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Braz. j. . vol.83 número6

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www.bjorl.org

Brazilian

Journal

of

OTORHINOLARYNGOLOGY

ARTIGO

ORIGINAL

Tracheostomy

in

children:

a

ten-year

experience

from

a

tertiary

center

in

southern

Brazil

,

夽夽

Cláudia

Schweiger

a,∗

,

Denise

Manica

a

,

Carolina

Fischer

Becker

a

,

Larissa

Santos

Perez

Abreu

a

,

Michelle

Manzini

a

,

Leo

Sekine

b

e

Gabriel

Kuhl

a,c

aHospitaldeClínicasdePortoAlegre,Servic¸odeOtorrinolaringologia,PortoAlegre,RS,Brasil

bUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFRGS),ProgramadePós-Graduac¸ãoemEpidemiologia,PortoAlegre,RS,Brasil cUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFRGS),DepartamentodeOftalmologiaeOtorrinolaringologia,PortoAlegre,RS,

Brasil

Recebidoem27demaiode2016;aceitoem10deagostode2016 DisponívelnaInternetem10dejunhode2017

KEYWORDS

Tracheostomy; Child;

Epidemiology

Abstract

Introduction:Childrenmayrequiretracheostomyduetomanydifferenthealthconditions.Over thelast40years,indicationsoftracheostomyhaveendorsedsubstantialmodifications.

Objective: ToevaluatepediatricpatientswarrantedtracheostomyatourHospital,inregardto theirindications,associatedcomorbidities,complicationsanddecannulationrates.

Methods:Retrospectivestudyconcerningpatientsunder18yearsofageundergoing tracheos-tomyinatertiaryhealthcarecenter,fromJanuary2006toNovember2015.

Results:123childrenrequiredatracheostomyafterENTevaluationduringthestudyperiod. Aproportionof63%wasmale,and56%wasunderoneyearofage.Glossoptosiswasthemost commonindication(30%),followedbysubglotticstenosis(16%)andpharyngomalacia(11%).The mortalityratewas31%.Bytheendofthisreview,35children(28.4%)hadbeendecannulated, andthefewerthenumberofcomorbidities,thegreaterthedecannulationrate(0.77±0.84vs. 1.7±1.00comorbidities;p<0.001).

Conclusion: Tracheostomyinchildrenisarelativelyfrequent procedureatourhospital.The mostcommonindicationsareglossoptosisandsubglotticstenosis.A highmortalityratewas found,potentiallysubstantiatedbythehighnumberofcriticalcarepatientswithchronic neu-rologicalconditionsinthiscohort.Ourdecannulationrateisslightlybelowotherseries,probably becauseofthegreateramountofpatientswithcomorbidities.

© 2016 Associac¸˜ao Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C´ervico-Facial. Published by Elsevier Editora Ltda. This is an open access article under the CC BY license (http:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/).

DOIserefereaoartigo:http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2016.08.002 夽

Comocitaresteartigo:SchweigerC,ManicaD,BeckerCF,AbreuLS,ManziniM,SekineL,etal.Tracheostomyinchildren:aten-year experiencefromatertiarycenterinsouthernBrazil.BrazJOtorhinolaryngol.2017;83:627---32.

夽夽EsteestudofoifeitonaUnidadedeOtorrinolaringologiadoHospitaldeClínicasdePortoAlegre.

Autorparacorrespondência.

E-mail:causch@hotmail.com(C.Schweiger).

ArevisãoporparesédaresponsabilidadedaAssociac¸ãoBrasileiradeOtorrinolaringologiaeCirurgiaCérvico-Facial.

(2)

PALAVRAS-CHAVE

Traqueostomia; Crianc¸a; Epidemiologia

Traqueostomiaemcrianc¸as:umaexperiênciadedezanosemumcentroterciário

dosuldoBrasil

Resumo

Introduc¸ão:Ascrianc¸aspodemnecessitardetraqueostomiadevidoadiferentesproblemasde saúde.Aolongodosúltimos40anos,asindicac¸õesdetraqueostomiapassarampormudanc¸as substanciais.

