CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇO EM MATEMÁTICA
Fernanda Sabio Gonçalves
Grafos Eulerianos e Identidades Polinomiais na
Álgebra
M
n
(
K
)
São Carlos - SP
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇO EM MATEMÁTICA
Grafos Eulerianos e Identidades Polinomiais na
Álgebra
M
n
(
K
)
Fernanda Sabio Gonçalves
Orientador: Prof Dr. Humberto Luiz Talpo
Bolsista CAPES
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Matemátia da UFSCar
omo parte dos requisitos para a obtenção
do título de Mestre emMatemátia.
São Carlos - SP
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
G635ge
Gonçalves, Fernanda Scabio.
Grafos eulerianos e identidades polinomiais na álgebra
M
n
(K)
/ Fernanda Scabio Gonçalves. -- São Carlos :
UFSCar, 2013.
81 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2013.
1. Álgebra. 2. Identidades polinomiais. 3. Matrizes
(Matemática). 4. Grafos eulerianos. I. Título.
Agradeço,primeiramente,aDeuspelavidaepelasinúmerasbênçãosreebidas.
AosmeuspaisAdrianoeMargarete, meuirmãoVitoremeunamoradoHélio,
peloapoio,inentivo e ompreensão.
A meu orientador, Prof. Humberto Luiz Talpo, pelapaiênia e dediação.
A todos os meus amigos matemátios,pelaonvivênia tão agradável e pelas
horas de estudo.
A meus amigos não matemátios, que, mesmo não entendendo muito bem o
queestudo,sempreforampaientes emeenorajavamnosmomentosde diuldade.
Aos professores do Departamento de Matemátia, pelos ensinamentos e por
despertar em mimodesejo de ontinuar estudando Matemátia.
Porm, agradeço àCAPES e aoProgramade ApoioaoPlano de
Neste trabalhoapresentamos algumasapliaçõesde Teoria de Grafosemproblemas
envolvendoidentidadespolinomiaisparaaálgebradasmatrizes
M
n
(
K
)
. Umabreve apresentação de PI-teoria e de alguns oneitos de Teoria de Grafos, omo ade-nição de grafos eulerianos, que são os elementos básios desta abordagem, foram
apresentadaspara tornarotextoautoontido. São expliitadasduas demonstrações
distintas do Teorema de Amitsur-Levitzki, a de Razmyslov e uma deorrente do
Teorema de Swan - um resultado importante a respeito de grafos eulerianos. Por
m, um resultado semelhanteaoTeorema de Amitsur-Levitzkipara matrizes
antis-simétrias é demonstrado utilizando elementos de Teoria de Grafos. Ressaltamos
que o entendimento da ténia utilizada torna possível a simpliação de diversos
resultadose temsemostrado uma importanteferramentanoestudode PI-álgebras.
Palavras-have: Identidades polinomiais. Álgebra das matrizes. Grafos
In this work we present some appliations of graph theory in problems involving
polynomialidentitiesfor thealgebra
M
n
(
K
)
. A briefpresentationof PI-theoryand some onepts of graph theory, suh asthe denition of Eulerian graphs,whiharethe basielements ofthis work, were presented tomakethe textself-ontained. We
showtwo dierent proofs of the Amitsur-Levitzki theorem, the proof of Razmyslov
andother duetoSwan's theorem -animportantresultonEuleriangraphs. Finally,
a similar result of the Amitsur-Levitzki's theorem for skew-symmetri matries is
proved usingelementsofgraphtheory. Weemphasizethatthe understandingofthe
tehniquemakesitpossibletosimplifymanyresultsandhasbeen animportanttool
inthe study of PI-algebras.
Introdução 11
1 Álgebras om Identidades Polinomiais 13
1.1 Propriedades Básias de Álgebras . . . 13
1.2 Identidades Polinomiais. . . 18
1.3 PolinmiosMulti-homogêneos e Multilineares . . . 22
1.4 PolinmiosPróprios. . . 28
1.5 O Teorema de Amitsur-Levitzki . . . 29
2 Grafos Eulerianos 38 2.1 Teoria de Grafos . . . 38
2.2 O Teorema de Swan . . . 44
3 Apliações da Teoria de Grafos à PI-álgebra 54 3.1 O Teorema de Amitsur-Levitzki . . . 55
3.2 Identidades Polinomiaispara Matrizes Antissimétrias. . . 57
O estudo das álgebras om identidades polinomiais (ou PI-álgebras) é algo
onsiderado reente na história da matemátia. Teve iníio na déada de 40,om
a publiação de alguns trabalhos de matemátios omo Jaobson, Kaplansky e
Le-vitzki, mas se intensiou por volta de 1950, quando foi provado o Teorema de
Amitsur-Levitzki, que garante a existênia de uma identidade polinomial de grau
2
n
para a álgebra das matrizesn
×
n
sobre um orpoK
. Este resultado possuidiversas demonstrações, baseadas emténias distintas. A demonstração original é
baseada em argumentos ombinatórios e, posteriormente, surgiram outras versões,
omoasde Razmyslov([10℄)ede Rosset([11℄),queutilizamargumentosalgébrios.
Entretanto, estas demonstrações são trabalhosas, apesar de envolverem
on-eitos elementares. Na tentativa de simpliá-las, Swan ([13℄) enontrou, em 1963,
uma demonstração bastantelara utilizandoTeoria de Grafos. A grande vantagem
desta ténia é que argumentos algébrios mais elaborados podem ser vistos omo
oneitos geométrios básios, apenas identiando o grafo adequado aoproblema.
Desde então, a Teoria de Grafos vem sendo uma importanteferramenta no estudo
de identidadespolinomiaspara matrizes.
Este trabalho tem omo objetivo estudar a apliação de Teoria de Grafos à
PI-álgebras. A m de ilustrar a importâniadesta abordagem, o primeiroapítulo
traz a demonstração de Razmyslov para o Teorema de Amitsur-Levitzki, e
algu-mas observações importantes aera deste resultado. Também é feita uma breve
exposição de alguns oneitos básios de PI-teoria.
No segundo apítulo denimosos elementosde Teoria de Grafosutilizadosao
polinomiaisdematrizes, queinluiademonstraçãodoTeoremadeAmitsur-Levitzki
feitaporSwan ([13℄ e[14℄),e de um resultado semelhantepara matrizes
Álgebras om Identidades
Polinomiais
Nesteapítuloapresentamosalgunsoneitoseresultadosbásiosarespeitode
identidadespolinomiais,tendoomoreferêniasoslivrosdeDrensky[3℄eGiambruno
e Zaiev [5℄, e as notas do miniurso Introdução às PI-álgebras, ministrado por
Brandão [2℄durante o Verão de 2013, naUniversidade Federal de São Carlos.
