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Diante do exposto, tem-se que com a crise do capital, desemboca-se um cenário ofensivo de dominação ideológica nos espaços da vida social, mas sobretudo, para o universo do trabalho. Com o declínio histórico do modelo fordista-keynesiano, o conjunto dos trabalhadores a nível mundial, dentre eles, os assistentes sociais, sofrem os efeitos nefastos da desregulamentação e da desproteção/regresso dos direitos socialmente conquistados para esse âmbito.

No Brasil, é especialmente na década de 1990, em que se evidencia um contexto contraditório ao que foi deliberado pela Constituição Federal de 1988, e denota-se que os impactos da crise econômica, e de suas estratégias para manter o sistema financeiro ativo, em meio ao quadro crítico, com a chamada reestruturação produtiva, se coloca de forma extremamente intensa. E, numa conjuntura de enxugamento da máquina pública, com um estado mais alinhado aos interesses mercadológicos, vê-se de modo claro, a focalização/sucateamento dos serviços socioassistenciais, a privatização em diversos setores, mas principalmente, a larga precarização das condições de trabalho.

Esse processo influencia diretamente o trabalho profissional dos assistentes sociais, uma vez que estes, atuam em sua grande maioria vinculados ao Estado na elaboração, planejamento e execução das políticas sociais. Portanto, essa cena de “minimização do estado” e maximização do capital, promove efeitos diversos para esses profissionais. desafios aos quais tratamos aqui nesse estudo, e evidenciamos a persistência histórica: desvalorização salarial, ausência de condições físicas, e consequentemente éticas para o desenvolvimento do trabalho, além das implicações que resultam em impactos na formação profissional do Serviço Social que encontram suas determinações, em grande medida, no processo de contrarreforma do estado - uma problemática estrutural do sistema capitalista.

Dessa forma, para a formação profissional, o que tem sido apontado é que esse processo contrarreformista, ameaça a direção do percurso curricular, especialmente no estado do RN, pois se apresentam uma intensa mercantilização do ensino superior e a multiplicação de instituições que formam profissionais voltados apenas para atender os interesses do mercado, na perspectiva de ‘administração’ da questão social, com pouca relação com o projeto de formação profissional defendido pela categoria.

Uma realidade que contorna o momento crucial para a Graduação em Serviço Social: o estágio curricular (sendo ele obrigatório ou não), sobretudo com a ampliação, nessa cena mercadológica, do Ensino a Distância - (EAD), perspectiva que nas concepções defendidas

pelas instâncias representativas, desarticula as dimensões de ensino, pesquisa e extensão, e promove um intenso aligeiramento na assimilação dos fundamentos teóricos metodológicos da profissão.

Contudo, ainda que existam claros desafios nesse contexto, destacamos a importância do estágio curricular, como um forte elemento capaz de aproximar os discentes da prática profissional, acessar informações variadas sobre os usuários e na assimilação dos fundamentos profissionais. A experiência bastante rica, que propiciou o desenvolvimento desse estudo a respeito dos desafios profissionais de assistentes sociais potiguares, ocorreu junto ao Conselho Regional do Serviço Social – CRESS-RN da 14ª região.

Vivência essencial para uma análise aprofundada e sistematizada a partir dos relatos que viabilizaram a coleta de informações sobre as condições de trabalho, os processos de adoecimento em decorrência dessas circunstâncias, a baixa valorização salarial, bem como o desrespeito ao que delibera os marcos legais da profissão como a Lei de Regulamentação profissional 8.862/1993 e o Código de Ética (1993) em se tratando das suas atribuições e competências, condições éticas/físicas de trabalho

Além de um panorama geral sobre as configurações próprias da região a qual nos detivemos (estado do Rio Grande do Norte), no qual foi possível sinalizar expressões sociais, políticas, culturais e econômicas que permanecem nesse território, e contornam os processos de trabalho em Serviço Social, como o assistencialismo - realidade que envolve a benesse e o envolvimento da logística de troca de favores em se tratando da viabilização dos direitos sociais conquistados.

Coloca-se, portanto, como urgente, maiores reflexões sobre os desafios profissionais de forma regionalizada. É importante ampliarmos a discussão sobre os entraves históricos, mas

também reformular estratégias mais direcionadas, com a participação de assistentes sociais e o

respectivo acompanhamento das tomadas de decisão feitas pelo conjunto CFESS-CRESS, tendo em vista um cenário que persiste em apresentar claros contornos de precarização, sucateamento dos serviços sociais, e que promove efeitos para a legitimidade profissional, bem

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APÊNDICE

Modelo do formulário aplicado como parte do projeto de intervenção de estágio “CRESS-

RN QUER TE OUVIR: Fortalecendo o diálogo om a categoria dos Assistentes Sociais”

1. Perfil identitário: ( ) Feminino

( ) Masculino ( ) Outro

2. Indique qual é a Política Social/área em que atua: ( )Assistência Social

( ) Saúde ( ) Educação

( ) Previdência Social ( ) Sócio jurídico

3. Município(s) em que atua: _______________________ 4. Cite uma(s) dificuldade(s) para o seu exercício profissional: ( ) Condições precárias de trabalho

( ) Assume atribuições incompatíveis com a profissão ( ) Desvalorização salarial

( ) Descumprimento da lei das 30 horas ( ) Dificuldades com a equipe/gestão

5. Relate um pouco sobre a(s) dificuldade(s) marcada(s) acima:

6. Já solicitou alguma visita institucional ou intervenção do CRESS-RN? Indique qual o ano e se a demanda foi atendida ou não: _______________

7. Como você analisa a atuação do CRESS-RN? Se sente contemplada (o) pelas ações desenvolvidas? (Justifique)

8. Sugira temas a serem discutidos pelo CRESS-RN que considere relevantes. Se preferir, registre também seu nome/e-mail para fins de retorno do CRESS-RN em caso de demandas ainda não atendidas:

9.Como avalia a proposta de se fazer um mapeamento sobre a atuação política- administrativa do CRESS-RN e as condições de trabalho das (os) assistentes sociais?

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