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ELIA ETE LIRA CRUZ. PRAÇA DA PAZ: espaço público na cidade de João Pessoa PB

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Academic year: 2021

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ELIAETE LIRA CRUZ

PRAÇA DA PAZ: espaço público na cidade de João Pessoa – PB

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Mestre em Geografia, Área de Concentração em Território, Trabalho e Ambiente.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Augusto de Amorim Cardoso

João Pessoa – PB 2011

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C957p Cruz, Elianete Lira.

Praça da paz : espaço público na cidade de João Pessoa-PB / Elianete Lira Cruz. - - João Pessoa : [s.n.], 2011.

111f. il.

Orientador: Carlos Augusto de Amorim Cardoso. Dissertação (Mestrado) – UFPB/CCE*.

1. Geografia urbana. 2. Espaço público. 3. Práticas cotidianas. 4. Sociabilidade. 5. Praça.

UFPB/BC CDU: 911.375(043)

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Para Meu pai, Osvaldo Ferreira Cruz (in memoriam) Minha bisavó, Francisca Romana (in memoriam)

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AGRADECIMETOS

A vida se processa com a participação de pessoas que, quanto mais próximas de nosso cotidiano, contribuem, de alguma forma, para a concretização de idealizações postadas a partir de nossas escolhas. Assim, esta dissertação, que tem minha assinatura, consta da presença “anônima” de pessoas a quem faço meus agradecimentos.

Agradeço, inicialmente, ao Professor e Orientador, Dr. Carlos Augusto de Amorim Cardoso, por sua atitude de conciliar o acadêmico com o ser humano, sempre com disposição para ir além da função profissional e ser um amigo;

Ao Mestre e amigo, Genes Duarte Ribeiro, como primeiro incentivador, que me motivou até os momentos de conclusão deste trabalho, com atenção e acolhimento em momentos de dificuldade teórica, nas discussões da temática escolhida;

A minha família:

Maria da Penha - minha mãe, sempre ao meu lado nos momentos de dificuldade, em seu silêncio e em suas atitudes de estar presente, o meu eterno agradecimento;

Ao meu irmão Elias e a minha sobrinha Thissiany, pelo empenho quando precisei desenvolver a pesquisa de campo; a Cristina, minha irmã, por suas palavras de apoio; aos meus sobrinhos Matheus, André (também filho) e Filipe, que estiveram sempre por perto, com afeto e carinho; a Carmem Lúcia, minha cunhada e amiga, atenta em nossas confidências; às minhas irmãs, Elianice e Cléia, que, mesmo na distância de nossa singularidade, acreditaram no meu interesse pela Academia;

A Edson, não apenas como família, mas também como amigo, namorado e marido, por estar sempre presente em minhas decisões, oferecendo apoio e credibilidade, compreendendo, a distância, os meus momentos de silêncio, em que sua presença parecia incomodar. Obrigada.

Aos amigos que, na prática cotidiana, vivenciaram comigo cada processo, desde a seleção para ingressar no Programa de Pós-graduação até a etapa final de produção escrita da dissertação, amenizando minhas inquietações: Edna Cristina e seus familiares; Josinaldo, Ana

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Julieta, Amanda, Adriana, Vilma Urquiza, Suely Urquiza, Elenita Vicente, Raimundo Ferraz, Silvana (amiga durante o Curso do Mestrado) e Dr. Artur Bernardes Oliveira;

As minhas amigas Mariza Batista e Albanete Formiga, pela amizade sem questionar percepções de mundo;

Às psicólogas Irene e Luciene, por nossas conversas terapêuticas que muito auxiliaram na ideia de ingressar no Mestrado;

Aos Professores do Mestrado, Doralice Sátyro Maia, Sérgio Alonso e Roberto Sassi;

Aos professores Dr. Raimundo Barroso e Dr. Waldeci Chagas, pela colaboração e sugestão no exame de qualificação;

Agradeço ao Professor Dr. Willian Ribeiro da Silva, pela participação na banca examinadora;

A Sônia, secretária do Programa de Pós-graduação de Geografia, que sempre atendeu, com carinho e prontidão, às necessidades de informações e documentos solicitados;

Aos colegas da turma 2009, pelo excelente convívio, e o desejo de que todos chegassem ao final com o desempenho esperado;

Às Unidades de Ensino, por terem compreendido a importância de uma pós-graduação em nível de Mestrado, flexibilizando minha participação quanto ao trabalho educacional nas escolas;

À Secretária de Educação do Município de Guarabira, por sua gentil colaboração em conceder o afastamento das atividades escolares, bem como a ampliação do prazo para concretização desta pesquisa;

Aos alunos, que compreenderam minha distância da sala de aula, a fim de dispor de tempo para desenvolver a pesquisa;

Aos funcionários da SEPLAN e da SECOM, da Fundação Casa de José Américo, do IGHP, do Jornal A União, que me atenderam com gentileza e disponibilidade diante da necessidade documental requerida;

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Àquele que consideramos como tudo e todos, presente nas angústias e nas alegrias de um fazer cotidiano: Deus.

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A Praça

A Praça da Figueira de manhã, Quando o dia é de sol,

Nunca em mim esquece, Embora seja uma memória vã. Há tanta coisa mais interessante Que aquele lugar lógico e plebeu, Mas amo aquilo, mesmo aqui ...Sei eu

Por que o amo? Não importa. Adiante...

Isto de sensações só vale a pena Se a gente se não põe a olhar para elas.

Nenhuma delas em mim serena... De resto, nada em mim é certo e está

De acordo comigo próprio. As horas belas

São as dos outros ou as que não há. Álvaro de Campossmpos

(10)

RESUMO

O espaço público da Praça da Paz é analisado a partir da perspectiva de um fazer cotidiano, através de práticas, e do significado de pertencimento que os frequentadores adotaram. Nesse sentido, o processo de produção e apropriação desse espaço remete a níveis de sociabilidade, mesmo que diante da diversidade de seus usuários. Discutimos, nesta pesquisa, a Praça da Paz, no Bairro dos Bancários, município de João Pessoa, estado da Paraíba, visando pensar as propostas de sua construção naquele local e a visualização dos seus frequentadores, com a finalidade de perceber como ocorre a participação popular com vínculos de sociabilidade. O foco central de nossa problematização foi mostrar que esse espaço constitui peça fundamental na fabricação das relações sociais, ou seja, uma apropriação do espaço público que estabelece relações de sociabilidades. Devido aos seus usos e às práticas cotidianas, a praça contribui para dar significado a esse espaço público, o de pertencimento. O texto se organiza em três eixos: a ordenação das praças, com uma viabilidade de progresso e de embelezamento da capital da Parahyba, nas primeiras décadas do Século XX, como forma de atrair a população para frequentar os espaços públicos; pressupostos teóricos acerca da percepção sobre espaço público como produtor/produto social, com aspectos de construção da praça a partir de uma gestão participativa entre poder público e cidadão; e considerações sobre a importância desse espaço, como lócus de convívio, pertencimento e sociabilidade.

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ABSTRACT

The public space known as “Praça da Paz” (Peace Square) is analyzed from the everyday perspective, through practical activities, and based on the meaning of acquaintance adopted by those ones who use the square . In this way, the process of production and appropriation of such public space is related to the levels of sociability, even when there is a variety of users with different objectives. We discuss, in this academic paper, the use of the space know as “Praça da Paz”, in Bancários, one of the neighborhoods in the city of João Pessoa, in the State of Paraíba, aiming to analyze the construction of the mentioned square in that place and how often people use it building up the sense of sociability. The main problematic presented in this paper intends to show how important this public place is in producing social relations, in other words, the important role the square plays in establishing relations of sociability. The square constitutes, from its different uses and regular everyday practices, a contribution to produce a special meaning to this public space: the acquaintance. The text is organized in three different dimensions: the governmental planning of the squares directed to the progress and the beauty of the city in the first decades of the 20th century, offering a public space to the population; theorize the perception about public places as a social product, and map out the aspects involving the construction of the square from a participative management between government and citizens; highlight the importance of that space as a gathering place and social acquaintance leading to sociability.

