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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

ANA CAROLINA SILVA DE AZEVEDO

DESAFIOS POSTOS AO SERVIÇO SOCIAL NO RIO GRANDE DO NORTE: UMA

ANÁLISE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO JUNTO AO CRESS/RN

NATAL/RN 2020

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DESAFIOS POSTOS AO SERVIÇO SOCIAL NO RIO GRANDE DO NORTE: UMA

ANÁLISE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO JUNTO AO CRESS/RN

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Drª. Carla Montefusco de Oliveira.

NATAL/RN 2020

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Azevedo, Ana Carolina Silva de.

Desafios postos ao Serviço Social no Rio Grande do Norte: uma análise a partir da experiência de estágio junto ao CRESS/RN / Ana Carolina Silva de Azevedo. - 2020.

63f.: il.

Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Serviço Social, Natal, RN, 2020.

Orientadora: Profa. Dra. Carla Montefusco de Oliveira.

1. Serviço Social - Monografia. 2. Rio Grande do Norte - Monografia. 3. Condições de Trabalho - Monografia. I. Oliveira, Carla Montefusco de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 364:331

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Dedico este trabalho à Cristo, Senhor da minha vida e de tudo que a Sua misericórdia me permite fazer. À minha família, especialmente aos meus pais, Antônio Samuel, Dionete Silva e meu querido irmão, Danilo Henrique. A Zélia Maria (in memória) e a Débora Maria de Oliveira (in memória).

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Agora, escrevo sozinha, mas até chegar aqui, por muito passei, muito deixei nos outros e de muitos recebi. Inicio os meus agradecimentos, fazendo memória de pessoas as quais senti a gratuidade no se dar, a leveza em simplesmente contribuir para que eu atravessasse esse tempo de graduação e moradia em Natal - RN. Gratidão não é um mero sentimento. Na minha caminhada enquanto cristão-católica, aprendi que gratidão é reconhecimento que move a uma ação de entrega, a uma resposta ao outro.

É digno, portanto, louvar e agradecer a Deus – esposo da minha alma, amigo, Pai, meu Senhor e Deus. Te amo, Jesus, e ter me consagrado a Ti, durante a minha graduação em Serviço Social, fez toda diferença. É por Ti, e para Ti. Foi sempre por Ti, Jesus. Te entrego esse trabalho – como oferta agradável.

Lembro-me de ter me colocado em oração sobre o tema do mesmo, e sentir um forte chamado a escrever sobre essa temática, dar voz aos Assistentes Sociais, que espalhados em vários lugares desse estado, precisam ser ouvidos e ter suas demandas registradas, vocalizadas, sanadas. Essa foi a intenção desse trabalho. E se o fiz, assim, como a conclusão desse curso, foi porque a Sua graça, somente ela, me sustentou até aqui. Gratidão, oh Rei dos Reis, fiz por Ti, e isso me alenta alma.

Agradeço de coração livre, a minha família. A Mainha que tantas vezes, com seu jeito apressado e até inusitado, se preocupou de como seria cada viagem Caicó- RN - Natal-RN, com a feira que viria, ou se eu estava dormindo, em segurança e se estava sendo bem cuidada onde eu estava. Você tem um jeito próprio de amar, e eu ter saído de casa, me ajudou a ver isso. Obrigada por em 4 anos e meio, sempre colocar mais coisas na mala, (do que ela suportaria) pensando nas minhas necessidades. Eu a amo.

À meu pai - um dos homens que mais amo na vida. Sempre sereno, calmo, mas tão preocupado e às vezes inseguro por minha vida aqui em Natal-RN, fazendo de tudo para que eu ficasse bem. Obrigada painho por ser tão presente, mesmo com a distância. Sei que em vários momentos de conquista ao longo dessa trajetória, você se alegrou comigo, por isso, eu as divido e te dedico cada uma, especialmente a conclusão desse trabalho. Tu és raro, e muito do que Carol é, ela deve a você.

À meu irmão, que, de maneira discreta, buscava saber o que estava fazendo, nas vezes em que eu ficava em Caicó - RN horas no computador, mesmo sem entender muito bem, o seu querer saber, sempre me soou como carinho. Te vi ficar maior, envelhecer mais uns aninhos, mesmo distante, e sou feliz por saber que nessa trajetória, seu silenciar, olhar curioso sobre o

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Agradeço imensamente a Comunidade Católica Shalom - da Cidade de Natal-RN por tanto que recebi nesse processo de graduação. As minhas autoridades Janine Medeiros e Saulo Henrique por cada liberação dos compromissos, por serem voz de Deus, quando a caminhada acadêmica pesou mais e eu me senti perdida ou fragilizada. Sempre tão atentos, pessoas de oração, estiveram dispostos a rezar por mim, me aconselhar e apontar o caminho segundo o coração de Deus. A cada um dos que compõem a Célula Santa Dulce dos Pobres - estar conduzindo vocês no ano de 2020, foi sem dúvida, um grande alento a alma e sei que de alguma forma com a presença carinhosa, ainda que online, ou mesmo com as constantes orações de vocês por essa etapa, foram essenciais para a conclusão desse processo.

A meu Jusce - querido namorado. Nossa história se entrelaça na graduação, mas inicia-se antes dela, no coração de Deus. Te amo, e não posso deixar de render gratidão a Deus por sua vida na minha. Já madrugou me ajudando com gráficos para esse e outros trabalhos, foi ouvido, ombro, colo, abraço, calmaria e riso comigo durante toda essa trajetória. Eu o amo, e sei que sem a sua vida, essa graduação, não seria nem de longe o que ela foi. Você foi e é fundamental. Eu te amo e sou grata por tudo.

Aos meus amigos - os chamo porque são: Paulo Yuri e Tatiane Eloise. O primeiro, conheci num momento de grandes desafios da graduação - mas o ato de simplesmente me fazer rir mais e saber reinterpretar o que me acontecia, foram extremamente importantes pra mim. Na reta final, te agradeço por provar sua amizade sendo casa, riso solto e tamanha inteligência.

À você, Tatinha, já de longas estradas, não tenho palavras suficientes para lhe agradecer, mas obrigada por tudo. A providência de Deus, nos fez estar juntas na reta final da conclusão desse trabalho, e como foi importante. A sua amizade me faz ter mais coragem e acreditar que de fato, quem tem um amigo fiel, possui um tesouro. Torço e te defendo. Obrigada por ser casa, apoio, abrigo, riso fácil e por fazer os melhores pratos já nessa etapa final de escrita. Que dias bons, que providência!

À Cicera Damiana e Jhullia Ramara - dois grandes presentes que a graduação me deu. Foi singular. Obrigada pela parceria sempre tão constante nesses 4 anos e meio, por serem leves, próximas, consolo, e dividirem comigo alguns fardos e alegrias da vida acadêmica. Eu as amo e quero levá-las comigo - nem que seja na mala do coração.

Agradeço a toda a equipe do Ministério Público do RN - MPRN, local onde estagiei por 2 anos. Especialmente a Talita Malaquias - é constrangedor que em pouco tempo, eu já te admire tanto. Obrigada por ser humana, atenta, generosa, simples e tão acolhedora. Talita, posso

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tamanho aprendizado, mas sobretudo, pela relação prazerosa e amiga de Micarla de Moura Lima - supervisora de campo - peça tão fundamental para o desenvolvimento desse trabalho e que muito me ensina com sua calmaria e sensatez. Obrigada por ser você, Micarla.

À Dayane Katheryne e Giuliano, uma dupla imbatível que Deus me fez conhecer. Tenham certeza que a vida de vocês me consolou, e aliviou muito todos os fardos que a loucura acadêmica pode provocar. A Amanda Penha e Mariane Raquel - duas queridas que também aliviaram a alma com a suas amizades. Pensamos muito compatíveis, mas sei que o que mais uniu essa amizade, foi a providência divina. Obrigada e continuem acreditando!

