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Promoção da saúde e desenvolvimento local em Portugal : refletir para agir

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w w w . e l s e v i e r . p t / r p s p

Artigo

original

Promoc¸ão

da

saúde

e

desenvolvimento

local

em

Portugal:

refletir

para

agir

Isabel

Loureiro

a,∗

,

Natércia

Miranda

b

e

José

Manuel

Pereira

Miguel

c

aEscolaNacionaldeSaúdePúblicadaUniversidadeNovadeLisboa,GrupodeDisciplinasdeEstratégiasdeAc¸ãoemSaúde,

Lisboa,Portugal

bInstitutoNacionaldeSaúdeDoutorRicardoJorge,DepartamentodePromoc¸ãodaSaúdeeDoenc¸asCrónicas,Lisboa,Portugal cInstitutodeMedicinaPreventivadaFaculdadedeMedicinadeLisboaeInstitutoNacionaldeSaúdeDoutorRicardoJorge,Lisboa,

Portugal

informação

sobre

o

artigo

Historialdoartigo: Recebidoa13deoutubrode2012 Aceitea19demarçode2013 On-linea2dejunhode2013 Palavras-chave: Participac¸ão Poderlocal Capacitac¸ão Promoc¸ãodasaúde Municípios

r

e

s

u

m

o

Asaúde,umdireitodetodos,éumbemindispensávelaodesenvolvimento. Tradicional-mente,temsidoencaradacomosendodaprincipalresponsabilidadedosministériosda saúde.Amelhorcompreensãodosseusdeterminantestemevidenciadoqueaspolíticase ac¸õesdosdiferentessetoressociaissãoreconhecidasentreosfatoresquemaisinfluenciam oestadodesaúdedaspopulac¸ões.

Numaperspetivadecoproduc¸ãoeresponsabilidadesocialpelasaúde,nasceuo movi-mentodascidadessaudáveis.Osmunicípiosmembrosda RedePortuguesadasCidades Saudáveisestãocomprometidoscomoplaneamentointencionalparapromoverasaúde, alicerc¸adoempolíticasdirigidasaoambientefísico,culturaleaoprocessoeducativodas comunidades,incentivandoaparticipac¸ão,oempowermenteaequidade.

Parapromoveroreconhecimentodequeasaúdeésempreafetada,emresultadodas deci-sõespolíticastomadas,aonívelnacionalelocalemtodosossetores,edequetambémé importanteparaaresiliênciafaceàsadversidades,estabeleceu-seoProjetodeCapacitac¸ão em Promoc¸ãoda Saúde(PROCAPS). Esteprojeto,da iniciativado InstitutoNacional de SaúdeDr.RicardoJorge,emcolaborac¸ãocomaEscolaNacionaldeSaúdePúblicada Uni-versidadeNovadeLisboa,teveporobjetivoestudarapercec¸ãodosatuaisautarcasacerca destaquestãoe,aomesmotempo,constituirumpontodepartidaparaaconscientizac¸ão eassunc¸ãodaresponsabilidadeporpartedosmunicípiosfaceaoseupapelnapromoc¸ão dasaúdedaspopulac¸ões.Sãoapresentadososresultadosdeváriosestudoseiniciativas realizadas no âmbito deste projeto.Perspetivam-se políticas e ac¸ões pelo poder local, incluindoinvestigac¸ão-ac¸ãoeinvestigac¸ãoparticipadadebasecomunitária.

©2012EscolaNacionaldeSaúdePública.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.Todosos direitosreservados.

Autorparacorrespondência.

Correioeletrónico:isalou@ensp.unl.pt(I.Loureiro).

0870-9025/$–seefrontmatter©2012EscolaNacionaldeSaúdePública.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.Todososdireitosreservados. http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2013.03.001

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Health

promotion

and

local

development

in

Portugal:

Reflect

to

act

Keywords: Participation Localpower Capacity-building Healthpromotion Municipalities

a

b

s

t

r

a

c

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Health,a fundamentalhumanright, is criticaltohumandevelopment. Traditionallyit hasbeenregarded as beingmainly the responsibilityof ministriesofhealth. Abetter understandingofhealthdeterminantshasshowedthatpoliciesandactionsofothersocial sectorsareamongthefactorsthatmostinfluencepopulation’shealth.

Themovementofhealthycitiesisbasedintheconceptsofco-productionand responsi-bilityforhealth.ThemunicipalitiesintegratingthePortugueseNetworkofHealthyCitiesare committedtointentionalplanningtopromotehealth,basedinpoliciesaddressedto phy-sicalandculturalenvironmentandtotheeducationalprocessofcommunities,promoting participation,empowermentandequity.

Topromotetherecognitionofhealthimpactofpoliticaldecisionstakenatdifferent sec-torsanddifferentlevels–national,local–aswellashealthasasupportforresilienceagainst adversity,theprojectCapacityBuildinginHealthPromotion[ProjetodeCapacitac¸ãoem Promoc¸ãodaSaúde]–PROCAPSwasdecidedbytheNationalInstituteofHealthDr.Ricardo Jorge,incollaborationwiththeEscolaNacionaldeSaúdePúblicafromtheNewUniversity ofLisbon.Thisprojectstartedbystudyingtheactualperceptionofthepoliticalmembersof municipalitiesabouttheirroleinhealthpromotionandstimulatingtheirresponsibilityin promotingthehealthofthepopulations.Inthispapersomeresultsofthestudyandrelated actionstakenarepresented.Localpoliciesandactionsareproposedaswellasprocessesof action-researchandcommunitybasedparticipatoryresearch.

©2012EscolaNacionaldeSaúdePública.PublishedbyElsevierEspaña,S.L.Allrights reserved.

Saúde

e

desenvolvimento

Asaúdeéumfatorfundamentalparaodesenvolvimento.Os indivíduoseaspopulac¸õessaudáveisvêmaumentadaasua capacidadedeadaptac¸ãoàsmudanc¸as.Sobumaperspetivade adaptac¸ãosocialeadequac¸ãoàssituac¸ões,asaúdeinsere-se numquadroconceptualorganizadordosrecursosindividuais ecoletivos1.