K

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Profissão 48

TABELA 2 – Escolaridade 48

TABELA 3 – Rendimentos 49

TABELA 4 – Conhece o trabalho da Associação de Moradores? 49

TABELA 5 – Conhece algum trabalho desenvolvido pelo Conselho Gestor da

Praça? 49

TABELA 6 – Bairro de residência 80

TABELA 7 - Motivos para frequentar a área 80

TABELA 8 – Por que prefere essa Praça? 81

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização da Praça da Paz - Bancários 42

Figura 2 – Espaço público no Bairro dos Bancários – João Pessoa-PB 43 Figura 3 - Espaço público no Bairro dos Bancários – João Pessoa-PB 44 Figura 4 – Foto área da Praça da Paz ao centro do Bairro dos Bancários, local

escolhido pelos moradores para a sua construção

45

Figura 5 - Foto área da Praça da Paz ao centro do Bairro dos Bancários - Área total de 39.537,19 m² e área verde de 12.655m²

45

Figura 6 – Praça da Paz com seus equipamentos oferecidos à população: quiosques, parque infantil, anfiteatro, pista de skate, pista de caminhada, bancos de alvenaria, quadra de futsal, quadra de areia, campo de futebol e instrumentos para exercício físico

47

Figura 7 - Praça da Paz – atividades lúdicas oferecidas 51

Figura 8 – Pessoas das mais diversas situações visitam a praça em horário noturno 65

Figura 9 – Expressões do cotidiano jovem na praça 66

Figura 10 Expressões do cotidiano jovem na praça 66

Figura 11 – Equipamentos pré-estabelecidos para uso dos visitantes 68

Figura 12 – Passeios em grupo pela praça 71

Figura 13 – Acesso livre à Praça pelos visitantes 72

Figura 14 – Atividades culturais no Anfiteatro 75

Figura 15 – Equipamentos de atividades lúdicas e esportivas 79

Figura 16 – Pista para caminhada 83

Figura 17 – Espaço para crianças na Praça da Paz 85

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SUMÁRIO

ITRODUÇÃO 14

CAPÍTULO I – A CIDADE DA PARAHYBA DO IÍCIO DO SÉCULO XX: construção e transformação dos espaços públicos

20

1.1. INICIATIVAS DE ORDENAMENTO URBANO 20

1.2. AS PRAÇAS – UM ESPAÇO PÚBLICO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

26 1.3. A CONSTRUÇÃO DE OUTROS ESPAÇOS PÚBLICOS EM OUTRAS TEMPORALIDADES

34

CAPÍTULO II – PRAÇA: ESPAÇO PÚBLICO DE APROPRIAÇÃO COTIDIAA

40

2.1. PRAÇA DA PAZ – BAIRRO DOS BANCÁRIOS 40

2.2. ESPAÇO PÚBLICO – ESPACIALIDADE DE DINÂMICA SOCIAL 55

CAPÍTULO III – PRAÇA DA PAZ: PRÁTICA DE USO E SOCIABILIDADE

63

3.1. A PRAÇA DA PAZ – UM ESPAÇO PÚBLICO DE SOCIABILIDADE 63

3.2. APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO DA PRAÇA DA PAZ – PRÁTICAS DE USO COTIDIANO

79

COSIDERAÇÕES FIAIS 90

REFERÊCIAS 94

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ITRODUÇÃO

Praça da Paz, Bairro dos Bancários – João Pessoa - PB - Fonte: SEPLA

“O homem posto entre o poder político, sempre presente, e a multiplicação dos aspectos do cotidiano.” (Saldanha, 2005 p.10)

A evocação desse fragmento teórico, aliada à subjetividade impregnada na vivência de pertencimento a ruas, praças e parques foi o primeiro motivo para a concretização desta pesquisa, visualizada a partir das inquietações acerca de práticas cotidianas, do viver urbano nesses logradouros, que permitem, em seu espaço físico e social, a confluência do singular e do plural.

Dessa forma, a infância no Bairro do Jaguaribe, na capital do estado, envolvida em sociabilidades entre os bancos escolares, os cômodos da casa e a visita constante à Pracinha, com amigos e familiares, no final da tarde, para brincar, passear e conversar com vizinhos,

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são fragmentos iniciais do envolvimento pessoal com esse espaço público tão significativo na vida de tantas pessoas.

Em seguida, foram as leituras no trabalho monográfico para a conclusão do Curso de Pós-graduação em Educação Ambiental, quando me sentia envolvida com a discussão sobre as condições ambientais em que se encontrava o Parque Solon de Lucena. Na época, preocupava-me com os diversos usos econômicos e a crescente descaracterização daquele espaço público, em detrimento da sua condição de se tornar, de fato, um parque para uso da população.

Nesse contexto, compreendemos que os objetos urbanos produzidos pela cidade não podem ser aceitos como uma reprodução de objetos. Em diversos teóricos que escolhemos para discutir esta pesquisa, registra-se uma centralidade em torno de um modelo mais estético, simbólico e cultural, baseado em uma sociedade de consumo.

Dessa forma, o espaço urbano se constrói como um produto social e segue o ritmo da sociedade que dele se apropria, a partir de práticas socioespaciais. Nesse contexto, optamos por pensar o espaço como categoria da Geografia, considerando a proposta de Lefebvre e Milton Santos, de relacionar espaço e produção social, em que “o espaço não é mais simplesmente o meio indiferente, a soma dos lugares onde a mais-valia se forma, se realiza e se distribui. Ele se torna produto do trabalho social”.

Nesse caso, quando a nossa proposta se destina a dialogar com a praça como um espaço de produção social, parece fundamental compartilhar a ideia de Sobarzo (2006) de considerar o espaço público da praça como produto e produtor das relações sociais criadas para vivências cotidianas.

Assim, considerando algumas pesquisas nas áreas de Arquitetura Urbana e de Geografia, voltadas para o estudo das praças na cidade de João Pessoa, sem identificar obras que discutem as sociabilidades incorporadas em uma produção do pensamento geográfico, a partir da vivência que se estabelece no espaço da praça pela população que a usa, propusemo-nos a preencher essa lacuna, estabelecendo um recorte espacial voltado para a Praça da Paz.

Tal escolha surge, também, pelos seguintes motivos: pelo fato de a praça estar incluída no projeto de revitalização das praças e parques proposto pela Prefeitura Municipal; por ser bem frequentada pela população, já que fica perto de um centro comercial; os equipamentos que são disponibilizados às pessoas para atividades físicas e por estar inserida em uma malha viária de uso constante de veículos e pedestres.

Outra consideração a fazer sobre a escolha da Praça da Paz, como objeto de pesquisa, é a singularidade que a população lhe conferiu, quando idealizou um uso de práticas

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cotidianas que podem contribuir para a produção de significado a esse espaço público, o de pertencimento.

Nesse sentido, surgem as seguintes questões de pesquisa: Quais as políticas públicas que têm sido implantadas para (re) construir as praças? Que projetos vêm sendo desenvolvidos e qual a sua viabilidade para a sociabilidade na Praça da Paz? Que desafios e possibilidades oferece a Praça da Paz para uma gestão democrática entre os seus visitantes? Como se têm percebido as práticas usadas pelas pessoas que visitam a Praça da Paz como espaço para sociabilidades? Foram essas as principais questões que tentamos responder como propósito deste trabalho.

A proposta de pesquisa percorreu vários caminhos que tentaram evidenciar os objetivos propostos inicialmente. Assim, no Primeiro Capítulo, apresentamos um percurso histórico, a partir da segunda metade do Século XIX e início do Século XX, trazida por Aguiar (2002), Coelho (2005), Rodrigues (1981), Melo (1990), Maia (2000) e Silva (1997). Nessa época, a cidade de João Pessoa era chamada de cidade da Parahyba, onde através dos gestores municipais iniciaram às possibilidades de modernização da capital, através dos serviços de abastecimento de água e luz. Nesse tempo histórico, a cidade apresentava uma fisionomia tipicamente rural, e mesmo com o título de cidade, seu aspecto indicava mais o rural que o urbano esperado para uma cidade. Contudo, o país propagava as ideias de progresso e de crescimento, e a Parahyba não poderia ficar ausente da perspectiva que se atribuía às capitais brasileiras.

