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UM LUGAR AO SOL VELHICE: DO RECONHECIMENTO AO EXÍLIO

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MARIANA YOSHIDA

UM LUGAR AO SOL

VELHICE: DO RECONHECIMENTO AO

EXÍLIO

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MARIANA YOSHIDA

UM LUGAR AO SOL

VELHICE: DO RECONHECIMENTO AO

EXÍLIO

Dissertação apresentada como exigência para obtenção do Título de Mestre em Gerontologia, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação da Prof ª Drª Vera L. V. de Almeida

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Banca Examinadora

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

Á Deus

Aos meus pais, Paulo e Clara, figuras fundamentais na minha história de vida, que sempre me ensinaram valores e ensinamentos dos quais carrego até hoje. Um deles é o que só conseguimos vencer na vida, por meio da educação. A eles, meu muito obrigada.

Ao meu irmão Marcos Vinicius que apesar de ser mais novo que eu, me ajudou muito, sempre com palavras de consolo, e ao mesmo tempo me animando nos momentos difíceis pelo qual passamos durante nossa trajetória acadêmica e de vida. Saiba que você sempre será meu amigo.

A minha querida orientadora, Vera Lúcia Valsecchi de Almeida, que soube acolher e dar asas as minhas ideias e a ajudar a fundamentá-las, com as suas palavras de carinho, o seu vasto conhecimento e quando eu com minha personalidade rígida dizendo que o texto não estava bom, você me confortava.

As Prof. Dr. Beth e Maria Helena que gentilmente fizeram parte da minha banca de qualificação, enriquecendo o trabalho e trazendo novos olhares. Aos professores da gerontologia da PUC SP, que me fizeram repensar a velhice e acima de tudo a desconstruir conceitos e me tornar uma pesquisadora mais crítica e ao mesmo tempo aberta a novos horizontes, muito obrigada a Professora Suzana Medeiros, Professora Beltrina Corte, Professora Ruth, Professora Suzana Carielo, Professora Beth, Professora Maria Helena, Professor Paulo Canineu, todos vocês com suas peculiaridades mostraram-me além de vários olhares da velhice, deixando – me cada vez mais apaixonada pelo universo da gerontologia.

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Ao Sr Susumo Itimura e família, que gentilmente me autorizaram deixar público a sua história de vida, muito obrigada pela hospitalidade e atenção que o senhor me deu, “tentei escrever tudo certinho” uma história que merecia ser contada.

As minhas amigas Bibiana, Polliana, Michela, Ruth, Helaine, Manuela ,Andréa, Marina que estavam sempre ao meu lado, nas horas difíceis, com paciência e compreensão.

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YOSHIDA, Mariana. Um lugar ao Sol Velhice: Do reconhecimento ao exílio. 2012, 87p. Dissertação (Mestrado em Gerontologia). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

RESUMO

O objetivo central da presente pesquisa foi mostrar a história de vida do ex prefeito mais velho do Brasil. Os textos de Giddens (2002) foram utilizados para demonstrar a interferência da modernidade na vida do ser humano e Beauvoir (1990) e Bosi (1994) entrelaçam o envelhecer, fato este que demonstra ainda os velhos como minorias sociais. Como Sr Susumo era japonês fez-se necessário apresentar a imigração japonesa no Brasil, todo o seu percurso histórico, bem como suas crenças e princípios morais que após mais de 100 anos de imigração, alguns princípios pouco mudaram com o conceito da vergonha, apresentado por Benedict (2009), que mostrou ao ocidente, parte do pensamento oriental, como são suas regras, costumes e crenças. A seguir apresento profissões nas quais a idade é um fator positivo, nelas, a velhice não é sinônimo de desvalorização nem de doença. Procurei mostrar as trajetórias de reconhecimento de profissões em que o reconhecimento e a velhice podem caminhar juntos. A metodologia utilizada foi a história de vida e a entrevista reflexiva (Szymanski,2000). A trajetória de Susumo Itimura,foi marcada por muito trabalho e luta para conseguir realizar o seu sonho de ser fazendeiro, atrelado ao sonho de fazer Uraí prosperar, a área social era um preocupação constante do político, foram estes os pressupostos dos cinco mandatos, o último deles que teve início em 2008 com a condecoração que Sr Susumo tanto se orgulhava de ser o prefeito mais idoso do Brasil, foi neste mesmo mandato que aos 93 anos, o sujeito da pesquisa deparou-se com um fato que talvez o fez desistir de tudo. Em junho de 2011 o ex prefeito foi cassado, envergonhado resolveu se exilar em sua fazenda no Paraguai, a fragilidade em todas as suas faces ( biológica, psicológica e social) tomou conta do idoso que até então era visto como vencedor e em apenas três meses de amargura e vergonha, Susumo faleceu.

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YOSHIDA,Mariana. A place in the Sun Old Age: From recognition of exile. 2012,87p. Dissertation (Master in Gerontology), Catholic University of São Paulo.

ABSTRACT

The main objective of this research was to show the life history of the oldest former mayor of Brazil. The writings of Giddens (2002) were used to demonstrate the interference of modernity in the lives of human beings and Beauvoir (1990) and Bosi (1994) intertwine the aging, a fact that further demonstrates how the old social minorities. As Mr Susumo was Japanese, it was necessary to present the Japanese immigration to Brazil, all its history, as wall as their beliefs and moral principles that after more than 100 years of immigration, some principles have changed little with the concept of shame, presented by Benedict (2009) who showed the western part of Eastern thought, as are their rules, customs and beliefs. The following is professions in which age is a positive factor in them, old age is not synonymous with impairment or disease. I tried to show the trajectories of recognition of professions in which the recognition and old can walk together. The methodology was based on life history and reflective (Szymanski,2000). The trajectory of Susumo Itimura was marked by hard work and struggle to accomplish his dream of being a farmer, tied to the dream of making Uraí prosper, the social area was a constant concern of politics, these were the assumptions of the five mandates, the last of which began in 2008 with the award to Mr Susumo so proud to be the oldest mayor in Brazil, in this same mandate to 93 years, the research subject was faced with a fact that perhaps he did give up all. In June 2011 the former mayor was impeached, ashamed decided to go into exile at his farm in Paraguay, the weakness in all it faces ( biological, psychological and social) took care ok the elderly who until then was seen an a winner and in just three months of bitterness and shame, Susumo died.

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1

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 03

CAPÍTULO I: A Velhice na Sociedade Contemporânea 07 CAPÍTULO II: Japoneses no Brasil: normas e princípios

culturais 13

1. A Segunda Guerra Mundial e a Shindô Rinmei 15

2. Valores Morais e Princípios Culturais 20

CAPÍTULO III: Velhice e Reconhecimento: considerações

iniciais 29

1. Artistas 29

3. Político e Educador 36

CAPÍTULO IV: A Trajetória de Sisumo Itimura 39

CAPÍTULO V: Abordagem Metodológica e Procedimento

de Coleta de Dados 52

1. Do Sujeito: Susumo Itimura 58

CONSIDERAÇÕES FINAIS 71

BIBLIOGRAFIA 72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA INTERNET 76

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3

INTRODUÇÃO

Acredito que o meu interesse em estudar o envelhecimento surgiu no meu âmbito familiar, começando pelos meus avós, que sempre me contaram histórias sobre o Japão, País das minhas origens. Além disso, sempre gostei de conversar com pessoas mais velhas, principalmente as da minha família. A ideia de deixar documentada uma parte da história de vida da minha família sempre esteve nos meus pensamentos. Esta talvez seja a minha primeira noção de reconhecimento no âmbito familiar.

