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Artigo - Aplicação do regime jurídico tributário à taxa judiciária e às custas processuais devidas ao Poder Judiciário do Estado de Pernambuco

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Artigo - Aplicação do regime jurídico tributário à taxa judiciária e às custas processuais devidas ao Poder Judiciário do Estado de Pernambuco

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Desembargador Jorge Américo Pereira de Lira

Coordenador do Comitê Gestor de Arrecadação do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco

(1) Natureza jurídica da taxa judiciária e das custas processuais:

A jurisprudência do STF firmou orientação no sentido de que as custas judiciais e os emolumentos concernentes aos serviços notariais e registrais possuem natureza

tributária, qualificando-se como taxas remuneratórias de serviços públicos, sujeitando-se, em consequência, quer no que concerne à sua instituição e majoração, quer no que se refere à sua exigibilidade, ao regime jurídico-constitucional pertinente a essa especial modalidade de tributo vinculado, notadamente aos princípios fundamentais que proclamam, entre outras, as garantias essenciais (a) da reserva de competência impositiva, (b) da legalidade, (c) da isonomia e (d) da anterioridade.

(ADI 1.378 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 30-11-1995, P, DJ de 30-5-1997) (2) Fato gerador da taxa judiciária e das custas processuais e regime de antecipação:

Fato gerador, nos termos do artigo 114 do CTN, é a situação definida em lei como necessária e suficiente ao surgimento da obrigação tributária.

No plano estadual, os fatos geradores da taxa judiciária e das custas processuais são definidos pelos artigos 2º e 10 da Lei Estadual nº 17.116/20:

Art. 2º A taxa judiciária tem por fato gerador a prestação efetiva de serviços públicos judiciais específicos e divisíveis, nos feitos cíveis e criminais.

Art. 10. As custas processuais têm por fato gerador o ressarcimento de atos processuais e cartorários, abrangendo os serviços de distribuidor, partidor, de hastas públicas, bem como as despesas com registros, intimações e publicações na imprensa oficial.

Ambos os tributos têm fatos geradores complexos, compostos por múltiplos elementos materiais (atos processuais e cartorários) que, somados, fazem surgir a obrigação tributária principal (taxa judiciária/custas processuais). Os fatos geradores da taxa

judiciária e das custas processuais, a rigor, somente se perfectibilizam com o trânsito em

julgado da decisão que encerra o procedimento judicial.

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Não obstante, o legislador estadual lança mão de ficções legais para eleger, ao longo dos procedimentos judiciais, os momentos em que considera realizado o fato gerador da taxa judiciária e das custas processuais (arts. 3º e 11 da Lei Estadual nº 17.116/20), antecipando o critério temporal da hipótese de incidência das referidas espécies tributárias para impor ao contribuinte o dever de adiantar o pagamento.

Tais ficções legais, instituídas para conferir maior praticabilidade à cobrança da taxa judiciária e das custas processuais, estão em harmonia com as disposições da legislação processual que impõem a antecipação das despesas processuais como regra, por

razões extrafiscais, a exemplo dos artigos 82 e 1.007 do CPC/15.

É importante ressaltar, contudo, que essas são ficções legais limitadas. Os pagamentos efetuados ao longo do processamento do feito são meras antecipações, comportando a modificação tanto do aspecto quantitativo – quando, por exemplo, houver alteração do valor da causa (art. 17 da Lei Estadual nº 17.116/20) - quanto do aspecto pessoal da regra de incidência – em virtude da distribuição dos ônus da sucumbência.

Somente com a integral realização do fato gerador (encerramento do procedimento), conhecidos o conteúdo e o sujeito passivo da obrigação tributária, considera-se

definitivamente constituído o respectivo crédito, dando ensejo à inscrição em dívida ativa e eventual cobrança judicial

(3) Lançamento tributário:

O artigo 142 do CTN define o lançamento tributário como “o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente,

determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível”.

A constituição do crédito tributário relativo à taxa judiciária e às custas processuais, contudo, dispensa a formalização de procedimento administrativo de lançamento, na medida em que todos os elementos da obrigação tributária e do crédito correspondente encontram-se perfeitamente identificados ao final do procedimento judicial – o qual assegura o exercício do contraditório e da ampla defesa aos contribuintes -, reclamando apenas a adoção de medidas voltadas à sua cobrança administrativa (art. 27 da Lei Estadual nº 17.116/20) ou judicial (Lei Federal nº 6.830/80).

(4) Competência tributária:

A Constituição Federal, em seus artigos 145 a 149-A, estabelece taxativamente a competência tributária de cada ente político.

O artigo 145, inciso II, da Constituição Federal outorga à União, Estados, Município e Distrito Federal competência tributária comum para a instituição de taxas:

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os

seguintes tributos:

(3)

(...)

