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AS FUNÇÕES DIDÁTICAS DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA MEMÓRIA POPULAR

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Academic year: 2021

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AS FUNÇÕES DIDÁTICAS DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA MEMÓRIA POPULAR

Geovane Gonçalves de Oliveira Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO

Resumo

O presente artigo busca por meio de estudos das histórias em quadrinhos, mostrar sua relação com o imaginário popular e com a construção de uma memória coletiva de certos personagens e aspectos, estabelecendo uma formação de identidade. As histórias em quadrinhos estão em uso, como conhecemos nos dias de hoje, desde 1896, com o personagem The Yellow Kid. Nesta época criou-se uma relação entre a história em quadrinhos e as crianças. Chamados de Comics por terem começado com histórias de tom humorístico e sem uma história muito complexa. Com o tempo a ideia destas histórias foi mudando e moldando outros ideais, sendo conduzidos conforme seu contexto histórico. Este artigo busca ideias e simbolismos culturais em alguns dos personagens conhecidos como super-heróis, entre outros tipos de histórias em quadrinhos. Os super-heróis apareceram na forma como são conhecidos hoje em 1938 com a criação do Superman. Estes seres messiânicos possuíam poderes, ideais e uma moral acima do humano. Eram retratados como humanos perfeitos e dotados de altruísmo elevado, seu surgimento é anterior a Segunda Guerra Mundial. Representa o valor e a memória que as pessoas queriam que as crianças tivessem, e criaram um personagem anti-guerra. Como veremos no decorrer do texto, estes ideais e personagens foram sendo alterados e reorganizados, conforme se configurava o contexto vigente. Neste artigo a ideia de memória também é trabalhada, e como ela conversa com os quadrinhos. Estes personagens elencados no trabalho demonstram como uma memória deles cresce e se desenvolve ultrapassando os quadrinhos, sendo conhecidos por pessoas que não são os leitores usuais. A memória neste caso é construída por uma repetição de temas, estes que são facilmente identificáveis por pessoas comuns.

Palavras-chave: História em quadrinhos; Memória; Identidade.

Financiamento: Fundação Araucária

Introdução:

O presente artigo busca através de um estudo baseado em textos da teoria e escrita da história que a utilização da memória como uma maneira de desenvolver a aprendizagem histórica e com personagens que estão dentro do imaginário popular que tem como origem as histórias em quadrinhos. Partindo de uma relação que estes tem com a cultura juvenil e escolar, participando a memória afetiva, também procuramos estabelecer, como a entrada das histórias em quadrinhos populares, passaram de uma cultura de margem, para um conteúdo que se encontra presente no cotidiano das pessoas, inclusive como um forma de resistência a antiga cultura erudita defendida no começo do século XX.

Esse trabalho tem como justificativa a crescente onda de personagens destas histórias que tem encontrado espaço dentro de discussões políticas e sociais, usando estas personagens como símbolos. Vemos

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as potencialidades e as fragilidades que tal linguagem que originou eles encontra para aperfeiçoar sua função dentro das memórias e da Educação Histórica como parte do exercício de estabelecer relações entre o presente, o passado e perspectivar o futuro.

Sendo assim, começamos buscando as origens das histórias em quadrinhos, seu início não é firmado bem certo, existem várias versões de qual foi a história pioneira nesta forma de arte, o maior ponto de concordância, é que foi iniciado por The Yelow Kid em 1898 nos Estados Unidos como sugere Luchetti (2000, p.2). Surgindo assim, já no começo uma relação entre a cultura infantil e juvenil com as histórias em quadrinhos, sendo que esta primeira tem como trama principal, as aventuras de um menino, que não possui nome, apenas conhecido como o menino amarelo que se envolve em aventuras, com um enredo regado a humor e piadas de fácil entendimento dos mais jovens.

