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Repositório Institucional UFC: A força da mulher que é senhora da própria vida aliada à doçura da menina menestrel

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Academic year: 2018

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n r e v i s t a

E n t r e v i s t a c o m M a í s a V a s c o n c e l o s , d i a 2 9 d e j u n h o d e 2 0 1 3 .

I s a b e l e -

srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Maísa, você saiu de ItapipocajihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA (m u n ic íp io c e a re n s e a 1 3 0 q u ilô m e tro s d e

F o rta le z a ) ainda muito cedo, com um ano de

idade, mas a simplicidade do interior não saiu da sua vida. Como?

M a í s a - Eu acho que é porque não dá (p ra

s a ir), é quase impossível. Esses dias,

inclu-sive, eu até estava em um café e a frase que veio foi essa: nA gente sai do sertão, mas o sertão não sai da gente". Por quê? Porque a minha família é do sertão, porque a minha in-fância foi voltando para o sertão. De fato, eu aprendi as coisas simples, eu vivi as coisas simples e é delas que eu me alimento todo dia. Então, eu vou sempre buscar um pouqui-nho disso daí,n é ?

Ontem, eu dei uma mexida no armário, porque encontrei uma formiga bem grande

(rin d o ). Quando eu fui olhar, tinha um saco

plástico grande cheio de rapadura de todos os tipos. Então, isso está presente na minha vida sempre.

F e l i p e - Como essa proximidade com o interior esteve presente na sua infância?

M a í s a - Na minha casa. Os meus pais são do interior, da serra. Na verdade, a gente é de Itapipoca e Itapipoca tem tudo. Serra, ser-tão e mar. Mas eles sempre viveram mais o clima do sertanejo mesmo, isso era presente na casa da gente o tempo inteiro. Dormir de rede, voltar para o interior para tomar banho de bica, pegar água no olho d'água, caçar passarinho de haladeira ... Essas coisas to-das. Isso foi a minha infância. Isso está pre-sente hoje, nas coisas que eu faço, porque eu gosto da vida simples. Eu não gosto de muita frescura, de muito rebuscado, muito rococó, muito laço, muito babado, não.

É

coisa sim-ples, direta. A chita e acabou-se.

B r u n a - Você voltaria a morar em

Itapipo-cal

M a í s a - Não. F e l i p e - Por quê?

M a í s a - Porque (lá ) já se perdeu a coisa de ser um canto para continuar construindo coisas. Meus pais me tiraram de lá tão cedo, então eles mesmos não queriam voltar. Eu acho até que teve um tempo que eles quise-ram voltar para lá - não sei nem se eles (a in

-d a )voltam. Meu pai vai fazer. .. Peraí, ele é de

1 9 4 3 (M a ís a p a ra e c o m e ç a a c a lc u la r q u a n

-to s a n o s

o

p a i te m ) ...

B r u n a - (In te rro m p e b rin c a n d o ) Somos todos jornalistas; não sabemos fazer conta (ris o s ).

F e l i p e - Setenta anos, eu acho (M a ís a b a te n a m ã o d o F e lip e c o m o u m a e s p é c ie d e

c u m p rim e n to ).

M a í s a - Olha aí, meu pai vai fazer 70 anos agora.

É

um homem novo. Ele tem a coisa de querer criar bicho, plantar; tem o feijão verde do roçado. Ele tem um sitiozinho. Talvez eles

(o s p a is ) queiram voltar. Eu mesma nunca

quis (m o ra r lá ), não. Nunca morei lá de fato. Eu gosto da vida tranquila, mas quero está perto da cidade.

P a u l o R e n a t o - E a criança Maísa, como é que era?

M a í s a - Eu acho que eu sempre fui extro-vertida. (C o m o ) Eu disse para a Isabele e para o Felipe, na pré-entrevista, eu não lembro muito das coisas, tenho uma certa dificulda-de com a memória. Coisa que me angustia. Eu tenho a impressão que sempre fui assim. Dizem que o estresse acaba levando a gente, queima neurônios, e você vai esquecendo as coisas. Eu sempre fui esquecida (rin d o ).

Em todas as fases da minha vida, fizeram associação comigo com personagens que são esquecidos, que são meio abilolados. A mais recente foi a Dory, do Nemo (D o ry é u m p e ix e d a ra ç a B lu e ta n g , ta m b é m c o n h e c id a

c o m o C iru rg iã o -P a te la . E la é p e rs o n a g e m

d o F ilm e d a D is n e y P ro c u ra n d o N e m o . D o ry

a p re s e n ta p ro b le m a s d e m e m ó ria , e s q u e

-c e n d o c o is a s q u e a c a b a ra m d e a c o n te c e r

-N e s s e m o m e n to , to d o s rie m ). Uma criança pequeninha (d is s e ): "Maísa, eu fui para o ci-nema e tinha uma personagem tão parecida contigo, é a Dory". Quando eu fui assistir e vi a Dory, (p e n s e i): "Essa aí é a imagem que fazem de mim?".

Mas algumas coisas (d a in fâ n c ia ) ficaram marcadas. (Ofa to d e ) Desde sempre (e u )ter sido uma pessoa que está mais ou menos trazendo para junto a decisão de levar a dian-te. "Vamos brincar disso, vamos fazer assim". E aí já concentra e tenta nortear. Na infância,

Maísa Vasconcelos nasceu em 25 de abril de 1964 no distrito de Mati-nhas, em Itapipoca (CE). Com um ano de idade, veio morar em Fortaleza.

(5)

Quando o nome de Maísa foi escolhido, a equipe de produção en-trou em contato com Rô-mulo Costa, aluno de Jor-nalismo da UFC e amigo dela, que repassou o nú-mero do celular da apre-sentadora.

o

primeiro contato foi feito por Felipe. Maísa es-tava se preparando para entrar ao vivo no estúdio quando recebeu a ligação e ficou muito feliz. "Onde eu assino?" - brincou.

era assim.

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C a r o l i n e - Maísa, quando você era crian-ça, a equipe de produção nos informou, que você sempre era líder nas brincadeiras. Como era isso?

M a í s a - Então,jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(fo i) naturalmente. Eu vou dizer uma coisa de novo: "Eu não lembro que

era assim". Pode ter sido que eu tenha criado uma personagem de mim mesma. Pode ser, eu não sei. Desde que eu me entendo por gente, como se diz, (e u )tinha minimamente essa coisa de atitude mesmo. Eu até brinco, dizendo que é essa coisa do taurino. Eu não sei. Nem acredito nisso. Não sei nem qual é meu ascendente. Dizem que uma das carac-terísticas (d o s ta u rin o s ) é isso, de ser meio mandão. Eu ouvi de vez em quando: "Man-dona", "Cabeça dura". Mas essa sou eu e o que eu fui guardando.

C a r o l i n e - E até hoje você é mandona, lí-der?

M a í s a - Sou (ris o s ), mas acho que é bom, isso,n é ? Digam que "sim". (to d o s rie m a in d a

m a is ). Estão vendo? Tem gente que diz que

eu sou meio maluca, porque eu pergunto as coisas e já respondo ...

D i e g o - (In te rro m p e n d o ) Mas apesar de não ter tantas lembranças da infância, o que você sente mais falta desse período?

M a í s a - Tu acreditas que eu não fico nessa de sentir muita falta, não? De verdade. Não é nada inventado do meu juízo, não. Porque eu acho que não adianta muito você ficar sen-tindo falta. Por exemplo, as meninas que eu vejo - reparem: já estou chamando de me-ninas as mulheres que estão chegando nos 30 anos - (d iz e m :) "Ai, Meu Deus, eu daria tudo para ter 15 anos de novo". Eu nunca fi-quei fazendo esse exercício de querer voltar, sabe? Na verdade, eu sinto falta de a gente ter talvez uma vida mais tranquila, n é ? O que eu pude ter de brincar na rua de areia, de ter quintal, de tirar fruta do pé, eu já não pude dar para os meus filhos e não posso dar para o meu neto. Talvez eu sinta falta disso, mas não exatamente uma coisa saudosista. Ou é saudosismo? Talvez seja (s a u d o s is m o ), mas não é uma coisa melancólica, não, sabe? Não sinto falta (p e n s a n d o :) "Ai, eu queria voltar a minha infância, nos meus 15 anos, 20 anos, na cidadezinha onde eu nasci".

I s a b e l e - Maísa, na conversa que tivemos com o Fábio Vasconcelos (irm ã o d e M a ís a ), ele nos contou que você teve uma época meio revoltada, na qual você usava roupas com influências p u n k e h ip p ie . Na mesma época, você chegou até a cortar seus longos cabelos como forma de enfrentar seus pais. De onde você acha que surgiu essa rebeldia?

