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Academic year: 2021

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Universidade Federal do Pará

Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Amazônia Oriental Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas

Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável

Ingridy Cristina de Jesus Ferreira

Processos de Territorialização por Mulheres em Assentamento de Reforma Agrária: o caso do PDS Esperança– Anapu/PA

Belém/PA 2019

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Ingridy Cristina de Jesus Ferreira

Processos de Territorialização por Mulheres em Assentamento de Reforma Agrária: o caso do PDS Esperança – Anapu/PA.

Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável. Programa de Pós- Graduação em Agriculturas Amazônicas, Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares, Universidade Federal do Pará, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Amazônia Oriental.

Área de concentração: Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável.

Orientadora: Profª. Drª Noemi Miyasaka Porro

Coorientador: Prof. Dr. Mauricio Torres

Belém/PA 2019

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Ficha Catalográfica

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Ingridy Cristina de Jesus Ferreira

Processos de territorialização por Mulheres em Assentamento de Reforma Agrária: o caso do PDS Esperança – Anapu/PA

Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável. Programa de Pós- Graduação em Agriculturas Amazônicas, Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares, Universidade Federal do Pará, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Amazônia Oriental.

Área de concentração: Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável.

Data de aprovação _____/_____/_____.

Banca Examinadora

__________________________________________

Profª. Drª. Noemi Miyasaka Porro (Orientadora) PPGAA/Ineaf/UFPA

__________________________________________

Prof. Dr. Maurício Gonsalves Torres (Coorientador) PPGAA/Ineaf/UFPA

__________________________________________

Profª. Drª. Adriane Raquel Santana Lima (Examinadora interna)

FAED/UFPA

__________________________________________

Profª. Drª. Cátia Oliveira Macedo (Examinadora externa)

PPGG/UEPA

__________________________________________

Profª. Drª. Dalva Mota (Examinadora suplente) EMBRAPA

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Á minha avó Terezinha e a minha mãe Vera cada uma, ao seu modo, são incríveis Mulheres Negras.

Á minha sobrinha Cecília que tem me ensinado sobre paciência e amor.

Ás mulheres camponesas do PDS Esperança que resistem na fronteira.

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AGRADECIMENTOS

A gratidão é um ato de reconhecer os auxílios, benefícios, as dificuldades e as pequenas e grandes vitórias. Nesse sentido, ver esta dissertação pronta é uma conquista, que contou com a participação de muitas mãos, indivíduos que direta e/ou indiretamente contribuíram na construção e finalização dessa pesquisa e as quais gostaria de agradecer.

A Professora Noemi Miyasaka Porro pela orientação e proposições que me conduziram as decisões adequadas durante a jornada da escrita desse trabalho. Por possibilitar, através, dos seus projetos a aproximação com a pesquisa-ação por meio da participação em oficinas nos PDS.

Ao professor e co-orientador Mauricio Torres pelas indicações de leituras, os conselhos e sugestões dos caminhos a tomar para conclusão dessa pesquisa.

Ao CNPQ pela concessão da bolsa.

Sinto-me muito grata, também, pela disponibilidade das professoras que compõem a minha banca de defesa e certamente contribuirão generosamente neste trabalho.

A turma do mestrado MAFDS 2017, obrigada pela amizade construída dentro e fora da sala de aula, companheirismo, sorrisos, místicas e o nosso café onde compartilhávamos das angústias, medos, incertezas e os sonhos. Descobrimos que mestrando é tudo igual, só muda de endereço. Aprendi muito com cada um!

Ao corpo docente do PPGAA e os servidores administrativos do Ineaf pelo apoio, paciência com os protocolos, impressões, partilhas e conversas diárias.

Aos cametaenses marcados pelo horizonte do rio Tocantins, pela identidade ribeirinha e camponesa, minha mãe Dona Vera, mulher, negra, mãe-solo, sentiu no corpo o preconceito e o machismo dessa sociedade patriarcal. Meu irmão Oberdan, meus avós Dona Terezinha e Seu Manoel não tiveram a oportunidade de ocupar o espaço da sala de aula, no entanto, sempre incentivaram os filhos e os netos na busca da educação escolar. Minhas tias, meus tios e primos.

Todos eles, quase sempre, compreenderam minha ausência nas reuniões em família e a escolha de “andar por esse país para ver se um dia descanso feliz”. Levo vocês e toda nossa ancestralidade nos diferentes espaços geográficos que cruzo.

Á minha sobrinha Cecília, que com sua doçura e sabedoria de criança me ensina sobre o amor e renova minhas forças para lutar por uma sociedade mais justa e menos desigual para as mulheres.

Aqui cabe fazer um agradecimento especial ao amigo Fabiano Bringel que sempre me incentivou na vida acadêmica, apoiou e acreditou em mim. Temos compartilhado saberes, leituras e inquietações durante nossas conversas pela UEPA e nos caminhos dessa geografia agrária amazônica.

Ao irmão Paulo Correa, um geógrafo que baseia seu trabalho nas lutas dos povos do campo, me ensina e provoca análises frente aos latifúndios da colonialidade do saber. Nessa

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correria da vida reservamos tempo para conversas e lutas por dias mais justos, democráticos e livres.Braços dados caminhamos!

As companheiras da geografia Carol, Laís, Adriene e Dani Maués. Obrigada pela amizade, solidariedade e carinho.

A Juscelio Pantoja um irmão de vida e caminhada na utopia de um mundo fraterno e de uma Amazônia onde seus diferentes povos sejam respeitados. Obrigado pelo amparo nos períodos de cansaço e por suas palavras de afeto, lembrando que nada justifica a falta de esperança, principalmente, em tempos difíceis.

Cruzei com mulheres incríveis Sueyla, Leticia, Raquel, Renata e Denise, a partir de nossas inúmeras diferenças, construímos uma amizade baseada no respeito e na sororidade de

“Mulher, que cura e puxa para cima. Que toca tambor, declama e rima. Que vive a vida do que jeito que quer”.

A querida amiga Bruna Raposo e os maravilhosos debates travados sobre mulheres camponesas, divisão sexual e a invisibilidade do trabalho feminino na UFPE. Obrigado pela hospitalidade em solos pernambucanos e as contribuições neste trabalho.

