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3. DESAFIOS POSTOS AO SERVIÇO SOCIAL NO RN: reflexões a partir de uma experiência de estágio junto ao CRESS-RN

3.2 DESAFIOS POSTOS AO SERVIÇO SOCIAL NO RN

Conforme expõe Behring e Boschetti (2007), com a promulgação da Carta Magna em 1988, o país passa por uma ampla modernização no aparelho estatal, e isso propicia políticas públicas mais consistentes, na perspectiva de ampliação, universalização e na superação do clientelismo. No entanto, ainda segundo as autoras, verifica-se em seu orçamento que essa dinâmica da materialização de tais conquistas, passou por um processo de “sabotagem” ao qual vincula-se a tendência de privatização, ainda que com diferentes formatos.

Nessa mesma direção, Costa e Fiuza (2015) nos alerta para esse cenário paradoxal, onde observa-se que as deliberações postas pela referida Constituição Federal (1988) - não obstante contemplarem os direitos do cidadão, “não são suficientes para reverter de imediato à ordem social até então posta, sobretudo, quando exige um processo de ruptura com a cultura política tradicional que sempre permeou as relações sociais no Estado brasileiro” (COSTA; FIUZA, 2015, p. 76).

Esse processo de influência cultural da política tradicional na máquina pública, repercute de modo peculiar no estado do Rio Grande do Norte, a exemplo das práticas clientelistas - forjando uma relação de benesse e favorecimentos em detrimento dos direitos sociais legitimados historicamente. Além disso, é verificado o nepotismo político com o poder sendo exercido por familiares de um mesmo núcleo, que denotam as chamadas “oligarquias políticas” - estabelecidas com a inserção de famílias tradicionais, sobretudo da região Nordeste na máquina pública.

Na abordagem de Medeiros (2012), o primeiro-damismo, por exemplo, se estabelece nesse cenário e se coloca como uma importante estratégia para a reprodução da “ideologia do favor”, que se utiliza das políticas sociais, notadamente a de assistência social, para a manutenção das estratégias de dominação sobre a classe trabalhadora.

De acordo com Costa e Fiuza (2015), às chamadas relações de poder tradicionais inserem-se dentro da esfera do poder público, da administração estatal, isto é, extrapolam a esfera do poder privado das elites econômicas, para tornarem-se elites políticas. O capitalismo quando conta com uma estrutura de poder ou Estado Patrimonialista, torna-se um “capitalismo politicamente orientado”, pois a política é o valor que ocupa o lugar de destaque no modelo patrimonialista (COSTA; FIUZA, 2015, p. 67).

[...] trata-se de entender público e privado não como práticas definidoras de condutas subjetivas, mas como concepções submetidas ao arbítrio de quem personifica o público e de quem personifica o privado [...] no Brasil a distinção entre o público e o privado nunca chegou a constituir, na consciência popular, como distinção de direitos relativos à pessoa, ao cidadão. Ao contrário, foi distinção que permaneceu circunscrita ao patrimônio público e ao patrimônio privado. Portanto, uma distinção relativa ao direito de propriedade e não relativa aos direitos da pessoa. [...] No Brasil dos séculos XVI e XVII, o público era quase que inteiramente personificado pelo privado (MARTINS, 1994, p. 21-24, apud, COSTA; FIUZA, 2015, p. 67).

Em síntese, convém dizer, que esse processo contorna também os desafios para o Serviço Social no RN, e vincula-se a engrenagem econômica responsável por promover um conjunto de problemáticas advindas das necessidades não satisfeitas “pela contradição entre produção e distribuição da riqueza no capitalismo, que denomina-se questão social” (MEDEIROS, 2012, p. 75).

Alinha-se a esse debate, as análises de Costa e Fiuza (2015), ao disporem que o ideário neoliberal traz para o cotidiano da sociedade a sustentação cada vez mais enraizada da “cultura da superioridade das elites” - que inviabiliza a criação e garantia de direitos universais, ou seja, impossibilita a instauração da cidadania plena. Essa expressão, nos aponta Alencar e Granemann (2009) já fora colocada por Mota, (1995) a respeito da condição da seguridade social no Brasil como é o caso da previdência e saúde, que se conjuga com o assistencialismo focalizado sobre os segmentos mais pobres, e que promove a

[...] carência de recursos, a estruturação de uma plêiade de programas sociais voltados para os segmentos sociais mais vulneráveis, a tendência de “assistencialização das políticas sociais” e, mais grave, pela “financeirização” do fundo público nas mais diferentes formas de apropriação do fundo público (ALENCAR; GRANEMANN, 2009, p. 162).