A percec¸ão ou a definic¸ãode saúde varia,no espac¸o e notempo,deacordocomascircunstânciaseosvaloresdas sociedades,masasaúdedeveconstituir-sesemprecomoum instrumentopara promovera qualidade de vida. Para Hall eLamont,onívelde saúdeéumpadrãodereferênciaface ao qual se pode estabelecer se uma sociedade é, ou não, bem-sucedida2.Sobestaperspetiva,asaúdepodesermedida atravésdasuacontribuic¸ãoparaassegurarospadrõesdevida material,social ecultural,necessários ao desenvolvimento plenodascapacidadeshumanas.

Asaúdeéuminvestimentonodesenvolvimentohumano e económico, fundamental na luta contra a pobreza e para garantir o desenvolvimento sustentado; a seguranc¸a e a protec¸ão na saúde constituem as pedras basilares da seguranc¸ahumana3,4.

AAgenda Global de Saúde, da Organizac¸ão Mundialde Saúde(OMS),apelaaumamaiorvisibilidadepolíticadasaúde, dandoênfaseaqueestadeveterrepercussãoquernaagenda económica,emresultadonãoapenasdoimpactonegativoda másaúde,mas,também,da suarelevânciaparaa produti-vidadeglobal dospaíses, quernaagendada justic¸asocial,

considerandoqueasaúdeéumvaloreumdireitohumano5. AEstratégiaSaúde20206reforc¸aestavisão.

«Saúde em todas as políticas», uma estratégia preconi-zadapelaOMS7,implicasetorescomoosdaeconomiaedo emprego,dostransportes,dagestãodoterritórioedacultura, daeducac¸ãoeda infância,daagriculturaedaalimentac¸ão, dosambientesedasustentabilidade,porexemplo,oquetorna particularmenteimportanteaavaliac¸ãodoimpactonasaúde daspolíticasdosváriosdomínios.Porsuavez,asaúde,tem repercussõessociaisepolíticas.

AEstratégiaSaúde20206vemreforc¸araimportânciadas ac¸ões transversais para a saúde eo bem-estar, nos gover-nos ena sociedade («all of government and all of society approaches»), reconhecendo a necessidade de um grande reforc¸odascapacidadesdeintervenc¸ãonodomíniodasaúde pública, novamente enfatizada pelo Comité Regional da Europa,emsetembrode20128.

Comaprogressivaurbanizac¸ãoenecessidadederesposta aproblemasespecíficosaonívellocal,justifica-se,cadavez mais,umaumentodadescentralizac¸ão,comreforc¸odas com-petênciasedemeiosdopoderlocalparaatuac¸ãonoterritório específico,ondeaspessoasdefactovivem.

AconferênciadeOtawa9constituiuummarcode referên-cianadefinic¸ãodefunc¸ões-chaveparaatingirasaúdecomo adecapacitarosatoreseasinstituic¸õesparaamediac¸ãoem saúde.Apartirdeentão,asaúdeévistacomouminvestimento etomaformaoparadigmasalutogénicoquesefocalizanas capacidadesderesiliênciadosindivíduosedosgrupos, procu-randoalavancaraspotencialidadeseosrecursosexistentes. A saúde tem implicac¸ões no modo como as pessoas são

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capazesdelidarcomasmudanc¸associaiseeconómicasecom a possibilidade coletivade ajustamento, determinandoaté queponto conseguemencontrar soluc¸õesapropriadaspara osseusproblemasefortalecerasuaresiliência,queranível individualquerdogruposocial.

Orelatórioda«CommissionontheMeasurementof Eco-nomicPerformanceandSocialProgress»(CMEPSP)10faznotar queemsituac¸õesderápidasmudanc¸aseconómicasasaúde estáemrisco,salientandoqueéfundamentalexistiremfortes sistemasdecoesãoedeprotec¸ãosocial.Reconhecendoque existeumaestreitarelac¸ãoentreoinvestimentonosistema desaúdeeosganhosemsaúdeecrescimentoeconómicoe que,reciprocamente, através docrescimentoeconómico se produzem ganhos em saúde, a Comissão recomenda aos governosqueinvistamemsaúde,tendoemcontaqueestaé umaáreaessencialparaocrescimentosustentadoeque,de formaintegradacomaeducac¸ãoeasinfraestruturasfísicas, contribuiparaaqualidadedevida.

Crises

e

resiliência

A crise económica e financeira tem repercussões sobre a saúde, destacando-se os efeitos negativos na saúde men-tal, observados através do aumento dos homicídios, dos suicídios, da depressão,do consumo deálcool ede outras substâncias10–12.Àmedidaqueseagravamos constrangimen-tosfinanceiros,aumentaapressãosobreosistemadesaúde eosoutrossistemassociaisnosentidodemanterem respos-tasadequadasàsnecessidadesdaspopulac¸ões.Areduc¸ãodos servic¸osgovernamentaisenãogovernamentaiscolocatensão nacapacidade de os atoresindividuais ecoletivos respon-deremàs dificuldades, emque se incluem, com particular expressão,asdeacessoaosservic¸osdesaúde.

Asituac¸ãodecriseeconómicafacilitaadeteriorac¸ãodas condic¸õesdetrabalho,aperdadoestatutosocial,areduc¸ãodo poderdecompra,aalimentac¸ãomenossaudável,provocando umsentimentodeimpotênciaemcadavezmaiornúmerode pessoas.Osefeitosdacriseagravamofossodasdesigualdades sociais,colocandoemcausaosdireitos humanos. Simulta-neamente,oscidadãosperdemaconfianc¸anacapacidadede governanc¸apúblicaenaeficáciaetransparênciadas democra-ciasrepresentativas.Édeesperarumamaiorfragilidadedas relac¸õessociaisedasolidariedade,aocorrênciadealterac¸ões na estrutura das famílias, o aumento do vandalismo e de outrasformasdeviolência,emgrandemedidaemresultado deumcrescentenúmerodedesempregados,depobresede semabrigoedacompetic¸ãoporrecursosparasupriras neces-sidadesbásicasparaasubsistência.