Grande parte do que abordamosnesta primeira etapa do trabalho não é
uti-lizada nos apítulos seguintes. No entanto, são onteúdos lássios e optamos por
inluí-lospara possíveis onsultas.
1.1 Propriedades Básias de Álgebras
Esta primeiraseção introduz o objetobásio deste estudo: álgebrassobre um
orpo
K
esuaspropriedades. Veremosdiversosexemploslássiosdeálgebras,omo aálgebra tensoriale a de Grassmann.Denição1.1.1. Seja
K
umorpoeA
umespaçovetorialsobreK
. DizemosqueA
éumaálgebra(ouK
-álgebra)se estádenidaumaoperaçãobinária∗
:
A×A
−→
A
, hamadade multipliação, tal que para quaisquera, b, c
∈
A
e qualquerλ
∈
K
(
a
+
b
)
∗
c
=
a
∗
c
+
b
∗
c,
λ
(
a
∗
b
) = (
λa
)
∗
b
=
a
∗
(
λb
)
.
Neste texto, denotaremos
a
∗
b
porab
para simpliar a notação. O produtoa
1
a
2
a
3
é denido por(
a
1
a
2
)
a
3
e, indutivamente,a
1
a
2
· · ·
a
n
é o produto(
a
1
a
2
· · ·
a
n
−
1
)
a
n
. Dizemos que um subonjuntoβ
é uma base da álgebraA
se ébase de
A
omo espaço vetorial e a dimensão deA
é sua dimensão omo espaço vetorial. Se aálgebraA
for umespaçovetorialde dimensão nitasobreK
,dizemos queA
é uma álgebrade dimensão nita. Emgeral, os resultados de álgebra linear para espaçosvetoriais tambémsão válidospara álgebras.Observemos que se a álgebra
A
possui base{e
i;
i
∈
I}
, então a multipliação emA
é obtidaa partir damultipliação dos elementos dabase:e
i
∗
e
j
=
X
k
∈
I
α
k
ij
e
k
, α
k
ij
∈
K
onde, para
i
ej
xados, apenas um número nito deα
k
ij
são não nulos. Por outrolado, dados uma base arbitrária
{e
i;
i
∈
I}
do espaço vetorialA
e um onjunto de elementosα
k
ij
∈
K
tais que, parai
ej
xados, apenas um número nito deα
k
ij
sãonão nulos, podemosdenir a multipliação em
A
porX
i
∈
I
ξ
i
e
i
!
∗
X
j
∈
I
η
j
e
j
!
=
X
i,j
∈
I
ξ
i
η
j
(
e
i
∗
e
j
)
, e
i
∗
e
j
=
X
k
∈
I
α
k
ij
e
k
.
A álgebra
A
é assoiativa se(
ab
)
c
=
a
(
bc
)
para quaisquera, b, c
∈
A
, e é omutativa seab
=
ba
para quaisquera, b
∈
A
. Dizemos ainda queA
é unitária se a multipliação possuir elemento neutro, isto é, se existe elemento1A
∈
A
tal que1A
a
=
a
1A
=
a
para qualquer elementoa
∈
A
.Quandoaálgebra
A
satisfazasondiçõesa
2
=
aa
= 0
e
(
ab
)
c
+(
bc
)
a
+(
ca
)
b
= 0
(identidade de Jaobi),A
é hamada de álgebra de Lie. Se existen
∈
N
tal que o produtode quaisquern
+ 1
elementosdeA
(omqualquerdisposiçãode parênteses) é igual a zero,A
é nilpotente. Neste aso, o menorn
que satisfaz esta ondição é dito índie de nilpotênia deA
. Para o aso de existirn
∈
N
tal quea
n
= 0
para
qualquer
a
∈
A
, dizemosqueA
é um álgebra nil de índie limitado.Exemplo1.1.2. Oespaçodospolinmiosem
n
variáveisomutativas, denotadoporK
[
x
1
, x
2
, . . . , x
n]
, é umaK
-álgebra assoiativa, omutativa e unitária, om relaçãoExemplo1.1.3. O espaçodas matrizes
n
×
n
omoeientesemK
, denotadoporM
n(
K
)
, é umaK
-álgebra assoiativa e unitária, om relação ao produto usual dematrizes. Notemos que esta álgebra não é omutativa. Nesta álgebra, destaamos
as matrizes unitárias
E
ij
, para1
≤
i, j
≤
n
, ondeE
ij
é a matriz uja únia entrada não nula é1
nai
-ésima linha ej
-ésima oluna. Estas matrizes formam uma base paraM
n(
K
)
, onde dimM
n(
K
) =
n
2
.
De maneira geral, pode-se veriar queo espaço vetorial
M
n(
A
)
, o espaço das matrizesn
×
n
sobre uma álgebraA
, é uma álgebra om as operações usuais de matrizes.Exemplo 1.1.4 (Álgebra de Grassmann). Seja
V
um espaço vetorial om base ordenada{e
1
, e
2
. . .}
. Denimos a álgebra de Grassmann (ou álgebra exterior) deV
, denotadaporE
=
E
(
V
)
, omo sendo a álgebra om base{
1E
, e
i
1
e
i
2
. . . e
i
k
|i
1
< i
2
< . . . < i
k
, k
≥
1
}
e om produto denido pela relação
e
i
e
i
= 0
ee
i
e
j
=
−e
j
e
i
.
É onveniente esrever
E
=
E
(0)
⊕
E
(1)
, onde
E
(0)
=
he
i
1
. . . e
i
2
k
|
1
≤
i
1
< . . . < i
2
k
, k
≥
0
i
,
E
(1)
=
e
i
1
. . . e
i
2
k
+1
|
1
≤
i
1
< . . . < i
2
k
+1
, k
≥
0
.
Como
e
i
e
j
=
−e
j
e
i
, temos que(
e
i
1
. . . e
i
r
)(
e
j
1
. . . e
j
s
) = (
−
1)
rs
(
e
j
1
. . . e
j
s
)(
e
i
1
. . . e
i
r
)
para quaisquer
r, s
∈
N
. Logo,ax
=
xa
para quaisquer elementosa
∈
E
(0)
e
x
∈
E
, ebc
=
−cb
para quaisquer elementosb, c
∈
E
(1)
. Com o mesmo argumento, é fáil
veriar que
E
(0)
E
(0)
+
E
(1)
E
(1)
⊆
E
(0)
e
E
(0)
E
(1)
+
E
(1)
E
(0)
⊆
E
(1)
.