A minha querida professora Carla Montefusco - peça chave da minha permanência no curso de Serviço Social - chegou no tempo certo, e sou imensamente grata por desde 2017, dividir contigo grandes conquistas, e, valiosos ensinamentos que levarei para o campo profissional e para a vida. Obrigada.

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Em seu infinito amor, o Pai quis escolher almas esposas para o seu Divino filho e para isso não escolheu as melhores, as mais belas, mas, a fim de manifestar a Sua glória e Seu poder, resolveu escolher as mais pecadoras, as mais fracas, os vasos de argila para aí realizar Sua grande obra. Toda glória pertence assim, Àquele que nelas tudo, realizou. (ESCRITOS DA COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM, ECCSH, p. 24).

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RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo geral analisar os desafios postos ao Serviço Social a partir de uma experiência de estágio junto ao Conselho Regional de Serviço Social do estado do Rio Grande do Norte - CRESS/RN. Para o desenvolvimento dessa reflexão, os objetivos específicos a que este trabalho se propôs consistiram em investigar as condições de trabalho dos profissionais de Serviço Social no Rio Grande do Norte; discutir os processos de estágio como espaço de produção do conhecimento; identificar particularidades do trabalho do Serviço Social na realidade do Rio Grande do Norte. A opção teórico-metodológica do estudo primou pelo método materialista histórico-dialético para a sua condução, fazendo uso da análise bibliográfica e documental, além da utilização de um formulário online disponibilizado aos profissionais de Serviço Social inscritos junto ao CRESS-RN. O levantamento de dados realizado via plataforma Microsoft - Forms, entre os meses de Setembro e Novembro/ 2019 compôs as atividades do projeto de intervenção de estágio desenvolvido junto ao CRESS-RN (2019). Para a construção desse estudo, também foi utilizado como recurso metodológico, a análise de conteúdo. Pode-se concluir que persiste em território potiguar desafios históricos com particularidades sócio-políticas, em virtude dos contornos próprios desse território marcados pela estrutura de dependência econômica, e as influências políticas locais, que delineiam diversos limites para o conjunto dos trabalhadores nessa região, sobretudo, para os assistentes sociais do Rio Grande do Norte - público alvo desta pesquisa.

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ABSTRACT

The present Course Conclusion Paper has the general objective of analyzing the challenges posed to Social Work from an internship experience with the Regional Council of Social Work of the State of Rio Grande do Norte - CRESS / RN. For the development of this reflection, the specific objectives for this work were proposed to investigate the working conditions of Social Work professionals in Rio Grande do Norte; to identify particularities of the work of Social Work in the reality of Rio Grande do Norte; discuss the internship processes as a space for the production of knowledge. The theoretical-methodological option of the study excelled by the historical-dialectical materialist method for its conduct, making use of bibliographic and documentary analysis, in addition to the use of an online form available to Social Service professionals registered with CRESS-RN. The survey of data carried out via form, between the months of September and November / 2019 composed the activities of the internship intervention project developed with CRESS-RN (2019). For the construction of this study, content analysis was also used as a methodological resource. It can be concluded that historical challenges with socio-political particularities persist in the territory of Potiguar, due to the contours of that territory marked by the structure of economic dependence, and as local political influences, which outline various limits for the group of employees in this region, especially , for social workers in Rio Grande do Norte - target audience of this research.

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GRÁFICO 1 - Número de respostas por munícipio ... 40 GRÁFICO 2 - Quantidade de profissionais por área de atuação... 41 GRÁFICO 3 - Desafios profissionais ... 42

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2. A CRISE CAPITALISTA E SEUS EFEITOS PARA O SERVIÇO SOCIAL 16

2.1 A DINÂMICA DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NEOLIBERAL E OS

DESAFIOS PARA O SERVIÇO SOCIAL 17

2.2 O PERCURSO FORMATIVO EM SERVIÇO SOCIAL: reflexões sobre o

direcionamento histórico assumido pela categoria 24

3. DESAFIOS POSTOS AO SERVIÇO SOCIAL NO RN: reflexões a partir de uma

experiência de estágio junto ao CRESS-RN 31

3.1 ESTÁGIO EM SERVIÇO SOCIAL: análises sobre a vivência no CRESS-RN 31

3.2 DESAFIOS POSTOS AO SERVIÇO SOCIAL NO RN 38

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 54

REFERÊNCIAS 56

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1. INTRODUÇÃO

A trajetória envolvendo o Serviço Social, como nos aponta o CFESS (2012), se dá tanto como um dado histórico, indissociável das particularidades assumidas pela formação e desenvolvimento da sociedade brasileira no âmbito da divisão internacional do trabalho, quanto resultante dos sujeitos sociais que constroem sua trajetória e direcionam seus rumos. Para além disso, analisar o Serviço Social é entender que este se insere num contexto de disputa de projetos societários.

Esse processo aliado às múltiplas determinações projetadas no dinamismo da realidade, rebatem na profissão desde o percurso formativo, até o exercício do trabalho impondo constantemente novas exigências. Estas por sua vez, demandam respostas pautadas em princípios éticos e políticos, bem como nas legislações balizadoras da atuação, que irão ter rebatimentos diretos na construção da identidade profissional. Como disserta Iamamoto (2006), diante da historicidade da profissão, ela se redimensiona e se constrói no âmbito das relações entre o Estado e a sociedade e é produto dos determinantes macrossociais impulsionadores dos limites e possibilidades na atividade profissional, que se insere na divisão sócio técnica do trabalho, e nas relações de propriedade que a sustentam.

Nesse ínterim, o objeto de estudo ora abordado, volta-se para a análise dos desafios postos aos assistentes sociais do estado do Rio Grande do Norte, e o objetivo principal desse estudo, consiste em: analisar os desafios postos ao Serviço Social a partir de uma experiência de estágio junto ao Conselho Regional de Serviço Social do estado do Rio Grande do Norte - CRESS/RN. Os objetivos específicos foram: investigar as condições de trabalho dos profissionais de Serviço Social no Rio Grande do Norte; discutir os processos de estágio como espaço de produção do conhecimento; identificar particularidades do trabalho do Serviço Social na realidade do Rio Grande do Norte.

O interesse pela temática surge desde a minha experiência no projeto de ensino/monitoria intitulado: “Formação de monitores para fundamentos: os desafios da articulação no ensino dos componentes curriculares Fundamentos Históricos, Teórico-metodológicos do Serviço Social I, II, III e IV” – momento essencial que me aproximou com diversas discussões a respeito da profissão e me favoreceu um mergulho na dinâmica teoria-prática.

Aliado a isso, tem-se o processo de estágio – que consolida o interesse pela temática, a partir das reflexões forjadas no âmbito do Conselho Regional de Serviço Social do Rio Grande

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do Norte (CRESS/RN – 14ª Região), sendo parte do processo de estágio curricular obrigatório em Serviço Social - no período de Fevereiro a Dezembro/2019 - na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Essa vivência proporcionou, especialmente, a aproximação junto aos profissionais do Serviço Social do RN, e, consequentemente, com os limites do trabalho em diversas áreas de atuação no referido estado. Além disso, a observação sistemática, o registro em diário de campo, e o acesso a informações internas, também foram essenciais para a construção das reflexões nesse estudo. Dessa forma, a experiência na condição de estagiária, suscitou ainda mais o anseio por desenvolver pesquisas com maior profundidade a respeito da atuação dos assistentes sociais em território potiguar.

Com relação à realidade do Rio Grande do Norte observam-se dificuldades enfrentadas pelos profissionais do Serviço Social - mediante os contornos sócio-políticos que repercutem nas relações de precarização do trabalho e justificam a necessidade de ações que visem promover reflexões sobre as condições físicas, éticas que envolvem o fazer profissional aqui no estado. Essas dificuldades apresentam-se manifestas no assistencialismo histórico que delineia a formatação de políticas sociais, sobretudo, na região Nordeste, os rebatimentos no processo de adoecimento dos trabalhadores, em virtude das precárias condições de trabalho.