Entretanto, quando entrei no mestrado, minha experiência com idosos era apenas a da fisioterapeuta que atendia idosos que, na grande maioria, tinham muitas dores, viam a velhice como uma chatice e gostavam de reclamar. Diante deste perfil dos velhos que atendo em domicílio – com dificuldades físicas, mas também com questões emocionais, pois a grande maioria não consegue mais sair de casa, causando isolamento social – e, após as disciplinas que cursei durante o primeiro semestre, surgiu a seguinte pergunta: porque não escrever sobre idosos socialmente reconhecidos?

Retornando novamente ao âmbito familiar me deparei com um vídeo que um primo fez sobre seu avô (Takashi Endoh) contando sua história de vida. Pensei em escrever sobre ele, pois é um fazendeiro muito importante no Norte do Paraná. Nesta região, ele é um dos pioneiros no cultivo de soja. Foi quando meu pai (Paulo) me disse que na cidade de Uraí, próximo de minha casa, em Cornélio Procópio, o prefeito (faleceu aos 93 anos em 2011) era o político em atividade mais velho do Brasil. Fiquei muito interessada em sua história. Enfim, um grande sonho e um novo desafio estavam se concretizado; biografia e história de vida acabaram se misturando.

Em A Corrosão do Caráter, Sennett (1999) questiona sua própria

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4 individualismo. Muito do que o autor escreve sobre as relações na modernidade são também pensamentos meus e se trouxermos para o nosso foco de estudo o velho estes talvez se sintam ainda mais fracassados num mundo no qual a rapidez nas informações tem mais importância do que as tradições e as memórias.

Tomada a decisão de tratar do “reconhecimento” a partir da história de vida de um personagem, realizei uma revisão bibliográfica inicial procurando entrelaçar longevidade e reconhecimento social. Nesta busca não encontrei quase nada. Deparei-me com um “vazio”. Na Biblioteca da PUC/SP localizei apenas uma dissertação sobre velhice e poder político1. Confesso que fiquei um pouco apreensiva. Dentre outros fatores, havia me colocado o desafio de não escrever sobre os aspectos biológicos da velhice, particularmente em uma sociedade que a apreende apenas nestes termos. Meu objetivo era me tornar Mestre em Gerontologia com uma visão mais abrangente; queria ampliar meus horizontes. Foi por isso que resolvi escrever sobre a história de vida do prefeito mais velho do Brasil, entender suas várias reeleições e investigar os fundamentos de seu reconhecimento e sua concepção de velhice, além da influência da cultura japonesa na história de vida do personagem.

O primeiro desafio estava colocado. Acostumada a fazer ensaios clínicos na faculdade e na primeira pós-graduação – com um pensamento biologizante, cartesiano e positivista – me encantei com a pesquisa qualitativa, ou seja, com a possibilidade de entender, através da história de vida de um idoso com prestígio, a vivência e os significados da velhice socialmente reconhecida.

Como estou escrevendo sobre história de vida, no decorrer da pesquisa alguns fatos novos ocorreram, mostrando que a vida é feita de

1 Velhice e o Senado Federal: o olhar dos senadores idosos sobre o envelhecimento

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5 altos e baixos, que ela é dinâmica e sempre nos surpreende, tecendo novas histórias.

Na finalização dessa dissertação, alguns fatos decisivos ocorreram com o sujeito da pesquisa: foi cassado, perdeu o “título” de prefeito mais velho do Brasil e faleceu. Deparei-me com grande angústia: como faria para terminar esta história?

Para me fundamentar melhor, busquei nas ciências humanas o embasamento teórico necessário para o desenvolvimento do trabalho. A cada disciplina cursada descobria coisas novas. Desconstruí muitos conceitos e refleti muito sobre o envelhecimento (dos “outros” e meu).

Na presente pesquisa pretendi entrelaçar algumas memórias do personagem com as noções de reconhecimento, velhice e cultura japonesa.

Vale ressaltar que a maioria dos japoneses veio para o Brasil em busca de melhores condições financeiras, sem contar o desafio de um novo projeto de vida, enfrentando novos desafios, principalmente por conta das grandes diferenças linguísticas e de alguns valores diferentes diante da cultura ocidental, como a honra, vergonha e a importância do trabalho, assuntos que também foram abordados nesta pesquisa.

Benedict (2009) relata como as noções de culpa e vergonha estavam introjetadas na cultura japonesa, trabalhada no segundo capítulo do presente trabalho.

Entender a velhice como uma condição humana e, portanto, heterogênea, significa buscar bases teóricas em várias ciências humanas, a exemplo da Antropologia, da Sociologia, da Filosofia e da Psicologia Social. Estas ciências encontram-se na base das reflexões desenvolvidas e exploradas nesta dissertação.

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6 No segundo capítulo contextualizo a imigração japonesa no Brasil; nele exploro fatos, valores e características que marcaram e que continuam introjetadas nos japoneses.

No terceiro capítulo relaciono, a partir de alguns exemplos de personalidades públicas, velhice, reconhecimento, prestígio e o poder político. Neste capítulo apresento a trajetória política do sujeito.

No quarto capítulo apresento a trajetória de Susumo Itimura, sujeito da história de vida coletada.

O quinto capítulo foi destinado à abordagem metodológica, ao procedimento de coleta de dados e à análise dos dados.

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7

CAPÍTULO I

A VELHICE NA

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8 Para iniciar a discussão do presente capítulo trago à tona um período histórico específico: a idade contemporânea2; idade iniciada no século XIX e

marcada por inúmeros acontecimentos e transformações nos diversos âmbitos da sociedade e, consequentemente, nas existências pessoais. Destes fatos cabe sublinhar a industrialização, a urbanização e o desenvolvimento tecnológico. Cabe ressaltar, desde logo, que a medicina experimentou avanços consideráveis nesta mesma época.

Ao referir-se às esferas da economia e da política, ou seja, à modernização, Velho (2004) explora algumas de suas consequencias nas relações sociais e econômicas, incluindo a questão das chamadas “minorias sociais” 3:

A modernização, particularmente o crescimento das grandes cidades, afetou seriamente este sistema de valores e relações sociais. A expansão da economia de mercado, as migrações, a industrialização, a globalização, a introdução de novas tecnologias e o florescimento de uma cultura de massas contribuíram para a aceleração dessas transformações. Neste processo, as ideologias individualistas ganharam terreno, diversificou-se o campo de possibilidades sociocultural e, de um modo geral, multiplicaram-se as alternativas e as escolhas de estilo de vida. Sem dúvida, setores populares, categorias oprimidas e

diversas minorias passaram a ter maior

reconhecimento e presença na sociedade, mesmo que, com frequência, tenham que, por isso, pagar um preço elevado (VELHO; 2004; p. 06).

Segundo Giddens, (2002; p.09), “a modernidade altera radicalmente a natureza da vida social cotidiana e afeta os aspectos mais pessoais de

2

Entenda-se, aqui, “modernidade”.

3

Para Sodré (apud. Soares da Silva, A), “O conceito de minoria é o de um lugar onde se animam os fluxos de transformação de uma identidade ou de uma relação de poder. Implica uma tomada de posição grupal no interior de uma dinâmica conflitual” In:

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9

nossa existência”. Ou seja, nós também somos afetados por ela. As

informações e notícias mudam muito rápido, os sujeitos tornam-se cada vez mais individualistas e os idosos, estão que acostumados com relações mais próximas entre familiares e amigos, tendem a ser mais resistentes à rapidez das inovações tecnológicas, passam a ficar cada vez mais isolados em um modelo de sociedade em que o velho não é visto mais como sinônimo de respeito e conhecimento, mas de decrepitude e desvalorização.

