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MESTRADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO PUC SP

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Academic year: 2018

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JOSÉ LUÍS FEIJÓ NUNES

A reforma da educação pública paulista dos anos 90

O discurso oficial e a ação prática do governo estadual

para implementar a política do Banco Mundial.

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO

PUC / SP

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JOSÉ LUÍS FEIJÓ NUNES

A reforma da educação pública paulista dos anos 90

O discurso oficial e a ação prática do governo estadual

para implementar a política do Banco Mundial.

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Educação: Currículo, sob a orientação do Professor Doutor Antônio Chizzotti.

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Comissão Julgadora:

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

À minha querida companheira Bahiji, sem a qual este trabalho não seria possível. Aos meus filhos, Vitor (6) e Sâmia (2) que do jeito criança me ajudaram a superar as dificuldades e ainda souberam entender os momentos em que o pai não pôde estar com eles. A minha família, que está em Porto Alegre e, mesmo distante, acompanhou e ajudou a concluir este trabalho: minha mãe Dalila, meus irmãos Cláudia e Antônio Carlos, minha cunhada Cristiane e meus sobrinhos Nathália e Enzo.

Ao professor Antônio Chizzotti, por ter me dado a oportunidade de participar de seu grupo de trabalho e pela sua segurança em dar autonomia e acreditar que este trabalho pudesse ser construído.

Às professoras e professores das escolas públicas do estado de São Paulo, que continuam lutando cotidianamente nas escolas. Aos alunos destas escolas, para os quais lutamos e para que possamos ter uma escola pública de qualidade e para todos.

Aos professores, pais e alunos, atores do cotidiano escolar onde se desenvolveu a pesquisa, que, com as angústias, tristezas e alegrias, contribuíram para evidenciar o muito que temos a fazer na educação pública.

Às minhas colegas de curso, Lucélia e Socorro, aos demais colegas e aos orientandos do professor Chizzotti, que contribuíram para que eu pudesse aprimorar a pesquisa e ajudaram muito na etapa final do trabalho.

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Conclamar as pessoas a acabarem com as ilusões

acerca de uma situação é conclamá-las a acabarem

com uma situação que precisa de ilusões.

A crítica não retira das cadeias as flores ilusórias

para que o homem suporte as sombrias e nuas cadeias,

mas sim para que se liberte delas e brotem flores vivas.

Karl Marx,

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RESUMO

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ABSTRACT

In the 90ths, the implemented reformulations in public education by the São Paulo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

PARTE I CAPÍTULO 1 1. As características do capitalismo na sociedade atual ... 22

1.1 A crise histórica do capitalismo e a Segunda Guerra Mundial ... 23

1.2 Crise econômica ... 26

1.3 Crise dos Estados de Bem-Estar social e do socialismo real ... 28

1.4 A crise dos Estados Unidos ... 33

1.5 O capitalismo do século XXI ... 40

CAPÍTULO 2 2. Capitalismo e educação ... 50

2.1 O Banco Mundial e os investimentos e educação ... 52

2.2 O Banco Mundial e as propostas pedagógicas ... 60

CAPÍTULO 3 3. Apropriação das idéias e das lutas sociais ... 67

3.1 O lugar da Pedagogia Crítica ... 69

3.2 Uma luta teórica ... 88

PARTE II CAPÍTULO 4 4. São Paulo, um exemplo mundial ... 90

4.1 Atendendo as expectativas do Banco Mundial ... 93

4.2 Em nome dos excluídos ... 102

4.3 E de Paulo Freire e outros ... 108

CAPÍTULO 5 5. Análise dos dados ... 125

5.1 Impacto das medidas nas escolas ... 126

5.2 Um retrato de Diadema ... 130

5.3 Um exemplo prático: Uma escola em Diadema ... 134

5.4 Análise das entrevistas com os professores e situação atual das escolas ... 174

5.5 Entrevistas ... 182

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 203

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Introdução

As questões relacionadas à educação sempre são objeto de inúmeras e acaloradas discussões. Independentemente de qual período histórico façam parte e de qual é o objetivo político de determinada proposta, surgirão incontáveis trabalhos e debates sobre o assunto.

Com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, a partir de 1995, com a posse do governador Mário Covas PSDB, não foi diferente.

Em consonância com o governo federal, do presidente Fernando Henrique Cardoso, também do PSDB, o governo estadual tratou de imprimir um conjunto de reformulações à educação pública paulista que proporcionaram antes de qualquer comentário, debates, monografias, dissertações e teses uma grande confusão entre aqueles que fazem parte do dia-a-dia das escolas públicas paulistas.

Isto porque as mudanças implementadas pela Secretaria da Educação atingiram o funcionamento de todas as mais de seis mil escolas do Estado, mexendo com a vida funcional de, aproximadamente, 250 mil profissionais que faziam, na época, parte da Secretaria.

Não foi somente a implantação da Progressão Continuada que provocou tal confusão. Junto com esta medida, vieram todas as demais, que serão discutidas neste trabalho, que proporcionaram uma completa reestruturação da Secretaria da Educação do Estado, economicamente a mais importante do país.

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cotidiano escolar, juntamente com professores, pais e alunos, e ainda como participante do movimento sindical, onde as discussões também estavam na ordem do dia.

A principal discussão em torno às propostas da Secretaria era o caráter das medidas defendidas pela secretária Rose Neubauer. De um lado, havia uma unanimidade em marcar a gestão da secretária como antidemocrática, de ter imposto à comunidade escolar um conjunto de reformulações importantes sem sequer consultar seus participantes.

Além disso, muito se discutiu sobre o assunto nos congressos, conferências, encontros educacionais e políticos e outros fóruns de discussão realizados pela Apeoesp (Sindicato Estadual dos Professores da Rede Pública), pelo Simpeem (Sindicato Municipal dos Professores da Rede Pública de São Paulo), pelo Coned - Congresso Nacional de Educação (fórum promovido pelas entidades sindicais e movimentos sociais e de educação), além dos debates organizados pelos partidos de esquerda e pelos programas de educação de algumas universidades.

Um tema, porém, sempre nos chamou a atenção em todos estes encontros. Como se contrapor às medidas implementadas pelo governo estadual se estas, aparentemente, faziam parte de um conjunto de reivindicações que os militantes políticos e os trabalhadores em educação, de um modo geral, sempre lutaram para conquistar?

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A defesa de uma escola democrática, de qualidade e para todos sempre foi uma bandeira de luta daqueles que buscavam um país mais justo. Para isto, estes autores recorreram, entre outros, a intelectuais marxistas e a militantes socialistas internacionalmente reconhecidos, que ajudaram a sustentar o pensamento pedagógico brasileiro.

Entre estes intelectuais, podemos encontrar Makarenko, Vigotski, Snyders, Suchodolski, Lukács (para citar apenas alguns), que formaram um grande bloco de resistência e de luta contra a ditadura do capital na escola e na educação de um modo geral.

No Brasil, Paulo Freire é o expoente de uma geração inteira de educadores, especialistas, pesquisadores, professores e outros que, através de seus trabalhos, nas escolas e universidades, nas fundações de pesquisas, nos movimentos sociais etc., foram responsáveis por uma grande mudança e pelos avanços conquistados na educação pública e nas lutas por maiores investimentos em educação em todo o país.

Foram estes educadores que também travaram a luta ideológica contra a ditadura militar e seus pressupostos para a educação nacional.

