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SISTEMA AQUÍFERO: ESTREMOZ-CANO (A4)

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SISTEMA AQUÍFERO: ESTREMOZ-CANO (A4)

Figura A4.1 – Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero

(3)

Identificação

Unidade Hidrogeológica: Maciço Antigo Bacia Hidrográfica: Guadiana e Tejo Distritos: Évora e Portalegre

Concelhos: Alandroal, Borba, Estremoz, Sousel e Vila Viçosa

Enquadramento Cartográfico

Folhas 396, 397, 410, 411, 412, 425, 426, 440 e 441 da Carta Topográfica na escala 1:25 000 do IGeoE

Folhas 32-C, 32-D, 36-A, 36-B, 36-D e 37-C do Mapa Corográfico de Portugal na escala 1:50 000 do IPCC

Folhas 32-D, 36-A, 36-B, 36-D e 37-C da Carta Geológica de Portugal na escala 1:50 000 do IGM

SOUSEL

ESTREMOZ

BORBA

VILA VIÇOSA

ALANDROAL

396

397

410 411

412

425

426

440 441

32D

36B 32C

36A

36D 37C

Figura A4.2 – Enquadramento geográfico do sistema aquífero de Estremoz-Cano

Enquadramento Geológico Estratigrafia e Litologia

As formações aquíferas dominantes são de natureza carbonatada, iniciando-se pela

Formação Dolomítica de Estremoz, de idade câmbrica, que assenta num substrato

(4)

impermeável constituído por depósitos detríticos câmbricos e xistos pré-câmbricos (Xistos de Mares). Segue-se a Formação Vulcano-Sedimentar de Estremoz a que se atribui possível idade ordovícica. A formação dos Calcários do Cano-Casa Branca é de idade plistocénica, e contacta com as formações paleozóicas existindo conexão hidráulica.

A Formação Dolomítica de Estremoz é constituída por rochas dolomíticas cristalinas de grão fino, (Pedra Cascalva), calcário-dolomíticas ou calcárias passando lateralmente a dolomíticas, resultantes da quase total dolomitização – penecontemporânea da sedimentação – de calcários muito xistificados (Carvalhosa et al., 1987; Gonçalves e Coelho, 1974).

Apresentam por vezes veios e inclusões de argilas, materiais argilo-ferruginosos e talcos (Gonçalves e Coelho, 1974). Verifica-se o predomínio dos dolomitos, por vezes com relíquias dos calcários originais, para o topo desta série. Na base da formação foram identificados conglomerados, arcoses e vulcanitos ácidos (Lopes, 1995).

A Formação Vulcano-Sedimentar de Estremoz (Mármores de Estremoz) está separada dos dolomitos anteriores por um nível silicificado (sílico-ferruginoso) descontínuo que se supõe equivaler à discordância estratigráfica que faria contactar os terrenos câmbricos com o Ordovícico. Esta formação é constituída por metavulcanitos ácidos e básicos e por tufitos, além de extensos depósitos carbonatados: os Mármores de Estremoz.

Os Mármores de Estremoz são calcários cristalinos metamorfisados pouco xistificados, de grão médio, e calcoxistos, apresentando por vezes dolomitização por descensu (Gonçalves, 1973). Estão por vezes associados a calcários brechóides e brechas de cimento e elementos carbonatados, podendo as brechas apresentar, por vezes, uma apreciável extensão vertical. A dolomitização é mais grosseira que na série câmbrica, constituindo estruturas em “olho de mocho”, apresentando numerosos geodes (Gonçalves e Coelho, 1974). Esta dolomitização resulta da epigeneisação dos mármores, e os dolomitos assim formados tendem a preencher as fracturas existentes, daí resultando os limites irregulares desta litologia, que é mais desenvolvida nos níveis superiores (Gonçalves e Coelho, 1974). São comuns as intercalações de pelitos, argilas e materiais argilo-ferruginosos, assim como de diversos filonetes de calcite ou de materiais ígneos, bem como uma certa brechificação dos dolomitos (Gonçalves, 1973).

