento ao nível do desempenho cognitivo.

Metodologia

Amostra

A amostra foi constituída por 139 crianças, com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos de idade (7,95±1,05), 66 (47,5%) raparigas e 73 (52,5%) rapazes, frequentando 10 (7,2%) o 1º ano, 34 (24,5%) o 2º ano, 45 (32,4%) o 3º ano e 50 (36%) o 4º ano do 1.º Ciclo do Ensino Básico, de três escolas públicas de Vila Real. Através da sinalização dos professores, feita com base nos resultados e desempenhos verificados ao longo das aulas, estas crianças foram divididas em dois grupos: 62 com dificuldades de aprendizagem (44,6%), e 77 sem dificuldades de aprendizagem (55,4%). Foram utilizados como critérios de inclusão na amostra frequentarem o 1º Ciclo do Ensino Básico e como de exclusão estarem sinalizados com défice cognitivo, abrangidos pelo artigo 3/2008 (Necessidades Educativas Especiais) e serem de etnia cigana.

Instrumentos e Procedimentos

Para a recolha dos dados foi utilizada a Bateria Psicomotora (BPM) de Vítor da Fonseca para a avaliação do perfil psicomotor e, as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR), para o desempenho cognitivo.

As MPCR desenvolvidas por John Raven em 1947, e validadas para português por Simões (1994), avaliam o desempenho cognitivo, na componente não-verbal e destinam-se a crianças dos 5 os 11 anos de idade. Este teste é constituído por 36 itens que possuem uma lacuna, que deve ser preenchida por uma das 6 hipóteses que lhes é apresentada. Cada item é cotado com 1 ponto quando respondido corretamente e 0 quando incorretamente, variando a cotação final entre 0-36. Este teste permite-nos obter três resultados: o bruto, o percentil e a classificação qualitativa. Devido ao resultado final deste teste poder não corresponder ao potencial real do sujeito, foi verificada a consistência da pontuação, através da subtração dos totais parciais e dos esperados, tendo sido eliminadas as crianças que apresentavam uma discrepância superior a 2. As MPCR foram aplicadas individualmente, com uma duração média de 5 a 7 minutos. Foi calculada a consistência interna da escala através do Alpha de Cronbach, tendo sido obtido o valor de 0,837, o que revela uma boa consistência interna.

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12 A Bateria Psicomotora desenvolvida por Fonseca em 1985, para crianças entre os 4 e 12 anos, permite-nos obter um perfil psicomotor. Esta bateria é constituída por 7 fatores psicomotores, nomeadamente: Tonicidade - do nascimento aos 12 meses - e Equilibração – dos 12 meses aos 2 anos (que constituem a 1ª Unidade Funcional de Luria), Lateralização – dos 2 aos 3 anos, Noção do Corpo – dos 3 aos 4 anos - e Estruturação Espácio-Temporal – 4 aos 5 anos (2ª Unidade Funcional), Praxia Global – 5 aos 6 anos - e Praxia Fina – 6 aos 7 anos (3ª Unidade Funcional de Luria). As tarefas apresentadas dividem-se pelos 26 subfactores, atribuindo-se uma classificação de 1 a 4 em cada tarefa. O valor final da BPM calcula-se através da soma de cada subfactor, variando entre 7-28, permitindo ainda obter uma classificação qualitativa (Fonseca, 2007). Esta bateria foi aplicada individualmente, com uma duração média de 45 minutos. Foi calculada a consistência interna da bateria através do teste reteste (estabilidade temporal), tendo sido obtido o valor de 0.887 para a primeira unidade, 0.732 para a segunda unidade e 0.969 para a terceira unidade, sendo 0.800 no total da BPM, o que revela uma boa consistência interna.

A análise dos dados foi feita com o recurso ao programa Statistical Package for Social Scienses, versão 17 para Windows. Para descrever os dados iniciou-se pelo cálculo do valor máximo, mínimo, média e desvio padrão, para as variáveis continuas; frequência e percentagem para as ordinais. Comprovou-se a normalidade da distribuição dos dados através da simetria e da curtose. Foi calculada a MANOVA 2x2x2, utilizando como variáveis independentes o nível de escolaridade (1º e 2º anos, 3º e 4º anos), género e as DA, e como dependentes utilizamos o total bruto das MPCR, o total quantitativo e os fatores psicomotores da BPM.

Resultados

A tabela 1 apresenta a análise descritiva das variáveis dependentes deste estudo.