Este período culminou com a produção de grandes obras e teorias relacionadas ao processo educativo. Além disso, possibilitou grandes conquistas, pois colocou as pesquisas em educação e os trabalhos realizados em torno do processo pedagógico no mesmo grau de importância de outras áreas do conhecimento, como as técnico-científicas e a economia, por exemplo.

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contrapor a tudo isto? Por que ser contra as medidas implementadas pelo governo do PSDB?

Juntamente com isso, era farta a literatura internacional das proposições do Banco Mundial e dos demais organismos internacionais a respeito das propostas para a educação nos países atrasados. Também os grandes defensores do capital internacional propunham-se a democratizar a escola e a oferecer uma educação para todos. Até uma conferência internacional sobre educação foi organizada pela ONU e patrocinada pelo Banco Mundial, que se auto-intitulou Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada na cidade de Jomtiem, na Tailândia, em 1990.

Já ficava evidente, dentro das escolas e no interior do movimento sindical e político, que não bastava simplesmente dizer não às medidas propostas pelo governo. Não bastava apenas criticar ou rejeitar tais medidas. Era necessário participar dos debates, dos fóruns de discussão e estudar para contribuir ao esclarecimento do verdadeiro teor das medidas implementadas pelos governantes de São Paulo naquele momento.

Nas escolas, o problema parecia ainda maior do que no movimento político, visto que, diferentemente dos militantes, os professores não foram chamados a participar do debate sobre as mudanças, nem mesmo a se posicionarem sobre as propostas.

Sendo assim, era natural que a confusão política nas escolas fosse muito maior do que aquela presenciada no movimento político.

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às mudanças, produto, segundo nossa avaliação, da ausência de esclarecimento sobre o seu verdadeiro teor.

Além da inquietação e da vontade de pesquisar e estudar o assunto, a relevância social que nos motivou à execução dessa dissertação está no contato cotidiano com a parcela da população que, originalmente, teria motivado tais mudanças. Esta parcela continua órfã de uma escola pública de qualidade.

No nosso entender, a relevância social principal deste trabalho está em contribuir embora vários pesquisadores já tenham escrito e estudado sobre este tema para que seja esclarecida aos professores e ao restante da comunidade escolar a verdadeira operação Cavalo de Tróia que a Secretaria Estadual da Educação montou para confundi-los.

Nesse sentido, nosso problema principal de pesquisa é responder à seguinte questão: Em que medida a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo utilizou-se das antigas reivindicações dos movimentos sociais e dos teóricos vinculados à Pedagogia Crítica para ajustar-se às exigências do Banco Mundial e dos organismos internacionais e, com isso, ver atendidas as suas expectativas? E, ainda, como verificamos, nos dias de hoje, no cotidiano das escolas públicas, a diferença entre o discurso oficial e a ação prática do governo estadual.

Procuramos delimitar o problema à cidade de Diadema e a uma escola deste município, por considerá-los representativos para a análise da questão.

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A pesquisa pretende sempre encontrar a latência dos significados que uma leitura superficial não descobre. (CHIZZOTTI, texto a ser publicado).

Para a execução deste trabalho, adotamos a metodologia da análise crítica do processo em estudo, seja através da leitura dos documentos mencionados ao longo do trabalho, ou da observação do impacto que as referidas medidas trouxeram à escola pública em seu conjunto.

Henry Giroux assinala que a teoria crítica propicia um terreno valioso do ponto de vista

Epistemológico, sobre o qual se pode desenvolver formas de crítica que esclareçam a interação do social e do pessoal, de um lado, bem como da história e da experiência particular do outro (...) das dimensões mais progressistas de suas próprias histórias culturais e também como reestruturar e apropriar-se dos aspectos mais radicais da cultura burguesa. (GIROUX 1983. p. 24-25).

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Há, para eles, formas complexas que o poder manipula para dominar e formatar as consciências e garantir a hegemonia, ou seja, conseguir o consenso passivo de ampla maioria, e garantir a dominação por meio das instituições sociais e culturais, em especial, os meios de comunicação de massas. Neste processo, as formas culturais, a relação entre significante e significado, os rituais e discursos estão envoltos na ideologia dominante, e moldam as práticas, os discursos e a própria realidade para garantir a subordinação dos oprimidos. (CHIZZOTTI, texto a ser publicado).

A análise crítica do discurso, adotada na metodologia, tem também sua importância, pois:

Discurso não tem significado único. (...) Em pesquisa, é analise de um conjunto de idéias, um modo de pensar ou um corpo de conhecimentos expressos em uma comunicação textual ou verbal que o pesquisador pode identificar, quando analisa um texto ou fala. A análise do discurso pressupõe que discurso não se restrinja à estrutura ordenada de palavras, nem a uma descrição ou um meio de comunicação, nem tampouco se reduz à mera expressão verbal do mundo, mas o discurso é a expressão de um sujeito no mundo que explicita sua identidade (quem sou, o que quero) e social (com quem estou) e expõe a ação primordial pela qual constitui a realidade. (IDEM).

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paulista com os textos utilizados par sustentar tais propostas. Bem como analisar criticamente todo o processo dentro de um determinado momento histórico.

Outra tendência pressupõe o discurso enquanto situado em um contexto sócio-histórico e considera que ele só pode ser compreendido enquanto relacionado com o processo cultural, sócio-econômico e político nos quais o discurso acontece, crivado pelas relações ideológicas e de poder. Importa, nesse sentido, o processo, o ato da fala, o sentido elaborado no momento da produção do discurso, com todas as injunções subjetivas desejos, instintos determinações sociais-ideologias, contradições e formas lingüísticas-incoerências, repetições, omissões. (IDEM).

Esta metodologia sustenta-se também porque

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Por fim, a análise dos dados permite demonstrar, do ponto de vista do cotidiano escolar nos dias de hoje, o pensamento predominante em relação à situação atual da escola pública depois das reformas.

Uma análise categorial pressupõe que, com base nos indicadores e índices, o pesquisador pode lançar mão dos recursos quantitativos e estatísticos para fundamentar inferências que permitam afirmações consistentes, descobertas de realidades subjacentes e interpretações fidedignas. (IDEM).

O leitor percorrerá o texto que está distribuído em cinco capítulos, que procuram situar o momento histórico em que ocorreram as mudanças e suas aplicações práticas na vida das pessoas.

Na primeira parte do trabalho, que chamaremos de parte teórica, estão os capítulos I, II e III. A presença destes capítulos no trabalho cumpre o papel de, em primeiro lugar, desvelar para o próprio autor a relação das medidas desenvolvidas na educação pública paulista com a situação atual da sociedade em que vivemos. Este aspecto é importante para que o pesquisador possa compreender as reais intenções daqueles que efetivaram as mudanças que foram estudadas.

Neste sentido, conforme afirma Edaguimar Orquizas Viriato, em documento apresentado à ANPEd - 24ª Reunião Anual, Caxambu, 7 a 11 de outubro de 2001, sob o título: Desconstrução da Escola Pública Estatal: a publicização enviesada,

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diversidade de aspectos inerentes à política educacional? Parece-nos que construir esta matriz teórica é o grande desafio para nós, pesquisadores, que pretendemos não somente compreender a nossa época, mas também contribuir para a análise, interpretação e avaliação de políticas, no sentido de verificar se essas propiciam a construção de uma sociedade justa, digna e igualitária, principalmente quando, de modo geral, as políticas educacionais em nosso país têm servido mais para legitimar e manter uma classe materialmente privilegiada.