Exemplo 1.1.5 (Álgebra Tensorial). Sejam
V
eW
espaços vetoriais de dimensão nita sobre um mesmo orpoK
. O produto tensorial entreV
eW
,V
⊗
W
, é o espaço vetorial das apliações bilinearesDados
v
∈
V
ew
∈
W
, o produto tensorialv
⊗
w
é o funional bilinear ujo valor em(
α, β
)
∈
V
∗
×
W
∗
é dado por
(
v
⊗
w
)(
α, β
) =
α
(
v
)
·
β
(
w
)
.
Demaneirageral,se
V
1
, V
2
, . . . , V
s
sãoespaçosvetoriaissobreummesmoorpoK
, o produto tensorialV
1
⊗
V
2
⊗
. . .
⊗
V
s
é o espaço das apliações multilinearesdenidas em
V
∗
1
⊗
V
2
∗
⊗
. . .
⊗
V
s
∗
f
:
V
1
∗
⊗
V
2
∗
⊗
. . .
⊗
V
s
∗
−→
K
tal que
(
v
1
⊗
v
2
⊗
. . .
⊗
v
s)(
α
1
, α
2
, . . . , α
s) =
α
1
(
v
1
)
·
α
2
(
v
2
)
. . . α
s(
v
s)
.
Quando os fatores deum produto tensorial sãotodos iguais, denotamos o
pro-duto de
s
ópias deV
porN
s
V
ouV
⊗
s
. A somadesses produtos dene o espaço
T
(
V
) =
X
s
≥
0
V
⊗
s
,
onde
V
⊗
0
=
K
e
V
⊗
1
=
V
. Comoprodutotensorial,
T
(
V
)
éumaálgebraassoiativa om unidade.Sejam
B
umalasse deálgebraseA
∈ B
uma álgebragerada porumonjuntoX
. Dizemos queA
é livremente geradaporX
na lasseB
se, paraqualquer álgebraB
∈ B
, toda apliaçãoX
→
B
pode ser estendida a um homomorsmoA
→
B
.Exemplo 1.1.6. Para qualquer onjunto
X
, a álgebra polinomialK
[
X
]
é livre na lasse de todas as álgebras assoiativas omutativas unitárias.O oneito de álgebra generaliza as noções de espaços vetoriais e de anéis.
Assim, também podemosonsiderar subálgebras e ideaisde uma álgebra,onforme
adenição aseguir.
Denição 1.1.7. O subespaço
S
da álgebraA
é uma subálgebra se é fehado em relaçãoàmultipliação,isto é,se paraquaisquers
1
, s
2
∈
S
,s
1
∗s
2
∈
S
. AsubálgebraI
é hamada de ideal à esquerda deA
seA
∗
I
⊆
I
, isto é, sea
∗
i
∈
I
para todoa
∈
A, i
∈
I
. Analogamente, denimos ideal à direita e ideal bilateral, geralmenteExemplo 1.1.8. O subespaço das matrizes triangulares superior,
U
n(
K
)
, é uma subálgebra deM
n(
K
)
.Tambémde maneiraanálogaàsdemaisestruturasalgébrias,denimos
homo-morsmos entre
K
-álgebras, omosegue.Denição 1.1.9. O homomorsmo de espaços vetoriais
φ
:
A
−→
B
das álgebrasA, B
é um homomorsmo (de álgebras) seφ
(
a
∗
b
) =
φ
(
a
)
∗
φ
(
b
)
. Analogamente,introduzimosos oneitos de isomorsmo, automorsmo, endomorsmo,et.
Os resultados usuais referentes a homomorsmosde espaços vetoriais,grupos
e anéis ontinuam válidos para homomorsmosde álgebras. Por exemplo, sendo
A
uma álgebra eI
um ideal deA
, denimos a álgebra quoiente deA
porI
, onde o produtoédadopor(
a
+
I
)(
b
+
I
) =
ab
+
I
,paraa, b
∈
A
. TambémtemosoTeorema doIsomorsmo, enuniado aseguir.Teorema 1.1.10. Seja
φ
:
A
−→
B
um homomorsmodeálgebras. Entãoo núleo deφ
ker(
φ
) =
{a
∈
A|φ
(
a
) = 0
}
é um ideal bilateral de
A
e a álgebra quoienteA/
ker
φ
é isomorfa à imagem Im(
φ
) =
{φ
(
a
)
|a
∈
A}
.O exemplo a seguir mostra omo obter uma álgebra om unidade a partir de
uma álgebra
A
dada. Esta onstrução é hamada de adjunção formal da unidade aA
.Exemplo 1.1.11. Seja
A
uma álgebra e onsideremos o espaço vetorialK
⊕
A
=
{
(
λ, a
)
|λ
∈
K, a
∈
A}
.
Denindo em
K
⊕
A
a multipliação(
λ
1
, a
1
)(
λ
2
, a
2
) = (
λ
1
λ
2
, λ
1
a
2
+
λ
2
a
1
+
a
1
a
2
)
,
Emtodaálgebra
A
om unidade, identiamosλ
1A
omλ
para todoλ
∈
K
eK
é onsideradoo subespaço vetorial deA
gerado porK
.Denição 1.1.12. O omutador de omprimento
n
, omn >
1
, é denido induti-vamente omo[
a
1
, a
2
] =
a
1
a
2
−
a
2
a
1
,
[
a
1
, . . . , a
n
−
1
, a
n] = [[
a
1
, . . . , a
n
−
1
]
, a
n]
.
É laro que
[
a, b
] = 0
se,e somentese,ab
=
ba
. Empartiular[
a, a
] = 0
. Utili-zando apenas adenição de omutador,veriamos failmenteque,para quaisquera, b, c
∈
A
, vale[
ab, c
] =
a
[
b, c
] + [
a, c
]
b.
De maneira mais geral, usando induçãonita e a igualdade aima, mostra-se
que
[
a
1
. . . a
n
, c
] =
n
X
i
=1
a
1
. . . a
i
−
1
[
a
i
, c
]
a
i
+1
. . . a
n
.