Tabela 1:Análise Descritiva dos casos da BPM e MPCR

N Min. Máx. Média DP Freq. % Desempenho Cognitivo (MPCR) Percentil Classificação 139 10 95 62,99 25,77 -- -- - Intelectualmente Superior -- -- -- -- -- 21 15,1 - Acima da Média -- -- -- -- -- 57 41,0 - Capacidade Intelectual Média -- -- -- -- -- 30 21,6 - Abaixo da Média -- -- -- -- -- 31 22,3 BPM Total 139 15 25 21,10 2,29 -- -- Classificação - Bom (22-26) -- -- -- -- -- 70 50,4 - Normal (14-21) -- -- -- -- -- 69 49,6

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13 Com base nos dados apresentados, é possível verificar que tanto o resultado das MPCR como da BPM se encontram em valores médios. Verifica-se que a maior parte das crianças apresentam um desempenho cognitivo acima da média nas MPCR (41%) e com um perfil psicomotor Normal e Bom na BPM.

Tabela 2: Média e Desvio Padrão das variáveis significativas resultantes da MANOVA

MPCR BPM Fatores Psicomotores

Bruto Total T E L NC EET PG PF

Género Feminino (n=66) 26,74±4,81 21,61±1,92 3,12±0,45 3,17±0,37 3,55±0,50 2,94±0,51 2,98±0,63 2,42±0,50 3,48±0,42 Masculino (n=73) 25,38±5,29 20,64±2,50 3,01±0,46 2,95±0,41 3,51±0,56 2,77±0,50 2,85±0,68 2,40±0,58 3,23±0,59 Escolaridade 1º-2º anos (n=44) 23,77±5,00 19,75±2,61 2,97±0,49 2,96±0,46 3,57±0,55 2,53±0,54 2,41±0,67 2,28±0,64 3,07±0,61 3º-4º anos (n=95) 27,07±4,81 21,73±1,82 3,11±0,43 3,10±0,39 3,51±0,52 3,00±0,43 2,91±0,66 2,47±0,48 3,48±0,44 DA Com DA (n=62) 24,42±5,07 20,26±2,44 2,98±0,47 3,01±0,44 3,58±0,50 2,64±0,45 2,66±0,65 2,32±0,58 3,12±0,59 Sem DA (n=77) 27,32±4,75 21,78±1,91 3,13±0,43 3,10±3,40 3,48±0,55 3,03±0,49 3,11±0,60 2,48±0,50 3,54±0,39 p≤0,05*

T- Tonicidade; E – Equilibração; L- Lateralização; NC – Noção do Corpo; EET – Estruturação Espácio-Temporal; PG – Praxia Global; PF – Praxia Fina

A tabela 3 apresenta os efeitos principais e as interações obtidos pela MANOVA. Verifica-se um efeito principal da escolaridade e DA no resultado das MPCR e da BPM, apresentando as crianças do 3º e 4º anos e as sem DA valores superiores (tabela 2). No entanto, a interação da escolaridade e DA apenas é significativa na BPM e o género e DA nas MPCR. Da análise da figura 1 verifica-se que não existe um efeito das DA no género feminino nos resultados das MPCR. No entanto, relativamente ao género masculino, a presença de DA prejudica o desempenho cognitivo. Na figura 2 observamos que as DA têm um efeito no total da BPM, sendo o impacto superior no 1º e 2º anos.

Tabela 3: Efeitos principais e interações das variáveis independentes das MPCR e BPM

MPCR Fatores Psicomotores

Bruto Total T E L NC EET PG PF

Efeitos Principais - Género 0,284 0,076 0,466 0,024* 0,638 0,128 0,654 0,808 0,080 - Escolaridade 0,010* 0,000* 0,189 0,161 0,660 0,000* 0,000* 0,128 0,000* - DA 0,006* 0,000* 0,059 0,068 0,445 0,000* 0,000* 0,037* 0,000* Interações 2 níveis - Escolaridade x DA 0,846 0,010* 0,334 0,002* 0,694 0,867 0,242 0,034* 0,011* - Género x Escolaridade 0,548 0,869 0,529 0,690 0,882 0,637 0,981 0,870 0,570 - Género x DA 0,005* 0,180 0,867 0,561 0,861 0,284 0,062 0,378 0,124 p≤0,05*

T – Tonicidade; E – Equilibração; L – Lateralização; NC – Noção do Corpo; EET – Estruturação Espácio-Temporal; PG – Praxia Global; PF – Praxia Fina

Verifica-se um efeito do género na equilibração, apresentando as raparigas valores superiores. A escolaridade e DA apresentam um efeito na noção do corpo,

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14 estruturação espácio-temporal e praxia fina, verificando-se valores superiores nas crianças do 3º e 4º anos e nas sem DA. As DA apresentam também um efeito na praxia global.