Objetivo:Avaliarpacientespediátricoscomtraqueostomianonossohospital,noquediz res-peitoàssuasindicac¸ões,comorbidadesassociadas,complicac¸õesetaxasdedecanulac¸ão.

Método: Estudoretrospectivodepacientescommenosde18anossubmetidosatraqueostomia emumcentrodesaúdeterciário,dejaneirode2006anovembrode2015.

Resultados: 123crianc¸asprecisaramdeumatraqueostomiaapósavaliac¸ão otorrinolaringoló-gicaduranteoperíododoestudo.Dototal,63%eram dosexomasculinoe56%menoresde umano.Glossoptosefoiaindicac¸ãomaiscomum(30%),seguidaporestenosesubglótica(16%) efaringomalácia(11%).Ataxademortalidadefoide31%.Atéofimdesteartigo,35crianc¸as (28,4%)haviamsidodecanuladasequantomenoronúmerodecomorbidades,maiorfoiataxa dedecanulac¸ão(0,77±0,84vs.1,7±1,00comorbidades;p<0,001).

Conclusão:Atraqueostomiaemcrianc¸aséumprocedimentorelativamentefrequenteemnosso hospital.Asindicac¸õesmaiscomunssãoglossoptoseeestenosesubglótica.Umaaltataxade mortalidadefoiencontrada,potencialmente comprovadapeloelevadonúmerodepacientes críticoscomcondic¸õesneurológicascrônicasnessacoorte.Nossataxadedecanulac¸ãoestá ligei-ramenteabaixodeoutrasséries,provavelmenteporcausadamaiorquantidadedepacientes comcomorbidades.

© 2016 Associac¸˜ao Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C´ervico-Facial. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este ´e um artigo Open Access sob uma licenc¸a CC BY (http:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/).

Introduc

¸ão

A traqueostomia é um dos procedimentos cirúrgicos mais antigosemaiscomumentefeitosempacientescríticos.As crianc¸asnecessitam detraqueostomia por diversas razões eaquelas comumatraqueostomia crônicaconstituem um importantesubgrupoqueseencontraemriscode compro-metimentodasviasrespiratórias.

Emborasejaumacirurgiasalvadoradavida,a traqueos-tomiaem crianc¸as é mais desafiadora quando comparada com aquelas feitas em adultos e está associada a mai-ores taxas de morbidade e mortalidade. Além disso, o riscodecomplicac¸õesaumentacomaidade nospacientes pediátricos.1,2

Aolongodosúltimos40 anos,houveumatransic¸ãonas indicac¸õesdetraqueostomia.Duranteadécadade1970,a principalindicac¸ão de traqueostomia eraa obstruc¸ão das viasrespiratóriassuperioressecundáriaaumadoenc¸a infla-matóriaaguda,comoepiglotite,crupeoularingotraqueíte.2 Com aintroduc¸ão devacinas contrao Haemophilus influ-enzae e Corynebacterium diphteriae e a adoc¸ão de uso rotineirodeintubac¸ãoendotraquealcomoopc¸ãoà traque-ostomia,houveumdeclínionessasindicac¸ões.

Por outro lado,a melhorianos cuidadosdeapoio e da terapêuticaembebêsprematurosecrianc¸ascomanomalias congênitasaumentouastaxasdesobrevidadessascrianc¸as, que muitas vezes requerem períodos prolongados de intubac¸ãoendotraquealeventilac¸ãomecânica.Ascrianc¸as comintubac¸ãoendotraquealpodemprecisardeventilac¸ão mecânicaparaproblemascomomalformac¸õespulmonarese

cardíacas,insuficiênciapulmonarcrônica,doenc¸as neuroló-gicas e trauma cervical. Por outro lado, asmalformac¸ões craniofaciais e as alterac¸ões anatômicas/funcionais da laringe, como a estenose subglótica, traqueomalácia e tumores,estãoentreascausasobstrutivas.3

Umestudorecentedeumcentroterciárioescocês3 apon-touaventilac¸ãodelongoprazocomoaprincipalindicac¸ão detraqueostomianasuasériede111crianc¸asecitoualguns artigos de hospitais do Reino Unido com achados seme-lhantes.Noentanto, umestudo naNova Zelândia4incluiu 122pacientessubmetidosatraqueostomiaentre1987e2003 everificouqueaobstruc¸ãodavia respiratóriasuperiorfoi aindicac¸ãoem 70%dospacientes.Maisrecentemente,um estudoamericanopublicadoem marc¸ode20135,que ana-lisoudados de158 pacientes,levantou ahipótese de que asindicac¸õesdetraqueostomiamudariamnovamente,com reduc¸ão de indicac¸ões para intubac¸ão endotraqueal pro-longada e aumento da indicac¸ão no grupo de anomalias craniofaciaiseobstruc¸ãodasviasrespiratóriassuperiores.