M a í s a - Era pelo tempo mesmo. A gen-te começou a ver as coisas acongen-tecendo. Eu

I I E u o u v i d e v e z e m

q u a n d o : 'M a n d o n a ',

'C a b e ç a d u r a '. M a s

e s s a s o u e u e o q u e

e u f u i g u a r d a n d o "

lembro desde cedo que batia o pé e queria fa-zer valer a minha vontade, o que eu pensava,

(e ra ) naturalmente mesmo. Eu não pensava:

"Ai, eu vou ser rebelde! Acho tão legal ser rebelde!". (ris o s )

Eu lembro que a gente apanhava. O papai e a mamãe fazem parte de uma geração que usava da força física para direcionar os filhos para o bem; era no que eles acreditavam. Nós éramos cinco. Imagina controlar (to d o s )? E eu lembro que era rebelde porque eu res-pondia, era respondona e, se você faz isso, você já fica visada (b rin c a n d o ). E eu lembro que eu fazia isso mesmo. E não era porque eu achava bacaninha ser rebelde. Depois foi que eu descobri que chamavam isso de (s e r) rebelde.

Aí veio essa coisa do movimento h ip p ie , que já tinha passado, mas que eu peguei mi-nimamente ainda nas minhas roupas. Eu fazia as minhas roupas, ia para o Centro da Cidade no sábado de manhã. (U m a ) Hora dessas eu já tava na rua comprando tecido e queren-do fazer as minhas saias e as minhas blusas (b rin c a n d o ).

E o cabelo grande ... Eu sempre adorei cabelo grande. Olha aqui, estão vendo isso? (M a ís a m o s tra

o

c o m p rim e n to d o s c a b e lo s ). Um calor danado e eu tentando deixar o meu cabelo crescer. Teve uma época que foi a ma-mãe que cortou meu cabelo. Eu acho que eu tinha perto de dez anos, porque tem umafo

ti-n h a 3x4 que eu estou com dez anos de idade

e com um cabelo do tamanho do teu (a p o n -ta p a ra C a ro lin e ). E eu tinha os cabelos bem grandes na cintura, bem cacheados, desses cachos que enrolam assim (m o s tra c o m os

d e d o s o fo rm a to ). Uma vez eu perguntei a

ela (m ã e ) se ela cortou por maldade mesmo

(to d o s rie m ), por castigo. "Sua c u n h ã z in h a ruim, vou cortar o seu cabelo para você ver quem manda aqui" (b rin c a n d o ). Mas eu acho que era porque tinha piolho na época. Imagi-na cinco meninos com piolho? Diga aí! Tinha que cortar, minha gente! Eu só não me lem-bro da resposta dela (m ã e ). Se bem que ela era capaz de cortar meu cabelo para me dar uma lição. Eu e ela sempre tivemos alguns atritos. (S o m o s ) Duas mulheres fortes.

(6)

gran-"Eu

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s e m p r e

f u i m a is a f a s t a d a , r e s e r v a d a , a t é

e m

r e la ç ã o a m in h a f a m ília . U n s d iz e m

q u e

is s o é e s q u is it ic e . N ã o s e i o q u e é , n ã o "

de, de muitos irmãos. Como a convivência com seis irmãos influenciou no que você é hoje?

Maísa -

Eu acho que foi um bom

exercí-cio, um bom laboratóriojihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(g a rg a lh a n d o ). Um laboratório de relacionamento com pessoas

tão diferentes, porque nós somos pessoas bem diferentes. Cada um foi para um lado. Hoje a gente tem um relacionamento até dis-tante, mas é porque cada um tem a sua vida. A gente vive reclamando: "Nossa, a gente podia estar mais perto. A gente podia dividir mais as coisas". A gente podia estar mais jun-tos fisicamente até. Nós moramos todos na mesma cidade. Todos. Meu pai, minha mãe e os seis irmãos. E a gente se vê pouco.

Acho que tem mais de um mês que eu fui

à

casa da minha irmã. Quando eu vou na casa da minha mãe e do meu pai, a gente se encontra. Vejo todo mundo no almoço de do-mingo. Então, meus irmãos, provavelmente, amanhã vão estar lá (a e n tre v is ta a c o n te c e u em u m s á b a d o p e la m a n h ã ). já eu não tenho tanta certeza ...(L e m b ra n d o ) Ah, eu vou estar

lá porque o meu filho chegou de férias nessa madrugada. Mas a gente (irm ã o s e e la ) tem um relacionamento muito importante de cari-nho, amor e respeito. Não (s o m o s ) tão próxi-mos, mas temos (e s s e re la c io n a m e n to ).

Sabe aquelas coisas das irmãs que se juntam para discutir e contar as histórias? Eu não tenho muito isso. Eu sempre fui mais afastada, reservada, até em relação a minha família. Uns dizem que isso é esquisitice. Não sei o que é, não. Às vezes, eu acho que é pre-guiça. Eu gosto de ficar parada, inerte, feito um musgo, que fica preso lá na rocha.

Bárbara -

Você foi criada em uma família

católica. Isso influenciou na pessoa que você é hoje?

Maísa -

Eu acredito que sim.

É

uma

per-gunta meio fácil de responder, porque se eu tivesse sido criada em uma família evangé-lica, e você tivesse me perguntando, talvez eu tivesse respondido a mesma coisa. Então (n ã o in flu e n c io u ) porque era católica, mas pelos valores que (m e u s p a is ) passavam. Meu pai e minha mãe são católicos, ainda

o

primeiro filho de Maí-sa, João Gabriel, é forma-do em Comunicação Social I Jornalismo pela UFC e, inclusive, já participou de uma das edições da Revis-ta EntrevisRevis-ta.

(7)

Zé Rosa só estaria dis-ponível em uma terça-feira, dia em que estava marcada a entrevista com Sérvulo Esmeraldo. Dessa forma, a equipe só pôde conversar com Fábio.

A equipe de produção marcou a pré-entrevista com Maísa em um café próximo ao estúdio da Nor-destv. Roberto, namorado de Isabele, levou a dupla, que chegou a se perder no caminho.

hoje são praticantes. Eles nunca foram muito rígidos no ritual, mas eram rígidos na mensa-gem e acho que isso influenciou de verdade. A mensagem cristã do respeito ao outro e de respeitar a família, a coisa da hierarquia. Eu

acho que isso influenciou, sim.

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

F e l i p e - Como é sua relação hoje com a

religião?

M a í s a - O que eu vou responder? Eu não sou praticante de nenhuma religião. Eu sinto que eu absorvi a mensagem de respeito ao outro, de necessidade de entender minima-mente o que é compaixão, de levar a diante uma mensagem de paz. Eu acho que isso é a base do cristianismo. Eu não falo nem do catolicismo, mas do cristianismo mesmo. Eu acho que eu absorvi isso, mas não pratico nenhuma religião, não vou a nenhum tipo de ritual religioso, mas me considero uma pes-soa de fé.

C a r o l i n a - Maísa, você ficou grávida mui-to jovem, aos 19 anos. Como ficou a relação com os seus pais depois desse fato?

M a í s a - Eu fiquei grávida jovem, mas não era muito jovem. Porque hoje tem meninas com 12 anos engravidando e isso é muito jovem. A minha mãe ficou grávida da minha

irmã mais velhajihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(q u a n d o e la e ra ) muito mais jovem que eu, mas, para mim, era muito

jo-vem (q u a n d o fiq u e i g rá v id a ) porque eu es-tava começando a construir coisas que, de fato, eu queria.

Foi um período conturbado, mas de mui-to aprendizado. Conturbado porque os meus pais não esperavam que eu engravidasse adolescente, sem casar. E porque eu fui a pri-meira em uma parcela enorme da família. Ne-nhuma das mulheres filhas das minhas tias ti-nha engravidado adolescente e solteira. Isso foi muito difícil, (p o rq u e ) eu esperava uma reação muito rígida deles (d o s p a is ). Eu achei que eles não iam aceitar de jeito nenhum. Eu tive medo. Eu era corajosa, mas nessa época eu tive medo. Tanto que eu escondi (a g ra v id e z d u ra n te d o is m e s e s ). Eu tive uma gravidez de vomitar todos os dias. E eu tive de esconder tudo isso durante dois meses. Minha mãe ficou muito arrasada, óbvio. Ela jogou na (m in h a ) cara tudo o que ela podia, descontou tudo. "Como é que pode? Você? Podia ser qualquer uma das suas irmãs, mas você? Você sempre soube de tudo, sempre foi a dona da razão? Você não sabia como engravidava? Você não podia ter sido mais inteligente?" - ela (m ã e ) me jogou tudo.

Eu chorei (p o r) dias, ela também. Eu achei que eles iam me botar para fora de casa. Não fizeram isso e eu ainda trouxe o namorado para casa(rin d o ) ...