Nessa conjuntura, cabia aos administradores locais transformar a cidade de aparência rural em urbana. Entre os investimentos urbanísticos, estava em evidência a infraestrutura. A cidade da Parahyba se percebe em processo de demolição de prédios para abrir e construir logradouros como ruas e praças, além do saneamento, imprescindível para a salubridade, evitando a proliferação de doenças.

Dessa forma, as ações desses representantes do poder público sugeriram um novo tempo cultural para o cotidiano citadino. Isso foi feito a partir de recortes na arquitetura da cidade, fundamentados na tríade: sanear – circular – embelezar, que se tornaram o “carro- chefe” que direcionou todas as mudanças na cidade.

A proposta de alguns administradores, como Henrique Beaurepaire Rohan, Camilo de Holanda e Solon de Lucena, incluiu o cuidado com a infraestrutura direcionada ao saneamento e a busca de um ordenamento urbano voltado para diferenciar a capital parahyabana de outras cidades. Para isso, enfatizaram os logradouros como as praças,

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implantando construções e reformas, para atrair a população ao uso cotidiano de tais logradouros.

A partir dessas posturas, a população começa a usar as praças como práticas cotidianas, mesmo que venha acompanhada de uma distinção social para o uso desses espaços. Assim, nem todos os citadinos frequentavam a Praça Venâncio Neiva e a Praça Comendador Felizardo Leite, pois ofereciam atrações que não atendiam ao interesse da população de menor poder aquisitivo. No entanto, a Praça Vidal de Negreiros (Ponto de Cem Réis) tornou-se o espaço público em que havia um cotidiano que absorvia uma diversidade social e cultural.

Em seguida, percorremos uma breve apreciação aos novos vistos espaciais que surgiram na capital, como, por exemplo, os teatros, os cinemas e os shoppings. Consequentemente, as novas sociabilidades foram modeladas ao longo desse processo, em que os espaços públicos mudaram de importância no âmbito urbano, e a praça, que até meados do Século XX, foi espaço de destaque na cidade, perdeu sua condição de lócus social no cotidiano dos citadinos.

Em meados do Século XX, a ampliação e os melhoramentos em avenidas como Epitácio Pessoa e Pedro II “convidam” a população a frequentar as praias, pois tais avenidas facilitam o acesso ligando o centro e os bairros à orla marítima da capital da Paraíba. Convive-se com outras temporalidades no viver o urbano, com hábitos de fim de semana como ir à praia. As praças, mesmo estando presentes nos diversos bairros que surgem na cidade, perdem seu aspecto de uso cotidiano e tornam-se logradouros de passagem de pedestres e veículos ou de espaço que pertence ao bairro sem significação simbólica de embelezar a paisagem urbana.

Dentre as novas temporalidades, na década de 1980, o crescimento da cidade aponta para um novo vetor além das praias - o shopping - como opção de mudar o “olhar” urbano para o que se propõe como moderno no final do Século XX e início de Século XXI. Com seus aparatos de modernização típica de uma sociedade que se encontra diante de outros valores sociais e culturais, o shopping simboliza um novo espaço de vivência das relações sociais.

A proposta neste capítulo foi oferecer um recorte temporal, nas ações propostas ao espaço urbano, entre as primeiras e últimas décadas do século XX, nossa atenção foi o espaço urbano e as ações dos gestores no seu ordenamento. Caminhamos por ruas, avenidas e praças e atentamos para compreender as ações de alguns gestores no sentido de que a capital da Paraíba ingressasse nos novos tempos. No intervalo entre as primeiras décadas do século XX e o seu final, a capital da Paraíba se tornou cenário de crescimento urbano com uma

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diversidade de espaços públicos como opção de uso cotidiano para os diferentes sujeitos sociais da época.

Abordar esse processo histórico de crescimento da cidade e como se percebe o espaço público nos oferece suporte para ampliar a discussão acerca do uso cotidiano e da sociabilidade evidenciada, no espaço público de João Pessoa, apropriando-nos da Praça da Paz como objeto de estudo, na perspectiva de uma gestão democrática para gerenciamento das praças na cidade.

No Segundo Capítulo, com base na ideia de Milton Santos, foi feita uma abordagem sobre o diálogo da sociabilidade do espaço público da praça, porque entendemos esse espaço como uma construção, formada por um conjunto de sistema de objetos e sistemas de ações. É essa noção inseparável entre sistema de objetos e ações que adotamos como conceituação para identificar o espaço geográfico da Praça da Paz bem como o processo de apropriação social como fomentador do espaço público.

Em autores como Lefebvre (1999), Souza (2008) e Gomes (2006), teorizamos a concepção do espaço urbano como construção social, em que a sociedade se torna reprodutora das ações que constroem o espaço público, a partir de uma espacialidade física em que está inserido o espaço público da praça.

Descrevemos, ainda, o trabalho de revitalização e construção da Praça da Paz, acompanhado de significações, de ampliação do hábito cotidiano da cultura na cidade, com possibilidades de sociabilidade, em espaços púbicos. Nesse sentido, apresentamos as propostas de revitalização daquele lugar, uma indicação da retomada de uso em tais espaços com acessibilidade a toda a população.

Para tanto, realizamos uma breve narrativa histórica do Bairro dos Bancários, onde o nosso objeto de estudo está inserido, como também as propostas de construção da Praça naquele local e a visualização dos seus visitantes, com a finalidade de perceber como ocorre a participação popular nas propostas de gestão da praça.

Portanto, acompanhamos a mobilização dos moradores do Bairro dos Bancários desde a reivindicação para a construção de uma praça naquele bairro, em 1988, através da uma comissão Pró-praça, em parceira com a Associação de Moradores, até sua inauguração, em 2006, quando se concretizaram a “luta e a conquista” dos moradores. Nesse espaço, foram implantados equipamentos que possibilitam diversas atividades para os seus frequentadores, como quiosques, parque infantil, anfiteatro, pista de skate, pista de caminhada, bancos de alvenaria, quadra de futsal, quadra de areia, campo de futebol, instrumentos para exercício físico e uma biblioteca digital.

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Pensar o uso e a sociabilidade, na Praça da Paz, foi a proposta do último capítulo, no qual pretendemos mostrar que esse espaço se constitui peça fundamental na fabricação das relações sociais, ou seja, uma apropriação do espaço público em que se estabelecem relações de sociabilidade, por meio de práticas cotidianas. Nessa discussão, referimos, como descrito por Certeau (2009), que um cotidiano se faz com a “arte do fazer”, e essas maneiras de fazer atribuímos à noção de privado/público, diante da condição de apropriação das práticas cotidianas que permeiam o espaço da praça, sem perder a intimidade com o singular e a atitude trazida pelo usuário de seu espaço privado (casa).

Mesmo diante de uma segmentação social e cultural, usar o que oferece a Praça da Paz, em termos de equipamento, permite ao frequentador dispor de atividades que (re) elaboram hábitos cotidianos. Essa estrutura espacial promove a sociabilidade, que cria caracteres de pertencimento.

Tal fato é comprovado a partir da metodologia utilizada: questionário semi estruturado ouvindo depoimentos dos freqüentadores, comerciantes, pedestres que usam o espaço cotidianamente, bem como pessoas envolvidas na construção da Praça da Paz, dentre estes, moradores antigos, representante da Associação de Moradores. Também em conversas informais com os jovens, adolescentes, crianças, adultos e idosos, que fazem da praça espaço de vivência, encontramos depoimentos que demonstram o fazer cotidiano de uso do espaço público Assim compreendemos a configuração dada por esta população usuária a este espaço público através de seu uso cotidiano.