II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;

A competência tributária comum outorgada pela Constituição Federal para instituição de taxas é distribuída entre os entes políticos pelo critério da atividade estatal, consoante regra geral estabelecida pelo artigo 80 do Código Tributário Nacional:

Art. 80. Para efeito de instituição e cobrança de taxas, consideram-se compreendidas no âmbito das atribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, aquelas que, segundo a Constituição Federal, as Constituições dos Estados, as Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios e a legislação com elas compatível, competem a cada uma dessas pessoas de direito público.

Nos termos do artigo 6º do CTN, “a atribuição constitucional de competência tributária compreende a competência legislativa plena, ressalvadas as limitações contidas na Constituição Federal, nas Constituições dos Estados e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios”.

Não obstante, a Constituição Federal, em seu artigo 24, inciso IV, atribui competência legislativa concorrente à União, Estados e Distrito Federal em matéria de custas processuais:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

(...)

IV - custas dos serviços forenses;

A competência legislativa da União, entretanto, está restrita à edição de normas gerais (art. 24, §1º, da CF).

Enquanto não exercida a competência legislativa da União para estabelecimento de normas gerais sobre custas processuais, os Estados preservam a competência legislativa plena na matéria (art. 24, §3º, da CF).

Em 09/09/2020 foi entregue ao Congresso Nacional projeto de lei complementar que estabelece normas gerais para a cobrança de custas dos serviços forenses na União, nos Estados e no Distrito Federal, elaborado pelo Conselho Nacional de Justiça com base nos estudos de um grupo de trabalho coordenado pelo ministro Villas Bôas Cueva.

(5) Competência tributária negativa (imunidade tributária):

A taxa judiciária e as custas processuais, em razão de seu enquadramento legal como

taxas de serviço, não são abrangidas pela imunidade recíproca prevista no artigo 150,

inciso VI, alínea “a”, da Constituição Federal.

(4)

A Constituição Federal exclui expressamente da competência tributária comum da União, dos Estados e do Distrito Federal a instituição de custas processuais nas ações de

habeas corpus e habeas data (art. 5º, LXXVII), bem como na ação popular, salvo, neste último caso, se comprovada má-fé do autor (art. 5º, LXXIII).

(6) Limitações ao poder de tributar:

Por ostentarem natureza jurídica de taxas remuneratórias de serviços públicos, a taxa judiciária e as custas processuais sujeitam-se às limitações ao poder de tributar dispostas nos artigos 150 a 152 da Constituição Federal.

(6.1) Legalidade tributária (art. 150, I, da CF):

O artigo 150, inciso I, da Constituição Federal veda aos entes políticos a exigência ou majoração de tributos sem lei que o estabeleça.

O respeito à legalidade tributária exige que a lei instituidora do tributo contenha os elementos necessários e suficientes à identificação de seus efeitos pelo contribuinte.

No plano infraconstitucional, o conteúdo da legalidade tributária é explicitado pelo artigo 97 do Código Tributário Nacional:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;

II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;

IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas;

VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades.

§ 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso.

§ 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.

Sujeita-se à legalidade tributária, ademais, a concessão de benefício fiscal, como tal

entendido “qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de

crédito presumido, anistia ou remissão”, nos termos do artigo 150, §6º, da Constituição

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Federal.

(6.2) Irretroatividade tributária (art. 150, III, “a”, da CF):

O artigo 150, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal proíbe a cobrança de tributo em relação a fato gerador ocorrido antes do início da vigência da lei que o instituiu ou majorou.

A irretroatividade tributária confere ao contribuinte garantia adicional àquela assegurada pela legalidade tributária. Não basta que a instituição ou majoração do tributo se dê por lei, é necessário que a regra tributária mais onerosa seja anterior à ocorrência do fato gerador para que a ele se aplique.

A irretroatividade tributária protege até mesmo o contribuinte de tributo com fato gerador complexo, tal como a taxa judiciária e as custas processuais, assegurando a

preservação dos efeitos tributários já operados na vigência da lei anterior – a exemplo dos pagamentos efetuados em regime de antecipação -, aplicando-se as novas

disposições legais apenas aos fatos pendentes de realização quando de sua entrada em vigor.

Se assim não fosse, o contribuinte estaria sujeito à retroatividade imprópria da lei tributária mais onerosa, situação incompatível com a garantia assegurada pelo artigo 150, inciso III, “a”, da Constituição Federal.

(6.3) Anterioridade tributária (art. 150, III, “b” e “c”, da CF):

A anterioridade tributária desdobra-se em anterioridade de exercício e anterioridade nonagesimal.

A primeira veda a cobrança de tributos “no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou”, ao passo que a segunda, introduzida pela Emenda Constitucional nº 42/03, proíbe a exigência de tributos “antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou”.