Assim,onossoobjetivofoiavaliarascrianc¸asque justifi-cavamtraqueostomianonossohospital,noquedizrespeito asuasindicac¸ões,comorbidadesassociadas,complicac¸õese taxasdedecanulac¸ão.

Método

(3)

0 0-2 meses

2-4 meses

4-6 meses

6-8 meses

8-10 meses

10-12 meses

12-24 meses

24-36 meses

36-48 meses

48-60 meses

5-8 anos

8-12 anos

12-15 anos

15-18 anos 5

10 12

33

14

3

5 5

2 9

2 9

7 8

8

6 15

20 25

Número de pacientes

30 35

Figura1 Distribuic¸ãodepacientesemrelac¸ãoàsuaidade.

hospitaléumcentrodereferênciaterciárionoSuldoBrasil, querecebepacientesdealtacomplexidade,comoaqueles comdistúrbiospediátricosdotratorespiratório.Os prontuá-riosdospacientesforamrevisadosemrelac¸ãoàsseguintes variáveis:dadosdemográficos,comorbidades,indicac¸ãodo procedimento,complicac¸õesrelacionadascoma traqueos-tomiaedecanulac¸ão.

As cirurgias foram feitas por médicos residentes sob supervisãodeumconsultor.Todosospacientesforam sub-metidos ao procedimento sob anestesia geral e foram internadosnaunidadedeterapiaintensivapediátricaapós a cirurgia.Uma técnica de procedimentopadrão foi apli-cada, comincisão horizontalna pelee incisão verticalna traqueia.Duassuturasparalelasforamfeitasemcadalado daincisãotraqueal.Assuturasnatraqueiaforamremovidas umasemanadepois.

OprotocolodoestudofoiaprovadopeloComitêdeÉtica ePesquisadonossohospital(n◦14-0650).

Osdadossãoapresentadosemmediana(intervalo inter-quartil) ou média±desvio padrão. O teste U de Mann Whitneyfoiusadoparaaanáliseestatística,quando apro-priado.

Resultados

Dadosdemográficosdopaciente

Entre janeiro de2006 e novembro de 2015, 146 crianc¸as avaliadaspelaUnidadedeOtorrinolaringologianecessitaram detraqueostomia.Havia dadosdisponíveisde123 pacien-tese 78(63%)eramdosexomasculino.Emquasemetade delesa traqueostomia foifeita commenos deseis meses (48%) e 69 pacientes (56%) tinham menos de um ano no momentodoprocedimento.A idademédiada traqueosto-miafoidesete meses,comaidadedeoitodiasa17anos (fig.1).

Uma mediana de 12 (intervalo interquartil: 10-14,25) traqueostomiasfoi feitaa cada ano.O númerode proce-dimentosporanomanteve-seestável aolongodoperíodo deestudo(fig.2).

0

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2015 (jan-nov) 2014 2013 2

4 6 8 10 12

Número de traqueostomias

14 16

18 18

7 13

11 11

14 14

15

10 10

Figura2 Númerodetraqueostomiasfeitasporano.

Indicac¸ões

Glossoptosefoiaindicac¸ãomaiscomum(30%),seguidapor estenose subglótica (16%) e faringomalácia (11%). Outras causasforamlaringomalácia,intubac¸ãoprolongada,lesões agudasdalaringequecausamfalha deextubac¸ão, parali-sia das pregas vocais e papilomatose laríngea (tabela 1). Algumascrianc¸asapresentavammaisdeumaindicac¸ãopara traqueostomia.