Agradeço as irmãs de Notre Dame de Namur: Lu, Julia, Rebeca, Rosinha, Sandra, Josi e Carla pela acolhida e carinho. E a irmã Jane por suas mensagens motivacionais, logo, pela manhã “na dúvida fique do lado dos pobres” foram combustíveis nesta reta final da dissertação.

Ao Centro Alternativo de Cultura (CAC) e a Aurilene Silva pela parceria, alegria, trabalhos, os risos, as descobertas. Por ter sido um espaço de refúgio, abrigo, onde fui acolhida e tanto aprendi sobre teologia da libertação, pedagogia freireana e o diálogo com povos, culturas e religiões. O CAC, sem dúvidas, é a casa de todos os povos!

No espaço-tempo do verão (julho de 2017) no PDS Virola Jatobá e inverno (abril, maio e junho de 2018) no PDS Esperança, as mulheres me contaram suas histórias, as “estórias” que ouviram dos seus pais e mães, tiravam minhas dúvidas, acolheram-me em suas famílias, dividiram o alimento e sua casa. Obrigada. De tudo que aprendi, vivi e senti a vida camponesa, para mim, têm o sabor das hortaliças, ervas, temperos, milho, arroz, feijão, doce de goiaba, carne de caça, peixe, cuscuz, cuxá, pirão, galinha caipira, banho de grota, o barulho do capelão e, claro, as chuvas no fim da tarde!

Aos meus guias espirituais pela força, ela me ajudou a enfrentar as dificuldades sem perder a ternura!

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Percorrer as vicinais do PDS Esperança dá uma dimensão do por que tanta luta por esta terra. Uma luta comovente, em parte, conquistada pela morte e vida de Dorothy Stang. O PDS Esperança não é um paraíso na terra, falta muita coisa por aqui. Porém, respirar no PDS traz a medida da importância do território como um chão que se compartilha. Nada melhor do que a realidade para subverter nossos modelos teóricos e conceitos ideologicamente consistentes (PANTOJA, 2015).

Descolonizar o gênero é necessariamente uma práxis. É decretar uma crítica da opressão de gênero racializada, colonial, capitalista e heterossexualizada visando uma transformação vivida do social (LUGONES, 2014).

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RESUMO

Neste trabalho, buscamos analisar processos de territorialização por mulheres camponesas que vivem no PDS Esperança, município de Anapu. Nesta dissertação, gênero é entendido como uma construção social baseada em relações de poder entre homens e mulheres numa dada sociedade e, nesse sentido, não se baseia em questões biológicas e naturalizantes. O conceito de gênero se caracteriza por um sentido relacional e está interligado a noções de raça e classe. Já o conceito de processo de territorialização é compreendido pela apropriação de espaço por um determinado grupo social, de acordo com sua identidade, cultura, organização social e forma de se relacionar com a natureza, levando à construção de uma base territorial. Esta pesquisa tem cunho quali-quantitativa. A metodologia envolveu levantamentos bibliográficos, documentais e trabalho de campo. A coleta de dados documentais ocorreu em sites de órgãos governamentais, nos quais foram obtidos portarias, decretos e outras informações a respeito do assentamento. O trabalho de campo permitiu aproximação e relativa imersão na vida das mulheres. Nesse período, entrevistamos e acompanhamos o cotidiano de 20 mulheres. Com a sistematização dos dados e desenvolvimento da pesquisa constatou-se que os espaços ocupados por homens e mulheres é marcado por relações desiguais de gênero. A casa e o quintal, devido aos papeis socialmente construídos no interior da família camponesa e atribuídos a mães e esposas, são caracterizados como lugar da mulher. Verificamos que existe uma invisibilidade do trabalho feminino devido a uma assumida divisão sexual do trabalho; no entanto, identificou-se que a mulher exerce diferentes trabalhos seja na casa e na roça. Com as lutas sociais pela emancipação feminina, o acesso às políticas públicas para mulheres rurais tem garantido relativa autonomia na gestão dos recursos. Outro alegado fator para a autonomia feminina é o acesso ao trabalho assalariado. No entanto, relatam que ainda vivenciam o machismo de seus companheiros. Coletivamente, estão se organizando em grupo seja a nível religioso com o grupo Heroínas da Fé ou produtivo pelo Grupo de Mulheres Girassol. O primeiro tem permitido a construção de relações de vizinhança e a coesão entre mulheres, o segundo possibilita a geração de renda, intercâmbios e também o fortalecimento das relações de parentesco, de vizinhança e entre mulheres. Assim, a apropriação dos espaços coletivos e no interior da área de uso alternativo têm sido um desafio, pois, esbarram no machismo e na invisibilidade de seu trabalho. Nas estratégias adotadas pelas mulheres têm surgido novas reconfigurações de gênero, inclusive pela condução feminina como chefia das unidades familiares de produção. O principal desafio a ser enfrentado ainda é o machismo, facilitado pela invisibilidade do trabalho feminino. A construção de uma autonomia econômica e de um empoderamento político esbarram nessa reprodução cultural e material do modo de vida camponês, a partir da visão patriarcal da família, da comunidade e da sociedade. Para assim romper, as relações diferenciadas entre os gêneros e possam garantir e fortalecer seus espaços no assentamento PDS Esperança.

Palavras-chave: Mulheres, Processos de Territorialização, Relações de gênero, PDS Esperança.

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ABSTRACT

In this paper, we seek to analyze territorialization processes by peasant women living in PDS Esperança, Anapu municipality. In this dissertation, gender is understood as a social construction based on power relations between men and women in a given society and, in this sense, is not based on biological and naturalizing questions. The concept of gender is characterized by a relational sense and is intertwined with notions of race and class. The concept of territorialization process is understood by the appropriation of space by a particular social group, according to their identity, culture, social organization and way of relating to nature, leading to the construction of a territorial base. This research has a qualitative and quantitative nature. The methodology involved bibliographic, documentary and fieldwork surveys. The collection of documentary data took place on government agency websites, where ordinance, decrees and other information about the settlement were obtained. The fieldwork allowed for approximation and relative immersion in women's lives. During this period, we interviewed and followed the daily lives of 20 women. With the systematization of data and development of the research it was found that the spaces occupied by men and women are marked by unequal gender relations. The house and backyard, due to the socially constructed roles within the peasant family and assigned to mothers and wives, are characterized as the place of woman. We verified that there is an invisibility of female labor due to an assumed sexual division of labor; It was identified that the woman performs different jobs both at home and in the small farm. With social struggles for female emancipation, access to public policies for rural women has guaranteed relative autonomy in resource management. Another alleged factor for female autonomy is access to wage labor. However, they report that they still experience the machismo of their companions. Collectively, they are organizing as a group either at the religious level with the Heroínas da Fé group or productive by the Grupo de Mulheres Girassol. The first has allowed the construction of neighborhood relations and cohesion between women, the second enables the generation of income, exchanges and also the strengthening of kinship, neighborhood and women relations.

