• Nenhum resultado encontrado

A discriminação da mulher no mercado de trabalho: uma análise nos anos de 2002 e 2012 no estado do Ceará

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "A discriminação da mulher no mercado de trabalho: uma análise nos anos de 2002 e 2012 no estado do Ceará"

Copied!
56
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE – FEAAC

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO E CONTROLADORIA – MPAC

CYNTHIA PAIVA PIMENTEL

A DISCRIMINAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO – UMA ANÁLISE NOS ANOS DE 2002 E 2012 NO ESTADO DO CEARÁ

(2)

1

CYNTHIA PAIVA PIMENTEL

A DISCRIMINAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO – UMA ANÁLISE NOS ANOS DE 2002 E 2012 NO ESTADO DO CEARÁ

Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Administração e Controladoria, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração e Controladoria. Área de concentração: Estudos Organizacionais e Gestão de Pessoas.

Orientador: Prof. Dr. João Mário Santos de França

(3)

CYNTHIA PAIVA PIMENTEL

A DISCRIMINAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO – UMA ANÁLISE NOS ANOS DE 2002 E 2012 NO ESTADO DO CEARÁ

Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Administração e Controladoria, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração e Controladoria. Área de concentração: Estudos Organizacionais e Gestão de Pessoas.

Aprovada em: ______/______/_________

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Prof. Dr. João Mário Santos de França (Orientador)

Universidade Federal do Ceará - UFC

_____________________________________________ Profa. Dra. Mônica Cavalcanti Sá de Abreu (Membro)

Universidade Federal do Ceará - UFC

_____________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Antônio de Castro Pereira (Membro)

(4)

AGRADECIMENTOS

Aos familiares, pela força de sempre e por erguerem de forma firme e sólida minha estrutura. Aos meus amigos, pelas palavras de incentivo e auxílio.

(5)

“A busca por um ideal de solidariedade humana, a luta contra as discriminações e preconceitos muito bem arraigados em nossa

cultura e, principalmente, o desejo de uma sociedade tolerante, mais justa, menos violenta e eticamente possível é a crença absoluta de uma sociedade e de um grupo de pessoas que acreditam que a vale a pena lutar por algumas utopias, pois elas se tornam ainda necessárias em um mundo onde o diferente nos é tão insuportavelmente estranho que possa valer menos em relação a direitos e deveres”.

(6)

RESUMO

Esse trabalho tem como foco analisar a composição salarial entre gêneros no Estado do Ceará em atributos produtivos e não-produtivos. A partir desse ponto, pretende-se medir a possibilidade de discriminação de gênero. Foram utilizados os dados de 2002 e 2012 da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, para análise da última década. E os dados do Brasil e da região Nordeste também foram coletados para fazer uma comparação com os dados do Ceará. Foram levantados e analisados os dados por setores de atividade econômica, sendo distribuídos da seguinte forma: setor 1: agricultura, setor 2: serviços, setor 3: indústria, setor 4: administração pública e setor 5: de atividades mal definidas. Foi utilizada a decomposição de Oaxaca-Blinder para verificar o quanto dessa diferença salarial se dá devido às diferenças de produtividade. No presente estudo foi identificada a possibilidade de discriminação de gênero em alguns setores de atividade econômica. No Ceará, foi identificado que em 2002 as mulheres ganham menos e têm mais anos de estudos que os homens, sinalizando, assim, a possibilidade de discriminação. Em 2012 o cenário se modificou, as mulheres passaram a ganhar mais e continuaram tendo mais anos de estudos que os homens, sinalizando que não existe a possibilidade de discriminação entre gêneros. Desta forma, esse trabalho tem o papel de contribuir na literatura de discriminação de gênero no sentido de visualizar como está o panorama geral da diferença salarial por atributos produtivos e não-produtivos no Estado do Ceará.

(7)

ABSTRACT

This work focuses on analyzing the wage composition between genders in the state of Ceará in productive and non-productive attributes. From that point, measure the possibility of gender discrimination. We used data from the 2002 and 2012 PNAD - National Survey by Household Sampling for analysis of the last decade. And the data from Brazil and the Northeast were also collected for comparison with the data of Ceará. Were collected and analyzed the data by economic activity sectors, distributed as follows: sector 1: agriculture, sector 2: services, sector 3: industry, sector 4: public administration and sector 5: not defined activities. The Oaxaca-Blinder decomposition was used to determine how much of that wage gap is due to differences in productivity. Ceará was identified in 2002 that women earn less and have more years of education than men, thus signaling the possibility of discrimination. In 2012 the scenario has changed, women began to gain more and continued to have more years of education than men, indicating that there is no possibility of discrimination between genders. One has to consider the relevance of gender discrimination in Brazilian public policies insertion of more skilled workers, be they men or women. Thus, this work has an important role in view as is the overview of the wage gap for productive and non-productive attributes in the State of Ceará.

(8)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição das Pessoas no mercado de trabalho segundo o gênero para Brasil, Nordeste e Ceará... 38 Gráfico 2 - Percentual da participação feminina no mercado de trabalho do Brasil,

Nordeste e Ceará... 39 Gráfico 3 - Percentual da participação feminina, relativa à participação dos homens, no

(9)

LISTA DE QUADROS

(10)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Média salarial em reais por hora segundo o gênero para Brasil, Região Nordeste e Ceará... 39 Tabela 2 - Média de anos de estudo segundo o gênero para Brasil, Região Nordeste e

Ceará... 40 Tabela 3 - Média salarial em reais por hora segundo o gênero para Brasil, Região

Nordeste e Ceará, em cada setor de atividade econômica... 41 Tabela 4 - Média de anos de estudo segundo o gênero para Brasil, Região Nordeste e

Ceará, em cada setor de atividade econômica... 42 Tabela 5 - Distribuição das pessoas no mercado de trabalho segundo o gênero para

Brasil, Região Nordeste e Ceará, em cada setor de atividade econômica... 43 Tabela 6 - Decomposição de Oaxaca-Blinder segundo o gênero para Brasil, Região

(11)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 11

2 REFERENCIAL TEÓRICO... 15

2.1 Contexto histórico... 15

2.2 A discriminação no mercado de trabalho... 19

2.3 Uso da decomposição de Oaxaca-Blinder para identificar a discriminação... 28

3 METODOLOGIA... 33

3.1 Base de dados... 33

3.2 Decomposição de Oaxaca-Blinder... 34

4 RESULTADOS... 37

4.1 Análise descritiva... 37

4.2 Decomposição de Oaxaca-Blinder... 44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 49

(12)

1 INTRODUÇÃO

A participação da mulher no mercado de trabalho vem crescendo a cada dia. Segundo dados da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilio, em 2002 a participação feminina no Brasil era de 39,25% e em 2012 passou para 41,71%. No Nordeste, em 2002 era de 36,85% e em 2012 passou para 39,77%. No Ceará em 2002 era de 38,87% e em 2012 passou para 40,64%. Esse estudo se dá devido a necessidade de verificar se, nos tempos atuais, a mulher ainda sofre discriminação, especificamente no mercado de trabalho do Ceará. Os dados do Nordeste e Brasil também serão considerados para realizar uma comparação com os dados encontrados no Ceará.

Conforme exposto por Abramo (2004, p.1),

Por discriminação se entende, tal como definido na Convenção no. 111 da OIT, que foi ratificada pelo Brasil em 1965, tratar as pessoas em forma diferenciada e menos favorável, a partir de determinadas características pessoais, tais como, entre outras, o sexo, a raça, a cor, a origem étnica, a classe social, a religião, as opiniões políticas, a ascendência nacional, que não estão relacionadas com os seus méritos e nem com as qualificações necessárias ao exercício do seu trabalho.

A importância desse trabalho se dá no sentido de analisar se existe discriminação de gênero do trabalho no Estado do Ceará, utilizando os dados do Nordeste e Brasil para comparações e ainda utilizando os dados de 2002 e 2012 para verificar se houve alguma mudança nos dados encontrados inicialmente. Podendo, desta forma, inferir que políticas públicas devem ser elaboradas para melhorar os números encontrados, tanto quanto à discriminação quanto em relação à melhoria na média salarial de homens e mulheres, possibilitando um acréscimo no poder de compra e portanto no nível de vida das pessoas.

É fácil perceber que as pessoas recebem remunerações diferentes. Isso ocorre devido a alguns fatores, entre eles estão o fato das pessoas terem diferentes qualificações, escolaridade, experiências, entre outros. Quando as pessoas têm o mesmo atributo produtivo e mesmo assim recebem remunerações diferentes, diz-se existir discriminação.

Segundo Souza (2011), “a discriminação da mulher, além de ser uma questão histórica, também é uma questão machista, onde homens e mulheres são avaliados de forma distinta”.