Os Calcários de Cano-Casa Branca, de idade plistocénica, são constituídos por tufos calcários, por vezes de fácies pulverulenta, brechóide ou travertínica, com algumas intercalações argilosas e recortados por veios calcários, brechas calcárias ferruginosas, que podem variar até arenitos muito grosseiros, calcários dolomíticos cristalinos, dolomitos, mármores calcíticos e calcários compactos, frequentemente com faunas límnicas (Cupeto, 1991; Gonçalves et al., 1975; Perdigão, 1976; Gonçalves e Coelho, 1974; Carvalhosa et al., 1987). O cimento das brechas pode ser margoso ou calcário com ferruginização (Gonçalves e Coelho, 1974). Constituem uma laje calcária, ao longo de toda a periferia do maciço de Estremoz, que ocorre nas partes baixas bordejantes deste maciço (Carvalhosa et al., 1987).

Nalguns casos o calcário é aflorante mas noutros encontra-se sob argilas ou margas com 2 m de espessura e assenta sempre sobre os xistos argilosos do soco hercínico (Gonçalves et al., 1975). Existem fenómenos incipientes de silicificação destes calcários (Gonçalves e Coelho, 1974; Cupeto, 1991).

A Formação Vulcano-Sedimentar de Estremoz tem espessuras superiores a 200 m (Cupeto

1991; Reynaud e Vintém, 1992). Ainda de acordo com Cupeto (1991), as espessuras dos

Calcários do Cano variam entre os 25 e os 30 m, havendo contudo áreas onde pode ser mais

fino (5 a 15 m), como é o caso da região de Sousel (Gonçalves et al., 1975).

(5)

Tectónica

Esta é uma região intensamente tectonizada, tendo sofrido a acção de várias fases da orogenia hercínica (Gonçalves et al., 1975; Carvalhosa et al., 1987).

A estrutura base é um grande antiforma – o anticlinório de Estremoz – que se encontra orientado segundo a direcção NW-SE, com forte mergulho do eixo do dobramento, em regra da ordem dos 20ºSE. O seu plano axial tem uma atitude cerca de N30ºW, subvertical (70º - 80ºSW), com vergência para nordeste. Os dobramentos secundários deste anticlinório têm também uma atitude semelhante, com idêntica orientação dos planos axiais e dos eixos das dobras (Gonçalves e Coelho, 1974; Carvalhosa et al., 1987). Além do dobramento intenso das formações, estas são afectadas por xistosidades, lineamentos e clivagens (de plano axial – NW-SE, subvertical – por vezes divergindo levemente para clivagem em leque) assim como por um largo conjunto de falhas e diaclases (Gonçalves e Coelho, 1974; Carvalhosa et al., 1987). A clivagem tende a ser xistenta e progressivamente mais penetrativa com o aumento da idade das formações. Ocorrem ainda diversas famílias de fracturação, algumas de simples alívio de tensões, outras de desligamento.

Além das orientações NE-SW e conjugadas NW-SE, ocorrem ainda as famílias de atitude N27ºW e N63ºE, verticais a subverticais. De acordo com Cupeto (1991), na região de Cano- Sousel as direcções de fracturação dominantes são: N40º-50ºE (equivalentes da orientação NE-SW), N70ºE e N25ºW. O mesmo autor refere ainda que, destes três sistemas de fracturas, apenas as N40º-50ºE (perpendiculares ao plano de dobramento do anticlinório) apresentam nalguns casos sinais de abertura, a que se associam, por vezes, algumas pequenas nascentes, em especial no bordo S. Os planos de fracturação com atitudes N50ºW, 45ºS parecem estar associados com o fluxo de águas subterrâneas que se fará de SE para NW (Cupeto, 1991). São ainda registadas outras direcções de fracturação como: N9º-11ºW, 50º-70ºNE; N46ºE e N77º- 79ºE, 80º-86ºNW ou SE; N44ºW, 44ºSE; N8ºE, 50ºSE; N78ºE subverticais para NW; N27º- 28ºE, 74º-77ºNW; N8ºE, 48ºSE; N46ºE, 80ºNW ou SE (Reynaud e Vintém, 1992).