Reconhece ser essa tendência, um marco histórico do território brasileiro, entretanto, parte-se da compreensão, de que a formação social do estado do Rio Grande do Norte, e suas configurações políticas e históricas, refletem de maneira ainda mais precária na formulação de programas, planos e serviços que abrangem diversos profissionais, dentre eles, os assistentes sociais. O que nos põe também para um redirecionamento da atuação do trabalho dessa categoria nesse território.

E, inscritos nos diversos espaços sócio-ocupacionais, portanto, os Assistentes Sociais são atravessados por inúmeros desafios próprios da dinâmica institucional onde impera, a velocidade a que se sobrepõe às múltiplas solicitações de resolutividade a esses profissionais,

um aligeiramento e um praticismo nas respostas formuladas. A respeito desse processo, Guerra (1999) disserta que

é no cotidiano — tanto dos usuários dos serviços quanto dos profissionais — no qual o assistente social exerce sua instrumentalidade, o local em que imperam as demandas imediatas, e consequentemente, as respostas aos aspectos imediatos, que se referem à singularidade do eu, à repetição, à padronização (GUERRA, 1999, p. 09).

Por isso, Alencar e Granemann (2009), nos alertam ser imprescindível reconhecer os traços da assistencialização e da financeirização das políticas sociais, uma vez que esse processo oportuniza “distinguir as profundas e irreconciliáveis contradições do tempo presente que no espaço da proteção social nos confrontam com limites muito claros, porque de classe” (ALENCAR; GRANEMANN, 2009, p. 167).

Desvelar estes limites é fundamental para a compreensão das metamorfoses do trabalho profissional; mascará-los é tornar indecifrável a precarização do trabalho dos assistentes sociais, o elevado grau de sofrimento e frustração manifestos em reflexões nos ambientes profissionais e de organização da categoria, a dilatação e a intensificação da jornada de trabalho, a decadência geral das condições de vida e de trabalho (ALENCAR; GRANEMANN, 2009, p. 167).

Com esse horizonte, foi construído um levantamento realizado no âmbito do CRESS – RN ao qual abrangeu informações sobre o perfil identitário dos assistentes sociais em território potiguar. Obteve-se um quantitativo de 78 profissionais que se identificaram como mulheres e 10 como homens, totalizando 88 profissionais - com alguns possuindo vínculo trabalhista em mais de uma cidade, por isso, totalizou-se um número de 44 profissionais de Natal/RN e 486 dos mais diversos municípios, conforme veremos no gráfico sobre o número de respostas por município:

6 Esse número corresponde a um número de profissionais que informaram atuar em mais de um município do

FONTE: Coleta direta de dados, 2019.

Nessa esfera, tem-se que a coleta de dados evidenciou informações referentes ao município do Natal/RN, mas também sobre os profissionais que residem e/ou trabalham em 25 municípios (RN): Ceará-Mirim; Caicó; Currais Novos; Nova Cruz; Senador Elói de Souza; São José do Mipibu; Parnamirim; São Gonçalo do Amarante; Extremoz; Carnaúba dos Dantas; Tibau do Sul; Japi; Mossoró; Ielmo Marinho; São João do Sabugi; São Paulo do Potengi; Cerro Corá; Sítio Novo; Guamaré; Assú; Alto do Rodrigues; Serra Negra do Norte; Touros; Patú; Macaíba.

Também como um dos resultados apresentados nesse estudo, destacou-se a diversificação de áreas profissionais dos respondentes no estado do Rio Grande do Norte - RN, o que nos propiciou o acesso a informações variadas sobre um leque de espaços sócio opcionais inscritos em território norte-rio-grandense. É o que expressa o gráfico da quantidade de profissionais por área de atuação:

FONTE: Coleta direta de dados, 2019.

Diante disso, tem-se que o levantamento abarcou 40 assistentes sociais aos quais encontravam-se empregados na política de Assistência Social - constituindo um alto indicador de desafios para esta área; Também houve um número de 26 Assistentes Sociais que informaram ter vínculo na área da saúde; 12 dos respondentes disseram estar inseridos no campo educacional; apenas 01 Assistente Social afirmou atuar na política da previdência social; 09 profissionais da área do sócio jurídico e 06 assinalaram que pertenciam a outras áreas de atuação (empresas, política de habitação, e etc.).7

A respeito dos embates que configuram fortes expressões da precarização do trabalho, reflexo da engrenagem econômica vigente, tem-se que na aplicação do mapeamento feito junto ao CRESS-RN, expôs diversas situações dessa ordem em território potiguar, as quais verificaremos adiante no gráfico 3:

Fonte: Coleta direta de dados, 2019.