(13)

a) (H1) A diferença salarial entre homens e mulheres pode ser explicada por dois fatores: a dotação e a discriminação;

b) (H2) A discriminação é a maior responsável pela diferença salarial; c) (H3) Houve queda da discriminação no período analisado.

O foco deste trabalho é a diferença salarial de gênero no estado do Ceará. Tem-se, assim, como objetivo geral avaliar a composição salarial em efeitos produtivos e de discriminação. Para que este objetivo geral seja atendido, esta pesquisa irá:

a) Identificar e analisar a diferença salarial entre gêneros no mercado de trabalho cearense comparativamente ao da região Nordeste e do Brasil nos anos de 2002 e 2012.

b) Calcular a discriminação pela medida de Oaxaca-Blinder para analisar a discriminação média nas localidades estudadas no mercado de trabalho cearense comparativamente ao da região Nordeste e do Brasil nos anos de 2002 e 2012.

A decomposição de Oaxaca-Blinder será realizada para verificar o quanto dessa diferença salarial se dá devido a diferenças de produtividade e quanto se dá devido à discriminação. Esse método vem sendo utilizado em trabalhos há algum tempo, pode-se citar os trabalhos de Soares (2000), Reis e Crespo (2005), Guimarães (2006), Bartalotti (2007), Salvato et al. (2008), Miro e Suliano (2010), Souza (2011) e outros.

Há de se considerar a relevância da discriminação de gênero nas políticas públicas brasileiras de inserção de mais trabalhadores capacitados, sejam eles homens ou mulheres. Assim, esse trabalho tem um papel importante no sentido de visualizar como está o panorama geral da diferença salarial por atributos produtivos e não-produtivos no Estado do Ceará.

(14)

Ainda conforme Bonetti (2008, p. 9),

O Brasil tem sido reconhecido, nos últimos anos, pelo grande esforço de inclusão social e econômica que vem desenvolvendo como estratégia de superação da pobreza – meta que, para ser alcançada neste país, deve necessariamente passar pela superação das iniqüidades. Neste particular, já aprendemos que tanto a pobreza quanto a desigualdade têm sexo e cor. De uma forma geral, o país, em função desses esforços, já teve resultados muito significativos.

O tema de discriminação de gênero tem importância mundial, órgãos como OIT (Organização Internacional do Trabalho) e PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) tratam da redução da discriminação tanto no aspecto econômico como no social. Conforme exposto por Souza (2011, p. 9),

A OIT, na Declaração sobre os Princípios e Direitos Fundamentais de 1998, destaca entre os direitos fundamentais a eliminação da discriminação com relação ao emprego e ocupação, reforçando o incentivo a ações políticas que combatam quaisquer discriminações, sejam elas por preconceitos de raça, étnico, orientações religiosas, sexual, deficiência física ou idade.

Assim, pode-se perceber que a discriminação de gênero é tema importante no mundo, então o mesmo deverá ter importância destacada no Brasil, devido aos indicadores sociais que mostram a grande desigualdade existente. Acredita-se que os dados aqui levantados e analisados poderão servir de base para análises em outras regiões do país com o intuito de reduzir a diferença salarial contribuindo assim para mehorar o nível de vida das pessoas. Entendendo que assim a discriminação será reduzida e poderá haver uma igualdade de remuneração salarial, que deverá levar em conta apenas atributos produtivos de capacidade. Podendo ainda contribuir para que alguns institutos possam analisar melhor a situação do Brasil, como por exemplo, o de Pesquisa de Emprego e Desemprego, que já possui dados relevantes e poderá conjuntamente com esse trabalho perceber que mais atitudes são necessárias para melhorar o nível de renda e de vida das pessoas.

Conforme Marinho e Nogueira (2006), “acredita-se que a discriminação no mercado de trabalho seja uma das principais fontes da desigualdade de rendimentos entre raça e gênero no Brasil e, portanto, da pobreza desses indivíduos”. Dessa forma a discriminação de raça e gênero deve ser analisada e considerada nas políticas de emprego para inclusão social e redução da pobreza. No sentido de aumentar a participação dos grupos discriminados no mercado de trabalho de uma forma igualitária.

(15)

Alguns trabalhos foram realizados no sentido de analisar os diferenciais de renda, tais como Leme e Wajnman (2001) e muitos outros autores que serão citados nesse estudo. Também terão destaque os trabalhos com base na inserção ocupacional que foram objeto de estudo de Dedecca (2001); dos trabalhadores dos Estados Unidos e do Brasil podem ser vistas em Sacconato e Menezes Filho (2001); dos mercados de trabalho rurais e urbanos são analisadas em Loureiro e Carneiro (2001); dos mercados formais e informais de trabalho estão registradas em Silva e Kassouf (2000); e das regulamentações dos mercados de trabalho são tratadas em Fernandes (1996).

Também existem trabalhos com foco nos estudos entre regiões metropolitanas, como por exemplo o de Menezes, Carrera-Fernandez e Dedeca (2005) e outros estudos citados acima por sua metodologia ou objeto de estudo.

(16)

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Existe uma diferença básica entre preconceito e discriminação. Para Silva (2010) “o sentimento de desconsideração e desmerecimento do outro ou da concepção de que esse outro, por algum motivo, possa ser alguém de menor valor e possuir menos direitos que eu, chamamos de preconceito”. O preconceito está no inconsciente da sociedade, sendo elaborado a partir do prévio julgamento. Conforme apontado por Lima (2005) “caracteriza-se o preconceito quando, sem as informações necessárias, utilizam-se idéias pré-concebidas, extraídas do pensamento dominante da sociedade a qual se pertença, e estas idéias são assimiladas sem passarem por um julgamento crítico próprio”. Por sua vez, a discriminação é a distinção que se faz de uma pessoa ou um grupo. Segundo Lima (2005) “quando se fala em discriminação, é certo que a interpretação utilizada é a pejorativa; imagina-se, de pronto, que determinada pessoa ou grupo esteja sofrendo algum tipo de diferenciação no tratamento de maneira negativa, excluindo-a ou constrangendo-a”. Portanto, Silva (2010) destaca que “a discriminação ocorre justamente quando a attitude ou esse ato-pensamento cria uma distinção entre os outros ou sobre os outros: gera, então, um tratamento diferencial e, em consequência, um preconceito”. Pode-se entender que o preconceito é apenas uma ideia, um conceito preconcebido sobre algo ou alguém, já a discriminação é quando existe uma atitude, é a ideia posta em prática, gerando muitas vezes um desconforto para quem é discriminado.

2.1 Contexto histórico

(17)

Este cenário, no entanto começou a mudar desde a I e II Guerra Mundial, quando a mulher teve que assumir atividades atribuídas ao homem em função da escassez de mão de obra, conforme comentado por Probst (2003). Com o surgimento da Revolução Industrial a mulher teve incentivo para se inserir nas fábricas. Para Lima (2005):

Vários motivos ensejaram esta abertura ao trabalho feminino: simplificação de tarefas, redução do esforço muscular dado o desenvolvimento da maquinaria, a necessidade de vultosa quantidade de trabalhadores para atender à demanda das indústrias e, sobremodo, os salários menores pagos às mulheres.

Assim as mulheres passaram a ser preferência no trabalho industrial, com salários menores do que os dos homens e com o mesmo nível de exigência. Assim percebe-se a desvalorização do trabalho da mulher e a opressão sob a qual elas foram submetidas. Conforme citado por Bellucci (2011) “no caso brasileiro mais especificamente, a mulher aparece na maioria das vezes para evidenciar ainda mais a sociedade de classes, ou seja, quando é necessário baixar os custos de produção, e é preciso elevar o crescimento econômico”.

Louro (2004, p. 15) enfatiza que:

A França, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha são locais especialmente notáveis para observar intelectuais, estudantes, negros, mulheres, jovens, enfim, diferentes grupos que, de muitos modos, expressam sua inconformidade e desencanto em relação aos tradicionais arranjos sociais e politicos, às grandes teorias universais, ao vazio formalismo acadêmico, à discriminação, à segregação e ao silenciamento.

A partir da mudança no contexto laboral, várias leis de proteção aos trabalhadores de um modo geral, e posteriormente de proteção às mulheres foram sendo elaboradas. E assim permitiu-se que nos últimos anos as mulheres tenham ascendido a postos de comando em alguns setores da economia, bem como também tenham aumentado o número de mulheres em postos de trabalho considerados mais operacionais (IBGE, 2012).

Segundo disposto por Lima (2005, p. 31):

As normas dispunham sobre a proibição de discriminação quanto ao salário por motivo de sexo, vedação do trabalho em locais insalubres, garantia a repouso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, instituição de previdência a favor da maternidade, proibição de diferença salarial por motivo de sexo, inclusive quanto ao critério de admissão, vedação do trabalho em indústrias insalubres, aposentadoria etc.