C a r o l i n e - (In te rro m p e n d o ) E como foi a reação do seu namorado?

M a í s a - Nós tomamos um porre juntos. Crianças, não façam isso em casa! (ris o s ). Mas não tinha outra coisa, então "vamos be-ber", mas foi exatamente isso que aconteceu. Ele era muito novo. Ele sim era muito jovem, tinha 16 ou 17 anos, era secundarista. Eu es-tava na universidade. Eu até brinquei com os meninos (n a

pré-entrevistei,

dizendo que era como Eduardo e Mônica (M ú s ic a d a b a n d a L e g iã o U rb a n a , q u e c o n ta a h is tó ria d e u m a

c a s a t m u ito d ife re n te e n tre s i). Um pouco di-ferente porque eu não falava alemão (ris o s ), mas eu curtia 8auhaus (U m a d a s p rin c ip a is e im p o rta n te s e x p re s s õ e s d o c h a m a d o M o d e

r-n is m o r-n o D e s ig r-n e r-n a A rq u ite tu ra , s u rg id a n a

A le m a n h a , fu n c io n a n d o e n tre o s a n o s 1 9 1 9 - 1933) e ele era adolescente, ele era secun-darista, mas foi bacana porque a gente viveu um momento muito intenso. A gente estava no movimento estudantil, nas passeatas. Nos pelotões de frente, a gente estava junto. En-tão, foi lindo isso. Porrada, gás lacrimogêneo, invasão

à

universidade. Essas coisas a gente viveu juntos. (A g ra v id e z ) Foi um susto mui-to grande, mas ele disse: "Vamos encarar de frente".

(8)

his-ória se repetiu com o se 11 o, Q e&0· pai

muito jovem. Como você reag u a 'sso?

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

M a í s a - Foi um susto! Eu não sei se o

mesmojihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(s u s to ) que a minha mãe teve, talvez tenha sido menor, porque eu já tinha tido

me-nino, não era possível que não tivesse apren-dido nada. No primeiro momento, eu fiquei chateada. Jogo da velha "chateada" (M a ís a fa z re fe rê n c ia a s h a s h ta g , s ím b o lo u s a d o n a s

re d e s s o c ia is , # c h a te a d a - ris o s ). Eu fiquei pensando: "O que eu fiz de errado?". (M e u

filh o ) Era só um adolescente ... Descobri que

ele transava sem camisinha. E eu fiquei muito chateada. "Porra, eu estou fazendo tudo er-rado. Ele podia estar fazendo outras coisas, mas, se ele quisesse ter filho, que ele tivesse planejado". Mas não, elete v e filho no susto, que nem eu. Acho que, no primeiro momen-to, eu fiquei frustrada por não ter conseguido

prepará-to

suficientemente, mas depois que eu chorei três dias, e (d is s e ) que ia apoiá-lo em tudo. E comecei av e r: "Não, por que eu

v o u jogar para mim a responsabilidade de

ele ter engravidado uma menina adolescen-te? Vaiv e r (fo i) porque ele não quis a b s o rv e r o Que eu considerava que era certo para ele. Ele tem de passar por isso. Cada um tem de v iv e r a sua v id a ". Estamos ótimos hoje em dia.

P a u l o R e n a t o - Ev o c ê gosta de sera v ó ? M a í s a - Adoro! Foi uma das experiências mais incríveis que eu podia ter. Hoje eu es-tou longe dele, porque os meus filhos moram fora, meu neto mora fora. Hoje eu estou le-v a n d o minha v id a sozinha (rin d o ) ...

D i e g o - (In te rro m p e n d o ) Você acha que, por ter pulado algumas fases da sua v id a ,

v o c ê conseguiu ser uma boa mãe?

M a í s a - Eu acho que eu sou uma boa mãe. "Conseguiu" não, que eu não parei de ser mãe (ris o s ). Eu digo para eles (o s filh o s ), quando eutiv e r velhinha, com 90 anos - olha a pretensão! (b rin c a n d o ) =, e ele com 70, ele

v a i falar: "Sim, senhora mamãe" (ris o s ). Não, mas não tem esse rigor entre a gente. Mas eu tento ser uma mãe legal. Quando eu engra-v id e i, eu pensei: "Vou fazer tudo diferente". Que nada! "A in d a s o m o s os m e s m o s e v iv e -m o s c o -m o osn o s s o s p a is " e como as nossas

mães (M a ís a fa z re fe rê n c ia à m ú s ic a d e B e l-c h ia r, C o m o os N o s s o s P a is ). Pelo menos, a gente (h o je ) pode expressar mais, pode dizer mais, assumir que está errada. Acho que o meu pai e a minha mãe não era permitido a eles assumirem que e s ta v a m errados. Hoje eu assumo: "Errei, fiz tudo errado".

C a r o l i n a - Maísa, v o c ê , quando jo v e m , queria explorar o mundo, participar de uma aventura. Você acha que ser mãejo v e m foi a sua aventura?

M a í s a - Provavelmente! T a lv e z isso

ti-vesse até reservado para mim. Uma grande aventura (fo /l amar, porque eu me apaixonei pelo pai do meu filho. Foi um amor de ado-lescência muito forte e eu escolhi isso. En-tão eu acho que foi, sim. Se entregar a um amor adolescente e v iv e r essa coisa. Fazer algo que eu jamais queria fazer, que era ficar dentro de casa, cuidando de filho. Mas que coisa,n é ? Eu queria ir.para o mundo, ser uma profissional bem sucedida e tal, chamar aten-ção,ta lv e z com projetos incríveis de urbanis-mo. Eu entrei na universidade já indo para o Congresso Internacional de Arquitetura e eu queria conhecer os grandes nomes da Arqui-tetura. Eu queria ter algum

stetus,

não por pretensão e v a id a d e , mas por querer estar fazendo alguma coisa que eua m a v a . E eu fiz exatamente o oposto, por conta da dualidade mesmo, ta lv e z tenha sido sim (u m a a v e n tu -ra ).

I s a b e l e - Maísa,v o c ê perdeu o seu segun-do marisegun-do de forma muito repentina. Como foi esse momento?

M a í s a - Foi um absurdo - eu acho "mari-do" uma palavra muito pesada. Eu não con-sigo dizer dev e rd a d e . Euc o n v iv o com meni-nas muito jovens, casadas a maioria, e elas dizem: "O meu marido" (rin d o ). Eu acho uma coisa sublime. Tem a coisa da posse, mas é uma posse compartilhada. Eu acho "marido" uma coisa muito pesada, mas é marido, n é ?

Eu nunca casei oficialmente nem no padre nem no papel. Eu v iv i uma união com o pai do meu primeiro filho. Algo que durou em torno de quatro anos. E com o Almiro, com quem eu v iv i dez anos, foi uma relação mais intensa, mais duradoura, mais madura. Ele me acolheu quando eu me separei do João José, pai do Gabriel. Pouco tempo depois, acho que seis meses ta lv e z , eu já comecei a namorar com ele (A lm iro ) e fui para a casa dele, passamos av iv e r juntos. E ele me aco-lheu com as minhas incertezas, com a minha separação. Eu não tinha profissão. Estava

"Eu

t i v e

u m a

g r a v i d e z

d e v o m i t a r

t o d o s

o s d i a s . E e u

t i v e

q u e

e s c o n d e r

t u d o

i s s o d u r a n t e

d o i s m e s e s .

M i n h a

m ã e f i c o u

m u i t o

a r r a s a d a "

Chegando ao estúdio, Maísa sugeriu conversar com a equipe de produção lá mesmo. A apresentado-ra escolheu um local bem agradável, ao lado dos con-tainers da emissora.

(9)

Maísa se mostrou mui-to gentil e levou a equipe de produção para conhe-cer toda a Nordestv e os colegas de trabalho dela. "Esses são alunos da 'Fe-deral'" - dizia.

Durante a pré-entrevista, Maísa contou que tem pro-blemas de memória e difi-culdade para lembrar de alguns fatos da infância, o que preocupou a equipe de produção.

querendo me redescobrir. Não queria mais ser arquiteta e não sabia mais o que eu queria ser. Na verdade, foi uma coisa de amadureci-mento junto.

E ele, simplesmente, se foi em um mo-mento inesperado. Muito jovem, com 36 anos, a gente estava só começando. A gente estava junto há sete anos quando eu engra-videi. Foi um susto de novo, mas a gente já tinha atravessado muitas coisas. Quando o nosso filho estava começando a crescer, ele foi. Não teve tempo de dizer tchau. Não sabia

o que estava acontecendo.jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(A lm iro te v e u m a ta q u e c a rd ía c o e m 1 9 9 8 ).

