O Adulto e o Infantil em
'Êta, Seu Bonequeiro!’
Prof. Gamba Jr.
Imaginário,
imaginação e
fantasia
Gêneros
adulto e infantil
Simpósio LARS
Encenação com utilização de aparelhos de acrobacia aérea e técnicas de Clown. Projeção multimídia com animação digital e live action que dá o desfecho da trama.
Mesma história contada em duas versões diferentes: uma para adultos e outra para crianças;
Sinopse :
em 1808, com a chegada do rei Dom João VI ao Brasil, chegam também artistas franceses, alemães e o Rei cria teatros e óperas. O Teatro de bonecos, que era antes a diversão mais acessível no Brasil colônia, perde sua força para os atores de verdade! Assim, um bonequeiro fica muito estressado com esses novos tempos e acaba se atrapalhando em seu ofício.O espetáculo e passa dentro de uma caixa onde o bonequeiro joga fora suas criações que não deram certo:
Prêmio Myriam Muniz
(FUNARTE) Realização da Cia. Nós Nos Nós - tragédias e comédias aéreas,
Parceria com LaDeH (Laboratório de Design de
histórias da PUC-Rio) e NADA(Núcleo de Animação do Departamento de Artes da PUC-Rio).
Dimensão ontológica da impossibilidade
de uma realidade objetiva em função da
inexorabilidade da representação
(fisiologia e linguagem)
.
“A experiência do exterior tem sempre como
mediadores determinados órgãos dos sentidos e os carreiros neuronais.”
Dimensão cultural da organização de
gêneros que, apesar dessa questão
ontológica, se organiza em torno dessa
oposição
.
“No entanto, a nossa civilização está profundamente baseada nessa ilusão.”
O real e o imaginário
Uma questão de gênero
Gegory Bateson
“E vocês? Pretendem fugir para onde?”
Contradição pós-moderna:
limites filosóficos dos gêneros ou de quaisquer categorias taxonômicas e ao mesmo tempo a impossibilidade da cultura de se abster desses gêneros. Sem a perspectiva ingênua de
nos absolver dos gêneros e sem reafirmar uma posição
reacionária da rigidez dos mesmos, a ludicidade e a reflexão crítica são posturas mais contemporâneas de enfrentamento da questão. Trágico e o cômico, o popular e o erudito, o presencial e o
virtual, teatro e circo e o Infantil e o adulto.
“Esse bonequeiro nunca foi
muito criativo na gente,
porque não fazer um
guerrilheiro em uma caixinha
de música, uma bailarina
maluca, porquinhos de
sombra?
O real e o imaginário
Na construção dos gêneros adulto e infantil
Philippe Ariès
História social da Infância como uma construção cultural de gênero.
Mikhail Bakhtin
Desvalorização do gênero imaginativo na transição da Idade Média para o renascimento.
Nelly Novaes Celho
Associação do gênero fantástico ou imaginativo com a infância.
“Nos dias de hoje, ninguém
quer saber mais de bonecos,
querem bailarinas de verdade,
atores de verdade.”
Infância
Gênero mais consolidado com a ascensão da
burguesia e
institucionalização da escola e associação da infância com
a função didática.
Literatura
Adaptação das fábulas de tradição oral para o contexto escolar – função educadora da moral narrativa. Associação do
universo fantástico com a infância.
Século XVIII
Teatro
Adequação de encenações pelos jesuítas. Textos
evangelizadores voltados para a criança.
Século XV
Século XX
Cultura audiovisual
Gênero ‘família’ que concilia adulto e criança diante do mesmo conteúdo,
resgata do imaginativo para o contexto adulto e de outras funções (para além do didático) para o infantil.
Infância
Rediscussão do conceito de infância, esfumaçamento das fronteiras construídas a partir da institucionalização da
escola – novos paradigmas e, portanto, inserção no contexto pós-moderno.
Teatro
Definição rígida de horários,sessões e conteúdos. Adulto tratado como responsável mas não como público no teatro infantil. Impeditivo de faixa etária para a maioria dos
espetáculos adultos. Inexistências de espetáculos convergentes. Severa restrições de apoios, patrocínios e prêmios que fazem distinção rígida entre o gênero adulto e infantil.