Segundo Beauvoir (1990; p.10.) “o velho, enquanto categoria social,

nunca interveio no percurso do mundo”. Enquanto está produzindo ou

trabalhando, está inserido na sociedade; porém, quando se defronta com alguma doença incapacitante, ou quando se aposenta, o velho passa a ser visto como uma nova categoria social: a dos sujeitos que, como representantes do passado, vivem no “mundo da memória”.

Para Bosi, “na sociedade industrial a velhice é maléfica, porque nela

todo sentimento de continuidade é destroçado” (1994; p. 203). Desta forma,

a perda de sequência ou de continuidade é um fato marcante na sociedade industrial. Nela, a lembrança conta pouco; o consumo é o mais relevante. O ciclo do consumo exige a destruição e o desaparecimento incessante e a circulação de novos produtos e de novas formas de consumo.

Progressivamente, mais especificamente na moderna sociedade industrial, os velhos passaram a integrar as chamadas minorias sociais; ingressaram em uma parcela socialmente pouco significativa. Sua condição foi certamente agravada com o advento do capitalismo, ou seja, do trabalho assalariado, da industrialização, da cultura do efêmero, do novo, do belo e da juventude tão enaltecida pela mídia. Sob tais condições, o velho acaba perdendo lugares sociais anteriormente ocupados; lugares valorizados e revestidos de respeito.

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10 Ao mesmo tempo em que sociedade não consegue encontrar mão de obra qualificada nos recém-formados, grande parcela expressiva de aposentados está voltando ao trabalho para ensinar toda bagagem adquirida nos muitos anos de trabalho; ao mesmo tempo, esta reinserção não só abre a possibilidade de os idosos aprenderem com os jovens muito do que foram privados em sua idade produtiva, a exemplo das novas tecnologias, como pode conferir novos significados para a vida de muitas pessoas.

Essa “nova aprendizagem” pode representar uma diminuição das distâncias entre jovens e velhos, contribuindo para as trocas intergeracionais.

Para Bobbio (1997), a velhice transformou-se em um problema social difícil de ser solucionado em função do aumento do número de longevos4. Hoje, muitos velhos esperam a morte e não investem em novos projetos de vida.

Em Lodovici (2006; p.89) lemos: “O idoso sempre foi identificado como o avozinho querido por sua função acolhedora dos mais novos e com

laços afetivos bastante sólidos com os netos”. Com toda esta

contemporaneidade acima mencionada, muitos avós estão se descaracterizando e se tornando os “novos velhos”; idosos que inovam, não são apenas avós (circunscritos ao âmbito familiar), desenham novos projetos de vida e de trabalho, sonham e desejam.

Entretanto, o expressivo aumento do número (absoluto e relativo) de idosos, somado ao fato de estes se colocarem como “novos consumidores” (não apenas de “remédios”!) vem contribuindo para que a sociedade passe a vê-los sob outros moldes, ou seja, eles passam a ser vistos como uma categoria que consome e tem poder aquisitivo. Para estes, é usual a substituição do termo “velho” por “Idoso”, “Terceira Idade” ou “Melhor Idade”,

4

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11 entre outros. O objetivo parece claro: conquistar este novo mercado consumidor. Bobbio (1997) ressalta que é esta fórmula banal, adaptada à sociedade de consumo que substitui o elogio do velho virtuoso e sábio da antiguidade.

A antropóloga Guita Debert confirma este novo estatuto dos velhos:

O velho vem se transformando e se metamorfoseando psicossocialmente na inscrição de sua história, de sua memória e de suas identidades, carregadas de afeto, sedimentadas pelo sentimento de pertencimento aos lugares em que foi tecendo um novo mercado de consumo, uma nova comunidade (DEBERT, 1999, p.83).

Com o advento da modernidade, a tradição, o antigo, o conservador, passam a ser depreciados. Um exemplo é o desenvolvimento tecnológico; desenvolvimento que, com rapidez cada vez maior, torna obsoletos produtos que, colocados no mercado, são rapidamente substituídos por novos.

Para Bosi (1994), “o papel do velho é lembrar e aconselhar”; porém, em uma sociedade “moderna” e “líquida” 5, poucas pessoas estão

interessadas no passado, ou seja, na memória, tão importante para os idosos. No entanto, não há como ignorar os idosos que conseguem acompanhar o desenvolvimento da tecnologia6 fator muito importante que

promove as trocas intergeracionais de experiências e conhecimentos.

5

“Liquida”: termo utilizado por Zygmunt Bauman para designar a liquidez das relações humanas.

6

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12 Segundo Balandier,

A tradição gera continuidade; exprime a difícil relação com o passado, impõe uma conformidade resultante de um código de sentido e, portanto de valores que regem as condutas individuais e coletivas, transmitidas de geração (BALANDIER; 1997; p.37).

A questão que se coloca é: com a perda da influência das tradições e o advento da modernidade como fica o papel que os idosos ocupam na sociedade contemporânea?

Vivemos em um mundo da aceleração e do apagar do tempo passado; mundo em que tudo é transformado, modificado e atualizado. Mundo da moda, da estética, do belo. Os velhos vivem cada vez mais em num mundo pós-moderno; mundo que institui uma autoimagem de envelhecimento e velhice. Neste mundo, os idosos veem suas identidades ganharem ressonância. (CAMPEDELLI; 2009, p.28)

Hoje os que envelhecem são vistos como sujeitos do passado, fora de “moda”. Não obstante, nem sempre foi assim.

Em outras civilizações e épocas históricas eles eram considerados uma fonte de sabedoria; desenvolviam um importante papel na vida social e no dia-a-dia das sociedades às quais pertenciam.

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13

CAPÍTULO II

JAPONESES NO BRASIL:

NORMAS E PRINCÍPIOS CULTURAIS

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8

7

In: http://www.imigracaojaponesa.com.br/arquivofotos.html. Capturada em 15 de junho de 2012 às 13:30

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14 Segundo Sasaki,

A imigração de japoneses para o Brasil iniciou-se oficialmente em 1908, num período em que o Japão precisava escoar o excedente populacional e resolver seus problemas internos decorrentes da reforma política da Era Meiji de 1868 a 1912, marcando o início da Era Moderna no Japão, e quando o Brasil demandava por mão de obra imigrante. (2006; p.02)

Para Saito (1980; p.08) “O navio Kasato Maru trouxe em torno de 165

famílias para trabalharem em fazendas de café em São Paulo”. Foram elas

os primeiros imigrantes japoneses a chegarem no Brasil.

A vinda de imigrantes japoneses ao Brasil, no início do século 20, teve grande apoio governamental dado que iria suprir a carência de mão de obra destinada à cafeicultura. À época, a Itália passou a barrar o número de imigrantes ao Brasil. Consequentemente, a vinda de imigrantes japoneses para trabalhar na lavoura, somada aos que se aventuraram em terras desconhecidas e diferentes da “terra do sol nascente”, foi à solução encontrada para o mercado de trabalho; solução favorecida pelas duas Grandes Guerras Mundiais. A maioria dos imigrantes sofreu com a diferença de costumes e de língua; a estas diferenças somava-se a discriminação nas lavouras de café do interior de São Paulo. A colônia japonesa foi espalhando-se pelo país, com a missão ou o desejo de retornar ao país de origem.

O governo japonês, que a partir da década de 1880, enfrentava grande crise econômica-social, precisou emigrar boa parte da população rural para que esta não caísse na pobreza que assolava o país. À época havia também o fenômeno da superpopulação e o declínio do preço dos produtos agrícolas, aumentando o desemprego.

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15 Migrar para outro país foi à solução do governo japonês e de muitas famílias; segundo COMISSÃO (1992; p.35) “Desde a Era Meiji e a Segunda

Guerra Mundial 35 países receberam imigrantes japoneses”.

Adaptar-se a uma nova cultura foi difícil para estes novos imigrantes que moravam em casas em más condições de habitação, pouco entendiam da língua portuguesa e, muitas vezes, eram passados para trás pelos fazendeiros.