Outros fatores que contribuíram com a popularização entre as várias classes da sociedade foram a facilidade de se consumir histórias em quadrinhos, uma vez que estas eram produzidas com um papel de gramatura mais barata, e saindo junto a jornais de demanda continua. Essa fácil distribuição deu espaço para vários autores criassem suas obras dos mais variados gêneros, primeiro começou sendo divulgadas outras histórias infantis, mas também histórias eróticas e de detive dando origem a editoras famosas existentes até hoje como a Detetive Comics.

Essa popularização com histórias mais atrativas foi abrindo espaço para um maior diversidade de temas e representações, que através de uma leitura subjetiva, tornava possível, uma identificação com os leitores, por exemplo, as representações nacionais, ou de certo espectro da sociedade sendo apresentada nas páginas, transformando estas obras, em verdadeiras fontes quanto ao imaginário do tempo em que está inserido.

Objetivos

Com isso objetivo da pesquisa, torna-se procurar sentido em como as Histórias em Quadrinhos foram ganhando presença na cultura popular, e assim olhamos para as ideias culturais presentes no imaginário popular, e percebemos a mudança que as histórias em quadrinhos apresentaram nestas questões, primeiramente, olhamos para dentro daquilo que era ensinado dentro da escola como cultura, que primeiramente era somente passa a chamada cultura erudita, sendo assim, aos poucos foi sendo agregado valor a cultura chamada do povo, que estendemos como algo que: (WILLIAMS, 1969, p. 15).

[...] evidência a mudança geral das maneiras características de pensar acerca da vida diária: acerca de nossas instituições sociais, políticas e econômicas; dos propósitos que essas instituições estão destinadas a concretizar; e das relações que essas instituições e propósitos mantêm com as nossas atividades no campo do saber, do ensino e da arte.

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Seguindo então este pensamento em conversa com a cronológica história das histórias em quadrinhos apresentada anteriormente, essa forma de arte, apresentou uma maneira das pessoas discutirem temas, e propagar os mesmos, então nas décadas subsequentes as histórias em quadrinhos discutiram as guerras e seus efeitos, a representação de múltiplas culturas e etnias, tornando assim uma arte de todos, que abrangia cada vez mais pessoas diferentes.

Sendo assim, vemos que foi através disso que as histórias entraram na escola, e em consequência a Educação História, por possuir várias histórias em quadrinhos que possui esses temas, e que tem como função, trabalhar como fonte histórica, sendo que estas também são vestígios de seu tempo de produção, trazendo novos significados para essa arte.

Esses significados dão uma nova perspectiva sobre cultura, pois ela mesma consiste em uma representação da época para entender um comportamento ou mudança de contexto que esteja ocorrendo, as Histórias em Quadrinhos mesmo se tornam, nessa visão, um elemento típico dessa dinâmica, que sendo maleável olha para a sociedade a sua volta e representa uma maneira de tentar explica-la, elas são um exemplo muito vivo dessa maleabilidade da cultura, pois está constantemente respondendo a cultura e dinâmica social da sociedade a sua volta, atribuindo um novo sentido sempre que este é exigido.

Enxergamos que a cultura é a união de símbolos e costumes, que juntos tentam organizar e explicar o caos cotidiano, aqui temos as palavras sentido e significado, mas o que precisa ser falado é a ligação da cultura com estes termos, mais precisamente a cultura histórica que para Rüsen,(2015a, p. 24) é :

a manifestação da consciência histórica na sociedade em diversas formas e procedimentos. Inclui o trabalho cognitivo dos estudos históricos, bem como as atitudes da vida cotidiana voltadas para a compreensão do passado e a conceitualização histórica de nossa própria identidade; e não podemos nos esquecer dos museus, nem as apresentações do passado nas diversas mídias ou na literatura