Oaumentododesemprego,dapobrezaedaexclusãosocial, quedominamocenárioatualdegrandepartedospaíses euro-peus,exigedossetoressociaisabordagensintegradorasdas váriasfacetasdosproblemas.Omodelodosdeterminantes sociaisdasaúdeconsideraqueaspolíticaspúblicassãoum dosconjuntos defatoresmaisimportantesater emconta, peloque setornaimportante perceberse asestruturas do poder,sobretudoaonívellocal,asorganizac¸ões,os mecanis-mosdegovernanc¸ageraledosservic¸osestãoconcatenados paraaobtenc¸ãoderesultadospositivosnobem-estargeralda populac¸ãoe,emparticular,nasuasaúde13.

Em Portugal, a modificac¸ão dos padrões de vida, a segregac¸ãoespacial,oisolamento,odecréscimode oportuni-dadesparaaumentarorendimentoetambémadiminuic¸ãode recursosdoemprego,contribuemparaaemergênciacontínua denovasformasdevulnerabilidade.Emespecial,emrelac¸ão aosgruposdecidadãosemsituac¸ãodepobreza,oaumentodo custodevida,adificuldadeemencontrarumlocalparahabitar eanecessidadedeadoc¸ãodeestratégiasdeautossubsistência contribuemparaamaiorcomplexidadedosproblemas,quase sempremaisagudosemcontextourbano.

CaberecordarquePortugalé,atualmente,umdospaísesda OCDEcommaiorriscodecrianc¸asemsituac¸ãodepobreza14. No atualmomento de crise,encontrar soluc¸ões parafazer frente ao agravamento de condic¸ões sociais e económicas constituiumdesafiopermanenteàac¸ãodascomunidadese dasinstituic¸õesformais,dosetorpúblicoedosetorprivado, especialmentedosorganismosdopoderlocal.Paraprocurar assoluc¸õesmaisadequadas,opercursonatural,jáiniciado emalgunsmunicípiosportugueses,éoderecorrera meto-dologias de investigac¸ão participada de base comunitária (IPBC),pormeiodasquaisseprocuramidentificarasformas maisadequadasde implementarestratégiasao nívellocal, designadamentenoâmbitodapromoc¸ãodasaúde.NaIPBC, osatoreslocaissãoprotagonistasdainvestigac¸ãoe,pelasua participac¸ão ativa, vãoconstruindoo próprio empowerment. Competeàcomunidade adecisãode quaisosproblemasa estudar emlugar de serem os investigadores ou os finan-ciadores a decidirem de acordo com os seus interesses. Acomunidadedeveserenvolvida,também,diretamentena análise, nainterpretac¸ão de resultados enaspropostas de ac¸ão15.

Imbutir

criatividade

na

ac¸ão

Nestecontextodemudanc¸aedeinstabilidadesocial,patente ou potencial, continuam a prevalecer, contra o que seria desejável,osparadigmastradicionaisdedesenvolvimento.As estratégiasparaenfrentaracrisesãopoucopensadasepouco participadasnoturbilhãodaescassezderecursoseda pre-mênciaemencontrarsoluc¸õesparaproblemasagudos.Não édadaatenc¸ão suficienteànecessidadede seconstruírem mecanismosderesiliênciasocialeàcriac¸ãode infraestrutu-rasqueossustentem.Assim,verifica-sequeamaiorpartedas respostasatuaisàcrisedesprezaanecessidadede«inovac¸ão social»e aspotencialidadesde programasexperimentaise observacionaisquejádemonstrarameficácia.

Facea estaforma «tradicional» de intervir, énecessário investirnaalavancagemdosrecursosanívellocal,quer pro-movendoadescoberta denovas formasde fazer ascoisas, atravésdacriatividadeedaauto-organizac¸ão,querpelo reco-nhecimentodaspotencialidadesdosindivíduos,dosgrupos e das organizac¸ões. Sabendo-se queos setores sociais são muitovulneráveisàdiminuic¸ão dofinanciamento,torna-se importanteabolirasredundâncias,estabelecernovospadrões de trabalho, encontrar novas formas de cooperac¸ão e de comunicac¸ãoentreosváriossetoresecomasforc¸asvivasda comunidade.

Paraseproduzirodesenvolvimentolocalénecessário,para alémdaintegrac¸ãopolíticaedagovernanc¸aparticipativa,aos

(4)

váriosníveis,gerarquadrosdereferênciacapazesdedar sig-nificadoàac¸ão.Ainovac¸ãoeassoluc¸õescriativasemergem sempreque aspessoas seintegram plenamentena comu-nidade,investemnasrelac¸õesdevizinhanc¸a,participamna vidalocal. Osmunicípios devemestimular o envolvimento doscidadãos,emparticular, faceànecessidadede encarar situac¸õesnovas,sendocadavezmaisreconhecidoopapeldas comunidadesnosprocessosdeinvestigac¸ãosobreamudanc¸a social.

Quando sepretendeque amudanc¸a seconstitua como umaoportunidadedecapacitac¸ão edeconstruc¸ãoda resi-liência à adversidade cabe salientar, como especialmente adequada,aIPBC16,emqueosmembrosdacomunidadesão protagonistasdainvestigac¸ãoe,comisso,acionamoseu pró-priodesenvolvimento,comoatrásreferido.

Entre outras iniciativas promotoras da capacitac¸ão dos municípiosedas suaspopulac¸ões nasceram, nosfinais da décadade80enadécadade90doséculoxx,arededascidades educadorasearededascidadessaudáveis,respetivamente. Ambas se apoiam nos conceitos da interdisciplinaridade e da transversalidade, nos princípios do empowerment da participac¸ão e da avaliac¸ão, no respeito e na inclusão das diferenc¸as,napromoc¸ãodaequidade,naresponsabilidade,no desenvolvimentosustentávelenacidadaniademocrática17,18.