Dessa forma, espera-se contribuir para que os leitores e outros pesquisadores possam discutir os marcos teóricos sobre os quais assentaram-se as medidas impostas pela Secretaria da Educação de São Paulo.

No Capítulo I, é feita uma abordagem econômica e política da situação do capitalismo como sistema econômico e político do final do século XX e para o começo do século XXI, em que as principais questões colocadas dizem respeito à ordem econômica e política atuais, bem como à importância dos Estados Unidos para a manutenção deste sistema.

É este capitalismo que pressionará as nações pobres à aceitação de um novo modelo de educação para os seus países.

No Capítulo II, é abordada a relação entre o capitalismo e a educação, bem como a importância que esta relação tem para as teorias de educação que são discutidas nos dias de hoje. Também debatemos a relevância e a participação do Banco Mundial como agente destas propostas em todo o mundo, particularmente no estado de São Paulo.

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num grande estelionato teórico por parte de seus idealizadores. Procuramos demonstrar que todas estas propostas somente foram possíveis de serem implementadas porque estavam sustentadas nas idéias e nas lutas dos educadores críticos e dos movimentos sociais.

Na segunda parte do trabalho, estão os capítulos IV, V e as Considerações Finais. Nesta parte, aparecem as relações existentes entre as medidas que reformularam a educação pública paulista com os atores sociais que fazem parte do cotidiano das escolas públicas.

De um lado, os atores sociais vinculados ao Banco Mundial e a adesão destes às propostas chamadas de neoliberais para o país, com a conseqüente adequação da educação a este novo modelo de Estado. De outro, os principais implicados com as reformas: os professores, alunos e comunidade escolar participantes deste processo.

No Capítulo IV, é evidenciado o exemplo do estado de São Paulo como um importante ator no cenário nacional e mundial para a implementação das propostas do capitalismo em relação à educação.

No quinto capítulo, vemos em detalhes o impacto das medidas nas escolas estaduais e a importância destas para a vida cotidiana dos professores. A análise dos dados e das entrevistas realizadas nos permitiu fazer inferências a respeito daquilo que vigora hoje nas escolas e, também, vislumbrar aquilo que poderá ser feito para reerguer os professores como agentes determinantes do processo histórico em curso.

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Este não é um trabalho conclusivo. É apenas o início de uma pesquisa, de uma constatação que precisa de um tempo maior, de um acompanhamento mais detalhado, que não pode ser feito no período que é destinado ao mestrado. Assim, dentro dos limites impostos pela dinâmica da academia, estamos apresentando nossas primeiras considerações a respeito do tema e das observações realizadas naquele local de pesquisa.

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1. As características do capitalismo na sociedade atual

A etapa atual de desenvolvimento da sociedade capitalista mundial está marcada por grandes contradições entre as economias dos países desenvolvidos e as nações atrasadas economicamente e suas populações.

Apesar da grande propaganda oficial dos economistas vinculados aos organismos internacionais do grande capital, de que a vitória do capitalismo sobre o socialismo tem proporcionado um desenvolvimento da maioria das nações pobres do mundo, a realidade dos países subdesenvolvidos é bem diferente.

Ao contrário, a época neoliberal e da globalização tem aumentado a concentração da riqueza. A maior parte do dinheiro e da riqueza mundial continua circulando nos países industrializados. O crescimento dos países emergentes em 1999 está em torno de 1,5%, o pior desempenho em 17 anos.

Segundo dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho - OIT, publicados no jornal Folha de S. Paulo, do dia 8/12/2004, metade dos trabalhadores em atividade no mundo ganha menos de dois dólares por dia. Ou seja, um número aproximado de 1,4 bilhão de trabalhadores (de um total de 2,8 bilhões de trabalhadores mundiais) está abaixo da chamada linha de pobreza. E, mais grave ainda, deste total que vive abaixo da linha de pobreza, 550 milhões de trabalhadores sobrevivem com menos de um dólar por dia.

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1.1 A crise histórica do capitalismo e a Segunda Guerra Mundial

As grandes contradições do sistema capitalista não foram resolvidas na etapa anterior (dissolução dos Estados Operários do Leste Europeu, fim da União Soviética, fim da Guerra Fria etc) e, ao contrário, continuam determinando o funcionamento da economia do sistema capitalista e da sociedade atual.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, o sistema capitalista em seu conjunto estava diante de duas grandes questões: erguer a Europa e o Japão, arrasados pela devastação da Guerra, e evitar que a Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, se propagasse como alternativa às constantes crises econômicas do capitalismo, o que poderia levar o socialismo a ser visto como a melhor saída para todos os habitantes do planeta.

Um dos significados da Segunda Grande Guerra, assim como da 1ª Guerra Mundial, está na força que exerceu o imperialismo para a sua dominação em todo o mundo, na estratégia traçada entre os estados capitalistas desenvolvidos e, portanto, concorrentes à dominação do mercado mundial. O resultado da 2ª Guerra impôs um padrão para a acumulação e expansão do capital em todo o mundo e determinou as novas relações de poder que resultaram deste confronto.

Assim, as burguesias nacionais vencedoras determinaram, em última análise, como seria a expansão imperialista para a América Latina, para a Ásia e para a África. Além disso, trataram de reconstituir economicamente a Europa, dividida entre os blocos capitalista e socialista (tratando-se aqui do chamado socialismo real, comandado pelo

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O Estado vencedor, que se impôs como potência econômica e militar, os Estados Unidos, passou a atuar no mundo capitalista como o grande árbitro poderoso do planeta (influenciando e/ou impondo governos e políticas econômicas nos países da América Latina e na África, por exemplo) e, ao mesmo tempo, tinha que recuperar os estados europeus e o Japão com grandes investimentos e exportações de capital, além de disputar com a URSS a hegemonia política, científica e econômica do mundo.

Este período foi denominado como o boom do pós-guerra , quando houve uma expansão comercial e financeira, principalmente através do Plano Marshall, que tinha como objetivo principal reerguer a Europa e o Japão, bem como dar fim aos levantes operários nos principais estados europeus.

Como resultado deste processo, surgiram na Europa os chamados Estados de Bem-Estar Social, que sustentavam os altos gastos com as reivindicações mais elementares da população trabalhadora (previdência social, saúde, educação, trabalho, seguro desemprego etc.), ao mesmo tempo em que competiam ideologicamente com o chamado Estado Socialista da Europa do Leste (que também garantia pleno emprego, moradia, educação, saúde etc.), só que sem a chamada democracia capitalista.

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Esta contínua drenagem das riquezas nacionais para os países mais ricos do Norte fez eclodir diversos movimentos nacionalistas e focos de guerrilhas e explosões nos Estados pobres e colonizados: Nicarágua (1979), El Salvador (1981), Chile (1973), Angola (1974), Cuba (1959), para citarmos apenas alguns exemplos, dos quais muitos assumiram formas de movimentos de libertação nacional, contribuindo decisivamente para que os antigos impérios coloniais começassem a entrar em colapso.

As crises políticas e econômicas em diversos países do planeta transformaram o século XX num período ininterrupto de grandes conflitos internacionais, seja pela disputa de melhores mercados para o capital em crise, ou pela manutenção da hegemonia capitalista nestes Estados em crise.

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1.2 Crise Econômica

O breve espaço de tempo que proporcionou um fôlego à economia mundial foi rapidamente superado pelas grandes contradições econômicas que vieram à tona logo no início da década de 1970.