Expressam essa realidade, o acesso difícil a uma infraestrutura de qualidade capaz de atender aos requisitos éticos e físicos para o desenvolvimento do fazer profissional da categoria, e as diversas formas de flexibilização trabalhista que redesenham os contratos de trabalho, a pressão dos altos índices de produtividade, e as baixas condições salariais evidenciadas por muitas áreas, dentre elas, o Serviço Social.

Para além disso, Giongo, Machado e Mendes (2016), nos põe que historicamente as significativas transformações na estrutura do Estado e do poder político - justificaram a adoção de novas teorias e enfoques gerenciais capazes de explicar as flexibilizações ocorridas no universo do trabalho, entre elas cabe registrar “a democratização jurídica formal dos países da América Latina, que viveram muitos anos sob regimes ditatoriais, a opção pela concentração na circulação de bens e mercadorias através da criação de grandes blocos econômicos - e os conflitos armados [...]” (GIONGO; MACHADO; MENDES, 2016, p. 229).

Segundo esses autores, tais configurações resultaram no surgimento de novos eixos de poder na economia global, e, especialmente no Brasil, observa-se a intensificação do processo de concessões e de privatizações em diversos setores acompanhado de uma intensa destituição de direitos políticos e sociais recentemente conquistados no país. A precarização social e do trabalho, nesse contexto, se apresenta como um processo multidimensional de

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institucionalização da instabilidade caracterizado pelo crescimento de diferentes formas de precariedade e de exclusão (GIONGO; MACHADO; MENDES, 2016, p. 229).

Para ilustrar esta realidade na especificidade do Serviço Social, apontamos a pesquisa feita pelo conjunto CFESS-CRESS (2011) a respeito das condições de trabalho envolvendo os trabalhadores da Assistência Social. O levantamento dispôs de informações apontadas pela Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2009 (Munic) e à época, revelavam a inegável expansão do quadro de trabalhadores no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), com acréscimo de 30,7% entre 2005 e 2009, pois o número saltou de 139.549 trabalhadores em 2005 para 182.436 em 2009.1

Esse aumento considerável, entretanto, foi acompanhado pela ampla precarização nas relações de trabalho: os trabalhadores sem vínculo permanente cresceram 73,1%. Caracterizando esses novos empregos, por trabalhos precários: “os trabalhadores estatutários correspondem a apenas 38,34%; enquanto 25,04% não têm vínculo permanente, 19,56% possuem apenas cargo comissionados e 12,84% são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)’ (CFESS-CRESS, 2011, p. 02).

Ainda conforme esse mapeamento, aproximadamente metade dos trabalhadores (44,6%) do SUAS, não possuem vínculo permanente com a Política de Assistência Social, o que possibilita a alta rotatividade e descontinuidade dos serviços, e os contornos de precarização envolvendo essa política pública.

Diante disso, o trabalho ora posto, como já elucidado em seu objetivo geral, teve como público alvo os assistentes sociais vinculados ao CRESS-RN. Nesses aspectos, considerou-se a centralidade e a importância de se debater sobre o trabalho de assistentes sociais, ao problematizar os diversos dilemas que assolam essa categoria de trabalho tendo em vista que há um crescimento expressivo da precarização do trabalho, sobretudo, de assistentes sociais no Brasil, com ênfase para a região nordeste, mediante as configurações históricas as quais atravessam esse território.

Ressalta-se que para a análise desse estudo, foi primordial a construção do projeto de intervenção, intitulado de: “O CRESS-RN QUER TE OUVIR: fortalecendo o diálogo com a categoria dos assistentes sociais” ao qual foi produzido no ano de 2019 enquanto contribuição

1 Conforme nos aponta o CFESS (2011), a base Munic 2009 não detalha o número de trabalhadores por formação

profissional, o que inviabiliza precisar quantos são assistentes sociais, mas indica que, entre os 41,1% gestores municipais que possuem nível superior, a maioria (29,6%) é assistente social, seguidos pelos/as pedagogos/as (21,7%) e outras profissões (22%). O que reforçam a histórica atuação como trabalhador/a da assistência social por parte dessa categoria.

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para o referido campo institucional. O levantamento foi realizado entre os meses de Setembro a Novembro/2019, a partir do sistema - Microsoft Forms, responsável por catalogar de forma online as informações concernentes aos desafios enfrentados por assistentes sociais no estado do Rio Grande do Norte.

O levantamento foi divulgado junto ao CRESS-RN em articulação com o setor de comunicação da entidade, através das mídias sociais, além do repasse via e-mails para demais assistentes sociais - supervisores de campo interligados ao Departamento de Serviço Social - DESSO - vinculado a Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Também foi feita a divulgação do projeto pelo setor de comunicação do CRESS-RN, através de e-mails e dos canais midiáticos oficiais do conselho.

Em linhas gerais, a proposta foi reflexo de algumas inquietações, mediante as nuances que atravessam o exercício profissional, como às formas de trabalho, as peculiaridades deste em determinadas políticas sociais/área de atuação, além do anseio por contribuir no debate que envolve o trabalho profissional dos assistentes sociais em território potiguar.

Para o Serviço Social a referida temática possui grande relevância, uma vez que busca problematizar os desafios históricos, mas que assumem também peculiaridades regionais e rebatem diretamente no desenvolvimento do trabalho profissional da categoria no RN. É por essa razão, que se percebeu-se a necessidade de prosseguir com os estudos mais aprofundados, entendendo que as discussões sobre os desafios profissionais demandam reflexões cada vez mais robustas.

Optou-se por utilizar o método qualitativo, e a escolha teórico-metodológica deste estudo prima pelo materialismo histórico dialético, em virtude do esforço metodológico que o mesmo possibilita através das sucessivas aproximações com o objeto pesquisado. Sustenta a escolha do método, as análises de Prates (2010), ao afirmar que o método dialético crítico contempla no processo investigativo o equilíbrio de diversas perspectivas, tais como “as condições subjetivas e objetivas, o movimento contraditório de constituição dos fenômenos sociais contextualizados e interconectados à luz da totalidade e a articulação entre dados quantitativos e qualitativos, forma e conteúdo, razão e sensibilidade” (PRATES, 2010, p. 03). Os dados coletados no levantamento, especialmente no que se refere aos comentários aos quais os profissionais escreveram livremente, foram trabalhados pela análise de conteúdo que, conforme explicitado por Bardin (1977), refere-se a “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

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conhecimentos relativos às condições de produção/recepção” (BARDIN, 1977 apud MENDES; MISKULIN, 2007, p. 23).

Convêm dizer, que antecedeu esse processo do projeto de intervenção, a coleta de informações realizadas em julho de 2019 na qual visou a demarcação quantitativa de profissionais inscritos no sistema responsável por cadastrar os assistentes sociais do RN (SICAF)2. Com isso, foi possível evidenciar o registrado de 6.173 profissionais (ativos ou não); o número de inadimplentes chegava a 2.431; o público feminino (ativos ou não) demarcaram um total de 5.819, e o público masculino, um número de 151 profissionais.

O número de inscritos ativos, ou seja, os assistentes sociais que exercem profissão e não cancelaram/transferiram a inscrição, corresponde a 4.602. Desse universo, 4.356 são mulheres e 124 estão registrados como homens. Denota-se também que nesse quantitativo, há os remidos (profissionais que completaram 60 anos), e, portanto, estão isentos da anuidade, mas podem estar exercendo a atividade trabalhista.

Para organização do trabalho aqui posto, inicialmente, traremos, no primeiro capítulo, uma discussão sobre a crise capitalista que promove consequências e reordena o mundo do trabalho, discorrendo no segundo capítulo sobre os desafios para o Serviço Social, e nele, para os campos de Estágio na conjuntura contemporânea a partir de um breve relato de experiência. No terceiro capítulo, será realizada uma análise, a partir das informações coletados no citado levantamento e da vivência do estágio curricular obrigatório, a respeito dos desafios postos aos assistentes sociais a exemplo das dificuldades com a equipe/gestão; estigmatização/subalternidade; piso salarial, e as influências sociopolíticas evidenciadas nesse território.