Tambémé fáilveriarque
[
a, b, c
] + [
b, c, a
] + [
c, a, b
] = 0
para quaisquer
a, b, c
∈
A
. Assim, ao onsiderarmos a multipliação no anelA
denida por[
,
] :
A
×
A
−→
A
(
a, b
)
7−→
[
a, b
] =
ab
−
ba
temos que
(
A,
[
,
])
é uma álgebra de Lie.1.2 Identidades Polinomiais
Fixemos um onjuntoinnito (enumerável)
X
=
{x
1
, x
2
, . . .}
,ujos elementos serão hamados de variáveis. Uma palavra emX
é uma sequêniax
i
de elementos de
X
, onden
é o tamanho da palavra e,ason
= 0
, temos a palavra vazia denotada por1
.Seja
K
umorpoedenotemosporS
(
X
)
oonjuntode todasaspalavrasemX
, inlusive a palavra vazia1
. Tais palavras são hamadas de monmios e o produtode dois monmios é dado por justaposição. Duas palavras
x
i
1
. . . x
i
n
ex
j
1
. . . x
j
m
são iguais se
n
=
m
ei
k
=
j
k
parak
= 1
, . . . , n
. DenimosK
hXi
omo sendo oK
-espaço vetorial om baseS
(
X
)
, isto é, é o onjunto dos polinmios omoei-entes em
K
e variáveis não omutativasx
i
∈
X
.K
hXi
é uma álgebra, hamada de álgebra assoiativa livre, livremente gerada porX
sobreK
. Sef
∈
K
hXi
, es-revemosf
(
x
1
, . . . , x
n)
para indiar quex
1
, . . . , x
n
∈
X
são as únias variáveis que apareem emf
.A álgebra
K
hXi
é denida, a menos de isomorsmos, pela seguinte proprie-dade universal: dada umaK
-álgebraassoiativaA
, qualquer apliaçãoh
:
X
→
A
, omh
(
x
i) =
a
i
, pode ser estendida de formaúniaaum homomorsmode álgebrasφ
h
:
K
hXi →
A
, tal queφ
h(
x
i
1
. . . x
i
n
) =
a
i
1
. . . a
i
n
. No aso deA
ser unitária, temos também a ondiçãoφ
h(1) = 1A
. Assim, sef
=
f
(
x
1
, . . . , x
n)
∈
K
hXi
, deno-tamos porf
(
a
1
, . . . , a
n)
a imagem def
porφ
h
, ou seja, basta substituirx
i
pora
i
emf
.Denição 1.2.1. Seja
f
=
f
(
x
1
, . . . , x
n)
∈
K
hXi
e sejaA
uma álgebra (assoia-tiva). Dizemosquef
é uma identidade polinomial paraA
sef
(
a
1
, . . . , a
n) = 0
, para todosa
1
, . . . , a
n
∈
A
,que denotaremos por
f
(
x
1
, . . . , x
n)
≡
0
.Se a álgebra
A
satisfaz uma identidade polinomial não trivialf
, dizemos queA
é uma álgebraom identidade polinomial ou PI-álgebra.É interessante observar que se
f
=
f
(
x
1
, . . . , x
n)
∈
K
hXi
é uma identidade polinomial, entãof
tem termo onstante nulo. Além disso,f
é uma identidade polinomialdeA
se,esomentese,f
pertene aosnúleosdetodososhomomorsmos deK
hXi
emA
.Exemplo 1.2.2. Se
A
é uma álgebra omutativa, então o polinmiof
(
x
1
, x
2
) = [
x
1
, x
2
]
é uma identidade polinomial deA
.Exemplo 1.2.3. Qualquer álgebra nilpotente é uma PI-álgebra. Com efeito, se
A
n
= 0
para algum
n
≥
1
, então o polinmiox
1
. . . x
n
é uma identidade polinomial deA
.Exemplo 1.2.4. Se
A
é uma álgebra nil de índie limitado, digamosn
, então o polinmiox
n
é uma identidadepolinomial de
A
.Exemplo 1.2.5. Seja
U
n(
K
)
a álgebra das matrizes triangulares superior om oe-ientes emK
.U
n(
K
)
é uma PI-álgebra, pois satisfaz a identidade[
x
1
, x
2
]
. . .
[
x
2
n
−
1
, x
2
n]
≡
0
.
De fato, o omutador de quaisquer duas matrizes triangulares superior é uma
matriztriangular superior om diagonal nula,que éumamatriz nilpotentede índie
n
.Exemplo1.2.6. A álgebra
M
2
(
K
)
satisfaz aidentidade[[
x
1
, x
2
]
2
, x
3
]
≡
0
, hamadade identidadedeHall. Comefeito,bastanotarmosque,se
a
∈
M
2
(
K
)
,seupolinmio araterísitoéx
2
−
tr
(
a
)
x
+ det (
a
)
, onde tr(
a
)
é o traço dea
edet(
a
)
seu determi-nante. Então, noasodea
serumomutador,temos tr(
a
) = 0
ea
2
+det (
a
)
·I
2
= 0
,de onde
a
2
=
−
det (
a
)
·
I
2
. Logoa
2
é uma matriz esalar, que omutaom qualquer
outra matriz.
Exemplo1.2.7. O polinmio
[
x
1
, x
2
, x
3
]
éuma identidadepolinomialda álgebrade GrassmannE
. Basta observarque[
a, b
]
∈
E
(0)
paraquaisquer
a
,b
∈
E
, logoomuta om qualquer elemento deE
.Consideremos opolinmio
s
n(
x
1
, . . . , x
n) =
X
σ
∈
S
n
(
−
1)
σ
x
σ
(1)
. . . x
σ
(
n
)
,
onde
S
n
éogruposimétriosobren
elementose(
−
1)
σ
Exemplo1.2.8. Em 1950, AmitsureLevitzki provaram que
s
2
n(
x
1
, . . . , x
2
n)
é uma identidadepolinomial da álgebraM
n(
K
)
. Este resultado é onheidoomo Teorema de Amitsur-Levitzki, que será abordado om maiores detalhes adiante.Tendoemvistaosexemplosaima,seria possívelpensarqueasálgebrasmais
onheidas sãoPI-álgebras. Entretanto,éfáilverqueaálgebra
K
hXi
nãopossui identidadespolinomiaisnão nulas.Dadauma álgebra
A
,denotamos porT
(
A
)
oonjuntode todasasidentidades polinomiais deA
. É laro queA
é PI-álgebra seT
(
A
)
6
=
{
0
}
. SeA
1
eA
2
são álgebras, dizemos queA
1
eA
2
são PI-equivalentes seT
(
A
1
) =
T
(
A
2
)
. Álgebras isomorfas são semprePI-equivalentes, mas areíproanão é verdadeira.O onjunto
T
(
A
)
é um ideal deK
hXi
e, além disso, sef
=
f
(
x
1
, . . . , x
n)
é umpolinmioemT
(
A
)
,eg
1
, . . . , g
n
são polinmiosarbitráriosemK
hXi
,seguequef
(
g
1
, . . . , g
n)
∈
T
(
A
)
.Denotamos o onjunto de todos os endomorsmos de
K
hXi
porEnd K
hXi
. Como qualquer elemento deEnd K
hXi
é determinado pela apliaçãox
7→
g
,x
∈
X, g
∈
K
hXi
, segue queT
(
A
)
é um ideal invariante sob todos osendomor-smos de
K
hXi
. Osideais om esta propriedade são hamados deT
-ideais.Denição 1.2.9. Dizemos que um ideal
I
deK
hXi
é um T-ideal seϕ
(
I
)
⊆
I
para todoϕ
∈
End KhXi
, ou equivalentemente, sef
(
g
1
, . . . , g
n)
∈
I
para quaisquerf
(
x
1
, . . . , x
n)
∈
I
eg
1
, ...,g
n
∈
K
hXi
.Assim
T
(
A
)
é umT
-ideal deK
hXi
. Na verdade, todoT
-ideal deK
hXi
é o onjunto de identidadespolinomiaisde algumaálgebra. De fato, seI
éumT
-ideal, temos queI
=
T
K
h
X
i
I
.