Em síntese, na sessão de “desafios profissionais” apontados pelos entrevistados, foi assinalado em 1º lugar - a desvalorização salarial (como maior limite objetivo); seguido das dificuldades que envolvem estes profissionais com a equipe multiprofissional ou a gestão; depois as precárias condições de trabalho (com destaque para o acesso aos equipamentos, condições éticas e técnicas). Ressalta-se que sobre cada um desse itens, será feito uma discussão mais aprofundada a respeito destes, pois no próprio formulário, foi posto um espaço para que os entrevistados expusessem de forma cursiva sobre as dificuldades assinaladas.

Na seção “outros” os profissionais assinalaram demais desafios como o adoecimento físico e mental em decorrência do trabalho, ou formas de perseguição/assédio moral no ambiente institucional, e os entraves na mediação dos serviços. Para fins de otimizar a apresentação dos resultados, foi organizado um quadro geral contendo a área de atuação; perfil identitário; o município, os depoimentos (catalogados no menu: desafios profissionais).

A respeito dessa última sessão, para esse trabalho, foi feit6o uma revisão dos depoimentos, e organizado a divisão de 04 blocos categóricos envolvendo as dificuldades relatadas pelos profissionais, sendo eles: “infraestrutura e condições gerais de trabalho”; condições subjetivas do trabalho; “equipes profissionais”; e “assistencialismo”. Nessa direção,

em se tratando da primeira categoria, foi verificado diversas situações que perpassam as condições físicas e suas repercussões para os serviços ofertados, conforme analisaremos a seguir na fala da assistente social, a Sr.ª Maria de Fátima8:

“A unidade possui uma estrutura física que não está compatível com o público ao qual atende, além da sala de atendimento sem qualquer condição de um atendimento de qualidade. Soma-se a isso, o volume de cadastros que não permite o acompanhamento preconizado pelas normativas do serviço e da profissão. O salário está sem reajuste e mal dá pra custear as despesas básicas de sobrevivência numa cidade como Natal.” (MARIA DE FÁTIMA, 2019)

Esse relato expõe algumas situações de incompatibilidade com a estrutura, e a ausência de condições favoráveis ao atendimento, e o volume do trabalho posto de forma discrepante a valorização salarial. São dimensões, que também repercutem na chamada precarização do trabalho. Realidade que segundo Kalleberg (2009), se coloca como um desafio macro estabelecido nas últimas décadas em decorrência do crescimento da globalização, ou seja, a interdependência econômica e seus correlatos, tais como, maior comércio internacional e movimento acelerado da produção e trabalho. Para o autor, esse cenário é forjado pela “expansão do neoliberalismo (uma ideologia que implica desregulação, privatização e remoção de proteções sociais)” (KALLEBERG, 2009, p. 22).

Para Giongo, Machado e Mendes (2016), diante da nova configuração global, também as instituições que deveriam oferecer suporte social para a população estão cada vez mais precárias, “afinal inseridas no mesmo paradigma econômico, de igual forma estão submetidas a orçamentos restritos, metas e ideais voltados para o mercado (GIONGO; MACHADO; MENDES, 2016, p. 235).

Importa salientar que esses desafios se colocam como grandes entraves para o desenvolvimento da autonomia profissional, mesmo que de forma relativa dentro dos espaços pela ausência de condições técnicas para a manutenção do sigilo profissional, além dos “contratos de trabalho instáveis, insegurança no emprego, baixas remunerações e outros constrangimentos do trabalho assalariado” (DA HORA, 2015, p. 158). Também conflui para essa direção, o trecho a seguir sobre a falta de recursos objetivos para a viabilidade técnica do trabalho:

“Há falhas de infraestrutura, ausência de recursos materiais (material de limpeza, expediente) e humanos. A quantidade de profissionais na instituição não consegue

atender a demanda (que só cresce a cada dia). Somado a isso, estamos com o salário sem reajuste, não temos um plano de cargos e carreiras” (JOÃO DA CRUZ, 2019)