Por sua vez, o governo japonês recrutava, dava transporte e custeava o estabelecimento dos japoneses no Brasil. De acordo com Sasaki (2006; p.03), ”O auge dessa imigração foi entre 1925 e 1934, com mais de 120 mil

imigrantes”.

E ao chegar no porto de Santos com trabalhos já pré arranjados por interceptadores no Japão, normalmente a colônia japonesa destinou – se ao interior de São Paulo, para trabalhar nas lavouras de café, e após cada família ia seguindo o seu rumo. Já que o sonho da maioria dos colonos japoneses era guardar dinheiro para retornar a terra natal.

1. A Segunda Guerra Mundial e a Shindô Renmei.

A Segunda Guerra Mundial teve início em 1939, entre os países Aliados (liderados por Estados Unidos, União Soviética e Inglaterra) e os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Em 1942 o governo brasileiro rompe relações diplomáticas com os países do Eixo, deixando imigrantes alemães, italianos e japoneses em uma situação delicada, houve uma grande fiscalização sobre esses imigrantes e sua liberdade foi restringida (COMISSÃO; 1992; p.257).

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16 liberdade e até mesmo a proibição do ensino da língua japonesa. Tinham também dificuldade de obter informações fidedignas pelo rádio, pois era proibida a circulação de jornais em japonês; alguns japoneses conseguiam obter informações, nem sempre fidedignas, pelo rádio, fato que pode ser observado em relatos sobre o fim da Segunda Guerra Mundial, como o que se segue:

Em torno do dia 15 de agosto, os japoneses que tiveram direta ou indiretamente conhecimento das informações transmitidas pela rádio japonesa ficaram atônicos e estupefatos e choraram com a triste notícia da derrota. Entretanto na verdade foi um número reduzido de pessoas que acreditou piamente no revés do Império. A maioria recebeu a notícia com suspeita de que se tratava de um boato maquinado pelos aliados. E antes mesmo desse dia, já corria a informação de grande triunfo no Japão. Sendo que no mesmo dia foi vinculada – por fonte ignorada - a notícia de que a informação da derrota era falsa e que na verdade o Japão obtivera uma grande vitória. (COMISSÃO; 1992; p.270-271)

Essas notícias acabaram causando uma separação entre os imigrantes japoneses que foram divididos entre os derrotistas (makegumi), que acreditavam no noticiário sobre derrota do Japão na guerra, e vitoristas

(kachigumi), que achavam impossível o Japão invencível ter perdido a

guerra.

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17 Após o evento sangrento da Shindo Renmei, as relações e olhares dos brasileiros em relação aos japoneses mudaram bastante, criando uma nova percepção desses nisseis. Todos esses fatos sofridos pelos imigrantes japoneses, desde a chegada ao Brasil – especialmente o trabalho árduo e a rivalidade entre derrotistas e vitoriosos – contribuiu para que muitos desejassem voltar à terra natal, desejo abortado após a Segunda Guerra Mundial. É recorrente a noção de que a guerra entre as duas facções manchou a honra e história de um povo pacífico, de cultura e costumes milenares, respeitado no mundo todo e sempre “plástico”, pois não só se adaptou ao trabalho agrícola, como desbravou terras totalmente desconhecidas. Como imigrantes que trabalhavam com agricultura, ajudaram a nação brasileira, primeiro com o café, depois com o algodão e mais recentemente com a soja que é, no Paraná, uma agricultura promissora. Estes imigrantes contribuíram para o desenvolvimento brasileiro; no Paraná encontra-se a maior colônia japonesa do Brasil. A maioria de seus representantes iniciou seus trabalhos na roça; os filhos dos primeiros imigrantes, já adaptados a cultura brasileira, formaram-se no ensino superior e até mesmo migraram para os grandes centros, trabalhando inicialmente em ofícios cercados de estereótipos: tinturaria, quitanda, pastelaria.

No entanto, esse “abrasileiramento” não impediu a manutenção de costumes ligados ao respeito, honra, honestidade, educação, senso de hierarquia, paciência e estima pelo trabalho. Acredito que essas virtudes foram primordiais na vitória desses imigrantes que continuam contribuindo para a melhora da nossa nação.

Segundo o documento da Sociedade Brasileira da Cultura Japonesa,

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18 Na década de 30, com Getúlio Vargas no poder, houve uma restrição drástica na política cafeeira nos estados de São Paulo e Minas Gerais; isto levou vários imigrantes a desbravarem terras desconhecidas como o interior do Paraná. O Sr. Susumo – sujeito da pesquisa realizada - e sua família servem de exemplo. Saiu da cidade de Matão e resolveu, em 1937, comprar terras em uma cidade onde hoje se localiza a cidade de Uraí. Segundo afirmou, junto com outros agricultores derrubaram a mata e tiveram problemas com a malária; mas depois viram a construção da cidade de Uraí e a formação de suas fazendas, segundo dados colhidos pela família.

“Diante da falta de trabalhadores para desbravar o norte do Paraná, voltou para Matão/SP a fim de buscar 13 famílias para construir o que hoje é a cidade de Uraí.”

“Um dos seus pioneiros, o desenvolvimento da cidade uraiense sempre esteve acompanhado à situação vivenciada pelo Sr. Itimura.”

O nome “Uraí” foi dado à cidade porque havia muitos imigrantes japoneses no local; em japonês significa Terra do Sol Poente. Susumo foi, portanto, um dos pioneiros na região; tinha várias fazendas na cidade e nos arredores, participando de praticamente toda evolução da cidade que hoje, segundo dados do CENSO/2010, têm 11.472 habitantes.

Passada a febre do café no Paraná, Susumo resolveu investir em uma fibra utilizada para fabricar roupas, a RAMI. Na década de 80 o município de Uraí, juntamente com nosso sujeito, foi considerado o maior produtor mundial desta fibra.

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19 e definitiva de suas famílias, em trabalhar e prosperar em terras tupiniquins e criar seus filhos para viverem no Brasil.

No período pós-guerra, passadas as animosidades entre os países, os imigrantes japoneses criaram inúmeras entidades associativas (a exemplo de clubes) com objetivo de preservar a cultura, religião, língua e costumes do Japão.

Dados do CENSO/2010 demonstram que cerca de 2,08 milhões de brasileiros declararam ser da cor amarela (japoneses, coreanos, chineses). Este é um fato positivo, pois eles eram segundo dados do CENSO/2000, apenas 761 mil brasileiros. Assim, nestes dez anos houve um aumento de 173,7% na declaração desta raça. Este aumento pode ter vários motivos: o retorno dos dekasseguis (descendentes de japoneses que moram no Japão), o aumento de imigrantes chineses e coreanos causado pela abertura do mercado nestes dois países e também a reafirmação da identidade oriental.

Em relação à localização geográfica, pode-se dizer que os imigrantes japoneses se estabeleceram em vários núcleos coloniais, principalmente no Estado de São Paulo, no norte do Estado do Paraná, no Mato Grosso do Sul, no Pará e no Amazonas.

Mas como é que os japoneses que nasceram no Brasil sentem-se? Tsuda (1996) relata:

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20 Outros itens levados muito a sério pelos japoneses eram a educação moral, de origem japonesa, e o espírito japonês. Estes itens são de extrema importância para entender alguns valores que são bem diferentes da cultura ocidental. E o povo japonês é quase sempre visto no Brasil como sinônimo de trabalho, fidelidade, confiança.