Nesse sentido, o pertencimento se dá a partir de sua apropriação do que espacialmente lhe confere, em símbolo material e social, numa rede ligada por nodos de sociabilidades. Sendo assim, através de uma pesquisa no local, por meio de um questionário semiestruturado, e ouvindo os visitantes da Praça da Paz, buscamos compreender a configuração dada por essa população usuária a esse espaço público, através de seu uso cotidiano. Nesse sentido, o pertencimento se configura a partir da apropriação do que espacialmente lhe confere, em símbolo material e social, numa rede ligada por nodos de sociabilidades.

Nossa proposta de pesquisa se define, assim, por mostrar como o espaço público da Praça da Paz representa o retorno do hábito de frequentar espaços públicos, como a praça, por exemplo, e fazer deles um lugar de convívio com o outro, ao sair do privado da casa para pertencer ao público, mesmo que suas escolhas culturais e de uso desse espaço se pronunciem em garantir as singularidades daqueles que a frequentam em seu habito cotidiano da “arte de fazer” e reproduzam socialmente esse espaço geográfico.

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CAPÍTULO I – A CIDADE DA PARAHYBA DO IÍCIO DO SÉCULO XX: construção e transformação dos espaços públicos

Praça Comendador Felizardo Leite – João Pessoa-PB – início do Século XX – Fonte: Arquivo UFPB

1.1. INICIATIVAS DE ORDENAMENTO URBANO

Até a segunda metade do Século XIX, a cidade de João Pessoa, nessa época, denominada cidade da Parahyba, viveu um lento processo de crescimento e evolução urbana, pois ainda se mantinha com sinais de uma cidade rural (MAIA, 2000). Todavia, de acordo com Silva (1997), a partir desse período, foram iniciadas as principais obras que transformaram o aspecto rural da cidade. Na concepção dessa pesquisadora,

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do ponto de vista urbanístico, no Século XIX, a parte baixa da cidade vai ganhar uma enorme importância com multiplicação de casas comerciais na rua do Passo e das Convertidas (atual Maciel Pinheiro). Isto porque o algodão passa a ser o produto de exportação mais importante, movimentando o Porto do Capim, incentivando a importação de vários produtos e dinamizando o consumo. (...) Pode-se dizer que foi a partir do final do Século XIX que a cidade começou a fazer maquiagens urbanas em sua face rural. A partir desse período, a cidade deixa de ser apenas um lócus administrativo e núcleo de maior adensamento populacional. A urbanização torna-se um elemento de um processo mais amplo: a modernização. (SILVA, 1997, pp. 168-170)

Nesse contexto, também ocorreram mudanças mais significativas na estrutura urbana, tais como melhoria sanitária, abastecimento de água, ordenamento dos espaços públicos – ruas e praças – com propostas de maior circulação e acessibilidade de transeuntes aos espaços públicos. Além das obras de infra-estrutura, na paisagem urbana da cidade, esse período ficou marcado pela separação entre Igreja e Estado (CAMPOS, 2009).

O administrador, o Sr. Henrique Beaurepaire Rohan (1857-1859), tomou algumas medidas urbanísticas, na perspectiva de ordenar o espaço urbano e superar a arquitetura colonial ainda comum. Dessa feita, a cidade da Parahyba começou a sentir as primeiras transformações na sua estrutura em urbanização. Desse processo fizeram parte a abertura de novas ruas e o alinhamento de ruas e praças, o que demarcou a preocupação com o embelezamento da cidade (CAMPOS, 2009).

Para levar adiante o projeto de modernizar a cidade, B. Rohan enviou à Assembléia Legislativa um relatório1 onde expunha sobre a necessidade de melhorias urbanas na capital da Parahyba. Esse projeto contemplou políticas de ordenamento e embelezamento do espaço urbano. Para tanto, ele contratou dois engenheiros estrangeiros (Bless e Polleman) e ordenou-lhes que promovessem o embelezamento da velha capital da Província da Paraíba (RODRIGUEZ, 1994). Além de organizar a cidade, quanto a sua estrutura urbana, o Presidente B. Rohan tratou do ordenamento das ruas e das praças.

A partir de então, as possibilidades de modernização da capital da Paraíba passaram a ser consideradas como necessárias pelas administrações seguintes, a exemplo do que ocorreu na gestão de João Machado, que iniciou os primeiros serviços de abastecimento de água e de

1

Relatório enviado pelo Presidente Henrique Beauperaire Rohan à Assembléia Provincial, em cuja página 21 consta o seguinte: Ruas da Capital. Os arruamentos n’essa cidade nunca forão nem ainda estão sujeitos a plano algum, quer em relação aos alinhamentos, quer em relação ao nivelamento. (...) Essa inconveniente tão palpável já foi sentido pelos legisladores da Parahyba, e o § 6° do art. 5° da lei n° 22 de 15 de outubro de 1857, autorizou a presidência a mandar levantar planta da cidade com alinhamento das ruas e designação das praças. A planta mandei-a levantar e se acha pronta (....). (SILVA, 2009, p.28)

(23)

luz elétrica da capital. Na sequência, Camilo de Holanda realizou inovações urbanísticas, e Solon de Lucena impulsionou a nova era de modernização urbana da capital.

As ações administrativas dos governantes tinham o propósito de tornar a capital da Parahyba uma cidade moderna, portanto, urbanizada, o que se confunde com as palavras de Cardoso (2010), quando diz que urbanizar significa sanear, iluminar e, assim, embelezar. Prosseguindo tal discussão, esse pesquisador afirma:

Urbanizar implica inserir os signos de uma cultura urbana. A dominação do privado pelo público, que concebe à cidade a designação de lugar público, privilegia a rua que passa a ser discutida e pensada como reduto de mobilidade de pessoas, de veículos e mercadorias. A rua que tinha um aspecto colonial necessitava acompanhar o processo de modernização, pois a mesma começava a dividir espaço com signos modernos, como os postes para iluminação da cidade, alargamento das ruas para passagem de carroças e de automóveis (...). Devido ao progresso, eram necessários novos requisitos para a rua tornar-se viável no novo mundo urbano. Isto será uma das justificativas para as mudanças no plano urbanístico da cidade. (CARDOSO, 2010, P. 30)

A perspectiva de pensar a cidade com base no binômio modernização/urbanização permaneceu como prática dos governantes, porquanto, para os administradores do inicio do Século XX, o processo de modernização continuou a representar melhoria urbana nos modelos de saneamento, com obras públicas de infraestrutura, como abastecimento de água, iluminação elétrica e bondes elétricos. Tais caracterizações configurariam a nova imagem do espaço da cidade, tornando-o mais agradável, “belo” e “moderno”.

Nesse projeto, também foram incluídos as praças, os largos e os jardins, que passaram a incorporar nova proposta de uso na cidade. O moderno surgiu com o novo uso que se proporcionou às praças, construídas para atender ao cotidiano do grupo social, que passou a usufruir deles como espaço de entretenimento e sociabilidade, posto que, nas praças, os frequentadores conversavam sobre os mais diversos assuntos e se conheciam. Também passam a conhecer os assuntos do dia, como as novidades na arte de se vestir e portar-se publicamente.

Efetivamente, as mudanças no plano urbano da capital da Parahyba foram implementadas pelos administradores, que perceberam o moderno como condição capaz de erradicar da cidade a feição rural. Todavia a cidade ainda era dependente da economia rural. Os governantes passaram a corrigir os entraves estéticos que faziam da cidade uma continuidade do campo e elegeram prioridades, como infraestrutura urbana. A perspectiva era mostrar a nova face do moderno recém-chegado à cidade.

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No governo de Camilo de Holanda (1916-1920), foi instalada uma proposta administrativa voltada para o progresso, da qual faziam parte as obras de alargamento de ruas, calçamento, edificações, abertura de avenidas e praças. Silva (1997, p. 176) enuncia que “chegaram à cidade arquitetos italianos que transformaram a concepção urbanística colonial e introduziram casas modernas, arejadas, avarandadas”. O Presidente da província ordenou a construção da Praça Venâncio Neiva, e foram construídos logradouros públicos. A cidade passou a ser embelezada, o que a tornou convidativa ao passeio, visto que as pessoas passaram a sair de casa e a frequentar as praças. Assim, o espaço público das praças inicia sua fase de uso e passa a fazer parte do cotidiano da cidade.