Ressalta-se que as condições físicas/técnicas, dificuldades na consolidação do sigilo profissional, as formas de perseguição no ambiente de trabalho tais como: assédio moral, “transferências” para locais ainda mais precários (em caso de profissionais efetivos) ou até mesmo exonerações de cargos, assolam profundamente a categoria dos assistentes sociais, uma vez que como elucida Manfroi e Santos (2015),

[...] majoritariamente contratados pelo Estado, deve-se compreender a precarização em um sentido mais amplo, tanto com relação às condições de acesso e inserção no mercado de trabalho protegido, quanto às condições de trabalho no espaço institucional propriamente dito. Assim, no caso do Serviço Social, uma mediação para que a precarização do trabalho seja entendida é a política social, na sua relação com o fundo público, pois o trabalho do assistente social está atravessado pelas determinações desta (MANFROI; SANTOS, 2015).

Nessa mesma linha, há um depoimento que sinaliza para a ausência de condições físicas adequadas para o desenvolvimento do trabalho profissional e que denuncia a falta de estrutura física para a garantia favorável da oferta do serviço fornecido, que irá incidir nas condições éticas adequadas para o transcorrer dos atendimentos. Além disso, nessa fala é possível identificar sobre as relações internas com a gestão desse campo de trabalho:

“Ausência de sala para planejamento de atividades e reuniões da categoria, bem como a ausência de um espaço de escuta qualificado para atendimentos que garantam sigilo. A gestão do serviço é centralizadora e pouco permeável a novas propostas de modelos de atendimento mais democráticos” (MARIA DAS ROSAS, 2019).

A respeito dessas perspectivas, Manfroi e Santos (2015), em diálogo com o CFESS (2006), nos esclarece que a Resolução 493/2006, a qual dispõe sobre as condições éticas e técnicas do exercício profissional do assistente social, define, em seu art. 1º, que para o desenvolvimento da ética “é condição essencial, portanto, obrigatória, para a realização e execução de qualquer atendimento ao usuário do Serviço Social a existência do espaço físico, nas condições que esta Resolução estabelecer” (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2006).

Reforçam esse entendimento, as disposições postas na Resolução CFESS nº 273/1993, que institui o Código de Ética Profissional do assistente social, em seu Capítulo V – destinado à matéria, conforme os seguintes dispositivos:

Art. 15 Constitui direito do/a assistente social manter o sigilo profissional. Art. 16 O sigilo protegerá o/a usuário/a em tudo aquilo de que o/a assistente social tome conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional [...] (RESOLUÇÃO 273/1993 - CFESS-CRESS, grifos nossos).

Contudo, apesar do que prevê os marcos legais que sustentam juridicamente o trabalho profissional dos assistentes sociais, é notório nos relatos coletados por esses profissionais aqui no estado do RN, que persiste a ausência de infraestrutura adequada, capaz de satisfazer as condições éticas favoráveis para o estabelecimento dos atendimentos aos usuários. É importante assinalar que os rebatimentos desse processo, envolvendo a ausência de condições éticas e técnicas de trabalho, passa a ser cada vez mais central na condução de trabalho de orientação e fiscalização dos conselhos profissionais do Serviço Social.

Santos (2010), nos põe que historicamente, há um redirecionamento da concepção de fiscalização assumida na Política Nacional de Fiscalização do conjunto CFESS-CRESS, que vai além da perspectiva corporativa da organização política “quando investe na defesa das políticas públicas e na preocupação com a qualidade dos serviços prestados à população, o que, por sua vez, impacta as condições e relações de trabalho em que se inserem os assistentes sociais” (SANTOS et al, 2010, p. 157).

[...] Trata-se de uma perspectiva de investimento e reforço nos espaços propositivos e reivindicatórios delineados na pauta de defesa da cidadania. [...] São necessidades profissionais, assim, que dizem respeito ao acesso às condições de trabalho condignas e à garantia de qualidade dos serviços prestados à população. É sabido ainda que a ação profissional do assistente social possui seu lócus prioritário, posto pela divisão sociotécnica do trabalho, no planejamento e na execução de políticas sociais [...] (CFESS, 1996, p.178- 179 apud SANTOS et al, 2010, p. 157, grifos nossos).