A preocupação com a preservação da educação moral e do “espírito japonês” remonta à época em que os primeiros imigrantes japoneses vieram para cá; era obrigação das mães japonesas ensinarem aos filhos a língua, os valores e costumes japoneses, para que quando retornassem ao Japão os mesmos não se encontrassem tão atrasados na escola. O espírito japonês pode ser entendido como a maneira de pensar e agir, o respeito aos pais, o pai como o chefe da família e, portanto, uma sociedade bem patriarcal. O estímulo ao trabalho – estreitamente ligado à educação – é a estas base do espírito japonês, tendo suas raízes bastantes remotas.

2. Valores Morais e Culturais do Japão

Com o apoio de CONCONE (1994; p. 01) temos que “A noção de cultura, associada à noção de sociedade, é fundamental. O homem e o comportamento humano só podem ser compreendidos a partir do seu nicho

sócio cultural”. Ou seja, esses imigrantes japoneses, ao desembarcar no

Brasil, detinham valores culturais muito diferentes dos praticados aqui e aos poucos alguns costumes mudaram enquanto que outros permanecem.

Além disso, para compreendermos uma cultura, temos também que pensar o papel da tradição. Segundo Giddens, “Nas culturas tradicionais, o passado é honrado e os símbolos valorizados porque contêm e perpetuam a

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21 Para Balandier (1997: pg. 35)

No campo da cultura ocidental o par positivo ordem - desordem configura-se a partir de outro par positivo: tradição – novidade, onde o novo, estreitamente ligado à modernidade, representa a busca de inscrição do seu lugar nas fileiras da tradição. O novo cria abalos, traz a desordem e instaura o caos.

Essas tradições, muito respeitadas pelos japoneses, denotam o sentimento de preservar e manter tradições folclóricas, de conduta, de ritos de passagem; a religião também é uma maneira de tentar entender os valores morais de uma nação. Assim, o Japão da atualidade consegue preservar ritos, religiões e práticas muito antigas. Em um País que é considerado o “pai” da tecnologia, com a robótica e inovações tecnológicas de ponta, isto não deixa de ser um paradoxo. Ou seja, o Japão tenta manter o equilíbrio onde o velho e no novo tentam andar de mãos dadas, sendo que um pode ser o complemento do outro.

Nos tempos medievais, as três principais religiões - Xintoísmo, Budismo e o Confucionismo – influenciaram-se mutuamente, tornando-se o núcleo do sistema moral japonês:

(30)

22 Estas três religiões são vitais para o entendimento da cultura japonesa. Para entendermos o comportamento nipônico, com o antigo e o novo convivendo em harmonia, há que se considerar, segundo Pereira (2001; p. 55), que “o xintoísmo e o budismo estão presentes nos ritos de passagem, o xintoísmo nos nascimentos e matrimônios, enquanto que o

budismo nos rituais funerários”.

Essas tradições religiosas que remetem ao passado e a valores são ensinadas de geração para geração e regem as condutas individuais e coletivas. No entanto, o aprisionamento - ou “enclausuramento” - calcado somente nas tradições acaba por não dar oportunidade ao novo, à inovação, às novidades. Os japoneses permanecem, muitas vezes, presos à tarefa de conseguir se reconstruir (cabe lembrar que o Japão é uma ilha e sofre muito com os desastres da natureza), fato que desempenhou um papel importante no choque de culturas sofrido no início da imigração. Isso pode ser observado nas relações entre japoneses e brasileiros; relações marcadas, no início, por certo estranhamento; apesar de algumas condutas se adaptarem com o tempo, permanecem alguns preceitos e normas que dificilmente mudariam. Os lendários samurais ajudaram a criar um código de ética - hoje é mais moderno – constantemente reposto em ensinamentos e nas qualidades dos japoneses que descendem dessa classe social do Japão antigo.

Governada pelos militares da era chamada de Bushido (código do samurai), a moral na Era Edo enfatiza a lealdade, o auto sacrifício, a justiça, o sentimento da vergonha, a pureza, a modéstia, a simplicidade, o espírito marcial, a honra e a afeição, entre outros.

Uma frase de Miyamoto Musashi9 resume o caminho do guerreiro em

uma frase: “A vida de alguém é limitada; a honra e o respeito duram para

sempre”. Isto posto podemos perceber que os valores de honra e respeito

surgiram no Japão Feudal, permanecendo até hoje e sendo valorizados

9

(31)

23 pelos imigrantes japoneses vistos, no Brasil, como de muita raça, fiéis, trabalhadores, honestos e perfeccionistas.

A antropóloga Ruth Benedict investigou estes conceitos japoneses. Ela foi designada para estudar os japoneses na época da Segunda Guerra Mundial, pois os americanos julgavam este povo com costumes e valores muito diferentes dos deles.

Segundo a autora, o povo japonês é autoritário, apresenta rigidez de conduta, venera o seu imperador e é capaz de lutar até a morte. A autora ainda ressalta que seu livro “não é sobre os costumes japoneses e sim como

os mesmos conduzem sua vida”.

Quando escrever um livro sobre uma nação onde vigora um culto popular de esteticismo, que confere honrarias a atores e artistas, esbanjando arte no cultivo de crisântemos, tal obra não terá de ser completada por outra, dedicada ao culto da espada e à ascendência máxima do guerreiro. (BENEDICT; 2009, p.10)

Outra característica marcante dos imigrantes japoneses era a sua organização social baseada em uma hierarquia que denota uma população obediente, que se dedica muito ao trabalho e ao estudo e não tem o costume de “quebrar regras”.

O sentimento imperialista era visível nos soldados japoneses. O imperador era inseparável do Japão; suas ordens eram prontamente obedecidas. O símbolo do imperialismo japonês era o crisântemo estampado na antiga bandeira japonesa.

(32)

24 A honra ligava-se à luta até a morte. Numa situação desesperada, um soldado japonês deveria matar-se com uma derradeira granada de mão, ou atacar desarmado o inimigo, numa avançada suicida em

massa. Não deveria, porém render-se. Mesmo se fosse

aprisionado ferido e inconsciente, nunca mais “poderia andar de cabeça erguida no Japão”, estava desonrado, “morto” para a sua antiga vida. (BENEDICT; 2009; p.39)

Benedict relata que a família japonesa era baseada no gênero, geração e primogenitura. Os mais velhos eram sempre respeitados, tal como os antepassados, por meio de um altar no qual os ancestrais são reverenciados com o objetivo de abrir os caminhos dos que ainda estão vivos; por isso a primeira refeição é colocada de forma simbólica, primeiro para os antepassados, em respeito aos mesmos.

Podemos observar reflexos dos relatos de Benedict nos relatos do sujeito da investigação, Sr. Susumo:

“Eu com 29 anos perdi o pai, fiquei o irmão mais velho da casa, fiquei como pai dos meus irmão que eram todos pequenos né, tava com 30 e poucos alqueires aqui, ai eu trabalhei enquanto a mãe tava viva, continuei trabalhando fui trabalhado com todos os meus irmãos o caçula Katsico ele foi na escola lá em São Paulo lá no shimoto e nunca trabalhou, eu dividi tudo igual para ele também. Com mais ou menos foi quando 60 e pouco, nos repartimos tinha 40 e poucas fazendas, meu pai tinha 10 fazendas, foi tudo trabalhando e comprando, é o duro depois é que meus irmãos falam que é herança não é herança, eu é que ganhei, porque não da nada para os irmãos, mas eu dei tudo para os irmãos igual, e quase que eles que queriam repartir para mim, (risadas).”

(33)

25 uma família prosperar, isso tudo está ligada a educação japonesa. Fatos como este, relatados por Susumo ocorreram frequentemente com os primogênitos que imigraram para o Brasil. Há no relato do idoso, um sentimento de injustiça, haja vista que o velho achava que formou “a sua fortuna” sozinho, mas mesmo assim ele preferiu dividir as empresas de forma igual aos irmãos.