Acerca do uso da praça, Mauro Koury (2005, p.150) lembra que “a população começou a frequentar as ruas, as praças, os coretos, como forma de não só fazer política ou comércio, mas também de se divertirem e encontrarem os amigos.”

As mudanças começaram a se tornar notícia:

De três anos a essa parte, com o governo do Sr. Dr. Camilo de Holanda, a Parahyba tem melhorado sensivelmente e com melhor as razões sob o ponto de vista material. Deve-se à benemerência da atual administração o remodelamento da capital, que, sem favores, já se destaca em todo o norte da República. Durante esse breve tempo ninguém pode negar que foram bem notáveis os serviços advindos da ação governamental do Sr. Dr. Camilo de Holanda. Hoje em dia, com esse admirável impulso material, a Parahyba se encontra naturalmente na lista dos departamentos do país que mais futuro propício e brilhante se pode desde já afirmar. (A União, 16/01/1920)

Mesmo que as notícias de otimismo tivessem vindo de um jornal que pertence ao poder público, as mudanças eram visíveis na capital, pois surgiam como perspectiva de progresso para a então acanhada cidade da Parahyba.

Essa perspectiva continuou, visto que Solon de Lucena (1920 a 1924) manteve a proposta anterior de modernização da cidade. Para dar continuidade ao progresso urbanístico da capital, convidou o médico Walfredo Guedes Pereira para assumir a prefeitura da cidade, o qual ficou na memória devido a ter imposto uma administração marcada pela construção e por obras de infraestrutura, desde a abertura de novos bairros em direção a Tambaú à transformação da “velha lagoa” em parque público. Construiu a Praça Vidal de Negreiros, no Ponto de Cem Reis, e o Parque Arruda Câmera (Bica), além de obras de saneamento.

Com Guedes Pereira na Prefeitura, surgiu a liberdade administrativa, com autonomia para propor e executar as mudanças que considerava necessárias para garantir o progresso e a modernização da capital da Parahyba. Devido a isso, a Revista Era Nova publicou um

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pequeno artigo, que retrata a autonomia administrativa do Prefeito Guedes Pereira e evidencia a postura do Presidente Solon de Lucena. O artigo relata:

Dos políticos novos, na Parahyba, nenhum conquistou, tão rapidamente, essa segura individualidade de administrador que distingue, hoje, o dr. Guedes Pereira. Pela primeira vez apareceu entre nós a ação do Prefeito da capital, exercida anteriormente pelo presidente do Estado. E essa autonomia que a Prefeitura tomou é outro gesto de longo e descortinado desprendimento do ex-presidente Solon de Lucena. (REVISTA ERA NOVA, outubro-novembro de 1924)

A liberdade administrativa atribuída ao Prefeito Guedes Pereira estava distribuída no país como ideologia de progresso, já que o “grito de guerra” da República era de “Ordem e Progresso”. Para alcançá-lo, necessitava de alguém para gerenciar uma política de investimento em obras públicas, explorar a estética e maquiar a cidade, com a face do progresso e da modernidade.

As atitudes de gestão da Prefeitura da capital deixaram marcas não apenas nas obras públicas, mas também na aceitação dos moradores da área central da cidade, que viram com bons olhos as mudanças implementadas na estrutura urbana. A partir de então, passaram a elogiar o presidente Solon de Lucena e o prefeito Guedes Pereira, conforme anunciou a REVISTA ERA NOVA (1925), numa de suas edições.

O antecessor do Sr. João Suassuna não teve cuidados infantis com Parahyba. Entretanto, o nome do prefeito Guedes Pereira está intimamente ligado a essas obras, como autor e realizador.”; (...) “O presidente Solon de Lucena enfrentou os nossos problemas, procurando-lhes as soluções e realizando-as, praticamente”; ”Nos fatos da Parahyba o Sr. Solon de Lucena ha de aparecer, por sem dúvida, como um das figuras de quem dever-se-á falar sempre com a mais justa veneração. (REVISTA ERA NOVA, 1925)

Paralelamente aos elogios a ambos os administradores, havia as críticas em relação às transformações urbanísticas que aconteciam na capital, vários artigos e crônicas. Anônimos ou não demonstravam a opinião do leitor sobre os serviços de urbanização que estavam sendo implementados na capital da Parahyba. Nesse sentido, é pertinente o artigo publicado pela Revista Era Nova, em que o colunista Alcides Bezerra manifesta insatisfação pelo descaso do poder público com o patrimônio histórico e com as reformas que já estavam acontecendo na cidade da Parahyba no início do Século XX.

Assim escreveu Alcides Bezerra:

Faz dez anos se iniciou o movimento transformador da nossa urbs, acentuando nesses últimos tempos de modo notável. A cidade está mudando sensivelmente de

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aspecto. Perde a sua feição colonial para vestir a mascara uniforme da civilização. Há quem se rejubile com isto e deseje que a mudança seja completa, radical. Não deve ficar pedra sobre pedra. Todos os prédios antigos devem ser demolidos, ou pelo menos transformados, vestidos à moderna, hediondez para a qual a estética já não tem qualificativo. Para essa nervose de modernismo não há remédio. Ela tem causas profundas, complexas e variadas. (...) Como indivíduos e como nação vivemos somente o momento que passa. O passado e o futuro não são categorias da nossa sensibilidade. Só uma coisa nos preocupa: a derradeira moda. O que não traz o sello da mais fresca modernidade. (...) Mereceria os maiores louvores o prefeito que conseguisse do Conselho Municipal uma rigorosa lei nesse sentido e a cumprisse à risca. O Dr. Guedes Pereira, com o conhecimento que tem, dessa matéria e as condições excepcionais de prestigio com que assumiu o cargo, bem poderia dotar-nos de modelar a legislação a respeito desse magno assunto. (...) Contemporâneo das grandes mudanças que diversificam as feições da nossa urbs, não posso pensar no problema do modernismo, sem temer pela sorte dela. Dentro de poucos anos terá perdido todo seu pitoresco e será uma banal cidade moderna como tantas outras que se improvisam nas zonas férteis. (...) quando virá o dia em que nossos licurgos hão de voltar leis que protejam o nosso patrimônio artístico? (ALCIDES BEZERRA, REVISTA ERA NOVA, 1921)

Nessa perspectiva, muito se falava na imprensa sobre as mudanças urbanas em todo o país, principalmente no Nordeste, e se questionava a nova fisionomia das cidades em favor da modernização. À primeira vista, os colunistas passavam a ideia de que eram contrários à modernização das cidades nordestinas, quando, na verdade, criticavam o modelo implementado, sobretudo porque desconsideravam a arquitetura da cidade e o seu valor histórico.

A questão não ficou na crítica, tomou outros rumos e medidas. Não demorou, e a discussão da temática urbanística levou à organização do Primeiro Congresso Regionalista onde fora abordada a defesa da fisionomia das cidades (REVISTA ERA NOVA, abril de 1925). Em artigo publicado no Jornal “O Diário de Pernambuco”, de 1925, Gilberto Freire escreveu sobre o processo de modernização pelo qual a cidade da Parahyba estava passando:

Hoje a Parahyba é uma cidade a sangrar:retalhou-a a cirurgia esthetica dos engenheiros, para reduzir todo aquelle zig-zag a symetria (..) É contra esse hausmannismo estúpido que é preciso movimentar o sentimento de uns e a intelligencia de outros, para que não desappareça de todo das nossas cidades a expressão da nossa vida e do nosso espírito. O Congresso Regionalista realizará, com relação a esse assumpto, a obra de educação que já devia ter sido iniciada. É um relógio despertador que retine atrazado. Mas em tempo, ainda, de despertar vontades, sentimentos, forças dispersas. (REVISTA ERA NOVA, abril de 1925)

Colunistas e articulistas dos jornais e das revistas da época escreveram vários artigos onde discutiam sobre as transformações das cidades, ao mesmo tempo em que ofereciam espaços para as discussões contra tais modernizações que se faziam presentes nas cidades de todo o país ou favoráveis a elas desde o início do Século XX. Entre todas as questões levantadas, o que mais se destacava era o não abandono do aspecto histórico como marco das

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cidades. Os colunistas se dirigiam aos representantes do poder público, chamando à atenção deles para a demolição de prédios que contam a história das cidades, pois foram construídos no período colonial.