Essa manifestação de história dentro da cultura traz para ela novos significados e sentidos, uma vez que como o título do livro do próprio RÜSEN fala “cultura faz sentido”, ela é tudo aquilo que o ser humano atribui significado e significância, inclusive nossa maneira de nos relacionar com o passado, e a maneira como esse passado altera a maneira como pensamos culturalmente nosso presente com isso vemos a ideia proposta por Rüsen, a função da aprendizagem histórica é estabelecer uma relação entre o passado, o presente e com isso perspectivar o futuro, é assim também com a cultura, é na disciplina de história, bem como nos outros pontos da escola, que o aluno, estabelece uma relação temporal com sua cultura, compreendendo tradições e costume previamente postos, a cultura histórica aqui, então torna-se um busca de sentido, temporal, cultural,

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e que com isso torna-se um guia para entender e interpretar o universo a nossa volta.

Sendo assim, antes de chegarmos a cultura escolar, pensamos que essa relação tempo e cultura presente em RÜSEN, que a cultura histórica, colocamos ela aqui, pois é uma ligação muito importante de estabelecer, para poder entender como se estabelece a cultura na escola, pois é através dela que criamos uma consciência, daquilo que se entende por história e com isso (RÜSEN, 1994) coloca que:

Da consciência histórica há apenas um pequeno passo para a cultura histórica.

Se se examina o papel que tem a consciência histórica na vida de uma sociedade, aparece como uma contribuição cultural fundamentalmente específica que afeta e influi em quase todas as áreas da práxis.

Ter a consciência de seus atos, podem gerar dentro de todas as áreas da sociedade uma modificação, pois basicamente toda ação cultural de certo modo parte de um pensamento consciente daquilo que cerca os indivíduos, isso o auxilia a compreender seus acontecimentos, explica-los e de alguma maneira conduzir isso para formas de relembrar, celebrar e divulgar o pensamento de um grupo de pessoas, partilhar sua cultura, pois através da consciência cultural, ela pode ser expandida e modificada.

A cultura histórica então parte, nesta perspectiva, de um autoconhecimento cultural, que se manifesta historicamente, neste caso, surge de uma consciência histórica, um movimento no qual o sujeito encara a temporalidade de sua cultura, e reconhece dentro dela mudanças e permanências decorrentes do tempo, contexto e com essa carga contribui para que suas características e tradições, passem para as futuras gerações ou rompam com o que é previamente posto se assim julgarem necessário. Isso funciona também para aquilo que é ensinado e aprendido, o controle pelas vidas e pela aprendizagem culturais e acadêmicas dos alunos, uma vez que a seleção que foi mencionada anteriormente, aqui age como tutora de escolhas que podem influenciar e impactar o dia-a-dia na escola, e mesmo que essas escolhas sejam provenientes de agentes externos, os alunos também tem papel fundamental nisso, partindo de interesses metodológicos e conteudistas que os seus professores trazem pela escola, eles possuem essa consciência

Aqui entramos em um território diferenciado, pois buscaremos explicar de que maneira a escola faz uso e começou a receber as histórias em quadrinhos em seus currículos, em suas grades, e sua memória, e de que maneira os professores e estudiosos da educação olharam para ela e viram ali um terreno fértil de produção e transmissão de conhecimento estando presente inclusive em inúmeros materiais didáticos, paradidáticos, e sendo usado como uma maneira de diversificar o ensino trazendo um material lúdico e de apelo popular, tanto por parte do corpo docente quanto discente.

Iniciando então vemos o que Fronza (2016, p.45) entende como “[...]artefatos narrativos da cultura juvenil que permitem aos jovens desenvolver uma relação de intersubjetividade com o conhecimento histórico” isso faz com que podemos

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entender esses objetos como parte de uma cultura pertencente ao jovem, que é próxima dele, com isso ele pode desenvolver várias habilidades exigidas pela aula de história, pois ao mostrar que existem variantes históricas dentro daquilo que os jovens leem, torna-se uma maneira de aproxima-lo do conteúdo exigido.