Poder

local

e

saúde

em

Portugal

Oregimeditatorialqueperdurouaolongodemaisde4 déca-dasnoúltimoséculo,emquetudoeracontroladopeloEstado (Estado-Providência), desresponsabilizava e minimizava a capacidadedeintervenc¸ãoeiniciativadoscidadãos, desmo-bilizava,oumesmopunia,qualquertentativadeparticipac¸ão. Aimplantac¸ãodademocraciaveioatribuiràsautarquias um papel de gestão em alguns domínios sociais, como a educac¸ãonosprimeirosanosdeescolaridadeeaac¸ãosocial. Aconscientizac¸ãoporpartedasautarquiassobreopapelque têmnasaúdedosmunícipeseasexpectativasqueestes passa-ramateracercadaprotec¸ão,queconsideramser-lhesdevida aovotaremnumelenco governativo,está alevar progressi-vamenteaumamaiorresponsabilizac¸ãonestedomínio.Os profissionaisdeváriasáreas,oscidadãosesuasorganizac¸ões têmvindoadebruc¸ar-sesobreasac¸õeseosmecanismosque podemfavorecerouprejudicarasaúde,tendoemcontaqueo Estado-Providênciaestáemdeclínioequeopoderlocalteráde assumiralideranc¸adosprocessosconducentesaobem-estar daspopulac¸õesquefazempartedoseuterritório.

Oenvolvimentodosmunicípiosnasquestões tradicional-mente entendidas como do setor da saúde está longe da expressão que assume noutros países. Só desde há cerca de duas décadas um número relativamente pequeno de autarquiassetemvindoaempenhar,explicitamente,nesta vertente da vida dos cidadãos. O envolvimento, como é de esperar, tem implicac¸ões no desenho das políticas, na governac¸ãoenaintervenc¸ãodireta.Recentemente,noâmbito daReformadosCuidadosdeSaúdePrimários,alguns muni-cípios iniciaram a colaborac¸ão com as Unidades de Saúde Públicanaidentificac¸ãodosprincipaisproblemasdesaúdee noplaneamentodasintervenc¸ões.Atualmente,assiste-se,em simultâneo,àcontinuac¸ãodaimplementac¸ãodaReformaque,

emboravisandoumamaiorequidadenoacessoena proximi-dadedosprestadoresdecuidadosaoscidadãos,nalinhada conferênciadeAlma-Ata19,seconfronta,agora,comaativa procuradecontenc¸ãonasdespesasdosetor,encerrando-se servic¸osecriando-semecanismosdedissuasãodaprocura. Nestecenário,surgeminiciativasdealgumasautarquiasna oferta de servic¸os alternativos às populac¸ões, ao mesmo tempoquecomec¸amaaparecerestudosdeavaliac¸ão econó-micaedeimpactoqueanalisamapossibilidadedegestãodos servic¸osdesaúdeporpartedosmunicípios20.

Acriac¸ão,pelaOMS,domovimentodascidadessaudáveis, em1992,despertou,nalgumasautarquias,avontadede ade-riraosseusprincípiosepráticas,existindohojeemPortugal 29 identificadas como «cidadessaudáveis», que integrama RedePortuguesadasCidadesSaudáveis21.Adotandoo plane-amentosistemáticoqueenfatizaanecessidadedecombater as desigualdades nasaúdeea pobrezaurbana,este movi-mentopugnaporumagovernanc¸aparticipadaeummodelode abordagembaseadonosdeterminantessociais,económicose ambientaisdasaúde22.

O

projeto

de

capacitac¸ão

em

promoc¸ão

da

saúde

Comvistaamelhorcompreenderopanoramanacionalquanto àimplicac¸ãoconscientedasautarquiasnodomíniodasaúde, oInstitutoNacionaldeSaúdeDoutorRicardoJorge(INSA,I.P.) eaEscolaNacionaldeSaúdePúblicadaUniversidadeNova deLisboa (ENSP/UNL),noâmbito doProjetodeCapacitac¸ão emPromoc¸ãodaSaúde(PROCAPS),efetuaramumestudoque integroutodososmunicípiosdopaís23,nasequênciadoqual tevelugaraconferência«Comunidades,AutarquiaseSaúde» (CAS)quemobilizouprofissionaisdesaúdeeagentes autár-quicos eque teve o apoio do Alto Comissariado da Saúde (ACS) e da OMS. À luzdos resultados da conferênciae de todootrabalhoentãodesenvolvido,pretende-seagorarefletir sobreaconscientizac¸ãoeapreparac¸ãodasautarquiasparaa assunc¸ãodadefesaeapromoc¸ãodasaúdenoseupercursode intervenc¸ãonestedomínio.

OprojetoPROCAPSfoienquadradonasatribuic¸õeslegais dosorganismos envolvidos, nomeadamentedas autarquias (artigo22.◦,daLein.◦159/99de14desetembro),do Ministé-riodaSaúde(artigon.◦2,doDecreto-Lein.◦212/2006de27de outubro),dasAdministrac¸õesRegionaisdeSaúde(ARS)(artigo. 3.◦,doDecreto-Lein.◦222/2007de29demaio)edos Agrupa-mentosdeCentrosdeSaúde(ACES)esuasestruturas(artigo 3.◦,doDecreto-Lein.◦28/2008de22defevereiro).

Em2008,deu-seinícioaoestudoPROCAPSparaconhecer qual apercec¸ãodas autarquiasacercadas suas competên-ciasecapacidadesnaáreadasaúde.Esteestudotevecomo objetivos23:

• Diagnosticarohiatoexistenteentreasituac¸ãorealea dese-jável,talcomoprevistanoPlanoNacionaldeSaúde(PNS) 2004-2010, na atuac¸ão dos municípios empromoc¸ão da saúdeeprevenc¸ãodadoenc¸a.

• Colaborarnaidentificac¸ãodenecessidadesdecapacitac¸ão de recursos humanos (competências, instrumentos e redes).