Um sentimento muito presente na cultura japonesa é o da vergonha; Benedict (2009) e Vitale (1994) tentam explicar como esse sentimento se manifesta no sujeito e porque ele acontece, provavelmente por questões culturais ligadas ao respeito e honra. Na cultura japonesa não existe expiação. Segue abaixo a definição de vergonha e como ela se manifesta no sujeito:

A vergonha é um sentimento visível, que nos faz ruborizar, que pode nos causar doloroso embaraço, que nos provoca a vontade de sumir, de esconder o rosto com as mãos, de desaparecer, que nos altera a dimensão do tempo, imprimindo-nos a sensação de que ele não passa ou fazendo-nos desejar que ele ande depressa. (VITALE; 1994; p.08)

Para Benedict o sentimento de vergonha tem uma explicação cultural; entre a sociedade da vergonha (oriental) e a sociedade da culpa (ocidental) a principal diferença é que a primeira não pode ser aliviada com a confissão e a expiação, enquanto a segunda é “absolvida” ou aliviada quando o indivíduo se confessa.

(34)

26 sanção importante, não se experimenta alívio quando se divulga uma transgressão, ainda que seja a um confessor. Contanto que a sua má conduta não “transpire para o mundo”, não precisará inquietar-se, afigurando-se-lhe a confissão tão somente como um modo de criar problemas. As culturas da vergonha, portanto, não prescrevem confissões ainda que aos

deuses. Dispõem mais de cerimônias para boa sorte do

que para expiação. (BENEDICT; 2009, p. 189)

Outra explicação para o sentimento da vergonha na sociedade japonesa reside na própria constituição e características dessa população que, segundo Camacho,

[...] o japonês é disciplinado, circunspecto, austero e rígido no cumprimento de seus deveres porque sua vida possui como eixo, a vergonha e o cultivo da honra ao nome, à família e à nação. A exigência extremada de si próprio nasce do temor ao ostracismo, à difamação e à rejeição. Ele não vive para o bem e fugindo do mal. Ele vive, isto sim, no interior dos círculos, sendo enredado pelas obrigações. Assim é o japonês (1993; p.54).

Por meio destas três explicações sobre a vergonha podemos concluir que, no caso da sociedade japonesa, ela pressupõe uma vigilância implacável dos atos individuais através de um “outro” que é coletivo, que sempre julga os atos e condutas dos sujeitos; portanto, o japonês sente vergonha pelo grande fardo que o indivíduo carrega de não poder errar, de sempre ter que ser um exemplo para sua sociedade. Por outro lado, na sociedade da culpa o sujeito, ao reter alguma coisa que fez de errado, ingressa nos “territórios” do pecado e da falta de moral. Entretanto, Adler ressalta o caráter social da vergonha. Para este autor, “a vergonha é impossível de ser excluída do ser humano, sendo que a sociedade seria

(35)

27 Uma sociedade sem este sentimento seria perigosa, pois não existiria o cumprimento das normas que servem como um regulador das ações do indivíduo. Além disso, precisamos deste sentimento como meio de aprovação ou desaprovação do outro. Aí surgem regras, costumes, e procedimentos que servem para regular a conduta e a moral de uma sociedade interferindo no nosso comportamento.

No Japão, uma expressão do sentimento de vergonha é a antiga prática do HARAKIRI (cortar a barriga) ou SEPUKU; era praticada por meio de um ritual realizado pelos samurais como pagamento da desonra que assolou o samurai, ou seja, o mesmo o realizava quando acreditava que estava desonrado, quando sentia vergonha por algum fato irreparável ou até mesmo num campo de batalha, pois era considerado uma imensa desonra render-se ao adversário.

Segundo fontes da Sociedade Brasileira de Bugei 10

O primeiro Harakiri registrado na história data de 1170, quando Minamoto Tametomo, figura quase lendária do clã Minamoro, suicida-se após perde uma batalha contra o também famoso clã Taira.

O corte era feito na barriga (HARA); para o japonês, além de ser o centro do corpo é onde fica sua “alma”. A morte é lenta e dolorosa; nesta hora o samurai deve mostrar controle dos seus próprios pensamentos e do seu corpo, não podendo demonstrar medo ou dor. Caso o samurai não consiga aguentar o ritual, um parente ou amigo portando uma espada, deveria dar um golpe de misericórdia decepando sua cabeça. Um detalhe muito importante é que essa pessoa deveria ser um exímio espadachim, pois não deveria deixar a cabeça do espadachim rolar, fato considerado de imensa falta de respeito com a família do samurai.

10

(36)

28 Para nós, que temos uma visão do ocidente, esta prática acaba gerando pânico, indignação e piedade; mas cabe evidenciar a necessidade do samurai e a “felicidade” do indivíduo que a comete. No Japão feudal, esta prática era realizada somente pelos samurais, pois estes se julgavam dignos da mesma. Antes da cerimônia, o samurai banhava-se e escrevia uma poesia de morte (muitas vezes explicando o motivo da prática); a família assistia a cerimônia e se sentia honrada por ter um ente familiar que cometeu o HARAKIRI.

(37)

29

CAPÍTULO III

VELHICE E RECONHECIMENTO:

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

(38)

30

Após pesquisa em fontes secundárias pudemos constatar que no campo das artes, no mundo acadêmico/intelectual e na política a velhice não significa desvalorização; pelo contrário, pode representar uma vantagem.

(39)

31 Apresentaremos uma breve biografia de cada um, entrelaçando-a com o contexto do envelhecimento.

Paulo Autran:

Paulo Autran nasceu em sete de setembro de 1922 no Rio de Janeiro. Formou-se em direito pela Faculdade de Direito, do Largo São Francisco, em 1945. De início, pensava seguir a carreira diplomática. Desapontado com a profissão, participou de algumas peças teatrais

amadoras, sendo convidado a estrear

profissionalmente com a peça Um Deus dormiu lá em casa, de Guilherme Figueiredo. A peça estreou em 1949 no Rio de Janeiro. Nessa época, o ator tinha 27 anos. Foi um grande sucesso e rendeu, ao jovem ator, alguns prêmios. Ao longo de sua vida atuou em 83 peças de teatro, 11 filmes e nove novelas. Faleceu aos 85 anos, quando ainda atuava na peça O Avarento, de

Molière. Como autor, foi premiado sete vezes11

.

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo (31/07/2003), quase aos 80 anos, Autran declarou:

Agora eu não encontro uma peça que me entusiasme. Não sei qual será meu próximo texto. Estou procurando personagens que tenham idade próxima a minha. Não posso mais fazer um Romeu, por exemplo. Está difícil de achar.

A declaração do ator demonstra que mesmo no campo das artes é difícil envelhecer; que os atores ao envelhecerem, perdem papéis para os mais novos (talvez não experientes e competentes como eles); e, mais grave, na velhice não encontram papéis adequados para sua idade. Mesmo

11

(40)

32 quando encontram um lugar podem correr o risco de atuar em papéis onde o velho é mostrado de maneira caricata

.

Fernanda Montenegro:

Arlette Pinheiro Esteves da Silva (Rio de Janeiro RJ 1929). Atriz. Uma das fundadoras do Teatro dos Sete, Fernanda Montenegro marca suas personagens com a sinceridade e o vigor que a tornam uma personalidade destacada na sociedade brasileira, conferindo-lhe o título de primeira-dama do teatro. Diferente dos chamados "monstros sagrados" do teatro, Fernanda Montenegro assimila desde cedo a verticalidade do teatro, na figura do encenador: Eu vi que não era só dizer a frase com sujeito, verbo e predicado. Aquilo tinha uma imantação e cada período daqueles estava inserido numa cena, que tinha um batimento, que se unia a outra cena... E assim tinha um resultado não só artístico, mas social, político, existencial. Isso tudo dentro de uma visão estética do espetáculo que

correspondesse a uma unidade cênica" 12

A atriz foi a primeira a ser contratada pela TV tupi em 1951, em 1964 estreou no cinema, com “Eles não usam Black Tie” ganhando o leão de ouro como melhor

filme no Festival de Cinema de Veneza.