A morte dele ... Eu ainda não consigo dizer "morte" com naturalidade, porque a morte é uma coisa absurda de rompimento. O que é a morte? Nunca ninguém tinha me dito exa-tamente. Eu nunca tinha tido uma experiên-cia de ver alguém tão próximo partindo. E foi traumático, porque, além da morte ser uma coisa traumática - ninguém venha dizer que não é porque não tem argumento que me

com uma pena. Gente! Maluco isso! E o que eu fiz? Vesti uma armadura. Eu sempre me considerei uma pessoa forte, mais forte do que eu deveria ser. Eu vesti isso e fui

à

luta.

Acho que eu não me permiti viver o luto. Talvez eu tenha feito muito mal a mim mes-ma e aos meus filhos. Era como se eu quises-se dizer: "Não, não foi nada". Como a queda, que a criança cai e todo mundo fala: "Não, isso não foi nada. Passou". "Eu sou forte, eu posso superar isso". Ele morreu em um sá-bado e, obviamente, eu não fui trabalhar na segunda-feira - só faltava eu ter ido -, mas meus dois filhos foram para a aula. Ninguém faz isso. Eu acho que ninguém devia fazer, mas eu fiz. Quando foi na segunda-feira se-guinte, eu comecei a trabalhar. Eu engoli o choro e engoli o luto. Aí de vez em quando ele volta, como volta agora.

Eu comecei a perceber o seguinte: a mor-te, essa absurda e definitiva, deveria ser con-versada. O meu filho mais novo começou a expressar a dor dele, o luto dele, nos

de-convença -, foi inesperada. Ele era um ho-mem muito jovem e cheio de planos. Como alguém cheio de planos e com vontade de vi-ver tanto não tem tempo de dizer: "Tchau, eu

indo" (M a ís a s e e m o c io n a ). Não deu tem-po, foi uma coisa absurda. Eu fiquei revolta-da! Depois da tristeza, que eu queria morrer. Depois, pensei: "Opa, espera aí, eu tenho dois filhos".

Agora fez 15 anos que eu ele morreu, mas só depois de muito tempo que eu fui dizer a palavra "morte". Eu não dizia. Eu esqueci tudo o que tinha acontecido, eu bloqueie o trauma que foi. Ele morreu (e n q u a n to ) eu estava tentando reavivá-Io sozinha em uma

praia, com ele e o nosso filho.

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

P a u l o R e n a t o - E como foi encarar mais

uma revolução na sua vida? A primeira gran-de revolução foi ser mãe e a segunda foi ser viúva tão cedo.

M a í s a - "Viúva" é uma palavra ter-rí-vel (e n fa tiz a n d o l, eu acho.

É

um dos piores ca-rimbos. Primeiro, porque a viúva, em muitas culturas, é vista como a coitadinha, a "póbi véia miseráve" (b rin c a ). No fundo, aqui (c u

l-tu ra b ra s ile ira ) também é, porque depois eu

comecei a ver que as pessoas me olhavam

senhos que ele fazia. Ele não colocava uma cor nos desenhos. Era só preto, preto, preto (M a ís a s e e m o c io n a ). E pensava: "Como eu vou falar sobre isso com esse menino?". Eu comecei a comprar livrinhos que ratavam da questão da morte, a escola onde ele estuda-va tinha um tanatologista e eu pedi que ele (o ta n a to lo g is ta ) me ajudasse. Eu acho que ninguém fala da morte como algo de ver-dade. Falam da morte como uma vertigem, uma coisa distante, que ninguém vai passar por ela.

P a u l o R e n a t o - Você acha que hoje vive uma ideia maior de finitude?

M a í s a - Não, eu tenho um medo desgra-çado de morrer (g a rg a lh a ). Estou brincando. Talvez, sim, porque, se dissessem assim: "Você vai morrer hoje. Você está pronta?", (v o c ê re s p o n d e ria ) " Não,né]", Nem eu. Mas

(10)

da vida feliz. Achando, que até hoje, eu vivi o que me é permitido viver. E é isso que eu vou levar.

Taís - Você nunca quis casar oficialmente. Após a morte do seu marido, você se arre-pendeu de nunca ter casado com ele?

Maísa - Arrependi-me e continuo me ar-rependendo, você acredita? Durante muito

tempo, elejihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(s e g u n d o m a rid o ) ficou fazendo armadilhas para mim, para me amarrar, para

eu casar com ele (g a rg a lh a ). "Vamos casar nem que seja para a gente fazer um chá de cozinha e ganhar um monte de presentes" (ris o s ). ele brincava demais.

Eu me arrependi porque um dia desses tive de entrar na justiça, pagar caro um advo-gado, para ter uma certidão de união estável pós-morte. Então, eu me arrependi de não ter casado.

Felipe - De onde você acha que surgiu isso de não querer casar?

Maísa - Antes eu não queria me curvar a uma exigência da sociedade e do capitalis-mo (g a rg a lh a n d o ). Eu estou brincando, mas

pre achei que o meu pai era um grande cons-trutor. Na década de 80, meu pai construía aquelas casas nas dunas.

"Tá

vendo aquela construção (e d ifíc io ). moço? Tá vendo aque-la casa, moço? Fui eu que ajudei a construir" (M a ís a fa z re fe rê n c ia à m ú s ic a "C id a d ã o ': d o

á lb u m

"Frevoedor",

d e

R a m a lh o ). Então ele estava lá fazendo aquilo. Talvez eu qui-sesse levar um sonho adiante. Uma realiza-ção que ele não tinha podido fazer. Acho que ele me influenciou, sim.

Agora por que Arquitetura exatamente e não Engenharia? Não sei, acho que é porque eu queria mudar o mundo. T a lv e z eu achasse que arquitetos pudessem estar mais próxi-mos do aspecto social e humano do que a Engenharia.

Diego - Como foi ser mãe e ao mesmo tempo universitária?

Maísa - Eu, bem dizer, não consegui, por-que eu tive de largar a faculdade. Acho por-que porque tinha o conflito em casa. Minha mãe dizia que eu era quem ia tomar conta (d o

fi-lh o ) e o meu namorado teve de ir trabalhar

"Acho

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

q u e

o m e u

p a i e a m i n h a

m ã e

n ã o e r a p e r m i t i d o

a e l e s a s s u m i r e m

q u e

e s t a v a m

e r r a d o s .

H o j e

e u a s s u m o :

'Errei,

f i z t u d o

e r r a d o '"

talvez fosse isso. "Mas como assim a famí-lia como instituição?". Queriam me obrigar a casar. "Não, não só obrigada a casar". Então era mais ou menos uma coisa de marcar po-sição.

Depois, no meu segundo casamento, (n ã o c a s e i o fic ia lm e n te ) porque achava que era uma bobagem. A gente já era tão feliz. Para que isso? Então são coisas diferentes e momentos diferentes (e) eu mantendo uma

posição. Hoje em dia, por que eu não quero casar? Porque eu passei muito tempo sozi-nha e eu acho que a gente vai ficando meio ranzinza com algumas coisas. (A g e n te ) Vai batendo muito o pé e, para equilibrar as dife-renças, é muito complicado. Talvez eu mude de ideia.

Felipe - Agora, a gente vai abordar mais a sua vida profissional, começando pelo perí-odo em que você cursou Arquitetura na UFC. Seu pai, o mestre Sousa, é mestre de obras. Você acha que a profissão dele influenciou na escolha pelo curso de Arquitetura?

Maísa - Claro! Eu não sei, se no fundo, eu queria ser mais do que ele ... Ser mais do que ele não numa competição, mas para fazer v a -ler o que ele sabia, o que euv ia nele. Eu

sem-também muito jovem. Acabou que eu tran-quei, inicialmente, depois eu larguei. Eu não consegui naquele momento ser mãe e levar o sonho de ser arquiteta adiante.

Depois eu tentei quando ele (G a b rie /) es-tava um pouquinho maior, tinha um ano, eu acho, já era um bebezão. Eu consegui voltar para a faculdade. Tinha dia que (e u ) levava ele para a faculdade e eu até disse para os meninos (d a p ro d u ç ã o ) que ele c h e g a v a a ficar com "babás". Alguém da turma ficava de babá. Eu sempre me lembro do Falcão (C a n to r e c o m p o s ito r c e a re n s e , c o n h e c id o

p o r m ú s ic a s c o m to m d e h u m o r e p e lo e s tilo

c a ric a to - M a ís a ri, e n q u a n to c o m e n ta s o b re

o a m ig o ). ele entrou na Arquitetura uma ou

duas turmas depois de mim, eu acho, (e)

che-gou a funcionar como babá do Gabriel. Uma vez ele (G a b rie /) levou um choque com as tomadas da sala e eu achei aquilo um absurdo. Nãoe s ta v a dando certo mesmo. Aí eu tranquei a faculdade de vez. Abandonei. Deixei lá.

Mikaela - Como v o c ê entrou para a Co-municação?