Thus, the appropriation of collective spaces and within the area of alternative use has been a challenge because they run into machismo and invisibility of their work. In the strategies adopted by women, new gender reconfigurations have emerged, including female leadership as head of family production units. The main challenge still to be faced is machismo, facilitated by the invisibility of female work. The construction of economic autonomy and political empowerment run counter to this cultural and material reproduction of the peasant way of life, based on the patriarchal view of family, community and society. In order to break away from this, different gender relations can guarantee and strengthen their spaces in the PDS Esperança settlement.

Keywords: Women, Territorialization Processes, Gender Relations, PDS Esperança.

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LISTA DE FOTOGRAFIAS E FIGURAS

Figura 1: Mapa de caracterização do PDS Esperança I...29

Figura 2: Representação esquemática de uma agrovila...71

Figura 3: Mapa do Polígono Desapropriado de Altamira (PDA)...73

Fotografia 1: Slogan na Praça Central de Anapu sinalizando a origem do município.76 Figura 4: Mapa do município de Anapu...78

Fotografia 2: rodovia Transamazônica corta a área central da cidade de Anapu...78

Fotografia 3: Dona Tunica banhando sua neta recém nascida...89

Fotografia 4: Troca de presentes durante a festa em comemoração ao Dia das Mães, no Lote de Dona Luzia, Vicinal Dois no PDS Esperança...90

Fotografia 5: Placa com tiros próxima ao local do assassinato da missionária Dorothy Stang...91

Fotografia 6: Guarita localizada no início da Vicinal Zero no PDS Esperança...92

Fotografia 7: Dona Laura pescando, no lote vizinho, na Vicinal Dois...110

Fotografia 8: Preparo da área de roça – corte da juquira...116

Fotografia 9: Cultivo de milho no PDS Esperança...117

Fotografia 10: Quebra do arroz na cozinha da unidade familiar...118

Figura 5: Calendário agrícola na unidade familiar de produção de Maria Antônia...121

Fotografia 11: Maria Antônia na colheita do milho...122

Figura 6: Calendário florestal da unidade familiar de produção de Maria Antônia...123

Figura 7: Calendário agrícola unidade familiar de produção de Edineia Lopes...124

Figura 8: Calendário florestal unidade familiar de produção Edineia Lopes...125

Figura 9: Calendário agrícola unidade familiar de produção Márcia Lima...128

Figura 10: Calendário florestal na unidade familiar de Márcia Lima...130

Figura 11: Calendário agrícola na unidade familiar de produção de Lúcia Alves...131

Figura 12: Calendário florestal na unidade familiar de produção de Lúcia Alves...132

Fotografia 12: Festa em comemoração ao dia das mães organizado pelo Círculo de Oração Heroínas da Fé na Igreja Evangélica Assembleia de Deus – PDS Esperança..142

Fotografia 13: Gleice confeccionando artesanato de madeira no torno...144

Fotografia 14: Crianças brincando no parque construído pelo Grupo de Mulheres Girassol...146

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LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Gráfico 01 – Situação matrimonial das 20 mulheres entrevistadas no PDS

Esperança...96 Tabela 01 – Composição dos domicílios das 20 mulheres entrevistadas no PDS Esperança...98 Gráfico 02 – Ano de chegada das 20 mulheres entrevistadas no PDS

Esperança...99 Tabela 02 – Dados das trajetórias e origens de Miriam, Valdete, Laurismar e Maurina...110 Tabela 03 – Atividades Agrícolas por Gênero e Geração...114 Gráfico 03 – Situação das 20 mulheres entrevistadas em RB...136 Gráfico 04 – Acesso das 20 mulheres as políticas de fomento para

agricultura...138

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACS – Agente Comunitário de Saúde

AEPDSA – Associação Esperança do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Anapu I AGROECO – Associação Agroecológica dos Trabalhadores da Comunidade de Santo Antônio do PDS Anapu

ASPAT – Associação Pioneira Agrícola da Transa-Leste

ASSEEFA – Associação Solidária Econômica Ecológica de Frutas da Amazônia AUA – Área de Uso Alternativo

CATP – Contrato de Alienação de Terra Pública CEB – Comunidade Eclesial de Base

CNS – Conselho Nacional dos Seringueiros CPT – Comissão Pastoral da Terra

DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf

FETAGRI – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará GRUMVIJA – Grupo de Mulheres do Virola Jatobá

IN – Instrução Normativa

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INEAF – Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

MFMLA – Movimento Fraterno de Mulheres Lutadoras do município de Anapu MFS – Manejo Florestal Sustentável

MPF – Ministério Público Federal

MPDT – Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica MPST – Movimento pela Sobrevivência da Transamazônica

MST – Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra PA – Projeto de Assentamento

PAD – Projeto de Assentamento Dirigido PDA – Polígono Desapropriado de Altamira PDS – Projeto de Desenvolvimento Sustentável PIC – Projeto Integrado de Colonização

PIN – Plano de Integração Nacional

PNRA – Programa Nacional de Reforma Agrária

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POPMR – Programa de Organização Produtiva de Mulheres Rurais PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PROTERRA – Programa de Redistribuição de Terras

PT – Partido dos Trabalhadores PU – Plano de Utilização RB – Registro de Beneficiário RL – Reserva Legal

RESEX – Reserva Extrativista

SEAD – Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo STTR – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais SUDAM – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia TI – Terra Indígena

