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PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL NO IDOSO: TELEPSIQUIATRIA E TELEPSICOLOGIA

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Academic year: 2021

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PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL NO IDOSO:

TELEPSIQUIATRIA E TELEPSICOLOGIA

ENVELHECIMENTO E SAÚDE MENTAL: PRÁTICAS E DESAFIOS

Inês Marques, Prática Privada

Leonardo Silvério, Prática Privada, Anajovem Maria Luís Balreira, Prática Privada

José Temótio, Hospital Distrital da Figueira da Foz, E.P.E.

Resumo

A utilização da telepsiquiatria e da telepsicologia tem aumentado na última década associada ao rápido desenvolvimento das tecnologias de comunicação. São vários os contextos e as populações-alvo desta intervenção. Neste trabalho abordaremos a telepsiquiatria e a telepsicologia na intervenção com idosos, dado o índice de envelhecimento em Portugal, a prevalência de doença mental nesta faixa etária e a necessidade premente de garantir um envelhecimento ativo, promovendo uma maior qualidade de vida. Esta realidade tecnológica tem permitido melhorar o acesso dos idosos aos cuidados em saúde mental e tem rentabilizado o trabalho dos técnicos perante exigências cada vez maiores na prestação de serviços especializados no contexto geriátrico.

Palavras-chave: envelhecimento, saúde mental, telepsiquiatria, telepsicologia

Os idosos em Portugal – cenário atual

A evidência do processo de envelhecimento em Portugal e o consequente aumento do número de idosos é irrefutável e tendencialmente crescente. A constatação de que os idosos são os principais utilizadores dos serviços de saúde é inegável.

Portugal é hoje o quarto país do mundo com mais idosos (FFMS, 2017).

O índice de envelhecimento – número de idosos por cada 100 jovens – em Portugal passou de 27,0% em 1960 para 153,2% em 2017. Paralelamente, o índice de dependência dos idosos também aumentou de 12,6% em 1960 para 32,9% em 2017 (PORDATA, 2018). Numa perspetiva futura, as estimativas realizadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) apontam para um crescente envelhecimento da população.

Prevê-se que o índice de envelhecimento poderá mais do que duplicar entre 2015 e 2080, passando de 147 para 317 idosos por cada 100 jovens (INE, 2017).

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Segundo dados do EUROSTAT (2011), cerca de 20% das pessoas com 65 ou mais anos, em Portugal, viviam sozinhas. Tendo em conta o número de idosos à data (Censos 2011) – 2.010.064 – estes 20% correspondem a aproximadamente 402 mil idosos. Nota para o facto de que, com o envelhecimento progressivo da população, este número poder ser hoje mais elevado. Perante a impossibilidade de muitas famílias atenderem às necessidades de cuidado aos idosos, a procura de cuidados formais através das várias respostas sociais existentes (Centro de Dia, Estruturas Residenciais Para Idosos, Centro de Convívio, Serviço de Apoio Domiciliário) tornou-se uma realidade marcante no contexto do envelhecimento em Portugal. Assim, tendo em conta a realidade crescente de procura de cuidados formais o foco reside no papel e qualidade exercida por parte das instituições e profissionais, na prestação de cuidados a idosos (Fragoso, 2008).

Envelhecimento, saúde e qualidade de vida

O conceito de envelhecimento ativo proposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2002, é definido como “processo de optimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para a melhoria da qualidade de vida das pessoas à medida que envelhecem”. Valorizar o envelhecimento ativo constitui uma preocupação dos indivíduos, das intuições e das sociedades contemporâneas.

O envelhecimento deve ser um processo saudável, que objetiva a conservação da saúde física e mental, o evitamento das doenças e a manutenção da atividade e independência, melhorando a qualidade de vida dos idosos. Com o aumento da idade, tende a aumentar também o grau de dependência, embora existam percursos de envelhecimento muito diferenciados. Estudos internacionais apontam para que cerca de 30% das pessoas com idade superior a 65 anos sofra de algum tipo de incapacidade.

Estima-se que cerca de um terço dos idosos precisam de ajuda para realizar as suas atividades de vida diária e calcula-se portanto que existam cerca de 600 mil idosos em todo o país, com algum nível de dependência (INE, PORDATA, 2017).