A obstruc¸ão das vias respiratórias superiores foi a indicac¸ãodetraqueostomiaem 102pacientes(83%), rela-tivaadistúrbioscomo glossoptose,estenosessubglótica e glótica,faringomalácia, laringomalácia,paralisiadeprega vocal, lesões agudas da laringe que causam falha de extubac¸ão(laringitepós-intubac¸ão), anomalias craniofaci-aisetumoresdasviasrespiratórias.Higienepulmonar,falha naintubac¸ãoeventilac¸ãodelongoprazoforamcausasnão obstrutivasdetraqueostomia.

(4)

Tabela1 Indicac¸õesparatraqueostomia

Indicac¸ões N◦depacientes(%)

Glossoptose 37(30)

Estenosesubglótica 20(16)

Faringomalácia 14(11)

Ventilac¸ãoprolongada 13(10)

Laringomalácia 13(10)

Lesõesagudasdalaringeque provocamfalhadaextubac¸ão

10(8)

Paralisiadapregavocal 5(4)

Falhadeintubac¸ão 5(4)

Papilomatoselaríngea 4(3)

Estenoseglótica 4(3)

Hipoplasiamaxilar 4(3)

Linfangioma 2(1)

Mucopolissacaridose 1(0,8)

Hemangioma 1(0,8)

Fendalaríngea 1(0,8)

Laringite 1(0,8)

Higienepulmonar 1(0,8)

Tabela2 Traqueostomiaapósfalhacirúrgica

Procedimentocirúrgico Númerodepacientes(%)

Supraglotoplastia 5(4)

Distrac¸ãoosteomandibular 4(3) Excisãodepapilomatose 4(3) Dilatac¸ãocombalãoparaESG 4(3) Laringotraqueoplastia 1(0,8) Uvulopalatoplastia 1(0,8) ProcedimentoalaserparaESG 1(0,8) Tratamentodelesõesagudasdas

viasrespiratórias

1(0,8)

Comorbidades

A maioria das crianc¸as (84%) apresentou comorbidades; 55 tinham pelomenos umacomorbidade, correspondente a45%destasérie,eaproximadamente40%tinhamduasou maiscomorbidades.Apenas20pacientesnãoapresentavam condic¸õesdesaúdeparalelas.

Quase 41% dospacientes apresentavam condic¸ões neu-rológicas (paralisia cerebral, encefalopatia, epilepsia, doenc¸as neuromusculares) e 27 pacientes apresentavam algum distúrbio sindrômico, inclusive as síndromes de Treacher-Collins e de Down. As principais comorbidades apresentadaspelas 103crianc¸as nasérie estãolistadasna tabela 3. Além de condic¸ões neurológicas e sindrômicas, ascomorbidadestambémincluíramprematuridade,doenc¸a congênitacardíacaedoenc¸apulmonar.

Complicac¸ões

Ascomplicac¸õesforamdivididasemperioperatóriase pós--operatóriasprecocesetardias(tabela4).Ascomplicac¸ões perioperatórias foram definidas como aquelas que ocor-rem durante o procedimento cirúrgico ou imediatamente após. As que ocorreram durante a primeira semana de

Tabela3 Comorbidadesencontradasnestasérie

Comorbidades Númerodepacientes(%)

Epilepsia 30(24)

Paralisiacerebral 26(21)

Prematuridade 16(13)

Pneumopatia 16(13)

Encefalopatia 13(11)

SequênciadeRobin 12(10) Doenc¸acardíacacongênita 9(7) Alterac¸õescromossômicas 8(6)

SíndromedeWest 5(4)

Distúrbioneuromuscular 4(3)

Hidrocefalia 4(3)

Tabela4 Complicac¸ões

Complicac¸ões N◦depacientes(%)a

Perioperatórias 10(8) Pneumotórax 6 Enfisemasubcutâneo 3 Pneumomediastino 2

Morte 1

Pós-operatóriaprecoce 7(6) Falsotratodacânula 4 Decanulac¸ãoacidental 3 Infecc¸ãodaferida 2 Pós-operatóriatardia 38(31) Granulomasestomaise/ou

suprastomais

23

Decanulac¸ãoacidental 7 Obstruc¸ãodacânula 5 Extensãodapapilomatoseparaa

traqueia

2

Estenosetraqueal 2

a Porcentagemdetodasascrianc¸astraqueostomizadas.

pós-operatório foram consideradascomplicac¸õesprecoces e astardias foram definidascomo aquelas queocorreram apósaprimeirasemana.