Ocorre, tanto quanto se conheça, um sistema de desligamentos esquerdos NE-SW (com possível componente vertical) e os respectivos conjugados NW-SE. Além deste, as restantes direcções de fracturação parecem relacionar-se, na sua maior parte, com fracturas de distensão e alívio de cargas.

De acordo com Cabral e Ribeiro (1988) nesta região não existem falhas activas identificadas. No entanto, estes autores apontam para a existência de dois lineamentos geológicos – na região de Vitória do Ameixial/Sto. Estevão e no extremo SE, com orientação de NE-SW a ENE-WSW, respectivamente que poderão eventualmente corresponder a falhas activas.

Algumas das fracturas estão preenchidas por argilitos, materiais argilo-ferruginosos, calcite, terra rossa e outros produtos de alteração secundária, e, ainda, nalguns casos por materiais ígneos (Gonçalves e Coelho, 1974). Os desligamentos NE-SW estão em grande parte preenchidos por filões e os respectivos conjugados NW-SE também estão muitas vezes preenchidos por rochas quartzosas (Gonçalves, 1973).

Para além da estrutura correspondente ao anticlinal de Estremoz, existe uma aplanação, a

NW, constituída pelos calcários lacustres de Cano.

(6)

Hidrogeologia

Características Gerais

Este sistema aquífero é constituído por aquíferos cársicos livres, com comportamento próximo do poroso livre na área do Cano. É constituído pelo sector de Estremoz – onde as formações produtivas são os calcários paleozóicos – e pelo sector do Cano. Na região do Cano, na zona onde as formações plistocénicas recobrem os calcários paleozóicos, pode considerar-se o sistema aquífero constituído por dois aquíferos, separados entre si pelas argilas e margas do Paleogénico-Miocénico:

• Aquífero Superior – poroso livre, associado aos calcários do Cano;

• Aquífero Inferior – cársico semi-confinado, associado à Formação Dolomítica de Estremoz e à Formação Vulcano-Sedimentar de Estremoz.

Fora da região do Cano, o sistema aquífero é constituído apenas pelas formações carbonatadas paleozóicas, assumindo então as características de aquífero cársico livre, embora nalguns locais seja confinado, devido às intercalações de xistos e metavulcanitos.

As saídas naturais na área do Cano não ultrapassam a meia dúzia e são insignificantes em termos do caudal que debitam, funcionando a maioria apenas em águas altas. As nascentes mais significativas situam-se nas áreas marginais da planície do Cano, sobretudo a N e NW.

Apesar de não terem grande extensão de afloramento, os calcários do Cano têm grande importância hidrogeológica devido às actuais descargas por parte do aquífero paleozóico (Mármores de Estremoz) para esta formação e às suas elevadas permeabilidades (Carvalhosa et al., 1987).

A circulação no aquífero cársico realiza-se através das fracturas e estruturas cársicas, constituindo-se uma rede de circulação que se pode dividir em dois sub-sistemas (Carvalhosa et al., 1987): (1) sistema das grandes aberturas cársicas; (2) sistema das microfracturas. De acordo com Vieira da Silva (1991) o maciço calcário de Estremoz está dividido em dois sectores: sector SE, do Alandroal a Estremoz, engloba várias pequenas bacias hidrogeológicas; sector NW, entre Estremoz e Sousel, tem uma orientação do fluxo subterrâneo de SE para NW, havendo uma extracção permanente de grandes caudais no extremo NW. Carvalho et al. (1998) referem que o maior desenvolvimento do sistema aquífero se dá nas terminações periclinais SE e NW. Os mesmos autores apontam também, com base em valores de alguns ensaios de bombagem, para a existência de barreiras impermeáveis que compartimentem o sistema e criem áreas de produtividades consideravelmente inferiores às que tradicionalmente se apontam para este sistema.