Ainda que houvesse alguma prosperidade e uma relativa estabilização, estas duraram, no máximo, até 1968, ano marcado pelas grandes manifestações operárias e populares em praticamente toda a Europa Ocidental.

Do final da década de 60, até meados da década de 70, o capitalismo mundial viveu um de seus piores momentos econômicos. A crise do petróleo, no começo da década de 70, provocaria uma nova reviravolta na política econômica ocidental, principalmente nos Estados Unidos e nos chamados Estados de Bem-Estar Social.

A crise capitalista da segunda metade da década de 70 levou a uma generalizada recessão mundial (a primeira após a Segunda Guerra), que atingiu todas as economias fortes do planeta, configurando-se como uma crise clássica de superprodução.

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uma média de 20% no período de 1959/66 para 12% durante a recessão de 1970/71, para subir 15% durante o boom especulativo de 1972/73 e cair para 11%/12% no início de 1975 . (MANDEL, 1990, p. 23).

O prolongamento da crise econômica do final da década de 70 impôs à burguesia internacional uma nova orientação política e econômica para os países desenvolvidos e, conseqüentemente, para todas as nações do globo.

A principal mudança naquele momento foi a passagem de uma economia de estímulo à demanda e de uma certa inflação controlada para uma política de estabilidade monetária, a custo de uma estagnação e até mesmo de uma depressão econômica.

A crise capitalista continuaria durante a década de 80, provocando a falência do

status-quo e da estabilidade política na Europa ocidental, adquirida com a instalação dos Estados de Bem-estar Social, administrados pela Social-Democracia européia.

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1.3 Crise dos Estados de Bem-Estar Social e do socialismo real

A instabilidade econômica gera a instabilidade política e estas crises, independentemente da ordem que ocorram (pois, no capitalismo atual, marcado por uma grande concentração de investimentos fictícios de capital nas Bolsas de Valores em todo o mundo, um desastre financeiro pode gerar uma instabilidade política), são produto das próprias contradições do sistema capitalista:

O processo de acumulação do capital monopolista torna cada vez mais necessária a intervenção do Estado através dos gastos de capital social (projetos e serviços destinados a elevar a produtividade e/ou diminuir os custos de reprodução da força de trabalho). Entretanto, a própria expansão do capital monopolista tende a gerar desequilíbrios econômicos e sociais desemprego, pobreza, capacidade excedente, capitalistas excedentes do setor competitivo da economia etc. situação que impõe maiores gastos sociais do Estado para manter a harmonia social. Há aqui uma tensão permanente conciliar a necessidade crescente de dispêndio estatal que visa a garantir a legitimidade e coesão do todo social vis-à-vis àquele destinado a regular a acumulação do capital monopolista tensão que gera uma tendência às crises (DRAIBE, WILNÊS, 1988, p. 60).

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A década de 80, que foi marcada por fortes crises econômicas em toda a Europa, tanto Ocidental como Oriental, obrigou o imperialismo a traçar um novo plano para a superação da crise. Para isso, porém, precisava contar com o esfacelamento do Bloco Soviético para a solução dos problemas.

Ao mesmo tempo em que os países capitalistas viviam a pior crise pós-guerra, os Estados comandados pela União Soviética, que formavam o chamado socialismo real, também começavam a apresentar sinais de estagnação e crise econômica.

A quebra econômica dos Estados do Leste Europeu era o sinal de que uma grande transformação começava a acontecer na Europa. A crise que eclodiu na Polônia em 1981 foi apenas o primeiro ato de um grande espetáculo que teria um efeito dominó para praticamente todos os Estados que haviam planificado sua economia no pós-guerra.

Quanto às economias da área antes entendida como de socialismo real ocidental, que haviam continuado um modesto crescimento na década de 1980, desabaram completamente após 1989. Nessa região, a comparação das crises após 1989 com a Grande Depressão era perfeitamente adequada, embora subestimasse a devastação do início da década de 1990. O PIB da Rússia caiu 17% em 1990-1, 19% em 1991-2, e 11% em 1992-3. Embora tivesse se iniciado uma certa estabilização no início da década de 1990, a Polônia tinha perdido mais de 21% de seu PIB em 1988-92; a Tchecoslováquia, quase 20%; a Romênia e a Bulgária, 30% ou mais. Sua produção industrial, em meados de 1992, estava entre metade e dois terços da de 1989 (HOBSBAWM, 1995, p. 395).

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implementadas por Mikhail Gorbachev, a Glasnost e a Perestroika) ajudaram os principais empreendedores do novo plano mundial do imperialismo (Reagan nos EUA e Thatcher na Grã-Bretanha, seguidos por Helmut Kohl na Alemanha) a implementarem a política de uma ampla desregulamentação e liberalização dos fluxos comerciais e financeiros, que submete os países atrasados e endividados a uma situação de inadimplência financeira.

Sem o perigo do comunismo rondando a Europa, e com uma taxa de desemprego nunca vista antes, o chamado neoliberalismo abriu caminho para sua expansão.

Não por acaso e, diante desta crise (a recessão mundial de 1982 é a maior desde o período da grande Depressão Americana, em 1929), o FED Federal Reserve Board, dirigido pelo economista Paul Volcker, põe em prática um conjunto de medidas monetárias consideradas radicais até mesmo pelos economistas de centro e de direita, como a forte elevação das taxas de juros, o que contribui ainda mais para acentuar a crise das dívidas externas dos países pobres.

No final do governo Carter, Volcker deslocou o objetivo da política monetária americana, até então do emprego total, para aquilo que chamaria de uma política direcionada para a diminuição da inflação. Assim, elevou as taxas de juros para um nível muito alto e precipitou os EUA na recessão.

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os impostos, cortou os benefícios do Estado à população e deixou de forçar a aplicação de leis reguladoras referentes aos direitos dos consumidores, à saúde e segurança no trabalho, à proteção do consumidor, ao salário mínimo, entre outras. Estava em marcha o Estado neoliberal dos tempos modernos.

A implementação de medidas radicais como estas não acontece sem um fracionamento ou uma intensa discussão e possível cisão dentro das diversas frações da burguesia, mas é importante ressaltar que, apesar dos conflitos, os diferentes setores do capital apoiaram as medidas do FED e do governo Reagan, o que forneceu o combustível necessário para que esta política se expandisse como a política econômica oficial pra o sistema capitalista em todo o planeta.

Esta ortodoxia neoliberal, pressionada tanto pela Inglaterra como pelos EUA, introduziu-se ainda mais nas instituições financeiras internacionais depois de 1980. Quando tinha que lidar com uma crise de crédito, o Fundo Monetário Internacional tornou-se o principal agente na promoção das políticas de ajustamento estrutural , acompanhado sempre pelo Banco Mundial. Como resultado, países como o México, Argentina, Brasil e África do Sul (só para citar alguns casos) foram arrastados para o campo neoliberal.

A partir daí, a negociação ou renegociação das dívidas passa por um controle ainda maior dos organismos financeiros centrais, o Banco Mundial e o FMI, que exigem rigorosos programas de ajustes na economia das nações pobres e uma ampla reformulação na função do Estado em relação à sociedade civil.

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prioridades para o capitalismo internacional e quais as relações que este estabelecerá com os países do Terceiro Mundo, principalmente os da América Latina.

É através deste processo que praticamente todos os países da América Latina e Caribe adotam os mesmos planos econômicos de abertura de suas economias para o capital estrangeiro: Carlos Menem, na Argentina, Alberto Fujimori, no Peru, Salinas de Gortari, no México, Fernando Henrique Cardoso, no Brasil, entre outros.