UFPA – Universidade Federal do Pará UHE – Usina Hidrelétrica

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Sumário

INTRODUÇÃO...17

1. ESTUDO SOBRE MULHERES EM ASSENTAMENTO AMBIENTALMENTE DIFERENCIADO NA TRANSAMAZÔNICA...23

1.1 Problemática...23

1.2 Objetivos...27

1.3 Metodologia...28

1.3.1 Localização e descrição do local da pesquisa...28

1.3.2 A construção do objeto, a escolha do lócus e do foco da pesquisa...29

1.3.3 A entrada no campo de pesquisa...30

1.3.4 Métodos e procedimentos...35

2. REFERENCIAL TEÓRICO...38

2.1 Fronteira...38

2.2 Campesinato...48

2.3 Estudos sobre Mulher e Gênero...58

2.4 Território e Processos de Territorialização...65

3. FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DA TRANSAMAZÔNICA...67

3.1 A ocupação da Transamazônica...67

3.2 A criação do município de Anapu...76

3.3 A criação e Organização Territorial do PDS Esperança...79

4. PROCESSOS DE TERRITORIALIZAÇÃO POR MULHERES NO PDS ESPERANÇA ...94

4.1 As mulheres do Esperança: suas origens e trajetória de vida...94

4.1.1 Trajetória de Miriam...101

4.1.2 Trajetória de Valdete...103

4.1.3 Trajetória de Maurina...105

4.1.4 Trajetória de Laurismar...108

4.2 “Eu ajudo em tudo, capino, ajudo a roçar, plantar e a colher”: atividades das mulheres camponesas no cotidiano e nos calendários agrícola e florestal...111

4.2.1 Lote de Maria Antônia...120

4.2.2 Lote de Edineia Lopes...123

4.2.3 Lote de Marcia Lima...126

4.2.4 Lote de Lúcia Alves...130

4.3 O acesso e gestão dos recursos nas unidades familiares de produção...133

4.4 A participação das mulheres nos espaços coletivo do assentamento...141

5 CONCLUSÃO: FRONTEIRA, TERRITORIO(S) e MULHERES...148

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANEXOS

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa trata da análise de processos de territorialização por mulheres de unidades familiares camponesas que vivem no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Anapu I1, designado como PDS Esperança, situado no município de Anapu, sudoeste paraense, na chamada região da Transamazônica.

Com base na situação empírica do PDS Esperança - projeto de assentamento especificado como ambientalmente diferenciado (INCRA, 2010), adotamos uma abordagem de gênero (SCOTT, 1995), mas enfocando especialmente as mulheres e, portanto, aproximando-nos aos chamados estudos sobre mulher (SILVA, 2008). Em adição às investigações sobre as trajetórias de mulheres e suas relações sociais de gênero nas unidades familiares, foi analisada a formação e atuação de grupos de mulheres na unidade comunitária, para melhor entender seus processos de territorialização no assentamento aqui estudado.

O interesse em pesquisar as mulheres, no campo amazônico, surgiu anteriormente ao mestrado. Na graduação, meu trabalho de conclusão de curso foi analisar o papel da mulher na construção do território camponês, em uma comunidade rural, no município de Bujaru. Já na pós-graduação minha perspectiva era compreender as mulheres, na luta pela terra, em assentamento de reforma agrária.

Vivenciar a realidade na qual essas mulheres estão inseridas significou uma experiência, espaço-temporal, diferente para mim, não apenas, pelos quilômetros que a separam da capital do estado. Mas, para uma pessoa como eu, que cresceu com o horizonte do Rio Tocantins em Cametá, onde sentíamos, indiretamente, os impactos dos grandes projetos como a Usina Hidrelétrica (UHE) de Tucuruí, Anapu era diferente culturalmente, com os sotaques, as comidas, a linguagem2, as músicas e as origens desse contingente populacional migrante. E espacialmente diferenciava-se da Amazônia do baixo Tocantins, em que estava familiarizada. Senti-me uma estrangeira na Amazônia em condição fronteiriça com aquelas mulheres e com aquele lugar3.

1 O PDS Anapu engloba dois assentamentos criados nas Glebas Bacajá e Belo Monte, denominados, respectivamente, de PDS Anapu I ou PDS Esperança e o PDS Anapu III e IV chamados de Virola Jatobá.

O PDS Anapu II, com lotes destinados à reforma agrária, foi extinto da área territorial do PDS Esperança, por meio, de uma ação na justiça em que empresários locais alegavam a posse das terras.

2 Dentre as categorias utilizadas em nossas conversas as quais aprendi estão; Taca = porrada, Cutião = homem idade avançada que não possui uma esposa, Abuso = enjoada de algo, Rua = Anapu, Capelão = refere-se a uma espécie de macaco, Mateiro = veado, Menino- homem e Menina – mulher = criança.

Na maioria das vezes perguntavam-me “Como se chama isso lá na tua terra?”.

3 Ver Cruz (2011) sobre a perspectiva de sentir-se estrangeiro na Amazônia.

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Essa condição foi sentida desde o trabalho de campo exploratório, em julho de 2017, realizado em área maior do que a recortada nessa dissertação. Vivenciei a realidade do assentamento PDS Virola Jatobá e as particularidades da atuação feminina nos vários âmbitos sociais, seus modos de ver e sentir, cotidianamente, o lugar no qual está inserida. Observei e registrei a relação de homens e mulheres entre si e com a terra e os recursos advindos da natureza, a forma material e simbólica como esses elementos são percebidos e apropriados de forma diferenciada, conforme o gênero. Passei a enfocar as mulheres e anotei suas trajetórias ao longo do processo migratório, marcadas por lutas, sacrifícios, renúncias, coragem, ousadia e muito trabalho, qualificando a construção social do ser mulher assentada e migrante.

Nos levantamentos de referenciais bibliográficos, para compreender esta realidade, encontrei estudos referentes às mulheres nessa região, os principais foram Silva (2008) e Castro (2004). Nesse sentido, busco contribuir através da análise dos processos de territorialização dessas personagens, vividas através de relações sociais de gênero no cotidiano de um projeto de assentamento de reforma agrária, especificado formalmente como tendo caráter ambiental.

O conjunto dessas mulheres é bastante heterogêneo: diferenciam-se entre si, pois são marcadas pela migração, a partir de diversas origens e condições, em busca da terra para viver e produzir na Transamazônica. Com trajetórias distintas conformam uma diversidade social na composição dos dois assentamentos ambientalmente diferenciados do município de Anapu: o PDS Esperança e o PDS Virola Jatobá.