Porém o teatro sempre foi sua prioridade, sendo que em mais de 50 anos de carreira a atriz atuou em quase 100 peças teatrais e onze novelas, 200 teleteatros e minisséries e filmes. Como protagonista de “Central do Brasil” do cineasta Walter Salles Jr, conquistou o urso de prata d e melhor atriz e o globo de ouro em 1999. No campo da política, Fernanda Montenegro foi convidada para ser ministra da Cultura do governo José Sarney e do governo Itamar Franco, mas recusou as duas ofertas. Também não aceitou o convite para ser embaixadora do Fundo de Desenvolvimento das

Nações Unidas para a Mulher (Unifem)13 .

12

In: http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fu... 07-08-2011

13

(41)

33 Com relação o envelhecimento, a atriz declarou, no dia 16 de Maio de 2012, para o jornal Cena Paulistana14, ao final da apresentação: “A

impressão que tenho é a de não ter envelhecido, apesar de estar instalada

na velhice”. Ou seja, apesar de ser cronologicamente idosa (temporalidade

“cronos”), a atriz parece viver um tempo “kairós” de não idosa; o que pode ser explicado pelo fato de ainda atuar e trabalhar mesmo na velhice. Outro fator seria que a atriz ainda está em pleno exercício da sua profissão em uma profissão na qual permanecer na “ativa” é privilégio de poucos! Nela, a valorização e o reconhecimento são sinônimos de experiência e sabedoria.

João Carlos Martins

João Carlos 15 começou seus estudos ainda menino,

no dia em que seu pai comprou um piano, com a professora Aida de Vuono. Aos oito anos, seu pai o inscreveu em um concurso para executar obras de Bach e ele venceu seu primeiro desafio de tantos outros que estavam por vir. Começou a estudar no Liceu Pasteur e, com 11 anos, já estudava piano por seis horas diárias. Teve, no Liceu, aula com o maior professor de piano da época—um russo radicado no

Brasil, chamado José Kliass. Sempre buscou a

perfeição para se tornar um verdadeiro intérprete. Venceu o concurso da Sociedade Brito de São Petersburgo. Seus primeiros concertos trouxeram a atenção de toda a crítica musical mundial. Foi escolhido no Festival Casals, dentre inúmeros candidatos das três Américas para dar o Recital Prêmio

em Washington.8 Aos vinte anos estreou no Carnegie

Hall, patrocinado por Eleanor Roosevelt. Tocou com as maiores orquestras norte-americanas e gravou a obra completa de Bach para piano. Foi ele quem inaugurou o Glenn Gould Memorial em Toronto

Entretanto a vida lhe pregou várias peças,

14

http://www.cenapaulistana.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1896%3Aatriz-

fernanda-montenegro-se-emociona-com-homenagem-da-plateia-em-seu-aniversario-de-82-anos&catid=108%3Anovidades&Itemid=291&lang= Acessado em 05-04-2012

15

(42)

34 A primeira decorrente de uma lesão nervosa na mão direita após um acidente de futebol em [...] afastando-o do piano, depois a Contratura de Dupuytren [...] muito comum em pianista, por causa dos movimentos repetitivos da mão, impossibilitando o retorno à profissão. Após vários tratamentos no Brasil e fora, criou um estilo único utilizando mais a mão esquerda, reinventando-se como pianista, porém novamente o destino lhe prega outra peça. Após realizar um concerto em Sofia, na Bulgária, é assaltado e leva um golpe na cabeça, que lhe faz perder novamente o movimento das mãos. Quando se esforçava, sentia dores violentas, principalmente na mão esquerda. Então perdeu anos de sua vida em tratamentos, em treinamentos, até que novamente achou uma maneira de tocar, utilizando só os dedos que mantinham os movimentos em cada mão. Percebeu, porém, que já não tinha a maestria e nem tirava a beleza das peças

que executava. 16

Em 2003, o pianista resolveu reinventar-se, almejando um novo projeto de vida, o de se tornar maestro aos 63 anos de idade, em que apesar das limitações físicas por ser incapaz de segurar a batuta e virar as páginas da partitura, decorava as composições, com muito esforço, sendo elogiado pela crítica e por seus colegas.

Além disso, o maestro tinha um sonho, levar a música clássica para todos, tornando-a mais democrática. Por isso, como somos o país do carnaval, o maestro juntou-se a bateria da “Vai Vai”, em 2011, com o enredo “A música venceu”, fato inusitado que ajudou a escola a ganhar o campeonato de 201117. Este feito trouxe a popularização da música clássica, que era um dos projetos do maestro, levar a música clássica para um maior número de pessoas.

Em entrevista para a revista Exame, edição de 20 de Junho de 2012, o maestro relatou a vontade de voltar a tocar piano

16

http://veja.abril.com.br/blog/veja-acompanha/carnaval-2011/vai-vai-e-a-campea-do-carnaval-paulistano-em-2011. Acessado em 06/05/2011.

17

(43)

35 “Agora, voltou a estudar piano como as crianças, com escalas simples. Por mim, subiria amanhã ao palco do Carnegie Hall. Esperar vai ser difícil”, admite. Na última entrevista, com olhos vivazes, confessou: “Sabe o quê? Eu nunca me conformei de não voltar a tocar. Quem sabe agora, com cérebro eletrônico e a mesma garra que demonstrou a vida toda, ele mais uma vez recomece? Ainda que não consiga, terá sempre a regência — agora com batuta. Fora os aplausos, claro”.

Segundo o maestro, “o reconhecimento faz parte da vida do artista e o

alimenta. O aplauso é uma forma de ter energia para o dia seguinte”. Ou

seja, nem mesmo os obstáculos físicos pararam João Carlos Martins. Apaixonado pela música e por sua profissão procura, mesmo após as inúmeras cirurgias que sofreu, continua tentando voltar a executar a sua paixão tocar piano e ser reconhecido pelo público.

Tomie Ohtake:

Nascida no Japão (Kioto/1913), Tomie chega ao Brasil em 1936 e só começa a pintar aos 40 anos de idade, construindo uma trajetória como poucos [...] Tomie Ohtake é considerada a “dama das artes plásticas brasileiras” pela carreira consagrada, construída ao longo dos últimos cinquenta anos, e pelo estilo ímpar de enfrentar a obra e a vida, nas quais força e suavidade têm o mesmo significado. A fama conquistada, desde a década de 60, nunca modificou o desafio a que se propõe: o eterno reinventar.

A artista japonesa é um exemplo de como podemos sempre nos reinventar independente da idade. Em 2012, aos 99 anos, a artista plástica continua na mídia, tanto por conta das suas obras, como por meio do seu Instituto18 que promove cursos sobre arte para todas as idades. Em relação

ao envelhecimento concedeu uma entrevista a uma rede de construção em que disse “Eu gosto de trabalhar. Naturalmente, quero trabalhar até

18

(44)

36

morrer”. 19 Com sua marca registrada - a pintura abstrata – que, segundo

afirmou o crítico de arte Agnaldo Farias, em abril de 2003, quanto mais envelhece a pintora, “[...] o outono cede espaço à primavera”. Ou seja, quanto mais “primaveras”, mais afiados estão os seus pincéis e suas criações.

Uma comparação pode ser feita entre a artista plástica e a escritora Cora Coralina, que publicou seu primeiroromance aos 75 anos de idade; tal como Tomie - que começou a pintar aos 40 anos - conseguiram o reconhecimento do público até mesmo na velhice.