Nototal,11crianc¸as(8,1%)apresentaramcomplicac¸ões perioperatórias: seis casos de pneumotórax, três de enfi-semasubcutâneoedoisdepneumomediastino.Nãohouve episódiodesangramentosignificativo.Umamorte ocorreu durante o procedimento, em uma crianc¸a com síndrome otopalatodigital.Acausadamortefoiaimpossibilidadede ventilac¸ãodevidoaproblemaspulmonares.

Sangramentopós-operatórioimediato,decanulac¸ão aci-dental, infecc¸ão da ferida e falso trajeto da cânula ocorreramemsetepacientes.

(5)

45

40

35

75%

25%

Sem comorbidade Uma comorbidade Duas comorbidades Três ou mais comorbidades 27%

73%

11% 89%

10% 90% 30

25

Número de pacientes

20

15

10

5

0

Decanulado Não decanulado

Figura3 Associac¸ãoentrenúmerodecomorbidadesetaxas dedecanulac¸ão.

Durac¸ãodatraqueostomiaedecanulac¸ão

O tempo entre traqueostomia e decanulac¸ão variou de menosdeummêsa sete anos(mediana decincomeses). Seispacientesnecessitaramdefechamentocirúrgicoda tra-queostomia.Atéofimdarevisão,35crianc¸asdessacoorte tinhamsidodecanuladas(28%).

O protocolode decanulac¸ão danossa instituic¸ão inclui reduc¸ão progressiva do tamanho da cânula e sua oclusão apósotratamentoespecíficodasdoenc¸asdasvias respira-tórias.Umalaringoscopiaé semprefeitaantesdareduc¸ão dotamanhodacânula, a fimdeconfirmara patência das viasrespiratórias.

A maioria das crianc¸as decanuladas não apresentava comorbidadesouapenasumacomorbidade,correspondeua 86%doscasos.Aestenosesubglóticafoiaprincipalindicac¸ão detraqueostomiaemcrianc¸asdecanuladas(15pacientes).

Ao analisar a associac¸ão entre comorbidades e taxas de decanulac¸ão, nota-se que quanto menor o número de comorbidades,maioresastaxasdedecanulac¸ão(0,77±0,84 comorbidades vs. 1,7±1,00 comorbidades em pacientes decanulados vs. não decanulados, respectivamente;

p<0,001).Osdadossãomostradosnafigura3.

Mortalidade

Trintaeoito(31%)crianc¸asmorreramduranteoperíododo estudo esepse foi acausaem 14. Ainsuficiência respira-tória aguda causou a morte de oito crianc¸as; pneumonia e complicac¸ões clínicas em outros 11 pacientes. Aparen-temente, não houve mortes causadas por decanulac¸ão acidental ouobstruc¸ãoda cânula.No entanto,não fomos capazesdeidentificaracausademorteemseiscrianc¸as.

Discussão

Em comparac¸ão com a populac¸ão adulta, na qual as indicac¸õesparecemserasmesmascomopassardosanos, estudos recentes têm mostrado uma transic¸ão histórica em indicac¸ões de traqueostomia em crianc¸as. Nos países desenvolvidos, epiglotite agudae laringotraqueobronquite

não representam mais uma indicac¸ão de traqueostomia, devidoaousodaintubac¸ãoendotraquealnessescasos,além davacina Haemophilus influenza tipo B para epiglotite.3 Nessacoorte,apenasumacrianc¸aaindateveindicac¸ãode traqueostomiaporinflamac¸ão agudadasviasrespiratórias superiores(laringiteporlúpus).