A interação entre escolaridade e DA é significativa na equilibração, praxia global e praxia fina. Na figura 3 verifica-se que as crianças com DA do 3º e 4º anos apresentam valores superiores na equilibração, enquanto nas sem DA o padrão inverte-se, apresentando valores superiores as do 1º e 2º anos. Da análise da figura 4, pode-se verificar que as crianças com DA do 1º e 2º anos, apresentam valores inferiores na praxia global, comparativamente aos do 3º e 4º anos.

Na figura 5 verifica-se um impacto superior da DA na praxia fina, apresentando as crianças do 3º e 4º anos valores superiores.

Discussão

Da análise dos resultados obtidos podemos referir que o nível de escolaridade e a presença de DA são os fatores determinantes do perfil psicomotor das crianças, sendo a noção do corpo, a estruturação espácio-temporal, a praxia global e fina as suas áreas fracas. Verifica-se que as crianças com DA e as mais novas apresentam valores

Figura 1 – Efeito das DA x Género nas MPCR

Figura 2 – Efeito das DA x Escolaridade na BPM

Figura 3: Interação entre DA x Escolaridade na Equilibração

Figura 4: Interação entre DA x Escolaridade na PG

Figura 5: Interação entre DA x Escolaridade na PF

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15 inferiores no desempenho cognitivo e no perfil psicomotor. Verifica-se também um efeito isolado do nível de escolaridade e DA no desempenho cognitivo, não sendo significativa a interação entre as duas variáveis.

Diversos estudos concluíram também que as crianças do 1º ciclo do Ensino Básico com DA apresentam resultados inferiores no perfil psicomotor em relação às crianças sem DA (Dewey et. al 2002; Fonseca, 1994; Moreira et. al, 2000; Sanches et. al, 2004), não havendo diferenças significativas entre géneros (Moreira et. al, 2000; Sanches et. al, 2004). Os nossos resultados são semelhantes aos de Sanches et. al (2004), visto que as crianças com DA também obtiveram perfis normais ou bons. Contrariamente aos nossos resultados, Medina-Papst & Marques (2010) verificaram que as crianças mais velhas apresentam um perfil psicomotor mais fraco.

O nosso estudo evidenciou que a noção do corpo, estruturação espácio-temporal, praxia global e praxia fina são áreas fracas das crianças com DA, o que está de acordo com outras investigações (Amaro, Jatobá, Santos & Neto, 2010; Medina-Papst & Marques, 2010; Moreira et. al, 2000; Neto et. al, 2007; Staviski et. al, 2007). Constatámos que dois dos quatro fatores psicomotores sinalizados como fracos enquadram-se na segunda unidade funcional, que é considerada pela literatura como responsável pela receção, integração, codificação e processamento sensorial, sendo estes processos responsáveis pela maioria das aprendizagens precoces (como as tónico-posturais e posturo-motoras) e aprendizagens pré-escolares e escolares (Fonseca, 2001). Ainda, estas áreas fracas, como a equilibração, evidenciam algum défice vestibular, propriocetivo e tónico-postural, que se repercute na praxia global, onde é necessária a planificação do movimento, implicando processos de controlo mais eficientes, autónomos e organizados. Ao nível da praxia fina, que exige substratos neurológicos mais complexos e especialização hemisférica, estão inerentes os processos de reaferência espacial, implicando desta forma, a noção do corpo e estruturação espácio-temporal bem desenvolvidas.

Neste estudo verificou-se que a variável DA e a escolaridade diferenciam o desempenho cognitivo das crianças, contudo a existência de DA apenas discrimina os resultados obtidos pelos rapazes, apresentando estes valores inferiores. Tal como no nosso estudo, Simões (2000) verificou que os rapazes de idades mais novas apresentaram resultados inferiores às raparigas, invertendo-se a situação com o aumento da idade. O mesmo autor justifica este facto pelas diferenças relativas a mecanismos genéticos e aos cromossomas; diferenças neuronais nas estruturas e especialização cerebral, dominância hemisférica e velocidade de mielinização; diferenças no funcionamento do sistema endócrino e ritmos de maturação; e fatores

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16 socioculturais, nomeadamente processos de socialização ou atribuição de papéis e estatutos.