Acerca dessa discussão, é pertinente a crônica escrita por Adhemar Vidal, em que ele se refere às mudanças que estavam sendo executados na capital da Parahyba. Segundo esse colunista,

o ano derradeiro foi o ano em que mais se abriram novas ruas e novas avenidas nessa capital. Em numero realmente considerável. Até Igrejas foram postas abaixo para dar lugar ao espaço de praças confortáveis. (...) Assim, a nossa cor local tende a vestir novas fórmulas, quando seria para desejar nunca experimentasse influencias alheias – influências que caracterizam outros lugares e outros povos. (...) (REVISTA ERA NOVA, abril de 1925)

Foi com a concepção de modernização valorizada por uma diretriz de reforma urbana fundamentada em sanear, circular e embelezar (GARCIA e LEMOS, 2005) que os administradores de início do Século XX impuseram à cidade as novas feições urbanas, com iniciativas de ordenamento de ruas e praças e implantação de infraestrutura. Os atos dos representantes do poder público, nesse sentido, sugeriram um novo tempo cultural para o cotidiano do citadino. Isso foi feito com recortes na arquitetura da cidade, fundamentado na tríade sanear – circular – embelezar, que se tornou o “carro-chefe” que direcionou todas as mudanças na cidade, pois foram entendidas como prioridades para se manter a higiene, reduzir as moléstias e proporcionar diversidades de uso dos espaços aos moradores da cidade.

1.2. AS PRAÇAS – UM ESPAÇO PÚBLICO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

A incorporação da maquiagem urbanística, vinculada à tríade sanear/circular/embelezar, ofereceu à paisagem da cidade um significado que passou a ser construído na vida social e cotidiana da população urbana, visto que o espaço público passou a ser usado para novas opções de sociabilidade, como encontros, passeios e diversões, o que, até então, era restrito aos espaços da Igreja, como os adros e os pátios, e direcionados às festas religiosas ou aos encontros após a missa (MELO, 1990).

Nessa perspectiva, Silva (2009) acrescenta que as praças e os jardins integraram-se no conceito de progresso e passaram a se constituir como um novo espaço na cidade.

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Construídas, ampliadas ou reformadas não apenas para embelezar a paisagem urbana, foram incorporadas, no dia a dia, como espaços de passeios e de encontros.

As administrações da cidade da Parahyba, que se seguiram nas primeiras décadas do Século XX, foram incentivadas pelas ideias de investir na modernização, entretanto, foi nas praças que encontraram, em tais gestões, o convite para embelezar e tornar aprazível a estética da cidade. Em virtude do melhoramento das praças e da beleza que passaram a ostentar na paisagem da cidade, os poetas passaram a chamar a capital da Parahyba pelo codinome “Cidade dos Jardins”. Essa condição lhe garantiu um diferencial, um de ser uma cidade com praças e jardins aptos a receber visitantes em relação às outras capitais do país (SILVA, 2009).

Sobre a nova roupagem apresentada pela cidade, onde os jardins públicos e as praças eram a “alegoria” principal, a urbs paraibana encontrou o seu diferencial urbano, o que foi incentivado pela imprensa, conforme nota publicada pela Revista Era Nova (1923), cujo editor afirma:

Uma das maiores belezas da nossa capital e que logo encanta os nossos visitantes, são os nossos jardins públicos. Poucas cidades do Brasil talvez os tenham tão lindos e aprasiveis. Toda gente que por aqui passa faz-nos essa justiça. A Parahyba já ganhou mesmo os foros de “cidade dos jardins”. (REVISTA ERA NOVA, 1923)

Vale ressaltar que as iniciativas de modernizar e embelezar os espaços públicos e apontar a cidade da Parahyba como a que tem os mais belos jardins e praças para uso dos citadinos, vieram acompanhadas da destruição de parte de seu acervo arquitetônico histórico.

Assim, as obras de alargamento e de abertura de ruas e a construção de praças resultaram na demolição da Igreja do Rosário dos Pretos, localizada na Avenida Duque de Caxias, em 1923, que foi demolida para dar lugar à construção da Praça Vidal de Negreiros. De acordo com Melo (1990, p. 45), ela se tornaria “o centro nervoso da cidade, visto que os bondes tinham seu entroncamento nessa praça. Ela também servia de estacionamento para carros de aluguel e manifestações” populares. Portanto, a Praça Vidal de Negreiros deixou para trás parte da história, que se conhece apenas das páginas de livros e fotos antigas, e passou a vivenciar outra história.

De fato, as iniciativas de modernização, embelezamento e saneamento da cidade da Parahyba vieram acompanhadas de destruição de parte de seu acervo histórico, representado por uma arquitetura colonial exposta pelas Igrejas, mas que foram demolidas para abrir caminho e dar passagem ao “progresso”, sobretudo, porque ocupavam espaços importantes

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para a expansão da cidade. Por outro lado, a cidade ganhou marcas da modernização, do novo, do belo. No lugar da Igreja demolida, foi erguida uma bela praça com seus jardins. Esse novo equipamento passou a oferecer à população outros significados. A esse respeito, Gabriel Bechara (apud MELO, 1990) afirma:

O Jardim Público (...) teve um significado importante na vida social da cidade no final do Século passado e começo desse Século. Representou um espaço de lazer laico, não mais sob a tutela e vigilância da Igreja que até então ordenava os festejos, por ocasião das datas religiosas. Não foi, entretanto, uma iniciativa da sociedade civil organizada, mas apenas a ocupação do espaço da Igreja pelo Estado na ordenação das relações sociais. Ao invés da Igreja o Palácio, no lugar o adro o jardim, em vez das ladainhas, as polkas e dobrados das bandas oficias. (MELO, 1990, p. 52)

Percebemos que, com as transformações urbanísticas implementadas pelo poder público, houve também transformações no papel social que a Igreja exercia para a população urbana. Essa instituição religiosa reduziu sua ação no processo de ordenar a vida social do citadino, uma vez que as novas propostas trazidas pelo progresso limitaram a Igreja aos festejos religiosos.

O novo significado atribuído ao cotidiano do citadino é acolhido por um grupo social que apreciava o moderno, pois a imagem, segundo Chagas (2004, p. 143), era a de que “quem é moderno sai de casa e vai à praça”. A praça, como espaço público, permitiu vivências de sociabilidade, com entretenimentos e pontos de encontro dos moços e moças de tal grupo social. Entretanto, frequentar lugares públicos já estava incorporado ao pensamento moderno de viver na cidade. Assim, continua o autor: “Eis a razão por que os administradores públicos e os moradores da área central passaram a se preocupar com as condições e estrutura das praças e do jardim público, bem como com os eventos que lá ocorriam” (CHAGAS, 2004, p.143).

Em outras palavras, as exigências de um novo padrão de viver na cidade, adquirido pelas classes sociais mais favorecidas, fizeram o governo impulsionar o ordenamento dos espaços públicos, com obras de melhoramentos das praças da capital, que estavam localizadas na área central da cidade e precisavam de reformas que, consequentemente, eram impróprias para o uso de tal classe social que estava incorporando os hábitos da chamada modernidade.