Tendo em vista que estes artefatos encontram-se presentes na cultura escolar, buscamos entender como eles encontraram espaço dentro do ambiente, e de que forma estão cada vez mais presentes no que se conhece como pratica escolar, e que possibilidades surgiram a partir desse encontro. Como já fora observado anteriormente por Ferreira (2011, p.1) as Histórias em Quadrinhos por volta da década de 1960, já eram:

“Adoradas pelos adolescentes e desacreditadas pela maioria dos educadores e intelectuais, a semelhança de outros países, as histórias em quadrinhos no Brasil não escaparam da sina de serem considerados produto cultural de segunda classe que devia ser objeto de desconfiança por parte dos pais e educadores (VEREGUEIRO e RAMOS, 2009).

Essa dualidade quanto a qualidade e utilização do material, se faz semelhante a citação que remete a Julía (2001), onde ele falou que a cultura escolar, é de certo modo uma junção de conhecimentos, costumes e práticas, que dentro desse ambiente se conflitam, então as Histórias em Quadrinhos, entram por essa mesma perspectiva, por se tratar de um material que vinha das classes populares, mais precisamente da cultura juvenil. A resistência por parte dos docentes e intelectuais, se dá ao fato do direcionamento de tal arte para as criança, e por muitas vezes seus temas serem tratados como superficiais. E apesar de tanta resistências, alguns artista viram aquela mídia uma maneira de experimentar e contar suas histórias mais voltadas ao público adulto, com problemas da época como uma forma de protesto ou de crítica.

Então, dessa forma, buscando uma pluralidade de temas mais amplos, nas décadas de 1980 e 1990, as histórias em quadrinhos foram ganhando importância educacional na medida em que se foram enxergando na maneira como era construída em seus contextos e ideologias previamente postas, foi visto que poderiam ser usadas, como uma maneira além do entretenimento, e sim como um material que poderia originar múltiplos saberes.

Dentro disso podemos pensar como que foi disseminada dentro da cultura popular vemos que isso se deu ao fato da ludicidade de seus temas como observam Silvério e Rezende (2012, p. 8):

Seus temas eram geralmente engraçados e, com o passar do tempo, passaram a apresentar também travessuras infantis e costumes familiares, dentre outros.

Muitos jornais gostavam de publicar essas histórias aos domingos e posteriormente, com publicação diária, pois assim conseguiam maiores vendas.

Por meio das HQs, os Estados Unidos foram disseminando seus elementos culturais.

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Os elementos culturais americanos, difundidos pelas histórias em quadrinhos, buscavam evidenciar e espalhar a maneira em que os Estados Unidos era visto por seus pares, dentro daquela forma, descontraída de se escrever, pensar e distribuí-las, ideais patrióticos eram postos naquelas páginas, que possuíam uma carga política. Isso implicou na forma como os americanos eram vistos pelos outros países, mas estes, de alguma forma, também incorporaram sua cultura dentro das suas histórias, não é a toa que no Brasil, as primeiras que encontraram os jovens, e penetraram as paredes da escola, eram obras que tinham um caráter folclórico, ou até mesmo de uma realidade pertencente ao povo brasileiro, isso fazia com que fossem difundidos múltiplos saberes.

Esses múltiplos saberes mencionados demoraram surtir efeitos em muitas disciplinas, quando entrou na escola, a histórias em quadrinhos eram relegadas as disciplinas de Português e Artes, pois com isso trabalhavam a maneira como a narrativa sequencial funcionava, e que maneirismos e estruturas de linguagem possuíam os diálogos das personagens, e também como funcionava a maneira artística de se trabalhar com elas. Nisso ela entra efetivamente na escola, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996), que dá evidencia a importância de linguagens contemporâneas entre elas as histórias em quadrinhos, juntamente com a inserção das mesmas em PCNs que sugeriam sua utilização nas mais diversas disciplinas, e esse apoio governamental incentivou que artistas explorassem essa ferramenta, e adaptassem dentro dela por exemplo obras literárias como aqueles incluídos no Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) que tinham como objetivo aproximar os alunos de livros que os auxiliariam em provas como vestibular, e até mesmo introduzi-los ao mundo da literatura clássica brasileira.Com isso não demorou para que essas histórias se tornassem parte estrutural de vários temas, entrando de vez na cultura escolar com suas facilidades narrativas e temáticas.