Neste sistema aquífero regista-se a ocorrência de endo e exocarso, resultantes, quaisquer deles, da sucessão de ciclos de carsificação que ocorreram na área (Cupeto, 1991). O desenvolvimento de formas cársicas é significativo, embora não se observem formas espectaculares, tanto em grande como em pequena escala. A parte mais desenvolvida da carsificação está associada à fácies mármore, que apresenta as formas mais significativas.

Verifica-se a existência de dolinas mais ou menos degradadas, assim como lapiás, com uma

amplitude vertical métrica. Ocorrem ainda formas de tipo “cockpit” típicas de um período

erosivo em clima tropical (ibidem). Aparentemente a carsificação parece ter sido fortemente

controlada pela tectónica desta região. Na área carsificada, as condutas têm grande

desenvolvimento vertical, registando por vezes profundidades superiores a 50 m,

(7)

relativamente ao nível hidrostático actual, como é o caso do algar das Morenas (Carvalhosa et al., 1987). Este algar, assim como o de Santo António, localizados na terminação SE do anticlinório, têm sido usados para captação de água para o abastecimento de Alandroal.

Carvalho et al. (1998) mencionam a existência na área NW, no concelho de Sousel, de outros algares, onde se situam as captações que abastecem larga parte deste concelho.

A produtividade aumenta neste sistema aquífero, de E para W, o que indicia a existência de um fluxo nesse sentido imposto pelo contacto entre a formação dolomítica e a vulcano- sedimentar assim como pela geometria e estrutura das formações.

A área total do sistema é de 202 km

2

.

Parâmetros Hidráulicos e Produtividade

Obtiveram-se 51 dados de caudais provenientes de informação colhida no âmbito do projecto ERHSA, cujas principais estatísticas se apresentam no quadro A4.1.

Média Desvio padrão

Mínimo Q

1

Mediana Q

3

Máximo

4,6 5,2 0 0,7 2,5 7,8 20

Quadro A4.1 – Principais estatísticas dos caudais (L/s) obtidos pelo ERHSA

As captações mais produtivas situam-se junto ao contacto das formações carbonatadas paleozóicas com as formações menos permeáveis e na zona dos calcários do Cano (ERHSA, 2000).

A interpretação dos dados recolhidos para o Plano de Bacia do Guadiana deu os resultados seguintes, em L/s (a partir de um conjunto de 23 amostras) (Quadro A4.2):

Média Mediana Mínimo Máximo

9,8 8,5 1,1 30,0

Quadro A4.2 – Algumas estatísticas dos caudais obtidos pelo PBH Guadiana

Figura A4.3 - Distribuição cumulativa dos caudais

(8)

Outros autores apresentam, para regiões específicas deste sistema aquífero, os seguintes valores:

Para a generalidade do sistema o valor médio de produtividade das captações é de 10 L/s (Costa, 1985 in Vieira da Silva, 1991). Já Paradela e Zbyszewski (1971) apontam a existência de caudais de captação de 80 L/s e caudais específicos superiores a 70 L/(s.m).

Nos Calcários do Cano, segundo Cupeto (1991), foram registados caudais específicos de 50 e 14 L/(s.m). O furo de abastecimento a Sousel, que atingiu os 43 m de profundidade tem caudais de 2,4 L/s.

No sector NW, no concelho de Sousel, ainda de acordo com Cupeto (1991), há algumas captações muito produtivas, duas delas com caudais de 20 a 83 L/s (para rebaixamento de 1,2 m) e caudais específicos que em Romeiras podem ir até 64 L/(s.m).

No sector SE, a maior parte das captações atingem profundidades entre os 20 e 40 m (Gonçalves e Coelho, 1974). O furo que abastece Estremoz (com 6 m de profundidade) tem caudais de estiagem superiores a 10 L/s. Os restantes furos situados nesta região, mas particularmente na área do Alandroal, possuem caudais da mesma ordem de grandeza, apresentando rebaixamentos muito pequenos (Gonçalves e Coelho, 1974). Em Borba há captações com caudais específicos superiores a 70 L/(s.m), e próximo da exsurgência do Freixo há captações (a profundidades de 20 m) com 56 a 65 L/s e caudais específicos de 100 L/(s.m). Segundo Gonçalves e Coelho (1974) e Perdigão (1976) o abastecimento a Vila Viçosa fazia-se por poços com 17 m de profundidade, cujos caudais variavam entre 7 e 250 m