Asindicac¸õesmaiscomunsparaatraqueostomia pediá-trica são ventilac¸ão prolongada e obstruc¸ão das vias respiratórias superiores. Em um estudo recente com 111crianc¸as, publicado em umcentro terciário escocês,3 32% dos pacientes tiveram a traqueostomia indicada por ventilac¸ão de longo prazo, seguida por anomalia cranio-facialque causa obstruc¸ão das vias respiratórias em 18% dascrianc¸aseestenosesubglóticaem14%.Osnúmerossão semelhantes aos dos hospitais do Reino Unido.6,7 Douglas etal.atribuíramessefatoaoelevadonúmerodepacientes comproblemasclinicamentesignificativos,mas sobreviven-tesporprazomaislongo,como resultadodamelhoriados cuidadosintensivosneonatais.

Em nossa série depacientes, a indicac¸ão mais comum de traqueostomia foi a obstruc¸ão das vias respiratórias superiores,causadaporanomaliascraniofaciaiseestenose subglótica.Amaioriadascausasobstrutivasfoiglossoptose, a sequência de Robin figurou em primeiro lugar entreos nossospacientes.

Owzen et al.1 da Turquia e Mahadevan et al.4 da Nova Zelândia também relataram que a obstruc¸ão das viasrespiratóriasrepresenta amaiorparte dasindicac¸ões de traqueostomia. Na série de 282 pacientes de Owzen, a obstruc¸ão das vias respiratórias consistiu em 72% das indicac¸ões.Mahadevanapresentouumasériemaiore tam-bémmostrouque70%dastraqueostomiasocorreramdevido àobstruc¸ãodasviasrespiratórias.

Os pacientes sindrômicos representavam um grande númerodenossascrianc¸astraqueostomizadas.Aobstruc¸ão geralmenteencontradanessascondic¸õespodeserassociada aanomaliascraniofaciaisque provocamobstruc¸ões anatô-micasou funcionais,bem como umestado hipotônico. As obstruc¸õesanatômicaspodemservistasnoexamede ima-gemounaavaliac¸ãoendoscópicalaringotraquealrígida,mas distúrbiosfuncionais sãomaisbemavaliadospor endosco-piaflexíveldasviasrespiratórias.Emnossohospital,todos ospacientespediátricoscomsuspeitadeobstruc¸ãodasvias respiratóriassãoavaliadosporendoscopiarespiratóriarígida eflexível,oquenospossibilitadiagnosticardoenc¸ascomo glossoptose,faringomaláciaetraqueomalácia.

Nossohospitaléumcentrodereferêncianotratamento depacientescomsíndromedePierreRobin eisso poderia explicaroaumentodonúmerodeglossoptosesencontrado emnossapopulac¸ão.

Em relac¸ão aos 16% de estenose subglótica como indicac¸ãoparaatraqueostomia,temostestemunhadouma mudanc¸anosúltimosanos,apósaimplantac¸ãodadilatac¸ão combalãoparalesões subglóticasagudas.Recentemente, amaioriadascrianc¸asavaliadasporlesõesobstrutivas sub-glóticasagudas é submetida adilatac¸ão endoscópicacom balão,comexcelentesresultados,evita-seassima traque-ostomia.Desde 2009, coma introduc¸ãode dilatac¸ão com balão,apenasquatrotraqueostomiasforamfeitaspor este-nosesubglótica.

(6)

neurológicos.Além dalaringomalácia, todos ospacientes tiveramindicac¸õesparalelasdetraqueostomia,como glos-soptoseefaringomalácia.

Quatro pacientes precisaram de traqueostomia devido a lesõesobstrutivas recorrentes depapilomatose, mesmo depois de tratamento com cidofovir e bevacizumabe, e dois apresentaram extensão traqueal da doenc¸a como complicac¸ão da traqueostomia. Supõe-se que essa reali-dade mude após aimplantac¸ão davacina contrao HPV e aeducac¸ãocontinuadasobrecuidadospré-natais.