Assim, as reformas e as construções surgiram de forma a transformar as praças em espaço público com aparência digna, capaz de satisfazer ao gosto de uma classe que ansiava por desfrutar ainda mais as belezas e divertir-se fora das residências. Esse fato foi noticiado assim pela imprensa da época:

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... um pavilhão central, elegante e artístico, que substituirá o velho ali existente, já desproporcionado e antiestético, visto parecer um barracão, numerosos bancos sólidos e confortáveis, e cadeiras suficientes para se ouvir sentados à música executada no coreto. (...) (Jornal A União, 1918)

Praça Commendador Felizardo: Pela Prefeitura Municipal foram mandados pintar o coreto e todos os bancos desse logradouro publico, sendo as respectivas despesas custeadas pelo Estado (...) (JORNAL A UNIÃO, 1923)

Praças e Jardins: Sob a administração e fiscalização da Prefeitura continua o custeio dos logradouros públicos da capital a ser feito por conta do Estado. (Jornal a União, 1923)

Na perspectiva de oferecer espaços públicos compatíveis com as exigências da população usuária, o gestor estadual absorveu todo o custo financeiro de construção e de melhorias das praças e deixou para a Prefeitura a administração e fiscalização das obras, aprovadas pelos que consideravam a necessidade de mudar a face da cidade da Parahyba e ingressá-la nas propostas de progresso.

Além de propor um espaço para uso social, digno de uma população urbana, que buscava fora das residências ou do espaço das Igrejas lugar para seu entretenimento, o gestor público municipal tinha a função de planejar e gerenciar o espaço público. No entanto, a iniciativa de modernização seguiu acompanhada da segregação entre as classes sociais, uma vez que os mais pobres foram excluídos do uso dos espaços públicos, pois foram proibidos de passear nos jardins, que foram cercados, e o acesso só era permitido àqueles economicamente incluídos nos altos escalões sociais. Esse fato é explicado desse modo por Melo (1990, p. 99):

O coreto do jardim Público, situava-se no centro da praça cercada por trabalhados gradís de ferro a que, ultrapassados os portões, em número de quatro, distribuídos por cada lado da praça e trancados a chave por um zelador, só tinha acesso as classes alta e média – o chamado povão ficava do lado de fora do passeio.

Assim, a divisão entre as classes sociais era evidente, pois, junto do coreto, ficavam os grandes comerciantes ou empresários, políticos, um pouco atrás, os funcionários públicos e estudantes da classe média, e os pobres se colocavam por trás do gradil que cercava a praça (MELO, 1990).

Outro aspecto significativo a ser destacado é o uso social que se fazia das praças, com seus jardins e coretos. Elas foram planejadas para oferecer ao usuário diversão, como passeios ao som das bandas musicais, o que atraia os frequentadores. De acordo com Chagas (2004, p. 146),

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O Jardim Público, agora dotado de condições físicas para garantir melhor comodidade aos frequentadores ouvintes das retretas e outros eventos que ali acontecessem, se tornou um importante espaço de sociabilidade. Aos finais de tarde, as retretas alegravam os transeuntes.

O aspecto de tais logradouros públicos não atraía as “massas”, pois o hábito de ouvir música instrumental não foi estendido às classes pobres. A programação cultural do Jardim Público era voltada para o interesse de uma classe que se fazia presente e disposta a desfrutar do que considerava uma boa música. Semanalmente, os jornais que circulavam na cidade da Parahyba publicavam o que seria apresentado ao público, como noticiado pelo Jornal a União (1920):

É o seguinte o programma da retreta a realizar-se, (...) na Praça Commendador Felizardo, pela banda de musica da Força Policial: 1ª Parte: - marcha por Lucien Collin, valsa, por J. Eduardo; samba, por H. Sanches; dobrado por J. Arthur. 2ª Parte: - fantasia por R. Wegner, valsa, F. D. Gondim; (...) dobrado por Antônio.

Entre os usuários das praças, eram comuns as conversas entre os jovens, que se sentavam nos bancos ou passeavam em grupos ao som das retretas, executadas pela banda musical da Polícia Militar. Isso era considerado como um ponto de status e de civilidade. Mesmo sendo um lugar público, o espaço dos jardins era seletivo, porquanto só os considerados de classe social alta eram autorizados a frequentar o Jardim Público. Conforme comenta Chagas (2004, p. 148), “(...) mesmo tendo sido retirado o gradil do Jardim Público2, os pobres continuaram sem frequentá-lo”, já que as atrações não interessavam aos pobres, que não apreciavam tais programações.

As obras de revitalização executadas no Jardim Público também foram empregadas nas outras praças, como Praça Pedro Américo, Venâncio Neiva, Aristides Lobo e Rio Branco (CHAGAS apud RELATÓRIO DA DIRETORIA DE OBRAS PÚBLICAS – AHPB, 1917-1929).

A Praça Pedro Américo sofreu radical reforma na sua paisagem (...) sendo dotada de uma calçada com três metros de largura, seguindo em linhas elegantes, a topografia acidentada do terreno, proporcionando melhor espaço e comodidade ao público que a frequentava nos finais de tarde. Ainda foram devidamente podadas todas as árvores e edificado um elegante coreto, transformando-a num aprazível lugar público propício aos passeios e aos flertes de finais de tarde. (...) (CHAGAS apud ALMANARQUE DO ESTADO DA PARAHYBA. CIDADE DA PARAHYBA DO NORTE: IMPRENSA OFICIAL, 1913, p. 33).

2

Só no final da década de 20, o gradil de ferro que cercava a praça foi retirado, permitindo a todos o acesso aos eventos musicais das Bandas da Policia Militar ou do Batalhão de Caçadores. (Chagas, 2004, p.148)

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A propósito da reorganização da URBs da capital e, principalmente, dos lugares públicos frequentados pelas elites, era necessário controlar e vigiar, a fim de impedir que fossem usados por pessoas cujos hábitos eram considerados duvidosos, como as empregadas domésticas, os mendigos, entre outros de classes sociais inferiores (CHAGAS, 2004). Portanto, foi criado o código de postura, com o propósito de racionalizar e ordenar o uso do espaço público, através de regras de convivência (CHAGAS apud CÓDIGO DE POSTURA DA CIDADE DA PARAHYBA DO NORTE. IMPRENSA OFICIAL, 1910, 1917, 19200).

Nesse sentido, a decisão de idealizar um código de postura para uso das praças servia, também, para segregar a população, porque nem todos os moradores da cidade tinham acesso às atividades culturais que ocorriam nas praças. Tratava-se, pois, de uma programação cultural destinada a um público selecionado.

De fato, havia regulamentação dos hábitos e dos costumes e disciplina do uso dos locais públicos, ou seja, as praças, com seus jardins e coretos, o que comumente era noticiado pela imprensa. A esse respeito, o Jornal “A União” fez a seguinte nota: “Chamamos a attenção de quem de direito para um grupo de moleques e filhos de família, que se reúnem todos os dias no Jardim Público, a jogarem pedra nas árvores, e praticarem o sport de foot-ball, muito inconveniente naquella artéria.” ( A UNIÃO, 1920).

Nessa perspectiva, o uso do espaço público urbano era de caráter excludente, porquanto maquiava a cidade com possibilidades de espaços para vivências cotidianas, carregadas de significações polidas de segregação social, pois apenas aos mais abastados fora permitido participar da nova ordem estabelecida, sobretudo do entretenimento ocorrido nas praças.

Para uma sociedade com profundos contrastes sociais e econômicos, o uso das praças era privilégio de poucos. A praça passou a ser um equipamento urbano apreciado e desfrutado pelas elites, um espaço de passeios, conversas e brincadeiras ao som das bandas de música. Tudo ocorria sempre nos finais de tarde, e isso era uma referência dos valores modernos, aos poucos adquiridos, à medida que a modernização do espaço urbano da capital foi se efetivando.

As praças, como espaços escolhidos pelo poder público e compartilhados pela população para incorporar as práticas modernas, reservadas à sociabilidade fora da esfera privada da casa, tornaram-se também lugares comuns de passagem entre os que circulavam pelo centro da cidade, o que fez desses espaços públicos um símbolo de orgulho para a sociedade paraibana. Até os que não tinham permissão para frequentar e usufruir de seus

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jardins e coretos consideravam as praças o mais belo dos espaços públicos da capital da Parahyba.

Portanto, compreendemos que o estabelecimento de políticas de gerenciamento de espaços públicos, nas primeiras décadas do Século XX, também visava proporcionar significados estéticos para valores vinculados ao ato de se divertir e atender à necessidade de se incluírem na esfera da modernidade os passeios em jardins públicos ao som de retretas, o que constituía atividade saudável e diversão.