A interseção de uma famíliaqualquer de T-ideais éainda um T-ideal. Dessa
forma,dado um subonjunto
S
qualquer deK
hXi
, denimos o T-ideal gerado porS
, usualmente denotado porhSi
T
, omo sendo a interseção de todos os T-ideais
de
K
hXi
queontêmS
. EntãohSi
T
é o menorT-ideal de
K
hXi
ontendoS
e, sef
∈ hSi
T
, dizemosquef
é onsequênia deS
.Se
A
é uma álgebra eS
⊆
T
(
A
)
é tal queT
(
A
) =
hSi
T
omo problema de Speht. Em 1987, Kemer deu uma resposta positiva para este
problema, mas seu trabalho não mostra omo determinar uma tal base nita e
portantonãoresolve oproblemadadesrição das identidadesde uma álgebra. Esta
questão ontinua em aberto até hoje, tendo sido resolvido apenas para algumas
álgebrasem partiular. Vejamos alguns exemplos.
Exemplo 1.2.10. Se
A
é uma álgebra omutativa e unitária qualquer eK
é um orpoinnito, entãoT
(
A
) =
h
[
x
1
, x
2
]
i
T
. Dizemosentão quetodas as identidades de
A
são onsequênias do polinmio[
x
1
, x
2
]
.Este exemplonos garanteaexistêniade álgebrasPI-equivalentesque nãosão
isomorfas.
Exemplo 1.2.11. Se
K
é um orpo innito de araterístia diferente de 2, entãoT
(
E
) =
h
[
x
1
, x
2
, x
3
]
i
T
, ondeE
éa álgebra de Grassmann. (ver [2℄,Exemplo 4.0.40)Exemplo 1.2.12. Em 1981 Drensky ([4℄) mostrou que as identidades polinomiais
s
4
(
x
1
, x
2
, x
3
, x
4
)
≡
0
,
[[
x
1
, x
2
]
2
, x
3
]
≡
0
formam umabase minimal para as identidades polinomiais de
M
2
(
K
)
.Exemplo 1.2.13. Considere a álgebra
E
⊗
E
, ondeE
é a álgebra de Grassmann. Os polinmiosf
(
x
1
, x
2
, x
3
, x
4
, x
5
) = [[
x
1
, x
2
]
,
[
x
3
, x
4
]
, x
5
]
eg
(
x
1
, x
2
) =
[
x
1
, x
2
]
2
, x
1
são identidades polinomiais de
E
⊗
E
. Em 1982, Popov ([9℄) mostrou que, em araterístia0, estes doispolinmiosformamuma base para as identidadesdeE
⊗
E
.1.3 Polinmios Multi-homogêneos e Multilineares
Nesta seção generalizamos oneitos básios a respeito de polinmios, omo
grau e linearidade. Veremos também que, quando o orpo base
K
é innito, o estudodeidentidadespolinomiaisdeuma dadaálgebrapode serreduzida aoestudoDenição 1.3.1. Sejam
u
∈
KhXi
um monmio,f
∈
KhXi
um polinmio ex
i
∈
X
. Denimos:(a) O grau de
u
emx
i
, denotado pordeg
x
i
u
, omo sendo o número de oorrênias dex
i
emu
.(b) O grau de
f
emx
i
, denotado pordeg
x
i
f
, omo sendo o maior grau emx
i
de algum monmio def
.Dizemos que um polinmio
f
∈
KhXi
é homogêneo emx
i
se todos os seus monmiostêm omesmograuemx
i
. Opolinmiof
éditomulti-homogêneo quando é homogêneoem todas as variáveis. Seu
=
u
(
x
1
, . . . , x
n)
é um monmiodeKhXi
, denimosomultigrau deu
omosendoan
-upla(
a
1
, . . . , a
n)
ondea
i
= deg
x
i
u
. Paraf
∈
KhXi
,aomponente multi-homogênea def
é asoma de todos osmonmiosdef
om um dado multigrau. Assim,f
é multi-homogêneo se, e somente se, possuiuma únia omponente multi-homogênea. É laro que se
f
(
x
1
, . . . , x
n)
∈
K
hXi
é homogêneo de grauk
emx
i
eλ
∈
K
,temosf
(
x
1
, . . . , x
i
−
1
, λx
i
, x
i
+1
, . . . , x
n) =
λ
k
f
(
x
1
, . . . , x
i
−
1
, x
i
, x
i
+1
, . . . , x
n)
.
Em partiular, se
f
élinear emx
i
,isto é,homogêneo de grau 1 emx
i
, temosf
(
x
1
, . . . , x
i
−
1
, λ
1
y
1
+
. . .
+
λ
m
y
m
, x
i
+1
, . . . , x
n) =
m
X
j
=1
λ
i
f
(
x
1
, . . . , x
i
−
1
, y
j
, x
i
+1
, . . . , x
n)
.
Quando
f
(
x
1
, . . . , x
n)
∈
K
hXi
é multi-homogêneo om multigrau(1
, . . . ,
1)
, oumelhor, emada monmioada variável tem grau exatamente 1, dizemosquef
é multilinear. Neste aso,f
éda formaX
σ
∈
S
n
α
σ
x
σ
(1)
. . . x
σ
(
n
)
,
omα
σ
∈
K.