O Estado neoliberal, como passa a ser chamado, deve reduzir drasticamente os gastos com a sociedade e impulsionar uma maior competitividade entre as nações.

Enquanto isso, a desregulamentação das funções do Estado na Europa Ocidental leva a um ataque às conquistas sociais da população trabalhadora no pós-guerra. Neste caso, não são somente os trabalhadores dos chamados Estados de Bem-Estar Social, ou os trabalhadores dos Estados Unidos, que sofrem com estas medidas políticas e econômicas, mas, principalmente, os trabalhadores e as populações dos países pobres, que também terão de resistir às mesmas medidas implementadas a mando dos principais organismos internacionais dos países desenvolvidos.

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1.4 A crise dos Estados Unidos

A globalização e o neoliberalismo são, desta forma, tentativas do grande capital em crise para tentar dar mais um fôlego a um sistema econômico que apresenta rachaduras em toda a sua estrutura mundial, propondo uma nova forma de dominação para as grandes economias mundiais em crise, em especial a norte-americana.

Nos dias de hoje, a economia americana é uma das mais sensíveis às oscilações do mercado mundial, isto porque o gigante americano depende, mais do que nunca, do funcionamento global do capitalismo mundial para continuar existindo.

Segundo o relatório fiscal do FMI, o déficit federal dos Estados Unidos atingiu o montante sem precedentes de US$ 477 bilhões de dólares em 2004 e deverá piorar ainda mais se forem efetuados os cortes previstos nos impostos ou aumentadas as despesas. O gabinete responsável pelos orçamentos no Congresso norte-americano estimou que o total dos déficits na década que terminará em 2013 poderia chegar a US$ 2,4 x 10 12. Se o financiamento do déficit orçamental assim como o seu gêmeo, o déficit da balança de pagamentos fosse feito mediante a emissão de papel-moeda, isso desencadearia a inflação e a depreciação do dólar.

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Além disso, a economia global apresenta índices abaixo daqueles esperados pelos elaboradores da política neoliberal. Enquanto as taxas de crescimento global nos anos 50 e 60 permaneceram em torno de 3,5% e nos críticos anos 70 caíram para cerca de 2,4%, nos anos 80 baixaram para cerca de 1,4%. Com o neoliberalismo em sua força máxima nos anos 90, caíram ainda mais, chegando a 1,2% em média; desde 2000, têm-se mantido pouco acima de 1%.

O déficit norte-americano é o calcanhar de Aquiles para os mentores do grande capital internacional, visto que este determinará a política externa norte-americana para a primeira década deste século.

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Alguns analistas manifestam-se também, com freqüência, em relação à preocupação com os déficits em conta corrente do balanço de pagamentos dos EUA. Um exemplo disto foi um estudo apresentado por Maurice Obstfeld, da Universidade da Califórnia, e Kenneth Rogoff, de Harvard, durante um simpósio organizado pelo Federal Reserve Bank de Kansas City. Segundo eles, em 1999, o déficit corrente norte-americano alcançou US$ 316 bilhões, ou seja, 3,7% do PIB, depois de uma média de 1,7% durante 1992-98.

Os mesmos autores sugeriram, à época, projeções de 4,3% para o ano de 2000 e 4,4% em 2001. Segundo Obstfeld e Rogoff, mantendo-se um déficit de 4,4% do PIB e um crescimento nominal deste em torno de 5% ao ano, o passivo externo líquido norte-americano saltaria dos atuais 20% do PIB para algo próximo de 45% em 2009.

Cabe, então, perguntar sobre a capacidade ou a vontade - das finanças globais sustentarem tamanha sucção de capitais, bem como quais seriam as implicações, em termos de choque cambial, de uma eventual reversão súbita em tais fluxos maciços de capital.

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O déficit fiscal atual do país mais avançado do planeta está na ordem dos 600 bilhões de dólares, impulsionado, dentre outros fatores, pelos gastos militares, pela redução do poder de compra da classe média norte-americana e, também, pela redução da carga tributária à parcela mais rica da população. Este déficit, de aproximadamente 5,8% do PIB, é o maior da história dos Estados Unidos.

Segundo o economista Fred Bergsten, em artigo publicado no jornal Financial

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do resto do mundo a cada dia útil (para financiar os investimentos estrangeiros do país, assim como o desequilíbrio comercial) .

Mas, as inúmeras discussões e publicações sobre o déficit fiscal norte-americano e o seu conseqüente financiamento são, na maioria das vezes, apresentações superficiais, que nos dão uma vaga idéia sobre a potencial crise fiscal dos Estados Unidos. Isto porque, junto com a dívida que já faz parte das contas correntes nacionais, existe outra, ainda mais impressionante pelos números que a compõem, e que não faz parte de nenhum registro oficial, que é a chamada dívida implícita . Trata-se da conseqüência das obrigações que o Estado tem com os pagamentos futuros das aposentadorias e dos serviços de saúde, em particular para os aposentados.

Um estudo encomendado pelo presidente George W. Bush, que não foi divulgado publicamente devido ao desastre de seus resultados, estima que essa dívida implícita está em torno de 44 trilhões de dólares, o que é equivalente a sete vezes ao valor da dívida norte-americana, ou ainda, ao Produto Interno Bruto do país em cinco anos (dados do jornal Financial Times, de 19/7/2003).

No final de 2004, o futuro do dólar e a taxa de juros dos Estados Unidos são novamente o fiel da balança para o mercado mundial, para as principais Bolsas de Valores em todo o mundo e, principalmente, para os países atrasados que dependem fundamentalmente dos investimentos estrangeiros para a sustentação das suas frágeis economias.

No último período, a economia norte-americana cresceu, em média, 0,7% ao ano. Ao mesmo tempo, os investimentos industriais caem aproximadamente 14%.

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EUA: UMA ECONOMIA COM PÉS DE BARRO

Os analistas internacionais, como o economista Lester Thurow, do jornal inglês

Financial Times, alerta que a queda do consumo familiar, juntamente com os milhares de desempregados das indústrias tecnológicas e de comunicações, dará lugar a uma recessão prolongada (23/7/2004). Com uma demanda de compra menor, caem as importações e, ao mesmo tempo, as exportações e o gasto público dos estados e municípios continuam em queda. A crise só não é maior ainda devido ao brutal aumento do déficit público, principalmente dos estados e dos municípios.

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Grã-39

Bretanha lideraram os bem sucedidos e ainda foram seguidos de perto pelos emergentes Tigres Asiáticos. Mas, já no final da década de 90, em 1997, os Tigres tombaram (e, com eles, a maior parte da economia asiática) e a chamada nova economia norte-americana também apresentou sinais de declínio, o que vigora até hoje.

Neste momento, os integrantes do topo são a China e a Índia e uma nova mudança neste volátil grupo de bem sucedidos está a caminho.

Juntamente com toda esta instabilidade mundial, cristalizou-se um dado impressionante de concentração de renda no mercado mundial.

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1.5 O capitalismo do século XXI

Com a abertura para o mercado internacional, o Brasil projetou-se como um dos países emergentes capazes de competir, ao mesmo tempo em que serve como escoadouro para as mercadorias dos setores de tecnologia. Um setor que conquistou o mercado internacional é o de equipamentos para telecomunicações.

No primeiro trimestre de 2000, o segmento exportou US$ 354 milhões, o dobro dos US$ 157 milhões arrecadados no mesmo período no ano de 1998.