(18)

discriminatória contra a mulher, cujo ápice desta rejeição discriminatória foi previsto no artigo constitucional, em que dispõe que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. A Constituição de 1988, ainda em vigor, tem como premissa básica no Art. 5º. “que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”. Assim percebe-se claramente que a luta das mulheres poderia até ser maior, utilizando a nossa Constituição que garante direito e obrigações que não são cumpridos e que deveriam ser. Necessário destacar que ao longo tempo, antes e após a Constituição de 1988, outros direitos (assim como obrigações) foram adquiridos, no sentido de proteger os trabalhadores de uma forma geral e no sentido mais específico, aos grupos que sofrem discriminação, dentre eles as mulheres. Para Lima (2008) “neste viés, a trajetória das mulheres, foi descrita paulatinamente sobre os moldes das atividades de mobilização social, desenvolvidas pelos movimentos sociais feministas, que de forma contundente denunciaram a intensa disparidade em que a mulher havia sido inserida”.

Para Crenshaw (2002):

As ONGs e outras instituições devem se envolver nos esforços simultâneos de investigação das implicaçõs de gênero do racismo, da xenofobia e de outras formas de intolerância e de maior conscientização quanto às implicações de raça, etnia, cor e outros fatores que contribuem para uma combinação de abusos dos direitos humanos que mulheres e, por vezes, homens enfrentam.

Assim entende-se a importância dos movimentos feministas, das inclusões de direitos em leis e a participação de toda a sociedade nesse processo, seja dentro de órgãos, seja dentro de empresas privadas ou mesmo na educação atual de meninos e meninas.

Ainda, segundo Lima (2008) “verifica-se que ao longo da história, a mulher foi descrita e considerada como um ser inferior ao homem, sem pretensões, apenas com inclinação estritamente para o lar, de pouca capacidade intelectual e, destinada ao casamento e a maternidade”.

Silva (2010) destaca que a desigualdade entre homens e mulheres é antiga e acontece em quase todas as culturas do mundo. Assim Silva (2010, p. 559) enfatiza que:

(19)

Conforme resaltado por Bellucci (2011) “o movimento feminista brasileiro conquistou espaços políticos importantes; levantou sua primeira bandeira na segunda década do século XX, o direito ao voto; entre outras conquistas sempre levantadas por mulheres de fibra, lutadoras e insatisfeitas com a posição de inferioridade que lhes cabia”.

A revolução feminista tinha dois objetivos: um deles era lutar contra a ditadura participando de movimentos de resistência inspiradas no feminismo europeu e norte-americano. O outro objetivo, conforme mencionado por Barsted (2008) “apresentava-se como um ator social novo na luta pelo reconhecimento da condição da mulher, enquanto, problemática social”, com base na denúncia da discriminação e na luta pela igualdade de direitos. Aliado a isso tem-se a crise do capitalismo, na década de 60, que impôs a mulher a entrar no mercado de trabalho como forma de ajudar na renda familiar.

Em paralelo, no âmbito mundial também ocorre um fato marcante é o Dia Internacional da Mulher, onde de acordo com as narrativas da época, algumas tecelãs de uma fábrica de New York foram queimadas vivas por lutar por alguns direitos. Esse fato aconteceu em 08 de março de 1857 e até hoje nessa data celebra-se o dia internacional da mulher para lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres.

Nos dias atuais essa data ainda tem importância. Em 2008 a ONU – Organização das Nações Unidas lançou uma campanha, “As Mulheres Fazem a Notícia”, com o objetivo de trabalhar a igualdade de gêneros. Daí percebe-se que o tema discriminação é de suma importância e continua sendo relevante e é pauta de discussões de organizações mundiais na atualidade.

Assim, com o passar do tempo têm-se percebido que as mulheres, cada vez mais, têm participado do mercado de trabalho. E assim como alguns grupos (negros, homossexuais e etc) as mulheres também sofrem algumas desigualdades no mercado de trabalho, que pode ser entendido como discriminação.

(20)

2.2 A discriminação no mercado de trabalho

Observa-se o aumento da participação da mulher e mesmo tendo acontecido algumas mudanças, a mulher ainda enfrenta problemas no mercado de trabalho, então sabe-se portanto, que a desigualdade ainda persiste em aspetos fundamentais. Santos e Alves (2011) identificam três tipos de discriminações as quais as mulheres estão sujeitas nas relações trabalhistas, são elas: discriminação quanto ao salário, discriminação quanto ao preenchimento de cargos e funções e discriminação quanto às profissões.

Santos e Alves (2011) destacam que a discriminação por gênero no mercado de trabalho se dá pelo tratamento desigual na remuneração, quando essas pessoas têm a mesma formação educacional e experiência profissional, ou seja, tem os mesmos atributos produtivos.

Quando as mulheres entraram no mercado foram indicadas para setores da atividade que normalmente pagam menos, como prestação de serviços domésticos, pessoais e outros sem muita especialização, essa é uma das justificativas para a desigualdade de renda entre homens e mulheres. Probst (2003) diz que este comportamento acentua-se pela crença de que já estando o homem trabalhando não seria necessário que a mulher trabalhasse. Era esta “crença”, que segundo a autora, permitiu que a mulher fosse submetida a extenuantes jornadas de trabalho com uma remuneração inferior a do homem. Supõe-se que quanto melhor o nível de escolaridade, melhor será a remuneração, porém no caso das mulheres isso nem sempre acontece. Ainda segundo Santos e Alves (2011), enquanto para os homens atingir o grau superior significa aumentar seus rendimentos 4,2 vezes, para as mulheres, o mesmo esforço eleva 3,6 vezes sua remuneração. Segundo Probst (2003, p. 3):

Em uma pesquisa recente feita pelo Grupo Catho, empresa de recrutamento e seleção de executivos, as mulheres conquistam cargos de direção mais cedo. Tornam-se diretoras, em média, aos 36 anos de idade. Os homens chegam lá depois dos 40. No entanto, essas executivas ganham, em média, 22,8% menos que os homens nos mesmos cargos. A boa notícia é que essa diferença nos rendimentos vem caindo rapidamente. Por estar a menos tempo no mercado, é natural que elas tenham currículos menos robustos que os dos homens. A diferença nos ganhos tende a inexistir em futuro próximo.

(21)

salários menores, implicando assim na qualidade de trabalho oferecido as mulheres, que normalmente é inferior que o trabalho oferecido aos homens. Estas dificuldades podem ser um indicativo de que o preconceito ainda existe e persiste ao longo do tempo.

Segundo Bartalotti e Leme (2007) “o setor público discimina menos do que o privado; as regras de contratação e a isonomia por cargo previnem tanto a discriminação por cor como por sexo, sendo as mulheres negras as mais beneficiadas”. Esses autores destacam ainda que a desigualdade social se dá devido a alta concentração de renda do Brasil.

Além da necessidade de conciliar o trabalho com os afazeres domésticos, muitas mulheres exercem atividades estereotipadas como exclusivamente femininas, como as funções de secretaria, enfermeira e etc.

As mulheres dedicam-se muito ao trabalho e, quase que institivamente, aos afazeres domésticos, resultando num grau de estresse maior do que homem. Mesmo com toda a dedicação, a mulher encontra dificuldade em subir de cargo, por isso o número de mulheres em cargo diretivo é menor do que o de homem.

Segundo a Revista Carta Capital (2011, p. 104) no ano de 2004 foi analisado o desempenho de algumas empresas listadas na Fortune 500 pela Catalyst e a mesma encontrou como resultado que o grupo com maior participação de mulheres na alta administração tinha um retorno bem maior para suas ações do que aquelas com menor participação. Essa análise foi refeita com as mesmas empresas, após três anos da anterior e novamente como resultado descobriu-se que aquelas empresas com mais mulheres eram, na média, mais lucrativas e mais eficientes que as empresas com menos. A revista destaca ainda que segundo Ilene Lang, CEO da Catalyst, diz que “uma única mulher no conselho é vista como mascote e duas como dupla, mas, quando o número chega a três ou mais, cada mulher é vista como um indivíduo por direito próprio”.

Portanto, a mulher além de cumprir a jornada de trabalho fora de casa, muitas vezes tem que esforçar-se sobremaneira, mostrando sua competência, sem faltar nas atividades domésticas como, casa e filhos, conjugando tudo dentro da ordem. É necessário destacar ainda a imagem básica da mulher, de mãe, dona de casa, que estará sempre na base, projetando a outra imagem, de mulher trabalhadora (ABRAMO 1998).