Por fim, serão feitas algumas considerações finais mediante o que foi discorrido nesse estudo, reiterando os resultados obtidos através da revisão de literatura sobre o trabalho profissional e seus desafios no estado do Rio Grande do Norte, bem como a análise de dados feita no material coletado durante o projeto de intervenção, realizado no âmbito do CRESS-RN, na condição de estagiária.

2 Sistema de cadastramento administrativo e financeiro da empresa Implanta Informática. Esse sistema realiza a

gestão das informações dos profissionais e pessoas jurídicas registradas no Conselho e serve para controlar e manter as informações dos dados cadastrais, financeiros e dívidas ativas.

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2. A CRISE CAPITALISTA E SEUS EFEITOS PARA O SERVIÇO SOCIAL

Trataremos neste capítulo dos efeitos nefastos da crise do capital para o Serviço Social enquanto profissão socialmente determinada por sua história. Para isto, é importante tecermos algumas discussões, sobretudo, a respeito das novas conotações que o sistema capitalista assume, ao passo em que visa estrategicamente fazer frente ao cenário crítico da chamada crise do capital. Trata-se de compreendermos como a diversificação das bases econômicas decorrentes da chamada reestruturação produtiva, amparada sob a ótica estatal, flexibiliza as relações de trabalho, realiza acordos financeiros internacionais, e impacta a vida do conjunto dos trabalhadores, dentre eles, os assistentes sociais.

Buscar-se-á neste momento, analisar como esse cenário de crise, com a adoção de políticas neoliberais pelo estado, promovendo expressões diversas como o enxugamento da máquina pública, precarização do trabalho, desmobilização das negociações coletivas, incide nos setores produtivos com a chamada acumulação flexível. Processos estes, que irão ser evidenciados, especialmente, na realidade brasileira com a contrarreforma do estado, que sendo aliado do modo de produção vigente, redesenha de forma direta os processos de trabalho, forjando, nessa cena, inúmeros desafios, especialmente para os países periféricos que sofrem rebatimentos ainda mais acentuados pela sua estrutura de dependência econômica.

Dentre esses desafios, no cenário brasileiro, expomos o sucateamento e a focalização dos serviços sócio assistenciais, a privatização de alguns setores, cita-se a educação, e as diversas formas de precarização do trabalho. Realidades as quais impactam diretamente os profissionais do Serviço Social, sendo esta uma profissão determinada na sociedade pela conjuntura econômica, social e política em vigor. Portanto, a finalidade deste capítulo é apontar os desafios postos para o Serviço Social a partir da denominada crise do capital.

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2.1 A DINÂMICA DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NEOLIBERAL E OS DESAFIOS PARA O SERVIÇO SOCIAL

Mota (2009) nos esclarece que antecede o cenário de crise, o período definido como “fordista-­keynesiano” que seguiu a reconstrução do segundo pós‐guerra, estendendo‐se até a década de 1970, nos países centrais, e foi marcado por uma fase de expansão econômica, os chamados anos de ouro no capitalismo, caracterizados pela ampliação de empregos e salários com uma forte intervenção do Estado. Além disso, houve

[...] uma intensa centralização, concentração e expansão de capitais, cujo desenvolvimento das forças produtivas, marcado por avanços tecnológicos, permitiu o aumento da produtividade do trabalho e da produção de mercadorias, mediante a internacionalização da produção e a redefinição da divisão internacional do trabalho ( MANDEL, 1992, apud, MOTA, 2009, p. 05).

Em linhas gerais, de acordo com os marcos conceituais de Antunes (2009), após o longo período de acumulação lucrativa ao qual ocorreu durante o ápice do fordismo e da fase keynesiana, a engrenagem capitalista começa a sinalizar um quadro crítico, a partir dos anos de 1970. Ou seja, o modelo de gestão fordista/keynesiano a medida em que não atende às “necessidades” de lucratividade determinadas pelo próprio capital começa a dar sinais de crise. Antunes (2009) evidencia esse contexto de crise, ao assinalar traços responsáveis por caracterizar a dinâmica de crise econômica. Os mesmos são um panorama amplo envolvendo as configurações na esfera pública e privada, especialmente nos setores produtivos, promovendo uma série de impactos para o universo do trabalho, são eles:

1) queda da taxa de lucro, dada, dentre outros elementos causais, pelo aumento do preço da força de trabalho, conquistado durante o período pós-45 e pela intensificação das lutas sociais dos anos 60, que objetivavam o controle social da produção [...] 2) o esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista de produção (que em verdade era a expressão mais fenomênica da crise estrutural do capital), dado pela incapacidade de responder à retração do consumo que se acentuava. [...] 3) hipertrofia da esfera financeira, que ganhava relativa autonomia frente aos capitais produtivos, [...] colocando-se o capital financeiro como um campo prioritário para a especulação, na nova fase do processo de internacionalização 4) a maior concentração de capitais graças às fusões entre as empresas monopolistas e oligopolistas; 5) a crise do Welfare State ou do “Estado do bem-estar social” e dos seus mecanismos de funcionamento, acarretando a crise fiscal do Estado capitalista e a necessidade de retração dos gastos públicos e sua transferência para o capital privado; 6) incremento acentuado das privatizações, tendência generalizada às desregulamentações e à flexibilização do processo produtivo, dos mercados e da força de trabalho [...] (ANTUNES, 2009, p. 31).

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Ainda conforme o autor nos esclarece, paradoxalmente, a partir desse cenário, é estabelecido um circuito de novas estratégias para continuar mantendo ativo o reordenamento da lógica produtiva, que envolve a flexibilização, inclusive, do trabalho antes protegido. Em linhas gerais, no intuito de manter e aumentar suas taxas de lucratividade, o capital desenvolve estratégias de reestruturação produtiva, alternando a produção em massa pela produção flexível.

Sob essa análise, com o novo redimensionamento econômico, o capital desenha rebatimentos também para o setor público, forjados nesse universo de crise, e impõe a necessidade de diminuição dos investimentos sociais e a alta desregulamentação que delineiam, agora, novas formatações às gestões estatais, impactando diretamente na reprodução da força de trabalho.

Para Souza (2010), se evidencia também nesse contexto de reestruturação, ao qual deflagra a transição do sistema fordista para o definido como toyotismo, a presença de novas modalidades de produção, com base em tecnologias flexíveis provocadoras de transformações no mundo do trabalho, o que influencia a reprodução material e espiritual da classe operária.

É neste contexto, caracterizado por um processo de precarização estrutural do trabalho, que os capitais globais estão exigindo o desmonte da legislação trabalhista. E flexibilizar a legislação do trabalho, significa aumentar ainda mais os mecanismos de exploração do trabalho, destruindo os direitos sociais que foram arduamente conquistados pela classe trabalhadora desde o início da Revolução Industrial, na Inglaterra, e especialmente após 1930, quando se toma o exemplo brasileiro. Querem, de todo modo, fazer proliferar as distintas formas de “trabalho voluntário”, terceirizado, subcontratado, de fato trabalho precarizado. (ANTUNES, 2010, p. 02, apud, SOUZA, 2010, p. 05)

Soma-se a isso, a associação de fundos monetários por parte de corporações empresariais assinalando táticas inerentes ao sistema financeiro, visando a sua restauração. Freitas e Montefusco (2015), sustentam que esse quadro é aprofundado, pela disseminação do ideário neoliberal, com agudas transformações nas relações envolvendo Estado/sociedade civil, desenvolvidas no horizonte da “(des)responsabilização do Estado com os gastos sociais, com a proteção do trabalho, as políticas sociais universais são substituídas por programas focalizados, em contrapartida, há uma supervalorização do mercado, amplia-se o processo de privatização” (FREITAS; MONTEFUSCO, 2015, p. 05).