Maísa - Foi assim: em 1988, mais ou me-nos, eu estava trabalhando com produção.

Logo após a conversa com Maísa, a equipe de produção encontrou Fábio Vasconcelos no mesmo lu-gar. Fábioéum dos irmãos mais próximos da apresen-tadora.

(11)

A entrevista acontece-ria no dia 27 de junho. No entanto, teve de ser can-celada devido à decisão da Prefeitura de Fortaleza em decretar feriado no dia do jogo entre Espanha e Itália na Arena Castelão pela Copa das Confede-rações.

A equipe de produção teve dificuldade para es-colher o local da entre-vista. Ronaldo Salgado ofereceu a casa onde mora. Os alunos ficaram curiosos para conhecer o recanto do professor.

Eu me separei, eu não tinha uma profissão e nunca tinha trabalhado. Trabalhava de forma informal, porque eu fazia artesanato e vendia. Eu não tinha profissão e comecei a trabalhar com produção. Acho que foi meu irmão que me chamou. Ele já trabalhava com produção

e eu fui trabalhar comjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(p ro d u ç ã o ) cultural. Em uma época, eu estava tão cansada e

eu fiquei ouvindo gente que dizia que eu ti-nha uma voz boa. Eu trabalhava com produ-ção, fazendo divulgação. Eu fazia (ta m b é m ) o release, fazia o cartaz. Depois descobri que (is s o )era op re s s k it (m a te ria l q u e p o d e in c lu ir

b rin d e s p ro m o c io n a is , u m a a m o s tra d o p ro

-d u to o u

o

p ró p rio p ro d u to , fo to s d e d iv u lg a -ç ã o , c re d e n c ia is d e im p re n s a e o u tro s ite n s

q u e fa c ilite m fi c o b e rtu ra jo rn a lís tic a s o b re

o

q u e e s tá s e n d o d iv u lg a d o ). Eu fazia bem, fazia legal. Acabei ouvindo do (jo rn a lis ta ) Nonato Albuquerque que a minha voz era microfo-nável. Eu estava na rádio uma vez, fazendo a divulgação de um show e ele disse: "Por que você não passa para o lado de cá? Sua voz é microfonável". Eu fiquei com aquilo (n a c a b e

-ç a ) e fui em busca de saber o que era.

Meu marido me ajudou nisso. Ele disse: "Você está tão infeliz, tão insatisfeita, tão can-sada. Não tem tempo para você, para cuidar do seu filho, para a gente. Por que você não pensa em levar isso adiante?". Ele (A lm iro ) se informou que tinha um curso de formação para radialistas, um curso de nível médio. E ele me ajudou a buscar uma pessoa que pu-desse me dar um estágio porque você tinha de ter uma empresa onde fizesse o estágio

(p a ra p o d e r c u rs a r) e eu fui fazer o curso.

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

P a u l o R e n a t o - Antes disso, você nunca tinha parado para pensar sobre esse seu viés de comunicadora?

M a í s a - Acho que, na verdade, não. Eu já era (c o m u n ic a d o ra ) porque, inclusive, nessa empresa de produção onde eu trabalhava, quando o evento acontecia eu fazia a produ-ção e, na hora do show, eu apresentava (g a r-g a lh a n d o ). Era superlegal, porque eu ia para o palco ...

Eu estava nas redações, gente. Eu ia para a redação do (jo rn a l) O Povo, especialmente, na época. Eu entrava na redação e parecia que eu estava em casa, sabe? Eu gostava dis-so. Havia uma identificação mínima. Foi uma coisa fácil de se identificar. Eu apresentava o

show e gostava, lidava bem com o público e tal. A coisa já estava se encaminhando.

T a í s - Como foram suas experiências com rádio?

M a í s a - Eu comecei justamente no rádio, porque eu fiz curso para radialista. Eu acho que foi em novembro de 1989... Fiz o curso em Sobral (m u n ic íp io a 2 4 0 q u ilô m e tro s d e F o rta le z a ), inclusive. Foi uma coisa

compli-cada porque eu não tinha grana para viajar, eu não tinha grana para a estadia. Eu lembro que saí fazendo contato com pessoas e pas-sei uma semana no comitê do PT, em Sobral. Quem me arranjou esse contato, eu não me lembro. Era só um quartinho bem pequeni-nho, metade desse compartimento (M a ís a e x p lic a

o

ta m a n h o d o lo c a l u s a n d o

o

e s p a ç o d a e n tre v is ta c o m o re fe rê n c ia ).

Eu fiz o curso de radialista, quando voltei, eu entrei no estágio na rádio, que se chama-va Pajeú FM. Eu fiquei na Pajeú (p o r) um ano e pouco. Tinha uma programação muito ba-cana. O programa que eu apresentava era de oito horas ao meio dia, chamava-se Via Brasil. Só tocava música brasileira e a gente que fazia a programação. Não tinha o jabá (P a g a m e n to q u e s e fa z p o r g ra v a d o ra s a o s p ro fis s io n a is

p a ra to c a re m a s m ú s ic a s d o s a rtis ta s d e /a s ), que chegava e você tinha de rodar isso.

Eu sai da Pajeú (F M ) e trabalhei na Casa Blanca FM. Eu acho que ainda trabalhei em outra rádio ... Mas, nesse começo, sempre em FM.

M i k a e l a - Você não tem vontade de voltar para o rádio?

M a í s a - Tenho. Todos os dias, quando eu acordo, tenho vontade de voltar, estar no

rá-dio. .

M i k a e l a - Já fez planos para voltar para o rádio?

M a í s a - Já. Eu fiz um projeto para uma rádio local - acho que era AM. E na hora H, que ia dar certo - eu já tinha conversado com a direção -, os planos da rádio viraram com-pletamente. Ela entrou em uma rede. E não teve mais espaço para mim. Agora, até achei que eu também voltaria, não rolou ainda. Mas acho que vai rolar.

É

muito provável que uma coisa, até natural, seja a minha passagem para o rádio. Eu espero que seja.

B á r b a r a - O que mais te fascinava na pro-fissão de radialista?

(12)

M a í s a -

srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Hurn, deixa eu ver. .. Acho que eu queria conversar com as pessoas. Eu estava

em FM, mas eu queria estar mesmo na AM. Aquela rádio do domingo de manhã, que o meu pai ouvia. A minha mãe ouvia muito rá-dio na minha infância. A comunicação que a gente tinha com o interior era pelo rádio. Os recados mandados ... Eu achava aquilo in-crível. Olha que coisa tola: a gente ia para o interior e não tinha como avisar ao meu avô. Não tinha telefone, obviamente. Como era o recado? "Sebastião Lameu, sua filha Idinha avisa que dia tal está chegando aí". Gente,

era desse jeito!jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(ris o s ). Eu sempre quis fa-zer esse rádio que comunicava as pessoas.

Eu comecei em FM porque era "o que temos para hoje", mas acho que conversar sempre foi a minha vontade.

D i e g o - Como foi essa transição do rádio para a TV?

M a í s a - Acho que é porque eu era boniti-nha (b rin c a n d o - ris o s ). Talvez alguém tenha percebido essa empatia. Não sei exatamente quando foi isso. Acho que em 1989 mesmo. Eu sei que fiz publicidade, fiz comercial. .. Não lembro se fiz comercial primeiro ou se fiz pri-meiro os trabalhos na TVE (T V E d u c a tiv a ) -que hoje é TVC (T V C e a rá ). Eu fui fazer um teste para a TVE, um teste de estúdio. Estou me lembrando vagamente disso ... Era um teste de câmera. E fiz bem ... E acharam que eu tinha "naturalidade" para falar na frente da câmera. Não ficava aquela coisa robótica, en-saiada. Não precisava de texto. E foi ...

P a u l o R e n a t o - Você se sentia, nesse co-meço, já totalmente

à

vontade ...

M a í s a - (In te rro m p e n d o ) Eu me sentia. P a u l o R e n a t o - Você acha que nasceu para a TV mesmo?

M a í s a - Se eu nasci para a TV, eu não sei.

De verdade, eu não sei. Mas eu já me sentia

à

vontade. Nunca precisei que alguém me des-se "altos toques". "Faz assim!". Não! Não des-sei. Fui lá, falei e achei bacana. Era como, se ali na lente, estivessem todas as pessoas com quem eu queria falar.

F e l i p e - Como foi começar a ser reconhe-cida na rua?

M a í s a - Foi estranho. Porque eu sempre fui reservada. Tem algumas palavras, n é ? Eu chamo "reservada". Algumas pessoas cha-mam de "antipática", "eu-doce", "só-quer--ser-as-pregas" (g a rg a lh a d a s ) ... N é ? No bom

"cearencês".