(22)

atividades domésticas, enquanto que os homens trabalham 10,6 horas por semana. Assim vê-se que possivelmente a dedicação da mulher aos afazeres domésticos possa vê-ser um entrave a inserção ao trabalho fora de casa ou que a mesma terá que realizar um esforço grande para manutenção de todas essas atividades, dentro e fora de casa, que pode acarretar em redução na qualidade de vida, conforme mencionado por Bonetti (2008), implicando na precarização da vida, redução das oportunidades de interação social e de usufruir de bens de educação e de cultura e falta de descanso e de lazer (com impacto direto sobre a saúde). Com destaque para Lowell (1995) que menciona que emprego e renda estão diretamente relacionados a bem-estar. Atrelado a tudo isso têm-se a falta de valor social e econômico dos afazeres domésticos.

Nessa mesma pesquisa em 2001, as mulheres declaram trabalhar 30,9 horas por semana, enquanto, os homens declararam trabalhar 11,2 horas por semana. Vale ressaltar que houve uma redução de 4 horas semanais trabalhadas pelas mulheres e um dos fatores que pode explicar essa redução é o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho.

Para Lowell (1995), “o afastamento dos serviços pessoais pelas mulheres às levou a aumentar seu status sócio-econômico”. Assim acredita-se que ao longo do tempo a mulher vem ampliando sua participação no mercado de trabalho e reduzindo suas atividades domésticas. Talvez exista uma maior colaboração masculina nesse sentido e a necessidade de aumentar o nível de renda das famílias, sejam elas chefiadas por mulheres ou não.

Maciel et al. (2001) destaca que a participação da mulher no mercado de trabalho do Brasil esta aumentando por três questões: desníveis sócio-econômicos por gênero, à redução da pobreza e ao comportamento geral do mercado de trabalho. Segundo esses autores, a educação é um fator importante no aumento da participação no mercado de trabalho, daí a necessidade de se relacionar a diferença salarial com a educação. Já que se espera um melhor nível de salários para trabalhadores com melhor nível de qualificação, independente do sexo e da raça ou de qualquer outro quesito que possa ser considerado discriminatório.

Bonetti (2008) conclui mencionando que apesar de todas as mudanças na vida social e nas questões familiares as mudanças são mais difíceis devido aos aspectos culturais de cada sociedade. Muitas questões sociais, políticas e econômicas ainda precisam ser revistas e realizadas concretamente. Como destacado por Lima (2008) essas questões se tornam mais complexas “quando se trata das mulheres negras, que carregam consigo a marca no cotidiano dos reflexos do sistema politico escravocrata que vigeu no Brasil por mais de três séculos”.

(23)

comprovação desses fatores. Somando a esses fatores está o alto custo da manutenção da mulher no trabalho, como licença maternidade, mesmo que parte desses custos sejam do Estado.

Para Machado e Matos (2006) a redução na taxa de fecundidade e a diminuição no tamanho das famílias está permitindo a mulher dividir melhor seu tempo entre o trabalho fora de casa e os afazeres domésticos. Conforme destacado por Lopes (2010) “ademais, quanto mais se propaga a civilização, menos se procria”. Pode-se entender que no Brasil o número de nascimentos esta caindo ao longo do tempo e a inserção da mulher no mercado pode ser um dos motivos para tal resultado.

Para Abramo (2004) “a inserção no mercado de trabalho é um indicador relevante de avanço para as mulheres, já que se constitui um fator cada vez mais importante para aumentar o seu grau de autonomia pessoal, assim como seus níveis de bem-estar (próprio e de suas famílias)”. Assim pode-se entender que para aumentar esse bem-estar e com a redução da taxa de fecundidade, a mulher passa a se inserir cada vez mais no mercado de trabalho, mesmo estando em cargos normalmente que recebem menores salários. Dai a necessidade de se qualificar cada vez mais, resultando em um aumento nas taxas de escolaridade das mulheres.

Segundo Abramo (2004) a participação da mulher no mercado de trabalho, assim como a escolaridade estão relacionados com a situação econômica das mesmas, “as taxas de participação das mulheres mais pobres e com menos escolaridade são significativamente inferiores àquelas observadas nos grupos de mulheres com rendimentos médios e altos”. Acredita-se que as mulheres mais pobres devem enfrentar maiores dificuldades para se inserir no trabalho fora de casa que as mulheres com poder aquisitivo maior. Uma dessas dificuldades pode ser quanto aos afazeres domésticos, que para as mulheres mais pobres é mais difícil de contornar a situação dentro de casa. De acordo com Hoffmam e Leone (2004, p. 43),

O aumento da participação da renda da mulher na renda domiciliar é mais uma conseqüência da ampliação da participação da mulher no mercado de trabalho do que um aumento da renda da mulher que trabalha, embora tenha ocorrido substancial aumento na relação entre rendimentos individuais de trabalho de mulheres e homens.

(24)

mulheres. Nesse sentido a mulher passa a desempenhar outros papéis, além do papel de mãe e dona-de-casa, já que com essa revolução feminista as mulheres acrescentam outros valores como critérios de realização pessoal, passando assim a ter o desejo de desenvolver uma carreira e ganhar dinheiro para aumentar seu padrão de vida.

Machado e Matos (2006) ainda destacam que durante muito tempo o homem possuía nível escolar maior do que as mulheres, já que eles eram os responsáveis em sustentar as famílias e recebiam incentivos para estudar, enquanto as mulheres eram responsáveis pelos afazeres domésticos. Com o crescente aumento da participação feminina no mercado de trabalho esse quadro começou a se modificar. As mulheres começaram a se qualificar cada vez mais por diversos fatores, por ter mais tempo livre, por ter necessidade de competir com o sexo masculino e entrar no mercado de trabalho, para melhorar seus níveis salariais e outros.

No Brasil quando o ensino começou a se articular de forma organizada,

As mulheres – honestas e prudentes – ficaram responsáveis pela educação das meninas e os homens pela educação dos meninos, definindo e dividindo muito bem o papel de cada gênero na sociedade; as meninas os trabalhos domésticos e a importância do cuidar e aos meninos as carreiras promissoras e o entendimento da necessidade das hierarquias (BELLUCCI, 2011).

Ainda segundo Bellucci (2011, p. 1):

A escola reproduz a discriminação de gênero através da sua forma de organização, onde a mulher, na maioria das vezes ocupa o cargo de professora e o homem, quando aparece, ocupa cargos de maior visibilidade social, como os de diretores/supervisores, legitimando as hierarquias sexistas e reproduzindo o quadro familiar de pai autoridade e mãe zelosa.

Percebe-se então que nas escolas também existe discriminação ao trabalho da mulher.

As universidades devem aproveitar seu espaço e sua importância para trabalhar os valores éticos e morais, de justiça e liberdade em benefício da sociedade. Segundo Bottoni et al. (2013) “a educação é a base do desenvolvimento econômico, politico e social e o principal instrumento para reduzir as desigualdades e a criminalidade, no entanto, o problema ainda é bastante complexo”.

(25)

por outro lado, essa professora tinha mais instruções, trabalhava fora de casa, tinha a possibilidade de circular pelo espaço público e ainda possuiam salário, podendo assim se sustentar. Essas mulheres eram consideradas diferentes e com características masculinas.

Já para Bourdieu (2005, p. 28):

É na lógica da economica de trocas simbólicas – e, mais precisamente, na construção social das relações de parentesco e do casamento, em que se determina às mulheres seu estatuto social de objetos de troca, definidos segundo os interesses masculinos, e destinados assim a contribuir para a reprodução do capital simbólico dos homens -, que reside a explicação do primado concedido à masculinidade nas taxinomas culturais.

Esse autor ainda acrescenta que é dificil ser homem, por que está sempre atrelado a ideia de virilidade e de sustento da casa e da família. Daí a obrigatoriedade do homem trabalhar fora de casa e como a mulher tinha a função de cuidar da casa, estaria designada a trabalhar dentro de casa. Assim as funções masculinas e femininas ficaram determindas ao longo do tempo.

É possível perceber ainda hoje, que as escolas encaminham homens e mulheres em sentidos diferentes. As mulheres são conduzidas a escolher as profissões que a deixarão no mercado de trabalho sem alterar tanto a vida doméstica, mesmo que essas profissões sejam desvalorizadas, podendo ser na área da educação ou profissões subordinadas a outras ou de cuidadoras, como enfermeira, doméstica, babá, entre outras (assim pode-se explicar por que tantas mulheres estão nesses cargos) conforme destacado por Bellucci (2011).