Importa ressaltar que, a fim de reorganizar esse processo produtivo, é essencial, também, um formato estatal capaz de garantir a reprodução da força de trabalho. Por isso, nessa nova cena de forte propagação neoliberal, a máquina pública é uma aliada estratégica da engrenagem capitalista. E, se antes, com o binômio fordista-keynesiano, evidenciava-se o modelo de “Estado de Bem-estar social”, nessa nova conjuntura de intensa flexibilização das

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relações de trabalho, vê-se uma atuação estatal minimalista para o âmbito dos direitos sociais, e mais alinhado aos interesses mercadológicos, ou seja, um estado neoliberal.

Giongo; Machado e Mendes (2016), em sintonia com Antunes (2014), nos dizem que essa discussão contemporânea sobre os efeitos perversos para o universo do trabalho, deve passar pela concepção ampliada do mesmo “amparada pelas metamorfoses do sistema econômico vigente, que agudiza a questão social, mas que ainda mantém o trabalho como categoria central do sistema capitalista de acumulação flexível” (GIONGO; MACHADO; MENDES, 2016, p. 229). Para os autores, sob a ótica de Antunes, é preciso considerar que essa centralidade se mantenha intimamente relacionada à produção de valor, pois

o trabalho segue também esfacelado sob o ponto de vista da perda iminente dos direitos de proteção social arduamente adquiridos no país e, portanto, acentuam-se os processos de terceirização, precarização e informalização, que levam a uma ampliação da vulnerabilização das condições sociais e de vida e que afetam, em graus variados, não apenas os trabalhadores brasileiros, mas também os que vivem em outros países do mundo. GIONGO; MACHADO; MENDES, 2016, p. 230).

Também evidencia as expressões desse cenário em nível nacional, as análises de Medeiros (2017), ao expor que o Brasil possui as suas particularidades históricas, o que faz com o que os rebatimentos da reestruturação produtiva para a classe trabalhadora, cheguem nesse território, de maneira tardia, acompanhando a sua introdução no sistema capitalista, sobretudo, a partir dos anos 1990. Ainda conforme nos remete essa visão, ocorrem historicamente no Brasil, intensas transformações societárias:

a contar pela intensificação industrial, têm destaque somente em meados do século XX, entre as décadas de 1930 e 1950, quando o mundo já vivenciara o padrão monopolista fundado no regime de acumulação. Enquanto isso, nós estaríamos mergulhados em um padrão concentrador e desigual do processo industrial, imprimindo no perfil do mercado de trabalho características cada vez mais flutuantes. (MEDEIROS, 2017, p. 34).

Nos termos de Behring e Boschetti (2007), no Brasil, diferentemente dos territórios onde se observa uma estrutura de estado de bem estar social, o modo de produção econômico, se estabelece pela centralização do poder político estatal, através do lastro autocrático com forte dominação de uma elite agroexportadora e industrial ligada ao capital externo, cenário este, de intensa instabilidade “política e econômica, persistentes taxas de inflação, além de seletivos investimentos em medidas de proteção social, experimentando de fato o desenvolvimento capitalista e o regime político democrático de maneira dissociada” (BEHRING; BOSCHETTI, 2007).

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A respeito da incorporação neoliberal por parte do contexto brasileiro, Raichelis (2000) disserta que se observa inúmeras consequências, ainda na década de 1980, dentre elas, os impasses na “consolidação democrática, do frágil enraizamento da cidadania e das dificuldades históricas de sua universalização, expressas pelo acirramento das desigualdades sociais, encolhimento dos direitos sociais e trabalhistas” (RAICHELIS, 2000, p. 04). Perspectivas que irão ser extremamente contraditórias aos marcos legais previstos na Constituição de Federal de 1988.

Amplia essa discussão, as análises de Souza (2014), ao sustentar que as transformações experimentadas, sobretudo, a partir da década de 1990, são responsáveis por atingir a massa de trabalhadores em geral, e redefinir as configurações legais e de funcionamento no universo do trabalho afetando diversas profissões. Na visão da autora, dos anos de 1990 até os nossos dias atuais vêm ocorrendo contrarreformas do Estado em oposição aos progressos advindos da nova legislação prevista na Constituição de 1988.

Pereira (2013) argumenta que essa conjuntura de redemocratização possibilitou avanços para a sociedade brasileira, principalmente para as políticas sociais, contudo, os reflexos da crise capitalista no território nacional, transformaram as “reformas” em contrarreformas do Estado, provocando a desregulamentação dos direitos sociais pouco tempo depois de serem legalmente reconhecidos.

Nesse horizonte, com a chamada contrarreforma do Estado, especialmente, é posto um intenso retrocesso no âmbito dos direitos previstos na Constituição de 1988 referentes às políticas sociais. É evidenciado mais fortemente o caráter focalista, descentralizado e privatista que irão demarcar as políticas públicas, a partir das premissas impostas pelos ditames neoliberais.

Atrelado à isto, conforme nos aponta Iamamoto (2006), a radicalização liberal estabelece e reafirma o mercado como órgão regulador supremo das relações sociais, e incide nesse contexto intensificando a prevalência da competição, do individualismo, da desarticulação das formas de negociações coletivas. Traços que irão impactar frontalmente a atuação profissional de diversas categorias, mas sobretudo, daquelas que atuam no planejamento e execução das políticas públicas, a exemplo dos assistentes sociais.

Esse cenário de forte expansão do trabalho precarizado, produto síntese da desresponsabilização estatal somado às estratégias mercadológicas de apropriação de lucros - orientadas pela desregulamentação do trabalho e dos direitos sociais, impacta significativamente a profissão do Serviço Social, uma vez que conforme sinalizam Iamamoto e Carvalho (2013), a profissão do Serviço Social é definida como “um tipo de especialização do

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trabalho coletivo, ao ser expressão de necessidades sociais derivadas da prática histórica das classes sociais no ato de produzir e reproduzir os meios de vida e de trabalho de forma socialmente determinada (IAMAMOTO; CARVALHO, 1983, p. 77).

Em linhas gerais, a partir da “legitimação” e “reconhecimento” da profissão no âmbito da divisão sóciotécnica do trabalho, não há como desconsiderar que esta se direciona a medida em que se gestam no seio da sociedade múltiplas transformações. A respeito dessas moldagens, recorremos a Mota (2008) que denuncia a chamada ofensiva neoliberal e suas expressões político-ideológicas, ao dissertar sobre os efeitos no mundo do trabalho na medida em que são impostas para as categorias profissionais redefinições a partir do que promove a chamada reestruturação produtiva.

Dessa forma, a estrutura neoliberal representa o apoio “imperativo para o capital na obtenção do consentimento ativo dos trabalhadores [...] e na alteração das relações entre Estado, sociedade e mercado [...]” (MOTA, 2008, p. 118, apud, MEDEIROS, 2017, p. 34), tal como no investimento em reformas institucionais, a contar pelo desfinanciamento do público, através da burocracia estatal no campo dos direitos sociais.

Esses rebatimentos chegam para o conjunto dos trabalhadores, dentre eles, os Assistentes Sociais, mediante as poucas condições em acessar seus direitos, ficando normalmente à mercê dos ditames e conveniências neoliberais. Adensam esse debate, as reflexões de Guerra (2007), ao afirmar que esse e vários outros fatores, como o avanço na dinâmica do desemprego/subemprego, da precarização do trabalho, as novas formas de contratação: quer seja por tempo determinado, por projeto, ou mesmo por hora, tempo parcial, entre outras, incidem diretamente

na qualidade das demandas - engendradas por interesses diferentes e/ou divergentes: de segmentos da classe dominante, dos usuários, das instituições, da profissão - que por meio de muitas mediações chegam ao profissional e lhes exige novas competências e qualidade na intervenção profissional” (GUERRA, 2007, p. 02).