Esses números animam as gigantes mundiais que instalaram unidades de produção no Brasil. É o caso, por exemplo, da sueca Ericsson, uma das líderes do mercado de aparelhos celulares e estações de transmissão de voz, chamadas rádio-base. A fábrica da empresa em São José dos Campos (SP) exportou para a Argentina, Chile e Estados Unidos. Neste ano, vamos dobrar nossas exportações, que chegaram a US$ 128 milhões em 1999 , afirma Hans Vestberg, vice-presidente da Ericsson no Brasil. (Correio Braziliense, 14/05/00).

Além do Brasil, a Índia é outro país com fortes investimentos do grande capital internacional. No mesmo setor de tecnologia, a cidade indiana de Bangalore tornou-se uma outra referência mundial, um outro vale do Silício, a exemplo da grande expansão na região da Califórnia que liga as cidades de São Francisco e San José, nos Estados Unidos, na época de criação e expansão da Internet.

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A mais recente boa nova para os indianos veio da empresa de software Versata que, na quarta-feira, anunciou planos de abrir um centro de desenvolvimento no país e cortar 15% de sua força de trabalho nos EUA. "Para cortar custos, algumas companhias podem terceirizar serviços na Índia", afirmou N. Muralidharan, diretor da unidade indiana do site Jobstreet.com. O Media Lab, laboratório do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, lançará uma filial indiana ainda neste mês. E planeja investir até US$ 1 bilhão no país nos próximos 10 anos. Também a Hewlett-Packard planeja montar três laboratórios de pesquisa na Índia e triplicar sua força de trabalho nos próximos anos, chegando a cinco mil funcionários. Já a Veritas Software está dobrando sua equipe no país para mais de 600 funcionários no centro de pesquisa e desenvolvimento da empresa na cidade de Puna. Mas não é só o setor de tecnologia que está sendo beneficiado. A General Electric planeja ampliar sua equipe indiana para 20 mil funcionários até 2003, partindo dos atuais 7.500 empregados. E a Ford abriu recentemente um centro de desenvolvimento na cidade de Madras. O setor de tecnologia cortou mais de 100 mil vagas nos EUA neste ano, segundo pesquisa da empresa de recolocação Challenger, Gray & Christmas. (O Estado de S. Paulo, 7/6/01).

Não por acaso, a General Electric foi a responsável pela principal intervenção política para solucionar os conflitos entre Índia e o Paquistão (que tiveram seu ápice em 2002) e apresentar soluções para encerrar a disputa pela Caxemira. Nem mesmo a viagem do então Secretário de Estado americano Colin Powell foi tão decisiva para a solução do confronto.

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crédito etc, para empresas transnacionais como a Nortel Networks, Reebok, Sony, American Express, HSBC, e a GE Capital.

Não há aí nenhuma novidade. Para muitas multinacionais, o centro tecnológico das empresas está na Índia. Segundo N. Krishnakumar, presidente da MindTree, se houver um distúrbio, poderá ocorrer um caos. Embora estivéssemos tentando não nos intrometer em questões internacionais, explicamos ao nosso governo, por meio da Confederação da Indústria Indiana, que a existência de um ambiente operacional estável e previsível agora é fundamental para o desenvolvimento da Índia . (O Estado

de S. Paulo, 13/08/2002).

O processo indiano é uma tendência mundial. No mesmo ano de 2002, um relatório da Unctad Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento das 100 maiores economias do planeta, consideradas as arrecadações anuais (PIB) em cada uma delas, mostra que nada menos do que 29 são empresas transnacionais.

No relatório é fácil observar, por exemplo, que o 45º lugar está ocupado pela ExxonMobil, com um valor agregado (comparado ao PIB dos países) de 63 bilhões de dólares, estando à frente, por exemplo, do Paquistão (produtor da bomba atômica e país responsável direto pelo conflito com a Índia pela disputa da região da Caxemira), que apresenta um PIB de 62 bilhões de dólares.

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Toyota. E que Cuba, a pequena ilha do Caribe, que fez a revolução em 1959, é praticamente do mesmo tamanho que a Volkswagen.

Segundo a própria Unctad, há ainda um alerta mais agravante. A importância destas corporações transnacionais não pára de crescer. No início dos anos 90, as 100 maiores corporações do planeta representavam 3,5% do PIB mundial. Uma década depois, este valor subiu para 4,3%, o que caracterizou um crescimento muito maior do que aquele obtido pelos países em desenvolvimento.

O mesmo crescimento dá-se no número de empresas que participam da repartição da riqueza mundial. Se, em 1990, eram 24 empresas que faziam parte da lista das 100 maiores economias do planeta, dez anos depois este número já está em 29, e a tendência é que aumente ainda mais nos próximos anos.

Estas empresas exercem um papel decisivo na economia mundial. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de 1999 (IDH da ONU), das 100 maiores riquezas mundiais, metade delas pertence aos Estados e a outra metade é de propriedade destas grandes empresas.

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As cem maiores economias do mundo

(

US$ bilhões, em 2000) Fonte Unctad

PAÍS OU

EMPRESA PIB * **

Nº PAÍS OU

EMPRESA PIB * **

Nº PAÍS OU

EMPRESA PIB * ** 01 Estados

Unidos 9.810 35 Israel 110 69 Wal-Mart Stores 30

02 Japão 4.765 36 Portugal 106 70 IBM 27

03 Alemanha 1.866 37 Irã 105 71 Volkswagen 24

04 Reino Unido 1.427 38 Egito 99 72 Cuba 24

05 França 1.294 39 Irlanda 95 73 Itachi 24

06 China 1.080 40 Cingapura 92 74 Total Fina Elf 23

07 Itália 1.074 41 Malásia 90 75 Verizon

Communications 23

08 Canadá 701 42 Colômbia 81 76 Matsushita

Electric Industrial 22

09 Brasil 595 43 Filipinas 75 77 Mitsui &

Company 20

10 México 575 44 Chile 71 78 E. On 20

11 Espanha 561 45 Exxon Móbil 63 79 Omã 20

12 Coréia do sul 457 46 Paquistão 62 80 Sony 20

13 Índia 457 47 General

Motors 56 81 Mitsubishi 20

14 Austrália 388 48 Peru 53 82 Uruguai 20

15 Holanda 370 49 Argélia 53 83 República

Dominicana 20

16 Taiwan 309 50 Nova Zelândia 51 84 Tunísia 19

17 Argentina 285 51 República

Checa 51 85 Philip Morris 19

18 Rússia 251 52 Emirados

Árabes 48 86 Eslováquia 19

19 Suíça 239 53 Bangladesh 47 87 Croácia 19

20 Suécia 229 54 Hungria 46 88 Guatemala 19

21 Bélgica 229 55 Ford Motor 44 89 Luxemburgo 19

22 Turquia 200 56 Daimler

Chrysler 42 90 SBC Communications 19

23 Áustria 189 57 Nigéria 41 91 Itochu 18

24 Arábia Saudita 173 58 General

Electric 39 92 Cazaquistão 18

25 Dinamarca 163 59 Toyota Motor 38 93 Eslovênia 18

26 Hong Kong 163 60 Kuwait 38 94 Honda Motor 18

27 Noruega 162 61 Romênia 37 95 Eni 18

28 Polônia 158 62 Royal

Dutch/Shell 36 96 Nissan Motor 18

29 Indonésia 153 63 Marrocos 33 97 Toshiba 17

30 África do Sul 126 64 Ucrânia 32 98 Síria 17

31 Tailândia 122 65 Siemens 32 99 Glaxosmithkline 17

32 Finlândia 121 66 Vietnã 31 100 BT 17

33 Noruega 120 67 Líbano 31 * Países (PIB)

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No entanto, toda esta expansão das grandes empresas globais não tem gerado um incremento na produção e um aumento na quantidade de empregos oferecidos aos trabalhadores dos países desenvolvidos. Pelo contrário, há uma forte tendência destas grandes corporações em demitir seus funcionários em seus países de origem.