Porém a educação pode ser utilizada para diminuir a desigualdade, que é encontrada dentro das próprias escolas, conforme enfatizou Bellucci (2011). Podendo iniciar desmestificando a ideia que as meninas devem ser meigas e delicadas; e que meninos devem ser agitados e agressivos. Mesmo que essas ideias sejam opressoras e que as meninas e os meninos que não se encaixam nesses padrões pré-estabelecidos, e assim possam ser alvos de preconceitos e discriminação, as escolas podem gerar um ambiente de discussão em que positivamente poderia ser utilizado para alterar esse quadro em benefício da igualdade de gênero.

(26)

A diferença biológica entre os sexos, isto é, entre o corpo masculino e o corpo feminino, e, especificamente, a diferença anatômica entre os órgãos sexuais, pode assim ser vista como justificativa natural da diferença socialmente construída entre os gêneros e, principalmente, da divisão social do trabalho.

Existem ainda estudos sobre a economia da discriminação que é definida como o tratamento desigual baseado em critério irrelevante para a atividade envolvida, conforme mencionado por Loureiro (2003). A economia da discriminação pode ser estudada sob os aspectos do mercado de trabalho, entre as vizinhanças, segregação profissional, de linguagem, aparência física, dentro da família, e outros. Becker (1957) iniciou os estudos da economia da discriminação no mercado de trabalho.

Loureiro (2003) afirma que:

A existência de discriminação econômica no mercado de trabalho se dá quando um grupo de indivíduos que têm habilidades, educação, treinamento, experiência e produtividade iguais recebem salários diferentes ou recebem tratamento diferenciado por causa de sua raça, sexo, cor, religião, idioma, condição econômica e social, aparência física e etnia, sem que essas características tenham efeito sobre sua produtividade.

Ainda conforme Loureiro (2003) a discriminação (de gênero e de raça) no mercado de trabalho pode ser classificada sob quatro aspectos: discriminação salarial, discriminação de emprego, discriminação de trabalho ou ocupacional e ainda discriminação ao acesso do capital humano.

A discriminação no mercado de trabalho sob o aspecto salarial é quando indivíduos recebem salário menores que os trabalhadores do sexo masculino brancos desempenhando o mesmo trabalho.

A discrminaçao no mercado de trabalho sob o aspecto de emprego é quando mulheres e negros estão em desvantagem quanto a oferta de empregos, sendo assim os mais atingidos pelo desemprego.

A discriminaçao no mercado de trabalho sob o aspecto de trabalho ou ocupacional é quando mulheres e negros são restringidos ou proibidos de ocupar certos cargos mesmo que tenham a mesma capacidade de homens brancos.

Já a discriminação no mercado de trabalho sob o aspecto do capital humano é quando mulheres e negros tem menos chance de aumentar a sua produtividade, tipo educação e treinamento no ambiente de trabalho.

(27)

no mercado de trabalho sob o aspecto do acesso ao capital humano é conhecida como “premarket discrimination” ou ainda como “discriminação indireta” por que os indivíduos se deparam com esta mesmo antes de entrar no mercado de trabalho.

Existe ainda a teoria da discriminção de Becker (1957) que menciona três preferências de discriminação: discriminação do empregador, do empregado e do consumidor. Ou seja, num mercado competitivo, cada agente pode ter suas preferências e agir conforme as mesmas. Devido ao comportamento racional dos indivíduos os mesmos terão comportamento discriminatório. Assim nesse tipo de economia os trabalhadores podem negociar através do sexo, raça, religião e etnia. Os indivíduos que tem preferência por discriminar devem estar dispostos a pagar algo diretamente ou indiretamente para conseguir o que querem. Portanto têm-se a essência da discriminação ou do preconceito. Para Loureiro (2003) “a discriminaçao consiste basicamente em reduzir lucros, salários ou renda para manter o preconceito de algum tipo”.

Segundo essa teoria os consumidores também podem ser agentes discriminatórios quando, por exemplo, tem preferência em ser atendido por um tipo ou outro de pessoa, gerando assim a discriminação e a redução de salários nesse tipo de pessoa que esta sendo discriminada. Ainda, seguindo a linha da teoria de Becker (1957) se um empregador tem preferência em discriminar, ele está disposto a pagar mais ou menos a determinado grupo. Segundo Loureiro (2005), “custos mais altos e pressões competitivas eliminarão qualquer discriminação que eventualmente possa existir”. E tem a discriminação do próprio trabalhador quando os brancos discriminam os negros, ou ainda quando os homens discriminam as mulheres.

Para Loureiro (2003),

As principais críticas feitas ao modelo de Becker são: a) é insatisfatório para explicar fenômeno através de gostos, desde que em última instância todo o fenômeno econômico pode ser explicado invocando a função de utilidade; b) é a exagerada ênfase no pressuposto de que em um mercado competitivo, a discriminação seria afastada pelos não discriminadores, tendo como um dos possíveis resultados a segregação entre os indivíduos com salários iguais.

(28)

do salário”. Não existe a preferência em discriminar pelo gosto ou preconceito. Ou ainda a discriminação por estatística será devido à falta de informação em relação a um indivíduo fazendo com que o mesmo receba salário diferente mesmo tendo a mesma produtividade que outro indivíduo.

Segundo Neto (2007) para algumas empresas é lucrativo discriminar alguns grupos. Partindo do pressuposto que os homens são mais valorizados seria melhor contratar mulheres, que ganhariam menos e tem a mesma capacidade produtiva. Essa é conhecida como a teoria do poder do monopólio.

Baseado em Soares (2000), se o mercado de trabalho funcionasse sem discriminação, o preço implícito dos atributos produtivos seria o mesmo para todos os indivíduos. Conforme mostrado acima, existem muitas teorias sobre discriminação, porém é dificil alocá-las de uma forma só. Como mencionado por Arbache e De Negri (2004), “não há como classificar as teorias de diferencial de salários por ordem de importância, já que uma teoria pode ser mais adequada que outra para explicar fenômenos de mercados de trabalho específicos”.

Há ainda que se considerar duas formas de diferenciação (quando se faz uma análise de gênero): uma é a discriminação salarial e a outra é a segregação profissional. Encontramos discriminação salarial quando a mulher recebe menos tendo a mesma experiência e função do homem. E a segregação profissional é encontrada em situações que a mulher ocupa cargos inferiores aos homens mesmo tendo o mesmo treinamento e capacidade produtiva.

Segundo a Revista Carta Capital (2011, p. 104):

A Mckinsey estudou em 2007 mais de 230 empresas públicas e privadas e organizações não lucrativas com um total de 115 mil empregados no mundo todo e descobriu que aquelas com um número significativo de mulheres na alta administração saíram-se melhor em uma série de critérios, inclusive liderança, prestação de contas e inovação, que estavam fortemente associadas com margens de operação e capitalização de mercado mais altas. Ningúem está afirmando que há evidências de uma ligação causal, mas os resultados são tão consistentes que promover mulheres parece uma boa ideia, só para garantir.

Para Machado Neto (2007), “a diferença existente entre as duas formas mais comuns de diferenciação é que a primeira se manifesta através de um maior ganho salarial, enquanto a segunda manifesta-se pelo alcance de determinado grupo de indivíduos a cargos de maior responsabilidade”.

(29)

No mercado de trabalho, a discriminação provoca mal uso dos recursos humanos, na medida que os agentes econômicos, em se utilizando das disparidades de remuneração, alimentam formas rígidas de relações de trabalho, permitindo uma ineficiência da atividade econômica. A formação de estereótipos masculinos e femininos, além de falsear a imagem social de importantes segmentos humanos, afetam negativamente os estímulos às qualificações, contribuindo para a perpetuação de desigualdades sócio-econômicas.

2.3 Uso da decomposição de Oaxaca-Blinder para identificar a discriminação

A decomposição de Oaxaca-Blinder (1973) é uma das metodologias que propõe um estudo do efeito discriminação. Esse método propõe identificar o quanto da renda é composta por atributos produtivos e quanto dessa renda é composta por atributos não-produtivos. Nessa questão dos atributos produtivso é que pode-se relacionar com a discriminação que poderá ser de gênero, de raça ou ambos. Assim essa decomposição mensura, dentro de suas limitações, o peso da discriminação na formação salarial (GUIMARÃES, 2006). E será utilizada nesse estudo para mensurar se existe a possibilidade de discriminação no Estado do Ceará. Os dados de 2002 serão utilizados para verificar como essa questão se apresenta ao longo da ultima década. Sendo essa uma das hipóteses estudada.

(30)

cor foi incluída no questionário principal e 1998 por ser o ano mais recente da época do trabalho.