Relativamente à equilibração, verifica-se que as crianças mais velhas com DA apresentam valores superiores, enquanto as crianças mais novas sem DA apresentam valores superiores. Contrariamente ao nosso estudo, Gobbi, Menuchi, Uehara e Silva (2003) e Ghiggino, Bahiana & Nunes-Junior (2011) verificaram que as crianças mais novas apresentaram valores inferiores relativamente às mais velhas, o que se pode dever ao facto das crianças mais pequenas terem maior peso na região superior do corpo, estando o seu centro de gravidade em regiões mais altas do tronco. Outros fatores que podem justificar estas diferenças é que com o aumento da idade há o avanço da maturação, crescimento, comportamentos e habilidades motoras, bem como, a experiência favorece a ocorrência destes resultados.

Concluindo, as crianças sinalizadas com DA apresentam um perfil psicomotor normal ou bom, mas inferior às sem DA, apresentando como áreas fracas a noção do corpo, a estruturação espácio-temporal e a praxia global e fina. O impacto das DA no perfil psicomotor verifica-se mais nas crianças do 1º e 2º anos de escolaridade. As crianças mais novas, com DA e do sexo masculino apresentaram valores inferiores no desempenho cognitivo. Sugerimos a realização de mais investigações similares a esta, dada a inconsistência dos resultados obtidos comparativamente às investigações existentes, especificamente, às diferenças no perfil psicomotor por idade.

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17 Gobbi, L. T. B., Menuchi, M. R. T. P., Uehara, E. T. & Silva, J. J. (2003). Influência da informação exproprioceptiva em tarefa locomotora com alta demanda de equilíbrio em crianças. Revista Brasileira de Ciência e Movimento., 11(4), 79-86.

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18

2.2- Influência do Perfil Psicomotor e Estatuto Socioeconómico no Desempenho Cognitivo de crianças com e sem dificuldades de aprendizagem

Daniela Pinto1, Eduarda Coelho1, Isabel Mourão1

1 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Resumo

O objetivo deste estudo foi verificar a influência do perfil psicomotor e do estatuto socioeconómico no desempenho cognitivo de crianças do 1º ciclo do Ensino Básico, com e sem dificuldades de aprendizagem (DA). A amostra foi constituída por 139 crianças (66 raparigas e 73 rapazes), com idades compreendidas entre os 6-10 anos de idade (7,95±1,05), do ”Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil”, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Para obter o perfil psicomotor foi utilizada a Bateria Psicomotora (BPM), para avaliar o desempenho cognitivo as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR), bem como um questionário para obter o estatuto socioeconómico. As associações verificaram-se significativas em praticamente todos os fatores psicomotores, nos dois grupos, sendo que as variáveis do estatuto socioeconómico só o foram nas crianças sem DA. A regressão linear demostrou que 41,5% da variância das MPCR, nas crianças com DA, foi explicada por cinco fatores psicomotores e total da BPM, sendo a estruturação espácio-temporal e a praxia fina estatisticamente positivas. Já nas crianças sem DA, 46,8% da variância das MPCR foi explicada por cinco fatores psicomotores e total da BMP, bem como profissão da mãe e habilitações da mãe e do pai, sendo a equilibração e a estruturação espácio-temporal estatisticamente positivas.

Palavras-chave: Perfil psicomotor; Desempenho Cognitivo; Estatuto socioeconómico;

Dificuldades de Aprendizagem.

Abstract

This study objective is to assess the impact of psychomotor profile and socioeconomic status in cognitive performance of children of the 1st cycle of basic education, with and without learning difficulties (LD). The sample consisted of 139 children (66 girls and 73 boys), between 6-10 years (7.95±1.05) of the "Gabinete de Promoção do Desenvolvimento Infantil", University of Trás-os-Montes and Alto Douro . To obtain the psychomotor profile was used Psychomotor Battery (PMB) to assess cognitive performance the Raven Colored Progressive Matrices (RCPM), as well as a questionnaire for socio-economic status. The associations found are significant in almost all psychomotor factors in both groups, with the variables of socioeconomic status were only in children without LD. Linear regression demonstrated that 41.5 % of

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19 the variance of the RCPM in children with LD, was accounted for five psychomotor factors and totals from the PMB, being the spatiotemporal structure and thin praxis statistically positive. For the children without LD, 46.8 % of the variance from the RCPM was explained by five psychomotor factors and total from PMB, as well the mother and father professional qualifications, being the balancing and space-time structuring statistically positive.

Keywords: Psychomotor Profile; Cognitive Development; Socioeconomic Status;

Learning Difficulties.

Introdução

Segundo Hamill (1990), a definição do National Joint Commitee on Learning Disabilities (NJCLD) relativa ao conceito de Dificuldades de Aprendizagem (DA) é a que oferece maior consenso ao definir DA como um grupo heterogéneo de desordens, manifestadas na aquisição e utilização da fala, linguagem, leitura, escrita e aritmética. Estas desordens são intrínsecas ao indivíduo e resultantes de uma possível disfunção do sistema nervoso central.