(5)

O ponto de partida no lanc¸amento do estudo foi a organizac¸ãode2reuniõesemqueparticiparam47técnicosde 22municípios,particularmentesensíveisaotemadasaúdee queestavamenvolvidosnaRedePortuguesadasCidades Sau-dáveise/ounaRedePortuguesadasCidadesEducadoras,bem comoalgunstécnicosdasautarquiasquehaviamcolaborado, algunsmesesantes,nadiscussãodosnovosestatutosdoINSA, I.P.

Percec¸ãosobreopapeldasautarquiasnasaúde. ResultadosdeumaanáliseStrengths,Weaknesses, Opportunities,Threats

NasegundareuniãofoirealizadaumaanáliseStrengths, Weak-nesses, Opportunities, Threats (SWOT)24 com a participac¸ão daquelesparceirosparaapreciarascontingênciasdotrabalho autárquicoemsaúde.Osresultadosforamosseguintes:

Pontosfortes

• Experiênciaautárquicadetrabalhoemrede. • Disponibilidadedeindicadoresdequalidadedevida. • Instrumentos de planeamento (Cartas Educativas, Perfis

Municipais de Saúde (PMS), Planos Diretores Municipais (PDM,etc.).

Pontosfracos

• Saúde«escondida»noutrasáreas.

• Dificuldadeemdesenvolver parceriascom osCentros de Saúde.

• Falta de dados(indicadores relacionadoscoma saúde)a níveldaautarquia.

• Faltadeinstrumentosparamedironíveldesaúdeanível «micro».

• Faltadetécnicoscapacitados(necessáriodefinir competên-ciasparaformac¸ão)paraolevantamentodenecessidades emsaúdeemcadamunicípio.

Oportunidades

• Estabelecimento de parcerias com entidades privadas e públicas(universidades,servic¸osdesaúde,indústria farma-cêutica,outras).

• Abordagem«Saúdeemtodasaspolíticas».

• PlanoNacionaldeSaúde(articulac¸ãodosetordasaúdecom autarquias,HIA,intersetorialidade).

• Transferênciadecompetênciasparaosmunicípios: comis-sõesmunicipaisdesaúdecomunitária.

Ameac¸as

• Dificuldade em demonstrar resultados em promoc¸ão da saúde,acurtoprazo(faltadeindicadoresintermédiosde monitorizac¸ãodeinvestimentos).

• Poucavisibilidade(política)dapromoc¸ãodasaúde.

Percec¸ãosobreopapeldasautarquiasnasaúde. Questionárioanívelnacional

CombasenaanáliseSWOTfoiobtidainformac¸ãoparao dese-nhode umquestionárioque posteriormentefoi aplicadoa

todososmunicípiosdopaís,comexclusãodasregiões autó-nomas.Esteveioaserelaboradonodecursodeduasoutras reuniões.Noiníciode2009,procedeu-seaumareuniãoem queparticiparamoINSA,I.P(DepartamentodePromoc¸ãoda SaúdeeDoenc¸asCrónicaseDepartamentodeEpidemiologia), aENSPeas5ARS.Asdimensõesdoquestionárioforam estru-turadasdeacordocomassugestõesrecebidaseforamtambém incluídas perguntas sobre as necessidades de formac¸ão e informac¸ãodosprofissionaisdasautarquias,ainformac¸ãode quedispõemsobreasaúde,oshábitoseestilosdevida sau-dáveiseasuaexperiênciaemparticipac¸ãocomunitária,com asfamíliaseempráticasdeempowerment.

Oquestionáriofoiaplicadoonline,entreosmesesdeabril esetembrode2009,tendosidoapresentadoorelatóriodos resultadosemfevereirode2010.

Foipossívelcontarcomaparticipac¸ãode30%dototaldas autarquiasdocontinente23.Todasconsideraramqueo envol-vimento naspolíticasde Promoc¸ãoda Saúde éimportante (48;53,9%)oumuitoimportante(41; 46,1%).Elegeramcomo áreas prioritáriasnestedomínio: asaúde,aac¸ãosocialea educac¸ão. Mencionaramqueparadesenvolver intervenc¸ões naáreadaPromoc¸ãodaSaúdenecessitariamdemaisverbas doEstado(1.◦), decandidaturasaprojetosespecíficos (2.◦)ede mais profissionais de saúde (médicos, enfermeiros) (3.◦). As competênciasreferidascomomaisnecessáriasemPromoc¸ão daSaúdereferem-seamobilizarosparceirosrelevantes(1.◦),a negociareconstruir parcerias(2.◦),ao trabalhoem equipa(3.◦), situando-se as competências de caráter metodológico no fundodatabela:Geririnformac¸ãoeconhecimento(18.◦), Selecio-narinstrumentosdeavaliac¸ão(19.◦)eAplicarinvestigac¸ão/ac¸ãoem situac¸ões demudanc¸a (20.◦). Quantoà informac¸ãodisponível nas autarquias, apenas 2 dos 37 indicadores relacionados comasaúdeestãodisponíveisem100%(73)dasautarquias respondentes(Existênciadeescolascom cantina(...)eespac¸os verdescomacessopúblico).

Encontro«Comunidades,AutarquiaseSaúde»

Coligidososresultadosdosquestionários,tornou-seevidente ointeressedasautarquiasemintervirnasaúde. Contactou-seoGabineteRegionaldaOrganizac¸ãoMundialdeSaúde,em Veneza,quesecomprometeuaapoiarumainiciativaem Por-tugalquejuntasseprofissionaisdesaúdeeautarcas.Assim,foi promovidaarealizac¸ãodoEncontroCASdeâmbitonacional, quedecorreuemLisboa,emabrilde2011,comaparticipac¸ão de cerca de 200 profissionais de saúde e de 150 autarcas, e de profissionais de outros setores como a educac¸ão e a ac¸ãosocial,alémdosconvidadosestrangeiros,representando aOMS.