A composição de desenho e diálogos em sequência, demorou para ser vista dentro das outras disciplinas, então aproveitando o contato que estava sendo efetuado começou a se estabelecer uma relação com as demais, com aquela composição falado no parágrafo anterior, esses contextos e ideologias, ficavam cravados em histórias em quadrinhos, então dentro da perspectiva histórica foi sendo percebido por estudiosos da área, exemplos como a relação no período pós guerra de personagens como Capitão América, ou charges humorísticas em jornais que buscavam dentro da sequência, uma forma de expor sua opinião e satirizar alguma figura pública ou acontecimento. Então tendo como base esses exemplos e maneiras como entram na história, observamos as maneiras como Fronza, sugere que acontece o encontro entre história em quadrinhos e a cultura escolar, em seu texto ele começa a falando da seguinte maneira FRONZA (2016, p.45):

Em minhas pesquisas encontrei quatro tipos de investigações relativas à forma como as narrativas históricas gráficas entraram na cultura escolar: 1) por meio

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dos quadrinhos ligados ao mercado das histórias em quadrinhos ficcionais com temas históricos, que professores e alunos traziam para o espaço escolar; 2) através dos livros didáticos; 3) por meio das histórias em quadrinhos didáticas na forma de paradidáticos; e 4) as histórias em quadrinhos produzidas pelos próprios estudantes.

O autor no caso, comenta das varias maneiras que ele observou a entrada dos quadrinhos na cultura escolar, apesar de haverem mais, essas são as mais comuns de se encontrar para estabelecer esta relação. Essas estão em contato direto com a cultura escolar, através de suas matérias, e de experiências pessoais com elas, sendo que essa manifestação na vida cotidiana dessa forma de arte, é popularmente difundida dentro das escolas, e como vimos anteriormente é até mesmo incentivada por órgãos educacionais públicos, isso mostra como a ideia de arte vai se modificando com o passar do tempo, uma vez que com as concepções do que se considerava arte foi ganhando força dentro da escola, podendo dar voz a cultura popular como as histórias em quadrinhos.

Então adentramos nestas maneiras em como entram os quadrinhos no ambiente escolar, pois bem, dentro do mercado das histórias em quadrinhos, está constantemente em ascensão, em um mundo onde a moda dos super-heróis vindos da banda desenhada está cada vez mais em evidencia, os alunos tem possuído um contato muito mais direto com esse universo, sendo que foi por eles mesmos, e por professores que é atribuída a introdução dessa forma artística na educação, esses quadrinhos aliados a temas históricos, tem sido fonte de várias pesquisas sobre seu impacto e auxílio dentro dos currículos, essa forma pode ser vista como um trabalho com fontes históricas, que pode atribuir sentido histórico, com base no contexto ou enredo abordado.

Essa maneira de utilizar as histórias em quadrinhos a fim de se manifestar uma aprendizagem histórica muito se assemelha com a profissão do historiador, pois estes quadrinhos são frutos de seu tempo e de seus idealizadores, suas funções narrativas partem de vários agentes modificadores, e podem, dentro da escola, serem utilizados para se conferir uma temporalidade, uma transformação ocasionada com o passar do tempo, e com isso fornece informações sobre determinado período. Pois como fala Fronza (2016, p.48) sobre a narrativa gráfica das histórias em quadrinhos “Compreendo que as imagens não falam por sí, pois são naturezas mortas mobilizadas pelas ideias históricas dos sujeitos”. Ou seja, elas só são o que são, enquanto objetos históricos, através das perspectivas dos sujeitos.