A cognição refere-se ao ato de conhecer, usando a razão. Já o conhecimento é a ponte de comunicação entre as células nervosas, levando-nos a compreender as sensações, sentimentos, pensamentos, atividades motoras, emoções, o processo de aprendizagem e memória, bem como as possíveis causas das doenças mentais (Afonso, 2011; Marques, 2000).

É através destas comunicações entre neurónios que surgem os comportamentos cognitivos, que constituem os “pré-requisitos necessários para novas tarefas de aprendizagem” (Marques, 2000).

Segundo Fonseca (1997, cit. por Afonso, 2011), “é no cérebro, que a aprendizagem se opera, implicando inúmeros processos, que no deficiente se encontram lentificados e rígidos e, nalguns casos, pouco controlados e inibidos”.

A cognição é um fator envolvido nas DA, sendo que esta “em termos multicomponenciais, envolve a contribuição e a coesão-coibição de vários subcomponentes, nomeadamente da atenção, da percepção, da emoção, da memória, da motivação, da integração e da monitorização central, do processamento sequencial e simultâneo, da planificação, da resolução de problemas e da expressão e comunicação da informação”. Esta envolve vários processos e produtos mentais superiores, como sejam o conhecimento, a consciência, inteligência, pensamento, imaginação, criatividade, produção de planos e estratégias para a resolução de problemas, conceptualização e simbolização, entre outros, pelos quais percebemos

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20 (atenção), elaboramos (codificação) e transformamos (planificação) o meio que nos envolve (Fonseca, 2001).

O desempenho cognitivo refere-se a um conjunto de competências que podem ser ensinadas e avaliadas separadamente, relacionando-se com a cultura (Fonseca, 2001).

Nas crianças com DA, o desempenho cognitivo revela-se na discrepância existente entre aquilo que se espera dela e o que realmente consegue realizar, manifestando dificuldades quando tem de salientar algum pormenor de uma tarefa ou manter a sua atenção por um determinado período de tempo (Kowalsky e Sherrill, 1992, cit. por Lapa, 2006). Esta pode caracterizar-se pelo frustrante contacto inicial com a leitura, sendo o processo de descodificação desgastante e a fluência e compreensão da leitura comprometidas, inibição para a aquisição de novas aprendizagens, bem como fraca atenção, nomeadamente no tempo gasto e o tempo necessário para a realização da tarefa (processamento de informação) e a seleção da informação pertinente (Fernandes, 2009 e Lopes, 2010).

O perfil psicomotor, para Fonseca (2007b), é o que caracteriza e determina quais as dificuldades e potencialidades entre o psiquismo e o motor de uma criança, num determinado momento do seu desenvolvimento, relacionando-se com o desempenho cognitivo.

Com a conquista do seu corpo, com um esquema corporal organizado, a criança sente que tem domínio sobre ele e passa a encará-lo como um meio para aprender e se exprimir, através da linguagem verbal e não-verbal, bem como das relações com o outro e com o meio (Paes, 2001).

O movimento do corpo, podendo surgir nas mais variadas formas, desperta a atenção, raciocínio, lógica, compreensão e pensamento, possibilitando a aprendizagem, bem como a linguagem verbal (Oliveira, 2006). Para que tal ocorra, há necessidade da criança ter domínio sobre o seu gesto e os objetos que manipula, uma vez que estes implicam uma constante adaptação da força muscular, segurança e controlo da coordenação motora global, bem como do equilíbrio e da coordenação óculo-manual (Paes, 2001).

Segundo vários estudos apresentados por Moreira, Fonseca e Diniz (2000) sobre a caraterização motora e psicomotora de populações com dificuldades na adaptação escolar, observaram que o baixo rendimento escolar existiam em paralelo com perfis psicomotores e performances motoras igualmente baixas, evidenciando diferenças em relação às crianças com uma adaptação normal ao ensino.

Sanches et. al (2004) realizaram um estudo com o objetivo de analisar o perfil psicomotor e aspetos relacionados com o processo de aprendizagem. Analisando os

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21 resultados, verificou-se que as crianças que apresentaram maiores dificuldades motoras nas atividades de estruturação espácio-temporal e praxia fina tinham dificuldades escolares mais evidentes.