3

/dia (0,08 a 2,9 L/s); três outros furos na região de Olival de Marco e Alto do Pombal, atingindo profundidades entre os 26 e 56 m, têm caudais de 7 a 11 L/s e caudais específicos de 0,3 a 5 L/(s.m). Ainda em Olival de Marco, outras 2 captações têm caudais registados de 80 a 40 L/s e os caudais específicos de 4 a 5 L/(s.m). Na vila do Alandroal o furo sito no algar de Sto. António tem um caudal superior a 10 L/s, registando rebaixamentos da ordem dos 0,4 m; já no algar de Morenas, as captações têm rebaixamentos de 6 m para caudais de 12 L/s (Costa, 1987 in Carvalhosa et al., 1987).

Em Rombo e Fancaria registam-se valores de caudais específicos de 50 L/(s.m) e 14 L/(s.m), respectivamente. Alguns dos furos nesta formação atingem os 30 e 43 m.

Carvalho et al. (1998) referem que para as novas captações existentes nos algares de Sto.

António e de Morenas, as produtividades são respectivamente as seguintes: 20 L/s para rebaixamentos de 1,2 m (algar de Sto. António) e 20 L/s para rebaixamentos da ordem dos 5 m (algar das Morenas).

A grande heterogeneidade do meio está bem assinalada pelo facto de sondagens feitas na proximidade de nascentes de grande caudal (ex.: Techocas) se terem revelado improdutivas.

O recursos hídricos subterrâneos do sistema são utilizados no abastecimento público e privado e agro-pecuária. Algumas povoações, como Sousel, Estremoz, Borba, Vila Viçosa, Alandroal, entre outras, são abastecidas só por água subterrânea proveniente do sistema.

Análise Espaço-temporal da Piezometria

Este sistema aquífero mostra uma grande variabilidade no que diz respeito à profundidade

dos níveis hidrostáticos, com 33% dos dados analisados pertencentes ao intervalo de

profundidade 5-10 metros, outros 33% entre 10 e 30 metros, e 26% entre 0 e 5 metros. As

flutuações sazonais também são importantes, com um valor da mediana de 3,4 metros. A

(9)

diferença entre o período de seca e o período normal mostram também valores importantes, entre 4 e 5 metros de variação. Este resultados podem ser devidos a geometria e compartimentação do aquífero. No que diz respeito ao comportamento do aquífero em resposta ao período de seca, este recuperou completamente, mostrando valores normais de níveis aquando do recomeço da precipitação, em Outubro 1995.

Nos calcários do Cano os níveis são geralmente elevados e, embora na época das regas haja alguns rebaixamentos do nível piezométrico, o aquífero tem suportado bem o volume actual de extracções.

De um modo geral a circulação tem uma orientação de SE para NW, coincidindo com o fecho NW do anticlinório, portanto em relação com os Calcários do Cano (Cupeto, 1991) e para SE. No entanto, mais em pormenor o padrão da circulação é mais complexo, existindo uma nítida compartimentação do sistema, denunciada por mudanças bruscas nos níveis piezométricos médios entre vários sectores. Assim, dentro de alguns destes compartimentos a circulação faz-se com outras direcções, do interior para o exterior do anticlinal. A referida hipótese de compartimentação é corroborada quando se analisa a distribuição espacial de alguns parâmetros químicos. Por exemplo, na área terminal SE (Alandroal), as concentrações de cálcio, bicarbonato, etc., tendem a ser inferiores às áreas restantes o que contraria a hipótese de uma circulação dirigida para essa direcção.

Na figura A4.4 esquematizam-se os aspectos principais acima referidos.

Balanço Hídrico

No calcários de Cano, a recarga é feita directamente devido à precipitação e escoamento superficial de algumas linhas de água. Existe também recarga a partir do aquífero paleozóico, através do contacto dos calcários lacustres com as rochas carbonatadas paleozóicas.