EsteEncontrotevecomoobjetivos:

• Construirumcompromissodearticulac¸ãoentreo plane-amentoeaintervenc¸ãoautárquica nasaúdeeosplanos de saúde de âmbito nacional, regional e local, especifi-candoinstrumentoseprocessos,atravésdacompreensão dosinstrumentosemétodosusadospelasautarquiaspara o planeamento em saúde das comunidades, a definic¸ão de prioridades locais, o desenho e a implementac¸ão de intervenc¸ões,aarticulac¸ãointersetorialecomosservic¸os

(6)

desaúdeeaavaliac¸ãodaefetividadedasintervenc¸õesedo impactodaspolíticasautárquicasnasaúde.

• Conheceras boas práticasnacionais einternacionaisde planeamentoautárquicoedearticulac¸ãoentreautarquias, servic¸os de saúde e planeamento nacional/regional em saúde.

• Desenvolvimentodacapacidadedasautarquiaspara pro-mover a saúde, bem como fortalecer essa capacidade e permitirasuaavaliac¸ão.

CombasenosresultadosdoestudoPROCAPS,nas conclu-sõesdasreuniõescomasARSedeacordocomoparecerdos atores-chavechamadosàorganizac¸ãodoCAS, estabeleceram-seostemaspara4workshops:

1. Comoreforc¸arotrabalhodoscuidadosdesaúdeprimários edasautarquiasparaobtenc¸ãodeganhosemsaúde? 2. Melhorinformac¸ão,melhordecisão,melhorsaúde:como

searticulame cooperamas diferentes partes interessa-dasdosníveisnacional,regionalelocal,paraumamelhor observac¸ãoeplaneamentoemsaúde?

3. Pensar global, agir localmente: como coordenar melhor a governance a nível nacional, regional e local para intervenc¸õeslocaismaiscapazes?

4. Fazermelhorcomoquesetem:comoanalisareavaliaras políticaseasestratégiasnacionaisregionaiselocaispara areduc¸ãodasdesigualdadesemsaúde?

Osworkshopscontaram,cadaum,comaparticipac¸ãode cercade50profissionais.

Principaisconclusõesdosworkshops:

• Oreconhecimentodapoucaparticipac¸ãoedoenvolvimento dacomunidade.

• A importância do papel do Conselho na Comunidade pelarepresentatividadecomunitáriasocialerelevânciadas competênciasnatomadadedecisão.

• Anecessidade de partilharde resultados ede conhecer os ingredientes-chave para o sucesso dos projetos com impactopositivonacomunidadeeconhecerfatoresde insu-cesso.

• Aimportânciadesecriarumgrupoestratégiconacionalque definaumaestratégiaúnicaparaainformac¸ãoemsaúde, asnecessidadesdeinformac¸ãoacadanível,definire con-sensualizartermoseconceitos,harmonizarearticularos diferentesníveis.(Nota:foiassumidoumcompromissopela DGSnamelhoriadaqualidade deinformac¸ão emsaúde, pelaACSS,IP,nainclusãodeindicadoresdemorbilidadeao níveldoscuidadosdesaúdeprimáriosepeloINSA,IP,na disponibilizac¸ãodeinstrumentosemétodosdeavaliac¸ão emsaúde).

• Deve ser atribuída ao cidadão maior participac¸ão ativa, poderdedecisão,cooperac¸ãoeavaliac¸ão.

• Deveserdesenvolvidaumanovaculturadesaúde,capazde envolverefomentaraconfianc¸a,minimizandoasrelac¸ões assimétricasdepoder.

• Háquetrabalharparaumaverdadeiraparcerianosistema desaúde.

• Deve ser promovida a cidadania em saúde reforc¸ando, principalmente,oenvolvimentopúblicodosjovens,numa

dinâmicaqueintegreaproduc¸ãoeapartilhadeinformac¸ão eoconhecimento(literaciaemsaúde).

• Aimportânciadeasautarquiasinvestiremno desenvolvi-mentodasaúde,aumentandoocapitalsocial,diminuindo aexclusãosocial,asdesigualdadesnasaúde,promovendo odesenvolvimentosocioeconómico,entreoutros.

• Énecessáriodesenvolverummodelodeintervenc¸ãolocal, emquesejamdefinidoscaminhoscomuns,comenfoque nosdeterminantessociais.

ContributosdosespecialistasdaOrganizac¸ãoMundial deSaúde

ErioZiglio,diretordoGabinetedaOMS-Europa22,apresentou oqueconsideraseremos5principaisproblemasdesaúde:o aumentoda iniquidadeemsaúde;necessidadesde investi-mentos mais equilibrados («continuamos maisfocados no tratamentoenoindivíduodoquenapromoc¸ãoda saúdee na populac¸ão»);necessidade de reforc¸ar o papel dos siste-masdesaúde;consistênciadeac¸ãoemsaúdeemconjunto comosoutrossetores(importânciadaconsistêncianos dife-rentesníveisdeintervenc¸ãoemsaúde);melhorgovernanc¸a aosníveisdacooperac¸ão,dacoordenac¸ão(ajustedepolíticas setoriais)edeintegrac¸ãodepolíticas.

Apontou,faceaestesproblemas,5medidasprincipaisa tomar:

1. Capacitar(nacional/local),ouseja,aumentaroknow-how dosprofissionais.

2. Gerirossistemasdeumaformaintegradaenãopromover apenasintervenc¸õesisoladas.

3. Diminuirfatoresderisco,diminuirascondic¸õesderiscoe maximizarosrecursoslocais.

4. Reposicionarasaúdeemtermosdedesenvolvimentoao nívellocal.

5. Maximizarosrecursosdacomunidadelocal.

Aparticipac¸ãodosautarcasnesteencontrofoireveladora dasuaperspetivaepreocupac¸õesmaisprementes.Um ele-mento da Associac¸ão Nacional de Municípios Portugueses comentou:

«Aindaqueasaúdesejaumdireitoconstitucionalmente consagradoeumaresponsabilidadedoEstado, continuam-seaverificarfortesestrangulamentosnoacessoàsaúde; existe uma evidente diminuic¸ão da oferta dos servic¸os de saúdejunto das populac¸ões... estandoosmunicípios limitados nas suas ac¸ões.». Evidenciou, ainda, que «É necessário melhorar a gestão dosnossos recursos, não podendoestagestãofixar-seapenasnareduc¸ãodecustos, poisdestaformacolocaremosemriscoacessoequalidade dosservic¸os!».