Reis e Crespo (2005) que analisaram os dados da PNAD para o período de 1987 a 2002 no Brasil buscando associar a discriminação racial à idade, período e efeitos de coortes. Como resultado quanto à idade tem-se que o efeito coorte é menor para as gerações mais novas e o efeito idade é maior para os mais jovens e quanto ao período tem-se que nos momentos de inflação alta as taxas de discriminação são menores. Como o próprio autor informa “apesar da acentuada diferença de rendimentos entre trabalhadores brancos e negros, este resultado é bem menos intenso para as gerações mais novas”.

Para Guimarães (2006), a decomposição de Oaxaca-Blinder foi utilizada para mensurar se há indícios de discriminação contra trabalhadores negros no Brasil utilizando dados da PNAD no período de 2002 e foi encontrado que a elevada diferença salarial reflete uma elevada desigualdade racial. A análise do modelo permite apontar novas políticas públicas direcionadas para a redução das desigualdades salariais entre esses dois grupos de indivíduos. Esse autor comenta que a discriminação racial além de ser crime diante da Constituição é considerada pecado para a sociedade, porém está presente nas relações do mercado de trabalho brasileiro.

Em Bartalotti (2007) foi realizado um exame da desigualdade salarial no Brasil com enfoque sobre a discriminação salarial por cor e gênero utilizando a técnica de regressões quantílicas para a decomposição de Oaxaca-Blinder utilizando os dados da PNAD de 2004. Encontrando como resultado que a mulher negra está na pior situação de todos os grupos estudados (homem branco, homem negro, mulher branca e mulher negra), sofrendo discriminação tanto de cor como de gênero. Sugerindo ainda que ações devem ser tomadas para reduzir essa discriminação. E que devido às regras de contratação e isonomia de cargos, o setor público discrimina menos que o setor privado, beneficiando assim as mulheres negras, que o autor destacou como sendo a que sofre maior discriminação.

(31)

No trabalho de Miro e Suliano (2010) essa metodologia foi adotada para analisar como os atributos produtivos e os não-produtivos se comportam no mercado de trabalho brasileiro, utilizado os dados empilhados da PNAD de 2001 a 2010, considerando as regiões Sudeste e Nordeste e propondo uma nova medida de capital humano. Em seus resultados destacou-se que os homens brancos estão em posição mais favorável. Em suas considerações finais o autor destaca que “no Brasil, além de se arcar com uma maior escassez de recursos resultantes de uma formação econômica com desiguais oportunidades, existe também um preço associado à cor”.

Em Souza (2011) a decomposição de Oaxaca-Blinder é utilizada para medir a discriminação de gênero e raça, nos períodos de 2002, 2006 e 2009 como fator explicativo das diferenças salariais, no Brasil e suas regiões. Um dos resultados encontrados é que as mulheres não-brancas compõem o grupo mais discriminado, seguido de mulheres brancas e homens não-brancos. Destaque também para o resultado de que toda a diferença salarial é explicada pela discriminação, com base no efeito dotação. E que o aumento no nível de escolaridade diminui a discriminação.

Segundo Silva e Kassouf (2000) as diferenças de inserção ocupacional entre homens e mulheres se dá devido a um círculo vicioso para a força de trabalho feminino; menores oportunidades de acesso a bons cargos nas empresas, para esses cargos é que são oferecidos cursos e treinamentos, assim as mulheres têm menos acesso a capacitação por estarem de fora dos melhores cargos, tendo como reflexo menores salários. As políticas para amenizar o problema da diferença de rendimentos são medidas a longo prazo de redução nas desigualdades das diferenças regionais, pois as regiões menos desenvolvidas, são as regiões que possuem mais trabalhadores informais e menores salários.

Para Sacconato e Menezes Filho (2001) os trabalhadores americanos parecem apresentar um nível de bem-estar maior que os brasileiros, pois recebem um salário maior trabalhando menos horas semanais, com uma média educacional maior. Tudo isso leva a crer que o trabalhador americano tenha uma produtividade maior do que o brasileiro. E que os trabalhadores americanos recebem cerca de 5 vezes mais que os trabalhadores brasileiros, e que possuem uma distribuição de renda mais justa, indicando um padrão mais estável.

(32)

regionais, as quais expressam a organização de cada um dos mercados de trabalho. Assim os trabalhadores da região metropolitana de São Paulo, relativamente àqueles de Salvador, recebem mais por possuírem dotações mais elevadas de atributos de inserção ocupacional e por se encontrarem na região metropolitana de São Paulo, região esta que, em virtude da maior concentração e aglomeração econômica, propicia a seus trabalhadores maiores rendimentos do trabalho.

Os trabalhos acima citados estudam a discriminação de gênero e raça, esse trabalho irá estudar apenas a discriminação de gênero, na tentativa assim de ser o mais detalhado possível nesta questão, favorecendo um estudo mais aguçado no sentido de colaborar para análises futuras de políticas de melhoria salariais e igualdade de remuneração para homens e mulheres. A desigualdade de renda é uma questão de justiça social, conforme mencionado por Bartaloti (2007). E assim os estudos realizados sobre discriminação devem contribuir no sentido de melhorar as políticas de emprego beneficiando o aumento da inclusão social e com o objetivo de reduzir a pobreza. E também no sentido de contribuir para uma análise de direitos humanos, que com o passar do tempo foi sendo remodelado para as necessidades atualizadas da sociedade.

Para Crenshaw (2002, p. 2):

Assim, enquanto no passado a diferença entre mulheres e homens serviu como justificativa para marginalizar os direitos das mulheres e, de forma mais geral, para justificar a desigualdade de gênero, atualmente a diferença salarial das mulheres indica a responsabilidade que qualquer instituição de direitos humanos tem de incorporar uma análise de gênero em suas práticas.

Conforme destacado por Rodrigues e Silva (2010) “os valores discriminatórios ainda estão presentes no corpo social, e apesar do acervo legal, que por vezes parece exorbitante, este por si só não é suficiente para satisfazer as verdadeiras necessidades da mulher trabalhadora, mulher mãe, mulher dona de casa”. Estudos mostram claramente a possibilidade de discriminação entre homens e mulheres então políticas públicas, com base na lei já existente de igualdade entre todos, devem garantir que esse quadro seja modificado. E assim uma revolução na sociedade será colocada em prática e todos serão remunerados por qualificação, escolaridade e ou experiência, que são critérios que deveriam embasar o salário do trabalhador.

(33)

foram relacionadas para de fato afirmar que os trabalhadores são comparáveis. A pesquisa será realizada de forma mais objetiva, serão analisados os dados da PNAD de média de salário, por que diante de uma vasta literatura sobre o tema discriminação, entende-se por tal, quando os indivíduos com mesmo atributo produtivo são remunerados de forma diferente.

(34)

3 METODOLOGIA

Quanto aos fins a pesquisa é considerada descritiva, realizada por meio da coleta de dados secundários da PNAD, no período de 2002 e 2012, última década com dados disponíveis (os dados de 2013 ainda não estão disponibilizados). Com isso pretende-se analisar os dados, bem como revisar a discriminação de gênero com base na literatura já existente, com intuito de verificar se existe a discriminação no Ceará. Para análise dos dados será utilizado o método quantitativo. O método adotado é a decomposição de Oaxaca-Blinder.

3.1 Base de dados

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) é uma pesquisa realizada todos os anos com o objetivo de verificar as características gerais da população, da educação, do trabalho, do rendimento e habitação, de forma regular e conforme a necessidade do país de informação. Segundo o site da PNAD, “o levantamento dessas estatísticas constitui, ao longo dos 44 anos de realização da pesquisa, um importante instrumento para formulação, validação e avaliação de políticas orientadas para o desenvolvimento socioeconômico e a melhoria das condições de vida no Brasil”.

Portanto a base de dados usada é a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) para o ano de 2002 e 2012, com a intenção de comparar esses dados ao longo de uma década e assim verificar o que aconteceu no Estado do Ceará nesse periodo. Os dados coletados foram: rendimento do trabalho principal, 40 horas trabalhadas (variável relativa do salário), pessoas de 10 a 65 anos (considerando o trabalho infantil), gênero, Ceará, região Nordeste e Brasil. Vale ressaltar que o cargo não foi levado em consideração. Todos os dados foram ponderados pelos pesos da PNAD, a fim de gerar estimativas mais próximas dos valores populacionais do IBGE. Os pesos que devem ser utilizados são informados pela PNAD juntamente com os dados para aproximar os números com a realidade. A PNAD é uma pesquisa em número menor que a pesquisa do IBGE.

Cada categoria de dados possui cinco grandes setores de atividade:

 Setor 1: agricultura (agrícola);

(35)

 Setor 3: serviços (comércio e reparação, alojamento e alimentação, transporte armazenagem e comunicação, educação, saúde e serviços sociais, serviços domésticos, outros serviços coletivos, sociais e pessoais);

 Setor 4: administração pública; e

 Setor 5: outros (outras atividades e atividades mal definidas).