A Praça Venâncio Neiva e a Comendador Felizardo Leite (atual Praça João Pessoa), conhecida como Jardim Público, ofereciam aos usuários o espaço de uso restrito a algumas atividades, como os passeios de fim de tarde ao som das chamadas retretas. A Praça Vidal de Negreiros, popularmente conhecida como Ponto de Cem Réis3, era o espaço público onde se encontravam diferentes classes sociais, pois, como o local se destinava ao ponto final do bonde, concentrava uma população diversa. Chagas (2004) refere que essa condição da Praça Vidal de Negreiros fugia ao controle e ao disciplinamento do seu uso. Isso fazia com que fosse frequentada tanto pelos intelectuais quanto pela população de trabalhadores, que ficava à espera do bonde, e se constituísse como um espaço de passagem que servia a todas as camadas sociais da população.

Chagas (2004) descreve que,

de boca a ouvido, as notícias vinham do pátio da estação e se concentrava no Ponto de Cem Réis, sendo por essa razão, um local atrativo na época, sobretudo para os que tinham incorporado ao seu cotidiano o hábito de ler jornal. (...) Os frequentadores (...) conversavam sobre os mais variados assuntos, indo da política, à seca ao destino dos mendigos que, todos os dias, chegavam do sertão. Assim nem mesmo a intervenção urbanística a qual foi submetida, na década de 1920 (...) foi suficiente para apagar da memória coletiva denominação de outrora e a sua função no contexto da capital paraibana. (...) Nesse local, também se encontravam os jornalistas que, em um bom tom de voz, anunciavam de viva voz ao público as últimas manchetes divulgadas em A União, A Imprensa e Correio da Manhã. Ainda se flagrava nele os bilheteiros dos teatros e cinemas, que vinham informar quais películas estavam em exibição na cidade. (...) o Ponto de Cem Réis não era espaço de diversão, mas, devido aos diferentes condicionamentos que levavam as pessoas a esse local, ele possibilitava a socialização entre os que por lá passassem, tornando o ponto de prosas e todos os contos. (CHAGAS, 2004, p. 160-161).

3

A denominação Ponto de Cem Reis, atribuída ao pátio da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, data do início do Século XX e está associada ao valor da passagem cobrado no bonde das linhas do Varadouro, Trincheiras e Tambiá. De acordo com Chagas (apud BENEDITO MAIA, 1976), quando o bonde chegava próximo daquela artéria da cidade, o cobrador gritava: “Cem Reis!” O grito era uma maneira de lembrar aos passageiros que ainda não haviam pago a passagem e de informar aos desapercebidos o valor da passagem. (CHAGAS, apud BENEDITO MAIA, 1976, p. 14)

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Efetivamente, mesmo com a construção da Praça Vidal de Negreiros, no governo do Prefeito Guedes Pereira, o Ponto de Cem Réis continuou servindo a um público diverso, tanto em nível social quanto econômico, não como um espaço direcionado às mesmas características oferecidas pelo Jardim Público. Porém, de certa forma, o espaço tornava-se prazeroso para aqueles que buscavam diversão nas conversas e nos encontros do dia a dia.

Deveras, o Ponto de Cem Réis ainda permaneceu como um lugar típico de jardins e retretas, mantendo a imagem do lugar onde todos podiam se encontrar, conversar, passear e divertir-se, além de noticiar o que era manchete nos meios de comunicação do país e do mundo. Portanto, a Praça Vidal de Negreiros continuou sendo, para a cidade, o Ponto de Cem Réis.

Em síntese, os grupos sociais construíram suas fronteiras de acordo com o uso e a identidade que atribuíam ao espaço usado. Assim, temos, na Praça Venâncio Neiva e no Jardim Público (Praça Comendador Felizardo Leite), um espaço, por excelência, para uma classe social favorecida economicamente, pois era ali onde se encontravam pessoas que, socialmente, detinham o poder de privatizar o espaço público para seu uso. Na Praça Vidal de Negreiros, conhecida como Ponto de Cem Réis, o espaço era aberto para todo o público, ou seja, definia-se como um lugar socialmente acolhedor de todas as representações e tipos sociais, com práticas comportamentais diversas, com fluxos e circulação que favoreciam o intercâmbio entre os bairros da cidade.

Na dimensão urbana da cidade da Parahyba de início de Século XX, mesmo sendo sinônimos de “jardins símbolo da modernidade”, nas praças, estão imbricadas as diferenças sociais. Os citadinos passaram a conviver com as renovações culturais que se consolidaram no seu imaginário e aprenderam a entender a praça como um espaço público, porém segregador.

Chagas (2004) afirma que,

aos poucos, as pessoas (...) passaram a frequentar as praças e os jardins. O novo costume era decorrente da nova mentalidade e se fundamentava na liberdade e na satisfação do desejo de ser moderno, razão por que tal hábito passou a ser comum aos moradores (...). O propósito era tornar o Jardim Público um espaço aprazível, compatível com a feição urbana da cidade e das elites, e proporcionar a essa classe um lugar de sociabilidade fora das suas residências. (...) Embora fosse público, se consolidou num espaço seletivo restrito às famílias consideradas “decentes”, (...). A presença de empregadas domésticas (...) não era digno as moças recatadas e formosas frequentarem os mesmos espaços que as domesticas; visto tratarem-se essas últimas de mulheres pobres. (...) (CHAGAS, 2004, p. 145 a 150)

Acrescentamos, ainda, que o acesso aos espaços públicos criou novas relações sociais, e as praças passaram a ser espaços das pessoas, os quais, a partir da década de 1910,

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estabeleceram seus valores e atividades diferentes, pois, até então, estavam voltados para dentro da casa ou da Igreja. O passeio, a recreação, a diversão e os encontros deixaram de ser restrito aos familiares e tornaram-se públicos à vista de todos. Ou seja, passou a ser permitido, observado e a observar posturas e comportamentos de socializações entre os grupos diversos.

Mesmo em torno de uma segregação espacial, quanto ao uso das praças, nas primeiras décadas do Século XX, quando o poder público inicia as primeiras reformas e propõe uma urbanização da cidade, para acompanhar o ritmo do progresso e da modernidade, permite uma vinculação direta com o espaço público e uma mudança nos valores sociais, em que se constrói uma percepção de mudar as formas de viver na cidade. Assim, a cidade se desprende do aspecto rural para mostrar uma representação urbana, com acesso das pessoas ao lugar público higiênico, moderno e belo. Mesmo que tal representação não atinja toda a população da capital da Parahyba, ninguém “ficou imune às mudanças com vistas à transformação da cidade da Parahyba num modelo de civilização e de progresso” (CHAGAS, 2004, p. 126)

As primeiras décadas do Século XX foram vistas sob o olhar do poder público para os espaços públicos, integrando a cidade numa conjuntura de progresso em que a exigência de higiene e de saúde pública era fundamental para indicar um crescimento moderno digno de uma capital. Também se vincula a ideia de buscar um diferencial urbano na imagem que a capital da Paraíba pretendia oferecer ao país – nesse caso, praças e jardins - como espaços públicos propícios à sociabilidade do morador urbano e ao embelezamento da cidade.

1.3. A CONSTRUÇÃO DE OUTROS ESPAÇOS PÚBLICOS EM OUTRAS TEMPORALIDADES

Passeando por pelo período histórico da ocupação social das praças, na cidade de João Pessoa, interagimos com novos cenários, após as primeiras décadas do Século XX, quando começaram a surgir novas opções de usos de outros espaços.

A sociedade paraibana, na sua proposta de modernização, reinventou espaços que comandaram o processo de socialização. Em virtude disso, surgiram novos produtos urbanos. Assim, encontramos um crescimento da cidade marcado pelo esquecimento e pelo silêncio das praças como espaços de sociabilidade e referencial entre outras áreas urbanas.

A partir de 1930 do século passado, um novo foco alterou a paisagem urbana. A mudança de hábitos dos citadinos atribuiu funções aos espaços urbanos e deslocou o eixo de sociabilidade dos espaços públicos das praças e dos jardins, para outras possibilidades de uso social.

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