Harry Burns, Diretor-Geral da Saúde da Escócia25, evidenciouquefazemosumaabordagembaseadaemdéfices de saúde,focada nos problemas e no desenvolvimento de servic¸osparacolmatarestesproblemas,referindoqueexiste uma obsessão pela patogénese em detrimento da salutogénese. Recordou que uma abordagem com base na intervenc¸ão emlocaisespecíficos(assetsapproach)setemreveladocomo um grandepotencial, verificando-se quequando o focose

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estabelecenoqueestádisponívelnascomunidades,emvez deseconcentrarnaquiloqueelanãotem,ouseja,nassuas necessidades,acapacidadedessacomunidadeparalidarcom essasnecessidadesésignificativamentemaior.

Reflexões

e

propostas

OProjetodeCapacitac¸ãoemPromoc¸ãodaSaúde

Oestabelecimento da cooperac¸ão,emrede, entreas autar-quias,bemcomoaidentificac¸ãodepráticasexemplaresque sejam sistematicamente disseminadas, através de proces-sos interativos, deverá constituir duas das dimensões do investimento afazer,tal como apontamas conclusõesdos workshopsdoEncontroCAS,desenvolvidonoâmbitodo PRO-CAPS, da iniciativa do INSA, I.P., em colaborac¸ão com a ENSP/UNL.

O projetoPROCAPS tornouevidente que o incentivoao trabalhoanívellocal,sobumametodologiadeinvestigac¸ão e de planeamento participados, é um importante inves-timento para a adequac¸ão das respostas às necessidades locais. A este propósito, cabe referir que o modelo de IPBC proporciona o desenvolvimento de capacidades dos cidadãos e fortalece, também, a estrutura das suas organizac¸ões16,26,27.

Atualmente,oplaneamentolocaléaindaorientadopara a «produc¸ão do plano» emvez de se constituir como um processo de empowerment coletivo. O planeamento deve assumir um papel relevante para tornar concreta a natu-reza da ac¸ão, com vista ao desenvolvimento, entendido como uma«mudanc¸a intencional», para além das func¸ões tradicionais28.

Osmunicípios,comoinstrumentosdopoderlocal,devem sercapazesdeimplementarpolíticasquepromovama qua-lidade de vida, a capacidade de empreendedorismo e a resiliência das populac¸ões. Por se constituírem como um níveldeintervenc¸ãopróximodascomunidades,têma possibi-lidadedemelhorcompreensãodosfenómenos,dasestruturas e dos mecanismos subjacentes às dinâmicas locais. No entanto,éfrequente queasuaestrutura burocráticae hie-rarquizada dificulte uma abordagem flexível, responsiva e planeadaaosproblemasedesafios.Nestedomínio,torna-se importanteaformac¸ãodosseusprofissionaisparaaaquisic¸ão decompetênciasnautilizac¸ão demetodologias participati-vasnoâmbitodaintervenc¸ãoemsaúdeenoutrosdomínios sociaiseambientais.

OfactodemuitosparticipantesnoPROCAPSterem reco-nhecido a importância de umalinha de base comumque dê suporte à sua intervenc¸ão coerente e mais ativa em promoc¸ãodasaúdeapontaparaanecessidadedeumamaior aproximac¸ãoentreossetoresautárquicoedasaúdeeomundo académico.

OPROCAPSapresentaumgrandepotencialdeaplicac¸ão edeevoluc¸ão,podendoviraentrosar-senummodelo parti-cipadodediagnóstico-investigac¸ão-ac¸ão-avaliac¸ãocomo,por exemplo,oPRECEDE-PROCEED29,30usadoemmuitospaísese lugaresdomundoparadiagnosticareplanearintervenc¸ões debasecomunitáriaecomoestratégiadecapacitac¸ãopara promoveraqualidadedevida.

Apromoc¸ãodasaúdeeodesenvolvimentolocal

Umpossívelreferencialaexplorarpoderáseroquesesugere nafigura1.

Esteesquemabaseia-senasteoriasdocomportamento,na literatura sobrea governanc¸a urbana, no planeamentoem promoc¸ãodasaúde,nosdeterminantesdobem-estare estu-doseexperiênciasnoâmbitodacriseedosseusefeitosna saúdeenaqualidadedevida.

Além domodelo PRECEDE-PROCEED, esta proposta tem, também,emconta:

- ÍndiceCívicoqueéusadonaavaliac¸ãodacapacidade da comunidadeparalidarcomnovosdesafioscomrecursoa processosparticipadosderesoluc¸ãodeproblemas31. - ModelodeGoodmanusadoparaexplicaracapacitac¸ãoda

comunidadeeprovidenciarabaseparaasuamedic¸ão32. - QuadroconceptualdaComissãodosDeterminantesSocais

daSaúdedaOMSusadoparaexplicarasdesigualdadesem saúdeeosdeterminantessociaisdasaúde33.

- ModeloconceptualdeGermaneWilsondacapacidade orga-nizacionalparaodesenvolvimentodacomunidade34. - ModelosalutogénicodeAntonovsky35.