Conforme questionário aplicado por Vieira (2011), o PDS Virola Jatobá é composto por camponesas oriundas em sua maioria de outros estados brasileiros (42%), já a maioria das famílias assentadas no PDS Esperança migraram de municípios vizinhos, ocasionando uma migração intra-estadual (45%). No PDS Virola Jatobá, as primeiras famílias chegaram entre os anos de 2002 e 2003, em comparação, a maioria das famílias do PDS Esperança acessou os lotes nos anos de 2004 e 2005, permanecendo neles. Já as famílias do PDS Virola-Jatobá adquiriram lotes em diferentes anos e apresentaram menores percentuais de permanência (VIEIRA, 2011, p.

73). Investigando as trajetórias de migração registrei que homens e mulheres as viviam e percebiam diferentemente.

Seria essa mobilidade protagonizada de forma diferenciada por homens e mulheres, indícios de distintos processos de territorialização? Com quais consequências para a unidade familiar? Seria mantida essa unidade ao longo dos processos? Como as

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peculiaridades do lugar social das mulheres no assentamento dialogam com esses processos de territorialização? Como ponto de partida, defini com minha orientadora processos de territorialização como diferentes formas de ocupar o espaço, segundo uma organização social intrínseca a um grupo ou indivíduos que, com isso, constroem relações específicas entre si e na maneira de utilizar a terra e os recursos e assim converge na construção de uma base territorial, o território. A esse processo estão interligados as mudanças que afetam sua reorganização e as suas manifestações culturais (OLIVEIRA, 1998). Certamente esses processos são vividos em determinados contextos históricos.

O contexto histórico em que se constrói a realidade social da região da Transamazônica, onde hoje se localiza o PDS, remete a segunda metade do século XX, no período sob o regime militar brasileiro e suas políticas de expansão territorial, em áreas tidas como fronteiras naturais a serem ocupadas e integradas ao restante do país.

Impregnava nas políticas de ocupação destinadas à Amazônia, a visão de vazio demográfico e última fronteira a ser colonizada. Desse modo, os denominados grandes projetos visando recursos minerais, hidrelétricos, pecuários e outras commodities, além da abertura de estradas para facilitar o seu desenvolvimento, foram instalados na região (BECKER, 2005). E seguiram o modelo pautado na lógica do crescimento econômico sob um discurso desenvolvimentista, de inserção do Brasil nos moldes do capitalismo estrangeiro (LEROY, 1989).

A matriz conceitual da ação do Estado perpassou, nesse período, pela noção da integração regional (CASTRO, 2007), ativada para incorporar e ocupar novos territórios através de políticas como: o Programa de Integração Nacional (PIN), iniciado em 1970 e a construção de dois eixos rodoviários: a Transamazônica e a Cuiabá-Santarém; e o Programa de Redistribuição de Terras (Proterra), lançado em 1971. De um lado, a construção das rodovias significou uma abertura aos recursos inexplorados e, de outro, o processo de colonização visava orientar as migrações de camponeses oriundos do sul e do nordeste brasileiro, em direção à Amazônia (MARIN, 2004). Os estudos sobre esses deslocamentos tratam em geral das unidades familiares, havendo poucos dados sobre a perspectiva e a atuação das mulheres.

Esses projetos visavam à incorporação da região na economia capitalista, por meio dos investimentos em programas relacionados à abertura de estradas e política de

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colonização, rompendo com a tradicional ocupação pelos rios4. Os atores locais sentem e vivenciam essa realidade de diferentes maneiras. Alguns diretamente, como aconteceu com as famílias em Anapu, e outros indiretamente, a exemplo da região do baixo Tocantins, que ainda mantêm uma relação próxima com o rio.

Na extensão da Rodovia Transamazônica, os processos de colonização do espaço foram de ordem dirigida, oficial, mas também a migração espontânea. A distinção entre ambas, segundo Hébette (2004, p. 42), “diz respeito, no contexto moderno, aos momentos e intensidades da interferência do poder público”. No caso em questão, essa dinâmica foi estruturada pela combinação desses processos, ligada a construção dos eixos rodoviários, políticas fundiárias e reordenamento territorial, através dos planos de ocupação do espaço impulsionados pelo Estado, com abertura para a implantação do capital na região.

A estrutura fundiária, no município de Anapu, segundo Mendes (2012) esteve marcada, inicialmente, pela ocupação de produtores familiares por intermédio dos PICs e, concomitantemente, pela destinação de áreas a empresários para que desenvolvessem projetos agropecuários em lotes maiores e mais distantes da rodovia, através de Contrato de Alienação de Terras Públicas (CATPs). Coube ao INCRA assentar esses imigrantes como colonos nos Projetos Integrados de Colonização (PIC) e, posteriormente, nos Projetos de Assentamentos Dirigidos (PAD), assumindo a tarefa de distribuição de terras e crédito, e proporcionar acesso a serviços de saúde e assistência social (HÉBETTE, 2002) o que na prática se efetivou muito pontualmente.

A área de localização do PDS Esperança vivenciou o assentamento colonização tanto de ordem dirigida ou espontânea, com participação do Estado na distribuição das terras e na forma de demarcação dos lotes, diferenciando-se os sujeitos envolvidos nesse processo. As famílias vislumbravam a conquista da terra para exercer seu trabalho, com autonomia. No entanto, essas áreas ocupadas a partir dos CATPs foram griladas e, consequentemente, emergiram conflitos entre fazendeiros, madeireiros e os camponeses, a maneira desenfreada da apropriação desse espaço, com derrubada da mata para construir pastos, o que contribuiu para a degradação do meio ambiente.

Nesse contexto, as organizações sociais como o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento de Mulheres de

4 A respeito dessa mudança no padrão de ocupação do espaço amazônico, denominado rio-várzea-floresta

para estrada-terra firme-subsolo ver Porto Gonçalves (2015).