Denotamospor
P
n
osubespaçode todos ospolinmiosmultilinearesdeKhXi
nasvariáveisx
1
,x
2
,...,x
n
. Éfáilverqueoonjuntox
σ
(1)
x
σ
(2)
. . . x
σ
(
n
)
|
σ
∈
S
n
é umabase de
P
n
eassimdimK
P
n
=
n
!
.Consideremos agora
f
(
x
1
, x
2
, . . . , x
n)
∈
P
n
,A
umaK
-álgebraeβ
umonjunto gerador deA
, omo espaço vetorial. Dadosa
1
,a
2
, ...,a
n
∈
A
, observemos queonde
e
1
,e
2
, ...,e
n
∈
β
. Com isso, podemos onluir quef
(
x
1
, x
2
, . . . , x
n)
é uma identidade polinomial deA
se, e somente se,f
(
e
1
, e
2
, . . . , e
n) = 0
para quaisquere
1
, e
2
, . . . , e
n
∈
β
. Emoutraspalavras,para veriarse um polinmiomultilinearf
éuma identidade polinomialde
A
,basta veriar sef
seanulaquandoavaliadoem elementosgeradores deA
.Este argumento nos permite mostrar que toda álgebra de dimensão nita é
uma PI-álgebra. Com efeito, se
A
é uma álgebra omdim
A < n
, entãos
n
= 0
é uma identidade polinomial deA
. Na verdade, omo a identidade standard é um polinmio multilinear, basta veriar ques
n
= 0
para os elementos da base deA
. Comodim
A < n
, é neessário quex
i
=
x
j
para algumi
6
=
j
. Com isso, os termos des
n
(
x
1
, . . . , x
i
, . . . , x
i
, . . . , x
n)
se anulam dois a dois. Para adaσ
∈
S
n
, existeτ
∈
S
n
obtidaa partir deσ
permutandoas posições dex
i
. É laro queσ
eτ
temsinais opostos e, assim, ada termo
(
−
1)
σ
x
σ
(1)
. . . x
σ
(
i
)
. . . x
σ
(
i
)
. . . x
σ
(
n
)
, é anulado por(
−
1)
τ
x
τ
(1)
. . . x
τ
(
i
)
. . . x
τ
(
i
)
. . . x
τ
(
n
)
. Logo,s
n
= 0
. Oexemploabaixo ilustraesta situação.Exemplo 1.3.2. Considere
n
= 3
edim
A
= 2
, om base{a, b}
. TemosS
3
(
x
1
, x
2
, x
3
) =
x
1
x
2
x
3
+ (
−
1)
(132)
x
3
x
1
x
2
+ (
−
1)
(123)
x
2
x
3
x
1
+ (
−
1)
(13)
x
3
x
2
x
1
+ (
−
1)
(23)
x
1
x
3
x
2
+ (
−
1)
(12)
x
2
x
1
x
3
S
3
(
a, b, c
) =
aba
+
aab
+
baa
−
aba
−
aab
−
baa
= 0
.
Reordemos que uma identidade polinomial
f
≡
0
é onsequênia dehSi
T
se
f
∈ hSi
T
. Dois onjuntos de identidades polinomiais que geram o mesmoT
-idealsão ditos equivalentes.
Teorema 1.3.3. Sejam
I
umT-idealdeKhX
i
ef
(
x
1
, . . . , x
n)
∈
I
. SeK
éinnito, entãoadaomponente multi-homogênea def
perteneaI
. Consequentemente,I
é gerado por seus polinmiosmulti-homogêneos.Demonstração: Suponhamos
m
= deg
x
1
f
. Para adai
= 0
, 1, ...,n
, tomemosf
i
(
x
1
, . . . , x
n)
omo sendo a soma de todos os monmiosque têm graui
emx
1
, ouseja,
f
i
é aomponente homogêneade graui
emx
1
. Temos entãof
=
Seja
V
=
hf
i
T
o
T
-ideal deK
hXi
geradoporf
. ComoK
éinnito,podemos esolherλ
0
,λ
1
,...,λ
m
∈
K
todos distintos. SendoV
umT
-ideal, temosg
j
=
f
(
λ
j
x
1
, x
2
, . . . , x
n) =
f
0
+
λ
j
f
1
+
. . .
+
λ
m
j
f
m
∈
V,
para ada
j
= 0
,
1
, . . . , m.
Considerando estas equações omo um sistema linear om variáveis
f
i
,i
= 0
,
1
, . . . , m
, temos
1
λ
0
· · ·
λ
m
0
1
λ
1
· · ·
λ
m
1
. . . . . . . . . . . .
1
λ
m
· · ·
λ
m
m
f
0
f
1
. . .f
m
=
g
0
g
1
. . .g
m
.
Como
I
é umT
-ideal, garantimos queg
j
∈
I
, paraj
= 0
,
1
, . . . , m
. Além disso, a primeira matriz aima é a matriz de Vandermonde, ujo determinante éQ
i<j
(
λ
j
−
λ
i)
6
= 0
. Logo, tal matriz é invertível, de onde obtemos quef
0
, f
1
, . . . , f
m
∈
I
.Agora, para ada
i
= 0
, 1, ...,m
e adat
= 0
, 1, 2, ..., tomemosf
it
omo sendoaomponentehomogêneaemf
i
de graut
emx
2
. Usandoosmesmos argumen-tosaima, onluímos quef
it
∈
I
. Repetindo o proesso para ada variável, temos a primeira armação. Por m, observamos quef
é a soma de suas omponentes multi-homogêneas e,portanto,I
é gerado porseus polinmiosmulti-homogêneos.Na prova doteorema abaixo utilizamosoproesso de multilinearização.
Teorema 1.3.4. Se aálgebra
A
satisfazumaidentidadepolinomialdegrauk
, então satisfazumaidentidademultilineardegrau≤
k
. Emoutraspalavras,todaPI-álgebra satisfaz alguma identidademultilinear não nula.Demonstração: Seja
f
(
x
1
, . . . , x
n)
∈
KhXi
uma identidade polinomialdeA
. Se adavariávelx
i
satisfazdeg
x
i
f
≤
1
,podemosrenomearasvariáveis(eventualmente, identiandoalgumasdelas om0
),obtendo umaidentidadepolinomialmultilinearSuponhamosentão quealgumavariável,digamos
x
1
,satisfazm
= deg
x
1
f >
1
. Tomemosy
1
ey
2
variáveis deX
distintas dex
1
, . . . , x
n
, e onsideramos um novo polinmioemn
+ 1
variáveis, dado porg
(
y
1
, y
2
, x
2
, . . . , x
n) =
f
(
y
1
+
y
2
, x
2
, . . . , x
n)
−
f
(
y
1
, x
2
, . . . , x
n)
−
f
(
y
2
, x
2
, . . . , x
n)
.
