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Anais V CIPSI - Congresso Internacional de Psicologia Psicologia: de onde viemos, para onde vamos? Universidade Estadual de Maringá ISSN X

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Academic year: 2021

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OFICINAS DE MÚSICA NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: A QUE(M) SERVE? Tânya Marques Cardoso Elizabeth Maria Freire de Araújo Lima Esta pesquisa, inserida em programa de pós-graduação, nível mestrado, se propõe a pensar a música como uma ferramenta que, no campo da atenção psicossocial, possui funções interventivas diversas e age de forma particular em meio aos diferentes modos de subjetivação, principalmente em relação aos indivíduos em sofrimento psíquico e que usufruem de serviços de saúde mental e de saúde coletiva.

A música ganha um espaço-tempo privilegiado como ferramenta de intervenção, com um tipo de "dispositivo" em saúde mental: a oficina. As oficinas, por sua vez, possuem formatos distintos entre si, inclusive nos objetivos e métodos que as sustentam, o que faz variar diversos elementos e funções que essas práticas adquirem.

Essas ações e objetivos do uso da música podem ser compreendidos a partir do contexto "biopolítico", tal como foi descrito pelo filósofo francês Michel Foucault. Foucault (1997) aponta para uma tensão entre criações singulares de formas de se estar no mundo, desviantes dos modelos de normalidade, e, os modos já pré-estabelecidos, normatizados, mais harmônicos aos regimes de poder que preferencialmente homogeneíza as vidas e suas experiências com a realidade ou além dela. Nesse tensionamento, produz-se exclusão, que por sua vez, é o lugar mais fundo da sujeição (Foucault, 1997). E é para dar atenção a esses “loucos” que supostamente precisariam de tutela, que antes permaneciam isolados em longas internações, que os serviços de atenção psicossocial se voltam (Brasil, 2002). No jogo de forças entre o sofrimento psíquico/psicossocial e os espaços oferecidos para “tratamento” do sofrimento e para a produção de novos modos de subjetivação e de resistência, a música entra como “recurso artístico” de produção de enunciados, expressividades e formas de manutenção da existência.

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Desta forma, essas oficinas podem tanto ser conduzidas de forma a desencadear uma prática musical voltada para o controle e para a manutenção das formas hegemônicas de produção de subjetividade, produzindo assujeitamento, quanto podem transformar-se em ferramenta de subjetivação e cuidado de si, na produção de modos de vida singulares em exercícios de "resistência". Neste recorte, sob olhar biopolítico contemporâneo, a música pode aliar-se tanto ao biopoder quanto à biopotência, o que envolveria o profissional que propõe a oferta de oficina musical, a instituição na qual esta oferta se dá e o sujeito que pode encontrar na música uma potência de produção de sentidos, uma forma de captura ou de resistência ao poder.

Utilizamos para esse estudo o método de pesquisa histórico-crítico, inspirado na genealogia de Nietzsche e Foucault, para investigar que saberes e jogos de forças estiveram envolvidos na produção de uma ideia (Foucault, 2000) - a da música associada à saúde mental. Para Foucault (2000), as pesquisas histórico-críticas que se referem a um material, a uma época, a um corpo de práticas e discursos determinados, são fundamentais para a consistência de um determinado campo de saber e orientadas para a análise e a reflexão sobre os limites deste campo numa dada configuração histórica, possibilitando também a apreensão de pontos de ruptura e transformação. Nessas pesquisas há uma oposição ao modelo metafísico de estudo das origens – a proposta genealógica é a de estudar os saberes soterrados e as lacunas e brechas que não foram historicizadas. Segundo o autor francês, a genealogia

é meticulosa e pacientemente documentária. .... A genealogia exige, portanto, a minúcia do saber, um grande número de materiais acumulados, exige paciência. Ela deve construir seus ‘monumentos ciclópicos’ não a golpe de ‘grandes erros benfazejos’, mas de pequenas verdades inaparentes estabelecidas por um método severo (Foucault, 1992, p.19).

Este trabalho se aproxima da proposta genealógica no que tange à tentativa de dar enunciabilidade aos discursos (Foucault, 1992) que aparecem em maior ou menor grau, para fundamentar e definir as funções da música formatadas em determinadas modos de intervenção na saúde mental e coletiva. Acreditamos que os discursos ou práticas podem ser investigados a

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partir de material que divulgue e discuta as atividades musicais realizadas em serviços de saúde mental. O material em que está sendo feito o levantamento abrange livros, arquivos e documentos antigos, além de artigos em periódicos acessados via bibliotecas convencionais e virtuais e outros textos. Os trabalhos que aqui expomos foram escolhidos sob o critério de terem sido utilizados para fundamentar práticas de música em saúde mental, localizadas nas produções teóricas a respeito dessas práticas que se encontram publicadas, a partir dos unitermos “saúde mental” e “música”, que deveriam aparecer simultaneamente. Nas bases de dados Acervus, Unicamp, Bireme, Capes, Cátedra/Athena, Dédalus, Fiocruz, IBCT, Jstor, ProBe, Project Muse, PUC, SciELO (Brasil) e UFSCar, encontramos referências como Ribeiro, 2007 (1); Campos e Kantorskil, 2008 (2); Säo Mateus, 1998 (3); Miranda e Godeli, 2003 (4); Meneghel et al. 2000 (5) e Tessitore, 2003 (6). Em tais produções teóricas, podemos vislumbrar saberes e fazeres que caracterizam a função da música nas práticas em saúde, das quais podemos citar um discurso, à guisa de explanação: o discurso do efeito. Nesta linha discursiva, os trabalhos citados defendem que a música é uma arte que provoca efeitos diversos, como o de recurso para efeito terapêutico - (1) (2) (3) (4) (5) (6); como efeito desinstitucionalizante para a instituição - (1) (2) (3) (6); o expressivo-emocional - (1); o físico-corporal - (2) (4) (6); o de promoção de vínculos e de diálogo - (3).