Em 2007, o estudo realizado por Nogueira, Carvalho e Pessanha, visava analisar a influência do aspeto psicomotor na etapa de alfabetização. Com base nisso obtiveram as seguintes conclusões: as competências psicomotoras em conjunto com o desenvolvimento da linguagem são boas aliadas para a alfabetização, pois apresentavam dificuldades de perceção corporal, problemas de postura, dificuldades em coordenar movimentos e seguir ritmos e sequências, dificuldades na discriminação das posições dos sinais gráficos p/b, d/t, q/p, t/f, dificuldade na organização do tempo, dificuldade em organizar a escrita na folha, saindo das margens, não respeitando as linhas e demonstrando muito cansaço nestas atividades de escrita, devido à má praxia global.

Peixoto (2008), realizou uma investigação que tinha como um dos seus objetivos comparar o desempenho cognitivo em crianças com e sem DA. Através do QI e do fator ‘g’, observou que, em média, as crianças sem DA apresentam resultados melhores do que as com DA.

Segundo estudos realizados por Sibley & Etnier (2003), de Dwyer, Sallis, Blizzard, Lazarus & Dean (2001), de Nelson & Gordon-Larsen (2006), de Carlson, Fulton, Lee, Maunard, Brown, Kohl & Dietz (2008), de Tomporowski, Davis, Miller & Naglieri (2008) e Trudeau & Shepard, 2008), foi possível verificar uma relação significativa, ainda que modesta em alguns casos, entre a atividade física e o desempenho cognitivo, pois as crianças mais ativas demonstraram maior rapidez nas suas respostas e uma maior ativação de várias áreas cerebrais, obtendo assim, melhores resultados académicos. O estatuto socioeconómico (ESE) é outro fator que se relaciona com o desempenho cognitivo, uma vez que a falta de estimulação na infância, implica o desenvolvimento do pensamento lógico mais tarde do que o normal (Majumbar e Nudi, 1971).

Os primeiros vínculos, cuidados, estimulações necessárias para um bom desenvolvimento da criança, são fornecidos, primeiramente, pela família (Almeida, Santos, Bastos, Pedromônico, Almeida-Filho e Barreto, 2005). Quando este estatuto é baixo condiciona a aquisição de bens culturais, bem como a disponibilidade e conhecimentos por parte dos pais para acompanharem a vida escolar dos filhos (Soares, 2004), ao que se associam elevadas taxas de insucesso e abandono escolar (STEP/BIT, 2003; Pellino, 2009).

Segundo Hackman, Farah & Meaney (2010), as atitudes parentais, bem como as suas expetativas e formas de se relacionar com as crianças, são fatores que se relacionam com o ESE, experiências cognitivas estimulantes e com o bem-estar infantil, uma vez

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22 que, quando os pais têm um ESE elevado, estimulam mais e de forma mais variada os seus filhos. Esta estimulação pode englobar conversas mais ricas, maiores hábitos de leitura bem como um maior leque de experiências de ensino.

No que diz respeito à aplicação das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven, nos países e regiões mais desfavorecidas economicamente, verifica-se que as suas normas são mais baixas do que as regiões mais favorecidas. É de salientar que estas diferenças existem, mesmo tratando-se de um teste não-verbal. Tal facto pode dever-se a fatores hereditários (determinantes da mobilidade social do individuo) e fatores ambientais (falta de interesse a este tipo de testes bem como a não familiarização com os processos de pensamento que são exigidos para a sua resolução). Apesar deste não ser um teste favorável a nenhum grupo sociocultural especifico, o processo intelectual mais presente, o raciocínio - atividade mental que leva a uma conclusão baseada na observação de uma situação (Blaye e Lemaire, 2007) – é mais estimulado em crianças pertencentes a um ESE médio ou superior (Angelini, Alves, Custódio, Duarte e Duarte, 1992; Simões, 2000).

Com base em vários dados, há dificuldade em separar a relação do ESE do desempenho cognitivo, daí sugerir-se que as crianças intelectualmente superiores têm um ESE médio ou superior (Simões, 2000).

Através de um estudo de Farah, Shera, Savage, Betancourt, Giannetta, Brodsky, Malmud & Hurt (2006), verificou-se que desde a pré-escola e no decorrer da infância, as crianças com ESE mais baixo apresentam um desempenho inferior às crianças com ESE mais elevado, nomeadamente nos testes de inteligência e desempenho escolar.

Num estudo desenvolvido por Barrigas e Fragoso (2012), com o objetivo de avaliar a relação entre a maturidade, desempenho académico, capacidade de raciocínio e ESE, verificou-se que o desempenho académico aumentou, em ambos os sexos, quando o ESE aumentou também. De salientar que a influência do ESE no desempenho académico é determinante para a ocorrência de insucesso escolar, particularmente, nas raparigas, em detrimento do fator maturidade (Leroy e Symes, 2001).