Este polinmio ainda é uma identidade polinomial de
A
. Basta veriar que é não nulo. Suponhamos queg
= 0
. Como qualquer apliaçãoX
→
X
pode ser estendida a um endomorsmo deKhXi
, substituindoy
1
ey
2
porx
1
emg
, ainda obtemosuma identidade polinomial,ousejag
(
x
1
, x
1
, x
2
, . . . , x
n) =
f
(2
x
1
, x
2
, . . . , x
n)
−
2
f
(
x
1
, . . . , x
n) = 0
.
Como
f
=
f
0
+
f
1
+
. . .
+
f
m
, ondef
i
éasoma dos monmiosde graui
emx
1
, temosf
i(2
x
1
, x
2
, . . . , x
n) = 2
i
f
i(
x
1
, x
2
, . . . , x
n)
.
Assim,
f
0
+ 2
f
1
+
. . .
+ 2
m
f
m
= 2 (
f
0
+
f
1
+
. . .
+
f
m)
e
f
0
= (2
2
−
2)
f
2
+
. . .
+ (2
m
−
2)
f
m
,
ontradizendo
m
= deg
x
1
f >
1
. Então, omodeg
y
1
g
=
m
−
1
, podemos repetir este proesso até queo polin-mioresultantesejalinearemx
1
. Setalpolinmionãoformultilinear,om,digamos,deg
x
2
=
d
≥
2
, apliamos o proesso parax
2
, obtendo um polinmio linear emx
1
e
x
2
. Proedendo desta maneira para todas as variáveis, obtemos uma identidadepolinmialmultilinearde
A
.Este métodode multilinearizaçãotemuma importanteonsequênia,
apresen-tada noteoremaa seguir.
Demonstração: Como
K
é innito, pelo Teorema 1.3.3,f
é equivalente ao onjunto de suas omponentes multi-homogêneas. Assim, podemos assumir quef
=
f
(
x
1
, . . . , x
n)
é multi-homogêneo.Apliaremos o proesso de multilinearizaçãoa
f
. Sedeg
x
1
f
=
m >
1
, esre-vemosf
(
y
1
+
y
2
, x
2
, . . . , x
n) =
m
X
i
=0
f
i(
y
1
, y
2
, x
2
, . . . , x
n)
,
onde
f
i
é a omponente homogênea de graui
emy
1
. Então todos os polin-miosf
i
=
f
i(
y
1
, y
2
x
2
, . . . , x
n)
são onsequênias def
. Comodeg
y
j
f
i
< m
parai
= 1
, . . . , d
−
1
ej
= 1
,
2
, podemos repetir os argumentos e obter um onjunto depolinmiosmultilineares que são onsequênias de
f
. Comodeg
y
1
f
i
=
i
,deg
y
2
f
i
=
m
−
i
edeg
x
k
f
i
= deg
x
k
f
, parak
= 2
, . . . , n
, temos:f
0
(
y
1
, y
1
, x
2
, . . . , x
n) =
f
(
y
1
, x
2
, . . . , x
n)
,
f
1
(
y
1
, y
1
, x
2
, . . . , x
n) =
mf
(
y
1
, x
2
, . . . , x
n)
,
.
.
.
f
m
−
1
(
y
1
, y
1
, x
2
, . . . , x
n) =
mf
(
y
1
, x
2
, . . . , x
n)
,
f
m(
y
1
, y
1
, x
2
, . . . , x
n) =
f
(
y
1
, x
2
, . . . , x
n)
.
Assim
f
i(
y
1
, y
1
, x
2
, . . . , x
m) =
m
i
f
(
y
1
, x
2
, . . . , x
m)
,
e os oeientes binomiaissão não nulos, pois har
K
= 0
. Logo, estas identidades multilineares são equivalentes af
.O orolárioabaixo segue diretamentedoteorema.
Corolário 1.3.6. Se
I
é um T-ideal deK
hXi
e harK
= 0
, entãoI
é gerado por seus polinmios multilineares.portantequando trabalhamosomPI-álgebras,uma vez quesimpliaoestudodos
T
-ideais.1.4 Polinmios Próprios
Sendo
X
=
{x
1
, x
2
, . . .}
, denotamos porCom(
X
)
o onjunto[
x
i
1
, x
i
2
, . . . , x
i
k
]
|
k
≥
2
, x
i
j
∈
X
,
onde
1
éoprodutodeumonjuntovaziodeomutadores. SejaB
(
X
)
asubálgebradeK
hXi
gerada por Com(
X
)
. Ospolinmiosf
∈
B
(
X
)
são hamadosde polinmiospróprios.
O resultado a seguir garante que os elementos de
X
e deB
(
X
)
formam uma base paraK
hXi
. A demonstração deste fato pode ser enontrada em[3, pág. 42℄.Teorema 1.4.1. Se
f
(
x
1
, . . . , x
n)
∈
KhXi
, então existem polinmiosw
a(
x
1
, . . . , x
n)
∈
B
(
X
)
, ondea
= (
a
1
, . . . , a
n)
∈
N
n
, tais que
f
(
x
1
, . . . , x
n) =
X
a
x
a
1
1
. . . x
a
n
n
w
a(
x
1
, . . . , x
n)
.
Isto signia que, dado um polinmioqualquer, podemos esrevê-lo naforma
apresentada no teorema, utilizando as propriedades do omutador. Vejamos um
exemplo.
Exemplo 1.4.2. Considere o polinmio
f
(
x
1
, x
2
, x
3
)
=
x
2
x
2
1
x
3
. Comoab
=
ba
+ [
a, b
]
e[
ab, c
] = [
a, c
]
b
+
a
[
b, c
]
, temosx
2
x
2
1
x
3
=
x
2
1
x
2
x
3
+
x
2
, x
2
1
x
3
=
x
2
1
x
2
x
3
+ [
x
2
, x
1
]
x
1
x
3
+
x
1
[
x
2
, x
1
]
x
3
.