A nova rodada de globalização é perversa também para os trabalhadores dos países ricos. O grande capital está exportando postos de trabalho sofisticados, como em pesquisa básica, projetos de chips, engenharia e até análise financeira, e também aqueles postos denominados de médios ou técnicos. O Bank of América, nos Estados Unidos, por exemplo, eliminou 3.700 empregos na área de tecnologia e criou um terço dessas vagas na Índia, onde paga US$ 20 por hora e não os US$ 100 dos Estados Unidos.

Além disso, as empresas gigantes mundiais estão às voltas com seus ativos e balanços financeiros. Isto porque embora absorvam metade da renda mundial, sua situação financeira está muito longe do equilíbrio. Os casos de crise não se referem somente às publicações contábeis fraudadas da Enron, mas também daquelas que estão sadias por fora, mas doentes por dentro, como as indústrias automobilísticas dos Estados Unidos.

A revista The Economist, em sua edição de 14 de junho de 2003, publicou uma impressionante matéria prognosticando a extinção das grandes corporações automotivas, General Motors, Ford e Chrysler .

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impulsionar as vendas para a classe média americana, pois além da redução do poder de compra desta, as camionetas japonesas, das indústrias asiáticas que se instalaram no sul do país, são mais competitivas. Além disso, não há um novo modelo de carro em vista para incrementar as vendas. E, para completar o quadro desolador, a elevação das ações nas Bolsas de Valores, que poderia permitir um financiamento da produção com um custo reduzido, bem como proporcionar um alívio (mesmo que momentâneo) no pagamento dos fundos de pensão, não se vislumbra no horizonte.

As perdas das indústrias automobilísticas são as maiores da história, superando, inclusive, as astronômicas perdas do ano de 1992, que chegaram a 7,5 bilhões de dólares. Além disso, não é somente o quadro operacional que está ruim, o financeiro (que revela a saúde da empresa) é catastrófico. O fundo de pensão da General Motors, por exemplo, tem um rombo de 19 bilhões de dólares, o equivalente a seu valor na Bolsa de Valores. No total, a falta de financiamento dos fundos de pensão da indústria chega a 60 bilhões de dólares.

Para The Economist, como os trabalhadores demitidos imediatamente passam a cobrar as aposentadorias e ainda mantêm os seguros de saúde, a redução do quadro de pessoal não dará resultado a curto prazo .

Nesse cenário, especialistas e estudiosos em todo o mundo se perguntam se os países ricos podem prosperar sem esses postos de trabalho e quem ganha e quem perde com isso.

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O mesmo raciocínio serve também para os países atrasados economicamente. Enquanto que nas principais cidades de países como a Índia ninguém fala em demissões, assim como em Manila, Xangai, Budapeste ou San José, na Costa Rica, que se transformaram em cidades retaguarda dos centros tecnológicos de grandes empresas norte-americanas, européias e asiáticas, também não há empregos para todos, e o salário pago a seus funcionários e as condições de trabalho não garantem prosperidade a nenhum destes países.

Enquanto os EUA, a Europa e o Japão enfrentam mais esta crise, que é parte das altas e baixas da maré do ciclo econômico, o capitalismo tenta manter-se de pé, ao mesmo tempo em que impõe novas formas de vida em todas as partes do planeta.

A análise nua a crua da situação política e econômica do capitalismo atual é de que este continua manifestando seus sinais de crise por todos os lados. Neste sentido, a chamada globalização e o neoliberalismo nada têm de novo. Podemos dizer que são apenas novos slogans e propagandas de marketing dos teóricos e economistas mundiais, visto que os alicerces das estruturas de produção continuam na mesma direção e no mesmo sentido.

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Fazendo a mesma análise e tirando suas próprias conclusões, o historiador inglês Eric Hobsbawn, em entrevista concedida ao jornal argentino El Clarin, em 12/12/1998, afirma que "um dos riscos atuais é que o capitalismo tenha perdido seu sentimento de medo. Aceitam-se níveis de desigualdade antes não tolerados" (...) "a situação do capitalismo globalizante e do mercado livre e sem controles chegou a um ponto crítico. Estamos no final de uma era, mas ainda não enxergamos seu rumo".

Desta forma, para dar sobrevida a mais uma de suas crises estruturais, o capitalismo mundial precisa encontrar novas formas de dominação, que não passa somente por forçar uma abertura extrema dos mercados dos países pobres ou em desenvolvimento, ou ainda investir na volatilidade das Bolsas de Valores em todo o mundo, aproveitando-se da agilidade das comunicações, da produção ou do transporte mundial das mercadorias, mas também por impor uma nova dominação ideológica sobre estas populações.

Impor novas formas de vida às populações em todo o mundo é, ao mesmo tempo, impor novas formas de dominação através da educação e da cultura.

É necessário preparar, educar os trabalhadores e os consumidores mundiais para esta mais recente forma de dominação na época da globalização. Para isso, o capitalismo mundial, através de suas agências internacionais, elaborou um plano para modificar esta estrutura educacional em todos os países do planeta. Através de organismos como o Banco Mundial e a Unesco, por exemplo, estão financiando projetos de desenvolvimento da educação em praticamente todos os países pobres nos cinco continentes.

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imperialismo impõe novas formas de dominação através da educação, reestruturando quase que por completo a educação básica e superior nestes países.

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2. Capitalismo e educação

Em diversos momentos da história e do desenvolvimento do capitalismo como sistema econômico e político mundial, as classes dominantes procuraram delinear as melhores formas para estabelecer a sua dominação. A educação sempre cumpriu um papel decisivo para isto.

O capitalismo do século XXI, além dos tradicionais recursos da força e da coerção do Estado para a continuidade do status quo mundial, precisa, mais do que nunca, definir quais são os parâmetros educacionais para a sustentação de sua política em todo o planeta.

Nos tempos atuais, a ordem não é a implementação de ditaduras violentas para a manutenção do regime, não é a luta incondicional para combater o comunismo, ou a constatação de que uma parcela da população precisa ficar excluída do mercado e do consumo para que possa haver desenvolvimento. Pelo contrário, o discurso oficial deste novo século é recheado de argumentos pela inclusão social, pela permanência e acesso de todos à escola, pela democracia em todas as esferas da vida pública, pela inclusão de todas as pessoas ao mercado consumidor e às benesses da tecnologia e assim por diante.

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A busca deste consenso dá-se, principalmente, através da tentativa de fazer com que os interesses destas classes dominantes sejam também os interesses dos pobres e dos trabalhadores em todo o mundo.

Para isto, há um grande número de publicações nacionais e internacionais dedicadas a mostrar que a ordem atual é garantir a inclusão, o acesso dos pobres a todos os bens de consumo (incluindo-se aí a educação), apontando qual é o estágio atual e os problemas enfrentados pelas populações dos países pobres em todo o mundo e qual é o meio natural para enfrentar a situação.

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2.1 O Banco Mundial e os investimentos em educação

Os discursos, as idéias e as propostas em educação ganham, cada vez mais, um papel destacado no plano ideológico, como forma de perpetuar as ações do capitalismo sobre as populações dos diferentes países do mundo.