Alocalidade

Ésabidoqueaslocalidadesconstroemasuaespecificidadea partirdeprocessosdeinterac¸ão,articulac¸ão,relac¸õessociais, experiências e entendimentos emcopresenc¸a. Uma locali-dadeéaresultantedeumconjuntoarticuladodemomentos queproduzemumsentidodelugar,criandoconsciênciados lac¸osqueseestabelecemcomomundomaisvastoenãoum territóriorodeadodelimitesefronteiras.Aslocalidadesnão possuemumaúnicaidentidadee,porisso,estãorecheadas de diferenc¸as e de conflitosinternos. A suaespecificidade deriva dofactode elarepresentarumamisturadistinta de relac¸õessociaiscujajustaposic¸ãoproduz efeitosúnicos,na suaacumulac¸ãocomahistóriadolugaremqueseinsere.Este entendimentopermitereconhecerosentidodoqueé«local» e«global»equetemcomoresultadoumnúmerorelevantede implicac¸õesparaagovernanc¸a.Osmunicípiosdeverãopoder coordenar,de formaefetiva,asvárias vertentesda vidano seu território,anívelsocial, educativoecultural36. A abor-dagempelapromoc¸ãodasaúdeorienta-seporestimularas interfacesentreosdiferentesníveisdegovernanc¸a,deatores eorganizac¸õesdeoutrossetores,cabendoaosprofissionaisde saúdeumpapeldecatalisadoresdestadinâmica.

Estalinhadepensamentoéreconhecidapelasredes euro-peiasdasCidadesSaudáveis edasCidades Educadorasque reafirmamaimportânciadaac¸ãoaonívellocaleoslac¸osentre oplaneamentourbano,aterritorializac¸ão,osespac¸osverdes, aeducac¸ão,ahabitac¸ão,ostransportes,acoesãosocialea saúdenosbairros.

Saúde,qualidadedevidaepartilhaderesponsabilidades

Nocasodasaúde,osproblemas,anteriormentemuito foca-lizados nas mudanc¸as de comportamentos, deverão ser abordadospelosseusdeterminantesprincipais,oqueexige o envolvimento de outros setores na saúde e a avaliac¸ão

(8)

Qualidade de vida Situação de partida/situação de chegada Contexto

(Social, económico, cultural, educacional, saúde, segurança alimentar/food security, trabalho, ambiente físico,...)

Comportamentos

(Participação efetiva,

iniciativas locais – comunitárias, Organizações públicas e privadas,

Governos, …)

Valores

(Reciprocidade, solidariedade, confiança, …)

Fatores mediadores

-s

ubstrato para a ação e

reação

Predisponentes

(Prontidão, resiliência,

empowerment, auto-eficácia,

capital humano, capital social, …)

Reforço

(Reconhecimento público, gratificações, boas práticas disseminação, reconhecimento da liderança da comunidade, …)

Capacitantes

(Oportunidades para a inovação, participação, aquisição de competências, ...)

Qualidade das políticas locais

(Orientação para a promoção da saúde, responsividade, transparência, equidade, inclusão, efetividade, eficiência, participação, …)

Sistemas

reguladores

(Quadro legal,

monitorização e avaliação, participadas...) Governança para o desenvolvimento humano (Co-produção e partilha de responsabilidades entre os setores privado e público, integração da diversidade cultural, foco nas necessidades, promoção do empreendedorismo...)

Figura1–Propostadereferencialparaapromoc¸ãodasaúdeedesenvolvimentolocal.

do impacto das suas políticas e ac¸ões na mesma. Hoje, a colaborac¸ãointersetorialsignificaasac¸õesdosvários seto-res,eventualmente,emcolaborac¸ãocomosetordasaúde37. Aavaliac¸ãodoimpactonasaúdedaspolíticasdosvários domí-niosédeparticularimportância,pois,aoclarificarem-se as ligac¸õesentrepolíticaseac¸ões,determinantessociaise con-sequências,está-seacontribuirparamelhoraracapacidade datomadadedecisãopolíticabaseadanaevidência38.

Oprocesso detomadadedecisão,sendo umaspeto crí-ticodetodoosistemacomunitário,assumegranderelevância quandoofocoéasaúdedacomunidade.Melhorarasaúde de um grupo populacional requer políticas promotoras da saúde39criadasderaizcomessepropósito.

Para que se consiga melhorar a qualidade de vida das populac¸õesetorná-las maisaptas eempenhadas em deci-dir sobre o seu destino, éessencial, do ponto de vista da efetividademastambémdaética,quesejagarantidoo res-peitopelosdireitoshumanosepelasdiferenc¸as,assegurando mecanismosquefacilitemaparticipac¸ãodetodosnos proces-sosdedecisão.Assim,porexemplo,seestiveremperspetiva odelineamentodeintervenc¸õescujoobjetivosejaoaumento dacoesãoedocapitalsocialnumadadacomunidadee cul-tura,énecessáriocompreenderoqueéprecisomudarecomo. Estaideiadeve,especialmente,sertidaemcontanodesenho eimplementac¸ãodepolíticasdirecionadasqueraaumentar ainclusãodosgruposmaisvulneráveis,comoascrianc¸as,as famíliasmonoparentais,osdesempregados,osidosos,quera integrarosimigrantes.

Asalianc¸asentreosdecisorespolíticos,ascomunidades pelasquaissão«responsáveis»,os profissionaiseomundo académicosãofundamentaisparaqueseencontremas estra-tégias capazes de promover, localmente, a coesão social e conseguir um funcionamento coletivo eficaz. Só com a

implicac¸ãoeaformac¸ão,emcontexto,dosváriosatoresea vontadepolíticaparadarrespostacabalàsnecessidadesdas populac¸ões sepode garantiraadequac¸ão das medidas ea sustentabilidadedosprocessos.

Umacomunidadesaudável,pornatureza,édotadadeuma matrizdeunidadessociaisquepermitemaparticipac¸ãoea colaborac¸ão.Épelosprincípiosdaparticipac¸ão,do empower-ment,dacorresponsabilidadeedatransparêncianaprestac¸ão decontasqueascomunidadesdevemconstruiroseupróprio destino,ospolíticosdarrespostasadequadasàssituac¸ões,e, emconjunto,criaremaconfianc¸anecessáriaaocrescimento docapitalsocialeàsustentabilidadedosinvestimentos.Esta étambémabasequeexplicaaligac¸ãoentreademocraciaea promoc¸ãodasaúde.

Conflito

de

interesses

Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.

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a

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i

a

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Figura 1 – Proposta de referencial para a promoc¸ão da saúde e desenvolvimento local.

Referências

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