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Anapu, Associação Pioneira Agrícola da Transa leste, Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Anapu, Paróquia Católica Santa Luzia de Anapu mobilizaram-se contra esses processos de exclusão social e devastação, visando, para a região um desenvolvimento sustentável com base na agricultura familiar camponesa (MENDES, 2012). Uma das mais conhecidas figura de apoio ao movimento social, nesse período, foi a religiosa da ordem das irmãs de Notre Dame de Namour, Dorothy Stang.

Assim, por meio da Portaria do INCRA nº 39 de 2002, o Projeto de Desenvolvimento Sustentável Anapu, dividido em PDS I, II, III e IV – conhecidos como PDS Esperança (I e II) e PDS Virola Jatobá (III e IV), foi criado no ano de 2002.

Essa modalidade de assentamento visa integrar agricultura e exploração florestal, com atividades de baixo impacto ambiental, buscando conciliar o acesso a terra e o cumprimento da agenda ambiental. Será no PDS Esperança que enfocaremos os processos de territorialização dessas mulheres, considerando as relações de gênero em que estão engajadas.

Essa pesquisa é de caráter quali-quantitativa, com observação direta e participante, além da aplicação de questionários e roteiros de entrevistas abertas e semiestruturadas. Foram realizados trabalhos de campo nos meses de abril, maio e início de junho de 2018.

Nesta dissertação, após essa breve Introdução, apresentarei no Capítulo 1 a problemática e a pergunta de pesquisa, os objetivos, a metodologia, na qual descrevo a localização do local de pesquisa, a escolha do lócus e o foco, a entrada no campo e os métodos e procedimentos utilizados neste trabalho.

No segundo capítulo discutirei as referências teóricas sobre as quais se fundamenta esta dissertação, subdividida nos seguintes tópicos: Fronteira;

Campesinato; Estudos sobre Mulheres e Gênero; Território e Processos de Territorialização.

No terceiro capítulo apresento a formação sócio-espacial e organização territorial no contexto da rodovia Transamazônica. Seu processo de formação social, histórica e geográfica, no marco temporal de 1964 com a construção da rodovia que leva o mesmo nome da região. O próprio modelo de ocupação geograficamente desigual da apropriação das terras levou a disputas, pelo acesso aos recursos naturais, extremamente violentas, chegando a assassinatos por conflitos agrários que marcam o município de Anapu. Nesse contexto são criados assentamentos de caráter

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ambientalmente diferenciados como é o caso do PDS Esperança, tornando-se importante marca da territorialização da luta pela terra no sudoeste do Pará.

No quarto capítulo, com a análise dos dados obtidos através dos questionários e entrevistas, serão apresentados os processos de territorialização, com base nas trajetórias de vida, o cotidiano das atividades agrícolas e florestais, formas de acesso e gestão dos recursos nas unidades familiares e a participação das mulheres nos espaços coletivos no PDS Esperança.

Para concluir, no quinto capítulo, tecerei considerações finais sobre fronteira, campesinato e mulheres no PDS Esperança.

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1. ESTUDO SOBRE MULHERES EM ASSENTAMENTO AMBIENTALMENTE DIFERENCIADO NA TRANSAMAZÔNICA

1.1 Problemática

Os PDS tornaram-se uma nova modalidade de regularização fundiária, introduzindo a perspectiva ambiental, através da portaria do Incra 447/19995, posteriormente alterada pela portaria do Incra 1.040/20026. Inclusa na categoria de assentamentos ambientalmente diferenciados, e impulsionada para a Amazônia a partir de 2004, a modalidade PDS foi representada inicialmente por dois projetos em Anapu.

Neste município, a arrecadação de terras devolutas nas glebas Belo Monte e Bacajá, o aumento do desmatamento nos anos anteriores e a pressão dos movimentos sociais, impulsionaram a assinatura da Portaria Incra nº 39/2002 para criação desses dois PDS.

Porém, a partir do ano de 2006, foram criados novos assentamentos nessa modalidade7 em grande número, em contexto bastante polêmico e desviados de sua intenção inicial8. Foram designados 16 PDS na região oeste do Estado do Pará, na área de abrangência da Superintendência Regional do Incra - SR30.

Essa nova modalidade se distinguiria dos projetos de assentamento (PA) convencionais, por ter finalidade e beneficiários diferenciados, com regras específicas expressas em um Plano de Utilização9 (PU), documento que rege as ações no interior do

5 Essa portaria define a criação da modalidade de Projeto de Desenvolvimento Sustentável - PDS, de interesse social e ecológico, destinada às populações q ue baseiam sua subsistência no extrativismo, na agricultura familiar e em outras atividades de baixo impacto ambiental;

6 Dispõe sobre alterações no Art. 3º da Portaria INCRA/P nº 477/99, e dá outras providências. “Art. 1º Alterar a redação do Art. 3º da Portaria INCRA/P nº 477/99 nos seguintes termos: Art. 3º Os Projetos de Desenvolvimento Sustentável - PDS serão criados no atendimento de interesses sociais e ecológicos, para as populações que já exercem ou venham a exercer atividades extrativistas ou de a gricultura familiar em áreas de preservação ambiental, com supervisão e orientação do Incra, Ibama, órgão estadual ou municipal de meio ambiente ou organização não governamental - ONG previamente habilitada”.

7 Inicialmente, tinham como objetivo ser um es paço para a manutenção da floresta e do modo de vida de

agricultores e agricultoras, no entanto, tornaram-se espaços que asseguravam a apropriação e extração ilegal de madeira por grupos locais, legitimados pelo discurso da reforma agrária. Ou seja, sua criação obedecia a interesses contrários aos camponeses e serviam como meio de apropriação ilegítima do recurso florestal. Construídos em áreas inapropriadas e distantes das rodovias e próximas a extensão de florestas primárias com potencial madeireiro e de difícil acesso, dificultando a instalação das famílias camponesas nesses locais. Na prática, o discurso de preservação dos PDS se converteu para a grilagem, especificamente no oeste do Pará (TORRES, 2016; CUNHA, 2009). Em Anapu, ao menos parcialmente, os residentes nessa modalidade de assentamento buscam cumprir a ideia inicial.

8 Sobre isso, ver: TORRES, Mauricio Gonsalves. Os assentamentos fantasmas e a metafisica de reforma agrária: análise da relação entre o Incra no oeste paraense, a extração ilegal de madeira e os números do II PNRA. Revista GEOgraphia – Ano. 18 – nº 37 – 2016.