Os ideólogos do capitalismo não só elaboram suas teorias e suas propostas para serem implementadas em todos os países, como também procuram convencer estas populações e seus governos, através de citações de autores e militantes políticos tradicionalmente vinculados com os movimentos sociais de esquerda, apropriando-se das principais reivindicações das populações das nações atrasadas economicamente para implementar suas medidas.

A partir do início da década de 1990, em consonância com as grandes modificações que ocorriam no mundo todo, em conseqüência da falência econômica da ex-URSS e dos países do Leste Europeu, e da queda do Muro de Berlim, o capitalismo internacional, através de suas principais agências interlocutoras (ONU, UNESCO, Banco Mundial, FMI etc.), organiza em Jomtiem, cidade da Tailândia, uma Conferência Internacional sobre Educação, denominada Educação para todos .

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Assim, em toda a América Latina e, também, nos principais países da Ásia (especialmente a Índia), o projeto denominado Educação para todos foi e ainda é sustentado financeiramente pelo Banco Mundial e politicamente pelos governos nacionais que aderiram às recentes propostas mundiais para a educação.

É certo que a adoção de medidas que (re)estruturam a educação em um determinado país ou de determinadas políticas públicas para a educação não é apenas resultado de uma decisão ou manifestação unilateral dos executivos do capitalismo internacional, mas também o produto das grandes contradições existentes entre os governos e as populações dos países pobres, como reflexo do enorme impasse do capitalismo do século XXI.

A adoção destas medidas no Terceiro Mundo é, em primeiro lugar, conseqüência da tentativa do grande capital em buscar uma hegemonia nas condições de dominação em todo o mundo e, em segundo lugar, porque a crise atual da educação manifesta sobremaneira a crise da economia capitalista.

Por um lado, busca-se equacionar a crise de desemprego crescente, a queda da taxa de lucro das grandes empresas, a falência iminente de grandes corporações, o impressionante aumento da dívida fiscal e orçamentária dos principais Estados desenvolvidos do planeta etc., através da tentativa de inclusão das populações pobres no mercado consumidor mundial. Por outro, procura-se evitar que grandes contradições como a fome e a falta de recursos elementares para a vida das pessoas gerem crises e convulsões ainda maiores e mais difíceis de serem administradas pelos governos nacionais.

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dos trabalhadores e de suas famílias, bem como dos militantes em geral. Tais lutas se constituíram, durante muitas décadas, numa enorme pressão social para a obtenção de um de direitos mais elementares à vida, que é a educação.

Sendo assim, o capitalismo, em princípio, estaria adotando algumas das principais reivindicações das populações pobres dos países do Terceiro Mundo, apropriando-se das necessidades reais das classes trabalhadoras e dos excluídos da cidade e do campo. O objetivo desta política é o de imprimir uma forma de dominação e exploração que se esconda sob uma nuvem de aparências, como a democracia tomada como valor abstrato e generalidades como a igualdade de condições, inclusões sociais, a cidadania etc.

No limiar do século XXI, vê-se bem que é necessário, por todo o mundo, oferecer urgentemente à opinião pública uma educação e informação construtivas, para acabar com a apreensão inspirada pela chegada do novo século e que deriva, em larga medida, das políticas fechadas sobre si mesmas e cultivadas, até há pouco tempo, por todos os países, também no domínio da educação. (...) Entramos numa era em que, por assim dizer, já não existem fronteiras nacionais. Quer se queira quer não, os povos do mundo têm de viver juntos. Todos devemos estar conscientes disso e educar os futuros cidadãos do mundo nessa perspectiva. Cabe, pois, às organizações governamentais e não-governamentais sublinhar a importância da abertura nos planos político e educativo1. (DELORS, 2004. p. 254-255).

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Para a implementação desta política, o Banco Mundial transformou-se, principalmente na última década do século XX e início do século XXI, no principal organismo do capitalismo internacional como executor e financiador.

Mas, a implementação destas propostas para a educação não ocorreu sem que os governos dos países atrasados e suas respectivas populações, através de suas organizações representativas (ONG s, sindicatos, associações, movimentos populares etc.) tivessem aceitado ainda que com muitas contradições tais medidas. Isto porque também é orientação do Banco Mundial e do capitalismo, de um modo geral, evitar os confrontos sociais e garantir um mínimo de estabilidade para que possa haver condições ao desenvolvimento do mercado.

Justiça social é uma questão tão importante quanto crescimento econômico. Em curto prazo, você pode manter a desigualdade. Mas, no longo prazo, não dá para ter uma sociedade estável. (...) É necessário criar oportunidades para que as pessoas pobres se desenvolvam, investindo em educação e em reforma agrária. (Relatório do BIRD do ano de 1999).

Há uma clara expectativa dos dirigentes dos organismos financeiros internacionais em dar condições estruturais para que a economia ajuste-se ao plano político e econômico elaborado para o próximo período.

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As formas predatórias de exploração econômica são cada dia menos viáveis. Na ausência de uma norma básica de eqüidade, o tecido social se ressente e a intolerância política prospera, gerando um clima adverso ao investimento. Em cenários pouco eqüitativos e com baixas expectativas, existem grandes possibilidades de que as pressões sociais se tornem intoleráveis e forcem a utilização de alta densidade de intervenções e regulamentações para restabelecer o equilíbrio, gerando situações e ambientes de instabilidade e de desconfiança pública. Deste ponto de vista, a eqüidade do sistema sociopolítico condiciona indiretamente a eficiência dos mercados. Ou seja, a própria lógica de uma economia aberta sugere que a reforma social, assim concebida, é antes uma condição essencial da eficiência e viabilidade da economia que uma conseqüência da mesma. (BID, 1993).

Os países participantes da Conferência de Jomtiem e aqueles que, posteriormente, assinaram a Carta de Nova Delhi (reunião dos representantes dos nove países pobres mais populosos do mundo, realizada em 1993), entre eles o Brasil e a Índia, ratificaram o compromisso de desenvolver uma educação básica e de qualidade para todos.

No Brasil, a discussão e organização das decisões da Conferência de Jomtiem couberam, em primeiro lugar, ao governo de Itamar Franco. A execução ficou para o governo de Fernando Henrique Cardoso.

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Durante a gestão de Cardoso e Souza, o Ministério da Educação ganhou um novo status em termos de prioridade governamental, não somente quanto aos investimentos e financiamentos, como também em relação à propaganda oficial e à publicação de estatísticas da melhoria da educação básica no território nacional.

No que se refere aos problemas relativos à educação, a grande questão discutida em todo o país era a apresentação, por parte do imperialismo através de seus órgãos internacionais dos alarmantes dados de exclusão social e falta de acesso à educação da maioria da população brasileira.

De acordo com os interesses econômicos dos grandes investidores internacionais e das grandes corporações transnacionais, a prioridade é de uma escola que atenda a maioria da população e que possibilite um mínimo de formação para que esta possa servir como mão-de-obra barata para o grande capital, ao mesmo tempo em que se formam milhões de consumidores em potencial, capazes de decodificarem os símbolos necessários para a utilização das mercadorias (como as de tecnologia, por exemplo).

Também vale mencionar que indivíduos educados como consumidores em potencial e, portanto, integrados às contradições da vida (ter ou não ter emprego, ter ou não ter dinheiro para comprar), criam menos dificuldades de adaptação a este sistema.

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