Via de regra, as referidas limitações ao poder de tributar operam em conjunto, uma a reforçar a outra, com vistas à concretização do princípio da segurança jurídica no âmbito do regime jurídico-tributário. As exceções à anterioridade são taxativas (arts. 150, §1º, 177, §4º, e 195, §6º, da CF).

Ambas as regras são aplicáveis às taxas remuneratórias de serviços públicos, razão pela qual o legislador estadual condicionou a produção de efeitos da Lei Estadual nº

17.116/20, publicada no último mês daquele exercício, ao decurso do prazo nonagesimal (art. 34), fato ocorrido apenas em 05/03/2021.

(6.4) Não confisco (art. 150, IV, da CF):

A Constituição Federal, em seu artigo 150, inciso IV, veda a utilização de tributo com

efeito de confisco. Trata-se de limitação ao poder de tributar vocacionada à proteção da

propriedade (art. 5º, XXII, da CF), da livre iniciativa (arts. 1º, IV, e 170 da CF) e do livre

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exercício profissional (art. 170, parágrafo único, da CF).

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal considera não haver ofensa à vedação ao confisco na utilização do valor da causa como base de cálculo das taxas judiciárias e das custas processuais, desde que a lei fixe limites mínimos e máximos que assegurem a razoável correlação com o custo do serviço prestado (ADI 1.926, rel. min. Roberto

Barroso, j. 20-4-2020, P, DJE de 2-6-2020; ADI 2.078, voto do rel. min. Gilmar Mendes, j.

17-3-2011, P, DJE de 13-4-2011).

No Estado de Pernambuco, os limites mínimos e máximos da taxa judiciária e das custas processuais estão previstos nos artigos 6º e 15 da Lei Estadual nº 17.116/20.

(6.5) Vedação de isenção heterônoma (art. 151, III, da CF):

É vedado à União, nos termos do artigo 151, inciso III, da Constituição Federal, instituir isenções de tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.

A vedação abrange todas as espécies tributárias instituídas pelos referidos entes políticos.

Não pode lei federal conceder isenção de taxa judiciária ou custas processuais

instituídas pelos Estados no exercício da competência tributária comum outorgada pelo artigo 145, inciso II, da Constituição Federal.

Por tal razão, reforçada pela vedação constitucional à instituição de isenção heterônoma (art. 151, III, da CF), não se deve interpretar disposições contidas na legislação

processual como regras isentivas.

Não são regras de isenção, por exemplo, as que disciplinam o benefício da gratuidade da justiça (arts. 98 e 99 do CPC), nem a que dispensa a Fazenda Pública, o Ministério Público e a Defensoria Pública do adiantamento das custas processuais (art. 91 do CPC), tampouco a dispensa do preparo recursal prevista no artigo 1.007, §1º, do CPC.

Os mesmos fundamentos conduzem à conclusão de que a regra do artigo 39 da Lei Federal nº 6.830/80 – Lei de Execuções Fiscais -, não se aplica às execuções fiscais processadas na Justiça Estadual.

Não por outra razão, o projeto de lei complementar que estabelece normas para a cobrança de custas dos serviços forenses na União, nos estados e no Distrito Federal, elaborado pelo Conselho Nacional de Justiça, limita-se a reproduzir, em seu artigo 11, as hipóteses de não incidência já previstas na Constituição Federal, reafirmando ser vedado à União instituir outros tipos de isenções em tributo de competência dos Estados.

(7) Isenção:

A isenção é tratada pelo artigo 175, inciso I, do Código Tributário Nacional como causa

de exclusão do crédito tributário, não impedindo, portanto, o surgimento da obrigação

tributária, mas dispensando o contribuinte isento da apuração e satisfação do crédito

correspondente.

(7)

A concessão de isenção exige a edição de lei específica do ente político ao qual é outorgada a competência tributária, que regule exclusivamente a matéria ou o correspondente tributo, conforme dispõe o artigo 150, §6º, da Constituição Federal.

As isenções da taxa judiciária e das custas processuais devidas ao Poder Judiciário do Estado de Pernambuco estão exaustivamente previstas no artigo 23 da Lei Estadual nº 17.116/20.

Por fim, cumpre ressaltar que a isenção de taxa judiciária e de custas processuais

concedida em caráter pessoal não beneficia os litisconsortes, tampouco a parte adversa, de modo que, uma vez vencidos, ficam obrigados ao pagamento dos referidos tributos.

Nesse sentido, vale lembrar a regra do artigo 23, parágrafo único, da Lei Estadual nº 17.116/20, segundo a qual “a isenção da taxa judiciária ou de custas processuais, prevista no inciso V e deferida às crianças e adolescentes, na qualidade de autoras ou rés, nas demandas ajuizadas perante a jurisdição de infância e juventude, não é extensível aos demais sujeitos processuais que eventualmente figurem no feito”.

Data de publicação 18/08/21

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