Uma intervenção continuada e adaptada a cada caso específico, em termos de apoio e cuidados, é por estas razões um fator decisivo na preservação das capacidades físicas, cognitivas e relacionais do cidadão idoso, o que sublinha a necessidade da qualidade dos serviços de apoio social e de saúde física e mental. Cabe assim às organizações prestadoras de cuidados ao idoso um papel preponderante, sendo

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necessário ter um conhecimento profundo da população a quem se presta os cuidados, bem como da população candidata a essa prestação.

Saúde Mental no Idoso

Segundo a OMS (2005), o conceito de saúde refere-se ao bem-estar físico, mental e social e não a mera ausência de doença e enfermidades. Esta definição apresenta, assim, um caráter multidimensional, isto é, a saúde relaciona-se com a capacidade funcional da pessoa em diversas dimensões - física, psicológica/mental e social.

No âmbito do envelhecimento ativo, as políticas e programas que promovem a saúde mental são tão importantes quanto aquelas que melhoram as condições físicas de saúde (OMS, 2005). Dando como exemplo o distrito de Coimbra, e de acordo com dados do Plano de Desempenho 2015 do ACeS Baixo Mondego, a proporção de utentes inscritos (%), catalogados por diagnóstico ativo, por trimestre em 2013, demonstra que as morbilidades mais apresentadas pelos utentes são as perturbações mentais – abuso de álcool e drogas, demência e perturbações depressivas. O mesmo se verifica na população idosa (ACeS Baixo Mondego, 2014).

Os principais problemas da população idosa, identificados anualmente pelas Redes Sociais (pertencentes à Segurança Social Portuguesa), são: a insuficiência de equipamentos sociais de apoio; a insuficiência/inexistência de respostas para a patologia mental no idoso (quadros demenciais); o défice de serviços de Apoio Domiciliário – integrado, com funcionamento de 24 horas e fins-de-semana, assim como formação adequada dos recursos humanos para a função; o elevado número de idosos com baixos valores de reforma/subsídios, dificultando a sua gestão da sua vida diária; e o aumento do isolamento social da população idosa. Associado a estes pontos, surge o aumento de casos de alcoolismo; maus-tratos físicos e psíquicos ao idoso; o aumento da longevidade e consequente o aumento da dependência do idoso.

Resumindo, fatores como: o aumento da prevalência de perturbações psiquiátricas, designadamente as demências, na população idosa, a evidente falta de técnicos especializados em saúde mental (psiquiatra, psicólogo) nas instituições e de formação de qualidade disponibilizada aos recursos humanos, levam a que seja primordial requalificar as respostas sociais já existentes, com recurso à inovação e às novas tecnologias, para assim chegar ao maior número possível de idosos institucionalizados.Um apoio especializado, numa área tão negligenciada como a saúde

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mental na 3ª idade, é o próximo passo para assegurar a verdadeira qualidade de vida nesta fase tão especial e desafiante da nossa evolução e promover um processo de envelhecimento saudável e ativo.

Telepsiquiatria e telepsicologia- soluções tecnológicas

Face ao panorama atual do aumento da população idosa e da importância de um envelhecimento saudável e ativo, são necessárias novas soluções que respondam aos desafios desta fase da vida, de forma a garantir maior qualidade e dignidade.

É na busca incessante da qualidade de vida numa fase avançada da existência do ser humano, e no suprir das necessidades prementes, designadamente a lacuna relacionada com a prestação de cuidados especializados de saúde mental ao idoso, que a tecnologia poderá revelar-se uma solução inovadora, mais abrangente e prática para as instituições. Neste âmbito, a telepsiquiatria e a telepsicologia poderão ser soluções.

A telepsiquiatria e a telepsicologia surgem no contexto da telemedicina.

Segundo a OMS a telemedicina consiste na utilização de telecomunicações e tecnologia virtual para fornecer assistência médica de forma a melhorar os resultados na saúde.

Particularmente, a telepsiquiatria e a telepsicologia podem definir-se como a prestação de cuidados de saúde mental à distância através das tecnologias de comunicação. A tecnologia usada com mais frequência é a videoconferência em tempo real. Os serviços prestados englobam avaliações psiquiátricas/psicológicas, acompanhamento psicoterapêutico (psicoterapia individual, grupo, familiar), aconselhamento, supervisão, monitorização dos progressos, psicoeducação e gestão de medicação. Para além disso, a partilha de informação e discussão de casos entre técnicos de saúde mental é uma ferramenta que se tem vindo a mostrar essencial. Este formato de intervenção permite eliminar barreiras de distância e melhorar a equidade de acesso a serviços de saúde mental a contextos e populações que de outra forma não estariam disponíveis (Hilty et al., 2013; Gajaria, Conn, Madan, 2015; Barak, Hen, Boniel-Nissim, Shapira, 2008; Backhaus et al., 2012).