Mas eu acho que sempre fui re-servada. Eu me dou o direito de me dar essa palavra (re s e rv a d a ) mais amena, esse eufe-mismo (rin d o ). Mas aquilo foi estranho para mim! Como eu sempre fui muito mais antipá-tica por ser reservada, quando as pessoas co-meçaram a me reconhecer na rua, eu percebi que isso ia me dar problema. Problema no sentido de que eu sempre fui tão transparen-te com o que eu penso, sinto e sou; sem mui-ta frescura, sem máscaras, sem nada disso ... E(e u s a b ia q u e ) elas(a s p e s s o a s ) iam me ver e iam me interpretar mal. Então, isso me as-sustou um pouco no começo.

Tinha um produtor na (TV) Jangadeiro ... Eu comecei na Jangadeiro em abril (d e 7 9 9 3 ). Talvez em maio, por aí, ele ficava me pergun-tando: "E o ônibus?". Eu não sabia o que era essa história (rin d o ). Quando eu comecei a ouvir "Maisa Vasconcelos" (fa la e s tic a n d o o "s " d e fo rm a s ib ila n te ). Porque tinha um hu-morista, que fazia o programa N a B o c a d o

P o v o - que foi o programa que eu fui

apre-sentar lá(n a J a n g a d e iro ) desde o começo - e dizia: "Maisa Vasconcelos" (s ib ila n d o o "s"). Esticava esse "s". n é ? Rapaz, o pessoal dizia isso dentro do ônibus! (ris o s ) Eu queria

mor-o

professor Ronaldo foi muito acolhedor e recebeu todos com salgadinhos e refrigerantes. Todos fica-ram encantados com a be-leza do local.

(13)
(14)
(15)

Antes de começar a en-trevista, enquanto todos os alunos estavam em si-lêncio, esperando o início, Maísa quebrou o gelo e brincou, falando "bu!", To-dos caíram na gargalhada.

Muito bem humorada, Maísa provocou muitas ri-sadas durante a entrevista. Todos os entrevistadores adoraram a participação da apresentadora na revista.

"Acho

SRQPONMLKJIHGFEDCBA

q u e e u n ã o

m e p e rm iti v iv e r

o lu to . T a lv e z e u

te n h a fe ito m u ito

m a l a m im

m e s m a

e a o s m e u s filh o s .

E ra c o m o s e e u

q u is e s s e d iz e r:

'Não,

n ã o fo i n a d a '"

rer porque eu ficava com vergonha

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( g a r g a -lh a n d o ) . Porque, quando ele dizia isso, todo

mundo olhava para onde ele estava olhando e erap r a mim, n é ? E eu ficava envergonhada. Não queria chamar atenção. Nunca quis cha-mar atenção de ninguém. Sempre fui mais discreta.

P a u lo R e n a to - Você gostava de se ver na televisão?

M a ís a - ( E n f á t ic a ) Nunca gostei! Não me peçamp r a explicar isso porque nunca gostei. Eu não tenho arquivo de nada do que eu fiz até hoje. Talvez porque eu tenha levado mui-to a sério a coisa do "ao vivo". Sempre fiz o "ao vivo". Na rádio ... A rádio é a instantanei-dade. O que você disse, foi ( a o a r ) . Inclusi-ve, o palavrão terrível que eu disse uma vez. No ar. Bem alto nas caixas de som! ( r in d o )

Quando eu ouvi o retorno, eu disse: "Cara-lho, fodeu!" ( g a r g a lh a d a s ) . Imediatamente, a porta do estúdio abriu ( r in d o ) . Era a secretá-ria do meu chefe, que por sinal era coronel. O coronel Uirandé Borges ( M ilit a r e p o lí t ic o c e a r e n s e ) me chamando. Eu sentei na frente dele e ele me disse: "Minha filha, você é tão bonita, por que você diz palavrão?". Eu disse: "Coronel, saiu!". ( g a r g a lh a d a s ) . Tava aberto o microfone! Ai, gente!

F e lip e - Qual foi o palavrão?

M a ís a - Foi só "puta que pariu", gente!

( g a r g a lh a d a s ) Mas foi bem alto o retorno. Eu pensei que o microfone estava desligado. Aí falei: "Puta que pariu!".

D ie g o - Você brincou sobre ter entrado na TV por ser "bonitinha". A televisão tem esse estereótipo mesmo da beleza?

M a ís a - O que você acha? Você está no telejornalismo porque você tem seus olhos verdinhos também ( B r in c a n d o - R is o s ) . Tem!

P a u lo R e n a to - T ô lascado! ( b r in c a n d o )

M a ís a - Melhor você ficar no impresso!

( r e f e r in d o - s e a P a u lo R e n a t o - G a r g a lh a d a s )

Ei, eu

brincando! Mas tem (o e s t e r e ó t ip o

d a b e le z a n o t e le jo r n a lis m o ) , óbvio. A sedu-ção pelo visual obviamente. Então, eu não tenho o padrão de beleza. Vejam, eu não sou loira, não tenho peitões. Eu fazia luzes, n é ?

Hoje, eu não faço. Rá! ( r in d o ) . Eu deixei de tinturar meu cabelo porque eu realmente não gosto. Detesto! Então, não estou nesse pa-drão. Esse padrão sempre existiu. É a beleza que dita, sim. Eu não concordo. Eu acho que a televisão precisa ser mais que isso. Eu fui parar lá ( n a TV) talvez por uma carência de pessoas.

( N e s s e m o m e n t o , M a í s a c o m e ç a a c o n t a r c o m o c h e g o u à t e le v is ã o ) Primeiro trabalhei na TVE; fazia programas culturais. Toda se-mana tinha ( a e x ib iç ã o d e ) um filme e eu fazia a abertura desse filme. Passava o resuminho e voltava no final do bloco p r a fazer um co-mentário. E, depois, fui fazer o telejornal. Foi uma experiência muito curta, mas eu ado-rava. Era o que eu queria de verdade fazer; estar na bancada, apresentar o telejornal. De-pois, fui para a (TV) Jangadeiro para fazer um programa diário porque eles precisavam de uma mulher.

O Tancredo Carvalho ( J o r n a lis t a f a le c i-d o . F o i e i-d it o r d o jo r n a l OP o v o e

o

p r im e ir o s u p e r in t e n d e n t e d a T V J a n g a d e ir o ) estava procurando essa mulher ( c o m p e r f il p a r a o

(16)

-n h e c id o p e lo p e r s o n a g e m Z é M o d e s t o ) .

onmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Ele estava fazendo um quadro de humor nos

in-tervalos. Ele disse: "Maísa, a Jangadeiro está precisando de uma mulher. Por que você não vai lá? Eu falei que conhecia uma pessoa e ele

( T a n c r e d o C a r v a lh o ) queria saber se tu pode ir lá " . Eu fui. Cheguei na sala do Tancredo, ele olhou p r a mim e disse: "Ela é bonitinha,

né?

Mas é muito baixinha!". O Tancredo era assim: ele olhava p r a você e dizia o que ele pensava. "Ela é muito baixinha. Compra um sapato p r a e la !" ( r is o s ) .

Marcaram o teste. Era no período de car-naval. Tinha baile de carnaval ainda no Igua-temi; um desfile de fantasias. Eu fuip r a fazer esse teste. Gente, eu fiz uma produção assim de última hora. Arrumei meu cabelo. Eu usa-va o cabelo tipo o teu ( a p o n t a n d o p a r a B r u -n a ) , bem natural - Aqui ( n o m o m e n t o d a e n -t r e v is -t a ) , ele está mais ou menos escovado. O meu cabelo ( n a t u r a lm e n t e ) é bem ondula-dinho =,curtinho aqui ( p o s ic io n a d o a m ã o n o p e s c o ç o ) . Botei uma blusinha de paetê, uma camiseta de paetê, com uma pantalona mais discreta, preta. E fui para esse teste. Fiz o tte no desfile de fantasias do Iguattemi. Eu es-tava ao vivo. Eu não sabia, obviamente. Mas ele não disse e me botou no ar em um teste ao vivo. Tancredo era louco porque poderia ter dado tudo errado. Passei no teste e

come-cei a trabalhar, eu acho, uma semana depois

SRQPONMLKJIHGFEDCBA

IJ E u e s ta v a n a rá d io

u m a v e z , fa z e n d o

a

d iv u lg a ç ã o

d e u m

s h o w e

e le (N o n a to

A lb u q u e rq u e )

d is s e :

'Por

q u e v o c ê n ã o

p a s s a p a ra o la d o

d e c á ? S u a v o z

é

m ic ro fo n á v e l'"

no N a B o c a d o P o v o .

C a r o lin e - Você trabalhou na TV Janga-deiro por 16 anos e depois foi desligada ...

M a ís a - ( I n t e r r o m p e n d o ) Defenestrada!

( b r in c a n d o )

C a r o lin e - Como você se sentiu quando isso aconteceu?