Quanto à drenância, a única relação existente é com os Calcários do Cano desconhecendo- se até ao momento os valores de drenância entre os calcários de Estremoz e os calcários do Cano.

Quanto às saídas naturais, um inventário das nascentes mostra que existem diversas saídas

naturais tanto associadas às formações paleozóicas como aos calcários do Cano. As nascentes

da área do Cano, são cerca de meia dúzia, com caudais reduzidos, funcionando quase todas

apenas no período de águas altas; as nascentes mais importantes situam-se nas zonas

marginais da planície do Cano, sobretudo nas áreas N e NW (Cupeto, 1991), destacando-se a

de Vale do Freixo, com um carácter permanente.

(10)

Figura A4.4 – Representação esquemática das direcções preferenciais do sentido de fluxo de água subterrânea no anticlinal de Estremoz (in Midões, 1999)

Relativamente ao maciço de Estremoz, no bordo sul as nascentes são mais numerosas quanto mais próximas de Estremoz. No bordo norte observa-se uma situação similar, mas os caudais são inferiores. São ainda de assinalar as ocorrências de nascentes no interior do maciço não relacionadas com quaisquer contactos mas, simplesmente, devidas à posição topográfica (Cupeto, 1991). No contacto com os xistos silúricos ocorrem cerca de 90 exsurgências, sendo de destacar entre estas as que se situam no flanco SW: Ameixial (cota 300 m), Estremoz, Bencatel e Alandroal (cota 350 m). No flanco NE são as de S. Lourenço de Mampocão (cota 350 m), Vila Viçosa e Borba (cotas 400 e 415 m). As nascentes mais importantes do maciço em termos do caudal são as de Techocas e Estremoz.

De acordo com Gonçalves e Coelho, 1974, Gonçalves et al., 1975 e Paradela e Zbyszewski, 1971, as nascentes por estes autores assinaladas são as seguintes:

♦ Calcários do Cano – 1 a ENE de Calçadinha (Cano), 1 a N de Parraxa, 1 na Cerrada do melão, 1 na Fonte dos Sete Capelos.

♦ Calcários de Estremoz – 1 a WSW do v.g. da Morada, 1 a NE da Quinta do Alboja, 1 a W de monte da Terça, 1 em Figueira, 1 em S. José (Estremoz), 1 nos Arcos, 1 a SE de Monte Espada, 1 a SE de Arco Velho, 1 a W de Borba e 2 a E da mesma localidade.

De acordo com Paradela e Zbyszewski (1971), os caudais de estiagem das nascentes

variam entre 3 e 25 L/s. As nascentes de maior caudal são as de Techocas e Estremoz, com

caudais de 25 e 12 L/s respectivamente (Costa, 1985 e 1987).

(11)

De acordo com os estudos no âmbito do projecto ERHSA, estimam-se as entradas anuais do sistema em cerca de 34 hm

3

. Esta estimativa foi baseada numa taxa média de recarga da ordem dos 25% da precipitação média anual.

Qualidade

Considerações Gerais

Os dados que se apresentam foram obtidos no âmbito do projecto ERHSA, tendo resultado de cinco campanhas de amostragem realizadas num período compreendido entre Abril de 1997 e Junho de 1999.

A fácies dominante é a bicarbonatada cálcica e magnesiana, como é característico de sistemas aquíferos cujo suporte são rochas carbonatadas.