Diante disso, tem-se que mediante determinantes sociais, políticos e econômicos, são postos alguns desafios na materialização, inclusive da ética nos espaços de atendimentos os quais inserem-se os assistentes sociais nos mais diversos espaços de atuação. Tanto em relação às possibilidades de planejar e acompanhar os recursos orçamentários nos benefícios sociais,

como na realização de atendimentos coletivos/individuais amparados por uma estrutura que viabilize o sigilo profissional. Além das precárias condições de trabalho, que são resultado dos constantes limites objetivos que assolam a profissão.

Recentemente, no ano de 2019, houve um reforço desse entendimento, com a revisão dos instrumentos de fiscalização do conjunto CFESS-CRESS, ao qual afirma uma concepção diferenciada de fiscalização adotada no Serviço Social - como um reflexo na intervenção profissional no campo das políticas públicas e do controle social, pois:

Percebe esses espaços como lócus privilegiado para a disputa de projetos societários e a democratização do acesso aos direitos pelas demandas provenientes do trabalho. Essa preocupação torna-se salutar quando considerada a conjuntura de reestruturação do mundo do trabalho a partir de parâmetros neoliberais [...] (CFESS-CRESS, 1996, p. 179 apud SANTOS et al, 2010, p. 157).

Soma-se aos fortes indicativos de desafios profissionais que desmembraram também do processo sócio-político local, a dimensão que envolve a estruturação das jornadas de trabalho. Particularmente, para o Serviço Social, tem-se como nos lembra Delgado (2013) a “conquista” obtida para toda a categoria profissional dos assistentes sociais com a aprovação da Lei n. 12.317, de 26 de agosto de 2010, responsável por alterar o artigo 5° da Lei de Regulamentação da Profissão (Lei n. 8.662/1993), a fim de instituir a duração do trabalho do assistente social em 30 horas semanais.

A motivação para a elaboração e aprovação da citada Lei está pautada no desgaste físico e mental a que é submetido o profissional de Serviço Social no trato com as múltiplas expressões da questão social, resultantes do modo de produção capitalista. Assim, pretendeu-se reduzir o tempo de trabalho que o assistente social fica exposto a situações de desgaste e estresse, possibilitando-lhe melhores condições de trabalho com a ampliação de seu tempo livre. Ademais, ao reduzir a jornada de trabalho para 30 horas semanais, reduz-se também o tempo de sobretrabalho a que os assistentes sociais (e os demais trabalhadores assalariados e contratados precariamente) estão submetidos numa sociedade produtora de mercadorias. (DELGADO, 2013, p. 138)

A respeito desses embates, há de se ponderar que existe de fato, a possibilidade de alteração no que prevê a legislação citada anteriormente, no tocante a carga horária de trabalho, com a chamada autonomia dos estados e municípios para com os vínculos empregatícios. Essa realidade, aflige de forma explícita o estado do Rio Grande do Norte conforme verificaremos no depoimento a seguir:

“Os empregadores utilizam brechas jurídicas para não cumprir a legislação das 30h. Ademais, se aproveitam das fragilidades da categoria, no que tange a autonomia profissional, para definir atribuições não compatíveis com as competências profissionais. Além disso, a ausência de aplicação de multas pelo não cumprimento da lei, conforme está disposto na legislação profissional, faz com que as instituições não deem credibilidade as recomendações do conselho, e acham que podem simplesmente ignorar” (MARIA APARECIDA, 2019).

Evidenciamos, portanto, a importância das entidades representativas da categoria estarem em sintonia com essas demandas reais, pelas análises de Kalleberg (2009), ao expor os efeitos do processo de implementação dos marcos neoliberais, para o mundo do trabalho, com significativas mudanças provocadas por esse cenário, dentre eles, a expansão do trabalho precário que, sendo um fenômeno mundial, produziu “insegurança econômica e volatilidade econômica para indivíduos e lares, contribuiu para a crescente desigualdade econômica e reforçou os sistemas distributivos altamente desiguais e injustos tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil” (KALLEBERG, 2009, p. 24).

Para além disso, há uma outra modalidade de consequências na vida humana dos trabalhadores. Diz respeito às chamadas “condições subjetivas do trabalho”, uma categoria também estipulada para esse estudo, em decorrência do aparecimento de falas que retratavam situações diversas envolvendo os efeitos emocionais/psicológicos para os profissionais assistentes sociais, inseridos em instituições potiguares.

Não descolada, mas alinhada aos processos de insegurança pelos contratos de trabalho, desvalorização salarial, altos índices de produtividade aos quais são requisitados a responderem, bem como as tensões diárias a que esses profissionais estão expostos, emergem

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