Ainda nesses termos, é notório que a lógica do mercado, a qual atravessa o exercício profissional, redimensiona e promove alterações ocorridas na esfera dos serviços sociais e no processo de suas demandas, ou seja,

[...] passam a operar mediações até então concebidas como estranhas ao universo profissional considerado como o de prestação de serviços vinculado à proteção social, e o assistente social, equivocadamente, reconhecido como um profissional liberal. Nas condições e relações atuais do exercício profissional um conjunto de mediações conforma este processo: a ameaça ao desemprego, o achatamento salarial, a

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precarização das condições de trabalho, o aprofundamento do processo de pauperização, a mudança nos parâmetros legais e institucionais que orientam as relações de trabalho, o precário contrato de trabalho, (que estabelece o status profissional, as metas de produtividade, os salários, a jornada de trabalho e define o perfil profissional, suas funções e atribuições), a desespecialização/desprofissionalização, a alienação no/do trabalho. (GUERRA, 2007, p. 02-03 )

Alinha-se com essa análise, a defesa de Iamamoto (2006), ao dissertar que o solo histórico de aprofundamento do neoliberalismo e a contrarreforma do Estado atribui novos contornos de trabalho e impõe a exigência de avançar no direcionamento ético-político e de construir a partir do referencial teórico-metodológico, alternativas que busquem embasar a dimensão técnico-operativo da atuação do Assistente Social. Além disso, na ordem do dia, é central construir ainda, novos instrumentos que imprimam no campo da formação profissional a direção social estratégica da profissão.

Nesse ínterim, é primordial o fomento de uma visão crítica baseada no Projeto Ético Político - PEP, que se referencia em um projeto de sociedade, e para sua implementação, o profissional possui inúmeros desafios. De acordo com Guerra (2007, p. 16) “o desafio central para o assistente social, é o de fazer a crítica dos fundamentos da cotidianidade tanto daquela em que ele se encontra inserido, quanto a do cotidiano dos sujeitos sociais a quem presta serviços”.

A autora afirma então, que é necessário ao Assistente Social uma percepção crítica a respeito da realidade social como um todo. Vê-se como fundamental, a superação das moldagens tradicionalistas e liberais a partir do reconhecimento que as instituições estão imersas num campo de correlação de forças e de hegemonia contrarreformista que retira direitos e individualiza/criminaliza a questão social. Nesse sentido, os dispositivos institucionais, possuem demasiada importância para difundir direta ou indiretamente suas concepções de mundo, ou seja, a ideologia para manter seus objetivos.

Com isso, faz-se necessário uma formação sustentada em matrizes teóricas, sólidas e críticas para que se tenha a compreensão de totalidade em meio à realidade na qual está inserido. Cabe então ao Serviço Social “o desafio de fortalecer sua identidade, seu ethos profissional, no tensionamento das relações na esfera da produção social – sociedade civil e Estado, espaço em que se situa o seu trabalho” (ABEPSS, 2004, p. 74).

De acordo com Yazbek (2007), os assistentes sociais são interpelados pelas manifestações e expressões da questão social advindas das transformações conjunturais capitalistas pelas redefinições por parte dos sistemas de proteção social e da política social em geral, que emergem desse contexto, além da necessidade em construir mediações políticas e

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ideológicas expressas, sobretudo, por “ações de resistência e de alianças estratégicas no jogo da política em suas múltiplas dimensões, por dentro dos espaços institucionais e [...] no contexto das lutas sociais” (YAZBEK, 2007, p. 686). As disputas políticas e seus rebatimentos nas relações sociais, portanto, são repletos de contradições e resistências.

Exemplificamos o Serviço Social, como uma dessas categorias que se encontra inserida na divisão sóciotécnica do trabalho, determinada socialmente apresentando-se como necessária a partir da produção de serviços que atendem às demandas sociais, isto é, possui um valor de uso, uma utilidade/significado social.

Iamamoto (2008) nos aponta que não obstante a preservação da natureza qualitativa dessa especialização do trabalho nas várias inserções ocupacionais, “o significado social do seu processamento não é idêntico nas diferenciadas condições em que se realiza esse trabalho, porquanto envolvido em relações sociais distintas” (IAMAMOTO, 2008, p. 215). Ou seja, para a autora, são essas relações que interferem decisivamente no exercício profissional, e supõe a mediação do mercado de trabalho exatamente por se caracterizar uma atividade assalariada.

Esse cenário revela um complexo movimento atravessado de contradições históricas e desafios para a categoria profissional. Delgado (2013) destaca que os evidentes desafios presentes no mundo do trabalho contemporâneo produtos diretos do capitalismo financeiro global, bem como do desenvolvimento tecnológico e informacional atingem o conjunto dos trabalhadores em geral e a formação e o exercício profissional do assistente social em particular, pois, infunde “processos de precarização, desregulamentação e flexibilização das relações e condições de trabalho; altos níveis de desemprego; redução e mercantilização das políticas públicas; regressão dos direitos sociais e radicalização da questão social” (DELGADO, 2013, p. 134).

Medeiros (2017), a partir de Gonçalves, Moreira e Kauane (2015), nos diz que essa é uma particularidade fundante na gestão do Estado brasileiro, que sob o receituário neoliberal tem realizado, no decorrer de sua história, ações de forma “híbrida”, decorrentes de aspectos técnico-burocráticos e democrático-participativos. O que nos termos de Manfroi e Santos (2015), não isenta a categoria dos assistentes sociais, mas ao contrário, a coloca num patamar privilegiado nesse contexto de precarização, uma vez que

[...] majoritariamente contratados pelo Estado, deve-se compreender a precarização em um sentido mais amplo, tanto com relação às condições de acesso e inserção no mercado de trabalho protegido, quanto às condições de trabalho no espaço institucional propriamente dito. Assim, no caso do Serviço Social, uma mediação para que a precarização do trabalho seja entendida é a política social, na sua relação com o

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fundo público, pois o trabalho do assistente social está atravessado pelas determinações desta (MANFROI, SANTOS, 2015, p. 186).

Ressalta-se também como expressão disso, a precarização no percurso formativo em Serviço Social que contornam a estreita relação ensino - aprendizagem. A mercantilização do ensino superior brasileiro, observados nas estratégias de privatização dos serviços públicos expressos, por exemplo, na precarização dos serviços educacionais, e no sucateamento institucional. E, inscrito nesse campo, tem-se os processos de estágio e suas modalidades contemporâneas. Em sendo este um componente essencial da formação em Serviço Social, no próximo item destacamos, além do papel do estágio na formação, os desafios que estão colocados à formação em Serviço Social de maneira mais geral e que atravessam os processos de vivência nos campos de estágio.

2.2 O PERCURSO FORMATIVO EM SERVIÇO SOCIAL: reflexões sobre o direcionamento histórico assumido pela categoria

Segundo Simionatto (1999), historicamente, a profissão do Serviço Social redireciona as suas bases teóricas e políticas a fim de ampliar sua atuação para atender as demandas postas numa realidade marcada pelo aprofundamento da pauperização, e das diversas expressões da questão social. Ainda segundo a autora, tais implicações fazem com o que o Serviço Social seja perpassado pelas contradições sociais, o que permite a possibilidade de optar por um compromisso com os interesses de seus usuários, assumindo um posicionamento político e ideológico que se evidencie na sua ação profissional.

Para além disso, o redirecionamento ao qual a profissão é atravessada, também impacta significativamente o percurso formativo em Serviço Social, e segundo Silva (1995) nos expõe, em fins da década de 1970 e início de 1980, a formação profissional começa a ser questionada diante do quadro geral da sociedade brasileira, com a rearticulação e surgimento de novas forças políticas, em cujo contexto se destaca o movimento de organização da categoria e o movimento de estudantil. E, em especial a partir de 1979 em São Paulo, no III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais – CBAS, que ficou conhecido como “Congresso da Virada”, tais posicionamentos contrários às práticas autoritárias são expressos de forma mais contundente.