Figura A4.6 - Diagrama de Piper relativo às águas do sistema de Estremoz-Cano

Na tabela seguinte apresentam-se as principais estatísticas relativas às águas deste sistema (Quadro A4.3).

n Média Desvio Padrão

Mínimo Q

1

Mediana Q

3

Máximo

Condutividade (µS/cm)

188 718 153 410 624 703 783 1300

pH 190 7,4 0,2 6,8 7,3 7,4 7,6 8,2

Bicarbonato (mg/L)

190 376 74 161 338 383 425 532

Cloreto (mg/L) 190 32 26 8 18 23 35 188

(12)

Ferro (mg/L) 190 0,06 0,23 0,002 0,01 0,02 0,04 2,8

Potássio (mg/L) 190 1,8 3,4 0 0,6 1 1,7 28,5

Nitratos (mg/L) 190 34 23 0 18 28 44 120

Nitritos (mg/L) 190 0,008 0,017 0,003 0,003 0,003 0,009 0,17

Sulfatos (mg/L) 190 20 12 0,7 11 18 27 64

Sódio (mg/L) 190 19 13 5 10 14 23 67

Cálcio (mg/L) 190 87 14 39 77 88 95 123

Dureza (mg/L CaCO

3

)

190 345 61 171 307 346 384 495

Alcalinidade (mg/L)

190 308 61 132 277 315 348 436

Oxidabilidade 124 0,5 0,3 0,1 0,3 0,4 0,6 1,6

Azoto Amoniacal (mg/L)

101 0,06 0,05 0,03 0,03 0,03 0,1 0,27

Fosfatos (mg/L) 189 0,12 0,25 0,002 0,02 0,04 0,1 2

Magnésio (mg/L) 190 34 11 7 29 37 41 57

Cobre (mg/L) 111 0,002 0,003 0,0007 0,0007 0,0007 0,002 0,02

Manganês (mg/L) 133 0,01 0,03 0,002 0,002 0,006 0,01 0,28

Chumbo (mg/L) 84 0,0013 0,001 0,001 0,001 0,001 0,0014 0,01

Alumínio (mg/L) 136 0,02 0,04 0 0,004 0,009 0,015 0,3

Zinco (mg/L) 127 0,03 0,06 0,001 0,006 0,01 0,02 0,55

Níquel (mg/L) 85 0,0016 0,0005 0,0016 0,0016 0,0016 0,0016 0,0065

Crómio (mg/L) 103 0,0007 0,0004 0,0006 0,0006 0,0006 0,0007 0,003

Quadro A4.3 - Principais estatísticas das águas do sistema aquífero Estremoz-Cano

Qualidade para Consumo Humano

Analisando os valores expressos em percentagem no quadro A4.4, verifica-se que alguns parâmetros excedem os respectivos VMA definidos no Decreto-Lei N.º 236/98, de 1 de Agosto, Anexos I e VI. Destacam-se os nitratos com uma percentagem de violação de 18%, o ferro com 4%, o manganês e o magnésio com 3% e o potássio e o alumínio com 2%.

Quanto às violações dos VMR definidos por Lei, verifica-se que a condutividade excede em 100%; o magnésio excede em 73%; os nitratos 57% e os cloretos em 41%.

Apenas o pH, a oxidabilidade e o cobre apresentam todos os valores abaixo do VMR.

De um modo geral, a qualidade da água é fraca para consumo humano.

(13)

Anexo VI Anexo I -Categoria A1 Parâmetro

<VMR >VMR >VMA <VMR >VMR >VMA

pH 100 0 0 100 0

Condutividade 0 100 95 5

Cloretos 56 41 100 0

Dureza total 0

Sulfatos 70 27 0 100 0 0

Cálcio 84 15

Magnésio 27 73 3

Sódio 68 31 0

Potássio 96 3 2

Nitratos 43 57 18 43 57 18

Nitritos 1

Azoto amoniacal 63 34 0 63 34

Oxidabilidade 100 0 0

Ferro 75 19 4 92 7 2

Cobre 100 0 0 100 0 0

Manganês 86 14 3 97 3

Chumbo 0 0

Alumínio 93 7 2

Zinco 94 6 99 1 3

Níquel 0

Crómio 0

Fosfatos 95 4 0 95 4

Quadro A4.4 – Apreciação da qualidade face aos valores normativos

Uso Agrícola

As águas deste sistema aquífero distribuem-se por duas classes C

2

S

1

e C

3

S

1

, representando,

por isso, um perigo de salinização médio a alto e um perigo de alcalinização baixo.

(14)

Figura A4.7 - Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola

Bibliografia

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Referências

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