No tratamento dos dados foi retirado, por exemplo, os questionários que estão incompletos. As pessoas entrevistadas não são obrigadas a responder todas as perguntas. Então na apresentação dos resultados da pesquisa aparece um código que indica a falta de resposta naquela pergunta. Esses questionários foram desconsiderados para diminuir a possibilidade de viés nos resultados da pesquisa.

O tratamento de dados tem como intenção utilizar apenas os dados que realmente possam contribuir para mostrar o que pode estar acontecendo na realidade. Para os dados não ficarem muito aleatórios e sem consistência é realizada uma análise nos dados da PNAD de forma a deixar na pesquisa apenas os dados que estão mais completos.

A diferença no número de observações, que é o número total de entrevistas e os dados que estão dispostos nas tabelas, se dá porque os dados na tabela estão considerando a variável peso que é definida pelo IBGE após cada Censo Demográfico. A pesquisa da PNAD é uma amostra num número menor que o Censo do IBGE. Então é feito uma relação na PNAD para esse número ficar o mais próximo possível da realidade utilizando os pesos determinados pela própria PNAD e pelo IBGE.

3.2 Decomposição de Oaxaca-Blinder

Os dados coletados estão dispostos na forma de tabelas e será utilizada a decomposição de Oaxaca – Blinder originada de Oaxaca (1973) e Blinder (1973) que consiste em buscar o quanto da desigualdade de renda é dada pela discriminação. Ou seja, a decomposição de Oaxaca-Blinder separa a renda média em atributos produtivos de mão-de-obra e atributos não produtivos de mão-de-mão-de-obra, que pode explicar a discriminação.

Primeiramente será definida a função dos determinantes salariais. Será utilizada uma adaptação de Mincer (1974) com a seguinte equação salarial na forma de matricial:

(1)

u X w0  

(36)

Tem-se como variável dependente, w, que consiste no salário por hora do indivíduo. O vetor de variáveis dependentes da equação matricial acima, X, será determinado por dois grupos de variáveis, variáveis controle e variáveis de discriminação. As variáveis escolaridade (medida por anos de estudo), escolaridade ao quadrado, experiência, experiência ao quadrado, sindicalizado ou não, trabalha na rede pública ou privada, tem carteira assinada ou não e mora na área urbana ou rural, serão as variáveis de controle. As variáveis de gênero serão consideradas as variáveis de discriminação. A constante foi considerada separadamente. No vetor de coeficientes β temos k coeficientes, sendo k o número de variáveis explicativas que compõe o vetor X.

Seguindo o descrito em Souza (2011) após a definição da equação de rendimentos (1), para observar a discriminação existente entre dois grupos A e B, a equação é aplicada para cada grupo.

(2)

(3)

Que para a média é:

(4)

(5)

Como descreve o modelo de mínimos quadrados a esperança dos erros é nula, assim ele não está presente na equação.

A diferença entre os retornos médios dos grupos é então:

(6)

Seja o retorno que ocorreria caso não existisse discriminação neste mercado. Somando e subtraindo o termo e rearranjando a última equação obtêm-se:

(37)

A partir desta decomposição chega-se a dois efeitos um causado pela diferença de produtividade e outro pela discriminação contra o grupo A e contra o grupo B. Quando a discriminação é unilateral é o retorno do grupo que não sofre discriminações. Desta forma considere o grupo com maiores rendimentos (o grupo dos homens neste trabalho) o grupo A e assim , assim a equação resultado da decomposição é:

(8)

(38)

4 RESULTADOS

De uma maneira geral, a partir das diferenças salariais que serão relacionadas nos resultados é que pode-se inferir que existe a possibilidade de discriminação. O mercado de trabalho mostra que essas diferenças existem, e o próprio mercado de trabalho poderá reduzir ou acabar com essas diferenças. Para tanto serão necessárias políticas públicas e até mesmo parcerias com o setor privado no intuito de acabar com a discriminação. Na ausência da discriminação, as pessoas com mesmos atributos produtivos, independente de raça e gênero, devem ter os mesmos salários.

Segundo a literatura pesquisada e elencada anteriormente, entede-se por discrimanácao quando os indivíduos possuem os mesmos atributos produtivos e mesmo assim recebem remunerações diferenciadas.

A seguir serão abordadas as diferenças salariais entre homens e mulheres e em que medida esta diferença é explicada por diferenças de qualificação ou pela discriminação.

4.1 Análise descritiva

Após tratamento dos dados da PNAD de 2002 e 2012, foi possível observar importantes características no que se refere a média salarial de homens e mulheres. O foco é o Estado do Ceará, os dados do Nordeste e do Brasil foram utilizados para fazer um comparativo.

(39)

Gráfico 1 – Distribuição das Pessoas no mercado de trabalho segundo o gênero para Brasil, Nordeste e Ceará

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da PNAD de 2002 e 2012

Segundo os dados da PNAD 2002, as mulheres representavam 39,25% da População Economicamente Ativa (PEA) no Brasil e em 2012 esse número cresceu para 41,71%. Em termos de Ceará esse número cresceu na mesma proporção, em 2002 era de 38,81% e em 2012 passou para 40,64%. Mesmo com esse crescimento, os homens ainda são a maioria em todas as localidades escolhidas (em 2002 no Brasil 60,75%, no Nordeste 63,15% e no Ceará 61,19% e em 2012 no Brasil 58,29%, no Nordeste 60,23% e no Ceará 59,36%), porém é notório que houve uma maior entrada da mulher no mercado de trabalho, o que confirma a pesquisa quanto à necessidade de verificação da possibilidade de discriminação contra a mulher é de fato relevante. As mulheres representavam 36,85% em 2002 no Nordeste, e em 2012 esse número cresceu para 39,77%%. Entre 2002 e 2012 o número de mulheres no mercado de trabalho aumentou em uma proporção maior que o número de homens no mercado de trabalho.

Conforme gráfico 2 percebe-se o aumento da participação feminina no mercado de trabalho, no Brasil em 2002 era de 39,25% e em 2012 de 41,71%, no Nordeste em 2002 era de 36,85% e em 2012 de 39,77% e no Ceará em 2002 de 38,87% e em 2012 de 40,64%, note que o maior aumento em pontos percentuais foi no Nordeste, com um aumento de 2,92 pontos percentuais.

, %

, % , %

, % , % , %

, % , % , %

, % , % , %

, % , % , % , % , % , % , % , %

Brasil Nordeste Ceará Brasil Nordeste Ceará

(40)

Gráfico 2 – Percentual da participação feminina no mercado de trabalho do Brasil, Nordeste e Ceará

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da PNAD de 2002 e 2012

Constatada a proporção de mulheres no mercado de trabalho levanta-se a hipótese de estas ganharem menos que os homens, dados iniciais quanto à média salarial por hora dos grupos estão expostos na tabela 1 a seguir, para os anos de 2002 e 2012, onde se começa a suspeitar da possibilidade de discriminação do trabalho da mulher. Como destacado por Abramo (2004, p. 13) “as diferenças de remuneração são uma das formas mais persistentes de desigualdade entre homens e mulheres e por isso são um tema central em quase todas as discussões relativas à eliminação da discriminação no mundo do trabalho”.

Tabela 1 – Média salarial em reais por hora segundo o gênero para Brasil, Região Nordeste e Ceará

Brasil Nordeste 2002 Ceará Brasil Nordeste 2012 Ceará

MULHERES 14,07 9,40 8,67 40,41 29,79 34,18

HOMENS 16,56 9,74 9,34 47,60 32,11 32,66

Percentual 17,75% 3,67% 7,81% 17,81% 7,77% - 4,65%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da PNAD de 2002 e 2012 Nota: Percentual indica quanto os homens ganham a mais que as mulheres

Em termos de Brasil, a diferença na média salarial por horas trabalhadas é de quase 18% tanto em 2002 como 2012. No Nordeste em 2002 a diferença era de quase 4%, em 2012 a diferença é de quase 8%. No Ceará, em 2002 a diferença era de quase 8%, já em 2012

, %

, %

, %

, %

, %

, %

, % , % , % , % , % , % , % , % , % , %

(41)

a situação se inverteu e a mulher passou a ganhar mais que os homens, em uma diferença de quase 5%.

Vale lembrar aqui que os valores não devem ser comparados de um ano para o outro uma vez que não foi considerada a inflação no período sendo os valores relevantes apenas os percentuais e a diferença salarial dentro do mesmo ano a título de ilustração para a motivação da pesquisa.