Ainda segundo a autora, assistentes sociais com um direcionamento mais progressista desembocam reivindicações de mudanças da práxis político-institucional do Serviço Social

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brasileiro, no sentido de aproximar a profissão com as lutas pela redemocratização da sociedade. Para além disso, buscava-se o fortalecimento do projeto profissional, desenvolvido não de forma espontânea, mas pelo movimento de ações construídas coletivamente, que proporcionaram o alinhamento e o conhecimento das diversas demandas do conjunto dos trabalhadores, pelo aprofundamento teórico-metodológico de apreensão das mediações da realidade dos indivíduos e de suas respectivas necessidades.

Assim, o movimento de reconceituação aproximou o Serviço Social para uma reflexão crítica dos processos sociais, direcionou a profissão para o atendimento das demandas das camadas populares e articulou a profissão com agendas políticas em defesa dos direitos; seja pelos direitos das mulheres, crianças/adolescentes, direitos do trabalho, etc. Esse redirecionamento, também refletirá na constituição do conjunto CFESS-CRESS historicamente, uma vez que este se estabelece no seio da categoria, e é responsável por orientar, defender e fiscalizar a profissão do Serviço Social.

Em síntese, de acordo com Iamamoto (2006), historicamente o debate no Serviço Social foi polarizado por um movimento de duas perspectivas: em primeiro lugar, um processo de ruptura teórica e política com o lastro tradicionalista de suas origens cujo marco inicial foi o movimento de reconceituação do Serviço Social latino-americano, em meados dos anos de 1960. No segundo caso, tem-se um fortalecimento de uma reação que possui traços tradicionais, aberta e/ou disfarçada apoiada na negação da sociedade de classes.

No Brasil, esse processo ampliador e crítico envolvendo o Serviço Social irá repercutir na dimensão formativa da profissão, pois segundo Guerra (2009), sobretudo para os assistentes sociais brasileiros, há desde meados da década de 1990, a disposição dessas/es profissionais, um projeto pedagógico responsável por contemplar um conjunto de valores e diretrizes, que lhe conferem a direção estratégica e contempla um determinado perfil de profissional.

Como aponta essa referência analítica, um dos resultados das transformações sociais que se traduzem nas particularidades da profissão, é o intenso investimento feito pelas entidades da categoria, no sentido da formação de uma massa crítica em consonância com este projeto, ao qual estabelece: “as dimensões investigativa e interventiva como princípio formativo e condição central da formação profissional e da relação teoria e realidade” (ABESS, 1997, p. 61, apud, GUERRA, 2009).

É sumariamente nesse contexto que os segmentos do Serviço Social, no Brasil, começam a assumir uma atuação crítica alinhada a uma capacidade analítica de totalidade, especialmente com as chamadas diretrizes curriculares postas no ano de 1996, embora seja explícito o dialético movimento de rupturas e continuidades que demarcam historicamente a

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profissão. Nesse ínterim, como reflexo das relações tecidas entre a realidade histórica, a formação e o exercício profissional, verificam-se no contexto universitário as chamadas diretrizes curriculares, vislumbradas como instrumento responsável por nortear os conteúdos formativos dos cursos de graduação em Serviço Social no Brasil.

Pressupõe essa discussão, o alinhamento dos fundamentos profissionais, para com o percurso de revisão curricular que passa a solicitar da categoria, uma apreensão crítico-reflexiva e isso impõe tecer uma leitura a respeito do cenário de disputas entre projetos societários que se apresentam nas relações hierárquicas que circundam a especialização do trabalho.

A emergência de discussões sobre a lógica curricular atravessa o Serviço Social desde a sua gênese com a participação de docentes e discentes. Além disso, os posicionamentos ideopolíticos nesse quadro, refletem o direcionamento orquestrado pelas entidades representativas da categoria profissional. Sob essa ótica, tem-se historicamente na chamada Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa de Serviço Social – ABEPSS, um amplo debate provocado, em especial, através da participação em diversos encontros objetivando repensar, construir e aplicar determinadas propostas pedagógicas de ensino.

Conforme nos remete Maciel (2006), a redefinição do currículo mínimo de Serviço Social em 1982, foi uma das alternativas mais significativas para assinalar a dinamização da discussão sobre a formação profissional e que buscava superar o ensino do Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade. Nessa direção, não há como desconsiderar o papel substancial que assume o espaço universitário como um cenário no qual desmembra a formação profissionalizante e para além disso, a construção dos sujeitos sociais.

Recorremos a Monfredini (2016) para discorrer a respeito desses lócus demasiadamente contraditórios que é a academia, sobretudo, a que se estabelece em território nacional e assume particularidades diferenciadas, em decorrência da cultura e das configurações políticas e econômicas vigentes.

A partir do referencial teórico adotado, é explicitado que há um empobrecimento histórico nesses espaços, tendo em vista que os conhecimentos e a formação reiteradamente são acionados pela perspectiva produtivista. Ou seja, a universidade se distancia socialmente ao funcionar sob o pragmatismo exacerbado. E essa tendência não possibilita um percurso formativo mais amplo, em especial, “pela realização da flexibilização de currículos articulada à precarização do trabalho e emprego de professores pesquisadores” (MONFREDINI, 2016, p. 10).

Uma realidade que conforme nos elucida a Política Nacional de Estágio/ABEPSS (2009), deve-se ir na contracorrente. Referindo-se à formação profissional em Serviço Social,

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o documento nos põe sobre a necessidade de construir alternativas e estratégias profissionais que contribuam para a defesa dos interesses sociais, opondo-se a redução da formação ao mero desenvolvimento da racionalidade técnico-instrumental.

o que exige do estágio supervisionado curricular, possibilitar experiências que ultrapassem o atendimento exclusivo das novas demandas do mercado de trabalho, ampliando os horizontes da formação do profissional com o desenvolvimento de competências técnico-operativas, compromisso ético-político e sustentação teórico metodológica [...] (PNE, 2009, p. 10).

Considera-se esse documento, demasiado relevante para o norteio do processo formativo no âmbito do Serviço Social, em decorrência dos múltiplos desafios inscritos na articulação dos fundamentos profissionais, aos quais se colocam na cena contemporânea. O mesmo é antecedido por discussões coletivas na defesa do projeto de formação profissional, e se expressa como um instrumento em favor da qualidade no ensino superior, contrário a fragmentação do ensino, a mercantilização deste, e as fissuras envolvendo o tripé da pesquisa, do ensino e da extensão, tão defendidos historicamente pelas entidades representativas do Serviço Social, sobretudo, a partir do direcionamento crítico que esta assume ao longo da sua trajetória profissional.

A construção coletiva desta Política Nacional de Estágio (PNE), certamente, encontra, no contexto atual, a urgência na defesa de um projeto profissional vinculado a um projeto de sociedade no horizonte estratégico da ampliação dos direitos, na direção da emancipação humana (Política Nacional de Estágio/PNE, 2009, p. 01).

Aprofundam essa discussão, Nicolau e Santos (2016), ao nos expor que a estimulação de discentes nos espaços sócio-ocupacionais do trabalho profissional devem ser fomentadas constantemente e garantidas através do processo de estágio curricular, obrigatório ou não-obrigatório, objetivando a “ “viabilização de pequenas investigações, levantamentos e produção de dados sobre a realidade profissional como forma de apropriação e construção de conhecimento que deem suporte à intervenção profissional qualificada.” (NICOLAU; SANTOS, 2016, p. 382).

Pois, para as autoras, é explícita na proposta de formação coordenada e defendida pela ABEPSS (1996), a defesa do exercício do pluralismo e a recusa do “monolitismo” assumindo uma direção clara socialmente referenciada favorecendo aos alunos a percepção da realidade social como uma arena de forças e de poderes entre diferentes projetos de sociedade, ao qual a

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formação profissional se insere num contexto de lutas e embates entre projetos profissionais e sociais diversos.