M a ís a - Eu fiquei muito triste! Foi uma experiência muito difícil. Primeiro, porque foi a primeira vez que fui demitida na vida. Imagina! Olha que coisa mimada! Nunca ti-nha sido demitida. Mas, também, eu trabalhei mais de 16 anos na mesma emissora. Acho que fiquei mais triste porque queria entrar no

G u in n e s s ( G u in n e s W o r ld R e c o r d s , liv r o q u e c o n t a b iliz a r e c o r d e s e s u p e r la t iv o s r e c o n h e -c id o s in t e r n a -c io n a lm e n t e ) . Eu estava fazendo pesquisa, gente. Porque o N a B o c a d o P o v o

era um programa que estava há quase 18 anos no ar, ininterruptamente, diariamente, ao vivo. E, aí, comecei a pesquisar ( e ) não ti-nha nenhum programa na televisão brasileira com aquela marca. Nenhum! Isso é sério! Eu estava começando a fazer pesquisa, vendo o que você tinha de fazer para colocar alguma coisa no G u in n e s s - É complicadíssimo! É

para quem não tem o que fazer ( r is o s ) . Mas eu estava tentando já, indo atrás. "Mas que droga! Não vou entrar no Guiness,

né?".

Mas ( o d e s lig a m e n t o ) basicamente foi porque eu percebi que não fazia parte do que eles queriam. Eu me entristeci mais por isso inicialmente. Primeiro, porque eu queria continuar lá.Écomo um casamento ( e m ) que você continua apaixonado, amando muito, acreditando na relação; e o outro não, não quer mais. Como é que você aceita isso em um primeiro momento? Você fica em uma tristeza absurda. E foi como eu fiquei.

B r u n a - Você se sentiu desrespeitada como profissional por ter sido desligada tão abruptamente?

M a ís a - Não. Desrespeitada não porque

Antes de começar a en-trevista, Maísa pediu à fotó-grafa Rayanne para regis-trar o momento no celular dela. Maísa publicou a foto com a equipe na conta dela no Instagram.

(17)

Na época em que cur-sava Arquitetura, Maísa foi incentivada por Kleber, amigo de faculdade, a abandonar o curso para fa-zer Comunicação. "Eu saio e vou fazer Sociologia. Por que tu não vai fazer Comu-nicação?" - dizia ele.

Em 1990, Maísa mudou--se com o marido para Bar-balha, no interior do Ceará, para, com Almiro, trabalhar com produção cultural. Lá, Maísa chegou a trabalhar durante seis meses como recenseadora do IBGE.

"Todos

SRQPONMLKJIHGFEDCBA

O S

d ia s ,

q u a n d o

e u a c o r d o ,

te n h o

v o n ta d e

d e

v o lta r ,

e s ta r n o

R á d io "

eu tinha certeza que aquilo podia acontecer. Eu vi, durante aqueles anos todos, isso acon-tecer com tanta gente. Por que eu ia achar que isso não ia acontecer comigo? Mas eu

não pensava

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( q u e s e r ia d e s lig a d a ) porque sempre defendi o programa com muita

for-ça, com muita certeza. Em vários momentos, eu entrei em atrito com vários diretores. Em 16 anos, você imagina que um veículo de co-municação muda de direção algumas vezes ... Mas não me senti desrespeitada, não. Era o que eles queriam. Eu vou fazer o quê?

D ie g o - E o que eles queriam em relação ao programa?

M a ís a - Eles queriam um programa que desse mais resposta junto à audiência. Algo mais ... Eu sempre uso essa palavra ( a g r e s s i-v a ) com medo da interpretação que se vai dar a ela. Mas acho que é isso mesmo. Eles que-riam alguém que desse resposta à audiência de maneira mais agressiva. Que trouxesse as respostas mais rápido que eles queriam. E o meu perfil não era o que eles queriam na época. Pronto. Só isso.

C a r o lin e - Você se sentiu frustrada?

M a ís a - Acho que sim, n é ? É quase que inevitável. "O que que eu estou errando?". No fundo, eu sabia, n é ? Ainda hoje eu não tenho esse perfil. Eu sempre fui uma profis-sional mais discreta no que eu digo porque eu não faço uma personagem. Eu digo o que acredito, o que eu penso, o que eu sinto ... Eu não vou fazer escárnio. Não vou gritar se eu não estou sentindo. Primeiro, que gritar, eu não grito na minha vida real. Então, eu não vou desempenhar um papel, uma persona-gem. Não vou ser alguém que eu não sou ali. Então, talvez eu ainda não estou nesse perfil de quem vai trazer aqueles índices de audi-ência.

P a u lo R e n a to - Nesse tempo de Jangadei-ro, o que o N a B o c a d o P o v o agregou a sua vida?

M a ís a - Eu gosto de estar na televisão. Não é por vaidade. Não é por s t a t u s . Não é por nada disso. É pela possibilidade de tro-ca; de conversar, de dialogar, de dizer algu-ma coisa e ter ualgu-ma resposta. Por algu-mais que às vezes você acha que está sozinho, ilhado ... Quando eu trabalhava no rádio, tinha essa sensação. "Eu estou dentro de um estúdio

hermeticamente fechado. Estou só no mun-do, gente. Numa cápsula que eu não tenho resposta". Às vezes, a

FM

dá essa impressão. Mas é uma falsa impressão porque você tem a possibilidade de conversar mesmo ali no

r a d io lá o . Porque, quando uma pessoa pede uma música, ela está dizendo alguma coisa com aquilo. Quando ela não gosta daquela sequência musical, ela está dizendo alguma coisa com aquilo. As maneiras de dizer são várias. Você tem de interpretar e dar uma res-posta na medida em que você entende aquilo que ela está dizendo.

Então, estar na televisão p r a mim é isso: a possibilidade de estabelecer um diálogo com uma plateia. Eu sempre quis isso em tudo que eu fiz. Todos os dias, com as entrevistas, eu aprendia coisas novas. A história do espe-cialista em generalidades. Isso é importante

p r a gente ( jo r n a lis t a ) . Você tem o entrevista-do tal e você tem de saber minimanente so-bre aquele assunto. Estar vivo todo dia, ter de se atualizar todo dia. Eu acho que ganho todo dia quando faço isso. E o "ao vivo" para mim sempre teve essa importância. Porque tudo pode mudar, n é ? Estava lembrando um dia desses de um padre que eu fui entrevistar. A gente ia falar dos batizados que ele não fazia se o casal não fosse casado na igreja. A gente levou o padre polêmico ( r in d o ) , do tipo que

(18)

Cha-mamos esse padre. O padre ficou na salinha, na antessala, e eu no estúdo fazendo o pro-grama. No bloco, eu saí para buscá-Io. Acho que a produção demorou um pouco. E quem estava lá fora disse: "0 padre foi embora!". "Como foi embora?". "Foi. Ele disse que es-tava demorando demais. 'Não vou mais

es-perar nessa porra, não"'. E foi embora.

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( r is o s )

Então, todo dia você tem essa possibilidade ...

Éesse aprendizado todo dia.Éo que me atrai.

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T a ís - Depois de sair da TV Jangadeiro,

você foi para a TV Diário. Como foi essa tran-sição?

M a ís a - Foi bacana porque eu percebi que se eles ( J a n g a d e ir o ) não me queriam, tinha quem me quisesse ( r is o s ) . "Tem quem quei-ra!" ( r in d o ) . "Nem vou ficar chorando" ... Foi uma coisa tão rápida porque nesse intervalo de tempo longo que eu estive na Jangadeiro, eu fui assediada por emissoras. E a TV Diário foi uma das emissoras que me assediaram mais seriamente. Eles me procuraram, pen-savam em me ver na programação. Então era aquele olhar; a piscadinha que você dá as-sim ( p is c a n d o o o lh o ) , esperando a chance. Então, eles tinham ali a chance. Olha, eu me achando! Mas é sinceramente falando ... Eu saí da Jangadeiro, não demorou uma semana e eles me procuraram. O Garcia Júnior ( c o o r -d e n a -d o r d o n ú c le o d e e n t r e t e n im e n t o d a T V D iá r io ) , que é um cara que eu adoro - já o conhecia da época da TVE. A gente trabalhou junto lá pelos anos 1990; amigo, figura que-rida -, me ligou e disse que queria

conver-"Nunca

q u is

c h a m a r

a te n ç ã o

d e

n in g u é m .