Umamédiade13,6traqueostomiasfoifeitaacadaano. Emnossasérie,onúmeromédiodeprocedimentos manteve--seestávelaolongodosanos,aocontráriodeoutrosestudos, quecomunicaramumadiminuic¸ãodonúmerode traqueos-tomiaspediátricas.3---6

A análise das características demográficas dos pacien-tesnaliteraturarevelouqueamaioriadastraqueostomias foifeitaem crianc¸as menoresde umano.2,8,9 Nossasérie apresentou a mesma tendência. Isso provavelmente pode serexplicadopelastaxasdesobrevidacrescentesentreos pacientesprematurosesindrômicoseamaiorgravidadedos problemasobstrutivosnessafaixaetária.10

Astaxasdecomplicac¸õesrelacionadascoma traqueos-tomiana literaturaestão em torno de 40%, comnúmeros que variam de 18 a 56%.3,5,11,12 As complicac¸ões mais comunssãopneumotórax, pneumomediastino, granulomas estomaisesuprastomais,obstruc¸ãodacânula,falsotrajeto edecanulac¸ãoacidental.

Emnossasérie,astaxasdecomplicac¸õesperioperatórias epós-operatóriasprecoces forambaixas,masaindaassim significativas(8 e 6%, respectivamente). Essastaxas mos-tram que a traqueostomia não é um procedimento cujos riscosecomplicac¸õesdevamsersubestimados.

Pneumotórax foi a complicac¸ão perioperatória mais comum e falso trajeto foi a complicac¸ão pós-operatória precocemaisfrequente.Poroutrolado,complicac¸ões pós--operatórias tardias foram maiores do que o relatado na literatura,comodesenvolvimentodegranulomasestomais e/ousuprastomaisem23crianc¸as.Provavelmente,podeser explicadapelavariedadedemarcasdecânulasusadas.Além disso,algumascomplicac¸õessãosecundáriasàmáeducac¸ão sobre os cuidados de traqueostomia e condic¸ões socioe-conômicasbaixas,o queleva adecanulac¸õesacidentais e obstruc¸ãodacânula.

A decanulac¸ão é sempre o objetivo dos cirurgiões e parentes,masissonemsempreépossível.Estudosmostram queastaxasdedecanulac¸ãovariamemtornode35-75%1---6 eastaxasmaiselevadassãoencontradasem estudoscom maiorprevalênciade obstruc¸ãodas vias respiratóriasque justificarama traqueostomia. Estudos com menores taxas dedecanulac¸ãosãogeralmenteaquelescommaiornúmero depacientescomcomprometimentoneurológico,comoem nossasérie.

Dosnossospacientesdecanulados,41%tinhamestenose subglóticae44%nãoapresentavamcomorbidades.Essataxa elevadadedecanulac¸ãoemcrianc¸ascomestenose subgló-ticapodeser explicadapelo usode dilatac¸ões combalão emlesõessubglóticasagudasecirurgiascomtécnicaaberta bem-sucedidasnosúltimosanos.Apenas16%dospacientes traqueostomizadoseram saudáveis(sem comorbidades ou malformac¸õescraniofaciais) e amaioria delesfoi decanu-lada.Asequência deRobin, com glossoptoseobstrutiva e

pacientescomdistúrbioneurológico,representaumaparte relevantedospacientesaindanãodecanulados.

Ataxademortalidadedepacientestraqueostomizadosé relativamentealta,entre14-19%.Emnossasérie,ela repre-sentou32%dascrianc¸astraqueostomizadas.Noentanto,a maioria dessas mortes foi relacionada com comorbidades subjacentesaessespacientes,enãodiretamenteàpresenc¸a da traqueostomia.2,4,11,13,14 O elevado número de pacien-tes críticos com condic¸ões neurológicas crônicas também pode explicar o aumento de nossa taxa de mortalidade. Ocorreramalgunsóbitosemdomicílio,semqualquercausa identificável.

Conclusão

A traqueostomia em crianc¸as é um procedimento relati-vamente frequenteem nosso hospital.As indicac¸õesmais comunssãoglossoptoseeestenosesubglótica.Nossataxade decanulac¸ãoestáligeiramenteabaixodeoutrasséries, pro-vavelmenteemdecorrênciadograndenúmerodepacientes comcomorbidades.Ataxadecomplicac¸ãoperioperatóriaé baixaquandocomparadacomaliteratura.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

Referências

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Figura 1 Distribuic ¸ão de pacientes em relac ¸ão à sua idade.
Tabela 1 Indicac ¸ões para traqueostomia
Figura 3 Associac ¸ão entre número de comorbidades e taxas de decanulac ¸ão.

Referências

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