Diversas denúncias presentes no processo de formação que chegam aos CRESS mostram que o estágio supervisionado tem sido o objeto mais impactado com a precarização e proliferação desenfreada do mercado através dos cursos de graduação presencial e a distância. (FERRI, 2020, p. 234).

Um forte desafio atual e que denuncia o jogo de intensas correlações de forças ao qual se estabelece a formação profissional, diz respeito a ampliação das modalidade de Ensino a Distância (EaD) e suas implicações na qualidade da formação de assistentes sociais, sumariamente, na construção de um perfil profissional específico, bem como na realização do estágio supervisionado curricular obrigatório, “processo no qual temos constatado descumprimento ao que é preconizado pelas Diretrizes Curriculares, com destaque para a não realização da supervisão conjunta entre supervisores acadêmicos e de campo e problemas relacionados a carga horária prevista para essa atividade” (PNE, 2009).

Importa dizer que esse descumprimento do que delibera as diretrizes curriculares, não é um processo que desenvolve-se de modo alheio ao receituário neoliberal, e suas respectivas estratégias de lucratividade evidenciados no atual estágio do capitalismo, responsável por promover diversos rebatimentos para a profissão, do Serviço Social. Pois, conforme nos aponta Antunes (2009), historicamente, a conjuntura acentua inúmeras transformações orquestradas no interior da produção capitalista, desde os finais dos anos 1970, que irão delinear os processos e as condições de trabalho em diversas economias.

No contexto nacional, conforme nos aponta Souza (2009), tem-se que as implicações que resultam em impactos na formação profissional do Serviço Social encontram suas determinações, em grande medida, no processo de contrarreforma que passa o ensino superior no Brasil, questão tratada enquanto uma problemática estrutural do modo de produção capitalista. Ainda segundo a autora, o conjunto de mudanças projetadas no ensino superior brasileiro, é resultado dos acordos internacionais que envolvem os governos brasileiros e os grandes organismos financeiros, em especial, o Banco Mundial que, na atualidade, determina implementação de muitas políticas sociais nos países periféricos.

Em nível do Rio Grande do Norte, por exemplo, vê-se que o estabelecimento de oligopólios de ensino no estado, expressam a associação de empresas nacionais e estrangeiras, as quais, envoltas na busca por ampliar sua rentabilidade, expandem estrategicamente para outros territórios, dentre eles, o Nordeste brasileiro. Essa realidade ocorre de maneira

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interligada a um projeto de expansão econômica e de financeirização do capital que, no objetivando diversificar seus negócios/investimentos, atualizam constantemente suas estratégias monetárias.

Põe-se como um dos principais desafios postos a execução do estágio curricular e supervisionado, as requisições pedagógicas e as exigências na esfera do mercado que geram diversas formas de precarização no âmbito do ensino, e impõe a massificação da mão-de-obra barata, bem como a desqualificação formativa do estudante. Percebe-se essa situação como um reflexo claro da precarização do ensino e do trabalho envolvendo assistentes sociais especialmente no interior do estado, e que tem provocado grandes embates no cotidiano profissional.

Diante de tamanhos desafios, faz-se necessário uma formação sustentada em matrizes teóricas, sólidas e críticas para que se tenha a compreensão de totalidade em meio à realidade na qual está inserido. Cabe então ao Serviço Social “o desafio de fortalecer sua identidade, seu ethos profissional, no tensionamento das relações na esfera da produção social – sociedade civil e Estado, espaço em que se situa o seu trabalho” (ABEPSS, 2004, p. 74).

Por isso, reitera-se a importância do processo do estágio, que mesmo sendo perpassado de contradições em decorrência da lógica de mercado, possui importância significativa no processo formativo, como um elo capaz de proporcionar a análise crítico-reflexiva, e na construção de um perfil profissional comprometido com os valores éticos-políticos do Serviço Social. Além disso, põe-se como um instrumento facilitador do enlace teoria-prática, pois, adensa as análises empreendidas no âmbito acadêmico, e aproxima os estudantes dos espaços sócio-ocupacionais aos quais se evidencia a prática profissional no cotidiano das instituições.

Considera-se um momento bastante enriquecedor para o graduando e para os supervisores de campo/acadêmicos, bem como para o espaço de trabalho e a população usuária dos serviços ofertados. Nesse sentido, põe-se como essencial a defesa desse espaço, enquanto um “lócus” privilegiado de experiências que propiciam o desvelamento do real, através do acesso a documentos internos, apoio nas atividades desenvolvidas sob supervisão direta, e na construção de ações criativas e/ou propositivas desenvolvidas no decorrer desse processo, como os projetos de intervenção elaborados pelos estudantes de Serviço Social, em consonância com os supervisores de estágio.

Sob esse viés, afirma-se que através dessa experiência de estágio curricular, foi viável o acesso a diversos dados e informações sobre o trabalho profissional no estado do Rio Grande do Norte, quer seja por meio da participação nas visitas de fiscalização junto à supervisora de

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campo nos espaços sócio-ocupacionais inscritos no referido conselho, seja por meio da observação participante nas reuniões desenvolvidas no interior e externas à instituição.

Além disso, especialmente, com o desenvolvimento do projeto de intervenção - processo foi possibilitado a aproximação com a realidade concreta dos usuários, a contribuição efetiva para o campo de estágio, bem como sobre os diversos desafios que perpassam a vida cotidiana dos assistentes sociais no RN - objeto de discussão no capítulo seguinte.

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3. DESAFIOS POSTOS AO SERVIÇO SOCIAL NO RN: reflexões a partir de uma experiência de estágio junto ao CRESS-RN

Nesta sessão travamos um debate a respeito do que se evidenciou no processo de estágio curricular no âmbito do CRESS-RN. Importa salientar, que a profissão do Serviço Social é atravessada historicamente por um leque de desafios a medida em que se insere numa cena marcada por contradições sociais e é solicitada a ser uma área de trabalho capaz de traduzir suas competências e atribuições para o desenvolvimento de serviços na esfera pública ou privada atendendo as demandas as quais lhe são auferidas.

Por diversas vezes, esses profissionais se veem limitados por questões que envolvem a precarização nas suas mais variadas expressões, seja no universo formativo ou nos campos de atuação, por razões estruturais, limites éticos, e impactos subjetivos que envolvem o processo de adoecimento destes, em detrimento das suas condições de trabalho.

Trataremos neste item de uma discussão a respeito desses desafios em território norte- rio-grandense, a partir dos apontamentos feitos na vivência enquanto estagiária no conselho profissional da categoria, discorrendo sobre o projeto de intervenção implementado ao qual forneceu informações de profissionais assistentes sociais em vários campos de trabalho no estado do RN. Para isto, serão expostos dados que evidenciam esses desafios, a partir de indicadores construídos no ato do levantamento realizado no período de estágio curricular obrigatório.

3.1 ESTÁGIO EM SERVIÇO SOCIAL: análises sobre a vivência no CRESS-RN

Braga e Guerra (2009) discorre sobre a crise do capital e nos esclarece que suas mais recentes estratégias de reprodução em escala ampliada vêm alterando de forma contundente o Serviço Social, sobretudo no processo das “condições e relações de trabalho profissional, o cotidiano profissional, o padrão e a condição das políticas sociais, o processo de formação profissional, os estágios supervisionados e os processos de supervisão” (BRAGA; GUERRA, 2009, p. 15). Sob a ótica da autora, soma-se a isso,

a lógica da expansão universitária, a precarização da formação profissional estimulada pela proliferação de cursos de graduação de pouca qualidade e a distância, as dificuldades enfrentadas pelos cursos presenciais (com suas particularidades nos âmbitos público e privado), a lógica mercadológica, instrumental, gerencial e produtivista que sustenta o atual padrão de acumulação do capital e atravessa as

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