A literatura sobre o uso das tecnologias de comunicação no campo da saúde mental tem crescido nos últimos anos, existindo evidência positiva sobre a eficiência, viabilidade, resultados, custo e aceitação por parte dos doentes e técnicos. As evidências de que a telepsiquiatria e a telepsicologia são viáveis e eficazes surgem em várias grupos etários e contextos clínicos (Hilty et al., 2013; Gajaria, Conn, Madan, 2015;

Barak, Hen, Boniel-Nissim, Shapira, 2008; Backhaus et al., 2012).

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A utilização da telepsiquiatria e da telepsicologia tem sido estudada em contexto geriátrico revelando-se uma mais-valia, uma vez que se trata de uma população que, por um lado apresenta elevada prevalência de problemas do foro mental, por outro apresenta dificuldade no acesso a serviços especializados de saúde mental, não só por residirem em zonas geograficamente mais isoladas, mas também pela falta de técnicos especializados nas estruturas residenciais para idosos. Para além disso, as dificuldades de mobilidade de alguns idosos poderão ser ultrapassadas pela telemedicina (Ramos- Ríos, et al., 2012; Centry, Lapid & Rummans, 2019).

De forma sintética, a telepsiquiatria e a telepsicologia em contexto geriátrico permite: (1) avaliação do estado mental do idoso; (2) intervenções especializadas de Psiquiatria e Psicologia, adaptadas a cada idoso; (3) acompanhamento permanente do idoso – marcação/alteração de consultas, monitorização da evolução, atualização da terapêutica farmacológica; (4) trabalho em equipa: acompanhamento regular da equipa multidisciplinar que presta cuidados ao idoso e/ou aos familiares.

Conclusão

O envelhecimento populacional é um dos fenómenos de amplitude mundial que merece destaque no século XXI, uma vez que conduz a profundas modificações das estruturas sociais, económicas e culturais dos países, bem como alterações na organização da dinâmica pessoal, familiar e profissional dos idosos e respetivos cuidadores (Fragoso, 2008). Perante a evidência de um país envelhecido (INE, 2017), bem como o aumento progressivo de doenças crónicas e degenerativas que afetam a população idosa, tornou-se imperativo um olhar mais minucioso sobre a prestação de cuidados seniores.

Da II Assembleia Geral sobre o Envelhecimento, promovida pela ONU em 2002, resultou a exigência de mudanças das atitudes, políticas e práticas, para que se possam concretizar as possibilidades que oferece o envelhecimento no século XXI. A telepsiquiatria e a telepsicologia demonstram ser um desses caminhos inovadores – possibilitando o acesso a mais idosos ao apoio na saúde mental, especializando cada vez mais este apoio, e potenciando o seu envelhecimento.

BIBLIOGRAFIA

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Plano%20de%20desempenho/2015/Plano%20de%20Desempenho%202015%20ACeS

%20BM.pdf

BACKHAUS, A., AGHA, Z., MAGLIONE, M.L., REPP, A., ROSS, B., ZUEST, D., RICE-THORP, N.M., LOHR, J., THORP, SR. ‘Videoconferencing psychotherapy: a systematic review.’ Psychological Services. n.º9 (2012), pp.11-131.

BARAK, A., HEN, L., BONIEL-NISSIM, M., SHAPIRA, N. ‘A Comprehensive Review and a Meta-Analysis of the Effectiveness of Internet-Based Psychotherapeutic Interventions.’ Journal of Technology in Human Services. n.º26 (2008), pp.109-160.

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FRAGOSO, V. ‘Humanização dos cuidados a prestar ao idoso institucionalizado’. IGT na Rede, 5 (8) (2008).

Instituto Nacional de Estatística, INE. (2017). Projeções de População Residente 2015-2080. Portugal [online]. Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest _boui=277695619&DESTAQUESmodo=2

GAJARIA, A., CONN, D.K., MADAN, R. ‘Telepsychiatry: effectiveness and feasibility.’ Current Psychiatry Reports. n.º3 (2015), pp.59-67.

GENTRY, M.T., LAPID, M.I., RUMMANS, T.A. ‘Geriatric telepsychiatry:

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Referências

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