Os resultados parciais destes estudos nos levaram a compreensão de diversas dimensões do uso de Oficinas de Música no contexto psicossocial, em especial, no campo da Psicologia. Destacamos, neste campo, a clínica psi nos seus usos da música na dimensão da promoção, que aparece nas atividades que classificamos parcialmente como aquelas que contribuem para o desenvolvimento da musicalidade humana, como as discussões sobre o estímulo da fala, escuta e produção de convivência social; e na dimensão do tratamento, a qual caracterizamos pelos aspectos físico-curativos, apontados nos trabalhos citados como a relação da música com o corpo e as emoções associado à “melhora” no prognóstico dos casos.

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a) a nosso ver, há escassez de trabalhos científicos que discorram sobre a utilização da música enquanto estratégia de atendimento na Saúde Mental, ou mesmo de relatos de caso de oficinas direcionadas para o acolhimento e desenvolvimento de atividades destinadas aos portadores de sofrimento psíquico, sobretudo se considerarmos que a música tem sido amplamente utilizada em serviços de atenção psicossocial.

b) Apesar das leis instituídas no Brasil, pelas portarias ministeriais 189/91 e 224/92, em relação às várias modalidades de serviços de atenção psicossocial, dentre elas as oficinas terapêuticas, o que se percebe é a pouca produção acadêmica acerca da música na Saúde Mental, apesar da existência de oficinas que se utilizam da música como facilitador no processo de atenção psicossocial em termos amplos. Esta baixa problematização teórica por parte dos profissionais que trabalham na área, seria supostamente confirmada por artigos científicos, dissertações e teses, embora estes não sejam os únicos recursos para se ter contato com o tema, uma vez que encontramos publicações de resumos, resumos expandidos e trabalhos completos em anais de eventos diversos, artigos em revistas não-especializadas e artigos em sites de temática variada, porém, não admitiam os parâmetros escolhidos como descritores da presente pesquisa.

c) A música é utilizada para diversos fins na Saúde Mental, utilizando-se do discurso do efeito da música sobre a subjetividade, trazendo aportes que acabam, muitas vezes, por se reduzir a efeitos supostamente “positivos” da música, como o terapêutico e o curativo. Entretanto, é preciso indagar essa associação já naturalizada entre música e saúde, pois é preciso apreciar a música criticamente, na sua possibilidade de produzir, também, mal estar, sofrimento.

d) Por fim, assinalamos o risco de se fazer um uso da música como instrumento de intervenção em saúde simplesmente, sem considerar produção de sentido para além do campo da saúde: o sentido estético, descompromissado com algo que apreensível ou que possa ser dito ou mensurado; o que acaba por “utilitarizar” a música, como se ela fosse um substituto de um

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equipamento ou de medicamento produtor de efeitos visíveis, sem explorar as infinitas potencialidades da sua relação com o sujeito.

Referências

Brasil. Ministério da Saúde. (2002). Portaria nº 336 de 19 de fevereiro de 2002 – que estabelece as modalidades de serviços nos Centros de Atenção Psicossocial definidas por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional. Brasília. Recuperado em março de 2011 de http://www.saude.gov.br/portarias/2002.

Campos, N. L.; Kantorskil, L. P. F. (2008). Música: abrindo novas fronteiras na prática assistencial de enfermagem em saúde mental. Revista Enfermagem UERJ; 16(1): 88-94, jan.-mar.

Foucault, M. (1992). O que é um autor? Lisboa: Passagens.

Foucault, M. (1997). A História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva. Foucault, M. O que são as luzes. (2000). Foucault, M. (2000). Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. (E. Monteiro, trad.) Rio de Janeiro: Forense Universitária. Meneghel, S. et al. (2000). Cotidiano violento: oficinas de promoção em saúde mental em Porto Alegre. Ciência e saúde coletiva, vol.5, n.1, pp. 193-203.

Miranda, M. L. J., Godeli, M. R. C. S. (2003). Música, atividade física e bem-estar psicológico em idosos/ Music, physical activity and psychological well-being for the elderly, Revista Brasileira ciência e movimento; 11(4): 87-94.

Ribeiro, S.F.R. (2007). Grupo de expressão: uma prática em saúde mental. Revista SPAGESP; 8(1)jun.

São Mateus, L. A. (1998). A música facilitando a relação enfermeiro-cliente em sofrimento psíquico. Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Universidade de São Paulo – Escola de Enfermagem, Ribeirão Preto.

Tessitore, E. C. (2006). Os talentos de corpo: uma experiência corporal com pacientes com transtorno mental. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Universidade de São Paulo – Escola de Enfermagem, São Paulo.

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