Pode-se notar que homens ganham mais que mulheres em média, exceto no Ceará em 2012, espera-se então que estes sejam mais qualificados, o que justificaria a diferença salarial. A média educacional é apontada como um indicativo de qualificação, dessa forma estes dados foram levantados e estão expostos na tabela abaixo. Este é outro fator que aponta a possibilidade de discriminação, a mulher tem mais anos de estudos, como mostra a tabela 2, em todas as localidades escolhidas sendo então discriminada ao receber uma média salarial inferior à do homem.

Tabela 2 – Média de anos de estudo segundo o gênero para Brasil, Região Nordeste e Ceará

Brasil Nordeste 2002 Ceará Brasil Nordeste 2012 Ceará

MULHERES 8,24 7,21 7,26 9,77 9,15 9,15

HOMENS 6,74 4,91 5,13 8,31 6,95 7,05

Percentual 22,26% 46,84% 41,52% 17,57% 31,65% 29,79%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da PNAD de 2002 e 2012 Nota: Percentual indica quantos anos as mulheres têm a mais que os homens

Pode ser verificado que a média de anos de estudos das mulheres é maior no Brasil, assim como na região Nordeste e no Ceará. No Brasil as mulheres têm em média 22,26% a mais de anos de estudo que os homens. Em 2012 esse número caiu para 17,57%. No Nordeste essa diferença em 2002 era de 46,84%. Em 2012 esse número caiu para 31,65%. No Ceará em 2002 a diferença em anos de estudos das mulheres era de 41,52%. Em 2012 esse número caiu para 29,79%. Isto por que os homens tiveram um acréscimo mais significativo de escolaridade no período, porém as mulheres continuam tendo uma média de anos de estudos superior a dos homens.

(42)

Observa-se então que possibilidade de discriminação em 2002 em todas as localidades e uma mudança em 2012, onde o Ceará mostra salários médios das mulheres maior que o dos homens. Deste fato surge uma pergunta, seria isto uma constante em todos os setores da economia ou algum setor apresenta dados diferenciados? Neste trabalho o mercado de trabalho será dividido em alguns setores, descritos abaixo:

Quadro 1 – Divisão de setores de atividade econômica

SETORES TIPOS

Setor 1 Agricultura (agrícola)

Setor 2 Indústria (de transformação e construção)

Setor 3 Serviços (comercio e reparação, alojamento e alimentação, transporte, armazenagem e comunicação, educação, saúde e serviços sociais, serviceos domésticos, outros serviços coletivos, sociais e pessoais)

Setor 4 Administração pública

Setor 5 Outros (outras atividades e atividades mal definidas) Fonte: Elaborado pelo autor

A tabela 3 mostra que em todos os setores de atividade econômica existe diferença salarial entre homens e mulheres, geralmente as mulheres ganham menos que os homens.

Importante destacar que a mulher ganha menos na maioria dos setores de atividade econômica e que no Nordeste a situação é mais complicada ainda, pois o salário médio no Nordeste é significativamente menor em relação ao Brasil.

Em relação ao Nordeste e Ceará tem-se algumas disparidades. Pequenas diferenças entre homens e mulheres dentro dos setores. Em 2002, na maioria dos setores as mulheres ganhavam em média por hora menos que os homens, apenas no Setor 5, de outras atividades é que as mulheres ganham mais que os homens, tanto no Nordeste, como no Ceará.

Em 2012 as mulheres continuam ganhando menos que os homens na maioria dos setores, isso nao acontece nos setores 1 e 5 e somente no Ceará.

Tabela 3 – Média salarial em reais por hora segundo o gênero para Brasil, Região Nordeste e Ceará, em cada setor de atividade econômica

2002 2012

Brasil Nordeste Ceará Brasil Nordeste Ceará SETOR

1 MULHERES HOMENS 6,53 7,28 3,59 4,45 3,43 3,67 23,14 25,53 10,74 17,12 12,25 8,63 SETOR

2

MULHERES 11,60 6,85 5,04 35,72 19,96 17,53

HOMENS 15,11 9,34 7,78 42,28 26,53 24,20

SETOR

3 MULHERES HOMENS 13,06 17,74 11,60 8,86 11,54 8,68 36,62 47,76 28,33 34,89 30,28 35,26 SETOR

4

MULHERES 26,49 21,54 22,01 64,92 57,91 92,84

HOMENS 28,13 22,12 22,41 75,96 65,91 99,19

SETOR

(43)

Existe diferença entre a média salarial de 2002 e 2012, em termos de acréscimo salarial, o destaque aqui se dá que em 2012 as mulheres ganham mais que os homens, porém isso só acontece no setor 1 (agricultura) no Estado do Ceará, no ano de 2012 e no setor 5, no Nordeste e no Ceará no ano de 2002 e no Ceará no ano de 2012.

Vale ressaltar que ao longo dos anos o Governo Federal tem investido em programas para o desenvolvimento da agricultura. Um exemplo da atuação das políticas públicas é o PAA – Programa de Aquisição de Alimento, criado em 2003 onde o Governo adquiri diretamente dos agricultores familiares parte dos alimentos como objetivo de comercializá-los de forma diferenciada, colaborando assim com o fortalecimento da agricultura familiar e enfrentando a fome a pobreza dos brasileiros. Segundo o site do Portal do Brasil (2014) a presença das mulheres nesse programa aumentou 240%, “em 2009 era de 11,5 mil e passou para 39,3 mil em 2012 “.

Porém nos demais setores da economia a média salarial das mulheres é inferior a média salarial dos homens. Exigindo assim, a participação crescente e efetiva do Governo em benefício da sociedade de uma maneira geral, aumentando a renda familiar e proporcionando um aumento no poder de compra e no nível de vida das pessoas.

A tabela 4 corrobora o que vem sendo mostrado, as mulheres mesmo ganhando menos que os homens têm, em média, mais anos de estudos, em todos os setores de atividade econômica. Entre 2002 e 2012 houve um acréscimo na média de anos estudos, tanto para homens como para as mulheres.

Tabela 4 – Média de anos de estudo segundo o gênero para Brasil, Região Nordeste e Ceará, em cada setor de atividade econômica

2002 2012

Brasil Nordeste Ceará Brasil Nordeste Ceará SETOR

1 MULHERES HOMENS 3,06 3,04 1,98 1,93 2,22 1,89 5,26 4,54 4,27 3,40 4,27 3,27 SETOR

2 MULHERES 7,68 6,54 5,94 HOMENS 6,54 5,11 5,03 9,24 7,89 6,66 8,37 8,33 6,94 SETOR

3 MULHERES HOMENS 8,18 7,64 7,52 6,52 7,60 6,70 9,64 8,99 9,26 8,08 9,18 8,04 SETOR

4 MULHERES 10,77 HOMENS 9,43 8,62 9,55 10,04 8,35 11,63 10,70 10,02 10,73 10,22 10,02 SETOR

5 MULHERES HOMENS 10,92 9,53 10,56 8,19 10,81 8,06 11,72 10,85 11,72 9,79 11,76 9,63 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da PNAD de 2002 e 2012

Imagem

Gráfico 1 – Distribuição das Pessoas no mercado de trabalho segundo o gênero para Brasil, Nordeste e Ceará
Tabela 1 – Média salarial em reais por hora segundo o gênero para Brasil, Região Nordeste e Ceará
Tabela 2 – Média de anos de estudo segundo o gênero para Brasil, Região Nordeste e Ceará
Tabela 3 – Média salarial em reais por hora segundo o gênero para Brasil, Região Nordeste e Ceará, em cada  setor de atividade econômica
+4

Referências

Documentos relacionados

A engenharia civil convive com problemas tecnológicos e de gestão, motivo pelo qual projetos apresentam má qualidade. São elaborados rapidamente, sem planejamento,

Neste estudo, nos seis anos avaliados, ficou evidenciada a redução consecutiva do quantitativo de leitos hospitalares, em progressões diferentes, e contraditórias do que

Considerando esses pressupostos, este artigo intenta analisar o modo de circulação e apropriação do Movimento da Matemática Moderna (MMM) no âmbito do ensino

Analisando-se os resultados, observou-se que, logo na primeira avaliação aos 8 dias de armazenamento, em ambiente refrigerado, o tratamento testemunha já

E para opinar sobre a relação entre linguagem e cognição, Silva (2004) nos traz uma importante contribuição sobre o fenômeno, assegurando que a linguagem é parte constitutiva

Os Autores dispõem de 20 dias para submeter a nova versão revista do manuscrito, contemplando as modifica- ções recomendadas pelos peritos e pelo Conselho Editorial. Quando

È importante que o gerenciamento do custo total veja a empresa como uma interface entre os fornecedores e os clientes, sendo que esta deve identificar, coletar, organizar e analisar

Considerando que a criminalização do aborto voluntário no primeiro trimestre da gravidez é uma grave intervenção em diversos direitos fundamentais da mulher e que essa