Com base no anteriormente exposto, o presente estudo pretende verificar a influência do perfil psicomotor e do estatuto socioeconómico no desempenho cognitivo de crianças do 1º ciclo do Ensino Básico, com e sem dificuldades de aprendizagem (DA).

Metodologia Amostra

A amostra foi constituída por 139 crianças, com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos de idade (7,95±1,05), 66 (47,5%) raparigas e 73 (52,5%) rapazes,

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23 frequentando 10 (7,2%) o 1º ano, 34 (24,5%) o 2º ano, 45 (32,4%) o 3º ano e 50 (36%) o 4º ano do 1.º Ciclo do Ensino Básico, de três escolas públicas de Vila Real. Através da sinalização dos professores, feita com base nos resultados e desempenhos verificados ao longo das aulas, estas crianças foram divididas em dois grupos: 62 com dificuldades de aprendizagem (44,6%), e 77 sem dificuldades de aprendizagem (55,4%). Foram utilizados como critérios de inclusão na amostra frequentarem o 1º Ciclo do Ensino Básico e como de exclusão estarem sinalizados com défice cognitivo, abrangidos pelo artigo 3/2008 (Necessidades Educativas Especiais) e serem de etnia cigana.

Instrumentos e Procedimentos

Para a recolha dos dados foi utilizada a Bateria Psicomotora (BPM) de Vítor da Fonseca para a avaliação do perfil psicomotor e, as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR) para o desempenho cognitivo.

As MPCR desenvolvidas por John Raven em 1947, e validadas para português por Simões (1994), avaliam o desempenho cognitivo, na componente não-verbal e destinam-se a crianças dos 5 os 11 anos de idade. Este teste é constituído por 36 itens que possuem uma lacuna, que deve ser preenchida por uma das 6 hipóteses que lhes é apresentada. Cada item é cotado com 1 ponto quando respondido corretamente e 0 quando incorretamente, variando a cotação final entre 0-36. Este teste permite-nos obter três resultados: o bruto, o percentil e a classificação qualitativa. Devido ao resultado final deste teste poder não corresponder ao potencial real do sujeito, foi verificada a consistência da pontuação, através da subtração dos totais parciais e dos esperados, tendo sido eliminadas as crianças que apresentavam uma discrepância superior a 2. As MPCR foram aplicadas individualmente, com uma duração média de 5 a 7 minutos. Foi calculada a consistência interna da escala através do Alpha de Cronbach, tendo sido obtido o valor de 0,837, o que revela uma boa consistência interna.

A Bateria Psicomotora desenvolvida por Fonseca em 1985, para crianças entre os 4 e 12 anos, permite-nos obter um perfil psicomotor. Esta bateria é constituída por 7 fatores psicomotores, nomeadamente: Tonicidade - do nascimento aos 12 meses - e Equilibração – dos 12 meses aos 2 anos (que constituem a 1ª Unidade Funcional de Luria), Lateralização – dos 2 aos 3 anos, Noção do Corpo – dos 3 aos 4 anos - e Estruturação Espácio-Temporal – 4 aos 5 anos (2ª Unidade Funcional), Praxia Global – 5 aos 6 anos - e Praxia Fina – 6 aos 7 anos (3ª Unidade Funcional de Luria). As tarefas apresentadas dividem-se pelos 26 subfactores, atribuindo-se uma classificação de 1 a 4 em cada tarefa. O valor final da BPM calcula-se através da soma de cada

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24 subfactor, variando entre 7-28, permitindo ainda obter uma classificação qualitativa (Fonseca, 2007). Esta bateria foi aplicada individualmente, com uma duração média de 45 minutos. Foi calculada a consistência interna da bateria através do teste reteste (estabilidade temporal), tendo sido obtido o valor de 0.887 para a primeira unidade, 0.732 para a segunda unidade e 0.969 para a terceira unidade, sendo 0.800 no total da BPM, o que revela uma boa consistência interna.

O ESE foi obtido através de um questionário elaborado para o efeito, o qual foi entregue às crianças para os seus pais responderem. Este consistia na resposta a questões referentes às habilitações literárias (categorizada em analfabeto, ensino básico, preparatório, secundário e superior) e à profissão exercida pelos pais (utilizando a Classificação Nacional de Profissões foi categorizada em superior, média, média-baixa, baixa e domésticos/outros).