9 Esse plano contém os direitos e deveres dos moradores, além de orientações sobre como utilizar corretamente seus recursos naturais, conforme a cultura local e a legislação amb iental vigente, tendo como finalidade garantir o uso sustentável dos recursos naturais, através do desenvolvimento de atividades que sejam economicamente viáveis e ecologicamente sustentáveis.

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PDS. São estabelecidas regras para o uso da terra e dos recursos florestais, com especificidades para as Áreas de Uso Alternativo (AUA) e Reserva Legal10 (RL) (INCRA, 2006). Nesse território, essas atividades estão em regularização, mas, na prática dos agricultores permanece no modo corte e queima.

Numa conjuntura de impactos ambientais, regularização fundiária deficitária, conflitos, grilagem de terras e exploração madeireira ilegal, o PDS Esperança é criado a 54 km de distância da Rodovia Transamazônica e da sede municipal, inicialmente com pouca ou nenhuma infraestrutura como estradas, escolas e energia elétrica. Os camponeses adentraram as matas, estabeleceram-se em seus lotes e construíram casas de pau a pique, vivenciando as relações de conflito com empresários e especuladores que reivindicavam a posse da terra.

Essa realidade marcante, após os anos 2000, tem assumido outro patamar. A luta agora é sustentar o território contra o interesse de fazendeiros e madeireiros que reivindicam, além da posse da terra, o avanço em direção à floresta para retirada ilegal de madeira, e isso gera novos conflitos11. Na análise da questão agrária, que se torna também uma questão ambiental, um exemplo dessa nova acepção é a ambientalização dos conflitos sociais12 (LOPES, 2006).

Um desses conflitos eclodiu no ano de 2011, mulheres e homens bloquearam a entrada na Vicinal Um do PDS Esperança, impedindo a saída de caminhões com toras de madeira ilegal. Ou quando o Entrevistado 1 e a Entrevistada 213 pertencentes à Associação Agroecológica dos Trabalhadores Rurais da Comunidade de Santo Antônio do PDS Anapu (AGROECO), são forçados a se esconder e fugir do pistoleiro, como sucedeu no lote 5514 durante o período de campo em 2018. Essas situações de conflito exemplificam como a situação de fronteira enquanto conflito social continua em curso, e influencia os processos de territorialização das mulheres no PDS Esperança.

10 Para os desafios no PDS, veja Vieira (2011); Santo Junior (2016); Mendes (2012).

11 ANAPU, PARÁ: Conflito entre madeireiros ilegais e trabalhadores assentados se acirra. Repórter Brasil, São Paulo. 17 jan. 2011. Endereço para acesso: https://reporterbrasil.org.br/2011/01/anapu-para- conflito-entre-madeireiros-ilegais-e-trabalhadores-assentados-se-acirra/

12 A ambientalização refere-se a novos fenômenos vistos na perspectiva de um processo, num determinado contexto histórico, associado a um processo de interiorização pelas pessoas e pelos grupos sociais. Torna-se uma nova questão social e uma questão pública (LOPES, 2006, p. 34).

13 Usamos codinomes para resguardar as identidades dos envolvidos.

14 O Lote 55 é uma área com predominância de pastagem, e um local marcado por disputas travadas pelo direito a posse da terra entre os fazendeiros e os camponeses do assentamento. Tanto o lote 55 como o 56 e o 58 foram destinados para o PDS, no entanto, não foram incluídos em sua totalidade.

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Estudos mostram que, na Transamazônica, a terra é a garantia de reprodução social e cultural do modo de vida e da autonomia camponesa. Esse grupo social denominado por nós como campesinato é ligado à terra e ao trabalho familiar, e emigrante de outros municípios ou Estados se forja na realidade de fronteira, como um novo campesinato (HÉBETTE, 2004), que produz com relativa autonomia, mas se reproduz subordinado ao sistema capitalista.

Ao ser assentado na modalidade PDS, a dinâmica de relação com a floresta e a terra é supostamente mantida por normas reguladoras emitidas por órgãos governamentais. Nesse contexto de planejamento territorial, mulheres e homens construiriam seus locais de trabalho e vida, de forma ambientalmente diferenciada e neutra em termos de gênero. No entanto, no campo, de modo geral, e especificamente em áreas com cobertura florestal amazônica, a participação das mulheres no trabalho produtivo, no interior dos lotes familiares, e na comercialização, é marcada por desigualdades de gênero que lhes diminuiu o poder de tomada de decisão e de controle sobre diferentes recursos.

É construída uma subalternização, fundada na ideologia do sistema do patriarcado, que lhes é imposta, assumida como regra advinda de diversas instituições, sendo a família uma delas. Essa condição tende a delimitar espaços e considerar, a partir do sexo, a adequação de lugares a frequentar e definir, através de uma rígida divisão sexual, o que é ou não trabalho de homem e mulher e atribuir valores. Essa distinção perpassa por uma construção social, baseada em relação de poder (SCOTT, 1995), alicerçada no controle da propriedade e da apropriação do território, privilégios social e político.

Essa desigualdade de gênero está presente no interior da família camponesa.

Essa última não é um todo homogêneo e uniforme, antes contém relações assimétricas de poder entre homens e mulheres, e entre adultos e jovens. Por isso, o conceito de gênero é importante para compreender essas relações complexas produzidas e reproduzidas nos diversos âmbitos da interação humana. As famílias no PDS Esperança não escapam a essa realidade, desse modo, torna-se importante analisar, questionar e problematizar o modelo de desigualdade existente entre os gêneros. Pois, ao considerar essas relações, tomando gênero enquanto instrumento analítico da realidade e das formas como os territórios são apropriados, permite contemplar sujeitos sociais historicamente esquecidos e oprimidos, como é o caso dessas mulheres.

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Buscamos não naturalizar seus papeis e espaços, mas analisar as práticas femininas nos lotes familiares e nos espaços coletivos, e como isso influencia em seus processos de territorialização do PDS Esperança. Assim, parte-se do trabalho agrícola e florestal, suas trajetórias, o acesso a recursos socioeconômicos, e passa-se também pelas questões de lazer e sociabilidades, que nos ajudam a compreender como praticam e pensam esse território.

