Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP, v. 15, n. 2, p. 5-7, jul. 2010. 5
EDITORIAL
A
educação de todos os níveis – e aqui nos dedicamos maisparticular-mente à de nível superior – vem adquirindo cada vez mais centralidade na agenda global de transformações sobretudo econômicas e também culturais das últimas três décadas. Os ajustes e projetos de transformação da eco-nomia e do estado têm na educação um instrumento fundamental, especialmente
em função da crença de que o conhecimento de matriz técnico-cientíica é o
motor do desenvolvimento econômico e que este corresponde necessariamente a desenvolvimento social e aumento de competitividade. É nesse quadro que se desenham as políticas setoriais propostas como reformas. Como nenhum país hoje pode isolar-se e construir a direção de seus movimentos sem levar em conta os processos que se desenvolvem em nível global, ganham importância também as formulações que buscam as convergências internacionais regionais. Para além, dos blocos econômicos e políticos, buscam-se construir espaços de colaboração e, no limite, de homogeneização da educação superior nos diversos Continentes do mundo. Assim é que a União Europeia está consolidando seu Espaço Europeu de Educação Superior, por meio do conhecido Processo de Bolonha. Por sua vez, a América Latina e o Caribe buscam conformar o seu Espaço Latinoamericano de Educação Superior. Lá como cá e entre lá e cá existem vários programas comuns e redes, todos operando no sentido da cola-boração internacional e interregional no campo da educação superior inserida
nos contextos de airmação da globalização da economia e, por outro lado, dos
esforços de consolidação dos projetos nacionais em articulação com os projetos de integração e fortalecimento regional.
Norberto Fernández Lamarra trata desse tema de grande atualidade na
agenda de educação superior, relativamente ao nosso Continente. O autor tem
consciência das diiculdades de conformação de um espaço de convergência
iberoamericano e caribenho. Em parte pela diversidade e fragmentação regio-nais, pelos distintos graus de desenvolvimento, etapas diferentes nos processos
culturais, econômicos e políticos. São enormes os desaios, porém, o mais
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IESALC, da OEI, da OUI e da RIACES, além de algumas outras redes univer-sitárias. Wagner Bandeira Andriola e Laura Alves de Souza apresentam uma análise da cultura de avaliação na UFC a partir das representações sociais dos gestores e dos técnico-administrativos. Concluem os autores que as
represen-tações de cada segmento são especíicas das condições em que se produzem e
se reproduzem e guardam relação com a inserção social e interesses de cada segmento. Rodrigo Rosistolato traz os resultados de uma pesquisa sobre os
signiicados de cultura, realizada a partir do ponto de vista de estudantes ingres -santes em um curso de Direito de uma faculdade particular. O quarto artigo é de Maria Aparecida dos Santos Crisostomo e Marcos Antonio dos Santos
Reigota. Os autores analisam a condição de mulheres negras, docentes no
en-sino superior em universidades privadas de Sorocaba. Através das trajetórias e narrativas pessoais das entrevistadas, examinam a inserção social da professora negra, articulando três aspectos: gênero, raça e escolaridade. A análise levou a concluir que é de exclusão a condição da professora universitária negra, o que autoriza os autores a falar da existência de um neo-racismo brasileiro. Porém,
coniam em que ocorrendo uma airmação social e proissional mais ampla da mulher negra produzirá identidades diversiicadas que contribuirão para a
consolidação de uma sociedade plural. A seguir, Víctor Manuel Alvarado
Hernández e Martin Manjarrez Betancourt apresentam um conceito de
antropoética. Segundo os autores, em educação é necessário conciliar matéria e espírito, natureza e cultura, propiciando um reencontro entre a tecnologia e
o humanismo. A partir dessa premissa, abordam as diiculdades e desaios da
implementação no México da Reforma Integral da Educação Média Superior, especialmente no nível do bacharelado. Peterson Marco de Oliveira Andrade
analisa as diretrizes curriculares nacionais relativas ao curso de isioterapia à
luz da perspectiva biopsicossocial da Organização Mundial da Saúde e elabora um instrumento tendo em vista a avaliação da atuação dos futuros egressos, atendendo tanto as exigências do MEC como a abordagem preconizada pela OMS. No sétimo artigo desta edição, Daniela Munerato Piccolo Arroyo e
Maria Silvia Pinto de Moura Librandi da Rocha examinam um programa de
extensão universitária voltado à inclusão social de pessoas com necessidades especiais, numa perspectiva interdisciplinar. A meta-avaliação que realizam
objetiva identiicar os aspectos avaliativos que podem contribuir para a formação
dos estudantes que participam desse programa de extensão. Marcelo Moreira
Antunes, Marcos Doerdelein Polito e Helder Guerra de Resende, em seu
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as percepções dos estudantes. Dentre os mais negativos, citam a biblioteca e o laboratório de informática. Entretanto, segundo os discentes, no curso há mais aspectos positivos que negativos. Claudia Regina Flores, Edel Ern, Inder
Jeet Taneja e Tatiana da Silva reletem sobre um programa de avaliação de
cursos de licenciatura em física e matemática a distância, de responsabilidade da UFSC. O tema tem grande interesse, especialmente se considerarmos a escassez de programas de avaliação de cursos a distância. Fecha esta edição o artigo de Eunice Maria Lima Soriano de Alencar e Denise de Souza Fleith sobre inibidores da criatividade na educação superior, segundo percepções de
338 professores que responderam a pesquisa. Dentre as diiculdades mais re -correntes, citam-se desinteresse do aluno pelo conteúdo, poucas oportunidades
para discussão, número elevado de alunos por sala etc. Também se veriicaram
diferenças entre instituições públicas e privadas.
O leitor tem nesta 54ª edição da revista Avaliação estudos e relexões de aspectos mais amplos, relacionados com políticas públicas, temas de interesse
social, alguns textos que se referem a especiicidades de determinados cursos,
percepções de estudantes e professores sobre temas do cotidiano universitário etc. Esperamos estarmos apresentando matérias ricas para novas análise e futuros aprofundamentos. Boa leitura!
José Dias Sobrinho