S e m p r e

fu i m a is d is c r e ta "

sar comigo. Marcamos um almoço e fomos vistos, obviamente ( r in d o ) . "Maísa Vasconce-los estaria sendo contratada pela TV Diário"

( M a í s a f in g e le r u m a m a n c h e t e d e jo r n a l -B r in c a n d o ) . E eu fui levada para conversar com eles e fechamos muito rapidamente. Foi muito rápido. Aí eu já estava no progra-ma do Ênio Carlos ( P r o g r a m a d o m in ic a l d e e n t r e t e n im e n t o a p r e s e n t a d o p o r Ê n io C a r lo s n a T V D iá r io ) domingo de tarde dando uma entrevista emocionada ( b r in c a , e n f a t iz a n d o a ú lt im a p a la v r a ) . Foi muito bacana, gente. Eu nunca tinha ido no Ênio. Foi a primeira vez e foi para contar sobre a minha vida. Olha que absurdo! ( r in d o ) E aí fui levada para lá. Eles foram muito bacanas comigo.

Esse programa do Ênio foi muito respei-toso comigo, com minha carreira profissio-nal. Eles não me levaram lá para fazer fofoca, para falar mal da Jangadeiro. Até porque isso jamais ( e n f a t iz a n d o ) aconteceria. Jamais! Inclusive, eu soube que meus ex-chefes es-tavam assistindo ( r in d o ) e, digamos assim, sentiram-se muito bem com a entrevista que eu dei. E a TV Diário me acolheu de

manei-Maísa emocionou-se ao falar do relacionamento com o segundo marido e sobre a morte repentina dele. Todos ficaram bas-tante sensibilizados nesse momento da entrevista.

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Em determinado mo-mento da entrevista, Maísa começou a coçar o rosto. Ela mostrou manchas ver-melhas na pele e explicou ter alergia à barba. Culpa do Felipe e do Paulo Rena-to, os barbados da turma.

Começou a chover forte durante a entrevista e ficou muito difícil de se ouvir as perguntas e respostas. Isabele precisou ficar segu-rando os gravadores bem próximos àMaísa.

ra muito carinhosa, respeitosa. Porque já me queria, digamos assim,

né?

E eu comecei a fazer um trabalho lá despretensioso, leve, trabalhando com uma equipe muito nova; os meninos e as meninas que começam nos estágios. Então, eu me senti muito viva em estar trabalhando, principalmente, com essa moçada muito nova. Foi bacana demais lá.

Quando eu saí, eles tomaram um susto.

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D ie g o - Qual a diferença entre o

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N a B o c a d o P o v o , que você fez na Jangadeiro, e oS u a

M a n h ã , na TV Diário?

Maísa - Não tinha muita diferença.

Por-que, inclusive, quando eles me chamaram ... O Garcia Júnior veio conversar comigo, falou: "Nós queremos você. E, se nós queremos você, você não vai fazer nada de diferente. Você vai continuar sendo você". Eu fui fazer

um programa com as mesmas características que eu fazia, entendeu? Na verdade, foi exa-tamente isso. "Nós queremos você. Com seu ritmo, com a sua voz ...", Pronto.

F e lip e - Você passou quase três anos na TV Diário, um período curto em relação ao tempo que você passou na TV Jangadeiro. Por que você se desligou de lá?

Maísa - Eles tomaram um susto quando

(20)

con-"Estar

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n a te le v is ã o

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p la te ia .

E u s e m p r e

q u is is s o e m tu d o

q u e e u fiz "

versar, de reportar o que estava acontecendo e era mais ou menos isso que a gente fazia. Mas eu me senti um pouco ... Confusa. Eu dis-se: "Não. Talvez esteja na hora de eu dar uma parada". De fato, era o que eu queria: parar. Acho que eu estava precisando tirar férias. Dar um tempo para mim mesma. Quando eu procurei a direção da TV ... Fui conversar

so-bre isso. Procurei o Garcia

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( J ú n io r ) e disse: "Garcia, eu vou dar um tempo. Eu vou sair.

Estou pedindo para me desligar, para encer-rar nosso contrato. Vou dar um tempo". E ele: "Mas por quê? Você está insatisfeita?". Eu disse: "Não. Só estou precisando parar". Pedi um tempo da relação. Se na outra vez, foi o outro que disse: "Não. Está na hora de a gente parar", dessa vez fui eu que pedi um tempo da relação ... Não queria acabar! Que-ria só dar um tempo. Ficar refletindo: "Que televisão é essa que a gente está fazendo? A gente está conseguindo dar as respostas que as pessoas querem?". A internet mudou mui-to talvez até o tempo da resposta. "A gente está acompanhando? A gente. está fazendo a mesma coisa sem a possibilidade de se re-novar? É isso que o público quer? A resposta da audiência que querem é o que eu estou disposta a seguir? Eu quero ou não quero isso

r .

Então, eu realmente decidi que estava na hora de eu dar uma paradinha. E eu queria isso de verdade. Parar de verdade. Queria ti-rar férias, viajar, sabe? Ficar perto dos meus filhos porque meu filho tinha ido embora ... E foi por isso. Eu pedi p r a sair. Aí diziam as-sim: "Ah, ela já deve ter outros planos ...", Não! Eu só queria parar. Eu tinha vontade de passar, pelo menos, seis meses parada, sem fazer nada. Eu não tinha grana para isso, nem nada. Mas eu queria fazer, entendeu?

B r u n a - Quando você saiu, até anunciou que queria se afastar da televisão. Depois, você entrou na Nordestv. Como foi essa de-cisão de voltar para a TV tão rapidamente?

Maísa - Menina do céu! É um ex-amor

que você encontra na esquina e que você nunca tem condições de achar ( r is o s ) . Não é? Então, lembram da relação que acabou mais ainda tinha amor? Foi isso ... Foi isso. Você encontrou o ex-amor na balada ( r is o s ) . . .

Agarra! Porque pode ser que amanhã ele não volte. Acho que foi mais ou menos assim ... O que eu sentia de respeito pela emissora

( T V J a n g a d e ir o e N o r d e s t v f a z e m p a r t e d o m e s m o s is t e m a d e c o m u n ic a ç ã o ,

o

S is t e m a J a n g a d e ir o ) . . .Aquilo ficou tão forte que eles

me telefonaram e eu estava de férias - E tinha viajado. Fui aqui, fui acolá; como eu queria mesmo. Fiquei solta mesmo. Estava em Je-ricoacoara ( P r a ia lo c a liz a d a n o m u n ic í p io d e J ijo c a d e J e r ic o a c o a r a , n o C e a r á ) . . . Sem dia para voltar. Aí disseram: "A gente vai estrear a programação da Nordestv e a gente quer você". Eu disse: "É mesmo?". Fiquei pensan-do ( n a p r o p o s t a ) . . . Não consegui mais curtir minha praia! ( r in d o ) . A menina que me ligou disse: "Pense! Pense. Quando você voltar, liga para mim". Só disse isso. Ou seja, foi ba-cana,n é ? E aí, menino, ( a v o n t a d e ) falou mais forte e eu disse: "Eu vou topar".

F e lip e - Até 2001, você não tinha forma-ção em Jornalismo. Você já chegou a sofrer algum tipo de preconceito por parte dos seus colegas de trabalho?

Maísa - ( I n t e r r o m p e n d o ) Bullying! ( r is o s ) .

Frescaram com a minha cara muito! Um blog, um site apócrifo desses ... Adoro essa palavra ( a p ó c r if o ) ! . . Não. Eu não adoro, não. Acho ela meio forte, n é ? Mas ( e m ) um

site

( d e s s e s ) que não é assinado, nem nada, ti-nha uma criatura que ficava lá dizendo: "Os falsos profissionais ...", É assim: eu sempre senti necessidade de formação. Sempre! Eu queria ser arquiteta, n é ? Eu podia ter feito um segundo grau normal, n é ? Podia. Mas eu quis fazer o( c u r s o ) técnico em Edificações porque eu achava que, minimamente, ia me apropriar de conteúdos que iriam me levar mais facil-mente para

o

objetivo de ser arquiteta. Então, eu sempre fui a favor da formação. E, quan-do eu passei a trabalhar em Comunicação, não estava trabalhando sem formação. Eu fiz o curso de radialista, que era o que, para o momento, era viável para mim. Depois, eu fui trabalhar e não tinha como fazer o curso da UFC porque eu tinha de ganhar a vida, tinha de sustentar menino. Não tinha um curso

à

noite que eu pudesse fazer. Simples assim. Pronto, acabou.

Eu fiquei ouvindo durante anos: "Falsos profissionais... Maísa Vasconcelos, a falsa profissional". Ai ...N é ? Quando surgiu o cur-so, na FIC( F a c u ld a d e I n t e g r a d a d o C e a r á ) .eu fui. Na verdade, eu queria. Eu me achava fal-sa profissional? Gente, eu nunca fui para a rua para ser repórter porque no fundo, no fundo, eu não queria estar ocupando uma posição

Ao final da entrevista, Maísa brincou: "A entre-vista deveria ter acabado na hora que a chuva co-meçou, para a gente tomar banho de chuva".

Referências

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