A abordagem territorial, no sentido de espacializar esse trabalho, suas trajetórias e outras atividades, nos permite analisar as relações de gênero numa perspectiva interdisciplinar, combinando aspectos antropológicos e geográficos.

E é nessa abordagem que o conceito elaborado por Sousa (2000) torna-se importante para compreendermos como o território é um espaço definido por e a partir das relações de poder. Conforme sugere o autor, o território é um campo de forças em que as relações sócio espaciais se articulam, através do exercício do poder que caracteriza esses territórios. Essas relações no espaço da unidade familiar não são monolíticas, é também determinada por relações de gênero.

Entendo que o território é composto por noções socialmente construídas de territorialidade e por práticas concretamente vividas no mundo material, especialmente nos componentes terra e águas. Tais noções e práticas se articulam, através da organização social, nos chamados processos de territorialização.

Há varias razões para que determinados grupos sociais se apropriem de um espaço, isso envolve: i) aspectos de organização social, mediante o estabelecimento de uma identidade diferenciada; ii) mecanismos políticos especializados e a redefinição do controle social sobre os recursos ambientais; ii) reelaboração da cultura e da relação com o passado. Essas características são apontadas por Oliveira (1998), como requisitos fundamentais na compreensão dos processos de territorialização. O conceito nos ajudará a entender como essas mulheres ocupam os diferentes espaços, a partir das dimensões do lote e nos ambientes coletivos.

No PDS, as mulheres possuem organização social baseada no modo de vida a partir da especificidade campesina, e não as perdem ao longo das suas trajetórias de vida, mas a transformam. Com diferentes origens em termos geográficos (nordeste, centro oeste e sul), essas famílias migrantes buscam recompor, nesse novo território, suas raízes culturais, solidariedades familiares e de vizinhança, elementos importantes para sua reprodução camponesa (HÉBETTE et al. 2004). Trazem consigo as marcas de

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suas origens traduzidas na linguagem, hábitos de vestir, sistemas de produção, crenças e práticas religiosas (HÉBETTE, 2004).

O modo de vida camponês se baseia no acesso a terra, no trabalho familiar e na relação específica com o mercado (TEDESCHI, 2012), e se expressa na identidade de trabalhadores familiares camponeses.

No PDS Esperança, as diferenças nos processos de territorialização podem ser percebidas também pelo viés religioso. Por exemplo, as mulheres mantém sua territorialização em nível comunitário, na igreja Assembleia de Deus, e no grupo de oração Heroínas da Fé. Numa perspectiva mais socioeconômica, um grupo de mulheres, católicas e crentes, criou o Grupo Girassol, que se aglutina em torno de atividades como horta, artesanato com madeira, construção de um parquinho infantil e atividade de ajuda mútua.

Já nos lotes, são mantidas e reinventadas suas culturas de valor vinculado com o passado, seja pelos tipos de cultivos que se aproximam do costume alimentar de suas regiões de origem, como arroz, cuxá, quiabo, abóbora e feijão. Objetos materiais, como por exemplo, os fogões de barro construídos em sua maioria pelas mulheres são importantes referências de suas culturas. Esses elementos apontam para as características da organização social desse grupo, que busca recompor seu modo de vida, ressignificado, em outro território.

A análise das práticas de ocupação e uso do território permitiu identificar a mulher como protagonista de processos de territorialização específicos, que influencia na produção e reprodução do assentamento, de acordo com seus interesses e efetiva ação. Propomo-nos, através da leitura dessa realidade construída num processo histórico do campesinato em situação de fronteira, argumentar que, no seu interior, é marcado por desigualdade de gênero. A intenção foi pensar analiticamente: como as mulheres protagonizam seus processos de territorialização nos lotes familiares e nos espaços coletivos do território do PDS Esperança?

1.2 Objetivos Geral e Específicos

1.2.1 Objetivo geral

Analisar como as mulheres protagonizam seus processos de territorialização nos lotes familiares e nos espaços coletivos das organizações de mulheres do território do PDS Esperança.

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1.2.2 Objetivos específicos

Apresentar a formação socioespacial da Transamazônica para compreender a realidade social onde essas mulheres estão inseridas;

Descrever processos de territorialização, a partir das trajetórias de vida e do cotidiano das atividades agrícolas e florestais das mulheres do PDS Esperança;

Analisar como os processos de territorialização das mulheres se inserem na dinâmica do assentamento PDS Esperança, considerando-se acesso e controle de recursos socioeconômicos.

1.3 Metodologia

Neste tópico serão apresentados os instrumentos metodológicos utilizados nesta pesquisa. No primeiro momento, apresento a caracterização do local em que se realizou este estudo, em seguida, os motivos para a escolha desse lócus e o foco de nossa pesquisa.

Posteriormente, a imersão e a entrada em campo, as percepções, o contato empírico com a temática, as mulheres, e as mudanças no projeto original. Por fim, os métodos, as ferramentas e técnicas de coleta de dados, assim como, os procedimentos de análise para a construção do texto final. Esses elementos incluem o que chamo de atalhos ou desvios, que não estavam propriamente no caminho traçado. Em alguns momentos, esses desvios se configuraram como uma das preocupações desta pesquisa.

1.3.1 Localização e descrição do local da pesquisa

O PDS Esperança ou PDS Anapu I15 (FIGURA 2) situa-se na Gleba Bacajá numa área de 26.161,6731 hectares (INCRA, 2017) e possuía em 2017 um total de 226 famílias assentadas em quatro vicinais designadas como Vicinal Zero, Vicinal Um, Vicinal Dois e Vicinal Três. O assentamento é constituído por lotes destinados como Áreas de Uso Alternativo (AUA) às famílias, de uso privativo (familiar), via de regra para a agropecuária, medindo em geral 20 hectares. A área de Reserva Legal se encontra ao fundo dos lotes, não sendo parcelada em lotes para as famílias assentadas, essa área é gerida coletivamente, e é destinada à conservação, podendo ter uso apenas através do Manejo Florestal Sustentável (MFS) (FOLHES et al. 2016).

15 Em 2004, uma nova Portaria foi emitida pelo Incra, eliminando -se o PDS Anapu I, pois devido a perdas no campo judicial, não se consolidou a sua arrecadação ao Incra.

Referências

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