As histórias em quadrinhos também entram através dos livros didáticos, , pois dentro das páginas, podemos encontrar várias menções e usos para as histórias em quadrinhos desde exemplos, até tematizando alguns capítulos, aqui entra uma variável do uso, assim como as discussões de pinturas, ou imagens artísticas nos livros didáticos, se este são só ilustração, ou se são problematizados dentro deste contexto, podemos

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fazer esse mesmo exercício de analise com as histórias em quadrinhos, pois uma vez que seu uso dentro de tal material parece de várias maneiras, pode então, só ilustrar superficialmente o que está sendo dito, ou pode ser colocado e problematizado em seu contexto, dando uma ideia mais complexa da profundidade desse material essa é uma das entradas mais “oficiais” que se tem das histórias em quadrinhos, e mostra seu impacto, pois se mantem junto dos demais temas abordados nas escolas .

Outra forma em que é introduzida nas histórias em quadrinhos, é a partir de materiais didáticos e paradidáticos, estes são comumente encontrados nas prateleiras escolares, seja através de campanhas do governo para prevenção de algo, ou até mesmo pelas já mencionadas adaptações de clássicos da literatura.

Isso ocorre pela maneira e relação que os alunos têm com essa forma artística, muitos deles preferem ler de maneira rápida uma história onde abandona a descrição de cenários e parte para os diálogos e estrutura do enredo, assim como as campanhas, que buscam dentro da arte sequencial, uma maneira de “falar a linguagem dos jovens”.

E por fim, entram através das próprias produções dos alunos, estes as elaboram a partir de projetos, tarefas orientadas pelo professor, ou de maneira independente, isso traz para dentro da arte, agora, uma identidade, uma aproximação da realidade daqueles que a elaboram, neste caso os alunos podem vir a expor sua realidade por meio de desenhos próprios, que buscam de alguma maneira explicar seu cotidiano e sua vivência, muitas vezes, os professores pedem em alguma atividade que seja feita uma história em quadrinhos, com a finalidade do aluno demonstrar, além das palavras aquele conhecimento, fazendo assim, que isso possa ser um revelador do tempo, e da ligação do aluno com aquele fato, ou tema.

Todas estas formas de aproximação da história com as histórias em quadrinhos, resinifica a abordagem usada pelos docentes, e também pelos pesquisadores, pois uma vez que tal material encontra a escola, novas maneiras de aprendizagem histórica ocorrem, sendo que culturalmente, o aluno, sente uma aproximação pelo assunto, dinamiza seus trabalhos, e explora seus conhecimentos, fazendo com que as histórias em quadrinhos como um objeto da cultura escolar, influencie e aproxime o cotidiano do aluno, com os temas propostos em sala.

Considerações finais.

A partir deste artigo, levantamos certas questões, que quando unidas chegam a um resultado. Todos os tópicos aqui apresentados formam uma educação através do quadrinho. Este pertencendo a uma memória coletiva influencia indireta e diretamente na identidade e cultura juvenil . Esse educar a identidade se manifesta através de sua arte, uma vez que quadrinho representa um tipo de jovem, este que compreende que esta sendo falado sobre ele, e repensa seu comportamento através da leitura. Tudo isso esta conectado à memória dos jovens, personagens que acompanham desde a infância, começam a criar laços com seu cotidiano, falando de

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coisas próximas a ele.

Fazendo assim, que as funções didáticas, exercidas, pelos quadrinhos dentro da memória popular, podem agregar no ensino de história, e desenvolver com os alunos, a partir dos seu saberes ideias históricas, que possam trazer sentido para sua vida pratica e o cotidiano de sua escola, com isso aproximando as relações de educandos e conteúdo.

O projeto que serviu de recorte para esse trabalho, ainda encontra-se em construção e seus resultados ainda são preliminares, mas já percebemos a influência e importância de tais métodos na didática da história.

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