A análise dos dados foi feita com o recurso ao programa Statistical Package for Social Scienses, versão 17 para Windows. Para descrever os dados iniciou-se pelo cálculo do valor máximo, mínimo, média e desvio padrão, para as variáveis continuas; frequência e percentagem para as ordinais. Comprovou-se a normalidade da distribuição dos dados através da simetria e da curtose. Foi calculado o coeficiente de correlação para selecionar as variáveis a integrar no modelo de regressão linear.

Resultados

Na tabela 4 apresentamos as correlações estatisticamente significativas entre os fatores psicomotores e o ESE com as MPCR, nas crianças com e sem DA.

Tabela 4 – Correlação entre o desempenho cognitivo, os fatores psicomotores e as variáveis socioeconómicas

MPCR

Com DA Sem DA Total

r p r p r P BPM Tonicidade -- -- .243* .033 .227** .007 Equilibração .306* .016 .301** .008 .319** .022 Noção do Corpo .372** .003 .478** .000 .490** .000 Estruturação Espácio-Temporal .563** .000 .534** .000 .591** .000 Praxia Global .319* .011 -- -- .289** .001 Praxia Fina .599** .000 .502** .000 .595** .000 Total .553** .000 .546** .000 .590** .000 Estatuto Socioeconómico Profissão da Mãe -- -- -.325** .004 -.307** .000 Habilitações do Pai -- -- .256** .026 .223* .012 Habilitações da Mãe -- -- .246** .032 .242** .006 p≤0.05*

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25 Nas crianças com DA, estas associações são significativas na equilibração (r=.306), noção do corpo (r=.372), estruturação espácio-temporal (r=.534), praxia global (r=.319), praxia fina (r=.599) e total da BPM (r=.553). Já nas crianças sem DA, as associações significativas são semelhantes às referidas anteriormente, à exceção da praxia global e adicionando a tonicidade. Nas crianças sem DA, relativamente ao ESE, a associação é significativa na profissão da mãe (r=.325), nas habilitações do pai (r=.256) e da mãe (r=.246). Nenhuma variável do ESE se correlacionou significativamente com o desempenho cognitivo nas crianças com DA. No total das crianças, estas associações são significativas na tonicidade (r=.227), na equilibração (r=.319), na noção do corpo (r=.490), na estruturação espácio-temporal (r=.591), na praxia global (r=.289), na praxia fina (r=.595), no total da BPM (r=.590), na profissão da mãe (r=-.307), nas habilitações do pai (r=.223) e nas habilitações da mãe (r=.242). Na tabela 5 são apresentados os resultados da regressão linear para o desempenho cognitivo por presença ou não de DA.

Tabela 5 – Regressão Linear para o desempenho cognitivo MPCR

Com DA (n=62) Sem DA (n=77) Total (n=139)

β ʈ Sig. β ʈ Sig. β ʈ Sig.

BPM Total Tonicidade -- -- -- .071 .628 .532 .026 .275 .784 Equilibração -.042 .278 .782 .367 3.109 .003* .220 2.332 .021* Noção do Corpo -.019 -.134 .894 .197 1.375 .174 .141 1.223 .224 Estruturação Espácio-Temporal .436 2.202 .032* .423 2.826 .006* .469 3.640 .000* Praxia Global .100 .679 .500 -- -- -- .122 1.274 .205 Praxia Fina .513 2.858 .006* .200 1.602 .114 .333 2.981 .004* Total -.249 -.679 .500 -.239 -1.106 .273 -.337 -1.530 .129 ESE Profissão da Mãe -- -- -- -.138 -1.091 .279 -.211 -2.170 .032* Habilitações do Pai -- -- -- .101 .957 .342 .033 .364 .717 Habilitações da Mãe -- -- -- -.080 -.618 .539 -.125 -1.163 .247 r²=.415; p=.000 r²=.468; p=.000 r²=.462; p=.000 *p≤0.05*

Para as crianças com DA, 41,5% da variância do desempenho cognitivo foi explicada pelas variáveis equilibração, noção do corpo, estruturação espácio-temporal, praxia global, praxia fina e total da BPM. Destas, apenas a estruturação espácio-temporal (β=.436; p=.032) e a praxia fina (β=.513; p=.006) mostraram-se preditoras, sendo esta associação significativa e positiva.

Imagem

Tabela 1:Análise Descritiva dos casos da BPM e MPCR
Tabela 2: Média e Desvio Padrão das variáveis significativas resultantes da MANOVA
Figura 1 – Efeito das DA x Género  nas MPCR
Tabela 4 – Correlação entre o desempenho cognitivo, os fatores psicomotores e as  variáveis socioeconómicas
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Referências

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