Agora, notemos que
[
x
2
, x
1
]
x
1
x
3
=
x
1
[
x
2
, x
1
]
x
3
+ [
x
2
, x
1
, x
1
]
x
3
x
1
[
x
2
, x
1
]
x
3
=
x
1
x
3
[
x
2
, x
1
] +
x
1
[
x
2
, x
1
, x
3
]
.
Então
x
2
x
2
1
x
3
=
x
2
1
x
2
x
3
+ 2
x
1
x
3
[
x
2
, x
1
] + 2
x
1
[
x
2
, x
1
, x
3
]
+
x
3
[
x
2
, x
1
, x
1
] + [
x
2
, x
1
, x
1
, x
3
]
Observemos que, onsiderando
a
1
=
. . .
=
a
n
= 0
no Teorema 1.4.1, temos uma base paraB
(
X
)
.O teorema abaixo garante que as identidades polinomiais de uma
K
-álgebra, omK
innito, são onsequênias das identidades próprias. Em partiular, se harK
= 0
, então as identidades polinomiaisde umaK
-álgebra são onsequênias das identidadesmultilinearespróprias.Teorema 1.4.3. Se
K
é um orpo innito eI
é um idealdeKhXi
, entãoI
=
hI
∩
B
(
X
)
i
T
,
ou seja,
I
é gerado (omo T-ideal)por seus polinmios próprios.Esta demonstração tambémpode ser enontrada em[3℄, na seção 4.3.
1.5 O Teorema de Amitsur-Levitzki
Para nalizar o primeiro apítulo, abordaremos om maiores detalhes o T
eo-rema de Amitsur-Levitzki.
Consideremos
s
n(
x
1
, . . . , x
n)
,opolinmiostandarddegraun
. Observemosque o polinmiostandard de graun
+ 1
é onsequênia do polinmiostandard de graun
, ou seja,ses
n
éuma identidade polinomialpara uma álgebraA
,s
n
+1
tambémé.Com efeito, basta ver que
s
n
+1
(
x
1
, . . . , x
n
+1
) =
n
+1
X
i
=1
(
−
1)
i
−
1
x
i
s
n
(
x
1
, . . . ,
x
b
i
, . . . , x
n
+1
)
,
Reordemos também que, se
A
é uma álgebra nitamente gerada omdim
A < n
, entãos
n
= 0
é uma identidade polinomial paraA
. Em partiular,a dimensão de
M
n(
K
)
én
2
, então esta álgebra satisfaz qualquer identidade
stan-dard de grau
m
≥
n
2
+ 1
. Entretanto, este não é o grau mínimo para que um
polinmiostandard seja identidadepolinomialde
M
n(
K
)
. Amitsure Levitzki mos-traram,em1950, queopolinmiostandard de grau2
n
éuma identidadepolinomial para a álgebra das matrizesn
×
n
sobre um orpoK
. Tal resultado é onheido omo Teoremade Amitsur-Levitzki.Teorema 1.5.1 (Teorema de Amitsur-Levitzki). A álgebra das matrizes
M
n(
K
)
satisfaz a identidade standard de grau2
n
s
2
n(
x
1
, . . . , x
2
n) = 0
.
A demonstração original deste resultado é baseada em argumentos
ombina-tórios e, em [3℄, são enontrada mais duas demonstrações distintas, de Razmyslov
e de Rosset, ambas utilizandoargumentos algébrios. Neste texto, apresentaremos
apenas a demonstração de Razmyslov, om o objetivo de ompará-la à
demonstra-ção utilizandooteoremade Swan, que veremos nopróximoapítulo,mas antes são
neessárias algumasonsiderações.
Notemos queavalidadedoTeoremade Amitsur-Levitzkipara
M
n(
Q
)
implia a validade do resultado paraM
n(
K
)
, omK
um orpo qualquer. De fato, sejamA
1
, . . . , A
2
n
matrizesemM
n(
K
)
. Podemos esrevê-las omoA
k
=
n
X
i,j
=1
λ
(
ij
k
)
E
ij
,
onde
E
ij
são matrizes elementares (possuem 0 em todas as entradas, exeto na posição(
i, j
)
,quetemvalor1),eλ
(
k
)
i,j
∈
K
. Dessaforma,omoaidentidadestandard éumpolinmiomultilinear,temosques
2
n(
A
1
, . . . , A
2
n)
éumaombinaçãolineardes
2
n(
E
i
1
j
1
, . . . , E
i
2
n
j
2
n
)
. Cada termos
2
n(
E
i
1
j
1
, . . . , E
i
2
n
j
2
n
)
é igual a0
, uma vez que assumimos avalidadedo teoremaparaM
n(
Q
)
, eportanto,s
2
n(
A
1
, . . . , A
2
n) = 0
.O resultado a seguir utilizao proesso de multilinearização para garantir que
Proposição 1.5.2. A álgebra
M
n(
K
)
não satisfaz uma identidade polinomial de grau menor que2
n
.Demonstração: Seja
f
(
x
1
, . . . , x
k)
umaidentidadepolinomialemM
n(
K
)
degrauk <
2
n
. Pelo Teorema 1.3.4, podemos assumir quef
(
x
1
, . . . , x
k)
é multilinear, epode ser esrito omo
f
(
x
1
, . . . , x
k) =
X
σ
∈
S
k
α
σ
x
σ
(1)
. . . x
σ
(
k
)
om
α
σ
∈
K
.Vejamos que
α
σ
= 0
,para qualquerσ
∈
S
k
, elogof
(
x
1
, . . . , x
k)
éopolinmio nulo. Consideremos asmatrizesE
11
, E
12
, E
22
, E
23
, . . . , E
pq
,ondep
=
q
sek
éímpar, ep
=
q
−
1
sek
é par.Como o produtode matrizeselementares satisfaz
E
ij
E
hk
=
0
,
sej
6
=
h
E
ik
,
sej
=
h
,
temos que
f
(
E
11
, E
12
, E
22
, E
23
, . . . , E
pq) =
α
ǫ
E
1
q
,
onde
ǫ
éa permutação identidade deS
k
. Logoα
ǫ
= 0
. Para qualquerσ
∈
S
k
, existeσ
−
1
∈
S
k
talqueσ
◦
σ
−
1
=
ǫ
. Consideremos
f x
σ
−
1
(1)
, x
σ
−
1
(2)
, . . . , x
σ
−
1
(
k
)
.
Fazendo assubstituições
x
σ
−
1
(1)
7→
E
11
,
x
σ
−
1
(2)
7→
E
12
,
x
σ
−
1
(3)
7→
E
22
,
.
.
.
x
σ
−
1
(
k
)
7→
E
pq
,
obtemos