Cultura audiovisual
Definição de faixas e horários não é impeditivo de acesso livre a programação televisiva. O mercado cinematográfico propõe filmes de aventura e animação onde apenas a dublagem e a legenda diferenciam uma indicação de público, pois salas, horários, sessões e o próprio conteúdo são indiscriminados. A web aumenta a autonomia de consulta e a subversão de uma
classificação etária.
“Se lá fora da caixa o dia e a noite se alternam para ensinar o
homem a contar os dias, aqui não, a única coisa eu temos é o abrir
e fechar dessa tampa, que não obedece a nenhuma freqüência
lógica – senão o irregular humor do Seu bonequeiro.”
Experiência pregressa de montagem teatral de adulto e infantil.
Adulto
No adulto, INCERTOS, a utilização de acrobacia aérea aproximava o espetáculo do circo e do entretenimento. Assim, a liberação de faixa etária foi possível apesar do hermetismo do texto. Crianças extremamente receptivas ao espetáculo.Infantil
No infantil, ESCOLA DE ANJOS, Um elogio recorrente de crítica e público era o prazer de assistir um espetáculo infantil que tinha ‘qualidade’ e agradava também aos pais. Situação inédita de adultos que, depois de trazerem crianças, voltavam com amigos e sem crianças para assistir.“É Teatro infantil é
difícil, meu senhor, vem
na sessão das cinco para
você ver.”
Cícero e Heitor
“E os adultos, ficam aí
sentados sem dar uma
risadinha, isso quando não
cochilam que nem o senhor
ali da terceira fila.”
Duplo questionamento
Que especificidades são desrespeitadas na cultura audiovisual e que categorias são obsoletas na prática teatral.
Metodologia
Discutir os gêneros adultos infantis partir dessas
contradições:
- Tradição de gêneros mais conservadores no teatro e um contexto de novas experiências de classificação em outros suportes.
- Rechaço e resgate da narrativa imaginativa para o universo adulto em diferentes períodos históricos.
- Questionamento de novas funções e desafios de complexidade para o público infantil e ao mesmo tempo estudos de regulamentação do seu consumo.
Montagem simultânea de duas versões para uma mesma história: 1 adulta e 1 infantil (adaptando apenas alguns elementos do texto, mas mantendo a mesma trama, personagens, direção de arte e recursos multimídia).
A estética do Clown e os recursos da Commedia dell’arte como um resgate de um estilo (no teatro) anterior às consolidações dos gêneros.
Narrativa imaginativa com personagens fantásticos.
Uso de metalinguagem, trazendo de forma explícita questões sobre ambos os gêneros.
“Vocês acham que essa caixa é que o problema de vocês?
Mas o que vocês passariam a ser fora dessa caixa, ou
melhor, o que vocês deixariam de ser fora dessa caixa?’
Definição do projeto, captação de recursos, construção dos roteiros, direção de arte, produção multimídia, pesquisa de linguagem acrobática, interpretação dos atores, assessoria de imprensa, material de divulgação e alocação de espaço.
Discussão encaminhada em
todas as etapas do processo
“
Por isso, viva la revolución!”
Ruptura da 4ª parede
Número de platéia diferenciado.
Blackout e narração em off
Redução do tempo da locução inicial em
blackout no infantil.
Programação Visual
Filipetas diferenciadas, mas logomarca e demais peças gráficas mantida.
Direção de arte
Figurinos e cenários remetem ao universo das ilustrações infantis mas são envelhecidos e deteriorados para atender a trama e aproximar de uma estética ‘adulta’.
Canções
Mantidas as mesmas músicas e suas mescla de vocabulário complexo e simbolismo
acessível. Apenas traduzindo a de Piaf e de Mercedes Sosa para o português no infantil e mantendo em francês e espanhol no adulto.
Ineditismo para o elenco e toda a equipe:
experimentação dos dois contextos culturais com uma mesma narrativa.
Primeira experiência como norteadora da
percepção do gênero. Público questiona segunda versão independente de qual assistiu primeiro. Público que assistiu ambas tem dificuldade de listar as diferenças objetivas, mas as sentiu de alguma forma.
Defasagem entre possibilidades de
experimentação e a atual realidade do teatro (mercado, crítica e técnica).
Agregação de valor ao infantil (recursos técnicos, sofisticação da montagem etc.).