A escritora chegou a receber o título de Doutor Honoris Causa da UFG (1983), sendo premiada e reconhecida por escritores, críticos e público, vindo a falecer em 1985. Cora Coralina faleceu aos 96 anos, após deixar uma bela reflexão sobre a vida, os amores e a velhice.

2. POLÍTICO E EDUCADOR

19In:

(45)

37 Pedindo licença ao campo das artes, dois outros âmbitos em que pode haver reconhecimento: o da política e da educação. Para tanto, tratarei de uma figura ilustre que continua a expor suas ideias e pensamentos na política e no meio acadêmico. Assim, a opção recaiu sobre um nome renomado e que articula, em sua prática, a educação e a política: trata-se do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que mantém um instituto chamado “IFHC” (Instituto Fernando Henrique Cardoso). Sobre o porquê da criação deste afirmou: “Contribuir para ampliar a compreensão e disseminar conhecimento sobre o país e seus desafios, com os olhos abertos para o

mundo”. Segundo ele, não se trata apenas de um centro de memória

histórica, mas de um local de debates sobre democracia e desenvolvimento, questões que FHC sempre fez questão de trabalhar, independente se estivesse na vida acadêmica ou na política.

Mini Biografia

Fernando Henrique Cardoso nasceu no Rio de Janeiro em 1931, foi casado com Ruth Cardoso (1930-2008) e tem três filhos. Sociólogo formado na Universidade de São Paulo, desde o final da década de 60 é uma das personalidades mais influentes na América latina nos seguintes temas: processo de mudança social, desenvolvimento e dependência e democracia. Iniciou sua vida acadêmica quando se formou em Ciências Sociais em 1952 pela Universidade de São Paulo em na mesma universidade em 1963 foi livre docente em sociologia, sendo que em 1968 foi titular da cátedra de Ciência Política, na faculdade de filosofia, ciências e letras da Universidade de São Paulo. Além disso, é ex-professor catedrático de Ciência Política e professor emérito da Universidade de São Paulo; ensinou em diversas universidades como: Universidade de Santiago do Chile, Universidade da Califórnia, Cambridge, Paris – Nanterre entre outras.

(46)

38 (1993/1994). Foi eleito Presidente da República Federativa do Brasil por dois mandatos consecutivos (1995-2002).

Em 2012, aos 81 anos, Fernando Henrique Cardoso é presidente do Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC, São Paulo) e presidente de honra do Diretório Nacional do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

Na história do ex-presidente podemos observar uma trajetória de muito sucesso nos meios acadêmico e político; conseguiu levar algumas ideias da sociologia para a política, como os processos de mudanças sociais e a democracia.

No início da década de 2010, está participando ativamente na cena política como, por exemplo, a favor da descriminalização da maconha; além disso, escreve mensalmente para os jornais O Estado de São Paulo e O

Globo, mostrando que mesmo na velhice podemos tratar de assuntos

polêmicos e ter voz ativa20.

CAPÍTULO IV

20

(47)

39

A TRAJETÓRIA DE SUSUMO ITIMURA

(48)

40

Na velhice, o reconhecimento relaciona-se diretamente às histórias de vida, às lutas e conquistas que marcaram a trajetória da pessoa na condição de “sujeito”; histórias que contribuíram para o reconhecimento, a legitimação, e para fazer-se ver e ouvir. Trazendo para o meu objeto de estudo – velhice e poder político e econômico – nos deparamos com histórias de reconhecimento que também, que no caso do velho teve um final inesperado no ostracismo ou exílio.

Segundo MUCIDA (2009; p. 23) “a velhice como escrita pressupõe que cada um escreve o seu envelhecimento e sua velhice de forma singular”, ou seja, cada um tem seu próprio estilo de escrever sua própria história; nelas, há os que se tornam mais reconhecidos que outros, tanto no âmbito familiar como na vida pública.

Apesar de a velhice ser reconhecida apenas através do “outro” e não de quem a está vivenciando e pensada a partir da dimensão temporal da existência, o “dono” do corpo que envelhece reconhece-se a cada momento de forma renovada e galgando novos limites. Se há aqueles que possuem mecanismos psicológicos para entender que o corpo vai envelhecer, nem por isso os velhos devem parar sua vida e esperar a morte; muitos velhos que permanecem trabalhando e que desenham novos projetos de vida passam a ver a velhice de uma maneira bem diferente daquela que identifica a velhice como sinônimo de doença, perda e morte. Ao contrário disto, muitos velhos são audaciosos e elaboram projetos de vida mais ou menos audaciosos; projetos ora discretos (a exemplo de viagens), ora ambiciosos, como participar da vida política e candidatar-se para o exercício do poder, até mesmo em idades consideradas avançadas.

(49)

41 melhorar a qualidade de vida, contribuir para a prosperidade da cidade e, até mesmo, por satisfação pessoal, pois naquela época o idoso era considerado o prefeito mais velho do Brasil em exercício.

Na atualidade, o aumento da participação dos idosos na população total, somado ao fenômeno da longevidade21, se explicita, em não poucos casos, através de longevos que tem voz e vez; idosos que são objeto de “reconhecimento”.

Na passagem da sociedade tradicional para a moderna

sociedade urbano-industrial, os processos de

identificação pessoal mudaram; transferiram-se

progressivamente de “fora” para “dentro” da sociedade. Como a identidade é um produto social, foram alteradas as condições de individuação e de reconhecimento. Consequentemente, somos nós mesmos, como indivíduos, que adquirimos a capacidade autônoma de nos definir como indivíduos. (MELUCCI; 2004, p.47).

Camarano (2001) afirma, conforme citação abaixo, que muitos lares brasileiros dependem hoje da aposentadoria ou da renda do trabalho dos idosos que permanecem inseridos no mercado de trabalho; são famílias que dependem financeiramente de seus idosos. Nelas, o velho tende a ser escutado, respondendo, muitas vezes, pela “última palavra”. Sob tais condições, o que se observa é a recuperando da noção de sujeito, de ser pensante e desejante.

Nas últimas décadas, a tradicional imagem das pessoas idosas como dependentes está se modificando; uma nova realidade está surgindo. Esta transformação relaciona-se, entre outros aspectos, ao fato de muitos idosos – mesmo com suas parcas

21

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42 aposentadorias e/ou proventos recebidos – serem os principais responsáveis pelo sustento de incontáveis famílias assumindo, portanto, a condição de principal chefe de família (CAMARANO, 2001; p. 05).

A publicidade e a mídia veem o idoso como uma nova fatia “gorda” do mercado a ser conquistada.

O papel que o idoso ocupa na sociedade mudou exigindo um reconhecimento de uma nova função ou papel. Ele passa agora a ter um valor significante, um novo estatuto identitário em sintonia com o mundo, deixando de ser um peso para ter peso nas famílias e na sociedade. Atentos ao segmento idoso, os publicitários foram se dando conta de o quanto a voz, os dizeres do idoso – este no seu status reconfigurado nos dias atuais: um indivíduo ativo, engajado e divertido – podem determinar sobre as demais faixas etárias especialmente crianças e adolescentes, que constituem um segmento da sociedade que está na mira do mercado (LODOVICI; 2006,93).

Na sociedade moderna, a mídia costuma enaltecer os velhos como eternos jovens, independente da idade. Isto contribui para que muitos idosos não se enxerguem como “velhos” ou que procurem driblar, de várias maneiras, suas imagens, quer através de cirurgias plásticas, quer por meio de outros expedientes; objetivam negar, com isto, os efeitos do tempo no corpo que não condizem com os padrões de beleza reinantes. Na sociedade atual, as rugas devem ser apagadas; afinal, a mídia enaltece corpos perfeitos.

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